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Boletim de Resumos Expandidos do III Seminário de Pesquisas do Laboratório de Paleontologia e Evolução/Curso de Geologia/UFG-2019 8 FOTOGRAMETRIA: NOVAS TÉCNICAS DE ESCANEAMENTO 3D NA PALEONTOLOGIA E DIGITALIZAÇÃO DAS VÉRTEBRAS CAUDAIS E FÊMUR DE AEOLOSAURUS MAXIMUS Vidal, Luciano¹,2, Candeiro, Carlos Roberto dos Anjos2 1 Programa de Pós-Graduação em Geologia, Departamento de Geologia, Laboratório de Macrofósseis, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ. science.vidal@gmail.com. 2 Universidade Federal de Goiás (UFG), Laboratório de Paleontologia e Evolução (LABPALEOEVO), Curso de Geologia. Aparecida de Goiânia, GO. RESUMO Fósseis são estruturas frágeis, de difícil manuseio e isso dificulta estudos que necessitam deslocar os espécimes manualmente, como por exemplo, análises biomecânicas. Essa problemática tornou-se menos recorrente devido ao surgimento de novas tecnologias de escaneamento 3D que permitem a digitalização dos fósseis possibilitando o estudo dessas estruturas frágeis e a fotogrametria destaca-se por se tratar de uma técnica de escaneamento de baixo custo e excelente resultado baseando-se em sobreposição de fotografias para gerar um modelo 3D. Na paleontologia, a fotogrametria tem sido utilizada principalmente para digitalizar pistas de pegadas e ossos de dinossauro. Esta técnica foi utilizada para escanear os elementos ósseos da cauda e fêmur do titanossauro Aeolosaurus maximus (Sauropoda, Aeolosaurini). PALAVRAS-CHAVE: Aeolosaurus maximus; Aeolosaurini; fotogrametria; escanemaneto 3D. INTRODUÇÃO A preservação das estruturas morfológicas topográficas em ossos de animais extintos é indispensável para a aplicação de métodos biomecânicos ou morfofuncionais cujos interesses sejam a interação entre os ossos (Mallison, 2010; Vidal & Díaz, 2017). Neste caso, testar hipóteses com materiais fósseis seria difícil já que estes são estruturas frágeis. Uma alternativa seria utilizar métodos não invasivos que permitam a manipulação dos espécimes de maneira segura. Esses métodos são baseados em manipulação de elementos 3D em softwares especializados (Mallison, 2010). A aquisição dos modelos 3D pode ser variada como, por exemplo, tomografias computadorizadas (CT) (Farlow et al., 2010), Raios-X (Hohenstein, 2004), Boletim de Resumos Expandidos do III Seminário de Pesquisas do Laboratório de Paleontologia e Evolução/Curso de Geologia/UFG-2019 9 sincrotron (Pouech et al., 2010), laser (Bérthoux et al., 2004) e fotogrametria (Vidal & Díaz, 2017). Dentre estes, a fotogrametria se destaca por se tratar de uma técnica de excelente qualidade e baixo custo (Vidal & Díaz, 2017). Neste trabalho, utilizamos a fotogrametria para escanear elementos ósseos pertencentes à Aeolosaurus maximus Santucci e Arruda-Campos, 2011 (Sauropoda, Aeolosaurini) que é um titanossauro endêmico da América do Sul tendo representantes, até o momento, apenas para Argentina e Brasil (Santucci & Arruda-Campos, 2011). METODOLOGIA O material de Aeolosaurus maximus foi coletado no município de Monte Alto, estado de São Paulo em rochas da Formação Adamantina (Campaniano- Maastrichtiano) do Grupo Bauru e seu holótipo (MPMA 12-0001-97) estão depositados na coleção do Museu de Paleontologia “Prof. Antônio Censo de Arruda Campos” situado na cidade de Monte Alto, São Paulo. Os materiais digitalizados correspondem a seis vértebras caudais anteriores (C4 à C9), duas vértebras caudais médias (C28? e C32?) e fêmur bem preservados. As vértebras caudais anteriores e médias e fêmur de A. maximus foram escaneadas por meio de fotogrametria seguindo o guia prático proposto por Mallison & Wings (2014). A obtenção das imagens deu-se no Laboratório de Paleontologia do Museu supracitado. Os espécimes estudados neste trabalho foram fotografados em dois conjuntos, como sugere Mallison & Wings (2014), dado que as amostras repousavam sobre uma superfície, onde o primeiro dedicava-se a fotografar toda a amostra acima da superfície, deixando de fora apenas a porção ventral da vértebra. Após a finalização do primeiro conjunto de fotos, a vértebra foi remobilizada de modo que sua porção ventral fosse exposta para então ser realizado o procedimento para o segundo conjunto de fotos, tendo como resultado a digitalização total do espécime. Para cada vértebra foram obtidas mais de 100 fotografias. Para o fêmur, devido a grande proporção (155 cm) e forma achatada, foi necessário capturar dois conjuntos de fotos, respectivamente vistas cranial e caudal totalizando aproximadamente 150 fotos para cada face. Boletim de Resumos Expandidos do III Seminário de Pesquisas do Laboratório de Paleontologia e Evolução/Curso de Geologia/UFG-2019 10 Após a obtenção das fotografias, iniciou-se o processamento das imagens utilizando o software Agisoft Metashape (www.agisoft.ru), que ocorreu no Laboratório de Macrofósseis da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A figura (1A) esquematiza o protocolo proposto por Mallison & Wings (2014) onde a câmera deve seguir em torno do espécime de modo que as fotos fiquem sobrepostas nos diferentes ângulos. O workflow do programa segue uma ordem de desenvolvimento do modelo: alinhar as fotografias (fig. 1B), gerar nuvem esparsa, nuvem densa (fig. 1C), malha poligonal (fig. 1D) que podem passar pelo processo de decimação (redução de polígonos) (fig. 1E) e por fim, gerar textura (fig. 1F)) e ser exportadas no formato .OBJ. Figura 1: Digitalização por Fotogrametria da vértebra C9 de Aeolosaurus maximus; A) Protocolo esquemático; B) Nuvem de ponto esparsa; C) Nuvem de pontos densa; D) Malha de polígonos após a decimação; E) Malha de polígono com textura; F) Malha poligonal com textura fotorrealista. Os resultados mostraram a excelente capacidade de escaneamento que a fotogrametria proporciona tendo como consequência modelos 3D de alta qualidade (fig. 2). Boletim de Resumos Expandidos do III Seminário de Pesquisas do Laboratório de Paleontologia e Evolução/Curso de Geologia/UFG-2019 11 Figura 2: Vértebra caudais anteriores e médias e fêmur de A. maximus digitalizadas através da fotogrametria. DISCUSSÃO Sutton et al. (2014, 2017) propõe a “paleontologia digital” designando como estudo de fósseis através de recursos digitais: visualizações 3D interativas e manipulação dos fósseis em ambiente virtual. Segundo Vidal & Díaz (2017), essa abordagem envolve o uso de novas tecnologias para formação das imagens 3D, como exemplo técnicas de escaneamento, digitalização, visualização digital e análises computacionais. Mallison & Wings (2014) enfatizam que estes modelos virtuais dos fósseis (tridimensional - 3D) também permitem arquivar, visualizar e analisar os espécimes e que de outra forma, seria difícil acessar e manipular os materiais sem o risco de danifica-los. Além disso, o uso de tomografia computadorizada pode proporcionar métodos não invasivos de preparação virtual dos fósseis (Lautenschlager, 2016). Boletim de Resumos Expandidos do III Seminário de Pesquisas do Laboratório de Paleontologia e Evolução/Curso de Geologia/UFG-2019 12 CONSIDERAÇÕES O resultado do escaneamento, (elementos 3D) de Aeolosaurus maximus foi satisfatório apresentando medidas excelentes e próximas das reais (com variações de milímetros), respeitando aspectos topográficos, como acidentes ósseos e ranhuras, e anexando textura fotorrealística aos modelos 3D. Além disso, os elementos 3D permitem ser manipulados como, por exemplo, em simulações de movimentos em torno de suas articulações sem oferecer riscos de danos físicos ao material fóssil, já que estes possuem grandes proporções e peso. Os modelos 3D são vantajosos para a paleontologia, pois permitem ser arquivados em bancos de dados internos do Museu que posteriormente podem ser compartilhados comos pesquisadores interessados. Além disso, o espécime (holótipo) original permanece no Museu sem riscos de danos físicos, como quebras e fraturas causadas pelo transporte e manuseio. Por fim, o material virtual como, por exemplo, PDFs 3D, podem sanar dúvidas a respeito da morfologia, medidas, proporções, etc., para pesquisadores de outras localidades sem a necessidade dos mesmos se deslocamento até o Museu ou mesmo ser utilizado em trabalhos complexos de biomecânica. Devido à paleontologia virtual, inúmeras áreas de pesquisa como morfometria geométrica, análises elementos finitos, icnologia e biomecânica puderam se desenvolver trazendo à luz o conhecimento de como poderia ter sido a forma e movimentação de animais extintos. AGRADECIMENTOS Agradecemos ao Museu de Paleontologia “Professor Arruda Campos” pela disponibilização dos materiais, infraestrutura e todo o apoio necessário. A CAPES pelo incentivo a pesquisa através da bolsa de Pós-Graduação ao primeiro autor. Boletim de Resumos Expandidos do III Seminário de Pesquisas do Laboratório de Paleontologia e Evolução/Curso de Geologia/UFG-2019 13 REFERÊNCIAS Lautenschlager, Stephan. 2016. Reconstructing the past: Methods and techniques for the digital restoration of fossils. Royal Society Open Science, doi:10.1098/rsos.160342. Mallison, Heinrich. 2010a. CAD assessment of the posture and range of motion of Kentrosaurus aethiopicus Hennig 1915. Swiss Journal of Geosciences, 103:211-233. Santucci, Rodrigo Miloni; Arruda-Campos, Antonio Celso. 2011. A new sauropod (Macronaria, Titanosauria) from the Adamantina Formation, Bauru Group, Upper Cretaceous of Brazil and the phylogenetic relationships of Aeolosaurini. Zootaxa, 3085: 1-33. Sutton, Mark; Rahman, Imran; Garwood, Russell. 2014. Techniques for Virtual Palaeontology. Oxford, UK, Wiley-Blackwell, 208. Sutton, Mark; Rahman, Imran; Garwood, Russell. 2017. Virtual Paleontology - An Overview. The Paleontological Society Papers, 1–20. Vidal, Daniel; Díaz, Verónica Díez. 2017. Reconstructing hypothetical sauropod tails by means of 3D digitization: Lirainosaurus astibiae as case study. Journal of Iberian Geology. 43:293-305. DOI: 10.1007/s41513-017-0022-6. Farlow, James; Hayashi, Shoji; Tattersall, Glenn. 2010. Internal vascularity of the dermal plates of Stegosaurus (Ornithischia, Thyreophora). Swiss J Geosci, 103:173–185 Hohenstein, P . 2004. X-ray imaging for palaeontology. The British Journal of Radiology, 77: 420–425. Pouecha, Joane; Mazinb, Jean-Michel; Tafforeaua, Paul. 2010. High quality 3D imaging of vertebrate microremains using X-ray synchrotron phase contrast microtomography . Comptes Rendus Palevol. 9: 389–395. Béthoux, Olivier ; xMcBride, Olivier; Maul, Christian. 2004. Surface Laser Scanning of Fossil Insect Wings. Palaeontology 47(1):13 – 19.
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