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129 UNIDADE 3 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS E SUPERDOTAÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade você será capaz de: • identificar práticas pedagógicas para o atendimento de pessoas com altas habilidades e superdotação; • elaborar atividades de enriquecimento escolar; • analisar o estudo de caso de uma criança com altas habilidades e super- dotação. Esta terceira unidade está dividida em quatro tópicos. Ao final de cada um deles você encontrará atividades que contribuirão para reflexão e análise dos estudos já realizados. TÓPICO 1 – PRÁTICAS EDUCACIONAIS DE ATENDIMENTO AO ALUNO COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO TÓPICO 2 – ENRIQUECIMENTO DAS APRENDIZAGENS NO CONTEXTO ESCOLAR TÓPICO 3 – ESTUDO DE CASO DE UMA CRIANÇA COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO TÓPICO 4 – ATIVIDADES DE ENRIQUECIMENTO ESCOLAR 130 131 TÓPICO 1 PRÁTICAS EDUCACIONAIS DE ATENDIMENTO AO ALUNO COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Diante da contextualização do conteúdo no decorrer da Unidade 2, que procurou evidenciar as características e formas de identificação de pessoas com altas habilidades e superdotação, avançamos para uma proposta que consiste em utilizar essas informações para o atendimento dessa demanda no contexto escolar. Para este atendimento não podemos nos esquecer de aspectos relevantes que consistem em apresentar adaptações curriculares, de estratégia pedagógica e de enriquecimento escolar quando necessário. Mas como fazer isso? Vale ressaltar que cada pessoa apresenta suas características e peculiaridades e que esses aspectos devem ser considerados ao selecionar a forma de atendimento da pessoa com altas habilidades e superdotação. Por isso, não pretendemos apresentar padrões de atendimento, nem mesmo modelos de planejamento escolar, mas sim discussões e sugestões que promovam uma reflexão para o professor e demais profissionais da educação sobre as ações que serão planejadas para o atendimento de pessoas com necessidades especiais. 2 O ALUNO COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO NO CONTEXTO ESCOLAR Quando relacionamos pessoas com altas habilidades e superdotação e ensino escolar, consideramos de suma importância o papel do professor nesta relação e no processo de ensino e aprendizagem. Para isso, o professor precisa, antes de mais nada, aceitar o aluno para estar disponível e sensível às suas necessidades, criando uma relação de ajuda e de apoio para o benefício de todos. UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS E SUPERDOTAÇÃO 132 Por isso é importante que o professor tenha compreensão sobre as características da superdotação, as especificidades do seu aluno e o nível de exigência que este profissional, a família ou o próprio aluno carregam consigo. Compreender a dinâmica das relações na superdotação e como ela se expressa na escola é um dos desafios para o professor. Aprender junto com o aluno a melhor maneira de se relacionarem e contribuírem na representação social do superdotado tem efeitos significativos no seu grupo. Caso o aluno não apresente diagnóstico de altas habilidades e superdotação, mas que o professor e demais envolvidos diretamente com o aluno desconfiem de habilidades acima da média, poderão utilizar de alguns recursos que possam rastrear algumas características e compará-las com outros alunos. Vale ressaltar que, para o professor do ensino comum, esse tipo de instrumento serve apenas como uma pré-identificação. Caso se evidencie na avaliação, o professor poderá encaminhar este aluno para avaliações mais precisas com educadores especiais, psicológicos ou terapeutas. Vejamos um modelo de sondagem (BRASIL, 2007a): UNI IMPORTANT E Em tópicos anteriores apresentamos outros instrumentos de identificação de pessoas habilidosas. Caso sinta necessidade, retome o texto. Olá! A seguir, apresentarei a você o modelo de sondagem inicial para a identificação da superdotação. TÓPICO 1 | PRÁTICAS EDUCACIONAIS DE ATENDIMENTO AO ALUNO COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO 133 QUESTIONÁRIO PRELIMINAR DE TRIAGEM DE SUPERDOTADOS CARACTERÍSTICAS GERAIS: Nome do aluno:______________________________________ Data de nascimento:__________________________________ Pai:________________________________________________ Mãe:_______________________________________________ Endereço completo:___________________________________ Telefone para contato:_________________________________ Escola de origem:_____________________________________ Professor avaliador:____________________________________ Série:________ Turma:_________ Grau:___________________ INSTRUÇÕES: Observe seu aluno, em várias situações, e assinale com “X” apenas quando ele demonstrar a característica mencionada no item. 1. ( ) aprende com rapidez e facilidade; 2. ( ) gosta de ideias novas; 3. ( ) tem vocabulário extenso para sua idade; 4. ( ) diz coisas com muita graça e humor; 5. ( ) é muito impaciente; 6. ( ) é bom desenhista; 7. ( ) preocupa-se com o sentimento dos outros; 8. ( ) gosta de adivinhações e problemas; 9. ( ) sempre pergunta: - Por que_____?; 10. ( ) adora imitar e apelidar os outros; 11. ( ) tem boa memória; 12. ( ) diz as verdades sem inibições; 13. ( ) quer sempre aprofundar-se nos assuntos; 14. ( ) é bastante original em suas perguntas e respostas; 15. ( ) tem facilidade para mostrar o que sente; 16. ( ) tem sempre uma ideia diferente e aproveitável; 17. ( ) é sempre procurado pelos colegas; 18. ( ) faz perguntas provocativas; 19. ( ) gosta de ler; 20. ( ) fala facilmente com os outros; 21. ( ) defende suas ideias com pronta e lógica argumentação; 22. ( ) gosta de recitar, escrever poesias e estórias; 23. ( ) gosta de fazer coleções; 24. ( ) é criativo; 25. ( ) tem ótimo senso crítico; 26. ( ) aceita e propõe desafios; 27. ( ) gosta de representar papéis; UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS E SUPERDOTAÇÃO 134 28. ( ) é difícil ser enganado pelos outros; 29. ( ) como aluno é, às vezes, perturbador; 30. ( ) participa de tudo que o rodeia; 31. ( ) é um dos mais admirados na sala; 32. ( ) revolta-se com controle excessivo; 33. ( ) prefere as atividades rotineiras; 34. ( ) gosta de atividades intelectuais; 35. ( ) tem habilidades artísticas; 36. ( ) aborrece-se com programa rotineiro; 37. ( ) é persistente no que faz e gosta; 38. ( ) tem sempre ideias e soluções. Sendo assim, quando identificadas no aluno habilidades superiores, o próximo passo é o encaminhamento adequado desse aluno, bem como objetivos para desenvolver as habilidades identificadas e oferecer atendimento de acordo com as especificidades deste aluno, levando em conta o seu ritmo e as dificuldades de aprendizagem que este apresenta (ou não). Para isso, é importante fazer um planejamento de acordo com as condições disponíveis e ampliando-as conforme surgirem recursos por parte das instituições. A função de atendimentos específicos para as pessoas com altas habilidades e superdotação é de suprir e complementar suas necessidades. Quando esse atendimento não acontece, um dos únicos caminhos consiste em tentar se adaptar à rotina da escola, o que pode ocasionar desperdício de talentos, por falta de estímulos para desenvolver suas habilidades especiais. Assim, sugerimos alguns aspectos relevantes para o planejamento de intervenções para essa demanda que auxiliará o trabalho do professor e demais profissionais. Muitas vezes, essas modalidades de atendimento esbarram com a rígida estrutura escolar que ainda prevê o modelo de seriação (mesmo nível de conhecimento dos alunos, grade curricular, disciplinas isoladas etc.). Por isso, é importante criar flexibilidade dentro das escolas em suas atividades cotidianas e, ainda, disponibilidade da instituição a mudanças e disponibilidade para enfrentar os desafios que a escola que valorizaas diferenças provoca. Essas modalidades são nomeadas como agrupamento, aceleração e enriquecimento. Esses três grupos apresentam pontos em comum e diferenciações que serão apresentadas de forma separada como estratégia didática, para melhor entendimento. Cada alternativa atende a diferentes necessidades e, na prática, na maioria das vezes, todas são utilizadas. TÓPICO 1 | PRÁTICAS EDUCACIONAIS DE ATENDIMENTO AO ALUNO COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO 135 3 AGRUPAMENTO, ACELERAÇÃO E ENRIQUECIMENTO: PRÓS E CONTRAS Conforme apresentamos no item anterior, descreveremos as modalidades de ensino possíveis de serem utilizadas no atendimento a pessoas com altas habilidades e superdotação analisando suas vantagens e desvantagens, com base nas ideias de Pérez, Rodríguez e Fernández (2005). 3.1 SISTEMA DE AGRUPAMENTO ESPECÍFICO O sistema de agrupamento específico consiste em práticas educacionais oferecidas através de pequenos grupos instalados em salas especiais ou de ensino comum, cujo atendimento é diferenciado dos demais alunos e a separação é feita através dos níveis de desempenho. Esse atendimento permite que se atinjam diretamente as necessidades e habilidades do aluno de forma a se aprofundar nos temas de acordo com os seus interesses. O questionamento que surge com esse tipo de atendimento consiste na forma segregada e isolada que acontece. O aluno pode se sentir discriminado por fazer parte de grupos específicos e receber atendimento diferenciado. Outro aspecto relevante considerado por Pérez, Rodríguez e Fernández (2005) consiste no cuidado necessário por parte dos profissionais da educação, principalmente ao professor, para que não se crie entre os alunos a ideia de diferenças e de superioridade. 3.2 FLEXIBILIZAÇÃO/ACELERAÇÃO Nesta modalidade, o objetivo consiste em o aluno cumprir em menos tempo o programa escolar. Isso pode ser realizado avançando o estudante para uma série mais adiantada quando constatado que o aluno com altas habilidades e superdotação apresenta o conhecimento dos conteúdos da série onde se encontra. Ou ainda, pode-se aumentar o ritmo de aprendizagem oferecendo o conteúdo curricular a ser realizado em menor tempo através da aplicabilidade em contraturno, à distância, ou até mesmo no período de férias. Para que se constate o conhecimento do aluno nos conteúdos da série vigente, faz-se necessária a realização de avaliações na própria escola e documentadas com registros administrativos. Segue um quadro de encaminhamentos apresentado por Freeman e Guenther (2000, p. 110): UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS E SUPERDOTAÇÃO 136 DIFERENTES FORMAS DE ACELERAÇÃO 1. Entrada mais cedo na fase seguinte do processo educativo – do nível da Educação Infantil em diante. 2. Saltar séries escolares – promoção para séries seguintes. 3. Aceleração por disciplina – frequentar séries mais adiantadas em determinadas disciplinas. 4. Agrupamento vertical – em classes mistas, com ampla variedade de idades e séries, de modo que os mais novos possam trabalhar com os mais velhos e mais avançados. 5. Cursos especiais fora da escola que ofereçam mais conhecimento em áreas curriculares específicas. 6. Estudos paralelos – cursar o Ensino Fundamental e o Ensino Médio ao mesmo tempo, e assim por diante. 7. Estudos compactados – quando o currículo normal é completado em metade ou terça parte do tempo previsto. 8. Planos de estudo auto-organizados – estratégia em que os alunos desenvolvem atividades ou projetos de seu interesse enquanto esperam o resto da classe completar o que eles já fizeram ou aprenderam. 9. Trabalho com um mentor, especialista de uma certa área de interesse do aluno, na escola ou fora dela. 10. Cursos paralelos – por correspondência, televisionados ou outra forma de ensino a distância. Percebe-se que a modalidade por aceleração é um recurso simples de aplicabilidade nas escolas, porque se consegue uma resposta rápida e eficiente para algumas necessidades do aluno. Entretanto, como na modalidade anterior, esta também pode ocasionar situações de separação e isolamento, de modo que a criança com altas habilidades e superdotação desvincula-se em parte das suas relações de amizade com os colegas da turma, além das expectativas que se criam ao ingresso do aluno na série seguinte. 3.3 ENRIQUECIMETO Conforme salientamos no decorrer deste caderno, a pessoa com altas habilidades e superdotação necessita de uma variedade de experiências de aprendizagem enriquecedora que estimule o seu potencial. A modalidade de enriquecimento sugere uma abordagem educacional que ofereça essas experiências enriquecedoras e que vão além do currículo já estabelecido e, dessa maneira, permite acrescentar outros conteúdos ou até mesmo aprofundá-los. Para Alencar e Fleith (2001, p. 133), o enriquecimento permite: TÓPICO 1 | PRÁTICAS EDUCACIONAIS DE ATENDIMENTO AO ALUNO COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO 137 [...] completar em menor tempo o conteúdo proposto, oferecendo, assim, a inclusão de novas unidades de estudo. Ou ainda, uma investigação mais ampla a respeito dos tópicos que estão sendo ensinados, utilizando, o aluno, um maior número de fontes de informação para dominar e conhecer uma determinada matéria. O enriquecimento permite também solicitar ao aluno o desenvolvimento de projetos originais em determinadas áreas de conhecimento. Ele pode ser levado a efeito tanto na própria sala de aula como através de atividades extracurriculares. Perceba que esta modalidade pode oferecer vários benefícios, principalmente pelo fato de o aluno permanecer no seu espaço habitual, porém, fazem-se necessários investimentos e formação de profissionais especializados, bem como um planejamento cuidadoso sobre as propostas pedagógicas a serem realizadas. IMPORTANT E Habitualmente são três as formas que o enriquecimento pode assumir, que exploraremos com maior detalhe no próximo tópico: a) Enriquecimento dos conteúdos curriculares. b) Enriquecimento do contexto de aprendizagem. c) Enriquecimento extracurricular. ACELERAÇÃO, RITMO DE PRODUÇÃO E TRAJETÓRIA ESCOLAR: DESENVOLVENDO O TALENTO ACADÊMICO Zenita C. Guenther Estudos sobre aceleração têm despertado considerável interesse nas últimas décadas, devido ao crescimento da área de educação especial para dotados e talentosos. Há um ponto de convergência entre esses estudos: virtualmente todos indicam não haver problemas de qualquer natureza com os alunos acelerados, nos diferentes níveis escolares, tanto durante a vida escolar, como mais tarde, na vida adulta. Entretanto, como acontece na legislação brasileira, que aborda questões pertinentes à ciência da educação por decisão de votos, aceleração acaba por responder a conceitos variados, algumas vezes opostos. Ora, aceleração é um conceito definido pela Educação Especial para compatibilização da vida escolar com produção mental, independente da idade, para alunos mais capazes, que LEITURA COMPLEMENTAR UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS E SUPERDOTAÇÃO 138 vencem rapidamente o conteúdo curricular. Mas, no caso do Brasil, “aceleração” foi aconselhada para alunos defasados e repetentes, pela equiparação da idade cronológica com série escolar, independente da produção mental, uma base conceitual diametralmente oposta. Frente a duas definições opostas enraizadas na lei, impossibilitados de destrinchar os objetivos reais da aceleração, os sistemas de educação contornam a situação evitando atender aos alunos mais novos, mais rápidos, e “acelerando” os mais velhos, lentos, que deveriam ser “desacelerados”. 1 Conceituação básica Historicamente, a aceleração é vista como oportunidade para que o aluno, sinalizando talento acadêmico e dotação intelectual, possa progredir pela seriaçãoescolar a um ritmo mais rápido, e/ou iniciar os diversos níveis de escolarização em idade mais nova que o convencional (PRESSEY, 1949). Ambas as ideias visam permitir progressão mais rápida que os outros alunos. Isso frequentemente significa adaptar o currículo escolar ao nível de desenvolvimento, produção e aprendizagem dos alunos, individualmente, ou em pequenos grupos, sem insistir na noção de que a mesma proposta curricular seja apropriada a todos os alunos de uma faixa etária. Como intervenção para alunos mais capazes e rápidos, a Aceleração se distingue do Enriquecimento pelo fato de que este preenche o tempo ganho com atividades diferentes do que é previsto no currículo regular, o qual permanece igual para todos. Mas, muitos alunos intelectualmente dotados já trazem um acervo maior de conhecimento, trabalham a um nível de produção mental mais avançado que seus pares, e adiantar seus estudos é uma alternativa mais realista para o trabalho escolar do que seguir o mesmo currículo e ritmo da turma. Há 18 tipos de aceleração disponíveis aos alunos dotados no domínio da inteligência, divididos em duas amplas categorias, de acordo com as dimensões de tempo e conteúdo: Doze tipos de aceleração se baseiam na temporalidade, com objetivo de adiantar o tempo escolar, sem alterar o conteúdo curricular: 1. Admissão antecipada à Educação Infantil (pós-creche) 2. Admissão antecipada à 1ª série fundamental 3. Saltar uma ou mais séries escolares 4. Progressão continuada 5. Classes combinadas (multisseriadas) 6. Currículo telescópio (um ano em um semestre, ou dois anos letivos em um) 7. Diplomação antecipada 8. Matrícula simultânea (em dois níveis de ensino) 9. Cursos para crédito (Secundário ou Superior) 10. Crédito para exames e provas TÓPICO 1 | PRÁTICAS EDUCACIONAIS DE ATENDIMENTO AO ALUNO COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO 139 11. Entrada antecipada ao nível médio e superior 12. Aceleração do próprio curso universitário Com base no conteúdo, e objetivo de reorganizar o currículo regular, há seis tipos diferenciados: 1. Instrução autorregulada pelo aluno 2. Aceleração parcial por matérias/disciplinas 3. Compactação de currículo 4. Mentoria 5. Programas específicos para matérias curriculares mais adiantadas 6. Cursos por correspondência 1.1 Quadro referencial [...] O trabalho acadêmico mais recente sobre aceleração, mais compreensivo, e provavelmente mais divulgado é o Templeton National Reporto in Acceleration, de Nicholas Colangelo, Susan Assouline e Miraca Gross (2004), denominado: “Uma nação enganada: como a América reprime seus estudantes mais brilhantes”. O ponto em comum, amplamente documentado, é a consistência com que os estudos demonstram aceleração como a prática mais bem-sucedida de que se dispõe para atender alunos de alta capacidade intelectual, expressa em talento acadêmico, quando propriamente identificados. Contudo, permanece essa incompreensível barreira de resistência nos meios educacionais (BORLAND, 2004), já analisada por Stephen Daurio, em 1979: [...] todas as indicações apontam para profissionais excessivamente preocupados com o desajustamento socioemocional que poderia vir a ser instalado entre os jovens precoces acelerados na escola, e nenhuma preocupação com a probabilidade de efeitos emocionais negativos resultados de pouca estimulação mental e desafio intelectual inadequado. Nenhum estudo mostrou que enriquecimento traz resultados melhores que aceleração. Quando muito o enriquecimento diminui o tédio escolar dos alunos. O autor conclui que tal resistência à aceleração é devida a noções preconceituosas e não racionais dos profissionais da Educação, e não se baseia em evidência científica. 1.2 Algumas razões indicadas... Em nossos meios, no arcabouço confuso desenhado pela situação legal acima descrita, as razões apresentadas pelos sistemas escolares e órgãos normativos para permitir a um aluno mais novo adiantar o currículo, ou saltar séries – o que só acontece em casos raros – não apontam necessidades geradas pelo ritmo de UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS E SUPERDOTAÇÃO 140 aprendizagem em produção mental do aluno, mas situações emocionais que, por si mesmas, não justificariam acelerar. Entre as razões comuns estão: exagerado tédio, retraimento, introversão acentuada, ou comportamento inaceitável, especialmente os meninos. Outra vez a escola “enxerga melhor” seus alunos pelas dificuldades e problemas, principalmente quando os adultos se sentem incomodados. Para negar aceleração, os pareceres oficiais apresentam razões vagas, subjetivas, e não pedagógicas, tais como “deslocamento do grupo etário”, e conceitos relativamente nebulosos de “imaturidade emocional” ou “queima de etapas”. Todavia, aceleração, como medida educacional, não tem como variável central idade cronológica, mas ritmo de produção mental, e domínio da capacidade natural identificada. James Kulic (2004) afirma, com base em dados empíricos, que não há nenhuma estratégia para atender às necessidades de alunos intelectualmente dotados que dê resultados tão bons quanto a aceleração; que alunos acelerados, mais frequentemente que outros alunos de igual capacidade, aspiram a estudos acadêmicos avançados; e que a aceleração mostra-se mais efetiva em melhorar o desempenho escolar dos alunos mais inteligentes que qualquer modelo de reforma educacional já experimentado. Acrescenta ainda que há evidência de que a retenção do aluno em um nível escolar, devido à pouca idade, pode ser negativa ao ajustamento socioemocional e bem-estar de crianças e jovens excepcionalmente dotados em inteligência. Estudando esses casos na Austrália, Miraca Gross demonstrou que os que não foram acelerados experimentavam extrema dificuldade em estabelecer relações sociais positivas com seus colegas de turma... Joan Freeman expressa posição radicalmente contrária a qualquer tipo de aceleração, a que denomina uma medida própria de “mercadores apressados”. Em mensagem pessoal à autora, onde cita sua própria pesquisa, diz literalmente: Para mim, sacrificar a infância preciosa por resultados de exames não é uma boa barganha. Posso dizer em minha longa pesquisa no Reino Unido, incluindo 17 alunos acelerados, que os resultados após 34 anos indicam restos de mal-estar, e raiva. Felice Kaufman demonstrou que as crianças prodígio da América nunca conseguem levar uma vida normal... Pelos meus estudos ao redor do mundo, – pode-se chamar de ‘Fórmula Freeman’ –, quanto piores as previsões educacionais mais aceleração é preciso para os alunos dotados. Mas países com melhores sistemas de educação, como a Escandinávia, não aceleram nunca (FREEMAN, 2009 – mensagem pessoal à autora). Pode-se suspeitar que a opinião sensata de Freeman é baseada no conceito cultural de “infância” vivida em país rico, quando diz: “Não quero ver as crianças dobradas sobre os livros enquanto o mundo está lá fora... Quero que descubram a vida interagindo, experimentando, sonhando, brincando, fazendo amigos, ousando, errando... e muito mais”, no que, sem dúvida, concordamos... Mas em TÓPICO 1 | PRÁTICAS EDUCACIONAIS DE ATENDIMENTO AO ALUNO COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO 141 ambientes de privação econômica e cultural, onde efetivamente estão as escolas de pior qualidade, as crianças descobrem a vida de maneiras muito diferentes... Southern et al. (1993), estudando a resistência à aceleração, apontam que há efetivamente alguns riscos, porém, devidos a planejamento em curto prazo, em que os professores aprendem pouco sobre os estudos que investigaram preocupações com possíveis consequências futuras. O maior problema ainda é não haver provisões de longo prazo para alunos excepcionalmente dotados. Por exemplo, uma criança que avançou consideravelmente em ciência,nos anos iniciais, encorajada a ampliar e aprofundar os estudos se, embora acelerada, frequenta uma escola onde os laboratórios são limitados, ou não há suporte para expandir seu aprendizado, pode enfrentar um hiato no desenvolvimento enquanto espera por níveis mais elevados. 1.3 Em síntese Examinando posições pró e contra aceleração, e resultados dos estudos mais abrangentes até agora realizados, há suporte para se afirmar ampla gama de vantagens à adoção da aceleração para alunos mais capazes, tanto como medida pedagógica conduzida pela própria escola, como medida administrativa introduzida ao sistema educacional. FONTE: Revista Educação Especial, Santa Maria, v. 22, n. 35, p. 281-298, set./dez. 2009. Disponí- vel em: <http://www.ufsm.br/revistaeducacaoespecial>. Acesso em: 24 jun. 2010. 142 Neste tópico você estudou: • A importância do professor na compreensão das características de superdotação, as especificidades do seu aluno e o nível de exigência que este profissional, a família ou o próprio aluno carrega consigo. Compreender a dinâmica das relações na superdotação e como elas se expressam na escola é um dos desafios para o professor. • Quando forem identificadas, no aluno, habilidades superiores, o próximo passo é o encaminhamento adequado a esse aluno, bem como objetivos de desenvolver essas habilidades identificadas e oferecer atendimento de acordo com as especificidades deste aluno, levando em conta o seu ritmo e as dificuldades de aprendizagem (ou não). • As modalidades de ensino possíveis de serem utilizadas no atendimento a pessoas com altas habilidades e superdotação são: o sistema de agrupamento específico, flexibilização e enriquecimento. • Dentre essas modalidades destacadas, identificamos três tipos de enriquecimento que atenderão às necessidades e especificidades do aluno e da escola que correspondem ao enriquecimento dos conteúdos curriculares, enriquecimento de aprendizagens e enriquecimento extracurricular. RESUMO DO TÓPICO 1 143 Elabore um texto de aproximadamente 30 linhas que enfoque a seguinte questão: “Como é que os educadores podem encontrar tempo para realizar atividades de aprendizagem estimulantes que tornem a escola um lugar mais agradável para os alunos, face a duas realidades: as pressões para aumentar o nível no desempenho de testes e de um currículo já demasiado extenso, assim como as listas cada vez mais longas de normas, conteúdos e recomendações para aumentar o nível de letramento?” AUTOATIVIDADE 144 145 TÓPICO 2 ENRIQUECIMENTO DAS APRENDIZAGENS NO CONTEXTO ESCOLAR UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Como você pôde constatar, estudamos as modalidades de ensino possíveis de serem realizadas com crianças com altas habilidades e superdotação. Dentre essas modalidades, identificamos três tipos de enriquecimento que atenderão às necessidades e especificidades do aluno e da escola, que estudaremos agora com mais detalhes. 2 ENRIQUECIMENTO DOS CONTEÚDOS CURRICULARES Consiste em adaptações curriculares, ampliações curriculares, tutorias e monitorias. Para Alonso (1999), consiste em uma adaptação significativa do currículo, cuja estratégia significa criar um programa educacional individualizado dentro dos objetivos, conteúdos e avaliação do currículo regular, dentro do tempo regular de escolarização. Os objetivos educacionais mais amplos são alterados, conteúdos são adicionados e/ou excluídos, critérios de avaliação também são modificados. Neste processo, ainda são permitidas ampliações de certos conteúdos de algumas disciplinas curriculares, por meio de aprofundamento dos conteúdos e variação das atividades. Ainda, apresenta-se a possibilidade de auxílio através de monitoria ou tutoria que consiste em designar um profissional (da escola ou não) para o atendimento especializado e personalizado, ou mesmo no auxílio entre alunos, como no caso da monitoria. 146 UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS E SUPERDOTAÇÃO 2.1 ENRIQUECIMENTO DO CONTEXTO DE APRENDIZAGEM O enriquecimento do contexto de aprendizagem parte da premissa de que os contextos educacionais estejam preparados para o atendimento à diversidade. Ou seja, que nela se permitam movimentos flexíveis de atendimento, de modo a disponibilizar diversificação curricular, contextos enriquecidos e possibilidade de agrupamentos diferenciados. Desse modo, considera que os alunos apresentam características peculiares e diferenciadas de modo a perceber que estilos e ritmos de aprendizagem fazem parte do contexto dos grupos. Pérez, Rodríguez e Fernández (2005) exemplificam algumas atividades possíveis de serem realizadas em um contexto enriquecido: ATIVIDADES DE UM PROGRAMA DE CONTEXTO ENRIQUECIDO • Incluir, no currículo regular, programas de ensino de pensamento produtivo e crítico. • Promover projetos independentes individuais e em pequenos grupos. • Desenvolver atividades de exploração em diferentes áreas do conhecimento. • Organizar atividades baseadas nos interesses dos alunos. • Resolver problemas reais e antecipar problemas futuros. • Implementar oficina de invenções. • Realizar concursos de ciências, letras, artes visuais e plásticas. • Oferecer aulas de música, interpretação ou artes visuais. • Realizar colóquios com especialistas. • Desenvolver estudos aprofundados sobre temas específicos. • Realizar adaptações curriculares. • Desenvolver projetos de investigação. • Participar de programas extracurriculares. 2.2 ENRIQUECIMENTO EXTRACURRICULAR Segundo Sabatella (2002), o enriquecimento extracurricular envolve duas alternativas: os programas de desenvolvimento pessoal e os programas com mentores. Os primeiros são implementados em pequenos grupos, buscando promover o desenvolvimento das habilidades de relacionamento interpessoal de reflexão e a atração pelo conhecimento. Os últimos tratam de formas muito individualizadas de ensino, por meio de mentores, que auxiliam no desenvolvimento de talentos específicos. Joseph Renzulli (1986) sugere um Modelo de Enriquecimento Escolar, aqui apresentado com base nas informações contidas no texto de Sabatella (2002). Este modelo propõe o desenvolvimento de três tipos de atividades: TÓPICO 2 | ENRIQUECIMENTO DAS APRENDIZAGENS NO CONTEXTO ESCOLAR 147 experiências exploratórias, atividades de aprendizagem e projetos individuais ou em grupos. • Atividades exploratórias gerais: expõem os alunos a tópicos, ideias e campos do conhecimento que normalmente não fazem parte do currículo regular, mas são de interesse deles. São implementadas por uma variedade de procedimentos como palestras, exposições, minicursos, visitas, passeios e viagens, assim como o uso de diferentes materiais audiovisuais, filmes, programas de televisão, internet, entre outros. • Atividades de aprendizagem para ajudar o aluno a aprender “como fazer”, usando metodologia adequada à área de interesse, fornecendo instrumentos e materiais, ensinando técnicas que contribuam para o desenvolvimento de habilidades criativas e críticas, habilidades de pesquisa e habilidades pessoais como liderança, comunicação, autoconceito etc. • Projetos desenvolvidos individualmente, ou em pequenos grupos, com o objetivo de investigar problemas reais, aprofundar o conhecimento em uma área de interesse, usar metodologias apropriadas para resolver os problemas, gerar conhecimento. Nesses projetos, os alunos trabalham com recursos humanos e materiais avançados, são encorajados a dialogar com profissionais que atuam na área investigada e a apresentar seus produtos a uma audiência. LEITURA COMPLEMENTAR POR QUE LEV VYGOTSKY QUANDO SE PROPÕE UMA EDUCAÇÃO INCLUSIVA? Hugo Otto Beyer Começo este texto com uma resposta muito simples à questãoque o intitula: é necessário conhecer Vygotsky, estudar exaustivamente seu pensamento, quando se discutem as questões da educação inclusiva, simplesmente porque talvez ele tenha sido o primeiro pensador cujas ideias abordaram conceitos centrais do projeto de inclusão escolar. Para isto, basta ler e analisar o capítulo terceiro (“Acerca da psicologia e da pedagogia das deficiências infantis”), da primeira parte das Obras Escolhidas, de Vygotsky, Volume V, “Fundamentos da Defectologia” (1997). Este texto constitui provavelmente a mais precoce e eloquente defesa da não segregação escolar de alunos com deficiência. A premissa básica da qual Vygotsky parte e na qual se apoia encontra-se no cerne de sua teoria sócio-histórica, isto é, de que para o desenvolvimento infantil e humano em geral a sociogênese é condição fundamental. A condição para que a criança passe por transformações essenciais, que a tornem capaz de desenvolver 148 UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS E SUPERDOTAÇÃO as estruturas humanas fundamentais do pensamento e da linguagem, apoia-se na qualidade das interações sociais em seu grupo (família, escola etc.). O grande problema ou grande obstáculo quando pensamos na criança com deficiência reside no isolamento frequente que vivencia, seja na família, seja na vida escolar, seja na vida em sociedade. O isolamento, na ótica vygotskyana, não constitui apenas um problema social ou ético, porém apresenta uma faceta psicossocial (mais correto afirmar, psicológica) muito delicada. Esta vulnerabilidade deve-se à premissa vygotskyana central da necessidade da dinâmica sociogênica para um desenvolvimento infantil sadio. Quanto mais intensas e positivas forem as trocas psicossociais, mais fortalecido sairá o desenvolvimento infantil, sendo a recíproca verdadeira, isto é, quanto mais debilitadas estas trocas, mais lacunar será tal desenvolvimento. Por que o aspecto acima pode apresentar-se de forma problemática? Porque historicamente as crianças e também os adultos com deficiência foram (e têm sido) socialmente segregados. A segregação social pode ser ilustrada através da figura de círculos concêntricos, em que o círculo básico – a família – pode ser o primeiro grupo que pratica a exclusão, através de atitudes de rejeição ou superproteção, ampliando-se por meio da exclusão escolar, da incompreensão comunitária, e assim por diante. Aí encontramos o primeiro (e vital) paradoxo, ou seja, aceitando-se a premissa vygotskyana da importância e necessidade das experiências sociais para o desenvolvimento humano (intelectual, afetivo, social, moral etc.), sem o que nenhuma criança poderá construir, de uma maneira positiva, as estruturas fundamentais do pensamento e da linguagem, a segregação social imposta às crianças com deficiência constituirá fator fragilizador para o seu pleno desenvolvimento. Por isso, no capítulo acima mencionado, Vygotsky opõe-se ao envio sistemático das crianças com deficiência para as escolas especiais. Ele vai mais longe, opondo-se, em princípio, ao projeto pedagógico destas escolas (não que elas não sejam necessárias para o atendimento das crianças cuja condição impeça a integração nas escolas comuns), que se teria uma orientação demasiadamente terapêutica, e que também teria como efeito o afastamento crescente da criança no ensino regular. Porém, o prejuízo maior, na ótica de Vygotsky, ocorreria no plano social, isto é, conforme sua teoria sociogenética, a criança com necessidades especiais ficaria debilitada no que tange à importância das trocas interpsicológicas. Uma das premissas vygotskyanas fundamentais, que afirma que as condições do desenvolvimento psíquico derivam da qualidade das trocas sociais, estaria diretamente implicada na decisão pedagógica de integrar (ou incluir) ou não os alunos com necessidades especiais na escola comum. TÓPICO 2 | ENRIQUECIMENTO DAS APRENDIZAGENS NO CONTEXTO ESCOLAR 149 Poderia se afirmar que em ambas situações, isto é, tanto na escola especial como na escola comum, a criança estaria em situação de convivência social. Poderíamos afirmar que sim. Porém, há aqui um diferencial evidente. Em primeiro lugar, Vygotsky sempre combateu uma proposta de formação de grupos com igualdade de perfis, isto é, grupos com tendência a se homogeneizarem a partir dos critérios de condição intelectual e de desempenho acadêmico. Para ele, seria através dos variados contornos individuais de cada criança que as trocas psicossociais se tornariam enriquecedoras e contribuiriam para o crescimento de cada um no grupo. Assim, a escolarização das crianças com deficiência em grupos de crianças “especiais”, com condição individual similar, acabaria por provocar um processo de limitação social, na medida em que as trocas interpsicológicas se restringiriam às feitas no grupo de “iguais”. Vygotsky criticava tal postura pedagógica. É importante voltarmos nossa atenção para o modelo ontogenético vygotskyano. Tal modelo se pauta pela concepção de que a emergência de novas estruturas cognitivas e linguísticas e correspondentes competências intelectuais e afetivas decorre das mediações semióticas e das mediações humanas. A criança tem acrescentada a suas competências atuais novas competências por causa da aproximação aos outros sociais, esses outros entendidos, por um lado, como as novas apropriações semióticas (tendo a linguagem como principal recurso) que a criança faz no grupo cultural, e, por outro, o adulto ou par mais desenvolvido como mediador das novas competências. A grande dificuldade que encontramos nas escolas especiais é a limitação ao horizonte social das crianças com necessidades especiais. Enquanto estas precisariam da convivência com crianças com condições cognitivas e socioafetivas diferenciadas dos seus, veem-se, através das situações pedagógicas e sociais das escolas especiais, atreladas a um modelo limitado de interação. Com isto, não quero absolutamente menosprezar as identidades ou as experiências de vida das crianças com deficiência e a convivência com seus pares. É válida e enriquecedora a convivência em si. Inclusive determinadas pesquisas têm confirmado como a convivência da criança com deficiência, no seu grupo, pode fortalecer sua autoestima e o sentimento de pertença. Contudo, do ponto de vista das importantes trocas sociais e sua contribuição para as zonas de desenvolvimento proximal, ou seja, em que crianças com condições cognitivas avançadas podem estabelecer pontes de mediação para crianças com níveis inferiores de desenvolvimento, há um prejuízo evidente. Com a tendência à homogeneidade grupal, através do nivelamento cognitivo, a criança com necessidades especiais tem seu horizonte de mediação limitado. Resta a unilateralidade na relação da criança com o/a professor/a nas escolas especiais. 150 UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS E SUPERDOTAÇÃO Isto vale não apenas no que tange ao benefício potencial que as crianças com deficiência podem ter em situações de inclusão escolar. Também as ditas crianças normais perdem quanto às oportunidades de aprendizagem na convivência com crianças em situações diferenciadas das suas. Pesquisas já têm comprovado o benefício para as crianças ditas normais, especialmente no aspecto socioafetivo e moral, em que muitas delas têm aprendido a construir e praticar atitudes de tolerância, aceitação e colaboração com as crianças com deficiência. Passo a comentar, a seguir, alguns dos principais conceitos vygotskyanos, com implicação para o projeto de educação inclusiva. 1. Primeiramente, o conceito de “deficiência” em Vygotsky. Ele não propunha uma definição que partisse de critérios comparativos ou normativos. Rompia com um conceito que significasse que alguém pelo queteria a mais ou a menos em relação a um parâmetro normativo médio da população. Com isto se acabaria por praticar exclusões, pois os que se afastassem da média estariam automaticamente sendo definidos como subcidadãos (ou supercidadãos). Para Vygotsky, o ser humano deveria antes ser reconhecido como detentor de uma identidade única, que anularia relações binárias do tipo normal/anormal, mais inteligente/menos inteligente, melhor/pior etc. 2. O conceito de compensação ou supercompensação foi considerado por Vygotsky como conceito adleriano (Alfred Adler, psiquiatra austríaco e aluno de Freud) de compensação. É importante afirmar que Vygotsky extrapolou teoricamente este conceito, não se atendo às categorias psicanalíticas ou neopsicanalíticas, porém, considerando-o a partir das categorias sócio-históricas. Em relação à postura de Adler, Vygotsky criticou sua interpretação subjetivista (ou, como denominou, metafísica) do conceito de compensação, e destacou as relações sociais do conceito, em que compensar significaria o confronto do sujeito com a realidade social e sua inserção e realização social (ou não). Ele entendia que a pessoa teria condições de superação das limitações decorrentes da deficiência não por meio da compensação orgânica, porém através da inclusão social. Afirmava que o problema da deficiência se definiria através da sua solução (ou capitulação) social, por meio de processos de inserção e superação social (inclusão na escola, no trabalho, na família etc.). Esta inclusão teria consequências diretas na autoestima da pessoa com necessidades especiais. Podemos concluir que neste conceito encontra-se uma definição de compensação psicossocial e não estritamente orgânica ou psíquica da deficiência. 3. Outro aspecto de considerável importância no pensamento de Vygotsky, e do qual decorre um número significativo de pesquisas e abordagens, ao longo das últimas décadas, constitui suas elaborações a respeito da avaliação das condições de desempenho intelectual da criança. Ele afastava-se significativamente das práticas avaliativas da sua época, influenciadas pela abordagem psicométrica (Binet, inicialmente na França, Thorndike, posteriormente nos Estados Unidos etc.). Para Vygotsky não bastava conhecer o desempenho cognitivo atual da criança, porém era mais importante influenciar o mesmo, através de mediação TÓPICO 2 | ENRIQUECIMENTO DAS APRENDIZAGENS NO CONTEXTO ESCOLAR 151 específica, e avaliar o desempenho posterior. Aqui, encaixava com perfeição seu conceito de zona de desenvolvimento proximal. Importante para a avaliação seria conhecer qual a possibilidade de dilatamento intelectual que a criança apresentava (haveria crianças que demonstrariam, através de uma avaliação dinâmica – avaliação, mediação, avaliação –, uma condição intelectual acima de sua idade cronológica), antes de concluir meramente a respeito de sua condição cognitiva atual. Esta possibilidade de dilatamento ou de potenciais intelectuais, Vygotsky chamava de zona de desenvolvimento proximal. Reuven Feuerstein, psicólogo israelense, anos depois (1979) denominou um conceito semelhante como “avaliação do potencial de aprendizagem”. Não apenas denominou, porém operacionalizou um procedimento metodológico de avaliação clínica conhecido como LPAD (do inglês, Learning Potential Assessment Device, ou abordagem da avaliação do potencial de aprendizagem). 4. Outro importante conceito, central no arcabouço teórico vygotskyano, constituía-se na necessidade da mediação semiótica (ou instrumental, no sentido do uso dos recursos culturais – do qual a linguagem seria a principal – do grupo social) do desenvolvimento infantil. Vygotsky sempre entendeu que o desenvolvimento humano seria um vetor resultante de duas principais linhas, a genética e a biológica, por um lado, e a social, por outro. Entendia que o ser humano encontrava-se acabado no que tange à linha biológica ou orgânica, particularmente o cérebro, com todas as condições estruturais para alcançar os níveis mais elevados de desempenho mental. O ponto crucial e de definição seria a linha social, isto é, como, com que qualidade, com que histórico individual, ocorreria a influência da esfera social no desenvolvimento individual (ou como o fator social interferiria no desenvolvimento ontogenético). Poderíamos estabelecer as seguintes relações, com o que pretendo ilustrar e facilitar esta explicação. • Linha Biológica + e Linha Social/Mediação + = Ontogenia + • Linha Biológica + e Linha Social/Mediação - = Ontogenia com perspectiva de dificuldades evolutivas • Linha Biológica - e Linha Social/Mediação + = Ontogenia com boas condições de compensação • Linha Biológica - e Linha Social/Mediação - = Ontogenia – (Legenda = + positivo; - negativo) A mediação é particularmente importante, como recurso para garantir a qualidade das experiências sociais e culturais da criança, e de capital importância para compensar as limitações funcionais que as crianças com deficiência enfrentam, já que a priori encontram limitações na linha orgânica ou biológica do desenvolvimento. 5. Por último, gostaria de retomar as considerações que constituíram o início deste texto, ou seja, a importância crucial da inclusão social mais plena possível para as pessoas com necessidades especiais. Conforme visto, dentro da concepção ontogenética vygotskyana, em que a sociogênese, fator precípuo para o bom desenvolvimento infantil, não há como esperar níveis satisfatórios 152 UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS E SUPERDOTAÇÃO de compensação e estruturação psíquica sem um espaço satisfatório de inclusão social. Neste momento, a proposta de integração ou inclusão escolar atinge o seu significado mais pleno. Penso que é possível uma estruturação qualitativamente positiva do pensamento e da linguagem também nas escolas especiais, porém com algumas limitações (conforme já comentei acima), particularmente no que tange às possibilidades de mediação junto à zona de desenvolvimento proximal. Para concluir, gostaria de mencionar a obra de Reuven Feuerstein, de 1921, por alguns considerado o grande operacionalizador de ideias que se aproximaram enormemente das ideias de Vygotsky. Feuerstein foi aluno de Jean Piaget, em Genebra, no final da década de 40 e início dos anos 50. Apresenta conceitos, em sua obra, muito próximos dos conceitos piagetianos. Porém é, sem sombra de dúvida, em conceitos similares aos vygotskyanos que podemos situar a abordagem de Feuerstein. Já foi suficientemente esclarecido que não houve uma pré-leitura deste autor da obra de Vygotsky. Segundo Feuerstein, apenas na década de 60, em um Congresso na Europa, veio a tomar conhecimento do trabalho de Vygotsky, através de um encontro com Luria, em que este passou às suas mãos um texto de Vygotsky. Os principais conceitos que o aproximam da abordagem vygotskyana são os conceitos da experiência de aprendizagem mediada e o conceito de avaliação do potencial de aprendizagem, ao qual já fiz menção acima. A principal contribuição de Feuerstein, interpretada por alguns como a versão operacionalizada dos conceitos vygotskyanos, constitui-se nos programas de intervenção cognitiva e avaliação da Avaliação do Potencial de Aprendizagem (LPAD). A proposta deste último é avaliar não o desempenho tangível evidenciado pela criança, porém, as reais condições de desempenho intelectual a partir do ato mediador. Em termos vygotskyanos, diríamos avaliar após a mediação junto à zona de desenvolvimento proximal. Após a avaliação dinâmica efetuada, traça- se um processo mais denso de mediação através da intervenção com o PEI. O objetivo maior é consolidar a zona de desenvolvimento proximalatravés de uma intervenção pedagógica sistemática. FONTE: Disponível em: <coralx.ufsm.br/revce/ceesp/2005/02/a7.htm>. Acesso em: 24 jun. 2010. 153 Neste tópico você estudou que: • O enriquecimento dos conteúdos curriculares consiste em adaptações curriculares, ampliações curriculares, tutorias e monitorias. • O enriquecimento do contexto de aprendizagem parte da premissa de que os contextos educacionais estejam preparados para o atendimento à diversidade. Ou seja, que nela se permitam movimentos flexíveis de atendimento, de modo a disponibilizar diversificação curricular, contextos enriquecidos e possibilidade de agrupamentos diferenciados. • O enriquecimento extracurricular envolve duas alternativas: os programas de desenvolvimento pessoal e os programas com mentores. Os primeiros são implementados em pequenos grupos, buscando promover o desenvolvimento das habilidades de relacionamento interpessoal de reflexão e a atração pelo conhecimento. Os últimos tratam de formas muito individualizadas de ensino, por meio de mentores que auxiliam no desenvolvimento de talentos específicos. • Para Vygotsky, quanto mais intensas e positivas forem as trocas psicossociais, mais fortalecido sairá o desenvolvimento infantil, sendo a recíproca verdadeira, isto é, quanto mais debilitadas estas trocas, mais lacunar será tal desenvolvimento. RESUMO DO TÓPICO 2 154 AUTOATIVIDADE Retome o texto da leitura complementar “Por que Lev Vygotsky quando se propõe uma educação inclusiva?” e apresente as principais ideias do teórico sobre a educação especial e a educação inclusiva. 155 TÓPICO 3 ESTUDO DE CASO DE UMA CRIANÇA COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Estamos chegando à etapa final deste caderno de estudos e até o momento você teve a oportunidade de conhecer as principais ideias e autores referentes ao atendimento de pessoas com altas habilidades e superdotação. No decorrer do texto apresentamos conceitos e propostas de intervenção possíveis de serem desenvolvidas com os alunos bem-dotados. Com o intuito de apresentar aplicabilidade aos conhecimentos adquiridos até o momento, convidamos você a acompanhar um estudo de caso de uma criança com altas habilidades e superdotação ocorrido no Estado do Rio Grande do Sul e que foi motivo de pesquisa acadêmica, realizada pela professora Andréia Rech. Com a autorização da autora, apresentamos, de forma sucinta, algumas partes do estudo de caso, com a omissão de alguns dados e análise, para que você, leitor(a), possa ter a oportunidade de exercitar os seus conhecimentos, analisando os dados apresentados e elaborando estratégias pedagógicas e encaminhamentos. 2 A HISTÓRIA DE CLARA Iniciaremos este estudo de caso contando a história da menina que nomearemos como Clara. Esta história foi relatada pelos seus pais através de uma pesquisa desenvolvida pela professora Andréia Rech em sua dissertação de mestrado em Educação, pela Universidade Federal de Santa Maria, defendida em 2007. O objetivo deste relato de caso consiste em apresentar vivências reais sobre as altas habilidades e superdotação e aproximarmos nossos estudos teóricos referentes a este tema com a prática pedagógica escolar. UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS E SUPERDOTAÇÃO 156 No decorrer desta história, faça uma leitura dinâmica e exploratória, de modo a observar o relato dos pais e dos professores sobre o desenvolvimento de Clara, as características que a aproximam das altas habilidades e sua trajetória escolar. Clara é filha única, seu pai é militar e sua mãe contabilista. Segundo os pais, com aproximadamente dois anos e meio Clara começou a ter interesse por computador, isso porque o ambiente familiar proporcionava-o, já que os pais utilizavam o computador para trabalhar em casa. O pai relatou que: [...] a gente colocava ela no cercadinho e ela começava a pular o cercado; o que a gente fazia, pegava o sofá e fazia um quadrado para ela, mas ela era forte e empurrava aquele sofá, então eu ‘tava’ no computador e de repente vinha aquele dedinho assim e apertava [risos], e aí eu acho que o que ajudou bastante a alfabetização foi o computador. Os pais enfatizaram que o interesse em conhecer coisas novas partia da menina. Isso ficava evidente no relato da mãe: “Tudo vinha do interesse dela, a gente só incentivava porque não podia deixar o interesse morrer. A gente sempre tomou cuidado, até com psicólogo a gente falou, deixar tudo no tempo dela, nunca forçar nada”. Em relação à aprendizagem das palavras, a mãe relatou que sua filha não apresentou dificuldades ao pronunciar os sons. De acordo com a mãe: Às vezes tem uns que têm dificuldade em falar os sons, ela sempre teve facilidade, pelo que eu conhecia de crianças, porque eu tenho vários sobrinhos. Eu achava interessante como ela tinha capacidade de ler, aí no `pré A´ ela já escrevia com letra bastão, aí ela entrou em férias e quando chegou no `pré B´ já escrevia cursiva, aí eu peguei um dia o caderno só para treinar a letra dela, mas nem cheguei a usar aquele caderno [caderno de caligrafia], ela já foi fazendo. Sempre era adiantada, daí já no `pré B´, ela já começava quando as outras crianças iam aprender ela dizia antes. Além disso, a matemática também fazia parte dos interesses da aluna. O pai relata alguns acontecimentos em que a menina apresentou interesses pela matemática. “Por exemplo, contar até dez foi naturalmente, eu não me lembro, eu não ensinei ela a contar até dez, nem minha esposa, aí um dia eu fui ensinar ela a contar até cinco, né, filha, vamos contar até cinco, aí ela 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10, [risos] fiquei impressionado”. Outro interesse foi a multiplicação. “Fui tentar explicar para ela, por exemplo, 5 x 2, aí ela assim 10, aí eu ‘puxa vida’, quer dizer que ela tá à frente, quando eu vou explicar uma coisa ela já sabe”. Ainda, segundo a mãe, “foi ela que foi pesquisar, porque na escola ainda eles não tinham estudado a multiplicação”. TÓPICO 3 | ESTUDO DE CASO DE UMA CRIANÇA COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO 157 Quando a mãe começou a trabalhar fora de casa, contrataram uma babá, mas de acordo com a mãe: [...] a moça não cuidava muito bem, tivemos uns probleminhas, ela deixava a guria mais olhando TV, dormindo, não incentivava, aí eu comecei a comprar letrinhas de plástico, sempre dei... para evitar de riscar parede, criança gosta muito de estragar parede, eu sempre dava letrinhas, coisas para contornar objetos, dava folhas, várias folhas, lápis e caneta, então ficava horas brincando e, sempre que eu podia, ajudava a formar uma palavra, coisinha simples né, aí com três anos e três meses eu coloquei ela no maternal. Conforme a mãe, matricular a filha no maternal foi melhor do que deixá-la conviver com a babá. Para a mãe, a escolinha foi importante, pois “ela [a menina], convivendo com outras crianças não se tornaria egoísta”. Mas, segundo o pai, o maternal foi uma decepção para a menina. “Ela ficou desapontada porque ela achava que entrando na escola ela ia aprender a escrever, a ler, sabe, e ela chegava brava em casa: ‘a gente só brinca lá’, mas era maternal, só brincava mesmo”, dizia o pai para a filha. A mãe descreve que um dia foi buscar a menina na escolinha e ela disse: “mãe não ‘tá’ na hora de eu ir embora porque eu não estudei ainda”. “Então estudar para ela era escrever”. As cobranças, por parte da menina em aprender a ler e escrever eram constantes, até que um dia os pais disseram a ela que quando fizesse quatro anos poderia ir para a pré-escola. De acordo com o pai: “Em maio, quando ela completou quatro anos, o que ela fez, entrou na sala da pré-escola. Pegou a mochila dela sozinha sem falar com ninguém, foi lá e sentou. Ela tirou essa conclusão: tô com quatro anos, tirou a conclusãodo nada, vou para o pré”. A partir dessas e outras angústias vivenciadas pela família, os pais optaram por tentar matricular a menina na pré-escola. Na época, já havia passado um semestre, a menina estava com aproximadamente quatro anos e três meses. Contudo, a direção não concordou que a aluna frequentasse a pré-escola apesar de a professora do maternal apoiar os pais. Então, os pais decidiram matricular a menina em uma escola que a aceitasse na pré-escola. De acordo com o pai, “[...] ela ia ficar desapontada se tivesse que repetir a pré-escola novamente. A gente não queria que ela passasse de novo por aquele processo de desapontamento que ela passou”. Logo, os pais tinham noção do quanto poderia ser prejudicial para sua filha ter de repetir mais um ano a pré-escola. Segundo a mãe, a aceitação da menina com a nova escola foi tranquila, ela foi muito bem recebida, tanto pela nova professora quanto pelos colegas. A mãe descreve um fato que ocorreu na pré-escola que, mais uma vez, ilustra o desenvolvimento precoce da aluna: “Um dia a professora do pré foi levar os alunos para passear pelo bairro. A professora ia dizendo, por exemplo, aquela casa é de número... e ela dizia 237, e a professora ficou pasmada com aquilo. O interesse sempre foi geral, geografia, ciências, português, sempre foi geral”. UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS E SUPERDOTAÇÃO 158 Como a aluna apresentava maior facilidade de aprendizagem do que seus colegas, na maioria das vezes, conforme o pai, “ela chegava a atrapalhar um pouquinho, né, porque a professora escrevia para os alunos tentarem adivinhar o que era, mas ela já dizia antes [...] quando a professora escrevia ES-CO, ela já dizia ESCOLA”. Mas, segundo a mãe, “[...] a professora dizia é para todo mundo, só a aluna é para ficar quietinha”. Nota-se que desde a pré-escola a aluna já era desestimulada a participar da aula. Este é um fato que também a acompanhou na 1ª série. Apesar de a professora da pré-escola pedir que a aluna não respondesse, mas sim deixasse que seus colegas participassem, ela permitia que a aluna auxiliasse os colegas. Segundo a mãe, “ela sempre terminava as tarefas antes e ia ajudar os colegas dela”. Os pais relataram que quando estudavam também terminavam as tarefas primeiro que os colegas. Segundo o pai: “eu, particularmente, quando era novo, nós tínhamos o grupinho que sabia um pouco mais, aí nós terminávamos a tarefa, terminávamos tudo, sabe, aí o que nós fazíamos, começávamos a ‘tocar’ horror na sala [...]”. Já a mãe relata um comportamento contrário: “eu também, sempre fui, né... terminava antes, mas eu não atrapalhava, eu tinha em mim, eu não incomodava a professora, não atrapalhava os colegas, eu ajudava. Eu achava um absurdo incomodar a professora”. Por isso, a mãe aconselha sua filha para que ela não converse em aula para não atrapalhar a turma. “Eu digo para ela: minha filha, tu sabes que tu sabes, mas evita conversar para não atrapalhar os outros que não sabem”. Ao final do ano letivo, a família mudou de endereço e buscou uma nova escola para sua filha estudar. Ao matricular sua filha numa escola pública, o dinheiro que antes era investido na escola particular agora seria destinado para adquirir jogos educativos e livros. De acordo com o pai, “[...] todo esse processo de colocar ela no colégio público, que foi difícil porque a lei não permitia, né, ela acompanhou todo este processo. Eu expliquei bem para ela, né, o que estava acontecendo, ela sempre ficou a par disso”. No entanto, os pais encontraram muitos obstáculos para matricular precocemente a filha na 1ª série. No começo foi difícil. Eu cheguei aqui [na escola em que a aluna iria estudar] e disseram que não, cheguei na 8ª CRE disseram que não, cheguei em tudo que era lugar e era não. Daí que eu pesquisei na internet sobre as leis, sobre tudo. Entrei no site do Ministério da Educação, site estadual, procurei reunir todos os documentos, leis e tudo mais, resolução e trouxe aqui para a diretora, aí até a diretora se assustou e disse para eu pegar tudo e levar para a 8ª CRE. Ainda assim, os pais sentem uma angústia quanto ao futuro escolar da filha. Segundo o pai, muitas pessoas levantaram dúvidas quanto à escolha que eles haviam feito, buscar a aceleração da filha. Inclusive os profissionais da 8ª CRE [Coordenadoria Regional de Educação], que disseram aos pais: “olha, vocês vão adiantar ela e depois ela vai chegar lá na quinta, sexta série e vai retroceder, e daí TÓPICO 3 | ESTUDO DE CASO DE UMA CRIANÇA COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO 159 ela vai começar a tirar nota ruim, porque a gente já teve vários casos”. Mas o pai não ficou convencido com a explicação e foi em busca de maiores informações. Foi então que eu comecei a pesquisar na internet sobre esse assunto, e eu vi que não há um consenso entre todos os educadores e psicopedagogos. Existem várias correntes de pensamento, uma defende que a criança tem que estar naquela idade mesmo que ela esteja avançada, e tem outra corrente que não, defende que ela possa avançar. Então, foi aí que eu percebi que a Clara, fui consultando estes sites, né, pegando as características das crianças com altas habilidades, pegando aquelas características e jogando na Clara que eu vi que olha, realmente, alguma coisa ela tem, né. Dessa forma, os pais foram novamente contatar com a 8ª CRE, mas agora munidos de documentos legais. Conforme o pai: Cheguei lá na 8ª aí eles falaram, nós temos lá um pessoal da universidade que pode ajudar neste caso. Então eu questionei ela por que tudo isso, é muito mais simples orientar os pais, não precisava eu fazer todo aquele trabalho, mas é que ela disse assim, não, mas é que se todos os pais vão vir e querer fazer a mesma coisa se for divulgado. Através de um grupo que desenvolve pesquisa sobre as altas habilidades e superdotação, foi realizada uma avaliação pedagógica da aluna para verificar se ela apresentava condições pedagógicas para ingressar precocemente na 1ª série. Em relação aos interesses que a aluna apresentava, o pai relatou que “[...] antes de entrar na primeira série ela já tinha noção dos continentes e dos países. Ela sabe também dos planetas e do sistema solar”. A mãe também relata o interesse da menina por línguas. “Sobre espanhol ela sabe um monte de coisa, tudo pela internet, porque a gente deixa usar a internet, no caso a gente sempre acompanha. Até MSN ela tem, conversa com as tias, escreve, ela sabe usar todos os recursos”. Outro fato também chamou a atenção do pai: “[...] uma coisa também que ela pegou com facilidade foi que a Terra é redonda, sobre as noites e os dias, sabe que lá no Japão é noite e aqui é dia, ela pegou superfácil”. São vários os exemplos relatados pelos pais na entrevista, mas, conforme o pai, um deles lhe chamou mais a atenção. “Um dia ela chegou em casa e disse assim: pai, eu quero saber sobre raiz quadrada, eu disse, mas isso é lá para frente, nem dividir ‘tu não aprendeu’ ainda. Porque contas de multiplicação ela sabe alguma coisa”. Mas a menina não se conformou com a resposta do pai e ficou cobrando até que ele lhe ensinou um pouco sobre raiz quadrada. Esse não conformismo por parte da menina era um comportamento seguidamente observado pelos pais. A mãe descreve que: Ela tem um pouco de ansiedade, mas a psicóloga falou que é normal para a idade dela, mas eu acho que é um pouquinho além, ela me pede uma coisa quando eu ‘tô’ vendo aquela coisa, ela já quer outra, na mesma hora. Talvez com vocês, professores, não, mas comigo se eu não entendo, ela não explica de novo, começa a chorar, bater perna, e eu digo que é para ela ter calma, me explica que eu faço o que ‘tu quer’, ou tento fazer. UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS E SUPERDOTAÇÃO 160 Sobre a personalidade da menina, o paia descreve como “[...] uma criança muito querida, ela cativa tanto crianças, adultos, mas principalmente os idosos, ela encanta os idosos, ela é muito educada, trata bem os idosos. Então eu acho que é uma habilidade ela encantar as pessoas”. A mãe confirma esse carisma da filha e complementa ao dizer que “[...] a educação vem de casa, mas às vezes ‘tu tenta’ educar e a criança não pega. Já a Clara desce do ônibus, olha para o motorista e diz, muito obrigada, as pessoas acabam se encantando porque isso não existe mais”. No entanto, segundo os pais, apesar de a menina ser meiga e carinhosa, ela também tem uma personalidade forte. A mãe relata que: Ela teima, teima bastante para testar a gente, né. Se ‘tu deixa’, ela dá uma voltinha, daqui a pouco ela volta e quer aquela coisa de novo. Alimentação também, por exemplo, porque eu vejo em casa, ela vem comer um doce na hora do almoço, eu digo não e ela ai, mãe, por favor, eu digo não, aí ela dá uma voltinha, vem de novo pedir. Quando questionados os pais sobre o que eles pensavam a respeito das aulas da professora A, eles disseram que no início ela [a menina] estranhou um pouco, porque ela dizia que queria mais, né, mas ela foi levando. Ela sentiu a diferença, porque a professora da outra escola [da pré-escola] dava coisas a mais para ela, trazia, aí ela ficou sentindo um pouco, mas, depois ela foi pegando o ritmo. A outra professora fazia um trabalho diferenciado com ela, dava uma matéria fixa com os alunos, e para ela oferecia um material diferente. Segundo o relato dos pais, é possível verificar que a professora da outra escola utilizava diferentes métodos de ensino que auxiliavam na aprendizagem da aluna. Por meio de um “trabalho diferenciado”, a professora a estimulava e tornava mais enriquecedores para a aluna os conteúdos escolares. No entanto, com a professora “A”, a rotina de sala de aula foi diferente. Segundo os pais, a menina “estranhou um pouco”, no entanto “foi levando”, aos poucos foi “pegando o ritmo”. Com a finalidade de obter maiores informações a respeito das habilidades da aluna observada, foi questionado à professora “A” sobre o ingresso da Clara na nova escola. A professora relatou que a aluna não apresentou dificuldades de adaptação. “Não, nenhuma. Bem segura, muito tranquila até para a idade dela, uma das melhores alunas”. Baseada em sua resposta, perguntou-se à professora “A” em qual aspecto a aluna poderia melhorar; a professora respondeu: “ela poderia ter o caderno mais organizado, mas não sei se é devido à idade, mas eu estou sempre reclamando do caderno dela, a letra dela poderia ser melhor, mas em termos de aprendizagem ela está muito boa, ótima”. A professora “A” também relatou que considera a aluna: Madura, autossuficiente, não dependente de mim para nenhuma atividade, faz tudo sozinha. Nunca vem me perguntar nada, resolve as coisas dela, questiona quando ela quer saber alguma coisa além daquilo que já foi explicado. Mas ela pega tudo no ar, ela tem facilidade de aprendizagem, eu acho que é uma menina muito tranquila, muito bem-criada. TÓPICO 3 | ESTUDO DE CASO DE UMA CRIANÇA COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO 161 Quando solicitado à professora “A” que recordasse um fato que tivesse lhe chamado atenção, ela relatou: “uma vez eu dei um tema para eles, que era pesquisar sobre a colmeia, aí ela (a aluna) pesquisou na Internet, fez uma pesquisa bem completa que eu até passei no mimeógrafo para toda a turma a pesquisa”. Quando a professora “A” foi questionada a respeito do que havia percebido/observado na aluna em relação às prováveis características de altas habilidades, ela assim relatou: Ela é positiva naquilo que fala, muito segura, tranquila. Não notei nada anormal. Eu acho assim, de repente me falta mais tempo para observar, é muita criança, ‘tu não tem’ tempo nem de respirar aqui na sala de aula para observar, se eu tivesse menos alunos, poderia observar alguma coisa diferente. Mas eu não achei nada de anormal, a não ser o fato de ela ser nova e já estar bem adiantada. Ao ser questionada sobre como seria, na opinião dela, um aluno com altas habilidades, a professora assim respondeu: Um aluno superdotado seria aquele aluno que na sala de aula, quando ‘tu começa’ a explicar um assunto, ele já te dá a resposta lá na frente, sempre na frente de todos os assuntos que ‘tu for’ trabalhar na sala de aula. Agora, esse tipo de aluno incomoda em sala de aula, porque a gente começa, que nem aquele ali (se referindo a um aluno), ‘tu começa’ a explicar uma coisa e ele já dá a resposta, e aquilo incomoda porque não deixa formar o raciocínio nos outros, eu penso assim, eu gosto de ir raciocinando devagarinho com todo mundo, até chegar numa conclusão, e aquele já dá a resposta antes. E incomoda, isso incomoda em sala de aula, mesmo na leitura, na matemática, nas ciências, na vida, no geral, na vivência, tudo que a gente for falar na sala de aula, ‘tu começa’ um assunto aquele aluno já terminou o assunto, e não adianta ‘tu pedir’ para ficar quieto, que ele não fica. E ao se reportar à aluna Clara, a professora prossegue sua resposta: “Já a aluna, eu digo que não é para responder, deixar o coleguinha pensar também, ela fica calminha e não responde, eu sei que ela ‘tá’ louca para dar a resposta, mas tem outros que não se seguram, isso atrapalha na sala de aula”. Neste momento não é possível afirmar que a aluna descrita neste estudo de caso apresente altas habilidades, mas sim que ela apresenta comportamentos superdotados. Por isso é preciso que se faça um acompanhamento sobre o seu desenvolvimento por um período maior para verificar a consistência, a intensidade e a frequência destes comportamentos. Contudo, como pensa Renzulli, não devemos nos preocupar se os alunos são ou não superdotados, mas sim oferecer- lhes oportunidades para desenvolver o potencial que apresentam. UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS E SUPERDOTAÇÃO 162 3 ANÁLISE DO ESTUDO DE CASO 3.1 CARACTERÍSTICAS DE ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO IDENTIFICADAS NO ESTUDO DE CASO COM APORTE TEÓRICO A partir do estudo de caso estudado neste tópico, retome a leitura, caso necessário, e preencha o quadro a seguir, registrando as principais características identificadas nos aspectos familiares, comportamentais, de ensino e aprendizagem, bem como o aporte teórico estudado neste caderno que sustente as suas observações. Para facilitar sua compreensão, exemplificamos o primeiro item apresentado. Complemente com suas observações. ASPECTOS CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA FAMILIARES • Os pais proporciona- vam em casa recursos tecnológicos (computa- dor e internet) e mate- riais diversificados para as brincadeiras da filha, proporcionando um am- biente estimulante. • Crianças superdo- tadas crescem em ambientes estimu- lantes. COMPORTAMENTAIS APRENDIZAGEM ENSINO 163 Neste tópico você viu que: • A análise de estudo de caso pode contribuir para a compreensão das bases teóricas sobre altas habilidades e superdotação através de uma vivência real. • Crianças superdotadas crescem em ambientes estimulantes. • Uma sala de aula onde o conteúdo escolar é trabalhado apenas de forma tradicional, em que a criatividade não é explorada, não instiga os alunos a desenvolverem suas habilidades, sejam elas acadêmicas ou produtivo-criativas. RESUMO DO TÓPICO 3 164 AUTOATIVIDADE Retome o último item deste tópico e preencha o quadro apresentado. Socialize com os seus colegas e discuta os demais apontamentos. 165 TÓPICO 4 ATIVIDADES DE ENRIQUECIMENTO ESCOLAR UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO No decorrer do caderno de estudos apresentamos as principais ideias sobre as altas habilidades e superdotação. Dentre elas, as nossas pré- noções sobreo tema, os principais teóricos que abordam a inteligência e a superdotação. Oferecemos a você sugestões de atividades para desenvolver as múltiplas inteligências, exemplos de testes de QI, pareceres de professores e estudos de caso. Ainda, você pôde observar a importância de nos atermos aos aspectos emocionais da criança, de modo a compreender suas necessidades, equilibrar as expectativas e oferecer suporte para o desenvolvimento das habilidades do superdotado, bem como as características e dificuldades sociais que muitas crianças com altas habilidades e superdotação perpassam. Assim, para finalizar este caderno, apresentaremos atividades de enriquecimento escolar que objetivam oferecer ao aluno, com ou sem altas habilidades e superdotação, propostas que explorem a sua criatividade e o seu raciocínio, através de dinâmicas diversificadas e desafiadoras. Essas atividades foram selecionadas do livro “Toc, toc, plim, plim”, elaborado por um grupo de professores que pesquisam sobre as pessoas com altas habilidades e superdotação. Assim, você terá, ao final desta disciplina, um aporte teórico e prático inicial para o atendimento às necessidades específicas da superdotação. Explore e aprofunde seus conhecimentos através das nossas sugestões de livros e das nossas referências. UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS E SUPERDOTAÇÃO 166 2 BRINCANDO COM O PENSAMENTO Apresentamos a seguir uma relação de dez atividades desafiadoras e criativas para você aplicá-las em sala de aula; adapte-as da forma como achar necessário e de acordo com o perfil do seu grupo. Elas foram extraídas da obra organizada por Virgolim (2009) e apresentam atividades relacionadas a situações- problema, análise de códigos, leitura de imagens, produção de texto, representação de sentimentos, interpretação, dentre outras. Entretanto, a autora chama a atenção para algumas regras fundamentais de utilização das propostas, de modo a preservar um bom ambiente para a expressão de cada um dos participantes e a permitir liberdade de expressão, mantendo elevada a autoestima dos sujeitos. São elas: • evitar se autocriticar e criticar o outro, de forma que permita ao indivíduo falar o que realmente pensa ou sente; • aproveite a ideia do outro, elabore, adicione...; • busque a fluência de ideias. Quanto mais ideias, melhor; • deixe seu pensamento vagar, seja flexível; • seja original, ouse! Respostas loucas, diferentes, engraçadas; • não tenha medo de errar; • faça uso do seu direito de falar e ser ouvido, de ser respeitado, direito ao silêncio; • encoraje e seja encorajado. Elogie sempre, dê feedback positivo ao outro. Dessa forma, brinque à vontade com essas atividades que desenvolvem o pensamento criativo, os talentos humorísticos, a imaginação, os sentidos e as emoções. 3 ATIVIDADES DESAFIADORAS PROPOSTA 1: CÓDIGOS INTERESSANTES Você, que é muito curioso, resolveu dar uma espiada nos livros da estante de um arqueólogo. E encontra um misterioso livro, todo escrito em códigos. Que interessante! O que poderia estar escrito ali? Que segredos misteriosos você está a ponto de descobrir? Algumas das frases do livro estão escritas a seguir. Use a cabecinha e tente decifrá-las! Mas atenção! Cada frase foi escrita com um tipo de código. Você será capaz de descobri-los? Então vamos lá! A cada código descoberto, escreva na linha a seguir sua tra- dução e qual é a regra para se descobrir o código. Essa é uma tarefa para um verda- deiro Sherlock Holmes! TÓPICO 4 | ATIVIDADES DE ENRIQUECIMENTO ESCOLAR 167 1) A scriança sadora mcome rbombon. Sd escubr aque mfo iqu ecome u acaix atoda! TRADUÇÃO: ____________________________________________ REGRA: ____________________________________________________________ 2) Abo! Sa sairéf áj oãtse odnagehc! Uov redop rimrod o AID odot! TRADUÇÃO:__________________________________________________________ REGRA: __________________________________________________________ 3) Endo áh oircc, áh eemprs mu oalhaçp. Sam semot euq rolab mu olanp aarp rmpe- dii o oalhaçp ed razef salhaçadap mes araçg! TRADUÇÃO:______________________________________________________ REGRA: __________________________________________________________ 4) Oncontrei e ssconderijo eecreto qos duarenta padrões. Iara dentrar, eiga os aala- vras aágicas “mbra-se tésamo!” TRADUÇÃO:________________________________________________________ REGRA: ____________________________________________________________ 5) Espel hoespel hom eu! Háalgu em nomun doma isboni to doq eu? Cla ro, res- pond e uoespel ho! Adivin He sóqu emé! TRADUÇÃO:________________________________________________________ REGRA: __________________________________________________________ PROPOSTA 2: HISTÓRIAS E PROBLEMAS As historinhas a seguir representam algumas situações-problema, para as quais você deve achar uma solução. Tente dar as respostas mais criativas possíveis! “Em um horrendo dia de chuva, um homem saiu apressado para o trabalho. Ele havia esquecido seu guarda-chuva em casa. Ele não usava chapéu e não tinha nenhuma proteção para sua cabeça. Num instante toda a sua roupa estava molhada. Os seus sapatos ficaram alagados! No entanto, o seu cabelo não se molhou. Como isto é possível?” UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS E SUPERDOTAÇÃO 168 “Era hora do lanche. A mulher pegou o açucareiro e colocou uma colher de açúcar dentro de sua xícara de café. No entanto, o açúcar não ficou molhado. Por quê?” “Pedro, Marta, Beto e Sandra moravam numa mesma casa, em perfeita harmonia. Numa noite quente e úmida, Pedro e Marta resolveram ir ao teatro. Trancaram tudo e deixaram Pedro e Sandra sozinhos em casa. Quando voltaram para casa, encontraram Sandra morta no chão. Eles ficaram muito tristes. No entanto, ninguém chamou a polícia. Beto não foi para a prisão. Ninguém nem mesmo perguntou a ele qualquer coisa sobre o crime. Por que não?” PROPOSTA 3: INVERTENDO AS COISAS! Tente descobrir o que há de bom nas situações ruins e o que há de mau nos aspectos ou momentos bons. • O presidente da República promulgou uma lei proibindo todas as professoras de passar dever de casa para os alunos. Liste quatro coisas ruins sobre esse assunto. • O McDonald´s decidiu parar de vender sanduíches e passou a vender apenas saladas de chuchu, repolho roxo, cebola e quiabo, servidas com leite quente. Cite quatro coisas boas sobre essa notícia. • Você acaba de ganhar aquele brinquedo que tanto queria. O que tem de ruim nisso? Liste quatro itens. • Você está de castigo. O que há de bom nisso? Liste quatro coisas boas. “Jorge, que era filho de dentista, resolveu ir ao consultório tratar de uma cárie que estava doendo muito. Ele ligou para seu pai e disse que iria ao consultório. Embora realmente ele fosse seu filho, tal dentista não era pai de Jorge. Como você acha que isto é possível? TÓPICO 4 | ATIVIDADES DE ENRIQUECIMENTO ESCOLAR 169 • É o verão mais quente do planeta e você ganhou umas férias naquela praia que você tanto sonhou. Dê quatro bons motivos para você detestar essa notícia. • Agora é a sua vez de propor situações invertidas e respondê-las: PROPOSTA 4: O TRIÂNGULO DAS BERMUDAS Algumas pessoas acreditam que exista, no meio do oceano, uma zona chamada “Triângulo das Bermudas”: tudo que passa por lá, seja pelo céu ou pelo mar, desaparece sem deixar vestígios. Inúmeras histórias já foram contadas, e você já pode ter ouvido falar delas. Dizem que os aviões, barcos e submarinos que passam por essa região desaparecem misteriosamente. Alguns imaginam que nessa área existem discos voadores que capturam as pessoas, mas ninguém sabe ao certo o que realmente acontece por lá. Agora imagine que você tenha passado pelo Triângulo das Bermudas e também tenha desaparecido. Acontece que você consegue
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