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A MULHER, O ASSÉDIO MORAL E A ISONOMIA: A MULHER NO AMBIENTE DE TRABALHO POSSUI SEGURANÇA JURÍDICA CONTRA O ASSÉDIO MORAL

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A MULHER, O ASSÉDIO MORAL A EQUIDADE: A MULHER NO AMBIENTE DE 
TRABALHO POSSUI SEGURANÇA JURÍDICA CONTRA O ASSÉDIO MORAL? 
Carolina Gomes Oliveira; ​Gabriela Carvalho e Tavares​; Iara Milreu Lavratti; Univem; Unesp; 
Unesp. ​carolinidades@gmail.com​; ​carvalho.tavares3@gmail.com; ​iaralavratti@yahoo.com​; 
; ​iaralavratti@yahoo.com​. 
 
Organizações Políticas e Mundo do Trabalh 
Woman, moral harassment and equality: the woman in her workplace gets 
o 
 
WOMAN, MORAL HARASSMENT AND EQUALITY: HAVE WOMAN JUSTICE 
LEGAL SECURITY AGAINT MORAL HARASSMENT 
 
Resumo 
Este artigo tem o intuito de refletir sobre os reflexos do assédio moral laboral sobre a mulher e dos recursos 
sociais, jurídicos, estatais e sociais de que ela dispõe, bem como da visão da mulher após sofrido e superado o 
assédio, de como a mesma rompe o ciclo de violência (e se essa ruptura ocorre de forma sistêmica). Para isso, 
partiremos de dois pontos de vista: o do Direito e da Sociologia do Trabalho. Da primeira área de saberes, 
elencando os entendimentos dos princípios legais que defendem a mulher enquanto igual e portadora da 
segurança jurídica, e questionando sua base, a partir da segunda área tentamos definir se isto é possível. Da 
Sociologia do Trabalho utilizamos duas análises complementares, uma da psicodinâmica do trabalho e outra da 
mulher na sociedade de classes, pois partimos de vivências de mulheres para falar da situação do assédio. A 
mulher que passa pela situação de assédio moral, enquanto tem sua mão de obra superexplorada, é o ponto 
central personagem social principal deste trabalho. As perspectivas teóricas foram voltadas para o debate da ética 
e da moral em relação a mulher, contrapondo-as, assim como contraem-se “fato e norma” no direito, buscando a 
compreensão de sua estrutura juridicamente e se são suficientes, tanto a moral quanto a norma, para assegurar a 
mulher. Para tanto, fizemos algumas entrevistas semi-estruturadas, além de com mulheres que sofreram assédio 
moral em seu ambiente de trabalho a fim de compreender esta situação. 
Abstract 
This article aims to reflect on woman’s harassment on workplaces and the social, legal, state and social resources 
available to them, as well women after suffering and overcoming harassment, how it breaks the cycle of violence 
(and whether this rupture occurs systemically). For this, we will start from two points of view: the Law and the 
Sociology of Work. From the first area of ​​knowledge, listing the understandings of the legal principles that 
defend women as equal and having legal certainty, and questioning their basis, from the second area we try to 
define whether this is possible. From Sociology of Work, we used two complementary analyzes, one from the 
psychodynamics of work and the other from women in class society, since we started from the experiences of 
women to talk about the situation of harassment. The woman who goes through the situation of moral 
harassment, while having her workforce overexploited, is the central point of the main social character of this 
work. Theoretical perspectives were focused on the debate of ethics and morals in relation to women, contrasting 
them, as well as contracting “fact and norm” in law, seeking to understand its legal structure and whether it is 
sufficient, both morally as the norm, to ensure the woman as a worker. To this end, we did some semi-structured 
interviews, in addition to women who suffered bullying in their work environment in order to understand this 
situation. 
Palavras-chave​: Mulher; Trabalho; Assédio moral. 
Keywords:​ woman; work; moral harassment. 
 
mailto:carolinidades@gmail.com
mailto:carvalho.tavares3@gmail.com
mailto:iaralavratti@yahoo.com
mailto:carvalho.tavares3@gmail.com
mailto:iaralavratti@yahoo.com
 
 
Introdução 
“porque uns consentem em padecer sofrimento, enquanto outros consentem 
em infligir sofrimento aos primeiros?” (DEJOURS, 1999, P.16). 
 
Este artigo tem o intuito de refletir sobre como a mulher consegue lidar com o assédio 
moral em seu ambiente de trabalho. Para isso, partimos de dois pontos de vista: o do Direito, 
buscando os entendimentos do sistema jurídico brasileiro; e o da Sociologia do Trabalho a 
partir do análise de Dejours (1999) e nas ideias de Saffioti (1976). 
Começamos este artigo procurando entender de qual perspectiva o Estado brasileiro 
parte para positivar a legislação que temos em vigência. Assim, buscamos elencar os direitos 
da mulher que sofre uma experiência de assédio moral. Porém, devemos ressaltar que objetivo 
deste artigo não é enveredar pelo direito e sim pela vivência feminina. Para tanto, para além 
da pesquisa bibliográfica fizemos entrevistas em profundidade com mulheres que sofreram 
com o assédio moral no trabalho 
Para analisarmos as entrevistas feitas utilizarem dois autores: Dejours (1999) e Saffioti 
(1976), o primeiro investiga a condição do trabalhador pelo prisma da psicopatologia do 
trabalho, dando espaço para os sentimentos e elaboração psíquicas deles frente ao sofrimento 
advindo do trabalho. Já, a autora Saffioti (1976), fala da condição da mulher trabalhadora com 
uma visão ao mesmo tempo mais restrita e ampla. Mais restrita por ter o recorte do gênero e 
mais ampla por levar em consideração as relações econômicas capitalista, em um viés 
Marxista, com o intuito de compreender como a mulher vive e trabalha no capitalismos ao 
longo do tempo. Os dois autores se complementam para entendermos as vivências colhidas 
em entrevista. 
 
1 Princípios do direito e a mulher 
Neste tópico faremos a inserção contextual de alguns conceitos do Direito, que serão 
trabalhados ao longo do trabalho. 
Em sua obra, Miguel Reale (1994) explica como a segurança jurídica é parte da tríade 
"fato, valor e norma" que constituem as leis e sua formação e, portanto, essencial no 
subconsciente coletivo. Assim para a lei existir, ela precisa: da existência de um fato de 
relevância jurídica; um valor social, ou seja, a partir da moralidade social; e a norma (escrita 
da lei) que será criada para tentar coibir que fato volte a se repetir. Neste artigo veremos o 
caso da mulher diante do assédio moral e como a segurança jurídica falha para elas. 
Para pensar sobre isto, sob um viés jurídico é imprescindível entender a mulher como 
um ser a ser tratado neste trabalho como demandante de tratamento de equidade. A mulher, 
apresenta nas diferenças salariais expressivas (visíveis em dados estatísticos) e na quantia de 
assédios morais e sexuais a que são submetidas. Com isso, ela não pode deixar de ser vista 
como um ser que exija mais que igualdade: a mulher em ambiente de trabalho necessita e luta 
por isonomia. Observando sob a ótica do pressuposto econômico, como exemplo real, 
podemos usar os dados do Observatório da Diversidade e da Igualdade de Oportunidades no 
Trabalho (dados de 2017), de uma das maiores cidades grande do Oeste paulista, Marília, 
veremos uma diferença salarial de 3.500 reais entre homens e mulheres nos cargos de direção 
de empresas com regimento celetista, sendo de 9,5 mil o salário dos homens, e na mesmafunção, 6,0 mil o das mulheres. 
Neste sentido, abordamos o Princípio Constitucional da Igualdade, tratado na Carta 
Magna de 1988 em seu art. 5º, caput, que transcreve-se: “Artigo 5º. Todos são iguais perante a 
lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros 
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes. (BRASIL, 1988)” 
Porém, igualdade apenas como prevê o trecho acima, não seria o suficiente no caso da 
mulher. Cita Biancó (2018) faz um breve resgate histórico sobre o princípio de equidade: 
A equidade nasceu na Grécia com o nome Epieikeia. Quando se 
discute sobre o nascimento da equidade, não há como não citar a 
maior referência no assunto: Aristóteles, que definia a equidade 
como “A Justiça do caso concreto”. O filósofo abordou o tema em 
duas grandes obras: Ética a Nicômaco e Retórica. 
Aristóteles diferenciava a Equidade da Justiça e colocava a 
primeira como superior, por acreditar que somente a Equidade 
poderia se flexibilizar a ponto de oferecer o que seria mais justo 
para cada caso específico; ao contrário da Justiça, que seria 
universal e não tinha como oferecer o mesmo tipo de adaptação. 
Porém, mesmo diferenciando, Aristóteles ressaltava que existia 
uma forte relação entre a Justiça e Equidade, pois ambas tinham 
sempre um propósito benéfico, positivo. 
A equidade é um aspecto da igualdade em busca da justiça. Quando Aristóteles diz 
que a justiça universal não abrange a todas as pessoas, é busca pela equidade que 
supostamente colocaria os desiguais em situação de equivalência, através de adaptações que 
tornaria a vida social algo, então, mais justo a todos. 
Assumindo-se, então, ser a mulher um ser ainda em desigualdade no ambiente de 
trabalho, para que a mesma obtivesse condições de equidade, partimos do pressuposto do 
tratamento isonômico, no viés do direito , usando o conceito de Nery (1999, P. 42): “Dar 
tratamento isonômico às partes significa tratar igualmente os iguais e desigualmente os 
desiguais, na exata medida de suas desigualdades”. 
Voltando-nos ao Princípio da Segurança Jurídica, é posto em breves linhas pela 
Constituição de 1988 no art. 5º, inc XXXVI, pelo texto “​a lei não prejudicará o direito 
adquirido, a coisa julgada e o ato jurídico perfeito​” (BRASIL, 1988). Contudo, o sentimento 
de segurança jurídica que buscamos analisar neste trabalho é: A mulher assediada em 
ambiente de trabalho por vezes consegue reconhecer a situação de assédio. E sabe, por alto, os 
recursos que dispõe, para denunciá-lo. Analisamos, por fim, se ela sente que o aparato 
jurídico é suficiente para que ela sinta-se segura para denunciar. O elo que se busca a analisar 
entre o Princípio da Segurança Jurídica e o Princípio da Isonomia é: A mulher no ambiente de 
trabalho possui segurança jurídica contra o assédio moral? ​Ela o sofre de alguma forma? E, 
caso entenda-se que o sofra, encontra dentro do direito, condições de defender-se retomar o 
status quo ante​ ao assédio sofrido, seja no mesmo trabalho ou em outro trabalho equivalente? 
Bruginsky (2013, p. 6) nos apresenta alguns exemplos de assédio moral no ambiente 
de trabalho que serão abordados em casos concretos no desenvolver deste artigo: 
Várias são as formas de se praticar assédio moral, como desprezar o 
empregado, deixando-o isolado no ambiente laboral; determinar o 
cumprimento de metas impossíveis de serem realizadas, levando-o 
ao descrédito pessoal; a determinação de cumprimento de tarefas 
alheias à sua função, como limpar sanitários; a “inatividade 
forçada”; a exposição a situações vexatórias etc. 
A Consolidação das Leis Trabalhistas (BRASIL, 1943) conta, em seu capítulo III, com 
o título “Da Proteção da Mulher”, que é um vestígio histórico na nossa legislação da 
necessidade de isonomia na aplicação das leis trabalhistas para as mulheres (este capítulo vai 
de definições da licença maternidade à limites de carga de peso que uma mulher deve carregar 
em seu trabalho). Embora não trate de danos morais específicos da mulher (tratando de forma 
abrangente danos à honra e moral) é o único aparato legal que se prestaria a atuar de 
preventivamente à proteção da mulher em ambiente de trabalho. 
Em nossa legislação, não há medidas ou leis que impeçam uma mulher de sofrer 
assédio em ambiente de trabalho. O reconhecimento do assédio laboral da mulher como uma 
questão de gênero ainda é delicado, às vezes de difícil identificação pela trabalhadora e, uma 
vez identificado, de difícil coibição na estrutura laboral do empregador. Por fim, resta a 
trabalhadora após o assédio, muitas vezes demitida, achincalhada e adoecida, a boa sorte de 
contar com a interpretação da Lei em busca de justiça nas Varas Trabalhistas. 
 
2 A mulher no sistema capitalista e o assédio moral 
Neste tópico buscaremos entender as relações que envolvem a mulher urbana que 
trabalha em ambientes de escritórios, com hierarquias bem definidas. Este é o perfil das 
nossas entrevistadas, as duas moradoras de uma cidade do interior da região do Oeste paulista, 
preferiram manter suas identidades em sigilo por terem trabalhado/estarem trabalhando em 
empresas conhecidas regionalmente. Elas estiveram/estão em cargos de chefias, ou seja, 
desempenham/desempenharam papéis de poder nas organizações laborativas. As relações 
sociais vivenciadas por elas, elencadas neste trabalho, possuem características que 
demonstram o quanto a mulher na sociedade brasileira sofre para alcançar aqueles princípios 
que o Estado promete a assegurar. 
Para começarmos a tratar desta questão tão complexa, partimos alguns pressupostos, 
um deles qual é o entendimento que o capitalismo tem da mulher, para tal ressaltamos o 
seguinte trecho (SAFFIOTI, 1976, ​P. 13)​: 
A economia de mercado implica, pois, simultaneamente, na 
igualdade jurídica dos homens e, consequentemente, num 
afloramento à superfície da sociedade do fator econômico como 
distribuidor de oportunidades sociais. A dimensão econômica das 
relações sociais não mais se oculta sob e na desigualdade de status 
jurídico dos homens (status de homem livre, de servo, de escravo). 
É como livres possuidores de sua força de trabalho que os homens 
participam do mercado. Nem por isso, contudo, o mecanismo de 
operação do modo de produção capitalista pode ser imediatamente 
apreendido. Aparentemente, a igualdade de status jurídico é 
indicador suficiente da igualdade social. A liberdade de que cada 
homem goza na situação de mercado leva à ilusão de que as 
realizações de cada um variam em razão direta de suas capacidades 
individuais. 
Desta forma, como elenca a autora, a igualdade para a mulher emanaria do trabalho na 
economia de mercado das nações modernas capitalistas. Todos estamos em igualdade a partir 
da participação na competição pelo emprego, do esforço, da resiliência (discurso 
contemporâneo dos “coaching” do século XXI) e da meritocracia. Todos esses conceitos, 
muito bem utilizados pelos novos métodos de gestão empresarial, como bem aponta Dejours 
(1999, p. 24) ao se referenciaraos anos de governo de Mítterand na França (1981-95). O 
problema do cenário apresentado é que ele se torna um deserto cheio de ilusões para a mulher 
que vive no capitalismo, dela será pedido o maior esforço e o maior enfrentamento já que a 
mão de obra dela, seja em um cargo de chefia, seja em um cargo de abaixo no organograma 
da empresa, sempre é a mais bem explorada, ou, com maior mais-valia (maior lucro obtido da 
exploração feminina). 
O Princípio Constitucional da Igualdade, citado no tópico anterior, é o que orienta a 
visão do Estado em relação a mulher. Ela é uma igual ao homem, “ela é um homem” (apesar 
desta frase ser muito contraditória), mesmo demandando necessidades diferentes por ter em 
sua história a marca de todo tipo de exploração. Este princípio é o mesmo citado por Saffioti 
(1976, P 13), corroborando para uma injustiça institucional contra a mulher quando se alia 
àquela condição da economia de mercado. O “status jurídico” (SAFFIOTI, 1976, ​P. 13) de 
igualdade não permite a existência de isonomia, gerando uma situação contínua de injustiça. 
Como bem retrata a autora: 
Na situação da mulher não se expressa, pois, apenas a contradição 
que diz respeito a uma igualdade de status jurídico em 
contraposição com a desigualdade gerada pela divisão da 
sociedade em classes sociais, mas ainda pela contradição inerente 
ao privilegiamento de fato e de direito dos representantes do sexo 
masculino numa sociedade que se havia instituído em nome da 
igualdade (pelo menos jurídica) de seus membros. (SAFFIOTI, 
1976, P. 35) 
O autor Dejours (1999, P.16), baseado no conceito de Hannah Arendt de “banalização 
do mal”, pensa a “banalização da injustiça social”, principalmente no ambiente laboral. 
Durante nossas entrevistas preguntamos para as mulheres por que elas não seguiram com 
denúncias contra as situações que viveram, umas das resposta mais marcantes foi: “as pessoas 
inclusive dizem “mas você está reclamando só por isso? Existe coisa muito pior”, então eu só 
poderia reclamar de abusos muito piores” (Anexo 1). ​É neste tipo de situação que a mulher 
trabalhadora se sente ansiosa, insegura, depressiva, doente… Ela está sofrendo com a injustiça 
de uma estrutura inteira contra si. É deste modo que a banalização legitima o ato de fazer o 
outro sofrer, exercendo assim, uma naturalidade, por exemplo, ao executar o assédio moral. 
Voltando aos conceitos jurídicos, do item anterior, podemos ressaltar a partir de Reale 
(1994, P 86) o seguinte conceito de sentimento de segurança jurídica: 
Há, pois, que distinguir entre o “sentimento de segurança”, ou seja, 
entre o estado de espírito dos indivíduos e dos grupos na intenção 
de usufruir de um complexo de garantias, e este complexo como 
tal, como conjunto de providências instrumentais capazes de fazer 
gerar e proteger aquele estado de espírito de tranqüilidade e 
concórdia. 
Segundo o autor, este sentimento deve fazer parte do indivíduo, em um leitura 
psicológica estaria em meio o subconsciente da mulher, porém ele se perde em algum 
momento diante tanta violência cotidiana no ambiente de trabalho. Há uma luta cotidiana pela 
estabilização psicológica (nos próximos parágrafos abordamos isso), e nesta dinâmica não 
sobram ferramentas de luta para o enfrentamento. 
A mulher que sofre assédio moral fica extenuada psicologicamente, muitas vezes ela 
sabe que “está certa”, que tem como combater aquela situação pelo sistema jurídico, pois 
acredita ser uma igual a qualquer homem que para lá recorrer. Porém, ela não quer fazer a 
denúncia, ela quer que a situação acabe, e que o status quo ​se restaure. Ao fazermos a questão 
“Você temia perder alguma coisa (material ou imaterial) depois que a situação se 
concluísse?”; a trabalhadora entrevistada respondeu: “Na verdade o maior problema foi a 
pressão em si, da situação chata. Sabia que não perderia nada porque eu não devia nada, mas 
com a situação eu perdi noites de sono e muito peso.” esta entrevistada acreditava que levar à 
cabo a denúncia “poderia trazer mais problemas do que ajuda” (Anexo 2). 
Outras vezes, como é o caso da outra entrevistada, o entendimento é de que o sistema 
jurídico não daria nenhum aparato, pois estaria lidando com poderes maiores. Neste caso, ela 
era liderança de um setor da empresa que trabalhava e por isso, como mesmo disse, “era 
obrigada” (Anexo 1) ​a acompanhar o advogado da empresa nas audiências trabalhistas. A 
impressão dela era de que nunca o trabalhador conseguiria ganhar uma ação, e fazer o 
movimento de denúncia seria se expôr. 
Voltando-nos a questão psicológica da mulher que sofre o assédio, para entendermos 
melhor estes sentimentos utilizaremos o conceito de “sofrimento indevido” (Pharo 1996, et al, 
Dejours 1999, p. 36), um sofrimento que não há justificativa para ter, pois ele se origina de 
dívida nenhuma, apenas do abuso de poder. Fazemos o esforço proposto por Dejours (1999, p. 
45) para que o leitor ao “perceber o sofrimento alheio” tenha uma “experiência sensível e uma 
emoção a partir das quais associam pensamentos cujo conteúdo depende da história particular 
do sujeito que percebe”. Desta forma, “a percepção do sofrimento alheio provoca, pois, um 
processo afetivo. Por sua vez, esse processo afetivo parece indispensável à concretização da 
percepção pela tomada de consciência” (Dejours, 1999, p. 45). Tornar consciente o 
sofrimento de uma mulher frente a impossibilidade de justiça é entender muito de ser mulher 
dentro do ambiente de trabalho. Pensar o ser mulher frente a tantas injustiças e a incapacidade 
de ser percebida enquanto trabalhadora com direitos sociais é pensar a condição de ser 
mulher. 
Assim, nos perguntamos, como Dejours (1999, p. 19): “Como tolerar o intolerável?”. 
Ou melhor, o que estas mulheres pensavam ou faziam para seguir em frente e não apenas 
pedir demissão. Esta pergunta e resposta de uma das entrevistas nos ajudam a pensar: 
Entrevistadoras: Como você saiu dessa situação? 
Entrevistada: Como eu disse eu provei trabalhando, fazendo o meu 
trabalho sendo profissional. Respirando fundo e acreditando em 
Deus. Não foi fácil, chorava todos os dias, levava a maquiagem no 
banheiro retocava e voltava, fiz o melhor que eu pude, porque eu 
quis mostrar que o que me colocou onde estou não foi minha 
forma física, e ou ser mulher ou jovem e sim a minha capacidade 
intelectual. Isso que me motivou todos os dias a não desistir. 
(Anexo 2) 
Neste relato podemos perceber algumas características que serviram para esta mulher 
enfrentar a situação de assédio moral, entre elas as ideias de: acreditar em suas capacidades 
intelectuais - que encobre a crença na meritocracia do capitalismo financeiro; acreditar que 
aquela situação não estava relacionada diretamente com a sua condição de mulher no 
capitalismo (mas que isso era apenas um agravante, como ela ressalta em outra resposta), por 
isso a insistência em manter os símbolos femininos, como a maquiagem; a crença na religião, 
ao mencionar que acreditava em Deus. Estas ideias da nossa fonte fazem partede “estratégias 
defensivas”, que segundo Dejours (1999, P 36), “podem também funcionar como uma 
armadilha que insensibiliza contra aquilo que faz sofrer”, permitindo tolerável o sofrimento 
para seguir naquele ambiente. Em outra passagem da entrevista existe a sombra da 
possibilidade de que aquela situação volte a ocorrer: “acabou que aconteceu comigo e não sei 
se não vai acontecer novamente”, como se este fosse mesmo o julgo que a mulher deve 
carregar. Não sendo possível a isonomia pensada pelo Estado brasileiro. 
Como se uma voz no fundo do discurso dessas mulheres falasse sobre a acomodação neste 
papel que foi para ela imbuído de atuar. 
Neste mesmo sentido, sobre os papéis que a mulher desempenha, e como o sistema 
capitalista de mercado se utiliza deles para lucrar mais, podemos ressaltar um outro aspecto 
desta trama: as impossibilidades criadas à mulher de executar as funções laborativas que ela 
foi contratada para fazer. Pequenos obstáculos, colocados no cotidiano de trabalho, que a 
impedem de ser respeitada assim como um homem na mesma função. Estes obstáculos, que 
podem vir com o assédio moral, fazem com que o esforço empenhado no trabalho pela mulher 
se redrome, por que agora ele tem que superar a si mesma e a seus colegas homens. Saffioti 
(1976, P 19) reitera: 
A mulher faz, portanto, a figura do elemento obstrutor do 
desenvolvimento social, quando, na verdade, é a sociedade que 
coloca obstáculos à realização plena da mulher. As barreiras que a 
sociedade de classes coloca à integração social da mulher, todavia, 
não apresentam, no processo de seu aparecimento e vigência, 
muita uniformidade. Na medida em que esses obstáculos são 
regulados pelas necessidades da ordem imperante na sociedade 
competitiva e não pela necessidade que porventura tenham as 
mulheres de se realizar através do trabalho, as oportunidades 
sociais oferecidas aos contingentes femininos variam em função da 
fase de desenvolvimento do tipo social em questão ou, em outros 
termos, do estágio de desenvolvimento atingido por suas forças 
produtivas. 
A liderança feminina dentro das empresas é uma crescente aparente na atualidade, ela 
se dá por que é mais barato o salário de uma mulher que o salário de um homem em cargo de 
direção, como já apontamos acima. Porém, os obstáculos para desempenhar esses papéis de 
chefia são muitos, uma das nossas fontes relata: 
Existia, principalmente por parte da equipe (equipe de líderes). O 
líder homem que chama atenção é uma pessoa de pulso firme, 
reclamam, mas tem pulso firme. A líder mulher de mesma atitude 
é louca, tem falta de sexo, está de TPM, é desequilibrada e as 
pessoas acham que podem responder você. Na mesma equipe tinha 
líderes homens e ninguém respondia eles. E a mim respondiam 
como se eu fosse a mãe e não uma líder. (Anexo 1) 
Os valores sociais que norteiam as relações de trabalho em torno da mulher são todos 
baseados primeiro na ideia de “uma subvalorização das capacidades femininas traduzidas em 
termos de mitos justificadores da supremacia masculina” (Saffioti, 1976, P 18) , gerando uma 
ordem social neste sentido. O reconhecimento do trabalho, apontado por Dejours (1999, P 
33) como principal fonte de impulsionamento motivacional, nesta lógica, para a mulher, fica 
sempre prejudicado. Precisamos ressaltar que a falta dele “acarreta em um sofrimento que é 
muito perigoso para a saúde mental”, pois o reconhecimento do trabalho se inscreve “na 
dinâmica de realização do ego” (Dejuors, 1999, P. 34). 
Compreende-se, portanto, que a mulher fica em um ciclo de exploração que se auto 
justifica, fazendo com que ela muitas vezes nem percebe do que fazem parte. Também 
podemos elucidar que a saída pelo sistema jurídico não parece para ela como a melhor opção. 
Esta não inspira nenhuma garantia, muito menos segurança, apensa exposição gerando piores 
situações. Outra saída seria a manifestação destas injustiças em movimentos sociais 
populares, e talvez usando de utopias sociais, seria esta a mais segura, não para nossa geração, 
mas para as próximas. 
 
4 Considerações finais 
Ao nos voltarmos para o conceito de Reale (1994) de “fato, valor e norma”, depois de 
ter analisado as entrevistas ao transcorrer do trabalho, podemos perceber que existe uma 
disparidade para o caso da mulher. O fato, aqui levantado, é que a mulher possui uma, no 
capitalismo, uma condição ímpar, principalmente ao tratarmos da sua esfera laboral, 
especificamente quando ela é vítima do assédio moral. O valor social sobre a mulher 
trabalhadora é de que ela sempre estará em posição inferior à do homem, e isso vemos nas 
análises da autora citada (Saffioti, 1976) e nos relatos coletados. Porém, em sua contradição 
maior, a norma trata a mulher como uma igual a qualquer homem, quando se trata do assédio 
moral, sem levar em consideração toda sua condição real de desigualdade e o histórico 
violento que a história da trabalhadora ao longo da existência da humanidade. Aduz-se que a 
tríade não se cumpre. 
Pudemos perceber que não existe isonomia no tratamento entre homem e mulher no 
ambiente laboral, sem que haja uma real condições de trabalho igualitário para todas e todos. 
Assim, a mulher, se encontra em uma situação de extrema fragilidade e submete-se ao assédio 
moral e ao sofrimento psíquico por diversos motivos . Entendendo que aquilo é “possível” de 
ser suportado, pois não existe segurança nenhuma em para ela, em nenhum parte. Nos casos 
investigados não houve grandes atos que respaldassem a mulher durante ou após o assédio, 
tampouco políticas públicas haviam para que direções fossem tomadas. 
O abandono do Estado brasileiro, que não conseguiu ainda elaborar políticas públicas 
que, ao menos, diminua esses movimentos de desigualdade contra a mulher trabalhadora, 
mantém o status de fragilidade da mulher na sociedade brasileira. Será que ao menos com o 
aparato do sistema judiciário (conhecimento de direitos e acesso à eles) algumas situações de 
sofrimento em ambiente de trabalho poderiam ser evitadas? E se estas mulheres estivessem 
em condição de equidade social, poderiam ser denunciadas práticas de assédio moral sem, 
necessariamente, haver perseguição e/ou a perda de seus empregos? A partir do cumprimento 
do princípio de isonomia, essas práticas violentas deixariam de existir? Será que a saída 
jurídica seria mesmo a melhor opção para estas mulheres? Todas estas questões são 
impossíveis de responder por enquanto, agora apenas podemos falar: mulheres trabalhadoras, 
uni-vos! 
 
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível 
em: ​http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm​. Último Acesso: 
04/03/2020 
 
BRASIL. Consolidação das leis trabalhistas (1943). Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm​. Último Acesso: 04/03/2020. 
 
BRUGINSKI, Marcia Kazenoh. Assédio Moral no Trabalho - Conceito, Espécies e Requisitos 
Caracterizadores - Revista Eletrônica do Ministério Público Federal (2013). Disponível em: 
http://www.mpf.mp.br/pgr/documentos/assediomaoralesuaprevenotrilho1_2.pdf​.Último 
Acesso: 04/03/2020 
 
DEJOURS, C. A banalização da injustiça social. Trad. Luiz Alberto Monjardim. Rio de 
Janeiro: FGV, 1999 
PIANCÓ, Brenda Monteiro. EQUIDADE NA APLICAÇÃO DO DIREITO. (2018) 
Disponível em: 
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Acesso: 04/03/2020 
SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. A MULHER NA SOCIEDADE DE CLASSES: MITO 
E REALIDADE, 1976, vozes. Disponível em: 
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3825626/mod_resource/content/1/Saffioti%20%2819
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OBSERVATÓRIO DA DIVERSIDADE E IGUALDADE DE OPORTUNIDADES NO 
TRABALHO, Remuneração dos empregados (CLT) em Cargos de Direção por sexo - 
Marília, 2017. Disponível em: 
https://smartlabbr.org/diversidade/localidade/3529005?dimensao=genero​. Último Acesso: 
04/03/2020. 
REALE, Miguel. Teoria tridimensional do direito. 5. ed. São Paulo:Saraiva, 1994. 
 
NERY, Junior Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. 1999, p.8-79. 
 
Anexos 
Anexo 1 
Entrevista Nº 1 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm
http://www.mpf.mp.br/pgr/documentos/assediomaoralesuaprevenotrilho1_2.pdf
http://portaljuridicobrasil.com.br/sergiocdreis/equidade-na-aplica%C3%A7%C3%A3o-do-direito
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3825626/mod_resource/content/1/Saffioti%20%281978%29%20A_Mulher_na_Soc_Classes.pdf
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3825626/mod_resource/content/1/Saffioti%20%281978%29%20A_Mulher_na_Soc_Classes.pdf
https://smartlabbr.org/diversidade/localidade/3529005?dimensao=genero
Autoras: Essa entrevista é feita em profundidade, quanto mais detalhes e sentimentos puderem 
ser expostos, melhor. A pesquisa vai envolver a área das ciências sociais, da psicologia e do 
direito. Relate o que aconteceu. 
Fonte 1: A minha situação de assédio não foi apenas um dia. Foi coisa de mais de um ano de 
assédio Eu tive diversas situações de assédio. Eu tinha um cargo de liderança, eu tinha uma 
equipe de mais ou menos 150 pessoas, eu sofri assédio da minha líder direta, que era uma 
mulher inclusive, o que normalmente não é tão comum e eu sofri assédio de pessoas da 
equipe, de pessoas que eu era chefe. Eu sofri assédio de vários ângulos. Se você quiser eu 
posso ir te perguntando e você pode ir perguntando e eu ir relatando. 
Autoras: Nessas situações você sabia que era assédio? 
Fonte 1: Sabia. 
Autoras: O que mais te marcou? 
Fonte 1: Eu me senti exposta quando eu fui ameaçada de morte. Eu fui fazer cobrança de 
liderança, coisa normal. Ele chegava atrasado repetidas vezes, estava num processo de mais 
de dois meses nisso. Esse funcionário era muito agressivo e ele já tinha um histórico de ser 
cobrado e ser remanejado, sem ser prejudicado: Eu já era a quinta líder que ele tinha. Ele me 
mandou tomar no cu na frente de toda a equipe, fez gesto obsceno apontando para o pênis, me 
chamou de vagabunda, de um monte de palavrões. Eu falei para ele se retirar e reportei para 
minha liderança a situação. Minha liderança falou “ah, se vira, vê aí o que você vai fazer”, 
para eu reportar para a central de Bauru e eu fiquei mais de uma semana trabalhando com esse 
funcionário dentro da minha equipe, porque ele voltou a trabalhar como se nada houvesse 
acontecido. Ele só foi demitido por justa causa após a equipe se solidarizar e fazer carta de 
próprio punho pedindo a punição dele. E eu disse que se ele não saísse eu iria me demitir. Eu 
consegui a demissão dele e quando eu fui demitir-lo eu fui comunicar ele escoltada. Quando 
eu o comuniquei ele se recusou a assinar, eu disse que mesmo assim ele seria demitido e ele 
respondeu que “a gente se encontraria por aí”. E de fato. Ele me perseguiu em vários 
ambientes, ele me perseguiu e me intimidou na academia que eu fazia (ele ficava me 
encarando e me intimidando), meu marido ia me buscar no serviço porque ele ia me intimidar 
e após isso um dia no trânsito ele bateu no vidro do meu carro me xingando. 
Autoras: Você não processou a empresa? 
Fonte 1: Não, não processei. 
Autoras: O que você sentia nessas situações? 
Fonte 1: Me sentia impotente. Muito desvalorizada nessas situações. Hoje a gente sabe do 
feminicídio, mas nessa época, em 2015, 2016, a gente não falava tanto. A sensação era de 
insegurança mesmo. 
Autoras: Você sentia que levando isso para a justiça você teria algum respaldo? 
Fonte 1: Nenhum. Não me senti segura em levar isso para a justiça até porque eu já tinha ido 
em diversas audiências defender a empresa, porque eu era líder então eu era obrigada a fazer 
isso, é outra parte da questão de assédio. E eu via exatamente que não resolvia. As pessoas 
relataram atrocidades e nada acontecia. Eu falei “poxa, eu não vou me expor.”. 
Autoras: Você tinha medo de perder o emprego? 
Fonte 1: Não. Se eu decidisse processar eu iria. Mas eu não queria me desgastar mais do que 
eu já estava desgastada, pensei que não valeria a pena. 
Autoras: E do outro lado? E dos assédios da chefias 
Fonte 1: Eu sofri assédio diariamente. Eu passei por duas chefias lá. Reportei assédio a 
superintendente para sair de uma das equipes pelo assédio. O caso mais sério de agressão foi 
quando eu saí de férias. Eu não pude escolher minhas férias, mas até aí tudo bem. Quando eu 
voltei de férias, ela não falava comigo. Eu notei que ela estava chateada, brava por algum 
motivo e aí, numa sala de reunião, ela gritou tanto comigo que uma pessoa do RH interviu e 
pediu para ela falar mais baixo comigo. Todo mundo sabia que ela maltratava os funcionários 
dela, porque ela gritava com a gente abertamente. Ela disse que eu era irresponsável porque 
eu tinha saído de férias e não tinha ligado para ela durante o meu período de férias. Porque ela 
saía de férias e ia diariamente sem registrar o ponto durante as férias e ela esperava o mesmo 
de mim. Eu pedi remanejamento de equipe depois desse episódio 
Autoras: Você sentiu tremor, tristeza, melancolia ou ansiedade? 
Fonte 1: Nesse dia minha pressão foi a 18, eu chorei muito, me senti humilhada e injustiçada, 
foi um horror mesmo. 
Autoras: Essa questão da justiça, você acha que existe uma banalização da injustiça? Que as 
pessoas cometem injustiças com muita freqüência? 
Fonte 1: sim, as pessoas inclusive dizem “mas você está reclamando só por isso? Existe coisa 
muito pior” então eu só poderia reclamar de abusos muito piores. 
Autoras: Existia alguma diferença de tratamento entre as lideranças femininas e masculinas? 
Fonte 1: Existia, principalmente por parte da equipe. O líder homem que chama atenção é 
uma pessoa de pulso firme, reclamam, mas tem pulso firme. A líder mulher de mesma atitude 
é louca, tem falta de sexo, está de TPM, é desequilibrada e as pessoas acham que podem 
responder você. Na mesma equipe tinha líderes homens e ninguém respondia eles. E a mim 
respondiam como se eu fosse a mãe e não uma líder. 
Autoras: tanto os chefes como os subalternos? 
Fonte 1: sim, de ambos os lados. 
Autoras: Para finalizar, estruturalmente você nunca teve respaldo seu trabalho para cumprir a 
função que te incubiam? 
Fonte 1: Não, e quando tinha era muito pouco e de departamentos que não eram o meu, doRH e de áreas de suporte e de áreas do trabalho que apenas conversavam mas não agiam de 
forma efetiva. 
Autoras: Você comentou na situação da ameaça do subordinado que foi demitido que outras 
pessoas se solidarizaram e fizeram cartas de próprio punho pedindo a punição dele. Tinha 
uma maioria de gênero dessas pessoas ou era mista? 
Fonte 1: Ali era uma maioria de mulheres. Tinham poucos homens. Mas é porque na empresa, 
em geral, haviam poucos homens. 
 
Anexo 2 
Entrevista Nº 2 
Autoras: Você recebeu apoio de alguém na situação em questão? 
Fonte 2: Sim, o apoio na maior parte foi dos servidores colegas de trabalho. 
Autoras: Você sabia que aquilo era uma forma de assédio? 
Fonte 2: Na época eu não pensei nisso, então acho que não. Não percebi. 
Autoras: Você temia perder alguma coisa (material ou imaterial) depois que a situação se 
concluísse? 
Fonte 2: Para mim na verdade o maior problema era a pressão em si, da situação chata. Sabia 
que eu não perderia nada porque eu não devia nada, mas com a situação eu perdi noites de 
sono e muito peso. 
Autoras: Por que você resolveu não fazer uma denúncia formal daquela situação? 
Fonte 2: Eu optei por não denunciar por saber ser um problema político, sabia que poderia 
trazer mais problemas do que ajudar. Decidi que mostraria a minha inocência com a minha 
competência e trabalho, reclamando eu acho que acabaria demonstrando a minha fragilidade, 
Preferi lutar com as minhas armas, fazendo o que eu sei fazer, que é trabalhar. 
Autoras: Quais foram os sentimentos que você teve durante aquele período? 
Fonte 2: Senti muita tristeza, medo, angústia. 
Autoras: Você sentiu que tinha algo maior que você conduzindo a situação? 
Fonte 2: É e sempre foi uma questão política e também cultural, né. Por eu ser nova e mulher 
e estar em um cargo que gera muitas desconfianças, acabou que aconteceu comigo e eu não 
sei se não vai acontecer novamente. Geralmente mulheres jovens e com boa aparência física 
já são julgadas como incapazes e que conseguem as coisas pelo uso da sexualidade. 
Infelizmente isto ainda está na cabeça da maior parte da população. 
Autoras: Como você saiu da situação? Por favor relate em nível emocional e também em nível 
de relações sociais. 
Fonte 2: Eu provei trabalhando, fazendo o meu trabalho, sendo profissional. Respirando fundo 
e acreditando em Deus. Não foi fácil, chorava todos os dias, levava a maquiagem no banheiro 
retocava e voltava, fiz o melhor que eu pude. Porque eu quis mostrar que o que colocou onde 
eu estou não foi a minha forma física, e ou ser mulher ou jovem e sim a minha capacidade 
intelectual. Isso que me motivou todos os dias a não desistir.

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