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AULA 1 PROJETOS INTERDISCIPLINARES E EXPERIÊNCIAS EM EDUCAÇÃO INFANTIL Profª Cláudia Sebastiana Rosa da Silva 02 CONVERSA INICIAL Olá, aluno, seja bem-vindo à disciplina de Projetos Interdisciplinares e Experiências em Educação Infantil. Nesta primeira aula, abordaremos alguns conceitos e práticas voltados à compreensão de projetos interdisciplinares. O objetivo é provocar uma reflexão crítica, além de análise e reconstrução de práticas docentes. Nessa primeira etapa, você terá a oportunidade de compreender o conceito de interdisciplinaridade e toda sua importância para o desenvolvimento de projetos na educação infantil. Nas aulas subsequentes, trabalharemos com aspectos relacionados à formação de professores, as contribuições da complexidade para a interdisciplinaridade e experiências de projetos interdisciplinares de sucesso, as quais poderão servir de apoio para o seu estudo e trabalho nas escolas. Assista, a seguir, a aula da Professora Me. Cláudia Rosa, que abordará com detalhes os temas descritos acima, os quais compõem a primeira aula da disciplina de Projetos Interdisciplinares e Experiências em Educação Infantil. CONTEXTUALIZANDO Já faz algum tempo que se discute o termo interdisciplinaridade. Os professores verbalizam no discurso e também incorporam o uso do termo quando falam sobre suas práticas. No entanto, vale questionar se estamos falando de interdisciplinaridade da mesma forma... A interdisciplinaridade não é um tema novo, nem nas escolas nem no cenário educacional. Vem sendo discutida desde a década de 1960, e de longa data se debate o conceito no intuito de ele ser incorporado às práticas de sala de aula. Conforme Fazenda (2002), esse movimento aparece na Europa (principalmente na França e na Itália) em meados da década de 1960, em prol de um ensino que considere o todo, o global das áreas de conhecimento, ou seja, a interdisciplinaridade. Você já parou para refletir sobre a relevância desse conceito no trabalho pedagógico realizado nas escolas? Como os professores podem organizar seu trabalho de forma interdisciplinar? De que forma os projetos pedagógicos podem ser estruturados de maneira interdisciplinar? Essas e tantas outras questões precisam ser debatidas no intuito de colaborar com o trabalho do professor e contribuir com a compreensão da 03 complexidade do conhecimento, favorecendo uma formação mais crítica e profunda sobre esse tema. Convido você a refletir acerca da interdisciplinaridade na escola, por meio do desenvolvimento de projetos na educação infantil, enfoque que trabalharemos nessa disciplina. A partir de agora, você acessará recursos didático-pedagógicos com aportes teóricos que visam contribuir significativamente para a construção e conceituação da interdisciplinaridade na educação infantil. TEMA 1 – INTERDISCIPLINARIDADE Conceituar interdisciplinaridade é uma tarefa complexa, devido a seu caráter polissêmico, suas muitas possibilidades de conceituação. Há enganos quanto à sua definição, pois muitos autores interpretam o termo como multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade, transdisciplinaridade etc. No entanto, a característica maior desse termo é sua concepção única do conhecimento. Há ainda quem o compare com as definições de integração, interação ou inter- relação. Os conhecimentos que a escola trabalha com os alunos no cotidiano educacional são organizados por meio de disciplinas científicas, o que nos faz compreender a relação entre esses conceitos. As disciplinas são campos demarcados pela produção de conhecimentos e definidas pelos objetos e métodos específicos de cada investigação. A organização desses campos apresenta formas características de delimitação. Eles representam um conjunto de estratégias organizacionais, uma seleção de conhecimentos que são ordenados e depois apresentados ao aluno, com o apoio de um conjunto de procedimentos didáticos e metodológicos de ensino e de avaliação da aprendizagem. Ao desenvolvermos um projeto de pesquisa interdisciplinar, é preciso entender que a interdisciplinaridade é muito mais que uma simples integração entre as disciplinas. Vejamos: A interdisciplinaridade não dilui as disciplinas, ao contrário, mantém sua individualidade. Mas integra as disciplinas a partir da compreensão das múltiplas causas ou fatores que intervêm sobre a realidade e trabalha todas as linguagens necessárias para a constituição de conhecimentos, comunicação e negociação de significados e registro sistemático dos resultados (Brasil, 1998). Portanto, é preciso que haja comunicação entre as diferentes disciplinas de um currículo. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação 04 Infantil, “a reorganização curricular em áreas de conhecimento tem o objetivo de facilitar o desenvolvimento dos conteúdos, numa perspectiva de interdisciplinaridade e contextualização” (Brasil, 1998). Trabalhar a partir de uma proposta de interdisciplinaridade pressupõe ligações de complementaridade, convergência, interconexões e passagens entre os conhecimentos. O desenvolvimento do currículo deve envolver conteúdos e estratégias de aprendizagem para preparar o aluno a viver em sociedade. De acordo com Morin (2000), “a educação deve romper com as fragmentações entre as disciplinas para mostrar as correlações entre os saberes, a complexidade da vida e dos problemas que hoje existem”. Vivendo num momento de globalização, conteúdos divididos e compartimentados impedem a contextualização dos saberes. De acordo com Morin (2000, p. 43), “a inteligência parcelada, compartimentada, mecanicista, disjuntiva e reducionista rompe o complexo do mundo em fragmentos disjuntos, fraciona os problemas, separa o que está unido, torna unidimensional o multidimensional”. Uma estrutura entre as disciplinas, de forma hierarquizada e com conteúdos delimitados, dificulta uma atitude interdisciplinar por parte dos professores. Faz-se necessário que o professor conheça bem sua disciplina para que possa fazer relações entre as várias disciplinas e para que compreenda como os alunos constroem seus conhecimentos e como desenvolvem suas capacidades mentais, para que este seja um elemento facilitador do processo de ensino- aprendizagem. TEMA 2 – INTERDISCIPLINARIDADE COMO VIVÊNCIA GLOBAL Como vimos anteriormente, os conhecimentos que a escola trabalha com os alunos são organizados por meio de disciplinas. Nesse sentido, a interdisciplinaridade pode ser caracterizada como uma tentativa de estabelecer relações de trabalho associadas entre um conjunto de disciplinas, buscando uma aproximação entre conceitos, com o objetivo de analisar problemas específicos e concretos. A partir disso, pode-se considerar que o principal objetivo da interdisciplinaridade é superar a política de fragmentação entre as disciplinas. Para Japiassu (1976, p.74), “a interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de interação real das disciplinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa”. Essa temática é compreendida, conforme o autor, como uma forma de trabalhar em sala de aula, 05 a partir da qual um tema é proposto com abordagens em diferentes disciplinas. Trata-se de compreender e entender as ligações entre as diferentes áreas de conhecimento, unindo-as para transpor algo inovador, resgatar possibilidades e ultrapassar o pensar fragmentado. É a busca constante de investigação, na tentativa de superação do saber. O conceito de interdisciplinaridade fica mais claro quando se considera o fato trivial de que todo conhecimento mantém um diálogo permanente como os outros conhecimentos, que pode ser de questionamento, de confirmação, de complementação, de negação, de ampliação, [...] (Brasil, 1998). Vale destacar que a interdisciplinaridade supõe um eixo integrador com as disciplinasde um currículo, para que os alunos aprendam a olhar o mesmo objeto sob perspectivas diferentes. A interdisciplinaridade aponta para a construção de uma escola participativa, o que é decisivo na formação do sujeito social. O seu objetivo tornou-se a experimentação da vivência de uma realidade global, que se insere nas experiências cotidianas de aluno e professor. No entanto, a escola ainda encontra seu currículo estruturado com base na lógica das ciências clássicas, apresentando os conhecimentos de forma segmentada, em que as disciplinas são ordenadas e classificadas com aparente homogeneidade, especialmente no que se refere à organização da prática pedagógica, metodologia de ensino, técnicas e regras. Para que o trabalho pedagógico aconteça satisfatoriamente, atendendo as demandas da atualidade, é preciso que haja reflexão e compreensão, especialmente por parte dos professores. Parte-se da ideia de que a interdisciplinaridade vai acontecer como uma forma de ver e sentir o mundo e de entender as múltiplas implicações que se realizam ao analisarmos os fenômenos sociais e culturais. Portanto, um trabalho pedagógico interdisciplinar requer também uma reflexão sobre a formação de professores para esse tipo de atividade, pois é preciso que eles sejam capazes de ver e entender o mundo em sua rede infinita de relações, em sua complexidade. Partindo da concepção de educação como uma prática cultural, é possível afirmar que, para construirmos projetos interdisciplinares, considerando a educação como um lugar de cultura, é preciso compreendê-la com ação social. Esse processo constitui um jogo de relações que incorpora a organização de atividades, instituições e relações culturais na sociedade, em qualquer momento histórico, também quanto a aspectos da cultura em relação à aquisição de conhecimentos. 06 Portanto, na cultura escolar a organização das atividades, bem como as relações estabelecidas no processo de ensino e aprendizagem, é feita pelos professores e alunos em diferentes momentos do cotidiano escolar; assim, é preciso que os professores tenham uma formação científica adequada. TEMA 3 – FORMAÇÃO DE PROFESSORES E A INTERDISCIPLINARIDADE Ser professor significa tomar decisões pessoais e individuais, ainda que reguladas por normas e regras coletivas. O professor é aquele indivíduo capaz de ensinar e viver uma história própria; ele é possuidor de uma formação específica, e está envolvido num mundo vasto de saberes e conhecimentos. Em um contexto geral, a formação é um conjunto de atividades que visam à aquisição de conhecimentos e atitudes que possam contribuir para o exercício de uma profissão. Para que essa formação docente se desenvolva, o professor, de acordo com Garcia (1989, p. 26), “deve refletir e investigar continuamente sobre seu próprio trabalho, procurando inovar a sua ação educativa, pois são eles os responsáveis pelo seu percurso profissional bem como outros aspectos voltados ao sistema educacional”. A formação de professores deve ser um processo contínuo e permanente, que se confirma no seguinte conceito apontado por Garcia (1989, p. 26): A formação de professores é a área de conhecimentos, investigação e de propostas teóricas e práticas que, no âmbito da Didática e da Organização Escolar, estuda os processos através dos quais os professores – em formação ou em exercício – se implicam individualmente ou em equipa, em experiências de aprendizagem através dos quais adquirem ou melhoram os seus conhecimentos, competências e disposições, e que lhes permite intervir profissionalmente no desenvolvimento do seu ensino, do currículo e da escola, com o objetivo de melhorar a qualidade da educação que os alunos recebem. Maurice Tardif, filósofo e sociólogo canadense, pesquisou a formação docente, sugerindo que aconteça por meio de uma preparação universitária sólida, com programas de pesquisa mais eficazes, para oferecer aos futuros professores conhecimentos específicos relativos ao ensino. É preciso que as universidades estabeleçam um relacionamento com as escolas, para que elas se tornem “lugares de formação, de inovação, de experimentação e de desenvolvimento profissional, mas também, idealmente, lugares de pesquisa e de reflexão crítica (Tardif, 2002, p. 280) ”. Desse modo, as escolas tornam-se lugares de aprendizagem e formação para os professores iniciantes, e também um espaço de produção de saberes para os professores mais experientes. 07 A missão central dos formadores universitários e dos professores que atuam em instituições se define, segundo Tardif (2002, p. 295), em saberes. Trata- se do conjunto de: conhecimentos, competências, habilidades que nossa sociedade julga suficientemente úteis ou importantes para inseri-los em processos de formação institucionalizados. Tanto a universidade quanto a escola têm como função, sobretudo, separar, selecionar e incorporar certos saberes sociais em processos de formação colocados sob o seu controle. Assim, a universidade e a escola transmitem os saberes escolares por meio de professores e estudantes universitários, atuando como fonte de competência, formação e fundamentação da qualificação profissional. De acordo com Tardif, Lessard e Lahaye (1991), os professores contam com o apoio de diferentes saberes, sendo eles: “o saber curricular, o saber disciplinar, que constitui o conteúdo a ser ensinado, o saber da formação profissional, o saber experiencial e o saber cultural herdado de sua história de vida e de uma cultura geral”. Com tantos saberes, conclui-se que os professores apresentam uma diversidade de conhecimentos e que fazem uso de diferentes tipos de competências. Atualmente, as transformações no modo de vida das pessoas invade as escolas, retirando das disciplinas a ideia de saberes científicos e sagrados. De acordo com Pooli (2012), não é possível ensinar e aprender por meio de disciplinas puras, isoladas em seus próprios discursos e afastadas de seus contextos culturais. Nesse sentido, é necessário que a formação docente vá além de questões metodológicas, didática e legislação. Essas áreas também são importantes, mas questiona-se se a partir delas é possível construir um ambiente de aprendizagem significativo, que promova a formação de cidadãos conscientes, inteligentes, socializados e preparados para enfrentar as situações do cotidiano da sociedade atual. É preciso compreender a sociedade, seus processos, configurações, transformações, continuidades e rupturas, para assim ter uma medida dos fins da educação. Nesse sentido, a interdisciplinaridade pode ser uma alternativa para a educação escolar, contribuindo para que novas gerações tenham processos de escolarização mais conectados com o cotidiano. O currículo globalizado e interdisciplinar converte-se em uma categoria capaz de agrupar uma variedade de práticas educacionais desenvolvidas nas salas de aula. Sabe-se que não é uma tarefa fácil construir e concretizar projetos interdisciplinares, mas isso não significa que as escolas não devam refletir sobre essas possibilidades. Cabe ao professor 08 buscar formação e apoio junto à equipe pedagógica e a seus pares, de modo a compreender que as propostas curriculares são capazes de tratar os conteúdos de modo interdisciplinar, buscando fazer integrar o cotidiano social com o saber escolar. TEMA 4 – AMBIENTE EDUCATIVO INTERDISCIPLINAR E A FORMAÇÃO DOCENTE Para pensar num ambiente educativo interdisciplinar, são necessárias novas articulações político-pedagógicas. Pooli (2012), sugere algumas questões a serem discutidas nas escolas: Pensar na construção de um projeto político-pedagógico que procure compreender o contexto social em que a escola se encontra inserida. Conceber a organização curricular nas escolas como política, pedagógica e cultural. Promover articulação entre as diferentes áreas deconhecimento, buscando ampliar as discussões teóricas aproximando as compreensões do mundo da vida, da realidade cultural dos sujeitos. Discutir a ideia de eficácia dos métodos de ensino, das didáticas e das metodologias, sem perdê-las de vista. Para Pooli (2012), cabe aos atores envolvidos serem proativos na construção de práticas interdisciplinares, permanecendo atentos às soluções e aos problemas que se apresentam como desafios ao longo do caminho. Para que as práticas interdisciplinares se efetivem, é preciso que a comunidade de aprendizagem, constituída por professores, alunos e equipe pedagógica, mantenha um diálogo constante e crítico, analisando o que, como e por que certas escolhas são feitas no cotidiano da escola. Um dos maiores desafios postos aos professores é superar a artificialidade do trabalho pedagógico, pois encontram-se submersos numa realidade cultural histórica que os mantêm no papel de centralidade do processo de ensino. A cultura é um fenômeno plural e dinâmico, um sistema de símbolos que fornece indicações e contornos de como as pessoas vivem. Para que se possa reconstruí- la e não simplesmente adquiri-la, é necessária uma troca de experiências e interação social entre docentes e profissionais ligados ao âmbito educacional. Nesse sentido, reconhece-se que os professores que fazem formação continuada adquirem a cultura e a reproduzem tanto quanto a transformam. Os indivíduos e grupos das novas gerações desfrutam as experiências e significados culturais presentes no meio em que vivem de maneira desigual. Portanto, é necessário conhecer a diversidade cultural, complexa e conflitante, dentro de um mesmo grupo ou entre grupos distintos. 09 Zabalza (2004) afirma que os professores, ao se tornarem cada vez mais conscientes de seus atos, acabam por interpretar a sua prática. Ao repensarem sua formação, promovem a compreensão do significado de sua ação educativa, podendo assim reconstruí-la e melhorar a qualidade das aprendizagens com seus educandos. Assim, aproximam-se da proposta de desenvolver uma prática interdisciplinar. Vejamos os dados de uma pesquisa realizada em uma escola pública estadual: Há, na escola, uma comunicação específica daquele ambiente e que reflete a trajetória histórica e social da instituição, professores e alunos, na maneira de ser, agir, sentir, conceber e representar a vida escolar de acordo com o momento histórico em que vivem ou viveram. As experiências pessoais e profissionais tomam forma em memórias e heranças culturais, em concepções de formação, em conhecimentos, estratégias pedagógicas, representando assim, sentidos e significados sobre o papel da escola, alunos e professores (Silva, 2015, p. 22211 e 22212). A escola é um espaço oportuno para a construção de uma cultura acadêmica, de uma cultura entre educandos e educadores e entre estes e a cultura social mais ampla. Sendo assim, o currículo deve ser um meio de vida e de ação para a construção e reconstrução do significado das experiências. Nesse sentido, o trabalho ganha significado se o foco se encontra na compreensão da realidade escolar e na construção coletiva de ações pedagógicas que se mostrem adequadas aos desafios apontados pelos professores e pela equipe pedagógica. O desafio dos professores consiste em reconhecer a escola como um ambiente em que trabalhar e formar não sejam atividades isoladas, mas sim integradas ao cotidiano e a projetos pessoais e profissionais. Portanto, para construir teorias e práticas interdisciplinares, é preciso determinação, dedicação e envolvimento por parte dos professores. É um desafio organizar esses novos tempos culturais e desenvolver um olhar global para que possamos construir um novo currículo com perspectivas interdisciplinares efetivas. TEMA 5 – A APRENDIZAGEM INTEGRADA E INTERDISCIPLINAR A concepção interacionista do desenvolvimento humano reconhece que o sujeito está em constante desenvolvimento e busca compreender a interação entre o sujeito e o objeto onde o processo de aprendizagem acontece. Sendo assim, a aprendizagem inclui diferentes dimensões: cognitiva, afetiva, social e cultural. O ser é visto como multidimensional, um sujeito complexo em que as 010 dimensões físicas, biológicas, psicossociais, culturais e espirituais interagem continuamente. Essas dimensões estabelecem relações e são interdependentes, constituindo assim uma “teia da vida” conforme Capra (2006), ou um padrão de rede, conforme Maturana e Varela (2001). Essa visão complexa fundamenta a ideia de que os sistemas estão inseridos dentro de outros sistemas mais abrangentes, ou seja, a totalidade e as partes encontram-se enredadas. Para Moraes (2004, p. 287), as dimensões construtivistas, dimensão em que o ser humano aprende na interação professor/aluno, aluno/meio, e interacionistas, são complementares, pois indicam que a construção do conhecimento depende da interação entre sujeito e objeto e objeto e meio. Fica sinalizado, dessa maneira, que a “interatividade acontece nos mais diferentes níveis da natureza e que organismo e meio constituem uma unidade biológica indissociável”. Portanto, toda organização viva está em constante interação com o meio através de diferentes ações. Se compreendermos melhor o funcionamento da vida, compreenderemos melhor a construção do nosso conhecimento. Moraes (2004), com base nos estudos de Maturana (1993), revela o aprender como fenômeno biológico, implicado no funcionamento do ser vivo com as suas circunstâncias. Por isso, estamos constantemente nos transformando, interagindo e dialogando. Para que a aprendizagem aconteça, a interação com o meio e com outros sujeitos leva à ocorrência de criações coletivas, pois, de acordo com Moraes (2004, p. 250), “é o indivíduo que, para conhecer, realiza algo, reconstrói a sua realidade, muda interiormente a partir da relação consigo mesmo, com os outros, com a cultura e o contexto”. E complementa: Aprendizagem não é acumulação de informações, mas resultado de um processo de transformação, de mudanças estruturais a partir de ações e interações provocadas por perturbações a serem superadas. E a aprendizagem progride mediante fluxos dinâmicos de trocas, análises e sínteses autorreguladoras cada vez mais complexas (Moraes, 2004, p. 255). Segundo a mesma autora, para que a aprendizagem possa ser compreendida, faz-se necessário entender as relações que se estabelecem entre o sujeito e os objetos, entre o que ele sabe e o que pretende saber, de acordo com o contexto em que vive, para que as mudanças nas estruturas da organização do indivíduo possam ser processadas. O professor é o principal elemento do processo educacional, e a escola é o principal mediador. Portanto, vale ressaltar: 011 A possibilidade que um professor tem de mover seus alunos para a aprendizagem depende em grande parte de como ele mesmo enfrenta sua tarefa de ensinar (e aprender ensinando). A motivação dos alunos não pode se desligar muito da que têm seus professores, principalmente naqueles contextos que constituem uma verdadeira comunidade de aprendizagem, em que os alunos e os professores compartilham juntos muito tempo de aprendizagem (POZO, 2002, p. 145). Nesse sentido, concebe-se a aprendizagem como um processo de troca, e seu desenvolvimento ocorre mais eficazmente quando há interação entre o ambiente e os sujeitos ali inseridos. A atual estrutura curricular, tão fragmentada, requer maior reflexão, para dar sentido às informações que os alunos recebem nas diferentes disciplinas. Somente com propostas pedagógicas mais complexas, abertas, interativas e adaptativas o aluno poderá encontrar um sentido mais relevante e transformador. Assim compreendidos, os projetos interdisciplinares buscam favorecer uma aprendizagem que estimula os diferentes sentidos, a imaginação, a intuição, a colaboração ea aplicabilidade. Faz-se necessário criar diferentes estratégias, como espetáculos artísticos, músicas comentadas, ambientes virtuais de aprendizagem, dramatizações, projetos integradores, diálogos e debates, experiências compartilhadas, aproveitamento de situações ocasionais da vida etc. Portanto, por meio da criação de situações de aprendizagem nas quais estão presentes diferentes sentidos e processos mentais, nas quais ocorre o compartilhamento de significados e o envolvimento entre alunos e professores, há melhores chances que a aprendizagem seja integrada, global e interdisciplinar. FINALIZANDO Chegamos ao final da nossa primeira aula. Partimos do conceito de interdisciplinaridade, com o intuito de reconhecê-la a partir do princípio da globalização, em que a realidade é vista em sua totalidade. Tendo compreendido o conceito de interdisciplinaridade, você foi convidado a reconhecê-la como um processo educacional que possibilita a experimentação da vivência de uma realidade global no cotidiano escolar. Estudamos a importância da formação dos professores para a interdisciplinaridade e como um ambiente educativo interdisciplinar é constituído, tendo em vista o pensamento complexo e as contribuições dadas por questões interdisciplinares. Esperamos que você tenha aproveitado os temas e enriquecido sua aprendizagem, tendo em vista a aprendizagem dos seus educandos. 012 Em nossa próxima aula, trabalharemos com aspectos relacionados ao trabalho docente: a origem dos projetos e os elementos possíveis para a sua construção. Também apresentaremos exemplos de projetos para ilustrar a teoria estudada. 013 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. CAPRA, F. A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix, 2006. FAZENDA, I. C. A. A pesquisa em educação e as transformações do conhecimento. Campinas: Papirus, 2002. GARCIA, C. M. Formação de professores para uma mudança educativa. Porto: Porto Editora,1989. JAPIASSU, H. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976. MATURANA, H. R.; VARELA, F. A árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. São Paulo: Palas Athena, 2001. MORAES, M. C. Pensamento eco-sistêmico: educação, aprendizagem e cidadania no século XXI. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2000. POOLI, J. P. et al. Projetos interdisciplinares. Curitiba: Intersaberes, 2012. POZO, J. I. Aprendizes e mestres: a nova cultura da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002. SILVA, C. S. R.; BRUCE, M. B. C. Formação continuada na educação básica: ambiente educativo e cultura escolar. 2015. Disponível em: <http://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2015/18033_8536.pdf>. Acesso em: 18 nov. 2017. ZABALZA, M. A. Diários de aula: um instrumento de pesquisa e desenvolvimento profissional. Porto Alegre: Artmed, 2004. http://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2015/18033_8536.pdf
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