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Victor Correa São Paulo Rede Internacional de Universidades Laureate 2015 Prática em Serviço Social I Victor Correa São Paulo Rede Internacional de Universidades Laureate 2015 Sumário Capítulo 3: O histórico do Serviço Social no Brasil ------------------------------------------9 Introdução ------------------------------------------------------------------------------------------9 1 A origem da questão social no Brasil ------------------------------------------------------ 10 2 A influência da Igreja Católica -------------------------------------------------------------- 15 3 A atuação do assistente social no Brasil --------------------------------------------------- 19 Síntese -------------------------------------------------------------------------------------------- 21 Referências Bibliográficas ---------------------------------------------------------------------- 23 9 Introdução A gênese do Serviço Social no Brasil – a exemplo de outros países da Europa e da América – foi propiciada em razão de transformações nas sociedades, nas relações de trabalho e, ainda, pelo contexto socioeconômico. Você saberia dizer, para o caso brasileiro, quais são esses fatos históricos? Será que ocorreram concomitantes aos observados na Europa? Qual era o cenário econômico e social do país durante o surgimento das primeiras experiências em Serviço Social? Essas são algumas das questões que serão respondidas neste texto! Capítulo 3O histórico do Serviço Social no Brasil 10 Laureate- International Universities O histórico do Serviço Social no Brasil 1. A origem da questão social no Brasil A origem da questão social esteve sempre associada a aspectos históricos e socioculturais. Um dos pontos que merecem destaque é a insurgência social, acarretada por revoluções no continente europeu, como a Revolução Francesa, que implementou ideais de igualdade e ressaltou a classe burguesa diante do poder do Estado, e a Revolução Industrial, sobretudo em solo inglês, que proporcionou uma mudança na estratificação das classes sociais e posicionou a população frente a uma forte alteração de hábitos, de cidades e de comportamentos. Esses grandes eventos colocaram em pauta as acentuadas demandas sociais que começavam a aparecer com as desigualdades. Outro ponto que norteia a origem do Serviço Social é o de controle da classe burguesa, que surgiu com a Revolução Industrial, sobre a classe trabalhadora. A burguesia, que detinha o poder político e econômico naquele momento histórico, passou a perceber e a discutir a questão social a partir das demandas do proletariado, com a finalidade de promover certo controle sobre aquelas classes. Uma vez que – poucos – benefícios sociais fossem concedidos, a conservação do poder e a diferença de classes se manteriam. Por fim, associa-se também a origem da discussão de demandas sociais por meio da relação da Igreja Católica com a sociedade. Historicamente, a Igreja Católica foi relacionada a uma figura de caridade e auxílio à comunidade e aos pobres; entretanto, esse panorama teve, no decorrer da história, sua importância diminuída e se intuiu, então, a necessidade de reconstruir e fortalecer aquela antiga imagem. É claro que essa não foi uma ação com o objetivo único de fortalecer novamente a imagem do catolicismo; a Igreja Católica, ao depreender as mudanças que a sociedade vinha sofrendo, também percebeu como os problemas sociais se acentuavam, orientada por questões ideológicas que fundamentam a instituição religiosa. Todos esses pontos estão diretamente relacionados ao surgimento da questão social e a seu debate. Como você viu, esse movimento europeu chegou, pouco tempo mais tarde, aos Estados Unidos, onde se desenvolveu ainda mais, ao lançar teorias e nomes, como Mary Richmond, que expandiu as ações do Social Work, ou Serviço Social. Na América Latina e, consequentemente, no Brasil, o percurso traçado foi o mesmo, mas mais tardio. Esse processo, que nos Estados Unidos já era implementado ainda no final do século XIX, apareceu com maior evidência por aqui apenas na década de 1930. Algumas personalidades ganharam destaque no processo de surgimento da área de Serviço Social no país, como as apresentadas na Figura 1. 11 Figura 1 – Personalidades do Serviço Social brasileiro Fonte: Elaborada pelos autores. Fonte: <http://goo.gl/MtbQyZ>. Acesso em: 15 maio 2015. Fonte: <http://goo.gl/oBtwQR>. Acesso em: 15 maio 2015. Fonte: <http://goo.gl/Lm9X1o>. Acesso em: 15 maio 2015. Fonte: <http://goo.gl/1pYwAb>. Acesso em: 15 maio 2015. Antes que você conheça mais profundamente esse processo de constituição do Serviço Social no Brasil, bem como a relação que a igreja Católica teve nessa consolidação da área no país, é interessante fazer um apanhado histórico, que antecedeu esse momento e permitiu que as demandas sociais passassem a se tornar pauta local. Observe o trecho a seguir: O serviço social, introduzido no Brasil nos anos 30, não pode ser analisado como um fato isolado, mas como decorrente de uma situação histórica, de um processo cumulativo de acontecimentos na sociedade brasileira nos setores político, econômico, social e religioso. (LIMA, 1987, p. 13). Lima (1987) propõe um retrospecto histórico do Brasil ao fazer uma abordagem ampla sobre acontecimentos que propiciaram e acarretaram a formação do Serviço Social e, por consequência, do profissional assistente social no país. Para a autora, as demandas de 1930 são decorrentes de uma série de acontecimentos e transformações da sociedade brasileira, que você conhecerá a seguir. O primeiro aspecto levantado é o da efervescência econômica no país, principalmente na década anterior, de 1920. O Brasil estava, desde a metade do século XIX, sob grande influência da exportação cafeeira, que movimentava fortemente a economia nacional. O principal produto de exportação brasileira tinha sua produção em larga escala nos estados de São Paulo e parte de Minas Gerais, em razão das condições favoráveis de clima e solo. Esses dois estados, portanto, detinham considerável poder político e econômico nacional. 12 Laureate- International Universities O histórico do Serviço Social no Brasil Também por isso a sociedade brasileira podia ser definida como “[...] um organismo social no qual predominam os interesses do setor agrário exportador, voltado para a produção do café, representado pela burguesia paulista e parte da burguesia mineira” (FAUSTO, 1972, p. 227). Esse potencial domínio desses estados, ainda no período imperial, se fortaleceu ainda mais com a Proclamação da República, em 1889, quando houve a implantação de um novo sistema político que favorecia o domínio de uma classe social em relação às outras, que era a detentora de influências e poderes políticos. Portanto, esse processo, que se ampliou com a Constituição de 1891 – dando maior autonomia aos Estados –, se alastrou ao longo do período da Primeira República, que vai até 1930. O período da Primeira República se consolidou com um sistema de dominação paulista e mineira, isto é, com a implantação do rodízio de escolha do presidente brasileiro, conhecida como “Política do café-com-leite”, a qual se configurou como o ponto mais alto de domínio e poder, por meio da monopolização dos dirigentes da nação. Entretanto, na última década desse período, notava-se no Brasil um espírito de insatisfação, “[...] numa atitude de contestação ao sistema de representação vigente” (LIMA, 1987, p. 14). Com isso, o próprio processo de consolidação do domínio político e econômico no país favoreceu o surgimento das demandas sociais, uma vez que se instalou uma proeminente insatisfação pelo sistema de representação então vigente. Acrescenta-se ainda um segundo aspecto, do processo de industrialização – tardia –, que ganha seus primeiros passos nesse momento histórico. Observe a Figura 2, que retrata uma trabalhadora na década de 1950. Figura 2 – Trabalhadora industrial da década de 1950 Funcionária de indústria opera uma penteadeirade fios de lã. Fonte: <http://clubeeditorial.com.br/blog/?p=361>. Acesso em: 15 maio 2015. Transformar um país predominantemente agrário e de caráter comercial em um predominantemente industrial se configurou como outro fator de importância nesse momento, haja vista que alterações econômicas são observadas e sentidas nos mais diversos setores sociais, desde uma inflada urbanização, sem controle e planejamento, até um processo de desigualdade, oriundo das relações de trabalho ainda precárias, que colocavam a sociedade à margem dos cuidados do 13 Estado. Esse processo industrial, entretanto, só se intensificou após a Segunda Guerra Mundial, tendo influência maior em outro momento histórico do Serviço Social no Brasil. Ainda nesse período, o processo industrial sofria com o ruralismo vigente, o que o tornava lento e complexo. Outro ponto considerado por Lima (1987) é o da crise econômica em âmbito mundial, que teve lugar no ano de 1929, com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York. Tal crise refletiu diretamente no Brasil, resultando numa mudança da política financeira até então adotada. Na Figura 3, você observa a capa do jornal The London Herald, que retrata a quebra da bolsa. Figura 3 – Primeira página de jornal londrino Em tradução livre, a manchete do jornal afirma: “Wall Street quebra!”. Fonte: <https://goo.gl/TtnI3e>. Acesso em: 15 maio 2015. Além dos fatores da política coronelista e monopolista do “Café-com-leite” e das questões econômicas, do processo de industrialização e das crises econômicas, outros dois pontos podem ser vistos como frutos de uma mesma medida, e com decorrências – limitadamente – parecidas: o fim da escravidão e o processo de imigração iniciado no país. Como você provavelmente imagina, do fim do trabalho escravo decorreu uma intensa necessidade por força de trabalho, uma vez que todas as tarefas desempenhadas pelos negros precisariam de mão de obra. O que se verificou foi a busca de trabalho em outros países, sobretudo europeus. Na Figura 4, você pode observar um dos inúmeros desembarques de navios vindos da Europa com imigrantes. 14 Laureate- International Universities O histórico do Serviço Social no Brasil Figura 4 – Imigrantes chegando ao Brasil pelo Porto de Santos Navio de imigrantes europeus chegando ao Porto de Santos, no início do século XX. Fonte: <http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/a_igualdade_que_nao_veio.html>. Acesso em: 15 maio 2015. Assim, o fator “imigração” foi observado desde a abolição da escravatura, em 1888. Um processo imigratório, de países europeus, sobretudo de italianos, espanhóis e países do Leste europeu se iniciou sob a égide da reformulação do sistema produtivo agropecuário. Com o fim da escravidão, as relações de trabalho passaram a ser um ponto-chave nessa discussão. A criação desse novo mercado e das transformações nas relações de trabalho “[...] vai explicar o aparecimento de novos sentimentos, ideias e valores no processo de interação social”, segundo Nagle (1974 apud LIMA, 1987, p. 14). É válido destacar que tal procedimento levou muitos europeus que chegaram ao Brasil a conviver com os negos recém-libertos. Além disso, a despeito da abolição da escravatura e a exemplo do que ocorreu durante a Revolução Industrial na Inglaterra, o trabalho era pesado, sem regulamentação e, em muitos casos, beirava à escravidão. Observe a Figura 5. Figura 5 – Trabalhadores do cultivo do café em São Paulo Imigrantes europeus empregados nas lavouras de café. Fonte: <http://goo.gl/iIVbrb>. Acesso em: 15 maio 2015. 15 Perceba, na imagem, que homens e mulheres foram empregados e submetidos às mesmas condições de trabalho – não muito favoráveis –, o que transparece, entre outros fatores, a fragilidade das estruturas de trabalho. Até agora, você viu que é possível listar variados fatores que se associam ao surgimento e desenvolvimento do Serviço Social no Brasil, tais como: i) a abolição da escravatura; ii) o mercado do café; iii) a imigração europeia; iv) a Primeira República; v) o processo de industrialização brasileiro; e a v) a crise econômica mundial. Além dos fatos destacados, por fim e não menos importante, pode-se compor, como elemento de base para a origem do Serviço Social no Brasil, a questão social iniciada pelos próprios operários. Historicamente, os problemas das demandas e necessidades do proletariado, oriundos desse primeiro processo de industrialização, não eram tratados como de ordem social, e sim de ordem pública, o que levou a um tratamento para a situação de menor relevância quando comparado aos outros temas. As necessidades de uma legislação trabalhista passaram a ser pautadas com maior frequência, e, à medida que o processo de industrialização se fortalecia, “[...] a questão social exigia outro tratamento” (LIMA, 1987, p. 16). Ao longo da Primeira República – ou República Velha –, pouco se fez para melhorar isso: havia leis trabalhistas bastante superficiais que apenas buscavam controlar a efervescência do tema. Foi então no Governo de Getúlio Vargas que o movimento trabalhista passou a ter outro posicionamento em relação ao Estado. Todos esses fatores compuseram um ambiente de insatisfação política, reivindicações sociais e trabalhistas – inclusive em perspectiva mundial – pelo modo como se desenrolaram os processos principalmente nos Estados Unidos e Europa, levando a questão social para outro patamar no país. Juntaram-se a isso as doutrinas da Igreja Católica, mediadas por influência europeia, que acabaram por fortalecer ainda mais a necessidade de ações na perspectiva do Serviço Social. 2. A influência da Igreja Católica Ao se analisar a relação da Igreja Católica com o Estado na história do Brasil, as primeiras décadas do século XI foram de extrema importância para os rumos da instituição religiosa e, a posteriori, do próprio Serviço Social no país. Ainda no Período Imperial, a Igreja era membro direto do Estado, e gozava de vantagens e benefícios, além de exercer considerável influência nas decisões estatais. Entretanto, com a Constituição Federal outorgada de 1891, o país observou o rompimento entre Estado e Igreja – fato conhecido como laicismo –, o que tornou aquelas vantagens menos explícitas, mas certamente ainda presentes no cotidiano e nas estruturas das instituições. Para alguns autores, a Igreja permaneceu, de início, a mesma instituição “acomodada” de antes, desprendida de questões sociais, e defensora de seus interesses e alianças, como destacado no trecho: “À margem de algumas divergências, resultantes do espírito laicista da República, nascida sob a inspiração do Positivismo transplantado para o nosso meio, Igreja e Estado voltaram a se dar rapidamente as mãos” (LIMA, 1973, p. 19). Porém, alguns acontecimentos anteriores à própria Constituição já inseriam as questões sociais nas principais agendas públicas desde 1873, como a questão religiosa implantada pelo Frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira, Bispo de Olinda, que já mostrava transformações clericais em solo brasileiro. Em 1891, os ensinamentos da encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII, alertavam os cristãos sobre as injustiças sociais e até mesmo sobre a exploração dos operários – relacionados à 16 Laureate- International Universities O histórico do Serviço Social no Brasil Revolução Industrial –, na tentativa de promover uma nova visão do papel da Igreja. Para Lima (1987, p. 24), “[...] a alta cúpula da Igreja tinha suas atenções voltadas para o combate aos seus inimigos – protestantes, maçons e espíritas –”, não tendo se alterado quanto à sua posição social e “[...] permaneceu a mesma diante dos problemas políticos e sociais da época, limitando-se, no âmbito espiritual, à propagação da fé”. Ainda nessa perspectiva de transformações, o Padre Julio Maria faz uma análise da história da Igreja no Brasil, incitando à “Igreja do Povo”, “[...] que a Igreja saia dos templos e sacristias e vá ao encontro da vida, das questões político-sociais,não para condenar, mas para conviver, para assumir, para compreender e amar” (VILLAÇA, 1975, p. 72). Padre Julio Maria não alcançou o resultado desejado no decorrer do período em que prestou seus serviços à Igreja, quando considerado o aspecto de renovação. Já Dom Sebastião Leme, em sua Carta Pastoral, acaba de fincar um marco nas posturas da Igreja e do catolicismo no Brasil, em 1916 (DE PAULA, 2012). Essa Carta Pastoral, para Lima (1987), representou uma abertura para uma Igreja renovadora, participante da vida política e social. Nesse período, o nome de Jackson Figueiredo passa a ser comentado. O jornalista, convertido ao catolicismo, propôs mais que a comunhão da paz e do espírito benevolente. Buscou orientar e organizar pessoas que comungavam a mesma ideia, no sentido de aplicar as ideias da Igreja de uma forma atuante na sociedade (DE PAULA, 2012). Para Salem (1982, p. 9), “[...] foi graças a Jackson de Figueiredo, em conluio com D. Leme, que se presencia pela primeira vez no Brasil o engajamento de intelectuais católicos na vida pública”. Em 1922, Jackson chegou a criar O Centro Dom Vital, ao propor até mesmo a elaboração de um partido político católico, medida divergente à de Dom Leme (AZZI, 2003). Esse foi um ano de insurgências de opiniões, com a criação do Partido Comunista, no Brasil, e do Movimento Modernista, em São Paulo, que buscaram promover um debate quanto ao pensamento crítico da época (SALEM, 1982). Na Figura 6, Dom Sebastião Leme. Figura 6 – Sebastião Leme da Silveira Cintra Cardeal Leme desempenhou papel de extrema importância política na história do país e, ainda, do Serviço Social brasileiro. Fonte: <http://goo.gl/oBtwQR>. Acesso em: 15 maio 2015. 17 E foi essa inicial convergência que originou o ideal de articulação da Igreja às questões sociais, com a posterior divergência dos seus posicionamentos, que acabou por instrumentalizar as ideias da Igreja Católica, a qual constituiu as primeiras escolas de Serviço Social no Brasil. Pode-se afirmar que uma das figuras de maior relevância para o avanço da Igreja Católica no campo das ações sociais e do crescimento do Serviço Social no Brasil foi Sebastião Leme da Silveira Cintra, o Cardeal Leme, que implementou suas obras a partir, sobretudo, do ensino. A Ação Universitária Católica é criada em 1929 – justamente quando a quebra da Bolsa de Valores de Nova York gerou uma grave crise econômica em escala mundial, como você viu –, com a meta de difundir a pregação do Evangelho de Cristo. Para isso, jovens católicos deram início a um trabalho de evangelização dentro das universidades brasileiras, onde se discutiam, à época, muitas ideias comunistas. Poucos anos depois, em 1932, o Instituto Católico de Estudos Superiores foi criado pelo Centro Dom Vital, organização católica fundada em 1922. A história mostra que, como produto desse instituto, a Universidade Católica do Rio de Janeiro seria criada, no ano de 1941 (SALEM, 1982). Perceba que essas organizações surgiram em um período bastante reduzido de tempo. Em São Paulo, também no ano de 1932, criou-se o Centro de Estudos e Ação Social (CEAS), que era coordenado pela Igreja Católica. Sua origem concentra-se na oferta do Curso Intensivo de Formação Social para Moças, organizado e ministrado pelas Cônegas de Santo Agostinho e, ainda, com a participação de Mademoiselle de Loneux, da Escola Católica de Serviço Social de Bruxelas. Mademoiselle de Loneux foi muito expressiva em sua presença no CEAS. Às suas alunas que concluíram o curso, a professora fez um apelo para que seus ensinamentos não se limitassem ao plano individual, mas sim para uma contribuição para uma ação social efetiva. Em 1936, por meio do Centro de Estudos e Ação Social, foi fundada a primeira escola de Serviço Social no Brasil. Também em 1936 teve lugar a Primeira Semana de Ação Social, realizada pelo grupo de Ação Social, que marcava um processo acadêmico de discussão do Serviço Social no Rio de Janeiro. Em 1937, com a realização da segunda edição da Semana de Ação Social, cria-se a Escola de Serviço Social do Rio de Janeiro; atualmente, as duas estão ligadas a universidades católicas. Foram as primeiras instituições de ensino superior de Serviço Social no país, servindo de base para todas as outras que ainda viriam a ser criadas. O CEAS, em São Paulo, a partir da fundação da Escola de Serviço Social, originada de sua instituição, acabou por ter continuidade por meio de uma postura particular de aplicação de demandas sociais e estudos do Serviço Social. O Instituto Social, com sede em São Paulo, foi criado a partir da atuação com a sociedade paulistana, e teve como base uma relação de cooperação estreita com a Escola de Serviço Social e o CEAS, que acabou por proporcionar situações diversas de colaboração expressiva entre ambas. Em 1947, ocorreu um dos fatos mais marcantes para o Serviço Social. Durante o Primeiro Congresso de Serviço Social, em São Paulo, houve o reconhecimento do Serviço Social como profissão, um verdadeiro marco na criação do campo de Assistência Social no Brasil. Essa consolidação conquistada quase ao longo de duas décadas criou condições para a formação profissional dos primeiros assistentes sociais. A partir de 1950, as teorias de Serviço Social no Brasil se aproximavam dos modelos e ideais do Serviço Social norte-americano, com fundamento nos ensinamentos de Mary Richmond. Assim nesse contexto, a ação dos(as) Assistentes Sociais passa a ser uma ação ideológica, com o objetivo de fazer o ajustamento sem levar em conta as bases materiais e a correlação de forças existentes na sociedade. Na sequência histórica, o Serviço Social na década de 50 entra em contato com o modelo americano de formação, introduzindo na sua construção o pensamento conservador e positivista, ainda longe da ideologia libertária marxista. (SOUSA, 2014, p. 4). 18 Laureate- International Universities O histórico do Serviço Social no Brasil A análise em caso, proposta por Richmond, é fundamental na constituição do profissional de Serviço Social no país. A presença das Escolas de Serviço Social nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro fomentou sua instalação no restante do país, “[...] através da fundação de escolas de Serviço Social em outros estados” (LIMA, 1987, p. 58). A referência dessas escolas é um marco no histórico do Serviço Social no Brasil. E elas foram fortemente influenciadas pelos ensinamentos franceses e belgas, sobretudo em instituições ligadas à Igreja e, por isso, mantinham forte relação com as doutrinas católicas. “Nesta concepção, repousavam as bases doutrinárias das escolas católicas de Serviço Social que presidiam o trabalho de formação dos profissionais em Serviço Social” (LIMA, 1987, p. 58). À construção e consolidação efetiva deste profissional se relacionava a implementação de um reajustamento dos indivíduos e das coletividades, o qual se daria em indivíduos ou grupos que estivessem em uma condição de vida aquém da normalidade, e aptos a lançar mão de seus hábitos e comportamentos para promover a reintegração social. E foi a partir de uma estruturação universitária – assim como por meio do aperfeiçoamento do campo de atuação profissional – que se conseguiu iniciar um processo de performance do assistente social, de fato. O pioneirismo dessas escolas propiciou um melhor entendimento do ambiente de atuação, com projetos sociais já vividos. Na Figura 7, você pode observar a primeira turma de formandos em Serviço Social, na cidade do Rio de Janeiro. Figura 7 – Formandos da primeira turma de Serviço Social Formandos e membros na Igreja Católica na formatura. Fonte: <http://goo.gl/k1WhZc>. Acesso em: 15 maio 2015. 19 3. A atuação do assistente social no Brasil Lima (1987) ressalta a importância da atuação dos primeiros profissionais do Serviço Social no Brasil, que corroboraram para a consolidação desse novo campo de trabalho. Segundo a autora, as Escolas de Serviço Social, de São Paulo e Rio de Janeiro, nãose pautavam apenas no ensino, mas na aplicação de projetos sociais e na implantação do Serviço Social em órgãos públicos e até mesmo no setor privado, visando à consolidação dessa área de atuação e tendo como meta não inserir seus estudantes em um campo desconhecido ou não aceito pelo mercado. A fase inicial do serviço social foi muito rica, marcada por lutas e vitórias decorrentes do pioneirismo. As escolas não se limitavam ao ensino, mas também implantavam serviço social nos diversos órgãos públicos e instituições particulares, estando sempre prontas a cooperar com as instituições a participar de encontros, congressos nacionais e internacionais, a criar obras sociais e outras atividades, norteando suas ações pelo ideal de servir. (LIMA, 1987, p. 64). Ao considerar esse pressuposto, você será apresentado a um levantamento dos primeiros passos da profissionalização do Serviço Social no Brasil, na busca por encontrar os aspectos de proatividade e iniciativa para que projetos e atividades pioneiros fossem colocados em prática. Uma lembrança que explicita os motivos do desconhecimento – ou ao menos falta de interesse geral – desses feitos está atrelada ao fato de que havia uma correlação com desprendimentos de princípios cristãos na sua atuação, o que favoreceu a falta ou a nulidade de sua divulgação. Já no ano de 1935, em São Paulo, foi criado um Departamento de Assistência Social, alocado na Secretaria da Justiça e Negócios do Interior, que mais tarde passou a se intitular Departamento de Serviço Social, em 1958. Esse órgão buscou centralizar em uma instituição oficial do governo as atividades de assistência social, ao controlar projetos de iniciativa privada e até mesmo coordenar os serviços públicos. No Rio de Janeiro, o primeiro momento do Serviço Social de fato foi conhecido no ano de 1939, no Juizado de Menores, onde se observou a incorporação das ideias e práticas do Serviço Social. Maria Josephina Rabello Albano, que pertenceu à primeira turma da Escola de Serviço Social do Rio de Janeiro, também foi a primeira a estagiar no Juizado, ligado ao Ministério da Justiça. Pereira (1943, p. 31 apud LIMA, 1987, p. 65) afirma que “[...] o serviço social no Juizado de Menores foi o primeiro serviço social oficial que introduziu em seu quadro de colaboradores uma assistente social”. O Ministério do Trabalho concedeu no mesmo ano uma abertura para a atuação do assistente social, na fiscalização do trabalho de mulheres e menores, o que permitiu, também, maior acesso ao mercado de trabalho aos profissionais dessa nova área de atuação. Não muito tempo depois, as demandas assistencialistas passaram a tomar conta das medidas governamentais, nas mais diversas esferas. No Rio de Janeiro, em 1941, surgiu o Serviço de Assistência ao Menor (SAM), que fortalecia o elo com a Escola de Serviço Social; em âmbito nacional, um ano mais tarde, também foi criada a LBA, Legião Brasileira de Assistência, que surgiu, como você se lembra, em razão das demandas de assistência social diante das dificuldades provenientes da Segunda Guerra Mundial. Já voltado à iniciativa privada, também se pode destacar este processo de fortalecimento do Serviço Social: seus profissionais consolidaram métodos teóricos e científicos na aplicação e atendimento de demandas que as empresas, porventura, requeressem. No Rio de Janeiro, um caso conhecido é o da cooperação entre assistentes sociais e a Associação do Lar Proletário, fundada em 1936, fomentada com a implementação de variados projetos. Outro exemplo esteve relacionado ao feminismo, por meio da Associação das Senhoras Brasileiras, que buscava a implantação de serviços sociais em suas obras e atividades. 20 Laureate- International Universities O histórico do Serviço Social no Brasil É importante ressaltar o trabalho obscuro das primeiras assistentes sociais que, preparando o campo de penetração do serviço social nas diversas instituições, facilitaram o caminho de seu reconhecimento social. Embora não existisse ainda nenhuma regulamentação federal, é indiscutível que se começasse a encarar seriamente a necessidade dela. (LIMA, 1987, p. 66). Ao se notar o acentuado crescimento da área do Serviço Social, percebeu-se, também, a necessidade de sua regulamentação. Esses fatos anteriormente citados só mostraram que o processo assistencialista vinha se consolidando na sociedade, ao imprimir a efetiva prática dos serviços prestados e bons resultados. Em 1946, foi instaurada a Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social (ABESS), órgão que buscava coordenar e orientar as escolas de Serviço Social que estavam surgindo e se desenvolvendo no país. Para essa criação, foi essencial a participação das duas primeiras escolas de serviço social do Brasil, as do Rio de Janeiro e de São Paulo, haja vista que ambas já se mostravam mais consolidadas e capazes de levantar as demandas que a área possuía. Segundo Lima (1987, p. 66), junto com a ABESS, também em 1946, surgiu a ABAS – Associação Brasileira de Assistentes Sociais, que tinha por finalidade a “[...] atualização das técnicas de serviço social e o aperfeiçoamento cultural do assistente social”, ao agir um como complemento do outro. Nos anos seguintes, o que se pôde notar foi uma maior comunicação e intercâmbio com o Serviço Social de outros países, do que decorreu muito aprendizado, sobretudo ao se analisar as especificidades de cada um, e também promoveu ensinamentos a partir das experiências nacionais. Com isso, os eventos internacionais – sobretudo que englobassem diferentes regiões, uma vez que permitiam a discussão aprofundada das demandas de cada um – passaram a ser recorrentes. Em consequência disso, um intercâmbio cultural se fortaleceu, e este aprimoramento pôde ser estudado pelas universidades em todo o mundo. 21 Ao longo do texto, você conheceu todo o processo de formação do Serviço Social no Brasil, assim como seus elementos básicos e principais fatos que fomentaram as questões sociais e exigiram, em seu desenvolver, um tratamento aprimorado. Como você pôde notar, foram muitos acontecimentos e muitas instituições criadas ao longo dos séculos XIX e XX que contribuíram para o surgimento e desenvolvimento do Serviço Social no Brasil. Na Tabela 1, você observa, de maneira resumida, os principais. SínteseSíntese Tabela 1 – Eventos e instituições de destaque para o Serviço Social no Brasil Ano 1873 1891 1891 1916 1922 1929 1935 1941 1942 1947 1932 1932 1946 1936 1937 O Bispo de Olinda já sinalizava algumas transformações clericais no Brasil. A encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII, alertava os cristãos sobre as injustiças sociais e a exploração de operários. Incorporação das ideias e práticas do Serviço Social ao Juizado de Menores do Rio de Janeiro. Promulgação da Constituição Federal: rompimento entre Estado e Igreja e maior autonomia aos estados. A Carta Pastoral de Dom Sebastião Leme demonstrou uma nova postura da Igreja Católica diante de questões políticas e sociais. Criação do Centro Dom Vital por Jackson Figueiredo. Criação da Ação Universitária Católica. Departamento de Assistência Social. Criação do Serviço de Assistência ao Menor no Rio de Janeiro. Criação da Legião Brasileira de Assistência. Primeiro Congresso de Serviço Social e reconhecimento do profissional de Serviço Social Criação do Instituto Católico de Estudos Superiores. Fundação da Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social. Fundação da Primeira Escola de Serviço Social do Brasil. Criação da Escola de Serviço Social do Rio de Janeiro. Criação do Centro de Estudos e Ação Social. Fundação da Associação Brasileira de Assistentes Sociais. Primeira Semana de Ação Social. Segunda Semana de Ação Social. Fundação da Associação Lar Proletário. Criação do Instituto Social. Fato Fonte: Elaborada pelos autores. 22 Laureate- International Universities O histórico do Serviço Social no Brasil Todos esses processos históricos vividos, que antecederamo surgimento das demandas sociais, são cruciais para seu entendimento. No entanto, outro ponto precisa ser levado em consideração: o cenário histórico, anterior a todos esses marcos listados na Tabela 1, propiciou o surgimento – ou a evidenciação – de demandas sociais no país, e a partir dele é que se começou a refletir e debater essa questão. Além disso, deve-se considerar também o fato de que a consolidação do Serviço Social no Brasil deve ser analisada de maneira ampla e aglutinadora – ao considerar o cenário socioeconômico da década de 1920 e todos os eventos posteriores a esse período –, e não segmentada sobre cada evento ou fato histórico. Nessa seara, Lima (1987) elenca o cenário socioeconômico da década de 1920 como um fator que favoreceu a publicidade das desigualdades sociais, que deu base para o surgimento do Serviço Social. Para a autora, o período do Governo Vargas constitui-se em um momento-chave, visto que proporcionou o debate da questão social de fato. Além disso, outro ponto importante que você estudou foi a relevância que a Igreja Católica tem na consolidação do Serviço Social, seja pelos seus ideais, seja por sua força política, seja na implementação de “[...] atividades [que] objetivaram o conhecimento de problemas sociais do momento, a ação face a esses problemas e esclarecimentos acerca de outras doutrinas contrárias aos princípios cristãos” (LIMA, 1987, p. 47). SínteseSíntese 23 AZZI, Riolando. Os pioneiros do Centro Dom Vital. Rio de Janeiro: Educam, 2003. DE PAULA, Christiane Jalles. Conflitos de gerações: Gustavo Corção e a juventude católica. Horizonte, v. 10, n. 26, p. 619-637, 2012. FAUSTO, Boris. Pequenos ensaios de história da República: 1889 – 1945. São Paulo: CEBRAP, 1972. LIMA, Arlete Alves. Serviço social no Brasil: a ideologia de uma década. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1987. SALEM, Tânia. Do centro d. Vital à universidade católica. Universidades e instituições científicas no Rio de Janeiro. Brasília: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), 1982, p. 97-134. SOUSA, Marisa. O percurso histórico do serviço social. Revista Alumni, Itu, n. 6, ago. 2014. VILLAÇA, Antônio Carlos. O pensamento católico no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar. 1975. ReferênciasBibliográficas Introdução 3. A atuação do assistente social no Brasil 2. A influência da Igreja Católica 1. A origem da questão social no Brasil Síntese Bibliográficas
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