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Filosofia das Ciências: 
Bases Epistemológicas 
da Psicopedagogia
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Me. Bruno Pinheiro Ribeiro
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Epistemologias da Psicologia II
• A Psicologia da Gestalt;
• L. S. Vygotsky;
• A Psicanálise.
• Concluir o percurso das transformações históricas da epistemologia da Psicologia Moderna;
• Apresentar as bases do pensamento inovador de L. S. Vygotsky;
• Compreender o espaço ocupado pela psicanálise no interior do desenvolvimento da 
Psicologia Moderna; 
• Estudar as linhas epistemológicas dos dois grandes nomes da psicanálise: Sigmund 
Freud e Jacques Lacan, percebendo os pontos de contato e o afastamento de seus 
respectivos pensamentos. 
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
Epistemologias da Psicologia II
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como seu “momento do estudo”;
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos 
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua 
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o 
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e 
de aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e de se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE Epistemologias da Psicologia II
A Psicologia da Gestalt
As bases da Psicologia da Gestalt tiveram seu nascedouro na Alemanha e, em gran-
de medida, contrapunham-se às ideias de Wundt – que estudamos na Unidade anterior. 
Um dos principais pontos dos gestaltistas em relação aos propósitos wundtianos 
era a crítica ao Elementarismo ou Atomismo. Essa crítica também, como vimos ante-
riormente, fez-se presente pelo Comportamentalismo americano, mas com uma dife-
rença importante, ao contrário dos comportamentalistas, os gestaltistas não descarta-
vam a consciência, porém discordavam da análise em elementos realizada por Wundt. 
Ao movimento gestaltista foi atribuído um caráter revolucionário pelo confronto 
com as bases americanas pregressas, mas também pelo enfrentamento com a tra-
dicional Escola Alemã de Psicologia, e teve nos nomes de Max Wertheimer, Kurt 
Kofflia e Wolfgang Kõhler os intelectuais importantes para o desenvolvimento da 
Psicologia da Gestalt. 
O marco inicial da Psicologia Gestalt data de 1910, na ocasião de uma pesquisa 
desenvolvida por Max Wertheimer. Trabalhando com a ideia relativamente simples de 
“impressão de movimento”, na qual nenhum movimento físico real tinha acontecido. 
A partir do experimento com projeção de luzes e sua percepção, Wertheimer 
chegou à definição do fenômeno phi que, segundo ele, existia tal qual era perce-
bido, não podendo assim ser reduzido a nada mais simples, fazendo com que esse 
movimento não precisasse de explicação. 
Depois de estudar a percepção do movimento aparente, a Psicologia gestaltista 
avançou para outros fenômenos da percepção, com destaque para a experiência 
das constâncias perceptivas. 
Assim, segundo Schultz (1969), os gestaltistas definiram que existe uma diferen-
ça entre a percepção concreta e o estímulo sensorial, e que a percepção não pode 
ser explicada por uma reunião de elementos sensoriais nem como o somatório de 
suas partes. 
Desse modo, caracterizou-se a percepção como uma totalidade, uma Gestalt e, 
portanto, qualquer tentativa de reduzi-la, de analisá-la (no sentido de separação das 
partes) não seria eficaz:
Começar com elementos é começar pelo lado errado; porque os elementos 
são produtos da reflexão e da abstração remotamente derivados da experiên-
cia imediata que são chamados a explicar. A psicologia da Gestalt tenta vol-
tar à percepção ingênua, à experiência imediata, e insiste que não encontra 
aí montagens de elementos, mas todos unificados; não massas de sensações, 
mas árvores, nuvens e o céu. E ela convida todos a verificar essa asserção 
com o simples ato de abrir os olhos e olhar para o mundo ao redor em seu 
modo cotidiano comum. (HEIDBREDER apud SCHULTZ, 1969, p. 304)
Em 17 de dezembro de 1924, em Berlin, na Alemanha, Max Wertheimer faz 
uma palestra na Sociedade Kant, na qual são definidos mais alguns parâmetros da 
Psicologia da Gestalt. 
8
9
Para Wertheimer, existem totalidades que não podem ser definidas pela separa-
ção das partes e, mais ainda, esses processos são explicados não por sua dinâmica 
parcial, mas, ao contrário, pela dinâmica do todo. Desse modo, a teoria Gestalt tem 
a intenção de determinar a natureza dessas totalidades, que seriam a base para o 
estudo da Psicologia. 
Em cima dessa perspectiva, Wertheimer constrói seu raciocínio e desenvolve as 
bases epistemológicas da Gestalt, e o faz também por meio de alguns exemplos, 
como o caso da melodia. Wertheimer formula a seguinte pergunta: “é de fato ver-
dadeiro que, quando ouvimos uma melodia, temos uma soma de tons individuais 
(elementos) que constituem o fundamento essencial da nossa experiência? A verdade 
não será talvez o inverso disso?” (WERTHEIMER apud SCHULTZ, 1969, p. 306).
O que Wertheimer quer comprovar é que a melodia não é percebida como fenô-
meno pelos elementos que a constituem. Ela é percebida como um todo que arti-
cula esses elementos e, desse modo, não se justificaria o foco no estudo das partes, 
posto que essas são intrinsecamente vinculadas a totalidade. E que cada parte que 
nos é percebida é determinada não por ela mesma, mas pela condição do todo. 
Sendo assim, para os gestaltistas, o interesse de estudo da Psicologia deve ser a 
organização desse todo, que é capaz de determinar as suas partes.
A Psicologia gestáltica avançou nos estudos sobre o comportamento do Ego e 
sua conexão com o todo psicológico e com as dinâmicas sociais, instituiu também 
princípios para a organização da percepção, além de desenvolver parâmetros pró-
prios para a pesquisa da aprendizagem, consolidando-se, assim, na Alemanha, 
como uma forte base epistemológica da psicologia. 
Entretanto, com a ascensão no nazismo, muitos dos pesquisadores gestaltistas 
foram perseguidos pelo regime de Adolf Hitler, tiveram de deixar seu país e rumar 
para outros cantos do mundo. 
Os Estados Unidos receberam boa parte desses pesquisadores e, posteriormen-
te, tornaram-se um polo importante para a pesquisa da Psicologia da Gestalt.
L. S. Vygotsky
Lev Semyonovich Vygotsky é um dos nomes mais importantes da história da 
Psicologia moderna. Com a influência decisiva do Marxismo, Vygotsky embasou-se 
no materialismo histórico dialético para produzir sua epistemologia da Psicologia.
O ponto central da perspectiva de Vygotsky é que o desenvolvimento psicoló-
gico dos seres não se dá de maneira exclusivamente individual,como se fosse um 
acúmulo restrito às transformações internas e particulares. 
Vygotsky acredita que o desenvolvimento é: 
9
UNIDADE Epistemologias da Psicologia II
Um complexo processo dialético, caracterizado pela periodicidade, irregu-
laridade no desenvolvimento das diferentes funções, metamorfose ou trans-
formação qualitativa de uma forma em outra, entrelaçamento de fatores 
externos e internos e processos adaptativos. (VYGOTSKY, 1991, p. 83) 
Essa maneira de perceber o desenvolvimento como irregular atenta para o fato 
de que Vygotsky acredita que as transformações e o desenvolvimento psicológico 
não são lineares e, com isso, ele também aponta para questões do próprio desen-
volvimento dos estudos da Psicologia. 
Vygotsky aposta numa nova abordagem, na qual a análise crítica dos processos 
constitutivos da pesquisa da Psicologia até então possa ser estabelecida, ou seja, 
para Vygotsky, a análise histórica é fundamental para determinar os rumos da pes-
quisa psicológica. 
Nesse processo de investigação histórica, Vygotsky não dissocia a história do in-
divíduo da história da cultura. Para ele, é justamente a inter-relação entre esses dois 
elementos que pode sustentar o pensamento científico. A produção epistemológica 
se dá, então, de maneira dialética, assumindo que o movimento entre as instâncias 
individuais e coletivas é que forjam as bases psicológicas. 
Nesse sentido, pode-se depreender que as estruturas de comportamento não 
são por um lado ressonâncias exclusivas de um processo natural de evolução dos 
indivíduos e nem são puro reflexo das experiências sociais. 
A Psicologia se manifesta como relação entre essas duas esferas, e o estudo 
desse movimento se constitui como importante base de pesquisa para Vygotsky, 
como destacado a seguir: 
O ponto central do método materialista-histórico e materialista-dialético é 
que todos os fenômenos devem ser estudados como processos em movi-
mento e mudança. A tarefa do pesquisador é reconstruir a origem e o curso 
do desenvolvimento do comportamento e da consciência. Todo fenômeno 
tem sua história e essa história é caracterizada por mudanças qualitativas e 
quantitativas. (VYGOSTKY apud JOBIM e SOUZA, 1994, p. 124)
Outro ponto de destaque inicial para a perspectiva epistemológica de Vygotsky 
é que seu pensamento não destaca comportamento e consciência. 
Segundo Jobim e Souza (1994), o objetivo de Vygotsky era destituir a irreconci-
liável separação entre o ramo da Psicologia com características de ciência natural, 
que explicaria elementos sensoriais e reflexos, e o ramo da Psicologia com caracte-
rísticas de ciência mental que explicaria as propriedades dos processos psicológicos 
superiores. Como o trabalho de Vygotsky se assenta no materialismo histórico 
dialético, sua intenção é entender a dinâmica psicológica entre a consciência e o 
comportamento, perceber seu movimento. 
Um elemento importante desse processo dialético material e histórico que 
Vygotsky se empenhará em estudar é a organização dos sistemas de signos. 
10
11
Vygotsky recupera algumas noções de Friedrich Engels sobre trabalho humano 
e instrumentos, noções que atestam para o fato de que a Humanidade utiliza instru-
mentos para o trabalho, e que ele transforma a Natureza e a própria Humanidade, 
que investe seu tempo na ação de trabalhar. Há, portanto, uma mediação realizada 
por meio de instrumentos na relação entre a Humanidade e o ambiente no qual ela 
está inserida. 
Os sistemas de signos – que organizam a linguagem, a escrita, os números, 
as artes etc., são criados pela Sociedade ao longo da História e, assim como os 
sistemas de instrumentos, também são mediadores de intervenção na realidade e 
operam o desenvolvimento cultural das Sociedades que constroem esses Sistemas. 
Contudo, para Vygotsky, há uma diferença fundamental entre os Sistemas de 
Signos e os Sistemas de Instrumentos. No primeiro, a ação se dirige às instâncias 
psicológicas dos indivíduos, afetando, assim, o seu comportamento, já no segundo 
caso a ação se destina à transformação do objeto no qual o instrumento, por meio 
da ação humana, age. 
É dentro desse Sistema de Signos que a Sociedade produz ao longo de sua His-
tória e que, portanto, está em movimento constante, Vygotsky se concentra nos 
estudos da linguagem e em suas consequências para o desenvolvimento das chama-
das estruturas psicológicas superiores (consciência) da criança. 
A visão de Vygotsky sobre o materialismo histórico dialético é sofisticada, e, 
diga-se de passagem, é uma boa legatária de Karl Marx nesse sentido. Para o autor 
russo, as experiências sócio históricas não estão sedimentadas somente nas cria-
ções materiais. Essas experiências também se sedimentam nas formas verbais que 
transmitem conteúdos e, portanto, viabilizam a comunicação entre seres humanos. 
Nesse sentido, Vygotsky acredita que há uma interiorização de conteúdos de-
terminados pelas transformações históricas e pelas organizações culturais, e que a 
linguagem é um meio de manifestação desses conteúdos. 
Sendo assim, para Vygotsky, há uma semelhança entre a natureza social e psi-
cológica dos indivíduos, não sendo possível analisá-las em separado. 
Sobre esse processo, Jobim e Souza assim o descrevem: 
De acordo com Vygotsky, do desenvolvimento cultural da criança, toda 
função aparece duas vezes: primeiro em nível social e, mais tarde, em 
nível individual. Esse processo de internalização, quer dizer, de transfor-
mação, de um processo interpessoal em processo intrapessoal, implica a 
utilização de signos e supõe uma evolução complexa em que ocorre uma 
série de transformações qualitativas da consciência da criança. Dessa for-
ma, estudar a constituição da consciência na infância nas se resume em 
analisar o mundo interno em si mesmo, mas sim em resgatar o reflexo do 
mundo externo no mundo interno, ou seja, a interação da criança com a 
realidade. (JOBIM; SOUZA, 1994, p. 125-6)
11
UNIDADE Epistemologias da Psicologia II
Como se observa nas palavras acima, Vygotsky tenta compreender o movimen-
to que compõe a estrutura psicológica a partir das interações dos indivíduos com 
os signos organizados socialmente pela cultura, manifestados pela linguagem, por 
exemplo, e suas respectivas internalizações. 
E, nesse processo, Vygotsky destaca a infância como momento em que esse 
momento consegue se estabelecer, ou seja, momento em que a consciência se for-
ma não por mero desenvolvimento individual mas pela relação com as dinâmicas 
sociais, com o mundo externo a ela mesma, com os signos que apreende a partir 
da convivência em Sociedade. 
LEVITT, H. “From One, Two, Three, More”: http://bit.ly/3aNAMha
Ex
pl
or
Vygotsky também avança consideravelmente nos estudos sobre fala e pensa-
mento. Em sua abordagem, a linguagem não é um mero reflexo do pensamento, 
um fluxo inevitável das organizações intelectuais, e a fala também não é uma repro-
dução fidedigna dos processos mentais. 
Há, no pensamento, uma estrutura e a sua transposição para a fala se dá de 
maneira complexa, que tem a linguagem como mediador decisivo. E como a lin-
guagem não se constitui como instrumento exclusivo do sujeito, ou seja, como ela 
é fruto de elaborações sociais, a organização da fala também está em constante 
tensão com as dinâmicas sociais. 
Nesse processo de transição do pensamento para a fala, Vygotsky percebe, tam-
bém, que o pensamento não tem um equivalente imediato na fala e, por isso, essa 
passagem precisa ser mediada pelo significado. 
Nesse sentido, as palavras que usamos aos nos expressarmos não correspondem 
exatamente ao que nos passa no pensamento e, ao mesmo tempo, elas também 
não são recebidas pelo ouvinte com total identificação do significado proferido. Isso 
cria subtextos, sentidos ocultos. Essa dificuldade de comunicação também ocorre 
porque na fala incorporamos elementos afetivos, emoções, intenções, desejos etc. 
Isso faz com que as palavras também derivem significados a partir da forma 
como elas são ditas e ao mesmotempo elas também são interpretadas por quem 
as ouve, de acordo com vários elementos do ouvinte. 
As propostas de Vygotsky tem uma influência importante para a Teoria do Co-
nhecimento, suas bases epistemológicas apontam para a necessidade de estudos 
psicológicos em vínculo com as transformações sócio históricos, passam também 
pela importância dos processos de incorporação de signos das crianças e nos levam 
a refletir sobre as estruturas da linguagem, levando em consideração os múltiplos 
sentidos que uma palavra pode alcançar, sentidos esses que estão contidos no mo-
vimento entre o verbal e o extraverbal. 
12
13
A Psicanálise 
Sigmund Freud
A psicanálise tem seu nascimento no final do século XIX, assim como outras 
Escolas de Pensamento no ramo da Psicologia. Contudo suas semelhanças se dão 
mais em aspectos temporais, do que propriamente epistemológicos. 
A psicanálise, que se se confunde em seus primeiros passos com a história de 
Sigmund Freud, difere da Psicologia acadêmica contemporânea a ela, e se consoli-
da como uma reflexão e prática clínica. 
Freud desenvolveu um sistema em termos de conteúdos e métodos muito distintos 
dos demais Sistemas que eram desenvolvidos no interior dos estudos psicológicos. 
Apesar de conhecedor do trabalho laboratorial da psicologia experimental, Freud 
não se fazia valer do recolhimento de dados a partir de experiências controladas 
e nem fazia análises quantitativas de seus resultados. A base de sua pesquisa era 
pautada pela relação clínica entre analista e paciente. 
Essa distância acadêmica da Psicanálise, forjando sua epistemologia em outras ba-
ses, custou-lhe muitos questionamentos ao longo da História sobre a validade de seus 
métodos e pensamentos sobre o comportamento humano. E um dos esforços im-
portantes de Freud foi, justamente, o de atestar a robustez científica de seu trabalho. 
Nesse sentido, ele garantia que o uso de seus métodos com rigor era capaz de 
qualificar a pesquisa. E acreditava que era preciso incontáveis repetições de obser-
vações e experiências com os pacientes e com o próprio analista. 
Desse modo, sua epistemologia previa um trabalho minucioso não só sobre o 
objeto de estudo, no caso os pacientes, mas também sobre o próprio pesquisador 
interessado na pesquisa, no caso, o analista:
Quando me impus a tarefa de trazer à luz aquilo que os seres humanos 
conservam oculto dentro de si, não pelo poder coercitivo da hipnose, 
mas observando o que dizem e o que demonstram, julguei-a mais difícil 
do que de fato é. Quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir pode se 
convencer de que não há mortal capaz de guardar um segredo. Mesmo 
que os lábios silenciem, ele conversa com as pontas dos dedos; a autotrai-
ção exala dele por todos os poros. Assim, a tarefa de tomar conscientes 
os recessos mais ocultos da mente apresenta boas possibilidades de ser 
realizada. (FREUD apud SCHULTZ; SCHULTZ, 1991, p. 342)
Os dois principais e mais difundidos métodos freudianos são o da livre associa-
ção e o trabalho com os sonhos. 
Na prática clínica, Freud percebeu um aspecto importante sobre o método da 
livre associação: quando algum assunto era por demais embaraçoso, vergonhoso, 
repulsivo para ser falado, o paciente resistia. 
13
UNIDADE Epistemologias da Psicologia II
Desse modo, a resistência aparecia como um sintoma importante, porque de-
tectava alguma fonte problemática que deveria ser tratada. Assim, a percepção da 
resistência era fundamental para o analista: ela provava que o caminho do trata-
mento estava sendo coerente. 
Nesse processo de trabalho com a resistência, Freud insistia que o analista com-
partilhasse com o paciente os pontos de resistentes. Para Freud, era fundamental 
que essas experiências ocultas, que custam a aparecer na realidade, fossem en-
frentadas. Por meio desse enfrentamento, essas perturbações poderiam vir à tona, 
quebrando, assim, a dinâmica da resistência e podendo ser elaboradas. 
Essa noção de resistência possibilitou a Freud a conceituação do princípio psica-
nalítico fundamental da repressão. Essa repressão era, para Freud, o processo de 
exclusão de ideias, desejos, lembranças do plano da consciência, fazendo com que, 
assim, esse material operasse no plano da inconsciência. 
Diante desse quadro de exclusão forçada, para Freud, o psicanalista deveria tra-
balhar junto ao paciente em favor da retomada desse material reprimido de volta 
à consciência. 
Essa relação entre analista e paciente deveria se dar, para Freud, de maneira ínti-
ma, capaz de despertar a possibilidade de transferência do paciente para o analista. 
Essa transferência tinha caráter emocional, era um processo de vínculo afetivo 
entre analista e paciente, e criava condições para que o paciente pudesse estabele-
cer bases de confiança para a elaboração de suas experiências e, consequentemen-
te, para a emancipação de sua dependência infantil em relação aos seus genitores. 
Outro aspecto fundamental do método psicanalítico freudiano é a lida com os 
sonhos. Freud acreditava que o mundo onírico era provido de desejos e anseios 
inconfessos, reprimidos pelos indivíduos e que, portanto, esse material era funda-
mental para o processo analítico. 
Para Freud, os sonhos têm natureza dupla, uma manifesta e outra latente. 
Os conteúdos manifestos são aqueles que o paciente é capaz de narrar, já os 
conteúdos latentes são aqueles ocultos, aqueles que residem nas entrelinhas do 
material narrado. 
O trabalho do analista é o de partir do material manifesto pelo paciente ao ma-
terial latente, procedendo por meio de interpretações desse material oculto.
A tarefa da interpretação dos sonhos é complexa porque esse material latente, 
em geral, aparece nos sonhos de modo cifrado, por meio de símbolos, metáfo-
ras, representações. 
Assim, para apreender o significado desse material, é necessário um trabalho 
esmiuçado, detalhado, que guarda relação com organizações simbólicas genéricas, 
mas, sobretudo, é pautado por uma interpretação que se vincule às questões espe-
cíficas do paciente. 
14
15
Nessa dinâmica relacional do consciente com o inconsciente, Freud formulou os 
elementos que constituem a estrutura da personalidade, que são o id, ego e superego. 
Para Freud, o id é a parte mais primitiva e de mais difícil acesso da personalidade 
humana. Nele estão manifestados instintos sexuais e agressivos. 
O id busca sua satisfação completa, sem se preocupar com as normas e as re-
gras que regulamentam as dinâmicas sociais, ou seja, o id está sempre em conflito 
com as posições morais estruturadas pela sociedade. 
Sobre o id, Freud escreveu: “Chamamo-lo de caos, um caldeirão repleto de fervi-
lhantes excitações”, e acrescentou que o id “não conhece juízos de valor, nem o bem e 
o mal, nenhuma moralidade” (FREUD apud SCHULTZ; SCHULTZ, 1991, p. 343).
O id procura satisfazer esse caos, essa satisfação, que entra em contradição com 
os parâmetros da realidade, deseja reduzir a tensão imanente a essa busca cons-
tante do id. 
Esse processo Freud conceitua como princípio de prazer, que se manifestaria 
como a busca do prazer e a redução da dor. Essa tensão é expressão de nossa ener-
gia básica, nossa libido. Quando essa energia libidinal aumenta, aumentam também 
as tensões e promovemos uma tentativa de atenuação dessa tensão. 
No processo de redução da tensão, o id precisa, necessariamente, relacionar-se 
com o mundo real, com suas regras e normas, para poder atender a sua energia 
libidinal. Essa dinâmica de relação entre o id e a realidade é mediada por outro 
elemento, que Freud chamou de ego. 
O ego, portanto, tem uma relação de dependência com o id, é um elemento que 
emprega sua força a partir dessa derivação. Para Freud, nessa relação de depen-
dência, o ego se submete ao id, tentando proporcionar-lhe prazer, ou seja, tentando 
reduzir a tensão da energia libidinal:
O id tem exigências impensadas, que não levam em conta a realidade. 
O ego é cônscio da realidade, percebendo-a e manipulando-a, regulando 
o idcom referência a ela. Ele opera de acordo com o que Freud denomi-
nou princípio da realidade, mantendo em suspenso as exigências voltadas 
para o prazer advindas do id até ser encontrado um objeto apropria-
do com que satisfazer a necessidade e reduzir ou descarregar a tensão. 
(SCHULTZ; SCHULTZ, 1991, p. 344)
O terceiro elemento que constitui a estrutura da personalidade freudiana é o 
superego. Esse elemento se origina e se desenvolve na infância, quando a criança 
assimila as regras de conduta social passadas pelos pais mediante um sistema de re-
compensas e punições. Nesse sistema, os comportamentos incorretos, que geram 
punições, moldam a consciência (uma parte do superego); e os comportamentos 
corretos, que geram recompensas, moldam o ego ideal (a outra parte do superego). 
O superego se constitui, portanto, por meio das restrições morais determinadas 
pelos pais na infância, e depois, na fase adulta, por procedimentos de autocontrole. 
15
UNIDADE Epistemologias da Psicologia II
Nesse sentido, ele está, ao contrário do ego, em constante conflito com o id e, 
por conseguinte, com a energia libidinal. Contudo, o ego encontra-se no meio de 
dois polos intensos, o id e sua necessidade de satisfação, de assunção do prazer, e 
o superego, com seu controle moral. 
Esse percurso é definido por Schultz e Schultz (1991, p. 344). Assim: “O ego 
está numa posição difícil, pressionado por todos os lados por forças insistentes e 
opostas. Ele tem de (1) adiar os anseios incessantes do id, (2) perceber e manipular 
a realidade para aliviar as tensões das pulsões do id, e (3) lidar com o anseio de 
perfeição do superego.” 
Um aspecto importante desse conflito é que ele se dá de modo interno, na 
composição da personalidade do sujeito. Contudo, suas forças não são somente 
provenientes do indivíduo. 
As restrições morais que compõem o superego são estruturadas socialmente, 
são conjugações, regras, normas estabelecidas pelas Sociedades e difundidas cul-
turalmente, a ponto de se tornarem parâmetros para os processos educativos dos 
pais e, posteriormente, para os procedimentos de autocontrole dos adultos. 
Figura 1 – Golconda, 1953
Fonte: renemagritte.org
Como se pode observar, a infância é de fundamental importância para o pen-
samento freudiano, sendo ela a origem de neuroses manifestas na fase adulta 
pelos pacientes. 
Freud acreditava que, por volta dos cinco anos de idade, os padrões comporta-
mentais eram estabelecidos e que a criança passa por estágios psicossexuais em 
seu desenvolvimento. 
16
17
O estágio oral vai do nascimento até por volta dos dois anos, no qual a satisfação 
erótica primária se dá pela estimulação da boca. 
A segunda fase é a anal, que coincide com o treinamento higiênico, e tem sua 
zona erógena no ânus. 
A terceira fase, por volta dos quatro anos, é chamada de fálica, e tem sua zona 
de prazer na região pubiana. É nesse momento que são realizadas muitas manipula-
ções dos órgãos genitais e é quando aparecem as fantasias sexuais e no qual Freud 
acredita que se desenvolve o complexo de Édipo, em que a criança sente atração 
pelo genitor do sexo oposto e temor pelo genitor do mesmo sexo. 
Posteriormente: 
De modo geral, as crianças superam o complexo de Édipo identificando-
-se com o genitor do mesmo sexo e substituindo o anseio sexual com rela-
ção ao genitor do sexo oposto pela afeição. Contudo, as atitudes com re-
lação ao sexo oposto no decorrer desse período persistem e influenciam 
as relações adultas com membros do sexo oposto. Um dos resultados 
da identificação com o genitor do mesmo sexo é o desenvolvimento do 
superego. Ao assumirem os modos e atitudes desse genitor, as crianças 
também adotam os seus padrões do superego.
As crianças que sobreviverem às muitas lutas desses primeiros estágios 
entram num período de latência, que dura mais ou menos do quinto ao 
décimo segundo ano de vida. Então, ao ver de Freud, o início da ado-
lescência e a proximidade da puberdade assinalam o começo do estágio 
genital. (SCHULTZ; SCHULTZ, 1991, p. 346)
Freud é, sem dúvida, um dos pensadores mais instigantes do século XX, e sua 
contribuição transcende o escopo psicológico, inaugurando uma corrente de pen-
samento fundamental para a apreensão da dinâmica comportamental moderna. 
Entretanto, é preciso situar suas proposições e afirmações dentro de determi-
nados preceitos sócio históricos e compreender que algumas de suas formulações, 
sobretudo em relação à homossexualidade, contêm problemas graves. 
Jacques Lacan
Para encerrar nossa Unidade, estudaremos a obra de Jacques Lacan, que foi um 
dos principais psicanalistas do século XX. 
Lacan formou-se na base psicanalítica freudiana e a desenvolveu com alguns 
pontos de contato e conexão, mas também com desdobramentos distintos e ino-
vadores para o campo, conferindo, assim, uma abordagem própria, que podemos 
chamar de lacaniana.
A formação intelectual de Lacan é variada, com estudos em Psicologia, Filosofia, 
Teorias da Linguagem, Crítica Literária, Semiótica e Estruturalismo. 
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UNIDADE Epistemologias da Psicologia II
Essa multiplicidade faz com que o pensamento lacaniano, por mais que se con-
centre epistemologicamente na psicanálise, espraie-se e se conecte com outras 
áreas do conhecimento. Além disso, esse processo também retroalimenta a própria 
estruturação da psicanálise lacaniana, fazendo com que ela tenha influência direta 
de outras bases epistemológicas. É, portanto, a partir de linhas epistemológicas 
diversas que Lacan dará corpo a um pensamento complexo, que tem caráter de um 
programa interdisciplinar. 
Como descreve Safatle (2018), em cima do “caso clínico” de Marguerite Anzie, 
que havia sido internada após esfaquear uma famosa atriz de Teatro da época, 
Lacan começou a formular algumas de suas análises. 
Esse caso, que ficou conhecido como caso Aimeé, para Lacan, serviu de base 
para compreender como procedimentos neuróticos podem ter relação com proces-
sos de socialização, individuação e identificação. 
A perspectiva lacaniana acredita que a socialização e a individuação se dão por 
meio de processos de identificação, que podem ser alienantes. 
Para Lacan, a identificação se dá na dinâmica conflituosa entre o eu e o outro. 
Socialmente, são construídos tipos ideias, formas que são difundidas e que servem 
de orientação para os modos de julgar, agir e desejar. 
Esses modelos são internalizados pelo sujeito e constituem uma força importante 
de sua subjetividade. 
O conflito interno se estabelece porque as normas externas, que tem caráter mo-
delar, pressionam o sujeito a se adaptar a elas, a se conformar aos seus preceitos. 
Esse processo pode ser compreendido, segundo Safatle (2018), como alienante, 
já que o modo de desejar e pensar do sujeito está fora de si, moldado por outro. 
Lacan desdobra uma perspectiva freudiana de que os processos sociais são alie-
nantes, fundamentalmente repressivos, porque normatizam os padrões de conduta 
e exigem que o sujeito se conforme a eles. 
Assim como Freud, Lacan investe naquilo que antecede os processos associativos, 
que ele acredita ser um corpo libidinal sem formato específico e sem consistência. 
Os processos de socialização irão exercer sua força repressora sobre esse corpo 
libidinal, gerando culpabilização às exigências de satisfação que esse corpo exige. 
Nesse sentido, o processo de formação do eu se dá em bases de luta, em constante 
tensão com os padrões estabelecidos socialmente.
Para a construção dessa estrutura de identificações com modelos externos ao 
eu, Lacan cunha um conceito importante: estádio de espelho. 
Para Lacan entre o sexto e o décimo mês de vida, o bebê começa a desenvolver 
seu esquema mental, que possibilita a ele ter a noção do que lhe é próprio, e do 
que lhe é alheio. 
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É nesse momento que o bebê percebe os contornos e a totalidade do seu corpo 
e começa a distinguir externo e interno, individualidade e alteridade. E o agente fun-
damental desse processo é a imagem. É por meio delaque o bebê consegue identi-
ficar o corpo do outro e o seu próprio corpo, ou seja, “Lacan quer mostrar como a 
formação do eu só se daria por identificações: processos por meio dos quais o bebê 
introjeta uma imagem que vem de fora e que é oferecida por um outro” (SAFATLE, 
2018, p. 34).
Como vemos, a formação do eu é feita com internalizações, com base em refe-
rências externas a esse próprio eu. Nesse sentido, Safatle analisa como as formu-
lações lacanianas problematizarão as noções modernas do eu, baseadas em ideias 
de liberdade. 
Para Safatle, por meio de Lacan, esse eu moderno não é produto de nossa au-
tonomia e nem é forjado como se fosse a nossa própria autoidentidade. 
Ao contrário, ele é constituído numa forte tensão constante com processos de 
socialização que, a partir de imagens externas ao eu, projetam modelos para sua 
própria constituição subjetiva. 
O conjunto dessas imagens ideais externas ao eu que guiam o desenvolvimento 
de sua personalidade também mediam a relação do indivíduo com seu ambiente 
próprio. Esse processo é chamado de Imaginário, por Lacan. 
A constituição do imaginário lacaniano se faz numa contradição latente, segun-
do a perspectiva de Safatle. Para Lacan, o sujeito encontra “em seu meio ambiente 
imagens das coisas que ele próprio projetou” (SAFATLE, 2018, p. 36), fazendo 
com que o imaginário tenha uma natureza narcísica. Contudo, como a constituição 
do eu se dá em tensão, e a partir da imagem do outro, o desejo desse eu projetado 
em imagens em seu meio ambiente não é propriamente seu. 
Diante desse quadro de ebulição e constante tensão, Lacan propõe que a prática 
clínica da psicanálise deva se constituir “baseada em uma crítica da alienação do 
eu na imagem e na defesa do caráter negativo do desejo” (SAFATLE, 2018, p. 39). 
Nesse processo, o paciente é instigado, por meio da fala, a rememorar as ima-
gens que constituíram suas referências simbólicas. É no ato da fala, diante do ana-
lista, que o paciente pode chegar a elaborar as tramas que tecem essas redes de 
imagens, percebendo suas fragilidades e imposições normativas.
Essa crítica, ao mesmo tempo que caracteriza a alienação provocada pelas ima-
gens externas internalizadas pelo eu, também projeta a própria dissolução dos de-
sejos, aos quais o eu teve de desesperadamente se vincular, portanto, ela se cons-
titui como negativa. 
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UNIDADE Epistemologias da Psicologia II
Figura 2 – Decalcomania, 1966
Fonte: wikiart.org
Com a influência do já mencionado pensamento estruturalista, Lacan formula um de 
seus conceitos mais importantes: “O inconsciente é estruturado como uma linguagem”. 
Para os estruturalistas, as estruturas sociais determinam as ações humanas, e 
não o contrário. Diante disso, as produções de sentido não são oriundas dos indiví-
duos, mas sim das estruturas sociais que os conforma, e o fato social dessa agência 
estrutural é a linguagem. 
A linguagem aparece aqui como uma organizadora de relações, de identidades e 
de diferenças, e é por meio dela que as experiências e os sentidos são partilhados. 
Para Lacan esse Sistema Linguístico, que é capaz de organizar as experiências, 
é chamado de simbólico. Esse sistema, para os estruturalistas, cria suas regras e 
age sobre os indivíduos, mesmo sem sua intenção e percepção. 
Para Lacan, é essa formulação que sustentava sua ideia de inconsciente, um 
conjunto de Regras, Normas e Leis que determinam o espaço simbólico, ou seja, 
as formas de pensar. 
Esse universo simbólico de desejos, condutas e regras é estruturado por uma Lei Social. 
Contudo, para Safatle (2018, p. 50), essa lei “não é normativa no sentido forte 
do termo”. Sua constituição “organiza distinções e oposições que, em si, não teriam 
sentido algum”. Para Lacan essa “lei sociossimbólica é composta por significantes 
puros”, uma “cadeia de significantes” e que a verdade do desejo do sujeito é ser 
desejo da Lei. Esse processo se estrutura a partir da identificação com o Nome-
-do-Pai, ou seja, como o desejo é regulado pelo falo. Contudo, a figura masculina, 
produto da modernidade, jamais está à altura de sua função simbólico. Sobre isso 
Lacan diz o seguinte: “a psicanálise, ao ser bem-sucedida, prova que se pode per-
feitamente livrar-se do Nome-do-Pai, à condição de saber dele se servir”. 
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Nesse sentido, Lacan acredita que a sexualidade é uma construção social, na qual 
a relação com o desejo não se centra exclusivamente nos homens, e o falo não é:
(...) exatamente o pênis orgânico, ou algum signo de potência, mas um 
significante puro, uma diferença pura que organiza posições subjetivas 
(masculino/feminino) a partir da experiência de inadequação fundamen-
tal entre o desejo e as representações “naturais” da sexualidade. Nesse 
sentido, o falo é apenas: “um símbolo geral dessa margem que sempre 
em separa do meu desejo. (SAFATLE, 2018, p. 57)
A produção lacaniana é atravessada fundamentalmente pela ideia de crise da 
modernidade ocidental. 
É no seio dessa crise que os postulados normativos, os construtos que orientam 
condutas e edificam desejos entram em colapso, porque suas constituições colidem 
radicalmente com os sujeitos que interagem com essas estruturas. 
A psicanálise lacaniana vislumbra, diante desse quadro, uma ideia radical de sujei-
to: alguma coisa que seja capaz de ultrapassar a si mesmo, de experimentar um pro-
cesso profundo de desidentificação com esse eu estruturado pela psique moderna. 
De certa forma, o caminho apontado por Lacan é de uma negatividade contun-
dente, no qual a afirmação da liberdade não se dará por meio da afirmação desse 
eu constituído pela modernidade, e sim por sua dissolução. 
A psicanálise lacaniana não se coloca, portanto, apenas como um processo de 
autoconhecimento profundo. 
Ela é também um mergulho em direção a alguma coisa que ainda não sabemos o que 
é, a indeterminação que é capaz de dar corpo ao que agora aparece como impossível. 
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UNIDADE Epistemologias da Psicologia II
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Vídeos
Freud Hoje: Repensar a Liberdade Depois do Inconsciente
https://youtu.be/AWzdIDOzCyY
Por Que Lacan?
https://youtu.be/w-8xWZbmLbU
Coleção Grandes Educadores Lev Vygotsky
https://youtu.be/T1sDZNSTuyE
 Leitura
Confrontar-se com o Inumano
SAFATLE, V. Confrontar-se com o inumano.
http://bit.ly/33eHfiD
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Referências
CANGUILHEM, G. O Que é a Psicologia? In: ______. Estudos de História e de 
Filosofia das Ciências Rio de Janeiro: GEN/Forense-Universitária, 2012. p. 401-18.
JOBIM E SOUZA, S. Infância e Linguagem: Bakhtin, Vygotsky e Benjamin. 
Campinas: Papirus, 1994. 
SAFATLE, V. Introdução à Jacques Lacan. Belo Horizonte: Autêntica, 2018. 
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ S. E. História da Psicologia Moderna. Tradução de 
Adail Ubirajara Sobral e Marta Stela Gonçalves. São Paulo: Cultrix, 1981. 
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos pro-
cessos psicológicos superiores. Tradução de José Cipolla Neto, Luis Silveira 
Menna Barreto e Solange Castro Afeche. São Paulo: Martins Fontes, 1991. 
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