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MATERIAL DIDÁTICO 
 
 
INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA 
HOSPITALAR E DA SAÚDE 
 
 
 
 
 
CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA 
PORTARIA Nº 1.004 DO DIA 17/08/2017 
 
0800 283 8380 
www.faculdadeunica .com.br 
2 
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de 
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios 
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e 
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
SUMÁRIO 
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ............................ ......................................................... 3 
UNIDADE 2 – DOENÇAS CRÔNICAS x DOENÇAS AGUDAS ..... ............................ 7 
2.1 Doenças crônicas .............................................................................................. 7 
2.2 Doenças agudas ................................................................................................. 22 
UNIDADE 3 – ONCOLOGIA ............................. ........................................................ 28 
3.1 O que é câncer .................................................................................................... 28 
3.2 Oncologia e Psiconcologia ............................................................................... 33 
3.3 Como a psicologia pode auxiliar o paciente oncológico .................................. 35 
UNIDADE 4 – CARDIOLOGIA ........................... ....................................................... 43 
4.1 Doenças cardíacas: fatores de risco biopsicossociais ..................................... 43 
4.2 Atuação do psicólogo em unidades hospitalares de cardiologia ...................... 47 
4.3 A vida após a doença cardiovascular .............................................................. 49 
UNIDADE 5 – HIV / AIDS............................. ............................................................. 51 
5.1 O que é AIDS ................................................................................................... 51 
5.2 AIDS: aspectos psicossociais .......................................................................... 53 
5.3 Intervenções Psicológicas ............................................................................... 54 
UNIDADE 6 – TRANSPLANTES .......................... .................................................... 56 
6.1 Panorama geral ............................................................................................... 56 
6.2 O papel do psicólogo na realidade de transplantes no Brasil .......................... 58 
UNIDADE 7 – UTI ..................................................................................................... 62 
7.1 O que é UTI / CTI ............................................................................................ 62 
7.2 Atuação do psicólogo com o paciente da UTI .................................................. 64 
UNIDADE 8 – PACIENTE CIRÚRGICO .................... ............................................... 69 
UNIDADE 9 – PEDIATRIA ............................. ........................................................... 73 
9.1 O processo de adoecimento e hospitalização da criança ................................ 73 
8.2 A importância da família nas alas infantis do hospital ..................................... 78 
8.3 O brincar e as brinquedotecas ......................................................................... 79 
8.4 A educação no hospital: Pedagogia Hospitalar ............................................... 82 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 84 
 
3 
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de 
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios 
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e 
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO 
 
No decorrer deste curso, tentamos realizar uma breve “descrição de cargos” 
do psicólogo hospitalar, clínico e da saúde. Agora, nosso foco maior será dado à 
psicologia hospitalar, porém precisamos levar em conta a existência de fatores 
anteriores à hospitalização e outros posteriores a esse evento, ou seja, o processo 
de adoecimento (e consequente necessidade de hospitalização) possui causas e 
acarreta em consequências biopsicossociais. Além da intervenção do psicólogo 
hospitalar, em muitos casos, o paciente precisa da assistência de um psicólogo 
clínico antes da hospitalização e depois dela. Tentaremos falar um pouco disso no 
decorrer deste material. 
 
A assistência psicológica dentro do hospital busca o alívio emocional do 
paciente e de sua família, sendo que muitas vezes, a ajuda a ser prestada 
implica numa mobilização de forças, em que a angústia e a ansiedade estão 
presentes, pois este Ser Doente encontra-se num momento não escolhido 
de sua vida (DOS SANTOS; SEBASTIANI, 1996, p.173). 
 
Analisando o quadro de profissionais da área da saúde que atuam em 
hospitais, normalmente, percebe-se que o número de psicólogos aparenta-se 
bastante reduzido. Na iniciativa privada, isso costuma ser mais visível, mas mesmo 
em hospitais públicos, em momento de concurso, é possível observar que o número 
de vagas destinadas aos psicólogos é significativamente menor se comparado, por 
exemplo, ao número de vagas destinadas aos enfermeiros. 
Não queremos parecer inocentes ao propor essa comparação. 
Compreendemos que a equipe de enfermagem se faz essencial nos cuidados, na 
administração de medicamentos e gerenciamento de unidades – situações que se 
fazem indispensáveis na rotina hospitalar. Entretanto, desde o início deste curso, 
enfatizamos a importância de uma abordagem biopsicossocial, assim, fica 
incoerente compreender por que em alguns hospitais o quadro de psicólogos é tão 
pequeno. Voltando aos enfermeiros – profissão indispensável ao cuidado do 
paciente e funcionamento do hospital – essa equipe é quem fica mais tempo em 
contato com o cliente, assim, são eles que costumam fazer, mesmo que 
informalmente, a escuta clínica do paciente. Por isso, a psicologia é uma área 
presente na formação desses profissionais, seja em nível superior ou técnico. 
4 
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de 
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios 
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e 
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
Vamos apenas mencionar aqui outros profissionais da equipe 
multiprofissional em saúde que se fazem indispensáveis ao cuidado biopsicossocial 
do paciente: nutricionista, farmacêutico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, médico, 
assistente social, terapeuta ocupacional, dentre outros. Cada qual busca seu espaço 
para exercer sua profissão de forma interdisciplinar e visando o cuidado do paciente. 
Na psicologia, nossa área de interesse, como muitas vezes o quadro de 
profissionais nos hospitais não é suficiente para prestar assistência a todos que ali 
convivem – pacientes, familiares e profissionais – obsevamos que a atuação do 
profissional acaba se restringindo àqueles que normalmente mais precisam: 
pacientes lúcidos em UTIs, pacientes pediátricos, pacientes cirúrgicos (que irão 
passar ou já se submeteram a intervenções mais complexas) e casos em que há o 
encaminhamento por parte de outros profissionais, normalmente o médico. Nem 
sempre os familiares são atendidos, mesmo quando em situações limite, como nos 
casos de entes queridos na UTI ou óbito dos mesmos. 
Nem mencionamos a equipe de saúde. Nesse caso, oque mais observamos 
é a atuação de um psicólogo organizacional – não o psicólogo hospitalar – que atua 
junto às rotinas empresariais do hospital: recrutamento e seleção, treinamento, 
dentre outras funções relativas ao funcionamento do hospital enquanto empresa, 
organização. 
Em outras instituições, observa-se também a atuação do psicólogo junto a 
intervenções com a equipe que visam aumentar o entrosamento, a produtividade, 
sanar conflitos. Essas intervenções costumam ser desenvolvidas junto aos grupos 
de trabalho de humanização (GTH), porém pouco é visto no sentido de fornecer uma 
escuta clínica e apoio ao profissional que, devido às peculiaridades da área de 
saúde, pode sofrer caso não esteja preparado a lidar com situações que se tornam 
corriqueiras, porém desgastantes. 
 
Com o passar dos tempos, os hospitais passaram a considerar o trabalho 
do psicólogo em enfermarias, ambulatórios e unidades de atendimento, em 
nível de apoio individual ou em grupos, baseado no aqui e agora, no 
momento vivido pelo paciente, objetivando um atendimento humanizado e 
global ao cliente. Deste modo, o psicólogo na instituição precisa ser o 
intermediário psicológico, buscando atingir a compreensão das relações 
entre profissionais, entre profissionais / pacientes e profissionais / família, 
pois muitas vezes a angústia ou a depressão do doente referem-se à 
destruição do corpo, sofrimento, invalidez, medo à internação, constituindo, 
então, dificuldades na relação médico-paciente. Não se deve esquecer que 
5 
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direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios 
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e 
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
tal atitude tem como referencial a história de vida do paciente (DOS 
SANTOS; SEBASTIANI, 1996, p.172-173). 
 
Tento tudo isso em vista, pretendemos, neste material, abordar aspectos 
referentes à atuação do psicólogo hospitalar frente a casos específicos. Essas 
situações normalmente são aquelas que mais contam com a atuação desse 
profissional, portanto, faz-se importante refletir acerca de questões específicas 
desse público alvo. Entretanto, precisamos também partir do pressuposto de que o 
psicólogo deve estar sempre apto a ouvir e acolher todos dentro do ambiente 
hospitalar: pacientes, familiares e profissionais de saúde que dele necessitarem. 
 
[...] todo o trabalho que o psicólogo pode desenvolver num hospital, junto ao 
paciente, equipe e família depende também da boa estruturação pessoal 
desse profissional. Ele, talvez mais do que os outros membros da equipe de 
saúde, é o depositário de uma enorme gama de sentimentos pesados, 
como o desespero, a angústia, o medo, as ansiedades, as frustrações, a 
impotência, entre outros. Tendo que administrar e conviver com eles em seu 
cotidiano de trabalho, o que nos leva a chamar a atenção para a importante 
preocupação de não nos descuidarmos daquele que cuida, pois somente 
com uma estrutura pessoal bem resolvida, com um espaço pessoal para 
também refletirmos sobre nossas dificuldades e angústias, é que podemos 
realizar um trabalho digno e adequado (DOS SANTOS; SEBASTIANI, 1996, 
p.175). 
 
Em linhas gerais, esse material tem como objetivo definir três tipos clássicos 
de pacientes com os quais o psicólogo irá lidar – paciente crônico, agudo e cirúrgico; 
apresentar locais do hospital onde a presença do psicólogo (direta ou indiretamente) 
se faz essencial – UTI, pediatria, enfermarias, pronto-socorros e, finalmente, 
doenças e condições que afetam o paciente em seu estado biopsicossocial e 
necessitam de intervenção psicológica – oncologia, cardiologia, Aids, transplantes. 
Os principais autores consultados para a realização deste material foram 
Angerami-Camon (1996; 2001), Angerami-Camon, Trucharte, Knijik e Sebastiani 
(1995), Carvalho (2003), Straub (2014). Além dessas obras de referências, foram 
consultados materiais disponíveis em sites relacionados ao Ministério da Saúde 
(INCA, AIDS, BVS, Portal da Saúde) e vários periódicos indexados em bases de 
dados científicas. 
Justificamos o uso de algumas citações de citações (apuds), o que não é 
recomendado do ponto de vista da metodologia da pesquisa, porém, se fez 
necessário em algumas situações devido à dificuldade em se localizar algumas 
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direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios 
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e 
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
obras originais. Sugerimos que, na introdução, anotem as questões que mais 
despertaram sua curiosidade ou dúvidas e após o estudo da apostila revejam se as 
mesmas ficaram realmente claras. 
Bons estudos! 
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UNIDADE 2 – DOENÇAS CRÔNICAS x DOENÇAS AGUDAS 
 
Partiremos de duas situações bastante amplas que serão vistas diariamente 
na rotina hospitalar: o paciente portador de doenças crônicas e o paciente portador 
de doenças agudas. 
 
2.1 Doenças crônicas 
A preocupação com o cuidado integral ao portador de doenças crônicas não 
data de muito tempo e seu início foi na Europa, com o foco voltado aos cuidados 
paliativos destinados aos pacientes terminais (tema que será abordado num outro 
momento desse curso). Passaram a se visar novas formas de abordagem ao 
paciente e à sua família, privilegiando a permanência do mesmo em casa. Para isso, 
faz-se necessária a atuação de equipes que desenvolvem cuidados domiciliares, o 
que, além de melhorar a qualidade de vida do paciente e de seus familiares, pode 
também diminuir os custos do tratamento (DOS SANTOS; SEBASTIANI, 1996). 
 
Não é a dor que a doença traz que incomoda, é algo mais subjetivo: é a dor 
de saber-se doente, de perder a condição de sadio. Em muitos casos, a 
não-elaboração do luto pela perda da saúde leva o indivíduo para a 
cronicidade (COELHO, 2001, p.70). 
 
Uma doença crônica é uma doença que não é resolvida num tempo curto, 
definido usualmente em seis meses. As doenças crônicas são doenças que 
necessariamente não põem em risco a vida da pessoa num prazo curto (como a 
alergia), mas podem ser sérias ou fatais (como a AIDS). Podem ou não manifestar 
sintomas. A citação a seguir ilustra o paciente crônico: 
 
Marginalizados da sociedade, uma vez que, na maior parte das vezes 
improdutivos, dependem da família, da boa vontade de instituições 
filantrópicas e, é óbvio, de se concluir, tendo uma qualidade de vida que 
tende ao zero (DOS SANTOS; SEBASTIANI, 1996, p.148). 
 
É denominado paciente crônico, o portador de uma doença incurável. Muitos 
pacientes com histórico de longas e frequentes internações costumam manter a 
doença crônica, pois com isso recebem cuidados que não receberiam fora do 
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ambiente hospitalar. Outros demonstram uma necessidade psicológica de viver todo 
o drama da doença crônica (DOS SANTOS; SEBASTIANI, 1996). 
O pacienteluta constantemente no sentido de compreender e aceitar a 
doença para assim conseguir viver esta nova condição. Isto não é fácil. Ao mesmo 
tempo, também é complexo para a equipe de saúde compreender a dinâmica 
psicológica do paciente crônico: 
 
Esse paciente convive por muito tempo com a condição de doença e na 
qual a perda da saúde produz uma repercussão emocional que provoca 
cuidados prolongados por parte da equipe. Compreender por que algumas 
pessoas superam a cronicidade e outras com o mesmo quadro clínico 
tornam-se dependentes e em processo de deterioração global, sem dúvida, 
favorece também a adoção de estratégias preventivas mais adequadas às 
necessidades de nossos pacientes desde as fases iniciais da conduta 
terapêutica. E, mais do que isso, pensamos que compreender os 
mecanismos adaptativos em doenças crônicas permitirá conhecer melhor a 
dor e o sofrimento em outras situações da existência humana (COELHO, 
2001, p.69-70). 
 
As doenças crônicas, como afirmamos anteriormente, podem ser mais 
simples ou mais complexas, ocasionando até risco de morte. Lógico que devido à 
sua gravidade, a equipe de saúde tende a voltar sua atenção para aqueles pacientes 
cujo risco é maior, entretanto, o psicólogo deve se conscientizar que cada caso é 
único, cada pessoa lida de forma singular com sua condição de doente, por isso, a 
vivência de sua doença e a forma de lidar com a mesma varia de indivíduo a 
indivíduo. 
Segundo Coelho (2001), o acompanhamento psicológico de pacientes 
crônicos deixa bastante explícita a relação dos mesmos com a doença. Alguns 
pacientes crônicos lidam com a doença de forma mais tranquila, requerem o mínimo 
possível de atenção por parte dos profissionais de saúde, adaptam bem às 
limitações impostas pela doença. Já outros pacientes, até menos comprometidos 
fisiologicamente que os anteriores, sentem-se muito afetados e dificilmente 
conseguem se adaptar à sua condição, ou seja, vivem na condição de doentes. 
Segundo Coelho (2001), a personalidade do paciente crônico é marcada por quatro 
características marcantes, as quais veremos a seguir: 
• regressão – mesmo que de maneira inconsciente, os profissionais de saúde e 
os familiares desejam que o paciente se torne passivo e regredido, de forma 
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que facilite a realização dos cuidados e a aceitação de sua condição de 
doente. Isso, por outro lado, acaba por contribuir para a cronicidade do 
paciente; 
• passividade – o paciente deixa de ser agente de seu tratamento, passando a 
responsabilidade à equipe de saúde e aos familiares, o que também contribui 
para a cronicidade emocional; 
• dependência – a regressão pode levar o paciente a ficar mais dependente 
que o necessário; 
• sensibilidade às frustrações – os pacientes tornam-se mais vulneráveis a 
ameaças ao seu corpo e à sua autoestima. 
 
De fato, não é qualquer um que se torna doente crônico, no sentido em que 
psicologicamente o entendemos. Os quatro fatores que foram destacados 
formam uma constelação, para que daí resulte esse estado fértil para a 
cronicidade. O paciente sente-se impotente diante do sofrimento, das 
restrições, dos distúrbios e das perdas advindas da doença, a qual se torna 
o foco central da existência do indivíduo e suas repercussões são vividas 
dramaticamente ou com fatalismo por ele. Isso pode lhe provocar a redução 
do campo de relacionamento e um retraimento sobre si mesmo, 
desinteressando-se pelas relações com as pessoas significativas de sua 
vida (COELHO, 2001, p.72). 
 
Como exemplificamos anteriormente, algumas doenças crônicas são 
realmente graves e podem culminar com a hospitalização do paciente. O processo 
de institucionalização pode ser um momento bastante delicado para o paciente 
devido a uma série de fatores e cabe ao psicólogo hospitalar atuar no sentido de 
deixar esse processo menos traumático. Ressalta-se que, dependendo da patologia, 
podem ser necessárias várias idas e vindas ao hospital, variando o tipo de reações e 
respostas emocionais do indivíduo ao processo de hospitalização. 
 
Percebe-se que uma série de sentimentos confusos e dolorosos podem 
acompanhar o indivíduo a partir do aparecimento da doença e ser agravada 
com a internação hospitalar. A internação reforça a condição de 
dependência, que pode ser sentida pelo paciente como agressão, pois se 
encontra sobre o domínio de uma estrutura hospitalar, sob o poder dos 
profissionais de saúde que, muitas vezes, tiram o sentido da autonomia e a 
capacidade de decisão do próprio paciente (DOS SANTOS; SEBASTIANI, 
1996, p.152). 
 
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Observa-se na citação anterior como a hospitalização pode reforçar aqueles 
traços de personalidade tão comuns nos pacientes crônicos. 
Durante o curso de uma doença crônica, alguns eventos biopsicossociais 
normalmente acompanham o paciente, como se pode observar a seguir. O 
diagnóstico de determinadas doenças crônicas implica para o paciente a vivência da 
perda do corpo saudável e de funcionamento normal. No início do tratamento, é 
comum que os pacientes sejam assistidos pelos amigos, porém, com o passar do 
tempo e as limitações do tratamento ou a volta das pessoas à rotina normal, o 
isolamento social do paciente pode ocorrer. Outros eventos adversos que também 
costumam ser observados são a perda do emprego, que implica numa alteração da 
dinâmica familiar, a qual passa a contar com menos recursos financeiros que outrora 
(DOS SANTOS; SEBASTIANI, 1996). 
 
Sabe-se que a doença para o indivíduo torna-se o lugar central em sua 
existência provocando desinteresse e retraimento sobre si mesmo, 
desinteressando-se pelas relações com os outros que anteriormente eram 
importantes em sua vida. No hospital, o paciente encontra-se perto do 
pessoal de enfermagem e médicos sentindo-se protegido contra a morte 
que parece ameaçá-lo muito mais quando está em casa sozinho, ou em 
contato com uma família que não consegue dividir suas preocupações 
(DOS SANTOS; SEBASTIANI, 1996, p.162). 
 
A família ocupa papel de destaque no auxílio da adaptação do paciente à 
condição crônica e tanto como pode contribuir ou prejudicar o estado do paciente, 
também pode ter uma atuação positiva e negativa frente à equipe de saúde. Os 
familiares podem vivenciar diferentes estados emocionais, tais como medo, 
ansiedade, angústia, dentre outros, e é importante que se mobilizem no intuito de 
superar os momentos de crise (DOS SANTOS; SEBASTIANI, 1996). 
Com todo o estresse e as limitações impostas pela doença, o doente 
crônico, geralmente, é encorajado pela equipe de saúde e pela família a levar uma 
vida normal na medida do possível. 
A doença crônica acarreta sentimentos também no profissional que lida 
diretamente com o paciente que sofre, em especial nos casos graves, onde há risco 
de morte: 
 
O diagnóstico de uma doença crônica faz emergir a questão de morte, não 
só do paciente, mas também dos próprios profissionais de saúde, devido ao 
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recuperaçãode dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
fato de saberem estar lutando contra uma doença que dificilmente terá 
como fim a cura. Portanto, observa-se que muitas vezes a relação médico-
paciente é substituída por exames de laboratório, radiografias, 
medicamentos, entre outros, esquecendo-se, assim, que por detrás de um 
diagnóstico há uma pessoa com um nome, uma história e que tem a 
necessidade de entender esse momento de angústia desesperada (DOS 
SANTOS; SEBASTIANI, 1996, p.160). 
 
Para fins didáticos, iremos subdividir o estudo do paciente crônico em três 
partes: dor crônica, doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), doenças crônicas 
infecto-contagiosas. O câncer também é uma doença crônica, mas devido à 
importância dessa doença para os profissionais de saúde, elaboramos uma seção 
que tratará exclusivamente sobre o assunto. 
 
a) Dor crônica 
Como exemplos de condições dolorosas crônicas podemos citar a 
fibromialgia, a enxaqueca, a cefaleia crônica e outros estados dolorosos que podem 
afetar diferentes partes do corpo. Essas duas primeiras patologias já foram 
mencionadas num material anterior, sobre psicossomática e, das mesmas podemos 
inferir que não colocam em risco a vida do paciente, porém geram grande sofrimento 
biopsicossocial. 
No caso da dor crônica, uma investigação ao seu respeito inclui uma série 
de variáveis: biológicas, psicológicas e sociológicas. As várias causas da dor devem 
ser avaliadas (ANGELLOTI, 2001). 
A maneira e a extensão que uma doença crônica pode afetar a vida de uma 
pessoa dependem de características da patologia, intensidade, história, grau de 
limitação associada à mesma, funcionamento emocional pregresso, psicodinâmica 
familiar, rede de apoio social e financeiro, faixa etária do paciente (COELHO, 2001). 
 
O paciente com “dor crônica”, geralmente frequenta o consultório médico 
em um número maior de vezes que os demais, e quase sempre os recursos 
terapêuticos são experimentados sem sucesso [...]. Segundo Barros (1990), 
quando persiste por vários meses ou anos, o paciente com dor crônica 
passa a ter o chamado “comportamento da dor crônica”. Esse paciente 
apresenta características como depressão, isolamento, dificuldades no 
trabalho, no relacionamento familiar, enfim, vive em função da dor (ROCHA, 
2001, p.135). 
 
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A dor crônica se agrava em situações de ansiedade e estresse, de onde é 
possível inferir que se estabelecendo as causas e consequências somáticas e 
emocionais, a dor crônica passa a ser de ordem psicossomática (ROCHA, 2001). A 
depressão é a condição mais associada à dor crônica: 
 
Os pacientes que apresentam alterações psíquicas, particularmente os 
depressivos, geralmente são os que mais queixam de dor. Estudos já 
realizados sobre os aspectos psicológicos desses pacientes demonstram 
que a dor aguda está associada à ansiedade. Pacientes com dor crônica 
apresentam mais sintomas depressivos, mesmo porque, a vivência da dor 
crônica é capaz de produzir no paciente, sentimentos de desânimo e 
tristeza frente a um problema crônico e incurável. Também se considera a 
depressão secundária ao uso prolongado de medicações sedativas e 
narcóticas que serão responsáveis pelo aparecimento de síndromes 
orgânicas do humor. Nesse caso, dor e angústia são termos que muitas 
vezes se confundem nas descrições dos pacientes para seus sintomas, 
revelando que a ligação entre a vivência dolorosa e a afetiva é evidente e 
tem um ponto de vista bastante significante (ROCHA, 2001, p.137). 
 
Segundo Forlenza (1994), em pacientes onde há indícios de transtorno 
mental, é comum a realização da interconsulta psiquiátrica. Uma série de condições 
devem ser investigadas, pois as mesmas podem interferir no quadro doloroso, tais 
como distúrbios do humor, estado de ansiedade, distúrbios somatoformes, psicoses, 
distúrbio factício com sintomas físicos, simulação e abuso e dependência de 
substâncias psicoativas. 
A dor crônica tende a ser menos intensa durante o sono e em situações 
onde o indivíduo está distraído com suas atividades de rotina. Por outro lado, o 
quadro pode interferir na qualidade do sono (FORLENZA apud ROCHA, 2001). 
Num momento anterior do curso, falamos sobre o ganho secundário – a 
interpretação, mesmo que inconsciente, por parte do paciente, de que a dor ou a 
doença lhe trazem algum benefício, como, por exemplo, atenção e afeto. “Muitas 
delas utilizam-se da dor como desculpa para evitar os conflitos dolorosos de sua 
vida” (ROCHA, 2001, p.140). Observa-se que o paciente com dor crônica vive 
constantemente essa situação, a qual torna a sua situação ainda pior: 
 
Os ganhos secundários são formas primitivas de expressão, devido ao fato 
da não aprendizagem adequada, que possibilita um maior agravamento da 
dor. A não-compreenão de tais sentimentos, tanto por parte de pessoas 
inter-relacionadas com o doente, quanto por parte dos profissionais de 
saúde, eleva a intensidade da dor, fazendo com que o paciente aumente 
seus ganhos em busca de maiores cuidados, o que é um grande erro e se 
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torna desumano, acarretando uma péssima qualidade de vida 
(ANGELOTTI, 2001, p.125). 
 
Segundo Rocha (2001), mesmo se tratando de patologias de longo período 
de duração, a dor crônica pode ser controlada através de fármacos (antidepressivos, 
bloqueios anestésicos, analgésicos, psicotrópicos, antineurálgicos), métodos físicos 
(relaxamento muscular e reeducação postural), métodos psicoterápicos (quando a 
expressão emocional frente à dor é muito intensa) e, finalmente, métodos cirúrgicos 
(nas patologias onde há indicação e quando as medidas conservadoras não foram 
satisfatórias). 
Essas diferentes estratégias de intervenção sinalizam que o paciente com 
dor crônica deve ser abordado por equipe interdisciplinar, composta por profissionais 
da medicina, fisioterapia, farmácia, psicologia, dentre outras especialidades que 
possam juntas auxiliar no bem-estar biopsicossocial do paciente. 
 
b) Doenças crônicas não transmissíveis 
Essa categoria de doenças já foi abordada na apostila anterior, quando 
reforçamos o papel ativo do comportamento do indivíduo no aparecimento e na 
prevenção de algumas doenças. Ao mesmo tempo, também enfatizamos a 
possibilidade de atuação do psicólogo em diversos níveis de prevenção junto a 
esses pacientes. Porém, devido à grande prevalência de doenças desse tipo na 
atualidade, faz-se necessário compreender melhor aspectos relacionados a esse 
tipo de doenças e ao paciente que delas sofre. 
Compreendem-se como Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) 
aquelas de longo curso de duração, que não são transmitidas pelo contato direto ou 
indireto com o pacientes contaminados. Não existem vacinas para se erradicar ou 
prevenir essas doenças; as medidas preventivas existentes são menos eficientes em 
pessoas de baixo nível sócio-econômico e educacional. Poucas opções de 
tratamento eficaz, incuráveis, muitas delas associadas ao avanço da idade. 
Exemplos: diabetes, câncer, hipertensão arterial, lúpus, insuficiência renal crônica, 
Alzheimer, entre outras. 
Uma parte desse material será destinada à oncologia, portanto, aqui iremos 
enfatizar doenças como, por exemplo, hipertensão arteriale diabetes. Optamos por 
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abordar essas doenças já que o estudo das mesmas associa-se ao estudo da 
epidemiologia e é importante que o psicólogo compreenda um pouco desse tema, 
visto que irá lidar em setores de saúde. 
 
• Noções de epidemiologia 
Define-se epidemiologia como: o “estudo da distribuição e as determinantes 
das condições ou eventos relacionados à saúde em populações específicas e a 
aplicação deste estudo no controle dos problemas de saúde” (CHOW; WILMORE, 
1984 apud POWERS; HOWLEY, 2000, p.256). 
Assim, a epidemiologia é utilizada para estabelecer a causa da doença (e 
assim adotar-se estratégias de prevenção); para se traçar a história natural de uma 
doença; para descrever o estado de saúde de determinadas populações e para 
realizar uma intervenção (POWERS; HOWLEY, 2000). 
É importante conhecer o perfil epidemiológico da população para que o 
Estado possa desenvolver políticas de promoção à saúde. No Brasil: 
 
A Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) tem como objetivo geral 
a promoção da qualidade de vida e redução da vulnerabilidade e riscos à 
saúde relativos aos seus determinantes e condicionantes. [...] Com esses 
dados, pode-se desenvolver uma política mais adequada à população. 
Como exemplo, tem-se a atual política pública denominada Plano de Ações 
Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não 
Transmissíveis (DCNT) no Brasil (MANTOAN, 2015, p.58). 
 
Segundo Powers e Howley (2000), nos EUA, nos últimos 100 anos, a 
principal causa de morte deixou de ser as doenças infecciosas, como a tuberculose 
e a pneumonia, passando a ser as doenças degenerativas, como o câncer e as 
doenças cardiovasculares. Essas últimas são multicausais, podendo-se destacar 
fatores genéticos (não podem ser modificados, são inatos), ambientais e 
comportamentais (esses dois últimos podem ser modificados pelo indivíduo). 
Os autores mencionados costumam falar em uma rede de causas, já que os 
denominados fatores de risco interagem entre si, além disso, vale a pena destacar 
que é de extrema importância o desenvolvimento de programas de prevenção 
voltados à saúde pública para que a população se eduque e se torne responsável 
pela sua própria saúde. Importante destacar que algumas dessas doenças 
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degenerativas podem ter seu início retardado ou impedido se alguns fatores 
ambientais ou comportamentais forem modificados. 
 
Figura 1 : Modelo epidemiológico que mostra a interação complexa entre os fatores de risco 
associados ao desenvolvimento das DCNT (exemplo: doenças cardiovasculares). 
 
Fonte : Powers; Howley (2000, p.257). 
 
Já definimos os conceitos de epidemiologia e saúde, agora falamos de risco, 
palavra que ouvimos em nosso cotidiano, mas, na epidemiologia, o que é risco? 
Fletcher e Fletcher (2006) mostram que risco, de maneira geral, relaciona-se com a 
probabilidade da ocorrência de um evento adverso. Porém, na epidemiologia, os 
autores ilustram que o termo está relacionado mais especificamente à probabilidade 
de que pessoas expostas a determinados fatores de risco tenham mais 
probabilidade de contrair determinadas doenças do que as pessoas que não foram 
expostas a esses fatores. 
Em relação ao conceito de risco, um estudo de como ocorre o processo de 
adoecimento explica o que é o mesmo e, além disso, associa a cronologia da 
ocorrência da doença aos níveis de prevenção estudados anteriormente. O processo 
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de adoecimento é dividido em três períodos: pré-patogênico, patogênico e desenlace 
(MANTOAN, 2015): 
 
O primeiro, ou pré-doença, é marcado pelos fatores que favorecem o 
indivíduo a resistir ou desenvolver uma doença [...] e incluem: carga 
genética, idade, exposições ambientais, história nutricional, condições 
socioeconômicas e capacidade imunológica. Todos esses fatores compõem 
o risco do indivíduo. Já o período patogênico, que se inicia após a 
exposição do agente desencadeante da doença, pode ser subdividido em 
pré-clínico (antes do aparecimento dos sintomas) e clínico (ou horizonte 
clínico). Após o adoecimento, há quatro desfechos possíveis: o indivíduo 
pode ser curado, permanecer com sequelas, e tornar-se um doente crônico 
ou morrer (MANTOAN, 2015, p.59). 
 
No período pré-patogênico, o nível de prevenção aplicado é a prevenção 
primária, a qual se resume à promoção da saúde (educação em saúde e controle do 
ambiente) e à proteção específica (estratégias como uso de preservativos, 
equipamentos de proteção individual no trabalho e cinto de segurança). No período 
patogênico, as estratégias aplicadas são do nível de prevenção secundária (voltadas 
para a comunidade como um todo ou estratégias individuais). Finalmente, a 
prevenção terciária é voltada aos indivíduos no período de desenlace (sequelas de 
doenças e acidentes: busca da manutenção do equilíbrio físico e social) 
(MANTOAN, 2015). 
Ainda a esse respeito, ao se estudar a epidemiologia do envelhecimento faz-
se um aprofundamento em alguns aspectos epidemiológicos. Práticas atualmente 
consideradas simples como a adoção de medidas de saneamento básico, o 
surgimento dos antibióticos e das vacinas foram responsáveis pelo aumento da 
expectativa de vida e pela mudança no padrão epidemiológico apresentado 
anteriormente: a diminuição das mortes por doenças infectocontagiosas (RAMOS, 
2002). 
A partir dessa transição epidemiológica temos uma nova realidade. 
 
A Transição Epidemiológica é o resultado das variações comportamentais 
dos padrões de morbimortalidade e fecundidade, que determinam 
mudanças na estrutura populacional, ao se processarem as alterações na 
maneira de adoecer e morrer. Laurenti define a Transição Epidemiológica 
como ‘uma evolução gradual dos problemas de saúde caracterizados por 
alta morbidade e mortalidade por doenças infecciosas que passa a se 
caracterizar predominantemente por doenças crônicas não-transmissíveis’ 
(PINHEIRO; FREITAS, CORSO, 2004, p.525). 
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Podemos inferir que a prevenção e a cura das doenças que anteriormente 
dizimava a população não dependiam muito dos próprios indivíduos (apesar de que 
antes da descoberta dos antibióticos e das vacinas, por exemplo, algumas matavam 
em um curto intervalo de tempo). Atualmente, a situação é diferente. Como já foi 
abordado, as doenças que dizimam grande parte da população são as doenças 
degenerativas (ou doenças crônicas não transmissíveis – DCNT). 
Para essas doenças não há vacina, as medidas de saneamento não trazem 
o controle das mesmas, há necessidadede grande participação do indivíduo em seu 
tratamento: mudança de hábitos alimentares, adoção de atividade física regular, 
remédios de uso contínuo, visitas regulares a uma equipe multiprofissional de saúde. 
Em síntese, o paciente passa a ser responsável pelo sucesso de seu tratamento, a 
doença não leva ao óbito num curto prazo de tempo, mas suas complicações 
oneram todo o sistema de saúde. O grande desafio da saúde pública frente a essas 
doenças é ainda maior se levarmos em conta o contingente numeroso de idosos no 
Brasil e no mundo (RAMOS, 2002). 
 
• O portador de DCNT 
Mostramos, de maneira breve, a partir das noções de epidemiologia, como 
as DCNT são responsáveis pela morte de muitas pessoas na atualidade e, por isso, 
são alvo de políticas públicas de saúde, inclusive no Brasil. 
Entretanto, pode parecer estranho darmos tanta ênfase a esse tipo de 
doença, já que muitas pessoas portadoras de doenças como hipertensão arterial e 
diabetes melitus apresentam boa qualidade de vida por terem as doenças sob 
controle. Entretanto, precisamos compreender que nem sempre é o que acontece. 
Essas doenças costumam ser silenciosas, portanto, se o indivíduo não possui o 
hábito de procurar os serviços de saúde em busca de prevenção primária pode 
descobrir que é portador de algum desses males quando o mesmo já está em fase 
mais acelerada. Caso o tratamento não seja feito rigorosamente, as complicações 
dessas doenças podem ser muito graves, até fatais. No caso da hipertensão arterial 
descontrolada podem surgir complicações como outras doenças cardiovasculares 
(acidente vascular encefálico – AVE – e doença arterial coronariana). No caso do 
paciente diabético, caso a doença não esteja sob controle, podem surgir outros 
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agravantes, como insuficiência renal crônica, doenças cardiovasculares, cegueira, 
dentre outras condições também graves. 
A citação a seguir mostra os fatores biopsicossociais envolvidos na etiologia 
desse tipo de doenças: 
 
[...] A hipertensão é resultado da interação entre fatores biológicos, 
psicológicos e sociais. A obesidade, o sedentarismo, o excesso de sal na 
dieta e o estresse demasiado podem produzir hipertensão em pessoas que 
tenham predisposição biológica. A hipertensão também está relacionada 
com a ansiedade e a raiva, especialmente em homens de meia idade 
(STRAUB, 2014, p.253). 
 
Não iremos enfocar nessa seção aspectos referentes ao paciente cardiopata 
e oncológico – casos que requerem a atenção do psicólogo – já que o assunto será 
pormenorizado em outro momento. Ressaltaremos aqui alguns aspectos referentes 
ao paciente diabético. Assim como acontece com outras doenças crônicas, o 
diabetes pode ser ocasionado por uma série de fatores, dentre eles a 
hereditariedade, a má nutrição, o sedentarismo e o estresse. Esse último fator é da 
nossa área de interesse. 
 
Foi sugerido que o estresse possa ser um fator precipitante do diabetes tipo 
I e do tipo II, sobretudo entre indivíduos com forte história familiar da doença 
(SERPA et al. 2005 apud STRAUB, 2014, p. 280). 
 
Conforme Weisli (et al., 2005 apud STRAUB, 2014), 
 
As pessoas que já foram diagnosticadas como portadoras de diabetes, 
assim como aquelas que possuem alto risco da doença, também reagem a 
estressores de laboratório e ambientais com mudanças muito maiores em 
seus níveis de glicose no sangue do que indivíduos que não têm risco de 
diabetes (WEISLI et al., 2005 apud STRAUB, 2014, p. 280). 
 
De acordo com Straub (2014), 
 
[...] De maneira indireta, o estresse também promove o desenvolvimento da 
doença, afetando de forma adversa a dieta do indivíduo, seu nível de 
adesão a tratamento e tendência a fazer exercícios (STRAUB, 2014, p.280). 
 
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recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
Assim, como explícito na citação anterior, torna-se evidente que o estresse é 
um dos fatores que pode contribuir para o surgimento da diabetes, assim como 
agravar a doença quando a mesma já se instalou. 
Já que o estresse é um dos fatores de risco para o diabetes, é 
compreensível que o psicólogo é um importante profissional que irá atuar na equipe 
multiprofissional direcionada a diversos níveis de prevenção no paciente diabético. 
Apenas deixamos claro que o sucesso do tratamento da diabetes – doença crônica – 
está diretamente associado a esses fatores. 
 
O conhecimento, as crenças e o comportamento dos pacientes afetam 
muito a capacidade de lidar com a doença e o impacto que ela tem em cada 
domínio da saúde. Isso torna o papel do psicólogo da saúde particularmente 
importante no cuidado e no tratamento de pessoas com diabetes [...] 
(STRAUB, 2014, p.281). 
 
Em síntese, o doente deseja ser do jeito que era antes do aparecimento de 
sua doença crônica, já que esta tira sua liberdade e seu autocontrole. Porém, para 
estas doenças que não há possibilidade de recuperação, cabe ao paciente o esforço 
para se adaptar à doença, ou seja, se reestruturar para poder viver, na medida do 
possível, com qualidade, apesar das perdas e limitações impostas pela doença. Isso 
inclui, por exemplo, uma dieta regrada, o uso de medicações, inclusão de exercícios 
físicos em sua rotina, abster-se de álcool e fumo, limitar sua ingestão de água, 
dentre outras mudanças drásticas. Além dos próprios recursos internos do paciente 
e da intervenção do psicólogo, o suporte social fornecido por parentes e amigos 
também se torna de grande valia. 
 
[...] pesquisas têm mostrado que o fato de possuir apoio social sólido e bons 
recursos pessoais de enfrentamento – junto com a autoestima elevada, 
sensação de domínio e sentimentos de autoeficácia frente às adversidades 
– está associado a menos sintomas de depressão em portadores de 
diabetes (e, da mesma forma, naqueles que têm câncer de pulmão ou 
doenças cardiovasculares) (PHOENIX et al., 1998; ROSAL et al., 2005 apud 
STRAUB, 2014, p.281). 
 
c) Doenças infecto-contagiosas 
São doenças causadas por um agente biológico (por exemplo, vírus e 
bactéria) e são transmissíveis a partir do contato direto ou indireto com o paciente 
infectado. Exemplos: AIDS, hepatite B e C, tuberculose, hanseníase (lembrando-se 
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de que as duas últimas são curáveis após um tratamento prolongado e todo o 
tratamento é custeado pelo SUS). Num outro momento desta apostila serão 
enfatizados aspectos relativos à AIDS. 
Além de saber que se tem uma patologia grave, com risco de morte e 
mudança significativa em sua qualidade de vida, este paciente ainda vive com a 
sensação de que pode contaminar as pessoas ao seu redor. Este sentimento é 
agravado devido ao preconceito que muitas pessoas ainda têm – preconceito muitas 
vezes justificado pela falta de informação – o que contribui para o isolamento social 
do paciente. 
Em estudo realizado com pacientes portadores de hanseníase, Almeida e 
colaboradores (s.d.) puderam perceber que a doença causa um grande impactono 
cotidiano do paciente, os quais manifestam diversos sentimentos, tais como raiva, 
tristeza, culpa, medo, aversão e preconceito em relação à doença. O preconceito e o 
estigma que a doença ainda acarreta prejudicam ainda mais o estado psicológico do 
paciente. 
Atualmente, com os tratamentos existentes e o prognóstico favorável, 
observa-se que o preconceito ocorre em decorrência da falta de informação que 
ainda impera em relação à hanseníase. Os portadores da doença também relatam 
mudanças em sua rotina após a descoberta da doença, como a ida mensal à 
unidade de saúde para buscar os remédios, o que gera curiosidade nas pessoas e 
consequente constrangimento em ter que expor a situação. 
O psicólogo que irá atuar em unidades de saúde que prestem atendimento a 
esses pacientes deve se lembrar de que ele não pode discriminar nenhum deles, 
independente de seu estado de saúde. Ele precisa usar os equipamentos de 
proteção individual e coletiva adequados para cada situação (quando for o caso, 
quando, por exemplo, ao lidar com o paciente tuberculoso na fase da doença em 
que há risco de contaminação, por isso se faz essencial o uso de máscara 
adequada), manter seu cartão de vacinas atualizados, mas precisa tomar cuidado 
para não passar para o paciente a ideia de que está discriminando o mesmo, ou que 
tem medo dele. Essa visão discriminatória já costuma acontecer na comunidade e 
torna-se ainda mais grave quando provém de um profissional da área da saúde. 
 
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d) Atuação do psicólogo junto ao paciente crônico 
 
O Psicólogo Hospitalar que trabalha com o paciente portador de doença 
crônica atuará junto ao Ser Doente no sentido de resgatar sua essência de 
vida que foi interrompida pela ocorrência do fenômeno doença. Além disso, 
ele se baseia numa visão humanística com especial atenção aos pacientes 
e familiares. A psicologia hospitalar considera o ser humano em sua 
globalidade e integralidade, única em suas condições pessoais, com seus 
direitos humanamente definidos e respeitados (DOS SANTOS; 
SEBASTIANI, 1996, p.171). 
 
A citação anterior sintetiza a atuação do psicólogo hospitalar junto ao 
paciente crônico. Ao lidar com essas pessoas, deve-se buscar conhecer ao máximo 
possível a doença, suas causas, complicações, tratamentos, pois, além da escuta 
clínica, o profissional deve estar preparado para atuar visando à educação em saúde 
do paciente. 
Straub (2014) pontua que uma das tarefas do psicólogo da saúde é buscar 
aumentar a adesão do paciente ao seu tratamento. Nas doenças crônicas, pode-se 
ressaltar que a conscientização de que o tratamento (que pode incluir 
medicamentos, dietas, abandono de hábitos não saudáveis) pode ser vitalício, deixa 
o paciente ainda mais desesperançoso. Em alguns casos, a depressão pode surgir 
e, assim como a outra doença, essa também necessita de tratamento. 
As intervenções direcionadas ao paciente crônico podem incluir a família, 
como é expresso na citação a seguir: 
 
O Psicólogo Hospitalar junto ao paciente portador de doença crônica 
procurará estudar e compreender o indivíduo enquanto um ser que adoece, 
situação esta permeada de sofrimento físico e psicológico, ser portador de 
doença crônica gera sérios problemas, conflitos, angústia em nível 
existencial, tanto para o paciente, como também para seus familiares. O 
paciente portador de doença crônica necessita de cuidados especiais, 
permanentes durante toda sua vida, sujeitos, muitas vezes, a tratamentos 
rigorosos e de custos elevados. Dependendo do tipo de tratamento ao qual 
o doente está sendo submetido, solicitará uma adaptação aos 
procedimentos e contatos com a equipe de saúde, modificando toda uma 
estrutura de vida pessoal e familiar já existente (DOS SANTOS; 
SEBASTIANI, 1996, p.160). 
 
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2.2 Doenças agudas 
a) Definição 
Ao contrário da doença crônica, que possui longa duração, uma doença 
aguda ocorre de maneira súbita, possui causa definida e sua duração não ultrapassa 
três meses. Assim, observa-se que seu curso acontece num curto período de tempo, 
podendo ceder, culminando com a total cura do paciente, ou pode evoluir 
brevemente para o óbito. Como exemplos podemos citar: gripe, traumatismos, 
intoxicação alimentar, hemorragias, infarto, dengue, dentre outras. 
Devido a esse início tão rápido e às vezes tão devastador, como no caso de 
um sério trauma decorrente de um atropelamento, observa-se que as equipes de 
saúde costumam voltar todos os seus esforços no sentido de manter o paciente vivo, 
ou seja, a preocupação volta-se para o corpo, deixando de lado o modelo 
biopsicossocial tão enfatizado aqui. Claro que isso é justificável, visto que há muitos 
casos onde realmente há iminência de morte e o foco principal é a vida do paciente. 
Porém, o psicólogo hospitalar deve refletir sobre as implicações psicológicas da 
doença aguda no paciente, sua família e mesmo em toda a equipe de saúde. 
 
b) Implicações emocionais das doenças agudas e a at uação do 
psicólogo em unidades de urgência 
 
Segundo Coelho (2001): 
 
Durante uma enfermidade clínica aguda, questões psicológicas não 
constituem a preocupação principal da equipe de saúde. Porém, em 
algumas situações, as reações emocionais não podem ser adiadas. 
Portanto, necessário se faz auxiliar o profissional da saúde a compreender 
um pouco dos problemas que podem ser apresentados pelo paciente 
durante uma enfermidade aguda (p.74-75). 
 
Tendo em vista a citação anterior, compreendemos que, mesmo nos casos 
de doença aguda, em contextos de urgência e emergência questões psicossociais 
do paciente e de seus familiares vêm à tona e é importante que o psicólogo 
hospitalar consiga desenvolver seu trabalho nesse espaço marcado pela pressa e 
pela angústia: os prontos-socorros ou setores de urgência e emergência dos 
hospitais. 
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Segundo Simonetti (2004 apud SASSI; OLIVEIRA, 2014, p.99-100), 
 
O Pronto Socorro é um ambiente hospitalar direcionado ao tratamento das 
emergências médicas, tendo como propósito o equilíbrio das funções vitais 
do paciente e o alívio da dor. O autor descreve emergências, como 
situações clínicas em que a vida dos usuários hospitalares encontra-se em 
circunstâncias de risco imediato, exigindo-se por parte da equipe de 
profissionais tratamento imediato (SIMONETTI, 2004 apud SASSI; 
OLIVEIRA, 2014, p.99-100). 
 
O psicólogo deve estar preparado para lidar com a urgência subjetiva do 
paciente, ou seja, aquilo que ele julga como mais urgente dentro do seu contexto de 
crise. 
Como já citamos, a enfermidade aguda possui um início abrupto, o que 
ocasiona uma verdadeira ruptura na vida do paciente. Vamos recorrer ao exemplo 
da vítima de acidente (caso fictício). 
Uma mulher jovem, de aproximadamente vinte e poucos anos, estava se 
deslocando de casa para o trabalho. Casada, mãe de um menino de dois anos, 
todos os diasrealizava esse trajeto no mesmo horário e ao final do dia buscava o 
filho na casa dos seus pais (que tomavam conta dele para ela trabalhar), tomava um 
café com eles e ia para a sua casa. 
Lá, dedicava-se aos afazeres domésticos enquanto aguardava a chegada do 
marido. Sua jornada era bastante intensa, costumava reclamar de cansaço, mas 
gozava de boa saúde e era uma pessoa feliz. Nesse dia, ao descer do ônibus não 
viu que outro veículo se aproximava e foi violentamente atingida por ele. Ficou 
desacordada até a chegada do SAMU, que, ao contatarem a gravidade do caso, 
levaram a moça imediatamente para o hospital que presta atendimento às vítimas de 
acidentes de trânsito. No trajeto do local do acidente até o hospital localizaram, 
dentre os pertences da vítima, os contatos de seus familiares, que se desesperaram 
com a notícia e correram até o hospital. 
As reações emocionais dos familiares no momento em que viram a jovem 
foram de pânico, desespero, medo de perdê-la; a mãe, hipertensa, sentiu-se mal e 
também precisou ser socorrida. Quando a vítima do acidente recobrou seus sentidos 
estava na unidade de Pronto Socorro do hospital. Devido à grande dor, estava com 
dificuldade em falar, mas ao perceber como vários profissionais realizavam uma 
série de procedimentos direcionados a ela e, de longe, ver seu marido chorando, 
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imaginou que algo grave havia acontecido. Começou a chorar, porém parecia que a 
equipe de saúde não se preocupava com o seu choro, com o seu desespero, 
apenas em fazer os procedimentos necessários e encaminhá-la para o centro 
cirúrgico. Nesses breves momentos pensava no filho pequeno que estava na casa 
dos seus pais; se iria sobreviver; se sobrevivesse, se restariam sequelas; se o 
acidente havia deixado seu rosto desfigurado; se conseguiria trabalhar como 
professora de educação física depois desse trauma. 
O relato fictício de uma situação comum nas grandes cidades e em hospitais 
mostra claramente como o foco da equipe de saúde é a vida do paciente, mas como 
esse e a família sofrem por não terem também um cuidado emocional. Ampliando 
nossa linha de raciocínio, não apenas para a vítima de acidente, mas também para a 
vítima de um ataque cardíaco, ou de outra condição aguda grave, observa-se que: 
 
Para Brewster (1992 apud COELHO, 2001, p.75), 
 
a primeira tarefa psicológica que o indivíduo tem de realizar é reconhecer, 
para si próprio e para os outros, que está enfermo, a segunda é de permitir 
a si mesmo depender dos outros para assistência e a terceira, à medida que 
sua condição melhorar, tem de reassumir o funcionamento normal. Os 
indivíduos podem ter dificuldade em qualquer uma dessas três fases, ou em 
todas elas (COELHO, 2001, p.75). 
 
Ou seja, a citação mostra que o indivíduo pode manifestar dificuldades de 
adaptação em diversas fases do curso de uma doença aguda. Adaptação é uma 
tarefa psicológica e o psicólogo pode auxiliar o paciente a lidar com a situação em 
diferentes momentos. Mesmo que num momento inicial – como no exemplo anterior 
– quando o foco realmente precisa ser a sobrevida do paciente após um evento 
grave, talvez não haja espaço para uma intervenção psicológica naquele contexto, 
mas passado o período inicial de crise, é possível intervir no sentido de promover 
apoio ao paciente e aos seus familiares (esses devem ser acolhidos desde o 
momento inicial). 
 
Para tanto, é importante destacar que os aspectos psicológicos estarão 
sempre influenciando diretamente o processo de saúde-doença, de forma 
visível ou não. Porém, cabe ressaltar que, infelizmente, os aspectos 
psicológicos não são alvo das ações médicas no momento em que o 
paciente chega ao Pronto Socorro, fazendo com que as intervenções 
psíquicas se fundamentem como opções secundárias diante das 
emergências. Nesse sentido, é importante ressaltar que o atendimento 
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psicoterápico emergencial no pronto socorro é feito pelo profissional 
psicólogo em uma espécie de “momento dois”, sendo o “momento um” o 
atendimento médico (SIMONETTI, 2004 apud SASSI; OLIVEIRA, 2014, 
p.100). 
 
O paciente pode apresentar alguns mecanismos adaptativos para lidar com 
a situação de crise, a qual suscita muito medo. Como vimos no início desse curso, 
os mecanismos de defesa auxiliam a proteger o ego de ameaças à sua integridade. 
Segundo Coelho (2001), um mecanismo muito adotado é a negação e este se 
mostra um problema, já que o paciente realmente se protege emocionalmente da 
ansiedade decorrente da doença aguda, porém, ao mesmo tempo, afasta-se da 
realidade. O paciente pode não reconhecer que está doente e não aceitar 
tratamento. O psicólogo, nesses casos, é de grande importância: 
 
A abordagem do paciente que está usando acirradamente esta defesa deve 
ser a persuasão, oferecendo informações paulatinamente para que ele 
funcione com o princípio da realidade. Tentativas de confrontação direta, 
com grande número de informações, podem aumentar o medo subjacente e 
a necessidade de negação (COELHO, 2001, p.76). 
 
Ainda segundo a autora, outros mecanismos de defesa que costumam 
aparecer nesses quadros são o deslocamento, a racionalização, o isolamento do 
afeto e a supressão. Esses mecanismos de defesa costumam ser a estratégia que o 
paciente necessita para enfrentar a internação. 
 
Ele pode descrever com exatidão os sintomas e seu provável diagnóstico, 
mas mantém o impacto emocional fora da percepção (isolamento do afeto); 
alguns acreditam que a hospitalização proporcionará um repouso muito 
necessário (racionalização), outros podem atribuir uma dor de enfarto a um 
desconforto gástrico, tomam um antiácido e depois chamam o médico 
(deslocamento) e há aqueles que são conscientes da enfermidade, mas 
procuram manter essa percepção fora de vista, a não ser que sejam 
lembrados (supressão) (COELHO, 2001, p.76). 
 
Observa-se que esses mecanismos de defesa descritos não são específicos 
das situações de doenças agudas. Como apresentamos os mesmos no início do 
curso, são mecanismos que lançamos mão com frequência em nosso cotidiano e 
nos auxiliam a manter a integridade do ego. Entretanto, no caso de doenças agudas, 
como foi bem enunciado na citação anterior, os mesmos podem ser ainda mais 
intensificados. 
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Apresentaremos agora duas condições muito comuns em pacientes que 
sofreram de alguma doença aguda, porém ambas não serão mais detalhadas aqui, 
pois serão o foco de outro momento desse curso: o ataque de pânico e o estado de 
confusão mental e agitação psicomotora. 
Sintoma bastante comum na atualidade, o transtorno de pânico pode ocorrer 
em casos de doenças agudas, mas não é específico desse tipo de patologia. Em 
alguns pacientes, observa-se a ocorrência de um desses episódios frente a 
determinadas situações, como, por exemplo, de grande estresse. Já em outros 
pacientes os episódios de pânicotornam-se recorrentes, chegando a limitar as 
atividades de vida diária do paciente. Nesse caso, já se fala em transtorno de 
pânico. Nas doenças agudas, falaremos sobre episódios de pânico, os quais estão 
visivelmente associados a uma situação de crise, estresse, não como um transtorno 
generalizado. 
 
Episódio de pânico (ansiedade paroxística episódica). Ataques recorrentes 
de ansiedade grave (pânico), imprevisíveis, tendo como sintomas 
dominantes: início súbito de palpitações, dor no peito, sensações de 
choque, tontura e sentimentos de irrealidade (despersonalização ou 
desrealização) são comuns. Quase irremediavelmente há um medo 
secundário de morrer, perder o controle ou ficar louco. Um ataque de pânico 
com frequência é seguido pelo medo persistente de ter outro ataque 
(COELHO, 2001, p.76). 
 
O psicólogo hospitalar precisa diferenciar a ansiedade normal ao processo 
de doença aguda do episódio de pânico, caracterizado na citação anterior. A 
intervenção psicológica torna-se indispensável quando a ansiedade chega a níveis 
tão excessivos capazes de interferir em procedimentos realizados pela equipe de 
saúde: anamnese, procedimentos diagnósticos e monitorização. Pode interferir até 
mesmo no funcionamento do organismo, induzindo a labilidade autonômica (por 
exemplo, fazendo com que o paciente perca o controle de seus esfíncteres), 
provocando arritmias ou complicações respiratórias. O controle dessa crise inclui a 
sustentação emocional – proporcionada pelo psicólogo e a parte farmacológica – 
responsabilidade do médico (COELHO, 2001). 
 
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O suporte emocional começa com a compreensão de que o pânico emerge 
porque o paciente teme que não venha a ser capaz de enfrentar certos 
eventos no futuro imediato ou distante. O psicólogo precisa buscar o 
enunciado específico daquilo que o paciente receia acontecer. Respostas 
vagas não devem ser aceitas, mas sim perseguidas. Se o paciente 
simplesmente responder que tem medo de morrer, o psicólogo deve 
procurar determinar o significado desse termo para esse paciente nesse 
exato momento. Conhecendo os mecanismos inconscientes que alimentam 
o pânico e este tende a diminuir e a ansiedade fica sob controle (COELHO, 
2001, p.76-77). 
 
Segundo a mesma autora, o episódio de pânico que ocorre nessas situações 
pode ser muito intenso, extremo, deixando o paciente irracional, combativo e 
delirante, por isso, em situações assim, costuma se fazer necessário que o médico 
prescreva a administração antipsicótica para contornar a situação. “[...] empregam 
vigilância aumentada para proteger-se contra ameaças imaginadas; quando 
sedados, sentem-se ainda mais apavorados, tornando-se suspeitosos, confusos e 
hostis” (p.77). 
A intervenção psicológica é muito importante para buscar contornar a 
confusão mental. Nesses casos, a colaboração de um membro da família, de 
confiança do paciente, com o intuito de contornar a situação, tranquilizá-lo e auxiliar 
a contornar suas percepções distorcidas da realidade se faz imprescindível 
(COELHO, 2001). 
Em síntese, nesses contextos, o psicólogo deve trabalhar a urgência 
subjetiva do paciente de forma a proporcionar a ele e a seus familiares um pouco de 
conforto mesmo diante de situações de angústia, dor e sofrimento: 
 
 
Portanto, é importante ressaltar que ao oferecer atendimento psicológico 
através do acolhimento e da escuta ao paciente e sua família, tanto no 
Pronto Socorro ou em qualquer outro local no ambiente hospitalar, pode-se 
dizer que o psicólogo contribui de maneira significativa no alívio dos 
sintomas de situações inesperadas advindas do adoecimento, melhorando a 
qualidade de vida dos pacientes, de seus familiares e da equipe de 
profissionais da saúde (SASSI; OLIVEIRA, 2014, p.106). 
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UNIDADE 3 – ONCOLOGIA 
 
3.1 O que é câncer 
Dado ao numeroso contingente de pessoas com câncer na atualidade, é 
imprescindível abordar esse tema num curso da área da saúde, em especial de 
psicologia hospitalar, já que esse profissional faz parte da equipe multidisciplinar que 
visa cuidar do paciente numa abordagem biopsicossocial. 
É uma doença crônica (não abordamos essa patologia na seção destinada a 
esse tipo de doença, pois, devido à sua importância, é nosso objetivo fazer uma 
seção sobre o tema), atualmente, já há cura para vários tipos de câncer, diversos 
tratamentos, mas ainda é responsável pela mortalidade de muitos pacientes. 
O câncer é uma “doença democrática”, pois afeta pessoas de ambos os 
sexos, de todas as faixas etárias, diferentes condições socioeconômicas. Os 
impactos da doença não atingem apenas o corpo, mas as dimensões 
biopsicossociais e espirituais nas quais o paciente encontra-se inserido. Os impactos 
psicossociais da doença atingem o paciente, seus familiares e todo o círculo de 
pessoas ao seu redor. 
Falamos que é grande a quantidade de pacientes oncológicos no Brasil, 
porém não especificamos os números da doença. Para termos uma real ideia do 
panorama da doença em nosso país, a figura a seguir, extraída da Estimativa de 
incidência de Câncer no Brasil realizada pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA, 
2014) ilustra a distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes 
estimados para 2014 por sexo, exceto pele não melanoma: 
 
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Figura 2 : Estimativa dos dez tipos de câncer mais incidentes por sexo 
 
Fonte : INCA (2014). 
 
Muito ouvimos falar sobre o câncer, desde as conversas de família até 
quando lemos notícias científicas que mostram resultados promissores de novos 
tratamentos, diagnósticos e procedimentos que visam à prevenção e a cura da 
doença, porém, como o câncer surge? Sabemos que o câncer não é uma doença 
infectocontagiosa, como muitas outras que estudamos anteriormente, porém a falta 
de informação ainda faz com que muitas pessoas ajam com total discriminação aos 
pacientes oncológicos, afastem-se dos mesmos, como se tivessem medo de serem 
contaminados pela doença. Assim, para o profissional da psicologia torna-se 
essencial entender brevemente o que é o câncer e de que ele provém: 
 
Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em 
comum o crescimento desordenado de células, que invadem tecidos e 
órgãos. Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito 
agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores malignos, 
que podem espalhar-se para outras regiões do corpo. As causas de câncer 
são variadas, podendo ser externas ou internas ao organismo, estando 
inter-relacionadas. As causas externas referem-se ao meio ambiente e aos 
hábitos ou costumes próprios de uma sociedade. As causas internas são, 
na maioria das vezes, geneticamente predeterminadas, e estão ligadas à 
capacidade do organismo de se defender das agressões externas. Os 
tumores podem ter início em diferentes tipos de células (INCA, s.d., s.p.). 
 
Como mencionadona citação anterior, os fatores de risco podem ser 
externos ou internos. Dentre os externos, podem-se destacar o tabagismo, os 
hábitos alimentares, o alcoolismo, hábitos sexuais, medicamentos, fatores 
ocupacionais e radiação solar. Já dentre os fatores internos, os fatores de risco 
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incluem a hereditariedade e fatores étnicos. Importante destacar que são raros os 
casos de câncer provenientes apenas de fatores hereditários, fala-se da inter-
relação entre os fatores (INCA, s.d). 
Como já enfatizamos em vários momentos desta apostila, há muitos indícios 
de que várias doenças podem ter como fatores de risco fatores passíveis de 
mudanças, assim como ocorre com o câncer. 
Devido ao grande índice de mortalidade associada à doença ao longo do 
percurso histórico, ainda hoje, muitas pessoas apresentam muitos receios 
relacionados a ela, muitos se recusam a falar a palavra “câncer” com medo de atrair 
a doença para si; outros, se souberem que têm a doença, comportam-se como se 
tiverem recebido uma verdadeira sentença de morte; outros, mesmo sabendo que a 
prevenção e o tratamento precoce são preditivos de maiores chances de cura, se 
recusam a fazer exames por acreditarem que “não se pode mexer em quem está 
quieto” ou “quem procura muito acaba achando algo”. Atualmente, todos nós 
conhecemos alguém que teve câncer, que se curou da doença, que faleceu em 
decorrência dela, por isso, no imaginário popular, muitas crenças são disseminadas, 
sem sempre verdadeiras. Em relação à morte relacionada ao câncer podemos 
observar que: 
 
O homem não tende a encarar abertamente seu fim de vida na Terra; só 
eventualmente e com certo temor é que lançará um olhar sobre a 
possibilidade de sua própria morte. Uma dessas ocasiões é a consciência 
de que sua vida está ameaçada por uma doença. O fato de um paciente ser 
informado de que tem câncer já o conscientiza de sua possível morte. As 
pessoas costumam relacionar o tumor maligno com doença fatal. Para 
muitos, é uma doença fatal, mesmo com um número crescente de curas 
reais ou remissões significativas (MORAES, 2001, p.57). 
 
A questão da morte e da terminalidade é de grande interesse do psicólogo 
hospitalar e da saúde, profissional que precisa estar preparado para lidar com essas 
questões diretamente com o paciente e com os seus familiares. Não iremos 
aprofundar o tema nesta apostila para não sermos tendenciosos e pessimistas e 
parecer que também reproduzimos a ideia de que o câncer necessariamente evolui 
para o óbito, antecedido por um período crítico onde o paciente terminal “aguarda a 
sua morte passivamente”. Sabemos que a morte é a única certeza na vida do 
indivíduo desde o nascimento e que ela pode vir em decorrência de uma série de 
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doenças (não apenas o câncer), acidentes, dentre outras condições. Assim, nesse 
momento fica apenas esta reflexão sobre a morte. 
Alguns autores consideram o câncer uma doença psicossomática. Em outro 
momento deste curso, demos uma considerável ênfase a este tipo de doença, mas 
não citamos o caso do câncer, visto que essa doença seria abordada nesse 
momento. Estudos na área apontavam alguns estados emocionais que aparecem 
como fatores de risco para o desenvolvimento dessa patologia. 
 
A literatura documenta a associação entre uma postura defensiva particular, 
envolvendo a supressão de afetos, principalmente agressivos, a evitação de 
conflitos e o desenvolvimento de malignidade, estando incluídas entre essas 
formas malignas, os cânceres de mama e os ginecológicos (DORIAN & 
GARFINKEL, 1987). 
 
Pesquisas recentes com sujeitos afetados por câncer de mama apontam, na 
história das mulheres, questões associadas a acontecimentos traumáticos, 
lutos não elaborados, empobrecimento de representações e de capacidade 
associativa de idéias (CUNHA, 1996, 1998; JASMIN et al. 1990; LISBOA, 
2005; LISBOA & FÉRES-CARNEIRO, 2005; MARTY, 1998; STORA, 1999; 
VOLICH, 1998 apud FILGUEIRAS et al., 2007, p.551). 
 
Essa relação entre o câncer e o estado emocional do indivíduo parece ser 
bem antiga. Em 1854, Galeno observou que situações de perda, de luto, aparecem 
como fatores de risco para o câncer (HISADA, 2003). Le Shan (1995) detectou em 
pacientes oncológicos: 
 
perda de uma relação significativa antes do início da doença; incapacidade 
de expressar sentimentos hostis; importante tensão em relação a uma figura 
parental; sentimentos de desamparo e desesperança (HISADA, 2003, p.84). 
 
Numa pesquisa sobre a avaliação dos aspectos psicossomáticos 
subjacentes ao câncer de mama Filgueiras e colaboradores (2007) investigaram se 
há algum tipo de correlação entre aspectos familiares, em especial relacionados à 
função materna, e o posterior surgimento da doença. Nesse sentido, as autoras 
perceberam que: 
 
Dito de outro modo, o câncer de mama, que pode se apresentar em um ou 
mais membros de uma família, estaria relacionado, em última instância, à 
falha da função materna internalizada pelo sujeito, a qual, apresentando-se 
deficiente, em maior ou menor grau, no grupo familiar, dificultaria a 
construção de um espaço psíquico de regulação e elaboração de conflitos 
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eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e 
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
e, em última instância, um terreno propício ao adoecimento somático 
(FILGUEIRAS et al., 2007, p.556). 
 
Considerar a importância dos aspectos emocionais no surgimento do câncer 
e evolução do mesmo se faz muito importante. Porém, ressaltamos novamente que 
não podemos deixar de levar em consideração que, segundo o INCA (sd.), esta é 
uma doença complexa e sua causa dificilmente se reside em apenas um fator, mas 
em vários deles que se inter-relacionam. Além disso, precisamos tomar cuidado com 
interpretações que culpabilizam exclusivamente o paciente – ou um membro da 
família – como no caso da pesquisa de Filgueiras e colaboradores (2007) que 
investiga a função materna – visto que generalizações como essas podem deixar a 
autoestima do paciente e do familiar ainda pior por terem que lidar com a culpa de 
“uma doença que ele mesmo procurou”. Sabemos que o paciente oncológico não 
deseja adoecer de forma consciente, por isso, é importante trabalhar essa culpa 
desnecessária. 
Uma boa relação médico-paciente se mostra indispensável na abordagem 
do tratamento do câncer, seja em qualquer etapa do tratamento: diagnóstico, 
cirurgia, quimioterapia, radioterapia e acompanhamento pós-tratamento 
(YAMAGUCHI, 2003). Para fins didáticos alguns desses tipos de tratamento serão 
explicados a seguir: 
 
O tratamento do câncer pode ser feito através de cirurgia, radioterapia, 
quimioterapia ou transplante de medula óssea. Em muitos casos, é 
necessário combinar mais de uma modalidade. 
Radioterapia : tratamento no qual se utilizam radiações para destruir um 
tumor ou impedir que suas células aumentem. Estas radiações não são 
vistas, e durante a aplicação, o paciente não sente nada. A radioterapiapode ser usada em combinação com a quimioterapia ou outros recursos no 
tratamento dos tumores. 
Quimioterapia : tratamento que utiliza medicamentos para combater o 
câncer. Eles são aplicados, em sua maioria, na veia, podendo também ser 
dados por via oral, intramuscular, subcutânea, tópica e intratecal. Os 
medicamentos se misturam com o sangue e são levados a todas as partes 
do corpo, destruindo as células doentes que estão formando o tumor e 
impedindo, também, que elas se espalhem pelo corpo. 
Transplante de medula óssea : tratamento para algumas doenças 
malignas que afetam as células do sangue. Ele consiste na substituição de 
uma medula óssea doente, ou deficitária, por células normais de medula 
óssea, com o objetivo de reconstituição de uma nova medula (INCA, 2014, 
s.d.). 
 
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O psicólogo pode auxiliar o paciente a aderir a essas diferentes modalidades 
de tratamento sem comprometer o seu funcionamento psicológico. Como os 
tratamentos possuem vários efeitos colaterais, porém são bastante eficazes, é 
importante que o psicólogo possa auxiliar o paciente e seus familiares a lidar com os 
mesmos e com os impactos que eles ocasionam em seu cotidiano (GIMENES, 
2003). 
 
3.2 Oncologia e Psiconcologia 
A área responsável pelo cuidado à pessoa com câncer – o paciente 
oncológico ou paciente portador de CA – é a oncologia: 
 
A oncologia é a ciência que estuda o câncer e como ele se forma, instala-se 
e progride, bem como as modalidades possíveis de tratamento. O médico 
que cuida dos aspectos clínicos do paciente é chamado oncologista clínico, 
havendo uma subdivisão dos que cuidam de adultos e outra para os 
envolvidos no tratamento de crianças. Além desses, outros profissionais 
envolvidos no tratamento oncológico são o cirurgião oncológico, o 
radioterapeuta e o psicólogo, que participam de uma equipe multidisciplinar. 
Devido ao campo extenso que cada uma dessas especialidades abrange, é 
impossível um só profissional congregar todo o conhecimento necessário 
para a terapêutica do câncer (YAMAGUCHI, 2003, p.21). 
 
A citação anterior fala apenas das especialidades médicas voltadas ao 
cuidado do paciente oncológico, porém, pensando-se numa abordagem 
biopsicossocial do paciente, faz-se necessária a atuação de uma equipe 
interdisciplinar composta por, além do médico, enfermeiro, psicólogo, fisioterapeuta, 
nutricionista, assistente social, farmacêutico e outros que podem se fazer 
necessários dependendo da situação, tais como fonoaudiólogo, odontologista, 
dentre outros. 
O estresse e a ansiedade decorrentes do câncer não se restringem ao 
paciente e aos seus familiares, mas à equipe de saúde, como expresso na citação a 
seguir: 
 
O contato direto com o câncer e a morte é tarefa altamente ansiogênica. 
Cria, necessariamente, na equipe médica e nos demais profissionais da 
saúde comportamentos defensivos de distinto tipo. Um deles consiste no 
fato de que algumas tensões na equipe médica, que não são explicitadas e 
resolvidas nesse nível, deslocam-se aos demais profissionais de saúde ou 
às relações dos pacientes entre si e com tais profissionais. O médico tende, 
como conduta defensiva, a adotar uma atitude onipotente que cria e 
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fomenta uma falta de comunicação entre os próprios médicos e entre esses 
e os demais profissionais e os doentes (MORAES, 2003, p.59). 
 
Frente a tantas dificuldades de comunicação e relacionamento, muitas vezes 
o psicólogo tem que atuar não apenas com o paciente oncológico e sua família, mas 
também com a equipe de saúde, com o intuito de melhorar a comunicação e o 
relacionamento de ambos. No caso de internação, observa-se que: 
 
Durante a internação, todos os profissionais da equipe da saúde tornam-se 
parte “da família” dessa pessoa, pois o paciente é visto com frequência e 
com intimidade. Temos que enfrentar essa responsabilidade oferecendo 
cuidados e o tipo de apoio afetivo supostamente proporcionados pela 
família. Todos os profissionais devem trabalhar de forma coordenada, 
integrada e consciente para o melhor atendimento das necessidades do 
paciente (MORAES, 2003, p.59). 
 
Vimos até aqui a importância de toda a equipe de saúde na atenção ao 
paciente oncológico, porém, como nosso foco é a psicologia, aqui iremos direcionar 
nosso foco apenas a esse profissional. Fala-se em psiconcologia que consiste em: 
 
 
[...] a Psiconcologia vem dar destaque à identificação do papel de aspectos 
psicossociais, tanto na etiologia quanto no desenvolvimento da doença, à 
identificação de fatores de natureza psicossocial envolvidos na sua 
prevenção e reabilitação, bem como vem incentivar a sistematização de um 
corpo de conhecimento que possa fornecer subsídios tanto à assistência 
integral do paciente oncológico e de sua família como também à formação 
de profissionais de Saúde envolvidos com o tratamento (GIMENES, 2003, 
p.35-36). 
 
A psiconcologia foi ganhando seu espaço no contexto da oncologia a partir 
do momento em que reconheceram que o aparecimento do câncer, sua manutenção 
e remissão são intermediados não apenas por fatores biomédicos, ou seja, os 
fatores psicológicos também merecem destaque nesse contexto. Com os avanços 
médicos e farmacológicos os pacientes oncológicos são mais numerosos e 
sobrevivem por mais tempo, assim o acompanhamento psicológico aos pacientes e 
aos seus familiares torna-se essencial, já que estes precisam de ajuda para lidar 
com os aspectos envolvidos ao diagnóstico de uma doença que suscita ideias de 
morte, sofrimento, solidão, dentre outros sentimentos negativos (GIMENES, 2003). 
 
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Nesse contexto, faz-se necessária a utilização de diferentes procedimentos 
de intervenção de natureza psicossocial, e sua importância começa a ser 
reconhecida por diversos profissionais de Saúde envolvidos com o 
tratamento do câncer (GIMENES, 2003, p.44). 
 
3.3 Como a psicologia pode auxiliar o paciente onco lógico 
Assim como já mencionamos em outros momentos do curso, há vários 
níveis de prevenção e a psicologia pode auxiliar o paciente oncológico através da 
prevenção primária, secundária, terciária e na fase terminal. 
As intervenções psicológicas em nível primário visam à modificação de 
estilos de vida não saudáveis (tabagismo, etilismo, sexo sem proteção), diminuição 
dos níveis de estresse diário a que os indivíduos são expostos e à mudança do 
padrão alimentar. Em nível secundário, o psicólogo atua para educar a população 
para a detecção precoce do câncer. Em nível terciário, a atuação do psicólogo 
consiste em realizar intervenções psicológicas no paciente que está em fase de 
tratamento oncológico (adesão ao tratamento; desenvolvimento de estratégias de 
enfrentamento; controle de estresse, ansiedade, sintomas depressivos; treinamento 
de profissionais de saúde). Finalmente, na fase terminal há a oportunidade de 
atender às necessidades emocionais dopaciente (lidar com a finitude), de seus 
familiares e da equipe de saúde, visto que todos podem ficar abalados pela situação 
(GIMENES, 2003). 
O momento do diagnóstico é bastante delicado e, no Brasil, observa-se que 
os familiares tendem a conversar previamente com o médico, em particular, para 
que o paciente não saiba o que realmente está acontecendo com ele. Alegam que o 
indivíduo pode tentar suicidar-se ou rejeitar o tratamento devido às suas crenças 
negativas sobre a doença. Entretanto, o ideal é contar a verdade, até porque alguns 
tratamentos são exclusivos da oncologia (como a quimioterapia) e a mentira poderá 
não durar tanto. O diferencial é a forma como a notícia é dada ao paciente, além do 
profissional transmitir segurança e dar as informações necessárias (YAMAGUCHI, 
2003). 
Assim como falamos sobre as doenças agudas, ao saber do diagnóstico de 
câncer é comum o paciente lançar mão de diversos mecanismos de defesa que o 
auxiliam a lidar emocionalmente com a doença, com sua nova realidade, com o 
medo da morte. 
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É comum o paciente voltar-se para si mesmo, isolar-se e apresentar 
depressão: 
 
A depressão é traduzida pelo fato de o paciente não conseguir manter uma 
atitude de aceitação interior. Não conseguindo negar a doença, vê-se 
obrigado a reconhecer que tem um câncer, deprimindo-se diante dos 
acontecimentos. Pode aparecer no início da doença ou após a cirurgia e 
outros tratamentos, onde a cada momento ele “se vê obrigado” a novas 
readaptações (MORAES, 2003, p.57). 
 
O paciente oncológico apresenta uma série de medos: como na maioria dos 
casos os impactos da doença no organismo não são visíveis a olho nu é constante o 
temor de as células cancerosas estarem se multiplicando, se espalhando e 
comprometendo ainda mais o funcionamento de seu organismo. Além disso, há o 
medo da morte, da dor, da mutilação, apreensão frente a exames e procedimentos 
até então desconhecidos e invasivos, perda dos objetivos de vida, dos papéis 
sociais até então desempenhados e também o receio de causar sofrimento à família. 
Nos casos onde a internação se faz necessária, todos esses medos são 
potencializados. O afastamento de casa, da família e da rotina suscita no paciente 
vivências de abandono, isolamento, vulnerabilidade e fragilidade. As rotinas 
hospitalares às vezes são invasivas, ferem a privacidade do paciente e interferem na 
sua autonomia (MORAES, 2003). 
Além da depressão, do medo da morte e da apreensão frente aos 
procedimentos e tratamentos que serão utilizados no tratamento do câncer, outros 
sentimentos suscitados no paciente oncológico e em seus familiares mostram-se 
bastante conflituosos e delicados: 
 
De um lado, o paciente não permite que descubram seus verdadeiros 
sentimentos e, por outro, as pessoas à sua volta, familiares, amigos ou 
profissionais, seja por medo, ansiedade ou insegurança, reagem da mesma 
forma. Inicia-se, então, um verdadeiro “esconde-esconde”. Todos se 
escondem atrás de sorrisos forçados, orações preestabelecidas, altas 
tecnologias, linguagens que não têm nenhum sentido, aparelhos 
sofisticados, medicações sedativas, etc. Tudo para não entrarem em 
contato com as angústias que o câncer e a morte despertam (MORAES, 
2003, p.59). 
 
 Frente a essa multiplicidade de sentimentos negativos, contraditórios e 
velados, torna-se evidente que a atuação do psicólogo faz-se essencial nessa 
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recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
equipe multidisciplinar, visando o cuidado do paciente oncológico. Como temos 
ressaltado, os tratamentos e as rotinas hospitalares podem ser muito invasivos e 
resultarem em sequelas emocionais no paciente, assim, torna-se importante que 
façam tudo no sentido de curá-lo do câncer, mas também que ofereçam a ele 
condições de se recuperar do trauma psíquico e seguir sua vida da melhor forma 
possível. 
Até então enfatizamos os medos e receios do paciente relacionados à 
doença em si e à sua evolução para a morte, entretanto, outra questão bastante 
evidente no paciente oncológico, em especial as mulheres, se refere à autoestima. 
Muitos tipos de quimioterapia têm como efeitos colaterais a alopecia (queda dos 
cabelos e pelos corporais), escurecimento das unhas, edema, dentre outros efeitos 
responsáveis por transformar a autoimagem, por isso, é comum os pacientes se 
desesperarem, se isolarem e até mesmo evitarem se olhar no espelho devido a 
esses problemas. A figura a seguir ilustra os efeitos da quimioterapia na imagem do 
rosto da boneca Barbie. Em muitos casos, além da alopecia e edema mostrados na 
figura, há também queda dos cílios e sobrancelhas e palidez. 
 
Figura 3 : Efeitos da quimioterapia 
 
Fonte : Castanheira (2014). 
 
Atualmente observa-se, na mídia em geral, iniciativas voltadas à promoção 
da qualidade de vida da paciente oncológica no sentido de recuperação de sua 
autoestima. Campanhas para a doação de cabelos (para fazer perucas), livros, sites 
e blogs com dicas de beleza para a mulher em fase de quimioterapia, campanhas 
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para a arrecadação de lenços, toucas e chapéus (para serem doados a pacientes 
carentes) são exemplos de iniciativas simples e de grande valia para as pacientes. 
Visitar esses sites costuma ser positivo para a paciente que sente que pode 
melhorar sua autoestima, além de manter contato com pessoas que estão vivendo 
(ou já viveram) a mesma situação que ela. Funciona como os grupos de ajuda 
mútua que abordamos em outro momento do curso e o psicólogo pode estimular, 
nas pacientes oncológicas, a visitação e participação nesses sites. A página 
“Quimioterapia e beleza”, desenvolvida por Flávia Flores, possui depoimentos, dicas 
de beleza, de saúde e espaço para que as mulheres interajam. 
 
Figura 4 : Site “Quimioterapia e Beleza” 
 
Fonte : Flores ( s.d.). 
 
Quando o câncer é de mama há o agravante de uma das intervenções 
utilizadas – a mastectomia, que consiste na retirada total ou parcial da mama 
atingida pela doença – mexer diretamente com um órgão relacionado à sexualidade 
e à feminilidade. Assim, frente à vivência do diagnóstico e tratamento do câncer de 
mama há relatos de casamentos dissolvidos, isolamento social devido ao 
constrangimento pela vivência de mutilação. Por outro lado, nos casos onde há 
apoio por parte da família e da sociedade em geral a mulher vive o processo de 
forma mais tranquila. Uma estratégia utilizada atualmente que auxilia a autoestima e 
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a autoimagem da mulher mastectomizada é a cirurgia de reconstrução da mama – 
cirurgia plásticaque, dependendo do caso, pode ser realizada juntamente com a 
retirada do tumor e diminui, para a mulher, a sensação de mutilação (BIAZZOTI; 
MARTINS, 2007). 
As figuras a seguir mostram mulheres mastectomizadas de diferentes 
formas (explicado nas legendas das mesmas). Sabemos que o câncer de mama, 
quando não há metástase, é altamente tratável e curável, visto que a mama não é 
um órgão vital. Entretanto, através das imagens percebemos como os impactos 
psicossociais dessa intervenção podem ser tão intensos para a mulher e para as 
pessoas que convivem de maneira próxima com ela. Observem também como a 
cirurgia de reconstrução mamária pode amenizar o impacto causado pela 
mastectomia e melhorar a qualidade de vida da mulher que pode, por exemplo, até 
usar maiô ou biquíni sem ser percebida como “mutilada”. 
 
Figura 5 : Paciente submetida à mastectomia total / radical com alopecia devido à quimioterapia 
 
Fonte : BOL (s.d.). 
 
Figura 6 : Paciente submetida à cirurgia de reconstrução mamária (observe também a reconstrução 
da aréola, o que nem sempre ocorre) 
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Fonte : Pedroso et al. (2004). 
 
Importante destacar que, por ser considerada uma intervenção plástica 
reconstrutora, a cirurgia de reconstrução mamária é coberta para as pacientes 
mastectomizadas pelo SUS e pelos planos de saúde. Algumas mulheres sentem-se 
tão traumatizadas após a mastectomia que se recusam a se submeterem à cirurgia 
reparadora (quando não há a possibilidade da equipe médica realizar os dois 
procedimentos ao mesmo tempo). Para que a mastectomia não se torne visível há 
recursos como sutiã com prótese removível ou mesmo tatuagens que modificam o 
esquema corporal da mulher. A reconstrução da aréola costuma ser realizada por 
dermopigmentação – processo parecido ao utilizado pelos tatuadores. 
Como já ressaltamos anteriormente, o papel do psicólogo possui grande 
relevância no cuidado do paciente oncológico, na atenção aos seus familiares e na 
atuação direta com a equipe. Os sentimentos vivenciados pela pessoa que sofre de 
câncer e por todos aqueles diretamente relacionados ao paciente são muito 
intensos, portanto, a escuta psicológica se faz de grande valia. Observa-se, nesse 
sentido, que: 
 
A assistência ao paciente e à sua família pode ser realizada por meio de 
avaliações diagnósticas, orientação e psicoterapia. A atuação do psicólogo 
pode ser na linha teórico-prática de sua especialidade. No que diz respeito à 
metodologia, no entanto, há necessidade de mudanças, adaptações 
técnicas, dadas as condições específicas hospitalares. É o caso, por 
exemplo, das psicoterapias breves, de objetivos determinados e tempo 
limitados, praticáveis em hospitais e que podem ser desenvolvidas com 
diferentes pressupostos teóricos e adaptações técnicas (NEDER, 1991 
apud MORAES, 2003, p.62-63). 
 
A psicoterapia, quanto mais breve, requer mais conhecimentos, experiência 
e cuidados. Nesta, o trabalho do psicoterapeuta deve ser orientado a 
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serviço do ego do paciente e toda referência ou interpretação deve ser 
realizada com cuidado e dirigida a aspectos adultos e construtivos. A 
psicoterapia de apoio é também largamente utilizada no contexto hospitalar. 
O objetivo do apoio é a diminuição da ansiedade e outros sintomas clínicos. 
Pretende modificar pautas de conduta e pensamentos como ensaios de 
novas condutas. A estratégia tende a estabelecer um vínculo orientador, 
protetor e permanente, favorecer a dissociação entre objetos bons e maus. 
O universo do discurso será simples, não interpretativo, não regressivo e 
muito respeitoso (SCHAVELZON, 1992 apud MORAES, 2003, p.62-63). 
 
Quanto à equipe que trabalha com o paciente oncológico, o psicólogo, por 
meio da interconsulta psicológica, chega ao paciente de forma indireta. Por 
exemplo, quando o médico pede ajuda para a comunicação de um 
diagnóstico terminal, este o orienta ao mesmo tempo em que o conscientiza 
da sua própria dificuldade de lidar com o assunto morte. A função do 
psicólogo enquanto interconsultor é a de colaborador na compreensão e na 
dinamização da tarefa assistencial. Ele atua como facilitador da 
comunicação entre os diversos profissionais, o paciente e a família 
(NEDER, 1991 apud MORAES, 2003, p.62-63). 
 
A citação anterior foi muito extensa, porém extremamente necessária por 
explicar claramente como o psicólogo pode atuar visando à qualidade de vida do 
paciente oncológico, sua família e de toda a equipe multidisciplinar que atua na 
instituição de saúde e também se envolve emocionalmente com os dramas 
decorrentes da vivência do câncer. Como foi falado no início dessa subseção, ao 
contrário do que possa parecer, a atuação do psicólogo nessa especialidade, 
ultrapassa os níveis de prevenção terciária e terminalidade. 
O psicólogo tem espaço para atuar nos diversos tipos de prevenção, 
exercendo sua própria linha de atuação, como foi claramente explicitado na citação. 
Na função de interconsulta, o exemplo fornecido pela citação é bastante importante, 
visto que muitos profissionais da equipe de saúde não se encontram 
emocionalmente preparados para dar notícias de agravamento de quadro clínico ao 
paciente e seus familiares ou notícias de falecimento para os familiares. O psicólogo 
é um profissional que pode e deve auxiliar a equipe nesse sentido. 
O tratamento do câncer é muito demorado e o diagnóstico de cura só ocorre 
após muitos anos de investigação diagnóstica que ocorre somente depois de 
encerrado o tratamento. 
Após o tratamento e inicial remissão da doença, o paciente precisa realizar 
exames periódicos para verificar se tudo está evoluindo dentro do previsto e este 
momento costuma ser vivenciado com muita ansiedade por pacientes e familiares, 
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que temem terem que passar por todo o sofrimento novamente (YAMAGUCHI, 
2003). 
Como se pode observar a seguir, a vivência do câncer (diagnóstico, 
tratamento remissão dos sintomas e cura) costuma ocasionar grandes 
transformações do paciente: 
 
Mesmo situações de cura mobilizam muito o paciente, pois somente o fato 
de ele saber que esteve a um passo da inexorabilidade da morte faz com 
que repense sua vida. Se soubermos aproveitar esses momentos de 
catarse, teremos a possibilidade de reconstruir valores juntos e esses 
podem ser momentos de infinito enriquecimento interior, com revisão de 
padrões previamente estabelecidos e descobertas de potenciais inatos 
(YAMAGUCHI, 2003, p.31). 
 
Enfim, a temática da oncologia é muito ampla e, por diversos motivos, 
desperta o interesse de muitos profissionais de saúde. Entretanto, como ainda 
temos muitas situações específicas para abordar vamos nos limitar a essas 
reflexões expostas até aqui. O assunto não se esgota, dessa forma, há muito o que 
ser pesquisado. 
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UNIDADE 4 – CARDIOLOGIA 
 
4.1 Doenças cardíacas: fatores de risco biopsicosso ciais 
Assim como ocorre com o câncer, as doenças cardíacas também soam 
como as mais assustadoras. A despeito de grandes avanços nas áreas da 
cardiologia e da cirurgia vascular, para muitas pessoas, o diagnóstico de uma 
patologia relacionada ao sistema cardiovascular ainda soa como um diagnóstico de 
morte ou de uma vida marcada por uma série de limitações. As doenças desse 
sistema caracterizam-se por ser silenciosas, daí a importância de incentivar nas 
pessoas a prevenção das mesmas. Além disso, já se sabe que o estresse é um dos 
fatores de risco para essas doenças. 
 
O coração é um órgão silencioso. Somente quando o ritmo cardíaco se 
acelera, ou se torna lento e irregular, é que se toma consciência dos seus 
movimentos, acompanhados por sensações desagradáveis. Há que se 
considerar a participação do sistema cardiovascular nas situações de 
estresse. Tal sistema é fundamental à manutenção do equilíbrio do 
organismo (HISADA, 2003, p.55). 
 
Compreendem-se como sistema cardiovascular o sangue, os vasos 
sanguíneos do sistema circulatório e o coração (STRAUB, 2014). As doenças que 
atingem esse sistema costumam ser provenientes de múltiplos fatores, alguns que 
não podem ser modificados (como os hereditários e os defeitos congênitos) e outros 
são passíveis de mudança. Na prevenção e controle das doenças cardiovasculares, 
a adoção de certos comportamentos – tais como dieta balanceada, prática de 
atividade física, prevenção ao tabagismo e etilismo e controle da obesidade – se 
mostra indispensável. Nesse sentido, como enfatizamos na apostila anterior, a 
atuação do psicólogo é de suma importância no sentido de auxiliar o paciente a abrir 
mão de hábitos que são comportamentos de risco para a saúde cardiovascular e 
adotar comportamentos saudáveis e protetores para o coração e a circulação em 
geral. 
Nesse sentido, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC, 2015) enumera 
uma série de campanhas voltadas para a população em geral, com o intuito de 
prevenir doenças como hipertensão, diabetes, infarto, arritmia, dentre outras 
diretamente relacionadas com a saúde do coração. As campanhas programadas 
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para 2015 foram: Colesterol, Coração de Estudante, Coração em Alerta, Coração 
fora do ritmo?, Coração na Batida Certa, Diabetes, Dia do Portador de Marcapasso, 
Dia Mundial do Coração, Doença Vascular, Drogas e Alcoolismo, Eu sou 12 por 8, 
Febre Reumática, Hipertensão, Insuficiência Cardíaca, Jovens Corações, Meio 
Ambiente, Obesidade, Sedentarismo, Tabagismo. 
Não iremos, neste material, expor todas as causas das doenças 
cardiovasculares, os exames disponíveis para detectar essas patologias e 
tratamentos disponíveis. Apenas forneceremos três definições que nos auxiliarão a 
compreender como alguns dos fatores de risco que podem ser modificados 
interferem diretamente na saúde do sistema cardiovascular. As doenças 
cardiovasculares são causadas por fatores biológicos, sociais e psicológicos, mas 
iremos voltar nosso foco ao entendimento dos dois últimos. 
 
Doenças cardiovasculares: distúrbios do coração e do sistema de vasos 
sanguíneos, incluindo AVEs e doença arterial coronariana. Doença arterial 
coronariana: doença crônica na qual as artérias que suprem o coração são 
restringidas ou entupidas; resulta da aterosclerose ou da arteriosclerose. 
Aterosclerose: doença crônica em que o colesterol e outras gorduras se 
depositam nas paredes internas das artérias coronárias, reduzindo a 
circulação para o tecido cardíaco. Arteriosclerose: também chamado de 
“endurecimento das artérias”, uma doença em que os vasos sanguíneos 
perdem a elasticidade (STRAUB, 2014, p.255, 256). 
 
Em síntese: a citação fornece a definição de dois tipos de doenças bastante 
graves, que podem deixar sequelas no paciente (como o AVE – acidente vascular 
encefálico ou derrame, como popularmente dizem) e de duas condições silenciosas 
que precedem as doenças: a aterosclerose e a arteriosclerose. A figura a seguir 
ilustra o processo de aterosclerose (formação de ateromas) e o consequente 
endurecimento das artérias: 
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Figura 7 : Processo de obstrução das artérias 
 
Fonte : FAPESP (2009). 
 
Mais uma vez reforçamos que o hábito de realizar exames preventivos e a 
adoção de um estilo de vida saudável (alimentação balanceada, pobre em gorduras 
e prática de atividade física) podem funcionar como fatores protetores para esses 
tipos de doenças. Além da aterosclerose Straub (2014), descreve uma série de 
fatores de risco biológicos, tais como história familiar, idade, gênero, etnia, 
hipertensão, obesidade, uso de tabaco, síndrome metabólica, porém nesse 
momento, cabe a nós apenas saber que os mesmos podem favorecer o 
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desenvolvimento das doenças cardiovasculares. Inicialmente os médicos e 
pesquisadores concluíram que os maiores fatores de risco para a doença 
coronariana era o sexo masculino, a meia idade e as taxas de colesterol elevadas, 
porém, ao observar outros pacientes, também coronarianos, mas que não possuíam 
esses três grandes fatores de risco, teorizaram que havia outros fatores de risco até 
então negligenciados. 
Em 1959, os cardiologistas Friedman e Rosenman descobriram um padrão 
de personalidade associado à ocorrência de problemas coronarianos. 
Caracterizaram, assim, dois padrões de personalidade, o tipo A e o tipo B. Pessoas 
do tipo A são mais propensas a apresentar problemas coronarianos, pois 
apresentam padrões de comportamento competitivo, são hostis e apressadas. Já as 
pessoas do tipo B são mais relaxadas e não se sentem pressionadas por 
considerações relacionadas ao tempo, sendo, portanto, menos propensas às 
doenças coronarianas. Com o passar dos anos, os estudiosos começaram a 
investigar a competitividade, a hostilidade, a pressa e raiva com o intuito de prever 
as doenças coronarianas com maior precisão. Vários estudos foram realizados e, 
sinteticamente, puderam concluir que a hostilidade, a raiva e a depressão promovem 
doenças cardiovasculares (STRAUB, 2014). 
 
Alguns teóricos sustentam que adultos hostis têm vidas mais estressantes e 
níveis baixos de apoio social, o que, com o passar do tempo, exerce um 
efeito nocivo sobre a saúde cardiovascular. Em apoio a essa hipótese de 
vulnerabilidade psicossocial, pesquisadores verificaram que conflitos 
familiares, desemprego, isolamento social e estresse ligado ao trabalho 
estão relacionados com risco maior de doenças cardiovasculares (KOP et 
al., 2001 apud STRAUB, 2014, p.270). 
 
A citação deixa bastantevisível que o psicólogo pode atuar em diversos 
níveis de prevenção com os pacientes que apresentam fatores comportamentais de 
risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares ou, no caso da doença já 
instalada, detectar esses comportamentos nocivos e trabalhar os mesmos com o 
intuito de minimizá-los. Sabemos que nem sempre é possível eliminar os conflitos 
familiares, o desemprego, o isolamento social e o estresse relacionado ao trabalho 
da vida de um indivíduo, mas o psicólogo pode auxiliar o paciente a desenvolver 
estratégias de enfrentamento dessas situações nocivas de forma a minimizar o 
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impacto das mesmas em seu estado de saúde, especialmente no sistema 
cardiovascular. 
O modelo biopsicossocial de saúde tenta explicar como a pressa, a 
hostilidade e a raiva contribuem para o aparecimento das doenças cardiovasculares. 
Inicialmente, a pessoa deve apresentar uma predisposição fisiológica (história de 
vida familiar e histórico de hábitos de saúde). O surgimento da doença 
cardiovascular depende de fatores psicossociais presentes na vida do indivíduo, tais 
como nível de estresse e apoio social (STRAUB, 2014). 
Modificar a personalidade de um indivíduo não é fácil, porém, a hostilidade, 
esse considerável fator de risco para as doenças cardiovasculares, “pode ser 
combatida com esforços para controlar as reações hostis e tratar os outros como 
gostaríamos que nos tratassem” (STRAUB, 2014, p.274). 
Como já reforçamos nessa mesma seção e na apostila anterior, para se 
reduzir o risco de algumas doenças cardiovasculares – controle da hipertensão, 
redução do colesterol, controle da diabetes e parar de fumar – fazem-se necessárias 
atitudes que dependem do paciente. 
 
4.2 Atuação do psicólogo em unidades hospitalares d e cardiologia 
A atuação do psicólogo junto ao paciente cardíaco também pode ocorrer nos 
diversos níveis de prevenção, seja em atuação clínica ou ambulatorial (com o 
paciente na comunidade) ou em nível hospitalar (em regime de internação). Nas 
seções anterior e posterior foram (e serão) abordados aspectos referentes à atuação 
do psicólogo em contexto clínico/ambulatorial. Na seção atual, iremos discutir 
aspectos condizentes à prática do psicólogo hospitalar em setores de cardiologia – 
enfermarias e UTI. 
Não iremos descrever detalhes acerca das unidades fechadas de atenção 
nos hospitais – as unidades de Terapias Intensivas (UTIs) – já que numa seção 
posterior iremos detalhar sobre o funcionamento das unidades, os tipos de cuidados 
prestados e, especialmente, a atuação do psicólogo. 
Nos casos em que o paciente precisa de atenção intensiva, após um evento 
adverso cardíaco (infarto, pós-operatório de cirurgia cardíaca e outras complicações) 
ele é transferido para a Unidade Coronariana (UCO). Destaca-se que os setores 
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fechados (UTIs e UCOs) são locais equipados para garantir condições de suporte e 
sobrevida ao paciente, contam com equipe médica e de enfermagem 24h disponível 
para buscar contornar qualquer intercorrência que possa surgir. Entretanto, alguns 
estressores são presentes nesses ambientes, tais como iluminação e ruído 
constantes, procedimentos dolorosos, proximidade com pessoas próximas ao 
momento de óbito, restrição ao leito, nenhuma privacidade. 
 
Em uma UCO, especificamente, os cuidados com os aspectos emocionais 
são imprescindíveis, visando facilitar a recuperação do paciente. É 
importante, além disso, considerar o fato de o coração possuir um 
significado simbólico valorizado na cultura ocidental, o que estreita, ainda 
mais, a relação entre os aspectos emocionais e as doenças 
cardiovasculares. Um dos principais transtornos mentais da atualidade, o 
Transtorno de Pânico, demonstra, de forma contundente, essa simbiose 
entre sintomas físicos cardiovasculares e sintomas ansiosos, quando o 
primeiro profissional a ser procurado é o cardiologista, e não o psiquiatra ou 
psicólogo (OLIVEIRA, 2008 apud SANTOS et al., 2011, p.52). 
 
Observa-se que uma situação relacionada a um tratamento muitas vezes 
indispensável à sobrevida do paciente pode gerar transtornos emocionais graves no 
paciente que precisa permanecer na UCO. O paciente convive com o fantasma da 
morte duas vezes: por estar doente do coração – órgão relacionado à vida – e por 
estar hospitalizado num local tão associado à morte – ao contrário de ser associado 
à recuperação, ao restabelecimento, à vida. 
Além da equipe de médicos e enfermeiros que ficam em vigilância 24h na 
UCO, uma equipe multidisciplinar também atua no sentido de garantir o cuidado 
biopsicossocial do paciente. O psicólogo é um profissional indispensável, pois, como 
pudemos observar até aqui, as doenças cardíacas podem ser associadas a 
determinados traços de personalidade e podem se agravar em decorrência de 
estressores. 
Cabe ao psicólogo atender aos casos onde há solicitação por parte da 
equipe de saúde. Além disso, o profissional deve estimular o contato entre paciente, 
familiares e equipe (esses dentre si), visando à compreensão do tratamento e à 
posterior adesão ao mesmo (SANTOS et al., 2011). 
Além disso, há outra tarefa importante que é realizada pelo psicólogo em 
diversos setores do hospital, em especial os fechados, como a UCO: 
 
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Como algumas das funções do psicólogo na UTI, podem-se citar a 
assistência psicológica ao paciente, a atenção a fatores que podem 
influenciar sua estabilidade emocional e a avaliação da adaptação do 
paciente à hospitalização (tendo em conta aspectos como sono, 
alimentação, contato com a equipe, adesão ao tratamento, visitas e outros). 
Na avaliação do paciente, deve-se atentar para seu estado psíquico 
(orientação, consciência, memória, afetividade, entre outros) e sua 
compreensão do diagnóstico, além das reações emocionais diante da 
doença. Cabe também, ao profissional psicólogo, acolher, orientar e 
informar as rotinas da UTI a seus familiares e visitantes, oferecendo-lhes 
espaço para expressão dos seus sentimentos e questionamentos quanto ao 
processo de internação do paciente (PREGNOLATTO; AGOSTINHO, 2003 
apud SANTOS, 2011, p.54). 
 
4.3 A vida após a doença cardiovascular 
Assim como o paciente oncológico lida com uma série de mudanças em sua 
vida após o câncer, o paciente cardíaco também passa por várias alterações 
biopsicossociais após sofrer de determinado problema cardiovascular ou 
coronariano (por exemplo, um infarto) e precisa se adaptar à nova realidade. Nem 
sempre isso é fácil. A citação a seguir demonstra como pode ser o período pós-alta 
da hospitalização: 
 
Após a alta da hospitalização por um evento cardíaco, homens e mulheres 
tendem a retomar as atividades tradicionais de seus respectivos gêneros, 
com as mulheres assumindo maior responsabilidade por tarefas 
domésticas, como lavar a roupa, limpar a casa e cozinhar. Esse 
desequilíbrio na responsabilidadeajuda a explicar os prognósticos inferiores 
de pacientes do sexo feminino, que podem não prestar atenção nos sinais 
de excesso. (LEMOS et al., 2003 apud STRAUB et al., 2014, p.276-277). 
 
Diversos fatores sociais e psicológicos contribuem para a adaptação à 
ponte de safena. A percepção de apoio social, o otimismo disposicional, a 
baixa hostilidade e o envolvimento religioso mostraram efeitos benéficos na 
recuperação de pacientes de cirurgia cardíaca (ENRICHD, 2010 apud 
STRAUB et al., 2014, p.276-277). 
 
Aspectos psicossociais como suporte social, religiosidade e baixa hostilidade 
parecem contribuir para a recuperação do paciente que foi submetido à cirurgia 
cardíaca. É comum observar pacientes que foram expostos a esse tipo de 
procedimento relatarem que “nasceram de novo”, pois não conseguem compreender 
a dinâmica do processo cirúrgico e chegam a acreditar que permaneceram mortos 
durante um período da cirurgia, quando os médicos precisaram realizar intervenções 
no coração. 
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No caso dos pacientes vítimas de infarto, na maioria das vezes as sequelas 
são mínimas e é comum observar pacientes que melhoram sua qualidade de vida 
após o procedimento por adotarem hábitos de vida mais saudáveis após essa 
“segunda chance da vida”. No caso dos pacientes que sofreram AVE nem sempre é 
o que ocorre, muitos ficam com sequelas, sejam elas motoras, na fala, dentre outras 
funções. Nesses casos, são necessárias várias sessões de fisioterapia e outros 
tratamentos que visam à melhoria da qualidade de vida e minimização dos 
comprometimentos físicos. Entretanto, além das sequelas físicas, restam as 
implicações emocionais que a nova condição de dependente ou “inválido” costuma 
acarretar nesses pacientes. 
 
Um ataque cardíaco ou um AVE podem causar perturbação subtancial para 
o indivíduo e seus familiares. Enquanto muitos pacientes têm recuperação 
completa e conseguem retornar à maioria de suas atividades anteriores, 
alguns permanecem psicologicamente debilitados por muito tempo. Um 
importante objetivo de muitos programas de intervenção é lidar com cerca 
de um terço dos pacientes que experimentam muito estresse, ansiedade ou 
depressão por mais de um ano após a hospitalização (DE JONGE; ORMEL, 
2007 apud STRAUB, 2014, p.277). 
 
Várias intervenções psicológicas podem auxiliar o indivíduo após um evento 
adverso cardíaco, tais como a psicoterapia de abordagem cognitivo-comportamental, 
treinamento para relaxamento, ensinar as pessoas a adquirir outras habilidades 
sociais mais assertivas em detrimento das hostis, a evitarem situações provocativas 
e levá-las menos a sério (STRAUB, 2014). 
 
Os estudos de intervenções estão concentrados em ajudar pessoas hostis a 
adquirirem controle sobre suas emoções raivosas. No programa típico, o 
psicólogo primeiro busca compreender os fatores que desencadeiam 
incidentes que induzem raiva, solicitando aos participantes que monitorem 
seu comportamento. A seguir, desenvolvem estratégias para lidar com a 
agravação – por exemplo, evitando situações especialmente estressantes, 
como o trânsito na hora do rush, e controlando suas reações, talvez 
contando até 10 antes de reagir a um incidente provocador. À medida que a 
pessoa se torna cada vez mais capaz de enfrentar as situações 
problemáticas, o psicólogo passa para uma intervenção mais cognitiva, 
ajudando os participantes a aprenderem a desafiar posturas céticas e 
modificar crenças e experiências irreais sobre a vida. Dezenas de estudos 
confirmam a eficácia dessas informações (STRAUB, 2014, p.277-278). 
 
51 
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recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
UNIDADE 5 – HIV / AIDS 
 
5.1 O que é AIDS 
Ao contrário do que o senso comum pode compreender, HIV e AIDS não são 
sinônimos. HIV é o nome do vírus que causa a AIDS, sigla para Síndrome da 
Imunodeficiência Adquirida. 
 
HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana. Causador da 
aids, ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo 
de doenças. As células mais atingidas são os linfócitos T CD4+. E é 
alterando o DNA dessa célula que o HIV faz cópias de si mesmo. Depois de 
se multiplicar, rompe os linfócitos em busca de outros para continuar a 
infecção. Ter o HIV não é a mesma coisa que ter a Aids. Há muitos 
soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver 
a doença. Mas, podem transmitir o vírus a outros pelas relações sexuais 
desprotegidas, pelo compartilhamento seringas contaminadas ou de mãe 
para filho durante a gravidez e a amamentação. Por isso, é sempre 
importante fazer o teste e se proteger em todas as situações (AIDS, s.d). 
 
Já a AIDS é o estado mais avançado da doença causada pelo vírus HIV. É 
uma doença crônica, ainda não existe cura para ela, portanto, é indispensável 
prevenir a doença. Atualmente, o diagnóstico de AIDS não implica em morte em 
curto prazo, como antigamente, pois há tratamentos para que o soropositivo viva 
com qualidade de vida (AIDS, s.d). 
 
A Aids é o estágio mais avançado da doença que ataca o sistema 
imunológico. A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, como também é 
chamada, é causada pelo HIV. Como esse vírus ataca as células de defesa 
do nosso corpo, o organismo fica mais vulnerável a diversas doenças, de 
um simples resfriado a infecções mais graves como tuberculose ou câncer. 
O próprio tratamento dessas doenças fica prejudicado (AIDS, s.d.). 
 
Atualmente, observa-se uma redução do pânico relacionado à AIDS nos 
países desenvolvidos (como se pôde observar na citação de material disponibilizado 
pelo Ministério da Saúde), porém, nos países em desenvolvimento ainda é a causa 
de mortalidade de muitas pessoas (STRAUB, 2014). 
Inicialmente, era comum associar a transmissão do HIV a grupos de risco – 
usuários de drogas injetáveis, profissionais do sexo e homossexuais – entretanto, 
com a grande disseminação da doença, esse estigma de grupos de risco foi 
cedendo lugar para a ideia de que qualquer pessoa pode se contaminar com o vírus 
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desde que tenha contato com sangue ou secreções genitais de pessoas 
contaminadas. Assim, concluíram que era possível contrair o vírus em transfusões 
de sangue que não passaram por padrões rígidos de testagens, na manicure, no 
tatuador, em procedimentos médicos, odontológicos e de enfermagem que utilizam 
instrumentos pérfuro-cortantes não descartáveis ou não esterilizados corretamente. 
Compreenderam também que um dos cônjuges podia contrair o HIV se o outro fosse 
infiel e não usasse preservativos nas relações sexuais, assim como uma gestante 
contaminada poderia transmitir o vírus para o feto. Idosos começaram a se 
contaminar com o HIV, pois por não se preocuparem com métodos contraceptivos, 
costumam manter relações sexuais sem proteção. 
Diversas campanhas foram disseminadas com o intuito de se controlar essa 
epidemia. Controle maior foi dado aos setores de saúde em geral e às transfusõesde sangue, o que resultou em uma diminuição drástica do número de contaminações 
por essa via. As gestantes passaram a receber medicações, o que fez com que a 
transmissão de mãe para filho também atingisse níveis bem menores. Os salões de 
beleza e estúdios de tatuagem passaram a ter maior controle, além da vigilância 
sanitária os próprios clientes, mais conscientes dos riscos a que estão expostos, 
passaram a cobrar materiais higiênicos, descartáveis ou esterilizados. Passaram a 
voltar a atenção para as relações sexuais e as drogas injetáveis, por isso 
campanhas do Ministério da Saúde – algumas criticadas por certas pessoas – 
começaram a distribuir preservativos para a população sexualmente ativa e, num 
determinado momento, até seringas para os usuários de drogas injetáveis no sentido 
de conter a epidemia. 
 
Figura 8 : Campanha do Ministério da Saúde de distribuição de preservativos no carnaval 
 
Fonte : Portal Brasil (2013). 
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5.2 AIDS: aspectos psicossociais 
O diagnóstico de HIV positivo pode causar uma série de transtornos na 
saúde mental do portador. O medo da morte pode levar à depressão e ao 
isolamento e é importante destacar que esses estados podem afetar não apenas o 
estado psicossocial do paciente, mas também o seu sistema imunológico (AIDS, 
s.d.). 
Após a exposição ao vírus, uma série de fatores pode influenciar a 
velocidade com que os sintomas clínicos começam a aparecer e a gravidade dos 
problemas em todos os estágios da doença. Fatores como má nutrição, uso de 
substâncias, exposição repetida ao HIV e outras infecções virais são fatores 
biológicos que influenciam no avanço da doença (STRAUB, 2014). 
Porém, fatores biopsicossociais como emoções negativas e isolamento 
social influenciam a velocidade com que a doença avança. Parece que esses fatores 
alteram os ambientes imunológicos e hormonais que afetam a resistência das 
células hospedeiras ao vírus HIV (IRONSON et al. apud STRAUB, 2014). 
Outros fatores, como suporte social, principalmente oferecido pelos amigos, 
também podem contribuir para o bem-estar psicológico do paciente soropositivo 
(GALVAN et al., 2008 apud STRAUB, 2014). 
 
Vários pesquisadores relataram que a baixa autoestima, perspectiva 
pessimista e depressão crônica estão relacionados com a diminuição nas 
células T e um início mais rápido da AIDS entre indivíduos com HIV 
(BURAK et al., 1993; BYRNES et al., 1998, SEGERSTROM et al., 1996). 
 
Indivíduos com HIV que mantêm a esperança e conseguem encontrar um 
significado em sua luta tendem a mostrar declínios mais lentos nos níveis 
de células T e têm menos probabilidade de morrer (BOWER et al., 1998 
apud STRAUB, 2014, p.321). 
 
É comum observar nos pacientes soropositivos distúrbios de comportamento 
e cognitivos. Em ambos os casos, o diagnóstico precoce é essencial para uma 
melhor qualidade de vida do paciente. Dentre os distúrbios de comportamento, além 
da depressão, destacam-se agitação, dependência e abuso de álcool, drogas e 
tabaco, entre outros. Os problemas cognitivos mais comuns incluem a falta de 
concentração, atenção e memória fraca (AIDS, s.d.). 
 
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5.3 Intervenções Psicológicas 
 
Os psicólogos da saúde desempenham diversos papéis na batalha contra 
essa doença, incluindo intervenções de prevenção primária e secundária. A 
prevenção primária inclui orientar as pessoas sobre os testes para o HIV e 
ajudá-las a modificarem seus comportamentos de risco. A prevenção 
secundária inclui auxiliar pacientes com AIDS a enfrentar os transtornos 
emocionais e cognitivos a conduzir terapia de luto para aqueles que se 
encontram nos estágios finais da doença, para suas famílias e amigos 
(STRAUB, 2014, p.325-326). 
 
Como mencionamos anteriormente, as primeiras estratégias eram 
desenvolvidas para os denominados grupos de risco, mas com o avanço da 
epidemia, as campanhas passam a ser destinadas à população em geral e visam 
reduzir comportamentos relacionados com o risco de se contrair o vírus HIV 
(STRAUB, 2014). De acordo com o mesmo autor: 
 
Os psicólogos da saúde desempenham diversos papéis na batalha contra a 
Aids, incluindo orientar as pessoas sobre como fazer exames para HIV e 
modificar comportamentos de alto risco, e ajudar pacientes de AIDS a 
enfrentarem perturbações emocionais e cognitivas, além de conduzirem 
terapia de luto para aqueles que esperam pela morte, para suas famílias e 
seus amigos (STRAUB, 2014, p.337). 
 
Como mencionamos na seção sobre doenças infectocontagiosas, o paciente 
portador desse tipo de doença pode sentir-se discriminado da sociedade, que teme 
o contato com ele devido a uma possível transmissão da doença. Em muitas 
situações a falta de informação reforça esse preconceito, já que muitas pessoas 
desenvolvem crenças errôneas em relação à doença. Por exemplo, até nos dias de 
hoje, com o avanço das informações sobre a AIDS, algumas pessoas ainda 
acreditam que a doença se transmite num simples aperto de mão, em piscinas, ou 
em assentos de ônibus. Esse estigma só piora a o estado emocional do paciente, 
que se sente excluído por parte até mesmo de pessoas muito próximas. 
Por outro lado, o paciente também desenvolve suas crenças errôneas em 
relação à doença. Mesmo com toda a informação, alguns pacientes soropositivos 
optam por minimizar o contato físico com entes queridos (como abraços, aperto de 
mãos) como uma medida para não contaminá-los. Outros, principalmente quando 
adquirem a doença através de relações sexuais desprotegidas – sejam 
extraconjugais ou em pacientes solteiros que mantêm relações com múltiplos 
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parceiros – ou pelo abuso de drogas, sentem-se extremamente culpados pela sua 
doença. 
O psicólogo pode atuar diretamente com o paciente, de forma a trabalhar os 
sentimentos de exclusão social, culpa, hostilidade contra si ou autopiedade e com os 
familiares, que também sempre ficam muito abalados com a situação. 
 
[...] a AIDS coloca o peso adicional do estigma da doença sobre as vítimas 
e suas famílias. Familiares que não estão infectados podem notar que seus 
amigos estão se afastando ou até mesmo os molestando. E a rejeição 
social pode persistir mesmo após a vítima ter morrido.A AIDS pode ter um 
impacto profundo sobre o parceiro que sobrevive. O mais comum é o medo 
da solidão e, para aqueles que também são HIV positivo, o temor de morrer 
sem ter ninguém para cuidar de si. A raiva pelo “abandono” do parceiro ao 
morrer primeiro também é bastante comum. Mesmo com parceiros que não 
estão infectados, o medo de ser “marcado” por ter compartilhado um 
relacionamento com um indivíduo infectado pode causar problemas 
duradouros, tornando difícil para o sobrevivente estabelecer novos 
relacionamentos (BOR, 1997 apud STRAUB, 2014, p.335). 
 
Como é possível observar, as questões psicológicas que envolvem o 
portador de HIV e seus familiares são intensas,segundo Straub (2014), pesquisas 
apontam que nesses pacientes é comum a depressão e a tentativa de suicídio. O 
psicólogo pode auxiliar a contornar essas questões. 
No Brasil, o Ministério da Saúde regulamenta que o tratamento para as 
questões comportamentais e cognitivas relacionadas ao HIV, normalmente é 
atribuição das equipes multidisciplinares dos Serviços de Assistência Especializada 
(SAE), quando contam com profissionais de saúde mental. No caso de transtornos 
mais graves, é recomendado o encaminhamento para os Centros de Atenção 
Psicossocial (CAPS) (AIDS, s.d.). 
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UNIDADE 6 – TRANSPLANTES 
 
6.1 Panorama geral 
Os transplantes que ocorrem em território nacional seguem às diretrizes do 
Sistema Nacional de Transplante: 
 
O Sistema Nacional de Transplantes (SNT), instituído pelo Decreto n° 
2.268, de 30 de junho de 1997, é a instância responsável pelo controle e 
pelo monitoramento dos transplantes de órgãos, de tecidos e de partes do 
corpo humano, realizados no Brasil. As atribuições do SNT incluem ações 
de gestão política, promoção da doação, logística, credenciamento das 
equipes e hospitais para a realização de transplantes, definição do 
financiamento e elaboração de portarias que regulamentam todo o 
processo, desde a captação de órgãos até o acompanhamento dos 
pacientes transplantados. 
A atuação do SNT tem-se concentrado, sobretudo, na redução do tempo de 
espera dos pacientes na lista de transplantes e na melhoria da qualidade de 
vida dos pacientes que hoje aguardam pelo procedimento. O Brasil tem hoje 
o maior sistema público de transplantes do mundo, no qual cerca de 95% 
dos procedimentos e cirurgias são feitos com recursos públicos. O Sistema 
Único de Saúde (SUS) oferece assistência integral ao paciente 
transplantado, o que inclui: 
 - exames preparatórios para a cirurgia; 
 - o procedimento cirúrgico; 
 - acompanhamento do paciente; e, 
 - medicamentos pós-transplantes (PORTAL DA SAÚDE, 2014). 
 
O Ministério da Saúde (PORTAL DA SAÚDE, 2014) informa que, no Brasil, 
são realizados transplantes de coração, fígado, pulmão, rim, fígado, pâncreas, 
rim/pâncreas e córneas. Infelizmente, a lista de espera de pacientes aguardando um 
transplante (de qualquer um dos órgãos mencionados anteriormente) ainda é 
grande, porém, como é possível observar no gráfico a seguir, a mesma vem 
diminuindo a cada ano. 
 
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Gráfico 1 : Lista de espera de transplantes nos últimos anos 
 
Fonte : Portal da Saúde (2014). 
 
Há transplantes que podem ocorrer intervivos, ou seja, um doador vivo doa 
um órgão (como um rim) para o receptor e também podem ser transplantados 
órgãos de pessoas cuja morte cerebral foi constatada (como o coração). Alguns 
fatores justificam a fila de espera, tais como a compatibilidade entre doador e 
receptor, além do fato de nem todas as pessoas aceitarem ser doadoras (mesmo 
após sua morte). Muitas crenças errôneas, tais como risco de tráfico de órgãos e 
questões religiosas aparecem entre as justificativas para a fraca adesão à doação 
de órgãos pós-morte. Outras pessoas, devido à falta de informação, mesmo 
compatíveis com os receptores, na maioria das vezes familiares, não doa um órgão 
por receio pessoal ou de familiares de ter o funcionamento de seu organismo 
comprometido. 
Também é comum, por falta de informação, as pessoas confundirem morte 
encefálica com eutanásia e temerem que, por serem doadoras, um profissional de 
saúde irá desligar seus aparelhos caso detecte que seus órgãos poderão ser doados 
para outras pessoas. 
Faz-se necessário diferenciar esses dois termos. 
 
Morte encefálica é a definição legal de morte. É a completa e irreversível 
parada de todas as funções do cérebro. Isto significa que, como resultado 
de severa agressão ou ferimento grave no cérebro, o sangue que vem do 
corpo e supre o cérebro é bloqueado e o cérebro morre (BVS, 2008, s.p.). 
 
A morte encefálica é uma condição irreversível e diferente do coma, que é 
uma condição reversível. O médico pode atestar a morte cerebral – a qual ocorreu 
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independente de um “aparelho ser desligado” a partir de técnicas e exames 
utilizados para esse fim. A partir do diagnóstico de morte encefálica uma das 
decisões que a família precisa tomar é sobre a doação de órgãos (BVS, 2008). 
Por outro lado, a eutanásia é compreendida como: “o emprego ou abstenção 
de procedimentos que permitem apressar ou provocar o óbito de um doente 
incurável, a fim de livrá-lo dos extremos sofrimentos que o assaltam” 
(LEPARGNEUR, 1999 apud SIQUEIRA-BATISTA; SCHRAMM, 2005, p.113). Ou 
seja, na eutanásia o paciente não está legalmente morto, encontra-se em estado 
terminal e optam por interromper o sofrimento dele pela via da morte. É uma prática 
considerada crime no Brasil e, além disso, os órgãos nesse caso não seriam 
adequados para transplante. 
A realização de um transplante é um procedimento complexo e, na maioria 
das vezes, essa é a última esperança de vida de um paciente portador de alguma 
doença bastante grave, tais como insuficiência renal crônica, insuficiência cardíaca, 
alguns tipos de câncer. Como vimos no início da seção, os transplantes que ocorrem 
no Brasil são subsidiados pelo Ministério da Saúde, através do SUS, ou seja, todos 
os pacientes que possuem indicação de transplantes, sejam eles provenientes das 
redes pública ou particular de saúde, irão entrar na mesma fila de espera até que 
surja um doador compatível para ele. 
 
6.2 O papel do psicólogo na realidade de transplant es no Brasil 
Uma equipe multidisciplinar é responsável pela dinâmica do transplante e o 
psicólogo está inserido na equipe. Esse profissional atua na captação dos órgãos 
(junto a familiares, no caso de doador morto e junto ao doador e familiares, no caso 
de transplante intervivos) e com o paciente que irá ser beneficiado com o 
transplante, em diversos momentos: antes da intervenção (quando é possível, já que 
em muitos casos o órgão a ser transplantado pode surgir de forma inesperada), no 
período hospitalar da realização da cirurgia e após a alta, quando alguns 
comportamentos do transplantado se fazem essenciais ao sucesso do 
procedimento. 
O papel do psicólogo na comissão de captação de órgãos é muito 
importante. Solicitado pela equipe médica ao constatar uma possível evolução de 
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um quadro para a morte encefálica, ele irá atuar diretamente com o familiar do 
paciente que pode se tornar um potencial doador. É um momento muito difícil paraa 
família, muitas vezes, as condições que antecedem um quadro de morte encefálica 
são abruptas, como um grave acidente, e eles precisam, às vezes num pequeno 
intervalo de tempo, compreender que estão prestes a perder um ente querido e que 
têm a difícil tarefa de optar se os órgãos dele serão ou não doados. O psicólogo 
deve trabalhar com o estado de choque e a angústia dos familiares, identificar como 
eles estão lidando com a situação e, assim, fornecer apoio emocional, mas, ao 
mesmo tempo, indagando a respeito da possibilidade da doação de órgãos 
(GONÇALVES, s.d.). 
Em linhas gerais, na captação de órgãos, o psicólogo precisa intervir com 
pessoas num momento de extrema tristeza para falar de uma situação bastante 
delicada, que pode ser encarada de diversos modos pelos familiares. Por outro lado, 
o paciente que irá receber os órgãos pode estar prestes a receber a melhor notícia 
de sua vida, mas o fato decorreu da morte de uma outra pessoa. Nem todas as 
pessoas na fila de transplantes estão emocionalmente preparadas para lidar com 
esse paradoxo: sua alegria dependerá da dor de alguém; para continuar vivo 
passarei a ter, dentro de mim, o órgão de alguém já falecido; quero saber quem foi a 
pessoa que me devolveu a vida, dentre outras questões conflituosas. 
Voltando a nossa atenção para o paciente que precisa receber o transplante, 
a atuação do psicólogo começa antes mesmo da intervenção cirúrgica, como pode 
ser observado na citação a seguir, que relata a rotina da intervenção do psicólogo 
numa unidade de transplante renal em um hospital: 
 
O ambulatório de pré-transplante do HUWC segue uma rotina iniciada pelo 
acompanhamento do médico, da enfermeira e da psicóloga. Esse 
atendimento multiprofissional se mostrou vantajoso, principalmente durante 
a primeira consulta, pois a quantidade de informações e esclarecimentos 
realizados tanto pelo médico como pela enfermeira ocasionava uma 
mobilização emocional em que o paciente tinha a oportunidade de integrar 
mencionadas informações ao atendimento psicológico. Quando, após a 
avaliação psicológica, o acompanhamento se fazia necessário, este era 
realizado nesse mesmo local (GARCIA; SOUZA, HOLANDA, 2005, p.474). 
 
Observa-se que nesse momento inicial, a atuação do psicólogo é de suma 
importância, tanto para auxiliar no objetivo de fornecer esclarecimentos ao paciente 
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e familiares, que chegam repletos de dúvidas, quanto para proporcionar apoio 
emocional numa fase bastante carregada emocionalmente. O paciente que irá ser 
transplantado sofre de uma doença grave, portanto, lida com as consequências 
biopsicossociais de ser doente. Além disso, sabe que terá de ser hospitalizado para 
realizar o transplante e, depois desse, sua vida irá mudar. Por isso, o preparo 
psicológico e faz essencial nesses casos. 
 
O preparo psicológico para o transplante é necessário porque as reações 
são as mais diversas possíveis e dependem da significação que o paciente 
dá ao órgão substituído, suas experiências, preparo para adaptar-se às 
novas condições de vida, ao conhecimento real ou fantasioso do que está 
acontecendo, dentre outras variáveis (GARCIA; SOUZA, HOLANDA, 2005, 
p.474). 
 
Quando o transplante ocorre a partir de um doador vivo a entrevista 
psicológica com esse também se faz essencial: 
 
Na situação de doador vivo, a avaliação psicológica inclui o receptor e o 
doador do rim. O acompanhamento psicológico é realizado com todos os 
envolvidos no processo emocional: doador, receptor e família. [...] O doador 
vivo ideal é aquele espontâneo, que não é alvo de pressão de nenhuma 
ordem. É importante levar isso em consideração, pois, muitas vezes, a 
doação é feita como forma de o doador expiar alguma culpa, sentir-se 
compensado por ajudar alguém ou como fuga para satisfazer a 
incapacidade de resolver seus problemas (URYN, 1992 apud GARCIA; 
SOUZA, HOLANDA, 2005, p.476-477). 
 
A entrevista psicológica com o doador tem o objetivo de investigar os 
sentimentos e as fantasias quanto à doação, esclarecer quanto ao processo 
cirúrgico e recuperação e prepará-lo para uma possível rejeição do rim por 
parte do receptor (GARCIA; SOUZA, HOLANDA, 2005, p.476-477). 
 
Independente de qual seja a origem do órgão que será transplantado, o 
receptor passa por uma entrevista psicológica. A citação a seguir, voltada para o 
caso de transplante renal, ilustra isso muito bem. Como já mencionamos 
anteriormente, todo paciente que possui indicação de transplante é portador de 
alguma doença grave, por isso a citação descreve a situação que ocorre em 
diferentes patologias: 
 
A primeira entrevista psicológica com o receptor tem por objetivo conhecer a 
motivação do paciente e suas expectativas relacionadas ao transplante, 
auxiliando-o a clarificar as fantasias relativas ao transplante e a sua 
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deficiência renal. Analisa também suas emoções e a percepção que tem de 
si após o diagnóstico da deficiência; examina, ainda, os esclarecimentos 
procedidos, tanto pelo médico como pela enfermeira, relativos ao processo 
cirúrgico e cuidado pós-transplante, checando, a partir do seu discurso e 
suas manifestações emocionais, se as informações e orientações foram 
efetivamente compreendidas. O objetivo é possibilitar a diminuição da 
ansiedade diante do processo cirúrgico, mas o que acontece, muitas vezes, 
é a manifestação de sentimentos e fantasias latentes relativos à rejeição da 
deficiência renal e ao tratamento de hemodiálise. É a primeira oportunidade 
que o paciente está tendo para entrar em contato com a carga de 
sofrimento diante de todo o seu tratamento. Faz-se mister oferecer a 
possibilidade de confronto do paciente com sua angústia e seu sofrimento 
diante de sua deficiência, buscando superá-la, para que ele possa integrar 
as fantasias atribuídas ao transplante renal com a realidade do tratamento 
(GARCIA; SOUZA, HOLANDA, 2005, p.477). 
 
Segundo as mesmas autoras, a família também passa por uma entrevista 
psicológica com o intuito de investigar questões referentes à dinâmica familiar na 
qual o receptor está inserido: se a doença ocasionou grandes alterações na 
dinâmica, visando compreender se a família funcionará como ponto de apoio ou 
dificultador na reabilitação do paciente. 
Nas enfermarias, em momento pré ou pós-transplante, o foco do psicólogo é 
trabalhar com o paciente pontos mais urgentes, incentivando o paciente para a vida 
pós-transplante e as modificações que decorrerão da cirurgia (como adesão a um 
tratamento medicamentoso normalmente contínuo, visitas ao médico, algumas 
restrições, se for o caso, dentre outros fatores que dependem diretamente do 
comportamento do paciente). 
Em síntese, a atuação do psicólogo nos pacientes transplantados no 
momento pós-cirúrgicos visam a: 
 
Com os pacientes pós-cirúrgicos, a intervenção psicológica tem objetivos 
diferentes, de acordo com o foco. Se este for a alta hospitalar, é dado apoio 
para a reabilitação do paciente e retorno ao ambiente familiar, possibilitando 
o afloramento de conteúdos emocionais, com o objetivo de reduzir a 
ansiedade gerada diante de possíveis perdas; no caso do foco na doença 
deficiência renal, deve-se clarificar alguma fantasia relacionada à deficiência 
e recuperação,auxiliar na desvinculação da hemodiálise praticada 
regularmente antes do transplante, estimulando a continuidade do 
tratamento; se houver óbito, é favorecido o apoio à família diante da perda 
do ente querido e o apoio à equipe de saúde diante desse momento. 
Quando o foco está em torno da internação, o psicólogo estuda a 
implicação emocional, na família, decorrente da hospitalização do paciente, 
esclarecendo sobre a sua situação, suas possibilidades e limitações 
(GARCIA; SOUZA, HOLANDA, 2005, p.478). 
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eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e 
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
UNIDADE 7 – UTI 
 
7.1 O que é UTI / CTI 
Denominados por Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ou Centro de Terapia 
Intensiva (CTI), esses são setores bastante temidos para a maioria das pessoas. 
Ainda associados ao imaginário cultural como a “antessala da morte”, as UTIs são 
setores fechados dos hospitais destinados ao cuidado intensivo de pacientes 
críticos. Segundo a Associação Brasileira de Medicina Intensiva (AMIB, s.d.) a UTI é: 
“Local do hospital com estrutura e pessoal especializado para o cuidado de 
pacientes com lesões ou doenças graves, com possibilidade de recuperação”. 
 
O objetivo básico das UTI é recuperar ou dar suporte às funções vitais dos 
pacientes enquanto eles se recuperam. Assim, as Unidades de Terapia 
Intensiva são equipadas com aparelhos capazes de reproduzir as funções 
vitais dos internados como respiradores artificiais (por exemplo, a criação e 
uso destes aparelhos reduziu de 70% para 10% a morte de recém-
nascidos), aparelhos de hemodiálise que substituem a função dos rins e 
diversos outros. A criação das UTIs representou um grande marco na 
história da medicina uma vez que possibilitou o atendimento adequado dos 
pacientes garantindo-lhes melhores condições de recuperação e reduzindo 
os óbitos em cerca de 70% (ARONE; CUNHA, 2007 apud CUCHI, 2009, 
p.16-17). 
 
Ou seja, os pacientes que vão para a UTI são aqueles que possuem 
capacidade de recuperação desde que sejam cuidados por pessoal especializado e 
auxiliados por equipamentos capazes de monitorar seus sinais vitais de modo 
contínuo e de oferecer suporte às funções que se encontram defasadas em 
decorrência de doenças ou de recuperação pós-cirúrgica. Pacientes podem vir para 
o CTI em decorrência de condições crônicas, agudas ou devido a estado de 
recuperação pós-cirúrgica. 
 
As características intrínsecas ao CTI, como a rotina de trabalho mais 
acelerada, o clima constante de apreensão, as situações de morte iminente, 
acabam por exacerbar o estado de “stress” e tensão, que tanto o paciente, 
quanto a equipe, vivem nas vinte e quatro horas do dia. Esses aspectos, 
somados à dimensão individual do sofrimento da pessoa nela internada, tais 
como a dor, o medo, a ansiedade, o isolamento do mundo trazem, sem 
dúvida, vários e fortes fatores psicológicos que interatuam de maneira 
muitas vezes grave, por sobre a manifestação orgânica de enfermidade que 
a pessoa possui (SEBASTIANI, 1995, p.29). 
 
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recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
Na UTI, os profissionais que trabalham no setor – denominados de 
intensivistas – pacientes e familiares lidam com uma série de equipamentos, tais 
como a bomba de infusão, cateteres, drenos, monitor, oxímetro, ventilador pulmonar, 
dentre outros. Procedimentos comuns nesses setores – alguns bastante invasivos e 
dolorosos para o paciente que se encontra lúcido, porém indispensáveis à sua 
sobrevida – são a diálise, a intubação, a reanimação cardiopulmonar, o desmame da 
ventilação mecânica, dentre outros. Algumas condições bastante delicadas que 
podem ocorrer com o paciente na UTI são o choque, o coma induzido, o derrame 
pleural, o choque séptico, dentre outras condições que requerem total atenção por 
parte da equipe multidisciplinar (AMIB, s.d.). 
Sabemos que a maioria dos termos que utilizamos no parágrafo anterior não 
são conhecidos pela maioria das pessoas que não trabalha diretamente na área de 
saúde, utilizamos os mesmos de propósito, sem dar a definição deles, para que você 
possa “sentir na pele” o desespero que pacientes e familiares sentem quando se 
vêm envolvidos na dinâmica da UTI e não conseguem compreender o que realmente 
está acontecendo, só que é algo grave. Tudo isso gera muito estresse não só no 
paciente, mas também nos familiares e em toda a equipe que atua na UTI. 
 
Apesar da UTI ser um local ideal para o atendimento aos pacientes agudos 
recuperáveis, é um ambiente extremamente agressivo, tenso e 
traumatizante e além da situação crítica em que o paciente se encontra, 
existem outros fatores prejudiciais a sua estrutura psicológica, como falta de 
condições favoráveis ao sono, intercorrências terapêuticas frequentes, 
isolamento da família, suposição da gravidade da doença e do risco de vida. 
(CARVALHO; TUERLINCKX; LUNARDI, 2008 apud CUCHI, 2009, p. 25-26). 
 
Assim, percebemos que a UTI é um local onde existem aparelhos 
específicos, uma equipe altamente treinada em realizar procedimentos que visam a 
recuperação do paciente que ali está internado. A figura a seguir ilustra como é esse 
ambiente: 
 
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Figura 9 : UTI 
 
Fonte : Hospital Daher (s.d.). 
 
Observe alguns fatores nessa figura, os quais serão discutidos no decorrer 
da seção: o ambiente é muito higiênico, de forma a impedir o desenvolvimento de 
infecções; os profissionais estão sempre em alerta; a luminosidade artificial é 
constante, porém dificilmente todos os leitos recebem luz natural; a privacidade do 
paciente é mínima, quase nula; não são permitidos acompanhantes nesse setor; os 
pacientes ficam ligados a vários aparelhos, alguns dos quais fazem barulhos, 
incomodam, podem causar dor. 
 
A UTI é um lugar isolado, separado por uma porta, onde se pode ler: 
“proibida a entrada de pessoas estranhas”. Lá, o tempo torna-se uma 
incerteza, e, às vezes, nesses locais, não existe nem mesmo relógio para 
orientar os pacientes. Geralmente está localizado no último andar do 
hospital geral ou de uma casa de saúde. Os ruídos dos aparelhos utilizados 
são intensos e irreconhecíveis pelo senso comum. As janelas são fechadas 
e a luz é artificial. A temperatura é constante, mantida por ar condicionado. 
No ar, odor de remédio ou desinfetante. Parece que se tenta controlar as 
condições de um ambiente ideal (OLIVEIRA, 2002, s.p.).. 
 
7.2 Atuação do psicólogo com o paciente da UTI 
Segundo a AMIB (s.d.), a equipe multidisciplinar que atua na UTI é 
especializada no acompanhamento de pacientes graves. O psicólogo se destaca 
nesse meio, sendo definido como: “Profissional responsável pelo acompanhamento 
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dos pacientes conscientes, oferecendo apoio psicológico aos mesmos e familiares. 
Constitui intercâmbio entre a família e a equipe da UTI”. Observa-se que a atuação 
do psicólogo também é de grande importância num setor marcado pelo medo da 
morte, isolamento, angústia e uma comunicação muitas das vezes ineficaz. 
Sebastiani (1995) também teoriza sobre esse ponto ao afirmar que a tríade 
paciente, família e equipe de saúde estão, cada um a seu modo, envolvidos na 
mesma luta e todos são assistidos pelo psicólogo. 
Falar da atuação do psicólogo nas Unidades de Terapia Intensiva articula-se 
com a questão da humanização da assistência. Porém, vale a pena ressaltar que o 
psicólogo que atua em UTI visa promover a humanização para o paciente, seus 
familiares e toda a equipe que ali atua. 
Humanizar é, de forma bem simplificada, cuidar do paciente como um todo. 
De acordo com a AMIB, a humanização das UTIs engloba cuidados relacionados ao 
ambiente físico, aspectos sensoriais, necessidades do ambiente e da equipe de 
saúde. O psicólogo deve nortear sua atuação dentro de todos esses itens de forma a 
tornar a assistência humanizada (SILVA, 2007). 
 
O sofrimento físico e emocional do paciente precisa ser entendido como 
coisa única, pois os dois aspectos que o constituem interferem um sobre o 
outro criando um ciclo vicioso do tipo: a dor aumenta a tensão e o medo 
que, por sua vez, exacerbam a atenção do paciente à própria dor que, 
aumentada, gera mais tensão e medo e assim sucessivamente. Essa 
compreensão ajuda o psicólogo a fazer quebrar esse ciclo vicioso de forma 
a tentar resgatar, junto com o paciente, um caminho de saída para o 
sofrimento onde, de um lado, as manobras médicas, medicamentos, exame, 
introdução de aparelhos intra e extracorpóreos vão se somar às do 
psicólogo, que favorece a manifestação dos medos e fantasias que o 
afligem (angústia, desesperança, mudanças estruturais na sua relação com 
a vida, expectativa de morte, etc). Todos esses esforços visam mais do que 
um fim puro e simples. Visa um caminho de enfrentamento da dor, do 
sofrimento e, eventualmente, da própria morte mais digno e menos sofrido 
possível (SEBASTIANI, 1995, p.30-31). 
 
O paciente na UTI sofre uma série de impactos emocionais, desde o 
momento de sua admissão no setor, passando pelo período de sua permanência 
(que pode variar desde poucas horas, como, por exemplo, num protocolo padrão de 
recuperação pós-cirurgia delicada, até longos períodos, que incluem dias, semanas 
ou até meses) até o momento de alta desse setor e deslocamento para um outro de 
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cuidados menos intensivos (enfermarias ou leitos particulares). O momento de 
admissão na UTI fica bem ilustrado na citação a seguir: 
 
No momento da ida para a UTI, começa a se evidenciar a rotina dessa 
unidade hospitalar. A primeira ação normalmente a ser realizada é a da 
“perda” das roupas, caso ainda não tenham sido retiradas em outra 
unidade. Esse processo de admissão remete a outras perdas, como a da 
saúde e a de “direitos”. Outros procedimentos, da competência da equipe, 
também podem ser observados, colher dados a respeito da doença, 
verificar o estado clínico de quem está sendo atendido, guardar os 
pertences pessoais. Além disso, encontram-se cuidados especiais, como a 
colocação de roupas da unidade, a escolha do leito apropriado e todo um 
aparato higiênico no que diz respeito a banhos e desinfecção. Aos 
familiares, são dadas instruções específicas. Isso tudo ocorre em um curto 
espaço de tempo e com muita eficiência. O ritual de preenchimento de 
formulários aumenta o clima de capitulação pessoal (OLIVEIRA, 2002, s.p.). 
 
Para a maioria das pessoas, perder sua própria roupa é uma das situações 
mais delicadas a que o indivíduo pode estar submetido. Perde-se totalmente sua 
privacidade, pessoas estranhas passam a cuidar de sua higiene, o que gera muito 
constrangimento. Tudo isso se articula emocionalmente com a fantasia de que não 
se sabe se irá sair vivo daquele lugar, ou seja, a fantasia de sua morte está sempre 
presente, associada com as ideias (fantasiosas ou, muitas vezes, reais), da morte do 
paciente que está próximo a ele. 
De acordo com a AMIB, alguns cuidados com o ambiente podem reduzir os 
impactos negativos da UTI no estado biopsicossocial do paciente, como foi 
mencionado em relação à privacidade. A disposição dos leitos em boxes individuais 
garante ao paciente a privacidade em situações como banho e troca de fraldas, além 
de possibilitar que a equipe de intensivistas realize procedimentos invasivos sem 
que os outros pacientes assistam aos mesmos. É comum o paciente na UTI ficar 
desorientado temporalmente e, nesse sentido, a possibilidade de acesso à luz 
natural e o uso de relógios de parede podem auxiliar (SILVA, 2007). 
 
Aspectos sensoriais: do ponto de vista sensorial, parece já mais 
consolidada a preocupação com três aspectos que são iluminação, ruído e 
temperatura. O conforto do paciente por meio de ambiente controlado é 
condição básica de funcionamento da Unidade (SILVA, 2007, p.40). 
 
Essas questões emocionais subjacentes são melhores compreendidas 
quando o paciente se encontra lúcido e orientado no CTI, porém estudos mostram 
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que mesmo no paciente comatoso alguns estímulos, em especial afetivos, podem 
ser captados pelo paciente (que, por exemplo, reage através da alteração de um de 
seus sinais vitais, ocasionando aumento da pressão arterial) e, após o retorno do 
estado de consciência, costumam ser relatados pelo próprio paciente (SEBASTIANI, 
1995). 
O paciente em setor fechado é aquele quieto e dependente: 
 
Compete ao paciente, se estiver consciente, calar-se. A possibilidade de 
questionamento é anulada e resta-lhe, para ser aceito e bem-visto, o 
silêncio. [...] O bom paciente na UTI permanece sedado, quase morto, 
mesmo que esteja buscando vida. Uma tensão se estabelece: a vida é 
desejada por todos, mas a equipe médica clama para que não seja 
inconveniente com reclamações e choros. A vida do paciente beira a morte 
e o silêncio. Barulhos, de preferência, apenas os da tecnologia, os dos 
aparelhos (OLIVEIRA, 2002, s.p.). 
 
O paciente em setor fechado pode desencadear algumas alterações 
psíquicas causadas por uma série de fatores, tais como emocionais, farmacológicos, 
de provação sensorial (como vimos a desorientação temporal) e aquelas 
relacionadas à evolução do quadro clínico. Independente da causa, o paciente que 
apresenta esse tipo de alterações necessita de avaliação e atendimento psicológico. 
O paciente costuma ficar desorientado, apresentar comprometimento da memória 
(devido à dificuldade de focalizar a atenção), perturbação da linguagem, da 
percepção e delirium: “perturbação da cognição, acompanhada de uma desordem 
concomitante fundamental da consciência, que não se deve a uma demência 
preexistente ou em evolução” (SILVA, 2007, p.40). 
Dessa forma, é importante que o psicólogo que trabalhe em setor fechado se 
conscientize dessa possibilidade em suas intervenções, ao orientar os familiares 
sobre como agir nessas situações e na interconsulta, já que muitos profissionais 
também não se mostram preparados para essa possibilidade e costumam fazer, ao 
ladodo paciente aparentemente inconsciente, comentários desagradáveis que o 
deixam ainda mais ansioso (SEBASTIANI, 1995). 
A necessidade de atenção psicológica à família decorre de uma série de 
implicações que o adoecimento grave acarreta em toda a dinâmica familiar: 
Pocchard e colaboradores (2001 apud SILVA, 2007, p.40), 
 
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identificam a ansiedade como à reação mais encontrada entre os familiares. 
Mas também, outras reações como estresse, negação, medo e desespero 
pela falta de controle da situação foram percebidos por Barnhill, em 1997. 
 
Igualmente ao paciente que vive com o fantasma da morte ao seu lado, os 
familiares também enfrentam sofrimento, angústia, e impotência perante o estado de 
saúde de seu familiar. Eles também precisam de auxílio psicológico, pois, além de 
todos esses sofrimentos, costumam ser encarados pelo paciente hospitalizado como 
seus principais vínculos de vida e motivação para o enfrentamento da doença 
(SEBASTANI, 1995). 
É importante que o psicólogo possa fornecer apoio e orientação nos 
momentos de visita, quando os familiares costumam se sentir sozinhos e acuados 
diante de todos os equipamentos assustadores que existem na UTI. 
 
O trabalho da psicologia no CTI visa principalmente acolher os familiares de 
pacientes internados, oferecendo suporte psicológico através de uma 
escuta diferenciada, além de estimular a família a ser parceira no 
tratamento do paciente. Isso possibilita a externalização do sofrimento e das 
questões referentes à doença, internação e morte, como ansiedades, 
fantasias e medos (TEIXEIRA, 2008, p.92). 
 
Em síntese, o psicólogo deve desenvolver sua escuta psicológica e realizar, 
na UTI, intervenções com pacientes e familiares, visando à diminuição do 
sofrimento, da depressão e da ansiedade, além de trabalhar nos mesmos o aspecto 
da proximidade com a morte, tão comum nesses setores. 
O trabalho do psicólogo hospitalar baseia-se nos seguintes aspectos: 
 
I- Atender integramente o paciente e sua família, considerando-se os 
parâmetros de saúde da Organização Mundial de Saúde [...]. 
II- Desenvolver as atividades dentro de uma visão interdisciplinar 
(médico, enfermeira, assistente social, fisioterapeuta, biomédico, 
nutricionista, etc.) baseadas na integração dos serviços de saúde 
voltados para o paciente e sua família. 
III- Possibilitar a compreensão e o tratamento dos aspectos 
psicológicos (psicogênicos) nas diversas situações, tais como: 
a) Quadros psicoreativos. 
b) Síndromes psicológicas. 
c) Distúrbios psicossomáticos. 
d) Quadros conversivos. 
e) Fantasias mórbidas e angústia de morte. 
f) Ansiedade frente a internações (doenças, evolução, alta) 
(SEBASTIANI, 1995, p.32-33). 
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UNIDADE 8 – PACIENTE CIRÚRGICO 
 
A cirurgia é um evento muito comum na realidade hospitalar, porém que 
suscita no paciente a que será submetido a ela e em seus familiares uma série de 
medos e ansiedades. Antes de aprofundarmos no assunto, devemos refletir que o 
medo do paciente em relação à cirurgia não é totalmente imaginário, visto que o 
processo cirúrgico visa à cura ou à melhora do paciente, entretanto, devido ao seu 
caráter invasivo, pode realmente resultar em algum tipo de dano. 
 
Submeter-se a uma intervenção cirúrgica gera alterações significativas, 
desequilíbrios psicológicos que podem dificultar o período pós-operatório. 
Antes e depois da cirurgia, é importante consultar um psicólogo para 
diminuir a ansiedade e racionalizar o temor que toda cirurgia desencadeia 
(JUAN, 2007, p.57). 
 
Segundo Sebastiani (1995), a cirurgia é um evento marcado por uma série 
de mudanças emocionais por parte do paciente. Ao saber que precisará ser 
submetido a uma cirurgia, as pessoas refinam seu autocontrole, limitam suas 
percepções e sentimentos, negam o perigo, aceitam o inevitável com aparente 
resignação ou mesmo satisfação. Sintetizando, o paciente utiliza seus recursos 
internos para se proteger do medo e do sofrimento assumindo uma postura mais 
passiva, cooperativa e tratável. Como já afirmamos em outros momentos do curso, a 
equipe de saúde espera, por parte do paciente, esse tipo de postura mais passiva e 
cooperativa. 
 
Quando um paciente recebe a notícia de que terá que se submeter a um 
procedimento cirúrgico, automaticamente ficará focalizado nas implicações 
deste evento em sua vida. A doença, o diagnóstico e a necessidade da 
cirurgia como forma de tratamento significam que a saúde da pessoa está 
debilitada. Assim, o passo seguinte é se adaptar a esse contexto de forma 
adequada (JUAN, 2007, p.49). 
 
A aparente contenção emocional do paciente às vésperas de uma cirurgia 
pode, na verdade, estar escondendo grande medo e pavor. Ele tem medo de muitos 
aspectos que podem estar presentes no contexto cirúrgico: da dor, da anestesia, de 
ficar desfigurado, de mostrar que tem medo, de ficar incapacitado e de morrer 
(SEBASTANI, 2005). 
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O paciente tem que lidar com o fato de estar doente, enfrentar a situação 
cirúrgica, e se reorganizar, já que existe uma ruptura em seu cotidiano. O 
evento cirúrgico provoca no paciente sensação de ausência de controle. 
Durante o procedimento, o paciente é manipulado pela equipe médica, 
caracterizando, pois, uma situação de dependência, a qual também deve 
ser elaborada pela pessoa. O paciente sente-se ameaçado, por se 
submeter a uma técnica invasiva (JUAN, 2007, p.50). 
 
Existem três momentos críticos para o paciente que será submetido a uma 
cirurgia: o momento pré-cirúrgico, a cirurgia em si e o momento pós-cirúrgico. O 
psicólogo não participa do momento cirúrgico, normamente restrito aos médicos, 
enfermeiros e outros profissionais que atuam no bloco cirúrgico. 
Todos os três momentos podem ser marcados por reações de ansiedade em 
graus variáveis (desde normal até reações capazes de paralisar o paciente), por isso 
o acompanhamento psicológico nesses três momentos pode se mostrar benéfico. 
Nessa dinâmica, a atuação do psicólogo pode se dar em ambiente clínico e 
ambulatorial (antes ou depois da internação para a realização da cirurgia) e em 
ambiente hospitalar nos momentos imediatamente antes e depois da cirurgia. 
Há casos em que o paciente deverá ser encaminhado para a UTI após o 
procedimento e as implicações emocionais da internação em setor fechado já foram 
mencionadas na seção anterior. Em outros casos, logo após a cirurgia, o paciente 
pode retornar ao seu leito (enfermaria ou particular) e logo terá contato com seus 
familiares, poderá voltar a vestir as suas roupas. O período de dependência pode 
ser menor em determinadas cirurgias, onde logo o paciente já pode tomar banho 
sozinho, deambular, ir ao banheiro e receber a alta hospitalar. 
No momento pré-operatório, a atuação do psicólogo é bastante importante, 
chamada, por alguns autores, de psicoprofilaxia cirúrgica: 
 
Em síntese, a psicoprofilaxiacirúrgica é uma alternativa que ajuda o paciente a 
enfrentar e aliviar sintomas e problemas específicos derivados da situação da 
intervenção cirúrgica e o prepara emocionalmente para a tal situação. Permite, 
ainda, detectar traumas produzidos por ocasião da intervenção cirúrgica, como 
também prevenir e diminuir os efeitos dos estressores da situação. Por fim, o 
processo preventivo serve como diagnóstico e prognóstico através da avaliação 
da vulnerabilidade do indivíduo (JUAN, 2007, p.57). 
 
Como temos enfocado ao longo desse curso, estratégias de prevenção têm 
grande valia para a saúde do indivíduo, sempre abordado numa perspectiva 
biopsicossocial. Segundo Juan (2007), a preparação psicológica auxilia diminuir o 
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estresse pré-cirúrgico. Como grande parte da ansiedade do paciente advém em 
saber o que será feito dele no momento da cirurgia – ocasião em que o paciente 
encontra-se totalmente “nas mãos” de outros profissionais, sem nenhum controle da 
situação ou autonomia para tomar decisões – faz-se importante fornecer dados 
sobre o procedimento realizado, assim como sobre o comportamento que poderá ser 
adotado pelo paciente em decorrência do procedimento. Como mencionamos em 
outras seções, a educação em saúde mostra-se relevante, pois ajuda o paciente a 
compreender melhor a situação para, assim, enfrentá-la. 
 
Foi demonstrado que quanto maior o nível de estresse de um paciente 
antes da cirurgia, maior é a demora do processo de cicatrização, maior a 
debilidade do sistema imunológico e pode mostrar-se pouco colaborador 
com os procedimentos médicos (p.55). 
 
Sebastiani (1995) elucida algumas reações comuns no paciente pós-
cirúrgico imediato: a reação à cirurgia (letargia e apatia); a agressividade, a 
depressão reativa e as reações de perda. Passado o pós-operatório inicial ocorre o 
período pós-operatório propriamente dito, caracterizado por reações como: 
elaboração inadequada das limitações impostas pelo ato cirúrgico (concreta e 
imaginária) e dificuldade de corresponder à reabilitação e reinserção sócio-familiar a 
curto, médio e longo prazos. 
Apenas iremos citar essas reações, sem entrar em maiores detalhes, já que 
os nomes das mesmas são bastante explicativos. Reforçamos que o papel do 
psicólogo se faz importante para contornar essas reações, normais ao processo pós-
operatório, e auxiliá-lo em sua recuperação. 
A letargia e a apatia relacionam-se ao estado emocional do paciente. O 
pânico faz com que o paciente paralise os seus sentimentos. A agressividade – 
reação que normalmente assusta e incomoda a equipe de saúde – ocorre em 
decorrência do paciente se sentir, em seu íntimo, violentado pelo ato cirúrgico em si 
e costuma ser uma reação inconsciente. É importante que a equipe compreenda 
essa agressividade como um processo natural, não como uma reação destinada a 
este ou aquele profissional especificamente, pois essa percepção pode impedir que 
se estabeleçam vínculos entre equipe e paciente (SEBASTIANI, 2005). 
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A depressão é uma reação bastante séria e o ideal é que ela seja trabalhada 
no momento pré-cirúrgico. Entretanto, sabe-se que nem sempre isso se faz possível, 
já que muitas cirurgias são de urgência. Nesse sentido, o profissional da psicologia 
deve se atentar que: 
 
O fenômeno depressivo vivido pelo paciente internado no hospital geral se 
não considerado e acompanhado pode tornar-se o divisor de águas entre a 
opção pela vida ou a entrega à morte. Pode-se observar inúmeros casos 
onde, embora o prognóstico do paciente fosse bom, a depressão que se 
instalou funcionou como agravante seríssimo de seu estado psicobiológico, 
derivando para agravamentos somáticos do quadro clínico, eventualmente 
levando à morte. E, mesmo naqueles casos onde a morte é inexorável, a 
elaboração da angústia da morte é que possibilita a estruturação do 
desapego como condição para aceitação de um morrer permeado por 
serenidade e aceitação ou caso contrário, o autoabandono que 
inevitavelmente redunda em sofrimento, desespero e dor (SEBASTIANI, 
1995, p.46). 
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UNIDADE 9 – PEDIATRIA 
 
9.1 O processo de adoecimento e hospitalização da c riança 
Como já mencionamos anteriormente, a doença e a morte não escolhem 
idade, podem aparecer em qualquer faixa etária, inclusive na infância. Observa-se 
que, em geral, as pessoas – inclusive os profissionais de saúde – têm mais 
facilidade em aceitar a ocorrência de doenças graves e a morte dentre pessoas mais 
velhas, se comparadas às crianças. Talvez isso se explica por que somos 
ensinados, desde pequenos, que os seres vivos passam por um ciclo vital onde se 
nasce, cresce, reproduz, envelhece e morre, ou seja, deixam claro que, antes da 
morte, o ser humano irá vivenciar uma série de situações relacionadas ao seu 
desenvolvimento biopsicossocial. 
Entretanto, na vida real não é assim que acontece. Alguns morrem logo ao 
nascer, outros, mesmo antes disso, outros morrem crianças. O tema dessa seção 
não é sobre morte, porém para falarmos de pediatria, de crianças doentes, 
acabamos precisando falar da vivência da morte na infância. 
Atualmente, a maioria dos nascimentos ocorre no hospital. Todos esperam 
que, passado o período pós-parto definido pelo protocolo da instituição, mãe e bebê 
possam ir para a sua casa, onde, aos poucos, todos vão se acostumando com as 
rotinas impostas pelo novo morador da casa. Entretanto, nem sempre é assim que 
acontece. Devido a algumas complicações de saúde perinatais ou acontecidas no 
momento do parto, algumas crianças permanecem hospitalizadas após a alta 
materna, gerando grande tristeza e apreensão por parte dos pais e familiares. 
Outros chegam a ir para a casa, mas adoecem e necessitam ser hospitalizados 
novamente. Já outros crescem com saúde até determinado momento de sua 
infância, até que surge uma doença que obriga a criança a abrir mão de sua 
convivência familiar, escolar e permanecer no hospital por um período de tempo 
variável. 
Os setores hospitalares que abrigam as crianças são as enfermarias infantis 
(ou leitos particulares) e as UTI neonatal ou infantil. 
 
O ambiente hospitalar – com seu típico caráter asséptico – é em geral 
aterrorizante, pois não existe nada nesse lugar que a criança possa 
identificar com suas experiências anteriores. Além disso, a debilitação física 
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e emocional nesse momento contribuem para a vivência desprazerosa 
dessa situação. A equipe de saúde, por sua vez, preocupa-se em demasia 
com o tratamento do órgão doente,esquecendo de olhar a criança de forma 
integral e desconsiderando as especificidades de cada fase do 
desenvolvimento. Dessa maneira, a equipe pode não oferecer a continência 
necessária e não auxilia, de modo algum, no enfrentamento da situação de 
hospitalização pela criança (OLIVEIRA, DIAS e ROAZZI, 2003 apud 
SACCOL; FIGHERA; DORNELES, 2007, p.183). 
 
As UTIs pediátricas se assemelham ao que definimos na seção anterior, 
com a diferença de que são voltadas para o público infantil. A UTI neonatal é o setor 
do hospital que presta atendimento intensivo ao bebê de até 28 dias, enquanto que 
a UTI infantil é especializada no atendimento intensivo a pacientes de 29 dias a 14 
ou 18 anos, sendo que esse limite varia de acordo com a instituição hospitalar 
(HOSPITAL ANCHIETA, s.d.). 
Independente do setor onde a criança se encontra hospitalizada, convém 
ressaltar que a experiência de adoecimento é bastante dolorosa e pode ser 
interpretada pela criança de maneira diferente daquela que o adulto compreende. 
 
Uma questão interessante é com relação à forma como a criança entende 
sua doença e consequente hospitalização. Em alguns casos, a criança pode 
entender a doença e hospitalização como uma punição por algum “delito” 
que ela tenha cometido. Isso pode acontecer em função do pensamento 
mágico e onipotente que a criança apresenta em determinadas fases do seu 
desenvolvimento (SACCOL; FIGHERA; DORNELES, 2007, p.184). 
 
“Crianças não são adultos em miniatura”. Nem quando saudáveis, nem 
quando doentes. Não devem ser vestidas como pequenos adultos, não devem ver 
programas na televisão voltados para o público adulto. Para tudo há a sua hora, a 
idade apropriada (menos para a doença e a morte). Assim, seguindo essa linha de 
raciocínio, compreende-se que as crianças, quando precisam ser hospitalizadas, 
devem ser internadas em setores específicos para crianças, devem levar uma rotina 
de criança (que inclui brincar e, nos casos de internação mais prolongada, estudar). 
Além disso, o profissional não deve esperar que uma criança reaja como um adulto 
frente a situações de dor, medo, sofrimento, ansiedade. 
 
A hospitalização em si já é vista pela criança como ameaçadora e 
causadora de ansiedade, e desta forma, tem um impacto sobre seu 
comportamento, levando à manifestação de reações adversas como o 
estresse, ansiedade e medo. A necessidade de ser submetido a 
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procedimentos invasivos como as cirurgias, por exemplo, potencializa estas 
reações (BOERING; CREPALDI, 2008, p.62). 
 
Outros autores, como Cruz, Costa e Nóbrega (2006) também reforçam essa 
ideia. Segundo as autoras, estressores como a mudança da rotina e da relação 
intrafamiliar e processos dolorosos, associados à imaturidade infantil podem 
ocasionar traumas passageiros ou permanentes em seu desenvolvimento. Nesse 
sentido, a humanização surge como uma tentativa de minimizar esses transtornos e 
promover um ambiente mais salutar para a criança. 
No caso de doença é mais comum que o adulto reaja como criança nas 
situações mais difíceis, pois, como pudemos estudar anteriormente, um dos 
mecanismos de defesa utilizados para proteger nosso ego das situações adversas é 
a regressão e tanto adultos quanto crianças lançam mão dele. Enquanto adultos 
pedem colo dos pais quando estão doentes, uma criança de 7 anos pode voltar a ter 
episódios de enurese noturna após o nascimento do irmãozinho ou após um período 
longo de hospitalização. 
 
Quando o paciente em questão é criança, tudo pode ganhar maiores 
dimensões justamente em função da fase do desenvolvimento em que o 
paciente se encontra. 
 
Para Ajuriaguerra (apud Saggese; Maciel, 1996), 
 
a situação de adoecimento corporal provoca na criança uma grande 
quantidade de modificações de ordem subjetiva relacionadas às mudanças 
corporais, ao desconforto, ao medo da morte e aos remanejamentos 
necessários no contexto familiar. A angústia frente ao desconhecido é um 
elemento sempre presente, aliado aos sentimentos de autodesvalorização 
perante outras crianças, decorrentes das limitações físicas que a doença 
impõe e da impossibilidade de reagir como anteriormente às demandas 
ambientais (SACCOL; FIGHERA; DORNELES, 2007, p.181). 
 
Como citamos na primeira apostila, compreender o desenvolvimento 
biopsicossocial infantil é de suma importância para o psicólogo hospitalar. Isso 
explica, por exemplo, porque a situação de hospitalização em determinada idade 
pode ser menos traumática do que quando ocorre em outra idade. Isto já foi 
bastante explorado na apostila 1, caso seja necessário, recapitule o conteúdo. Como 
mencionamos no material supracitado, os vínculos estabelecidos entre o bebê e a 
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sua mãe explicam por que isso ocorre. Muitos estudos foram realizados com esse 
intuito: 
 
Eckenhoff (1953) documentou há mais de 40 anos que traumas psicológicos 
infantis podem ser decorrentes da cirurgia e da anestesia. Crianças de seis 
meses a seis anos de idade são as mais suscetíveis a exibirem distúrbios 
comportamentais pós-hospitalização devido à capacidade limitada em lidar 
com pensamentos abstratos. Autores atuais como Rice e cols. (2008) 
corroboram esta ideia (BOERING; CREPALDI, 2008, p.62). 
 
Assim como ocorre com o adulto, diversos fatores podem levar à 
hospitalização da criança: doenças crônicas (como diabetes), condições agudas 
(como traumatismos), cirurgias, tratamentos (como quimioterapia), dentre outras 
patologias podem culminar com o processo de hospitalização. Os motivos são 
vários, como pudemos observar nesses poucos exemplos, mas é fato que a doença 
e a hospitalização podem acarretar uma série de consequências na criança, como 
expresso na citação a seguir: 
 
A doença acarreta na criança uma série de sensações corporais, e, quando 
necessita ser hospitalizada, suas reações diante dessa nova experiência 
dependerão de vários fatores como: separação total ou parcial de familiares 
significativos; idade no período da hospitalização; condição física e tipo de 
cuidado imediato; qualidade do relacionamento com familiares significativos 
antes e durante a hospitalização; duração do período de hospitalização; 
experiências anteriores de hospitalização; quantidade e tipo de informações 
de que a criança dispõe; qualidade e tipo de apoio que recebe dos 
familiares significativos e da equipe de saúde durante a hospitalização; 
atenção às suas necessidades de forma particular. Cada criança possui 
necessidades diferenciadas de afeto e de sensibilidade à separação e à dor 
(SHIMIDTZ, 2000 apud CRUZ; COSTA; NÓBREGA, 2006, p.101). 
 
 Assim como afirmamos na seção anterior, semelhante ao que ocorre com 
os adultos, em caso de cirurgia, a criança sente vários medos relacionados à cirurgia 
e os pais também vivenciam essa situação. Na busca de minimizar os impactos 
negativos da cirurgia no estado psicológico da criança, a psicologia hospitalar pode 
atuar promovendo a preparação psicológica pré-cirúrgica em crianças de diferentes 
idades que em breve serão submetidas à cirurgia. 
Como o padrão de pensamento e a capacidade de compreensão de 
abstração da criança variam em diferentes etapas de seu desenvolvimento, o 
psicólogo deve levar em consideração, ao pensar em prepararo paciente infantil 
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para um procedimento cirúrgico, que este deverá ser adequado à sua faixa etária e 
consequente capacidade de compreensão. Além da idade, fatores como gênero; 
escolaridade; doença e tipo de cirurgia a ser realizada; experiências anteriores da 
criança com a hospitalização e cirurgia; inserção familiar; adaptação com o ambiente 
hospitalar, profissionais que ali atuam e procedimentos aos quais a criança é 
inserida em sua rotina na instituição; estratégia de enfrentamento de problemas são 
fatores que devem ser levados em conta pelo psicólogo que irá preparar uma 
criança para realizar um procedimento cirúrgico. Ressalta-se que esses tipos de 
programas podem ser realizados tanto em instituições públicas ou privadas, visto 
que o gasto para a realização dos mesmos é mínimo ou inexistente. Além de 
auxiliarem os pacientes infantis e seus pais a lidar com a cirurgia, o preparo 
psicológico também auxilia os profissionais de saúde, que passam a lidar com 
pacientes e acompanhantes previamente preparados frente ao que irá acontecer e, 
consequentemente, mais relaxados. (BOERING; CREPALDI, 2008). 
O preparo psicológico também é válido para os pais que, como veremos a 
seguir, também sofrem muito em decorrência da doença do filho e das incertezas 
que essa pode acarretar na família idealizada pelo casal. 
 
a preparação psicológica pré-cirúrgica da criança e dos pais são igualmente 
importantes, pois lhes possibilita certo grau de controle sobre o 
desconhecido que a situação cirúrgica representa, já que em geral esta é 
percebida como um momento de vulnerabilidade e risco (BOERING; 
CREPALDI, 2008, p.62-63). 
 
O preparo psicológico pré-cirúrgico só é possível de ser realizado em 
cirurgia eletiva. No caso de intervenção cirúrgica de urgência não há tempo hábil 
para a realização do mesmo, porém, após a cirurgia, o psicólogo deve atuar de 
forma a minimizar os impactos que a mesma causou no estado psicossocial da 
criança e de seus familiares. 
 
Deste modo, os efeitos da hospitalização para a realização de uma cirurgia 
podem ser atenuados por procedimentos simples. Caso a cirurgia seja de 
emergência e não haja possibilidade de efetivar a preparação psicológica, é 
importante intervir de forma semelhante no pós-cirúrgico, retomando as 
informações sobre o procedimento e esclarecendo sobre o que foi realizado. 
[...] é fundamental para evitar memórias traumáticas sobre o evento 
(BOERING; CREPALDI, 2008, p.68). 
 
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recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
Independente da condição que ocasionou a internação da criança, se ela 
está em enfermaria, leito particular ou UTI, já ficou bastante evidente que ela sofre 
não apenas as dores decorrentes da doença ou dos procedimentos aos quais ela 
está exposta. Os programas de preparo cirúrgico visam trabalhar os aspectos 
emocionais antes que o paciente infantil seja submetido à experiência traumática, 
porém, na prática hospitalar, nem sempre os profissionais dão aos aspectos 
emocionais a mesma importância que dão aos aspectos diretamente relacionados 
ao corpo, à doença física. O sofrimento da criança hospitalizada é da ordem do 
biopsicossocial, porém, na maioria das vezes, os aspectos emocionais da criança 
são negligenciados ou não recebem a devida importância, como explícito na citação 
a seguir. 
 
Após uma extensa revisão sobre o tema criança e hospital, os autores 
Souza, Camargo e Bulgacov (2003) descobriram que as pesquisas que 
estão sendo realizadas atualmente deixam uma lacuna no que diz respeito 
ao estudo da emoção no contexto de pessoas hospitalizadas. O estudo 
constatou a predominância de comportamentos de repressão dos 
sentimentos (“ela é boazinha”, “menino não chora”), em que é reproduzida 
na situação hospitalar a prática de que as crianças não devem expressar 
suas emoções. Além disso, também é comum, quando a criança expressa 
sua raiva e comportamento agressivo, que as pessoas presentes tendam a 
ignorar esses comportamentos, não validando sua expressão e, com isso, 
não valorizando a emoção presente em tais situações (SACCOL; FIGHERA; 
DORNELES, 2007, p.184-185). 
 
8.2 A importância da família nas alas infantis do h ospital 
A presença da família – além de ser garantida por lei (Estatuto da Criança e 
do Adolescente) – é importante para o bem-estar da criança hospitalizada por 
minimizar seu sofrimento psíquico e fortalecer sua capacidade de resposta ao 
tratamento. Estudos mostram que a presença dos familiares nas enfermarias infantis 
contribui para o sucesso do tratamento, além de garantir maior qualidade da atenção 
disponibilizada. Os familiares não devem ser compreendidos como meros 
expectadores do processo terapêutico, mas como participantes e atuantes nesse 
processo (CRUZ; COSTA; NÓBREGA, 2006). 
A equipe de saúde deve ampliar sua visão e não enxergar os pais como 
influências negativas ao trabalho dos mesmos e o psicólogo pode auxiliar no sentido 
de promover a integração entre o paciente infantil, equipe e família. 
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recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
Em algumas situações, mais difícil que lidar com o padrão de pensamento 
imaturo da criança (o que dificulta a compreensão imediata de muitas situações que 
ocorrem com ela no ambiente hospitalar) é lidar com os pais. Especialmente quando 
o filho sofre de uma doença grave. A citação a seguir ilustra a angústia sentida pelos 
pais quando recebem o diagnóstico de câncer de seu filho: 
 
A ameaça de perda de um ser criado por ela é algo impensável, tal a dor e a 
angústia que essa ideia suscita. Ao se deparar com o diagnóstico de câncer 
em seu filho, seu mundo desmorona e o futuro se fecha numa perspectiva 
de morte. Mesmo quando lhe são comunicados os avanços científicos, o 
alto índice de cura em muitos tipos de câncer, as possibilidades de um 
tratamento vitorioso, esse momento se reveste numa dor incomensurável 
(VALLE, 2001, p.53). 
 
Tendo visto isso, fica evidente que o psicólogo que trabalha em setores de 
pediatria deve estar preparado para prestar assistência psicológica não apenas à 
criança doente, mas também ao seu familiar que, muitas vezes, chega a apresentar 
maior sofrimento psíquico que a própria criança, já que o adulto consegue 
compreender a gravidade da situação e as possíveis implicações de determinada 
doença, tratamento, ou cirurgia na vida de seu filho. 
 
8.3 O brincar e as brinquedotecas 
Muitas vezes, quando uma pessoa entra numa enfermaria infantil pela 
primeira vez, tem uma impressão estranha. Espera encontrar todas as crianças 
acamadas, com seus acompanhantes ao lado, como numa enfermaria de adultos. 
Felizmente, esses locais costuma ser diferentes: paredes pintadas de colorido (ao 
contrário do branco clássico dos hospitais), motivos infantis nas paredes, leitos 
pequenos, banheiros adaptados para os pequenos, semelhantes aos de escolas e 
também crianças hospitalizadas andando livremente pelos corredores. 
Aquelesque apresentam restrições ou impossibilidade de caminhar 
realmente precisam ficar de repouso no leito, mas as enfermarias infantis 
caracterizam-se por serem locais onde a criança pode ficar mais livre para que a 
hospitalização não seja tão traumática. Dentre as atividades desenvolvidas pela 
criança na escola destaca-se o ato de brincar: 
 
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A brincadeira também é uma necessidade da criança, devendo assim ser 
atendida durante a hospitalização, pois é através da brincadeira que ela se 
desenvolve como um todo e expressa seus anseios, seus temores, seu bem 
estar físico e psíquico. A hospitalização não deve ser um impeditivo para a 
criança continuar a desenvolver suas capacidades, competindo ao hospital 
promover condições para isso. Além disso, esse direito também é 
assegurado no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu 
capítulo II, Do Direito à liberdade, ao respeito e à dignidade, no Art. 16, 
parágrafo IV, onde refere seu direito de “brincar, praticar esportes e divertir-
se” (BRASIL, 1990 apud CRUZ; COSTA; NÓBREGA, 2006, p.102). 
 
Atualmente, muitas enfermarias contam com brinquedotecas – salas 
destinadas ao brincar, com diversos brinquedos, jogos, às vezes televisão com DVD 
e computadores. Nesses locais é comum a participação de grupos de voluntários 
que contam histórias, vestem-se de palhaços para alegrar os pacientes, cantam, 
dentre outras atividades lúdicas que podem ser desenvolvidas. 
Um tipo de brinquedo importante nesse contexto, porém que nem sempre é 
utilizado pelos profissionais é o brinquedo terapêutico. São brinquedos criados a 
partir de instrumentos utilizados no hospital (seringas, luvas, equipos, dentre outros), 
devidamente limpos e que não ofereçam nenhum tipo de risco à criança que irá 
utilizá-los. Com esses brinquedos, o profissional pode demonstrar, de maneira 
lúdica, como é o uso dos mesmos; em bonecos a criança encontra espaço para 
simbolizar seus medos, ansiedades e angústias (CRUZ; COSTA; NÓBREGA, 2006). 
O psicólogo pode e deve trabalhar com esses brinquedos terapêuticos e na 
brinquedoteca. 
Outro recurso terapêutico que o psicólogo pode utilizar com a criança 
hospitalizada é o desenho. Além das particularidades típicas do desenho de cada 
faixa etária e da coordenação motora necessária para que a criança realize seus 
desenhos sabe-se que através dos mesmos ela pode externar emoções, 
sentimentos, desejos. 
 
O desenho tem sido compreendido como um meio que permite a criança 
organizar informações, processar experiências vividas e pensadas, 
estimulando-a a desenvolver um estilo de representação singular do mundo. 
Portanto, as experiências gráficas fazem parte do crescimento psicológico e 
são indispensáveis para o desenvolvimento e para a formação de indivíduos 
sensíveis e criativos, capazes de transpor e transformar a realidade 
(GOLDBERG; YUNES; FREITAS, 2005 apud MENEZES, MORÉ; CRUZ, 
2008, p.190). 
 
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Quando hospitalizada a criança pode transmitir para o seu desenho 
questões referentes à hospitalização, as quais nos referimos nessa seção: 
ansiedade, medo, separação dos colegas e irmãos menores, afastamento de casa, 
dentre outras. O psicólogo pode utilizar essa rica ferramenta tanto como recurso de 
avaliação psicológica como de intervenção. 
 
[...] o desenho permite o acesso a aspectos como a compreensão e a 
interpretação de características da personalidade, assim como a percepção 
em relação aos outros, incluindo valores grupais e culturais e ainda em 
relação a conceitos e atitudes referentes aos contextos médico e escolar. A 
indicação para a análise de itens como traçado, cores, localização, 
elementos constitutivos e faixa etária das crianças submetidas à avaliação 
psicológica por meio do desenho, mostrou-se presente em vários estudos 
relativos aos contextos de saúde, doença e hospitalização, possibilitando a 
compreensão de fenômenos psicológicos os mais variados, como 
ansiedade, perturbações emocionais, auto-estima, fantasias, percepção da 
dor, conceitos de saúde e doença, entre outros (MENEZES, MORÉ; CRUZ, 
2008, p.196). 
 
Concluímos essa subseção com a apresentação de dois desenhos 
realizados por pacientes hospitalizados, os quais apresentam características 
bastante diferentes. O primeiro é o desenho de um menino de 10 anos, estudante do 
5° ano, o qual foi realizado no seu primeiro dia de internação em decorrência de uma 
virose. Foi pedido às crianças que, além do desenho, contassem uma história sobre 
o mesmo. 
Figura 10 : Desenho de uma criança sobre o hospital 
 
Fonte : Ribeiro; Pinto Júnior (2009, p. 44). 
História produzida pelo menino sobre seu desenho: 
 
Os doutores curam as pessoas ruins. O hospital é grande e cuida das 
pessoas. Tem mesinha e árvore lá fora. E enfermeira. Aqui não dá para 
dormir, os bebês gritam. Em casa dá, é grande (RIBEIRO; PINTO JÚNIOR, 
2009, p. 44). 
 
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O desenho a seguir foi realizado por Luan, 11 anos, paciente oncológico. 
Convém destacar que desenhos sem colorir (quando o material colorido é disponível 
à criança) costumam demonstrar uma situação emocional carregada de elementos 
negativos (REZENDE et al., 2013), característica muito comum nos desenhos de 
crianças hospitalizadas por motivos graves. 
 
Figura 11 : Desenho “Enfermaria realizando quimioterapia” 
 
Fonte : Rezende et al. (2013). 
 
Se compararmos os desenhos das duas crianças – de aproximadamente a 
mesma idade e sexo masculino – as diferenças são visíveis e não se justificariam, 
por exemplo, a aspectos referentes ao desenvolvimento das duas crianças (devido à 
diferença de apenas um ano de idade). No primeiro caso, o desenho é mais colorido, 
alegre, condiz com a situação do menino (hospitalizado naquele mesmo dia por uma 
virose, condição aguda). Já o segundo menino, paciente oncológico, em tratamento 
que necessita internações por períodos mais longos, ilustra o seu cotidiano doloroso 
através de um desenho que deixa bem explícita a imagem de uma sala de 
quimioterapia que, como o desenho, é triste e sem cores. 
 
 8.4 A educação no hospital: Pedagogia Hospitalar 
A criança hospitalizada sofre uma série de rupturas no estilo de vida em que 
levava antes do surgimento da doença e consequente necessidade de 
hospitalização. Afastamento da casa, perda do contato com os irmãos também 
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crianças (que, devido às normas hospitalares, costumam ser impedidos de visitar o 
irmão internado), afastamento dos brinquedos e objetos pessoais e, principalmente, 
afastamento daescola. 
Não é da área de atuação do psicólogo intervir diretamente no 
funcionamento do atendimento pedagógico-educacional das crianças e adolescentes 
hospitalizados, entretanto, a educação é uma das áreas afins da psicologia e, além 
disso, como o psicólogo é membro da equipe interdisciplinar que atua na enfermaria 
infantil torna-se importante que ele saiba que esta modalidade é reconhecida pelo 
MEC. 
Quando hospitalizada por longos períodos a criança pode não ter condições 
de acompanhar o ritmo da turma na qual outrora estava inserida e, a partir do 
atendimento pedagógico-hospitalar no hospital, ela passa a ser instruída por 
professores que a auxiliam a buscar acompanhar o conteúdo que era destinado a 
ela na escola. Essas intervenções diminuem o fracasso e a evasão escolar. 
 
A classe hospitalar enquadra-se como atendimento pedagógico-
educacional, que afiança a preponderância nas funções do ensino: 
instrução escolar, desenvolvimento nos processos psíquicos e intelectivos e 
na produção de aprendizagens, sendo, pois, um delineamento de “escola no 
hospital” (CECCIM, 1999 apud SACCOL; FIGHERA; DORNELES, 2007, 
p.185). 
 
No ambiente hospitalar, o foco principal é a saúde da criança – o que 
também é priorizado pelos educadores – mas, além disso, a classe escolar prioriza 
promover o bem-estar da criança durante a internação, além de proporcionar à 
mesma o direito à educação, independente de onde ela estiver inserida (SACCOL; 
FIGHERA; DORNELES, 2007). 
Assim como a recreação, a educação é um direito da criança expresso no 
Estatuto da Criança e do Adolescente, no seu art. 4o, que refere ser 
 
dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público 
assegurar, à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, a 
efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à 
educação, ao esporte, ao lazer [...] (BRASIL, 1990). 
 
Devendo portanto ter continuidade durante o processo de hospitalização 
(CRUZ; COSTA; NÓBREGA, 2006, p.103). 
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