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FURTO - RESUMO BITENCOURT

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FURTO
1. BEM JURÍDICO TUTELADO
Bem jurídicos diretamente protegidos: POSSE e PROPRIEDADE, como regra geral. Admite-se também a própria DETENÇÃO como objeto da tutela penal, na medida em que usá-la, portá-la ou simplesmente retê-la já representa um bem para o possuidor ou detentor da coisa. (Bitencourt e Prado).
A lei protege a propriedade, pois não se pode negar que o proprietário sofre dano patrimonial com a subtração ou o desaparecimento da coisa sobre a qual tinha a posse, direta ou indireta. Contudo, a proteção da posse vem em primeiro lugar, e só secundariamente se tutela a propriedade. Esta é o direito complexo de usar, gozar e dispor de seus bens — Majoritariamente é considerado que o objeto jurídico imediato do crime de furto é a proteção da posse, e apenas secundariamente a propriedade é protegida (Noronha, Bitencourt)
Somente a posse legítima, contudo, recebe a proteção jurídico-penal: assim, ladrão que furta de ladrão responde pelo crime de furto; apenas o sujeito passivo do segundo furto não será o ladrão, mas o verdadeiro dono ou possuidor legítimo de quem a coisa fora anteriormente subtraída.
Afinal, qual é o bem jurídico protegido, regra geral, nos crimes contra o patrimônio? O patrimônio alheio. Em todos os crimes contra o patrimônio há, invariavelmente, lesão ou ofensa a esse bem jurídico, ou seja, dano! Os crimes contra o patrimônio são crimes materiais, isto é, que produzem resultado material, que é representado pelo dano ao patrimônio da vítima - Vamos simplificar: não há crime contra o patrimônio sem lesão ou ofensa a esse bem jurídico, isto é, sem dano patrimonial.
Quando o objeto da subtração (aspecto examinado em tópico próprio) for de pequeno valor, configurará a minorante prevista no art. 155, § 2o, do CP. Esse “valor diminuto”, convém registrar, não constitui descriminante ou mesmo qualquer causa de atipicidade; no entanto, as coisas juridicamente irrelevantes não podem ser objeto do crime de furto, tais como um palito, um cotonete, um alfinete, uma agulha etc
1.1 Não podem ser objeto de furto:
Objeto de furto somente pode ser coisa móvel.
O ser humano, vivo, não pode ser objeto de furto, pela singela razão de que não se trata de coisa. Poderá responder por inúmeras outras infrações, não de natureza patrimonial, tais como sequestro, cárcere privado, subtração de incapazes etc. A própria subtração de cadáver, em princípio, não pode ser objeto material de furto; constitui, na verdade, crime contra o respeito aos mortos (art. 211). No entanto, quando, eventualmente, o cadáver for propriedade de alguém, passando a ter valor econômico, pode ser objeto de furto, como, por exemplo, quando algo que pertence a uma instituição de ensino para estudos científicos é furtado.
Não podem ser objeto do crime de furto, por exemplo, aquelas coisas que não pertencem a ninguém, tais como res nullius (coisa que nunca teve dono), res derelicta (coisa que já pertenceu a alguém, mas foi abandonada pelo proprietário) e res commune omnium (coisa de uso comum, que, embora de uso de todos, como o ar, a luz ou o calor do Sol, a água do mar e dos rios, não pode ser objeto de ocupação em sua totalidade ou in natura) – A coisa subtraída, para constituir objeto de furto, deve pertencer a alguém, e em qualquer das hipóteses antes mencionadas, não pertence a ninguém.
Mas convém ter presente que o abandono da coisa deve ser evidente, inequívoco, preciso, não o caracterizando, por exemplo, o simples fato de ser uma coisa velha, com as aberturas em precárias condições, facilitando inclusive o acesso. Essas circunstâncias, por si sós, não autorizam estranho a penetrar em seu interior e dispor de seus bens.
A subtração de coisa de propriedade ou posse comum, praticada por sócio, condômino ou coerdeiro, está tipificada no art. 156.
Os direitos, reais ou pessoais, não podem ser objeto de furto. Contudo, os títulos ou documentos que os constituem ou representam podem ser furtados ou subtraídos de seus titulares ou detentores.
2. SUJEITO ATIVO
Afinal, pode o proprietário de uma coisa, da qual não tem a posse, furtá-la?
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, menos o possuidor e o proprietário;
O proprietário não pode ser sujeito ativo do crime de furto, mesmo em relação ao possuidor, pois faltará à coisa a elementar normativa “alheia”, ou seja, ninguém pode furtar “coisa própria”; poderá, no máximo, praticar o crime do art. 346. Pelas mesmas razões, condômino, coerdeiro ou sócio também não podem ser sujeito ativo desse crime de furto.
O possuidor tampouco pode ser sujeito ativo do crime de furto, na medida em que, estando de posse da coisa, não pode subtraí-la de outrem. Ademais, se inverter a natureza da posse que detém (tornar a posse ilegítima), o crime que praticará não será este, mas o de apropriação indébita (art. 168).
3. SUJEITO PASSIVO
Sujeitos passivos são o proprietário, o possuidor e, eventualmente, até mesmo o detentor da coisa alheia móvel, desde que tenha algum interesse legítimo sobre a coisa subtraída (Ter a coisa, a qualquer título, ou simplesmente poder usá-la constitui um bem para o possuidor ou mesmo o detentor).
A posse ou detenção, contudo, não pode ser confundida com a disposição momentânea da coisa. Por exemplo, alguém entrega a coisa a terceiro, que, de inopino, põe-se em fuga: essa entrega e posse correspondente não convertem a conduta em apropriação indébita. O crime cometido, na realidade, configura furto.
Para a configuração do crime de furto é irrelevante a identificação e individualização da vítima, pois a lei não protege o patrimônio de alguém em particular, mas de todos em geral; por isso, basta a certeza de que a res furtiva não pertence ao ladrão, isto é, trata-se de coisa alheia – Logo, o fato de não ser descoberto ou identificado o proprietário ou possuidor da coisa furtada, por si só, não afasta a tipicidade da subtração de coisa alheia.
4. TIPO OBJETIVO: ADEQUAÇÃO TÍPICA
Subtrair significa tirar, retirar, surrupiar, tirar às escondidas. Subtrair não é a simples retirada da coisa do lugar em que se encontrava; é necessário, a posteriori, sujeita-la ao poder de disposição do agente. A finalidade deste é dispor da coisa, com animus definitivo, para si ou para outrem.
O ordenamento jurídico brasileiro continua não punindo criminalmente o furto de uso. A coisa objeto da subtração tem de ser móvel, sendo-lhe equiparada a energia elétrica. A coisa móvel tem de ser alheia. Coisa sem dono ou por esse abandonada não pode ser objeto de furto. Subtrair coisa própria constitui conduta atípica. A coisa móvel precisa ser economicamente apreciável.
Coisa corpórea passível de ser deslocada, removida, apreendida ou transportada de um lugar para outro. 
Enfim, a tipificação do crime de furto materializa-se com a subtração da coisa móvel, pertencente a outrem, orientada pela intenção do agente do assenhoramento, próprio ou de terceiro.
Coisa imóvel, com efeito, pode ser objeto de inúmeras infrações, mas nunca dos crimes de furto e roubo. AERONAVE pode ser objeto do crime de furto? Todos esses objetos podem facilmente ser subtraídos e retirados do lugar onde se encontram sem que o dono ou possuidor o perceba; são, em outros termos, de acordo com sua natureza, coisas móveis, configurando, portanto, a elementar exigida pelo tipo penal. Por isso merecem a tutela penal, a despeito da natureza jurídica de imóveis que o Código Civil lhes atribui.
Coisa móvel, para o direito penal, é todo e qualquer objeto passível de desloca mento, de remoção, apreensão, apossamento ou transporte de um lugar para outro.
5. NATUREZA E EFEITO DO CONSENTIMENTO DA VÍTIMA NO CRIME DE FURTO.
O crime de furto pressupõe o dissenso da vítima, sendo irrelevante, contudo, que seja praticado na presença ou ausência desta, na medida em que a clandestinidade, embora seja a regra, não constitui elemento estrutural desse crime. Na verdade, a subtração da coisa alheia móvel pode ser realizada por meio da apreensão manual, com a utilização de algum instrumento, animal adestrado ou por intermédio de agente incapaz (autoria mediata).
Oconsentimento do ofendido acarretará em exclusão da tipicidade, pois o tipo penal pressupõe o dissenso da vítima.
6. TIPO SUBJETIVO: ADEQUAÇÃO TÍPICA
O tipo subjetivo é constituído pelo dolo, que é seu elemento subjetivo geral, e pelo especial fim de agir, que é seu elemento subjetivo especial. O dolo, por sua vez, constitui-se pela vontade consciente de subtrair coisa alheia, isto é, que pertença a outrem. É indispensável que o dolo abranja todos os elementos constitutivos do tipo penal, sob pena de configurar-se o erro de tipo.
É indispensável que o agente saiba que se trata de coisa alheia. Quando, no entanto, o agente, por erro, supuser que a coisa “subtraída” é própria, não responderá pelo crime de furto, por faltar-lhe o conhecimento ou a consciência da elementar normativa alheia. Estar-se-á diante do que se chama de crime putativo, que, evidentemente, crime não é.
O elemento subjetivo especial do tipo é representado pelo fim especial de apoderar-se da coisa subtraída, para si ou para outrem. A ausência desse animus apropriativo (finalidade de apossamento) desnatura a figura do crime de furto.
7. CONSUMAÇÃO
Quanto ao momento consumativo do crime de furto podem-se destacar, basicamente, três orientações distintas: a) que é suficiente o deslocamento da coisa, mesmo que ainda não tenha saído da esfera de vigilância da vítima; b) que é necessário afastar-se da esfera de vigilância do sujeito passivo; c) que é necessário um estado de posse tranquilo, ainda que momentâneo.
O STF (HC 135.674/PE, DJe 13/10/2016) e o STJ (AgInt no REsp 1.662.616/MG, DJe 25/09/2017) adotam a teoria da amotio (ou apprehensio), segundo qual consuma-se a subtração quando a coisa passa para o poder do agente, mesmo que num curto espaço de tempo, independentemente de deslocamento ou posse mansa e pacífica. Assim, já se decidiu consumado o delito no momento em que o proprietário perde, no todo ou em parte, a possibilidade de contato material com a res ou de exercício da custódia dominical, seja porque o agente conseguiu fugir, seja porque destruiu a coisa apoderada.
Ocorre que em data de 14.09.2016, o E. STJ emitiu a Súmula 582, nos seguintes termos: “Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada” (grifo nosso).
Com isso fica consagrada definitivamente a adoção da Teoria da “Amotio” (apprehensio) para a consumação do furto e do roubo (a Súmula menciona apenas o roubo, mas pode ser aplicada perfeitamente ao furto), pouco importando se por longo ou breve espaço temporal, sendo prescindível a posse mansa, pacífica, tranquila e/ou desvigiada.
STF:  o crime de furto se consuma no momento em que o agente se torna possuidor da ‘res furtiva’, ainda que haja imediata perseguição e prisão, sendo prescindível que o objeto subtraído saia da esfera de vigilância da vítima. HC 254.399
“(...) dispensa, para a consumação do furto ou do roubo, o critério da saída da coisa da chamada ‘esfera de vigilância da vítima’ e se contenta com a verificação de que, cessada a clandestinidade ou a violência, o agente tenha tido a posse da ‘res furtiva’, ainda que retomada, em seguida, pela perseguição imediata.” (HC 89.958/SP
Consuma-se o crime de furto com a retirada da coisa da esfera de disponibilidade da vítima; em outros termos, consuma-se quando a coisa sai da posse da vítima, ingressando na do agente. A posse de quem detinha a coisa é substituída pela posse do agente, em verdadeira inversão ilícita. Para Magalhães Noronha, a consumação “verifica-se quando a coisa é substituída à esfera de atividade da vítima, isto é, quando ela é colocada em situação tal que aquela não mais pode exercer os atos que sua posse lhe confere”.
Para que o delito se consuma não é necessária posse definitiva ou prolongada da res furtiva, bastando a posse efêmera.
Existem circunstâncias em que o furto deve ser considerado consumado, como ocorre mesmo que a res furtiva permaneça no âmbito pessoal ou profissional da vítima, como destacava Hungria: “É o caso, por exemplo, da criada que sub-repticiamente empolga uma joia da patroa e a esconde no seio ou mesmo nalgum escaninho da casa, para, oportunamente, sem despertar suspeitas, transportá-la a lugar seguro”. Nesses casos, não há possibilidade material, por parte do ofendido, de exercer o seu poder de disposição da coisa, cujo paradeiro desconhece.
8. TENTATIVA
O furto, como crime material, admite a figura tentada. Sempre que a atividade executória seja interrompida, no curso da execução, por causas estranhas a vontade do agente, configura-se a tentativa. Em outros termos, quando o processo executório for impedido de prosseguir antes de o objeto da subtração ser deslocado da esfera de disponibilidade da vítima para a posse tranquila do agente, não se pode falar em crime consumado.
Por outro lado, para a punibilidade da tentativa, nosso Código Penal seguiu a teoria objetiva, segundo a qual “o que justifica a punibilidade da tentativa é o perigo objetivo que ela representa para o bem jurídico. E esse perigo só existirá se os meios em pregados na tentativa forem adequados à produção do resultado e se o objeto visado apresentar as condições necessárias para que esse resultado se produza”. A tentativa, em outros termos, não é punível quando é absoluta a ineficácia do meio ou absoluta a impropriedade do objeto (art. 17: crime impossível). Não há tentativa quando, por exemplo, o agente introduz a mão no bolso da vítima para subtrair-lhe os valores, mas esta não traz consigo nenhum centavo.
OBS: MONITORAMENTE ELETRÔNICO E CRIMES DE FURTO: POSICIONAMENTO DO STJ E STJ: Art. 17, CP; Jurisprudência STF nº 144.851; Súmula 567 STJ.
9. CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA
Trata-se de crime comum (aquele que não exige qualquer condição especial do sujeito ativo); de dano (consuma-se apenas com lesão efetiva ao bem jurídico tute lado); material (que causa transformação no mundo exterior, consistente à diminuição do patrimônio da vítima); doloso (não há previsão legal para a figura culposa); de forma livre (pode ser praticado por qualquer meio, forma ou modo); instantâneo (a consumação opera-se de imediato, não se alongando no tempo); unissubjetivo (pode ser praticado, em regra, apenas por um agente); plurissubsistente (pode ser desdobrado em vários atos, que, no entanto, integram uma mesma conduta).
10. §1º - REPOUSO NORTURNO
O § 1º do art. 155 determina o aumento de um terço da pena “se o crime é praticado durante o repouso noturno”. Constata-se que o furto praticado durante o repouso noturno, embora não qualifique o crime, majora a pena aplicável.
Com a expressão durante o repouso noturno, por certo, a lei não se refere ao nascer e ao pôr do sol, mas ao período de recolhimento, aquele em que a população deve dormir. Essa circunstância, de natureza puramente sociológica, deve ser analisada, casuisticamente, considerando os hábitos e costumes da localidade onde o fato ocorreu.
Com efeito, na linha restritiva a que nos propomos, para se configurar a majorante do repouso noturno necessita ser praticada em casa habitada, já em horário de repouso, porque, nessas circunstâncias, efetivamente, afrouxa-se a vigilância do sujeito passivo, facilitando não só a impunidade, mas também o êxito do empreendimento delituoso.
A conveniência político-criminal de adotar a primeira opção, qual seja, para se admitir caracterizada a majorante do repouso noturno, é necessário que o lugar seja habitado e se encontre com pessoa repousando. Jurisprudência e doutrina dominantes reconhecem a inaplicabilidade da majorante do repouso noturno quando o furto é praticado em lugar desabitado (estabelecimento comercial, por exemplo) ou na ausência dos moradores.
A majorante do repouso noturno é inaplicável às hipóteses de furto qualificado?
a) Não, podendo, contudo, ser considerada na dosimetria da pena, como circunstância do crime (art. 59).
b) Sim. Orientação jurisprudencialdo Supremo Tribunal Federal no sentido da “convivência harmônica entre a causa de aumento de pena do repouso noturno (CP, art. 155, § 1º) e as qualificadoras do furto (CP, art. 155, § 4º) quando perfeitamente compatíveis com a situação fática” (HC 130.952 de 2016, Rel. Min. Dias Toffoli). Transcrevo o inteiro teor da ementa daquele julgado: “Habeas corpus. Penal. Tentativa de furto qualificado pelo rompimento de obstáculo (CP, art. 155, § 4º, I, c/c o art. 14, II). Condenação. Incidência da majorante do repouso noturno (CP, art. 155, § lº) nas formas qualificadas do crime de furto (CP, art. 155, § 4º). Admissibilidade. Inexistência de vedação legal e de contradição lógica que possa obstar a convivência harmônica dos dois institutos quando perfeitamente compatíveis com a situação fática. Entendimento doutrinário e jurisprudencial. Ordem denegada. 1. Não convence a tese de que a majorante do repouso noturno seria incompatível com a forma qualificada do furto, a considerar, para tanto, que sua inserção pelo legislador antes das qualificadoras (critério topográfico) teria sido feita com intenção de não submetê-la às modalidades qualificadas do tipo penal incriminador. 2. Se assim fosse, também estaria obstado, pela concepção topográfica do Código Penal, o reconhecimento do instituto do privilégio (CP, art. 155, § 2º) no furto qualificado (CP, art. 155, § 4º) -, como se sabe, o Supremo Tribunal Federal já reconheceu a compatibilidade desses dois institutos. 3. Inexistindo vedação legal e contradição lógica, nada obsta a convivência harmônica entre a causa de aumento de pena do repouso noturno (CP, art. 155, § 1º) e as qualificadoras do furto (CP, art. 155, § 4º) quando perfeitamente compatíveis com a situação fática. 4. Ordem denegada.”
STJ: REsp nº 1.764.545 – GO Nas razões do recurso especial, o órgão ministerial sustentou a possibilidade da incidência da majorante do repouso noturno na hipótese de furto qualificado pelo rompimento de obstáculo, uma vez que tais circunstâncias não são antagônicas, motivo pelo qual o critério topográfico utilizado pelo acórdão estadual não deve prevalecer. Em razão disso, o STJ concluiu que a pretensão ministerial deveria prosperar para incidir a causa de aumento de pena na terceira fase da dosimetria conforme determinado pela sentença.
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. PENAL. FURTO QUALIFICADO. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 158, 167 E 171, TODOS DO CPP. DESTRUIÇÃO OU ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO À SUBTRAÇÃO DA COISA. CRIME QUE DEIXA VESTÍGIO. PERÍCIA DIRETA. IMPRESCINDIBILIDADE. AFASTAMENTO DA QUALIFICADORA. PRECEDENTES. 1. Segundo o entendimento jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça, a causa de aumento tipificada no § 1º do art. 155 do Código Penal, referente ao crime cometido durante o repouso noturno, é aplicável tanto na forma simples como na qualificada do delito de furto. 2. A causa de aumento prevista no § 1.° do art. 155 do Código Penal, que se refere à prática do crime durante o repouso noturno - em que há maior possibilidade de êxito na empreitada criminosa em razão da menor vigilância do bem, mais vulnerável à subtração -, é aplicável tanto na forma simples como na qualificada do delito de furto (HC n. 306.450/SP, Ministra Maria Thereza de Assis Moura, DJe 17/12/2014). 3. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1708538/SC, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 5/4/2018, DJe 12/4/2018)
11. § 2º “FURTO PRIVILEGIADO” 
Em obediência ao princípio da proporcionalidade, a redução da sanção para adequá-la à menor gravidade do fato.
Primário, reincidente e não reincidente. Com efeito, chama-se primário quem nunca sofreu qualquer condenação irrecorrível; reincidente, quem praticou um crime após o trânsito em julgado de decisão condenatória (em primeiro ou segundo grau), enquanto não tenha decorrido o prazo de cinco anos do cumprimento ou da extinção da pena; não reincidente, como categoria, é aquele que não é primário e tampouco ostenta a condição de reincidente (essa é definição exclusiva para o direito brasileiro, sendo inaplicável, genericamente, às legislações alienígenas). Não é reincidente, por exemplo, quem comete o segundo ou terceiro crime antes do trânsito em julgado de crime anterior; quem comete novo crime após o decurso de cinco anos do cumprimento de conde nação anterior ou da extinção da punibilidade etc.
Eventuais condenações anteriores, por si sós, ou meros antecedentes criminais negativos não são causas impeditivas do reconhecimento da existência desse requisito à luz de nosso ordenamento jurídico em vigor. Tratando-se de norma criminal, não pode ter interpretação extensiva, para restringir a liberdade do cidadão.
Orientação majoritária, segundo a qual de pequeno valor é a coisa que não ultrapassa o equivalente ao salário mínimo.
Sobre a possibilidade de aplicação do privilégio ao crime de furto qualificado STJ, Súmula 511 – É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva.
No STF: A jurisprudência desta Corte autoriza a aplicação do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP ao crime de furto qualificado, desde que haja compatibilidade entre as qualificadoras (CP, art. 155, § 4º) e o privilégio (CP, art. 155, § 2º), bem como a pena não fique restrita à multa. Confiram-se os seguintes julgados: HC 105922 / RS, HC 99569 / MG, HC 115266 / ES RHC 115.225/DF
 “coisa de pequeno valor” não se confunde com princípio da insignificância. No princípio da insignificância a infração cometida é considerada sem relevância jurídico-penal. Aqui, na coisa de pequeno valor, NÃO há insignificância, mas em razão das circunstâncias, aplica-se o privilégio.
O valor da res furtiva deve ser medido ao tempo da subtração, não se identificando com o pequeno prejuízo que dela resultar. Como a previsão legal refere-se a pequeno valor da coisa furtada, é irrelevante a circunstância de a vítima recuperar o bem subtraído e não sofrer prejuízo algum. Nos crimes contra o patrimônio, a recuperação do bem subtraído não pode ser admitida como causa da atipicidade da conduta do agente e nem mesmo como fundamento da privilegiadora “pequeno valor”.
12. FURTO QUALIFICADO DO § 4º
Pelo princípio da reserva legal, a lei penal estabelece taxativamente aquelas circunstâncias que, por sua gravidade, tornam o crime qualificado, que, a rigor, constituem novos tipos penais, derivados, mas autônomos, com novos parâmetros sancionatórios, bem mais graves, distintos da figura fundamental — furto simples.
Nesse crime, as qualificadoras, com exceção do abuso de confiança, são de natureza objetiva e, por conseguinte, comunicam-se aos coautores, nos termos do art. 30 do CP.
INCISO I: COM DESTRUIÇÃO OU ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO
Somente a violência empregada contra a coisa caracteriza a qualificadora do furto, pois quando for utilizada contra a pessoa, o crime será de roubo. A violência deve ser contra obstáculo que dificulte a subtração, e não contra a própria coisa que é o objeto da subtração.
Obstáculo é tudo o que é empregado para proteger a coisa contra eventual ação delitiva. Não se considera obstáculo aquilo que integra a própria coisa, como, por exemplo, os vidros do automóvel, a menos que sejam rompidos para subtrair objetos que se encontram no interior do veículo, mas não para subtrair o próprio; É indispensável que a violência seja exercida contra um obstáculo exterior à coisa que se pretende subtrair.
INCISO II: COM ABUSO DE CONFIANÇA, OU MEDIANTE FRAUDE, ESCALADA OU DESTREZA
a) Abuso de confiança: o agente pratica a subtração valendo-se de relação de confiança que mantém com o sujeito passivo, que lhe facilita o acesso à res furtiva, cuja violação justifica sua maior censurabilidade. Abuso de confiança, por sua vez, consiste em uma espécie de traição à confiança, produto de relações de confiabilidade entre sujeitos ativo e passivo, exatamente a razão pela qual, foi facilitado o acessoà coisa alheia.
Exemplos típicos são os casos dos empregados domésticos, incluindo-se também quem se vale da relação de hospitalidade ou coabitação. Convém advertir, contudo, que não basta a simples relação empregatícia para caracterizar a qualificadora, sendo indispensável um vínculo subjetivo caracterizador da confiança e, por isso mesmo, passível de ser quebrado. não basta a existência de uma relação de confiança entre sujeito ativo e sujeito passivo; é necessário que o sujeito ativo se tenha valido dessa relação para praticar o crime, isto é, tenha abusado dela para a execução criminosa. É a velha relação de causa e efeito.
É necessário que a confiança seja natural, conquistada normalmente, isto é, sem ardil, caso contrário a qualificadora que se apresenta não é o abuso de confiança, mas a fraude.
Dois requisitos se fazem necessários: abuso da confiança depositada pelo ofendido e que a coisa se encontre, em razão dessa confiança, na esfera de disponibilidade do agente. É indispensável que o agente tenha consciência de que pratica o crime abusando da relação de confiança que mantém com a vítima.
b) Mediante fraude:. Fraude é a utilização de artifício, de estratagema ou ardil para vencer a vigilância da vítima; manobra enganosa para ludibriar a confiança existente em uma relação interpessoal, destinada a induzir ou a manter alguém em erro, com a finalidade de atingir o objetivo criminoso. Na verdade, a fraude não deixa de ser uma forma especial de abuso de confiança.
Caracteriza meio fraudulento qualquer artimanha utilizada para provocar a desatenção ou distração da vigilância, para facilitar a subtração da coisa alheia.
Embora a fraude seja característica inerente ao crime de estelionato, aquela que qualifica o furto não se confunde com a deste. No furto, a fraude burla a vigilância da vítima, que, assim, não percebe que a res lhe está sendo subtraída; no estelionato, ao contrário, a fraude induz a vítima a erro. Esta, voluntariamente, entrega seu patrimônio ao agente. No furto, a fraude visa desviar a oposição atenta do dono da coisa, ao passo que no estelionato o objetivo é obter seu consentimento, viciado pelo erro, logicamente.
c) Escalada: em direito penal tem sentido próprio, sendo a penetração no local do furto por meio anormal, artificial ou impróprio, que demanda esforço incomum. Escalada não implica, necessariamente, subida, pois tanto é escalada galgar alturas quanto saltar fossos, rampas ou mesmo subterrâneos, desde que o faça para vencer obstáculos.
Se para ingressar no recinto, mesmo através de uma janela ou saltando um muro, não for exigível desforço anormal, não se pode falar em escalada.
A escalada consiste no fato de penetrar o agente no lugar em que se encontra a coisa objeto da subtração, por via anormal, por entrada não destinada a esse fim, e da qual não tem o direito de utilizar-se. E mais: consiste não apenas em ingresso no local por via incomum, mas, sobretudo, superando obstáculo difícil, que demande o uso de instrumento especial ou de invulgar habilidade do agente.
d) A destreza pressupõe uma atividade dissimulada, que exige habilidade incomum, aumentando o risco de dano ao patrimônio e dificultando sua proteção. Ex: batedor de carteiras. O agente adestra-se, treina, especializa-se, adquirindo habilidade tal com mãos e dedos que a subtração ocorre como um passe de mágica, dissimulada mente.
INCISO III: COM EMPREGO DE CHAVE FALSA
Chave falsa é qualquer instrumento de que se sirva o agente para abrir fecha duras, tendo ou não formato de chave. Exemplos: grampo, alfinete, prego, fenda, gazua etc.
A chave verdadeira não qualifica o crime, pois lhe falta a elementar normativa “falsa”. Na verdade, se a chave verdadeira for ardilosamente conseguida pelo agente, a qualificadora será pelo emprego de fraude. contudo, se aquela for esquecida na fechadura ou encontrada, normalmente, em algum lugar, pelo agente ou por terceiro, indiferentemente, o furto será simples.
A simples posse de chave falsa, por mais suspeita que seja, não passa de ato preparatório, teoricamente, impunível. Para representar pelo menos o início de execução — elemento objetivo da tentativa — é necessário, ao menos, que o agente esteja introduzindo o instrumento falso na fechadura, quando é interrompido, por causa estranha à sua vontade.
Logo, refere-se ao modus operandi, sendo, por conseguinte, irrelevante o êxito do empreendimento delituoso para que a qualificadora se aperfeiçoe.
INCISO IV: MEDIANTE CONCURSO DE DUAS OU MAIS PESSOAS
A qualificadora somente se configurará no furto cometido por duas ou mais pessoas que, necessariamente, devem encontrar-se no local do crime, pois “o furto só será cometido ‘mediante o concurso de duas ou mais pessoas’ se estas participarem na fase executiva do delito”. O próprio Supremo Tribunal Federal já reconheceu — ainda na vigência da lei anterior — a necessidade da participação efetiva dos agentes na execução do crime.
Para reconhecer a configuração da qualificadora deve-se observar os princípios orientadores do instituto concurso de pessoas, notadamente a distinção entre coautoria e participação, a começar pela necessidade da causalidade física e psíquica, que passamos a analisar. A coautoria fundamenta-se no princípio da “divisão de trabalho”, em que todos tomam parte, atuando em conjunto na execução da ação típica, de modo que cada um possa ser chamado verdadeiramente autor. O decisivo na coautoria, segundo a visão finalista, é que o domínio do fato pertença aos vários intervenientes, que, em razão do princípio da divisão de trabalho, apresentam-se como peça essencial na realização do plano global. Sugestão de leitura: Conceito restritivo de autor
É necessária uma consciente combinação de vontades, sendo insuficiente uma adesão voluntária, mas ignorada. É irrelevante que algum dos participantes seja inimputável ou isento de pena; pela mesma razão, é indiferente que apenas um seja identificado.
CUIDADO: autoria mediata não configura qualificadora do concurso de pessoas. É autor mediato quem realiza o tipo penal servindo-se, para a execução da ação típica, de outra pessoa como instrumento. A teoria do domínio do fato molda com perfeição a possibilidade da figura do autor mediato.
O executor, na condição de instrumento, deve encontrar-se absolutamente subordinado em relação ao mandante. As hipóteses mais comuns de autoria mediata decorrem do erro, da coação irresistível e do uso de inimputáveis para a prática de crimes
13. FURTO QUALIFICADO DO §6º: SUBTRAÇÃO DE SEMOVENTE DOMESTICÁVEL DE PRODUÇÃO
O objetivo é exasperar a punição do conhecido crime de abigeato, ou seja, o furto de animais. Trata-se, em outros termos, da subtração de animais destinados ao abate, animais de carga ou leiteiros, os quais são criados no campo e nas fazendas, ou seja, em locais que se caracterizam por certa clandestinidade em razão da grande dificuldade de sua proteção e vigilância.
Não apenas a subtração do semovente vivo e inteiro é criminalizado; o animal abatido e dividido em partes, ou não, configura a qualificadora. A elementar típica exige mais: que o abate ou a divisão em partes do semovente ocorra no próprio local da subtração.
Tratando-se de qualificadora objetiva, não há nenhum óbice que se possa reconhecer, ao mesmo tempo, à privilegiadora constante d[]o § 2º deste art. 155, nos termos da Súmula 511 do STJ: “É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2o do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva”.
14. Alterações na tipificação dos crimes de furto e de roubo introduzidas pela lei n. 13.654/2018
Explosivo ou substâncias explosivas, que eram ignorados nos crimes contra o patrimônio, agora podem ser meio para a subtração de coisa alheia móvel, como também objeto material da subtração, nos termos do § 7o.
14.1 QUALIFICADORA DO §4º-A: EMPREGO DE EXPLOSIVO OU ARTEFATO ANÁLOGO
O emprego de explosivo pode ocorrer pelo manuseio de dinamite ou qualquer outromaterial explosivo, v. g., bomba caseira, coquetel molotov etc. Já “artefato análogo” que causa perigo comum é aquele que se assemelha a explosivo e produz efeitos similares.
O legislador contemporâneo olvidou-se de revogar o inciso I do § 4o deste art. 155, o qual qualifica o crime de furto praticado “com destruição ou rompimento de obstáculo”. Não se ignora, por outro lado, que a utilização de explosivos para a prática do crime de furto decorre exatamente da existência de obstáculo à subtração da coisa, por exemplo, os assaltos aos caixas eletrônicos bancários.
Na hipótese do § 4º-A podem ocorrer, simultaneamente, duas qualificadoras, quais sejam, esta do novo diploma legal e aquela do inciso I do § 4º, que não foi revogado e tampouco derrogado. Logicamente, pelo conflito aparente de normas, deve-se aplicar somente a nova qualificadora, que é a mais grave, mas também a mais recente.
14.2 QUALIFICADORA DO §7º: SUBSTÂNCIAS EXPLOSIVAS OU ACESSÓRIOS COMO OBJETO DA SUBTRAÇÃO
Pune-se, a rigor, com maior severidade a simples subtração de explosivos ou de acessórios, por sua própria natureza e finalidade. Não se pune a utilização, como meio, de substâncias explosivas (ao contrário da previsão do § 4º-A), mas por tê-las como objeto da subtração, cujo objetivo — e a realidade cotidiana de nosso país tem demonstrado — é conseguir material explosivo para a prática de crimes.
PERGUNTA: alguém condenado pelo crime de “furto qualificado” em concurso formal impróprio com “explosão majorada” pode ser beneficiado pela retroatividade benéfica da nova qualificadora?
14.3 QUALIFICADORA DO  § 5º - A pena é de reclusão de três a
 oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior.
Para a configuração da qualificadora, não basta que a subtração seja de veículo automotor: é indispensável que este “venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior”. Se o veículo automotor ficar na mesma unidade federativa, não incidirá a qualificadora, pois essa elementar integra o aspecto material dessa especial figura qualificada.
Não apenas a subtração de veículo automotor, para uso, continua sendo uma figura atípica como a subtração de componentes do veículo, como pneus, rodas, motor, acessórios etc. não tipifica o furto qualificado do § 5o, uma vez que a eles o texto legal não se refere. Restará, logicamente, a configuração do furto normal.
OBS FURTO DE USO
Ocorre o denominado furto de uso quando alguém, indevidamente, subtrai coisa alheia infungível para utilizá-la momentaneamente, restituindo-a, na íntegra, à esfera de disponibilidade do sujeito passivo. Conduta que satisfaça essas características não excede os limites do ilícito civil. Constitui, em outros termos, figura atípica perante o atual Código Penal.
Incumbe ao réu demonstrar a inexistência de dolo no furto de uso, especialmente se o objeto material da subtração não for por ele restituído ou deixado no local em que foi subtraído. Flavio Martins sintetiza, com precisão, os contornos dessa figura típica, nos seguintes termos: “A restituição da coisa subtraída, portanto, depois do uso momentâneo, é elemento in dispensável para a configuração do furto de uso. Mas não basta; deve ser imediata. Isso porque, se a coisa não for imediatamente devolvida, demonstrará o animus do agente em exercer qualidades de proprietário sobre a coisa, fato que caracteriza o furto propriamente dito (‘... para si...’ — art. 155, CP)”.
Usar um veículo, sem autorização do dono ou possuidor, quer para fugir da polícia, quer devolvendo-o danificado, é, como sustenta Guilherme de Souza Nucci, “o modo que o autor possui de demonstrar a sua franca intenção de dispor da coisa como se não pertencesse a outrem. Além disso, é preciso haver imediata restituição, não se podendo aceitar lapsos temporais exagerados”.
Logicamente, havendo a subtração de um veículo para dar uma volta, sendo devolvido, pouco tempo depois, batido ou danificado, ou ainda, com razoável consumo de combustível, não se pode negar que houve diminuição no patrimônio da vítima; nesses casos, caracterizou-se o crime de furto.
14.4 FURTO DE ENERGIA ELÉTRICA OU EQUIPARADA
Toda energia economicamente utilizável suscetível de incidir no poder de disposição material e exclusiva de um indivíduo (como, por exemplo, a eletricidade, a radioatividade, a energia genética [sêmen] dos reprodutores etc. energia solar, térmica, luminosa, sonora, mecânica, atômica etc.
Assim, na subtração de energia elétrica, considera-se consumado o crime quando o agente faz a ligação e começa a usufruir da energia, mas ele continua a consumar-se enquanto perdurar a fruição da res, sem solução de continuidade, enquanto não for interrompida. Logo, estamos perante um crime permanente, cuja consumação se protrai no tempo
Na verdade, a energia elétrica pode ser desviada antes ou depois do medidor oficial da companhia energética. Quando esse “desvio” ocorre antes do medidor oficial, em nossa concepção, configura a efetiva subtração de energia elétrica, que, legalmente, é equiparada a coisa móvel, tipificando-se o crime de furto. A figura do furto pressupõe uma ligação clandestina, desde a origem, ilícita.
Contudo, quando o desvio da energia ocorre após o medidor, o agente, para “subtraí-la”, necessita fraudar a empresa fornecedora, induzindo-a a erro, causando-lhe um prejuízo em proveito próprio. A ligação da energia continua oficial; o fornecedor, ludibriado, acredita que a está fornecendo corretamente, desconhecendo o estratagema adotado pelo consumidor. Enfim, nessa hipótese, com certeza, a conduta amolda-se à figura do estelionato. A ligação lícita, preexistente, afasta uma conduta cujo verbo nuclear é “subtrair coisa alheia móvel”, que pressupõe a inexistência da posse do objeto subtraído.
SINAL DE TV PAGO: pessoas interceptarem, clandestinamente, sinal de televisão a cabo, utilizando-o sem o respectivo pagamento. “sinal de TV” não é, e nem se equipara a “energia”, seja de que natureza for. Na verdade, energia se consome, se esgota, diminui e pode inclusive terminar, ao passo que “sinal de televisão” não se gasta, não diminui, mesmo que metade do País acesse o sinal ao mesmo tempo, ele não diminui, ao passo que, se fosse energia elétrica, entraria em colapso.
Quem utiliza clandestinamente “sinal de televisão” não o retira e tampouco dele se apossa, não havendo qualquer diminuição do patrimônio alheio que, em última instância, é o bem jurídico protegido no crime de furto
Supremo Tribunal Federal declarou a atipicidade da conduta de efetuar ligação clandestina de sinal de TV a cabo, por não se tratar de “energia”. Ressaltou, ainda, o digno relator Ministro Joaquim Barbosa, “a inadmissibilidade da analogia in malam partem em Direito Penal, razão pela qual a conduta não poderia ser considerada penalmente típica” (HC 97.261/RS, Rel. Min. Joaquim Barbosa, 2a T., j. 1242011, Informativo 623.
o art. 35 da Lei 8.977/95: Constitui ilícito penal a interceptação ou a recepção não autorizada dos sinais de TV a Cabo.
Não obstante haver uma conduta típica desenhada pelo legislador, não houve imputação abstrata de sanção penal e por não haver pena cominada ao tipo legal a conduta é atípica! Trata-se, pois, nos dizeres de Luiz Flávio Gomes de um exemplar da chamada norma penal em branco inversa, ou seja, aquela em que o complemento normativo diz respeito à sanção, não ao conteúdo da proibição! No caso ora analisado, inexistindo tal norma, não se admite a aplicação da analogia in malam partem para fins punitivos.
Todavia, é preciso cuidado! Como indicado supra, a posição consagrada pelo STF não vem sendo seguida pelo Tribunal da Cidadania (STJ)
Supremo Tribunal Federal: Atípica, inadmitindo a analogia in malam partem (HC97261). Entre outras, podem-se indicar as lições de Cezar Roberto Bitencourt.
Superior Tribunal de Justiça: Caracteriza-se como furto simples, a partir da interpretação do art. 155, parágrafo 3º do CPB (RHC 30847/RJ DE 2013). Entre outras, podem-se indicar as lições de Guilherme de Souza Nucci.15. ERRO DE TIPO E ERRO DE PROIBIÇÃO
Quem subtrai coisa que erroneamente supõe ser sua encontra-se em erro de tipo: não sabe que subtrai coisa alheia. Porém, quem acredita ter o direito de subtrair coisa alh
eia — v. g., o credor perante o devedor insolvente — incorre em erro de proibição.
O erro de tipo essencial sempre exclui o dolo, permitindo, quando for o caso, a punição pelo crime culposo (não há previsão de furto culposo), já que a culpabilidade permanece intacta.
O erro de proibição, por sua vez, quando inevitável, exclui a culpabilidade, impedindo a punição a qualquer título, em razão de não haver crime sem culpabilidade. Se o erro de proibição é evitável, a punição se impõe, sempre por crime doloso (ou melhor, sem alterar a natureza do crime — doloso ou culposo), mas com pena reduzida, pois, como afirma Cerezo Mir, “a culpabilidade, reprovabilidade pessoal da conduta antijurídica, é sempre menor no erro de proibição evitável”.
FURTO FAMÉLICO: não há crime: ESTADO DE NECESSIDADE é excludente de ilicitude.
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA: incide quando presentes, cumulativamente, as seguintes condições objetivas: (a) mínima ofensividade da conduta do agente, (b) nenhuma periculosidade social da ação, (c) grau reduzido de reprovabilidade do comportamento, e (d) inexpressividade da lesão jurídica provocada. Não há crime porque afasta a tipicidade material.
16. Ação penal
Haverá isenção de pena se for praticado contra ascendente, descendente ou cônjuge (na constância da sociedade conjugal). A natureza da ação penal é pública incondicionada, salvo nas hipóteses do art. 182, quando será condicionada à representação.

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