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Vigilância Epidemiológica Relevância: Muito Alta Todos as aulas da Mentoria possuem relevância moderada, alta ou muito alta, baseado na incidência nas provas de residência médica dos últimos 5 anos. Vigilância Epidemiológica 3 Pandemia, epidemia, endemia... Se você acha que esses conceitos são todos iguais, fi que tranquilo, você não está sozinho. A vigilância epidemiológica é tida por muitos alunos como incompreensível, mas não se engane. O assunto é muito mais simples do que parece e costuma cair com frequência nas provas de residência. Com os conceitos que apresentaremos neste texto você será capaz de acertar a maioria das questões desse assunto. Vamos nessa? O que você precisa saber? Curva epidêmica Para entender melhor os principais conceitos da vigilância epidemiológica, você precisa saber interpretar a curva epidêmica: Gráfi co 1: A curva epidêmica A linha tracejada é denominada limiar epidêmico. Abaixo dela temos a endemia, que pode ser defi nida como variação constante no número de casos de determinado agravo em determinado período, o que representa um padrão. Qualquer variação do número de casos do agravo que atravesse o limiar epidêmico é defi nida como epidemia. Você já deve ter ouvido falar sobre surto e pandemia, mas sabe qual a defi nição para cada um deles? Nada mais são que epidemias que ocorrem, respectivamente, em um determinado local (todos os casos têm relação entre si) e em vários países ao mesmo tempo (ampla). Progressão Regressão Egressão Incidência máxima Incremento inicial de casos Decréscimo endêmico Limiar epidêmico Vigilância Epidemiológica 4 O processo epidêmico Toda epidemia começa com um incremento inicial de casos, ainda na faixa de endemia. Em algum momento, a depender do tipo de fonte e transmissão, a curva ultrapassa o limiar epidêmico, iniciando a epidemia, momento esse denominado egressão. O número de casos continua a crescer (progressão) até chegarmos ao pico da curva (incidência máxima). A partir deste momento o número de casos começa a diminuir (regressão) até cruzar novamente o limiar epidêmico, voltando à faixa de endemia. Normalmente, após uma epidemia, o número de casos do agravo continua a diminuir até níveis menores que os relatados em períodos de endemia, antes de retornar ao padrão normal de ocorrência. A este fenômeno damos o nome de decréscimo endêmico. Bem, agora você domina alguns dos principais conceitos sobre o processo epidêmico. Mas, algumas provas costumam cobrar conhecimentos mais específi cos, sobre a velocidade e o mecanismo de transmissão. Classifi cações As epidemias podem ser explosivas ou lentas. No primeiro caso a incidência máxima ocorre em um curto espaço de tempo, sendo a transmissão feita por uma fonte comum, como água ou alimentos contaminados, fazendo assim com que muitas pessoas contraiam ao mesmo tempo a doença, como a cólera e a hepatite A, por exemplo. As fontes comuns podem ainda ser divididas em pontuais e persistentes. A grande diferença entre elas é o tempo de exposição dos indivíduos à fonte. No primeiro caso a explosão é rápida e cessa, como na exposição à radiação. Já no segundo caso a explosão demora mais a acontecer, e tende a continuar até que a exposição cesse, como ocorre em casos de fonte de água contaminada. Veja exemplos gráficos desses casos de epidemia: Gráfi co 2: Formas de exposição em epidemias explosivas O gráfi co da esquerda traz a representação de uma epidemia explosiva por fonte pontual de contaminação, enquanto o da direita representa àquela por fonte persistente. Vigilância Epidemiológica 5 Nas epidemias lentas a incidência máxima demora para ocorrer, pois a transmissão ocorre de pessoa para pessoa ou por meio de um vetor, como no HIV. Já em relação às formas de transmissão, essas podem ser divididas em vertical (mãe-feto) e horizontal. A transmissão horizontal pode ser dividida ainda em indireta, como na dengue, a qual é feita por um vetor ou hospedeiro intermediário ou direta (pessoa-pessoa). As formas diretas podem ainda ser subdivididas em imediata, como nas infecções sexualmente transmissíveis, a qual ocorre por contato direito (toque, beijo), e mediata, como no sarampo, na qual a transmissão pessoa-pessoa é feita por meio de um substrato vital, após exposição rápida do agente ao ambiente. Bem, para fi nalizar os conceitos de processo epidêmico precisamos falar sobre características do agente causador e a caracterização do agravo. Dois conceitos importantes e que muitas vezes causam confusão são os de caso autóctone e de caso alóctone. Para não confundir mais: Caso autóctone é aquele que desenvolve o agravo na própria região em que o contraiu. Já caso alóctone é àquele em que o indivíduo desenvolve o agravo longe da área de infecção. Ótimo, já falamos muito sobre os agravos, sua caracterização, as formas de transmissão e a classifi cação dos casos. Mas como o agente, o suscetível e meio ambiente se inter-relacionam? História natural das doenças Leavell e Clark propuseram um esquema para responder essas dúvidas, baseados na história natural das doenças. Segundo eles toda patologia pode ser dividida em dois períodos principais: o pré-patogênico e o patogênico. No período pré-patogênico ainda não há doença, apenas fatores ambientais, sociais e genéticos interagindo. O período patogênico inicia quando ocorre uma interação verdadeira entre o estímulo e o suscetível (aumento do colesterol, por exemplo), o que leva a alterações fi siológicas, bioquímicas ou histológicas. Somente após este período surgem os sinais e sintomas do agravo, que podem evoluir para cronicidade ou defeitos permanentes e, ao longo do tempo, ao seu desenlace fi nal (cura, morte). Perfeito, você já sabe como caracterizar os períodos de uma doença. Mas nada disso importa se não pudermos atuar nesses períodos, com o intuito de evitar ou minimizar as consequências de um agravo. Agentes de agravo: Poder invasivo Dose infectante Infectividade Patogenicidade Virulência Imunogenicidade Capacidade do agente de se difundir no hospedeiro. Quantidade necessária do agente para causar infecção no hospedeiro. Capacidade do agente de penetrar e se desenvolver no hospedeiro. Capacidade do agente de causar doença. Capacidade do agente de causar casos graves. Capacidade do agente de causar resposta imune no hospedeiro. Vigilância Epidemiológica 6 Níveis de prevenção Podemos dividir a prevenção em quatro níveis, sendo eles: • Prevenção primária: visa diminuir a incidência da doença, atuando no período pré-patogênico. Ela pode ser dividida ainda em promoção à saúde, como em ações de saneamento básico, e proteção específi ca, como a vacinação. • Prevenção secundária: visa o diagnóstico e tratamento precoce da condição, atuando no período patogênico, com o objetivo de evitar as sequelas decorrentes da doença e trazer o indivíduo à condição normal de saúde o mais rápido possível. • Prevenção terciária: atua no desenlace da condição, tratando as sequelas decorrentes do agravo e evitando sua evolução. • Prevenção quaternária: que basicamente visa evitar a iatrogenia, prevenindo a realização de exames desnecessários ou supermedicalização. Os níveis de prevenção Ponto de vista do médico doença en fe rm id ad e P on to d e vi st a do p ac ie nt e pr es en ça (g ra da çã o) au sê nc ia ausente (dicotomia) presente Prevenção primária enfermidade ausente doença ausente Prevenção secundária enfermidade ausente doença presente Prevenção quaternária enfermidade presente doença ausente Prevenção terciária enfermidade presente doença presente Vigilância Epidemiológica 7 Antes de continuar, gostaríamos de dizer parabéns. Se você chegou até aqui sem cochilar, você já é um vencedor. Com toda certeza a medicina preventiva não é um dos assuntos mais interessantes, mas não desista, estamos acabando. Falaremos agora de dois assuntos muito importantes na sua prova e que sofreram algumas alterações no último ano,a profilaxia da raiva e do tétano. Apesar de serem assuntos clínicos eles se encaixam muito bem neste tópico de prevenção, então aproveitaremos para abordá-los. Quais são as medidas de profi laxia para o tétano e em que situações indicar? Quais são as medidas de profi laxia para a raiva e em que situações indicar? História vacinal ≥3 doses VACINA (se última dose >10 anos) Ferida baixo risco Ferida alto risco* VACINA (se última dose >5 anos)** Incerta ou <3 doses *Profundos ou superficiais sujos, por armas, queimaduras, mordeduras ** Fazer SORO se: idoso, imunocomprometido ou desnutrido grave VACINA VACINA + SORO/IGH Tipo acidente Acidente leve Observar por 10 dias Se morrer, desaparecer ou raiva: vacinar4 doses** Animal não suspeito Animal suspeito Vacinar 2 doses e observar por 10 dias Se morrer, desaparecer ou raiva: terminar vacinas Acidente grave* *Extremidades, profundos, lambeduras de mucosas ***Mordedura por morcego ou animais silvestres (mesmo domiciliados). Roedores não transmitem Se animal raivoso, desaparecido ou morto ou animais domésticos de interesse econômico ou de produção: Leve (4 doses) / Grave (4 doses e soro) **Vacina nos dias 0, 3, 7 e 14, pela via IM, ou nos dias 0, 3, 7 e 28, pela via ID Vacinar 2 doses e observar por 10 dias Se morrer, desaparecer ou raiva: SORO + terminar vacinas Vacinar em 4 doses + SORO *** Vigilância Epidemiológica 8 Notifi cação de agravos Você com toda certeza já ouviu o staff do plantão pedir ao plantonista que notifique aquela suspeita de abuso infantil que apareceu no plantão. Mas você sabe quais condições são passíveis de notificação ou quais critérios ela deve apresentar para fazer parte da lista de notificação? Bem, vamos começar pelos critérios para ser um agravo de notificação compulsória: • Magnitude: importância e frequência dentro da população alvo (quantidade de infectados). • Potencial de disseminação: transmissibilidade do agravo. • Transcendência: importância social ou gravidade da condição (letalidade). • Vulnerabilidade: possibilidade de intervenção ou controle. • Compromissos internacionais: notificar eventos especiais (epidemias, novas doenças) e condições de notificação internacional (varíola, poliomielite, SARS e influenza) Muito bem, agora você já sabe o que faz com que um agravo integre a lista de notificação, mas você sabe como este processo funciona? As notificações podem ser feitas de forma semanal, imediata (até 24hrs) ou negativa (quando não há casos). Por questões de vigilância e controle, alguns agravos são notificados apenas por determinadas unidades de saúde, denominadas unidades sentinelas, são exemplos: a síndrome do corrimento uretral masculino, os transtornos associados ao trabalho de gravidade moderada e leve, a infecção por rotavírus e a doença pneumocócica invasiva. No final do texto você encontrará uma tabela com todos os agravos de notificação estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Infelizmente, não há uma maneira mágica de decorar todos eles, mas é possível suavizar o processo. Veja algumas das principais dicas: • As condições que podem ser prevenidas por vacina, seguindo o calendário vacinal são de notificação compulsória imediata. Mas não são todas! A tuberculose e as hepatites virais são agravos apenas de notificação compulsória, enquanto que a caxumba, nem mesmo precisa ser notificada. • As condições ou situações que expõem o indivíduo à risco de morte também devem ser notificadas. São exemplos a violência sexual ou não, a tentativa de suicídio, os acidentes de trabalho graves ou com animais peçonhentos, botulismo, tularemia, antraz, exposição à metais pesados, gases tóxicos e agrotóxicos. No entanto, os casos de violência não sexual e os acidentes de trabalho leves são apenas de notificação compulsória. Vale lembrar que não é necessário confi rmação diagnóstica do agravo para que seja feita a notifi cação. A suspeita deste já é sufi ciente! Vigilância Epidemiológica 9 • Algumas condições fazem parte da lista de notifi cação devido acordos internacionais ou por trazerem risco à população por falta de conhecimento ou tratamento. Assim, os eventos de saúde pública, a varíola, a SARS, a infl uenza, a cólera, a peste, a febre amarela e a poliomielite também devem ser notifi cadas. • As síndromes febris, as doenças endêmicas, as doenças transmitidas por contato com animais (toxoplasmose e Creutzfeldt-Jacob) também são de notifi cação. Porém, quando falamos de Zika, dengue, Chikungunya e malária, apenas os casos óbitos na Zika, Chikungunya e dengue, os casos de Zika em gestantes, os casos de Chikungunya fora de área de transmissão e os casos de febre amarela fora da região amazônica. Vejamos um exemplo do processo de notifi cação nesta questão: (FAMERP-SP - 2016) Foi atendida uma criança de 5 anos, sexo feminino no PA do Hospital Universitário em janeiro de 2015. No atendimento clínico da criança havia suspeita de abuso sexual, a partir de indícios (sinais físicos e sintomas) e de relatos fornecidos pela criança e familiares. Na suspeita inicial havia indícios de que os abusos eram atribuídos a um dos genitores. O médico deve adotar imediatamente o seguinte procedimento: (A) Notifi car imediatamente à Vigilância Epidemiológica do município, pois havendo uma suspeita, ainda que não se confi rme, é legítima a notifi cação imediata, a fi m de salvaguardar a integridade da criança vulnerável. (B) Encaminhar para a Assistente Social do hospital para que encaminhe o caso para a Delegacia de Polícia mais próxima, pois o problema identifi cado não é da esfera da Saúde e sim da segurança pública (C) Avaliar e documentar detalhadamente todos aspectos na anamnese, no diagnóstico com testes específi cos, prognóstico, com conclusão verídica para apresentar um laudo completo e não acusar sem provas. (D) Encaminhar para os profi ssionais de saúde mental, pois cabe aos profi ssionais psiquiatras e psicólogos que os casos de suspeita de maus-tratos contra criança ou adolescente sejam obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais. Vamos pensar por partes. Primeiro: o abuso sexual é um agravo de notifi cação? Sim. Segundo: em qual período ele pode ser notifi cado? Vale lembrar que os casos de violência sexual são agravos de notifi cação imediata, ou seja, devem ser notifi cados em até 24 horas. Por fi m, é preciso confi rmar a suspeita para só depois realizar a notifi cação? Você deve lembrar que não é preciso confi rmar o diagnóstico do agravo para realizar a notifi cação, a simples suspeita já é sufi ciente. Assim fi ca fácil acertar a questão, gabarito letra A, de acabou! Vigilância Epidemiológica 10 #JJTop3 Aspectos e representantes dos agravos de notificação compulsória. Condutas na pós exposição ao tétano e raiva. Identificação dos níveis de prevenção. Vigilância Epidemiológica 11 Nº DOENÇA OU AGRAVO(Ordem alfabética) Periodicidade de notifi cação Imediata (até 24 horas) para* Semanal* MS SES SMS 1 a. Acidente de trabalho com exposição a material biológico X b. Acidente de trabalho: grave, fatal e em crianças e adolescentes X 2 Acidente por animal peçonhento X 3 Acidente por animal potencialmente transmissor da raiva X 4 Botulismo X X X 5 Cólera X X X 6 Coqueluche X X 7 a. Dengue - Casos X b. Dengue - Óbitos X X X 8 Difteria X X 9 Doença de Chagas Aguda X X 10 Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) X 11 a. Doença Invasiva por "Haemophilus Infl uenza" X X b. Doença Meningocócica e outras meningites X X 12 Doenças com suspeita de disseminação intencional: X X X a. Antraz pneumônico b. Tularemia c. Varíola 13 Doenças febris hemorrágicas emergentes/reemergentes: X X X a. Arenavírus b. Ebola c. Marburg d. Lassa e. Febre purpúrica brasileira 14 a. Doença aguda pelo vírus Zika X b. Doença aguda pelo vírus Zika em gestante X X c. Óbito com suspeita de doença pelo vírus Zika X X X 15 Esquistossomose X 16 Evento de SaúdePública (ESP) que se constitua ameaça à saúde pública (ver defi nição no art. 2º desta portaria) X X X 17 Eventos adversos graves ou óbitos pós-vacinação X X X 18 Febre Amarela X X X LISTA NACIONAL DE NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA (Origem: PRT MS/GM 204/2016, Anexo 1) Lista Nacional de Notifi cação Compulsória Vigilância Epidemiológica 12 19 a. Febre de Chikungunya X b. Febre de Chikungunya em áreas sem transmissão X X X c. Óbito com suspeita de Febre de Chikungunya X X X 20 Febre do Nilo Ocidental e outras arboviroses de importância em saúde pública X X X 21 Febre Maculosa e outras Riquetisioses X X X 22 Febre Tifoide X X 23 Hanseníase X 24 Hantavirose X X X 25 Hepatites virais X 26 HIV/AIDS - Infecção pelo Vírus da Imunodefi ciência Humana ou Síndrome da Imunodefi ciência Adquirida X 27 Infecção pelo HIV em gestante, parturiente ou puérpera e Criança exposta ao risco de transmissão vertical do HIV X 28 Infecção pelo Vírus da Imunodefi ciência Humana (HIV) X 29 Infl uenza humana produzida por novo subtipo viral X X X 30 Intoxicação Exógena (por substâncias químicas, incluindo agrotóxicos, gases tóxicos e metais pesados) X 31 Leishmaniose Tegumentar Americana X 32 Leishmaniose Visceral X 33 Leptospirose X 34 a. Malária na região amazônica X b. Malária na região extra Amazônica X X X 35 Óbito: X a. Infantil b. Materno 36 Poliomielite por poliovirus selvagem X X X 37 Peste X X X 38 Raiva humana X X X 39 Síndrome da Rubéola Congênita X X X 40 Doenças Exantemáticas: X X X a. Sarampo b. Rubéola 41 Sífi lis: X a. Adquirida b. Congênita c. Em gestante 42 Síndrome da Paralisia Flácida Aguda X X X 43 Síndrome Respiratória Aguda Grave associada a Coronavírus X X X a. SARS-CoV b. MERS- CoV Vigilância Epidemiológica 13 44 Tétano: X a. Acidental b. Neonatal 45 Toxoplasmose gestacional e congênita X 46 Tuberculose X 47 Varicela - caso grave internado ou óbito X X 48 a. Violência doméstica e/ou outras violências X b. Violência sexual e tentativa de suicídio X * Informação adicional: Notifi cação imediata ou semanal seguirá o fl uxo de compartilhamento entre as esferas de gestão do SUS estabelecido pela SVS/MS; Legenda: MS (Ministério da Saúde), SES (Secretaria Estadual de Saúde) ou SMS (Secretaria Municipal de Saúde) A notifi cação imediata no Distrito Federal é equivalente à SMS.
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