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AULA 5 METODOLOGIAS ATIVAS Profª Ligia Maria Bueno Pereira Bacarin 2 CONVERSA INICIAL Prezados cursistas, nesta aula objetivamos dar continuidade à apresentação dos recursos e estratégias de ensino para a aplicação das Metodologias Ativas (MA). É consenso que o ensino tradicional é aquele em que o docente transmite os seus conhecimentos para os estudantes. A proposta desta aula é aprofundar o contraponto dessa perspectiva metodológica tradicional. Anteriormente, entendemos que as denominadas Metodologias Ativas podem tanto complementar a perspectiva metodológica tradicional de ensino como também podem partir de um conceito totalmente novo. Partiremos da compreensão de que Metodologias Ativas são métodos de ensino que incentivam o aluno a ter um papel mais ativo na própria aprendizagem. Com isso, a noção geral de aprendizagem passa pelo entendimento de que, em vez de o estudante permanecer sentado como receptor passivo das informações que são emitidas pelo professor, esse educando realizará ativamente uma tarefa, a qual estimulará o estudante a pensar com mais profundidade analítica, a desenvolver argumentos que servirão de embasamento no debate, a ter mais iniciativa e, sobretudo, a aprender como é a sua própria assimilação do conhecimento. Nesse sentido, para alguns teóricos, as Metodologias Ativas conseguiram dar um salto de qualidade em relação à teoria do “aprender a aprender”. Existem várias Metodologias Ativas, porém, nesta aula iremos priorizar apenas uma: a Aprendizagem Baseada em Problemas, conhecida como ABP, ou Problem-Based Learning (PBL), que é uma proposta de MA em que o professor apresenta um problema e os estudantes devem propor uma solução. Compete ao docente facilitar o estudo e a discussão dos discentes para que eles encontrem uma solução, todavia serão os próprios estudantes que precisarão encontrar as habilidades e os conhecimentos que precisarão desenvolver e aplicá-los na solução da questão que foi problematizada pelo educador. Também abordaremos propostas metodológicas que representam um desdobramento ou uma metonímia da aprendizagem baseada em problemas. 3 CONTEXTUALIZANDO Partiremos do pressuposto de que a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) é um método de aprendizado inovador para o ensino educativo. Conforme Souza e Dourado (2015, p. 182): “algumas estratégias metodológicas de ensino diferenciadas vêm sendo desenvolvidas por professores, que acreditam ser possível promover mudanças em suas práticas pedagógicas, tendo em vista uma aprendizagem significativa”. Os referenciais que estudaremos ao longo desta aula incluem os principais autores da vanguarda do estudo da Aprendizagem Baseada em Problemas. O exame dessas reflexões dos autores escolhidos se desdobra em uma análise detalhada, que não se limita à superficial assimilação e circunscrição do objeto desta aula — o que possibilita a produção de um conhecimento aprofundado acerca dessa perspectiva de ensino. Com isso, podemos elencar as questões que serão o norte para direcionamento deste módulo, sendo elas: quais são os pressupostos e os conceitos da ABP? E os elementos que indicam os processos e resultados? De que forma estes foram articulados com os diversos estudos para compreensão do significado da relação entre o tema e o contexto do tema? À vista disso, estudaremos a importância da Aprendizagem Baseada em Problemas como método de aprendizagem, abordaremos os seus elementos conceituais e históricos, as suas propriedades e fases do processo de aprendizagem, buscaremos clareza acerca de como se desenvolve o processo de avaliação e, por fim, apresentaremos uma apreciação sobre as vantagens e as dificuldades da Aprendizagem Baseada em Problemas na constituição da aprendizagem em âmbito escolar. TEMA 1 – ASPECTOS CONCEITUAIS DA APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS Como a própria nomenclatura sugere, essa metodologia parte de uma situação-problema que necessariamente precisa ser embasada na realidade concreta e material, estar relacionada ao tópico que o docente objetiva desenvolver com os educandos e desenvolver uma problemática que, de um lado, não se apresente com um grau de dificuldade que desmotive os estudantes e, de outro, não seja fácil ao ponto de apresentar uma resolução óbvia. Para Barrows (1986, p. 482): 4 a ABP representa um método de aprendizagem que tem por base a utilização de problemas como ponto de partida para a aquisição e integração de novos conhecimentos. Em essência, promove uma aprendizagem centrada no aluno, sendo os professores meros facilitadores do processo de produção do conhecimento. Nesse processo, os problemas são um estímulo para a aprendizagem e para o desenvolvimento das habilidades de resolução. Nesse sentido, a Aprendizagem Baseada em Problemas estimula as capacidades de pensar criticamente, trabalhar em grupo, resolver problemas e argumentar. Essas habilidades serão muito úteis na construção da compreensão de mundo e na interação que os estudantes desenvolverão ao agir em sociedade. Ao elencar o principal debate acerca da conceituação da Aprendizagem Baseada em Problemas, Souza e Dourado (2015, p. 184) apresentam a seguinte revisão bibliográfica: Na definição dada por Delisle (2000, p. 5), a ABP é “uma técnica de ensino que educa apresentando aos alunos uma situação que leva a um problema que tem de ser resolvido”. Lambros (2004), em uma definição muito semelhante à de Barrows (1986), afirma que a ABP é um método de ensino que se baseia na utilização de problemas como ponto inicial para adquirir novos conhecimentos. Já Barell (2007) interpreta a ABP como a curiosidade que leva à ação de fazer perguntas diante das dúvidas e incertezas sobre os fenômenos complexos do mundo e da vida cotidiana. Ele esclarece que, nesse processo, os alunos são desafiados a comprometer-se na busca pelo conhecimento, por meio de questionamentos e investigação, para dar respostas aos problemas identificados. Ou seja, o consenso entre as várias conceituações faz com que Souza e Dourado (2015, p. 184-185) compreendam a Aprendizagem Baseada em Problemas como uma estratégia de método para aprendizagem, centrada no aluno e por meio da investigação, tendo em vista [a] produção de conhecimento individual e grupal, de forma cooperativa, e que utiliza técnicas de análise crítica, para a compreensão e resolução de problemas de forma significativa e em interação contínua com o professor tutor. O importante é compreender que, no processo histórico da educação, múltiplos paradigmas foram desenvolvidos e contribuíram, cada qual à sua maneira e com suas próprias limitações, para o que entendemos atualmente sobre as teorias metodológicas e didáticas configuradas em diversos modelos educacionais. O objetivo agora é apresentar um breve histórico dessas teorias para que possamos visualizar a trajetória do pensar metodológico e suas práticas. Para isso, dividiremos essas informações da seguinte maneira: 5 ALGUMAS DAS TEORIAS DA APRENDIZAGEM 1. Associacionista, comportamentalista, de condicionamento, de estímulo-resposta a. Conceito de educação: pragmática, objetiva a difusão de conhecimentos e a capacitação técnica por meio de competências e habilidades. b. Conceito de aprendizagem: processo mecânico de associação de estímulos e respostas, provocado e determinado pelas condições externas, ignorando as internas. c. Conceito de ensino: preparar e organizar as contingências de reforço que facilitam a aquisição dos esquemas e tipos de condutas desejadas. d. Conceito de professor: planejador e analista de contingências. Sua função é arranjar contingências de reforço. e. Principais teóricos: Pavlov, Watson, Guthrie, Hull, Thorndike, Skinner. 2. Mediacionais: gestalt, genético-cognitiva, significativa a. Conceito de educação: processo de conhecimento, de compreensãodas relações em que as condições externas atuam mediadas pelas condições internas. b. Conceito de aprendizagem: supremacia da aprendizagem significativa, que supõe reorganização cognitiva e atividade interna. c. Conceito de ensino: a aprendizagem constrói-se em processos de troca. d. Conceito de professor: sujeito e objeto interagem em um processo que resulta na construção e reconstrução de estruturas cognitivas. e. Principais teóricos: Kofka, Köhler, Whertheimer, Maslow, Rogers, Piaget. 3. Aprendizagem genético-dialética a. Conceito de educação: função da comunicação e do desenvolvimento (resultado do intercâmbio entre a informação genética e o contato com o meio historicamente constituído). b. Conceito de aprendizagem: a formação das estruturas formais da mente é realizada pela atividade e pela coordenação das ações que o indivíduo realiza e pela apropriação da bagagem cultural. c. Conceito de ensino: desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico, enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento. 6 d. Conceito de professor: o conhecimento não é visto como uma ação do sujeito sobre a realidade, como no construtivismo, e sim como resultado da mediação feita pelos outros sujeitos. e. Principais teóricos: Vygotsky, Luria, Leontiev, Rubinstein. 4. Aprendizagem significativa a. Conceito de educação: representa a reorganização dos conhecimentos após a confrontação com a realidade. b. Conceito de aprendizagem: conhecimentos e habilidades que não só adquirimos, mas que também podemos utilizar em situações diversas. c. Conceito de professor: mediador que auxiliará o educando a atribuir significado ao conteúdo aprendido, possibilitando estabelecer vínculos substanciais entre as novas aprendizagens e as que já possuem. d. Principais teóricos: Ausubel, Coll. Observamos que essa tipificação das principais teorias da aprendizagem se fez necessária, uma vez que a Aprendizagem Baseada em Problemas se apresenta como uma metodologia de ensino que se ancora na abordagem significativa. Nesse sentido, a imagem a seguir (Figura 1) elucida a necessidade de compararmos as diferenças entre essas teorias no momento de sua aplicação em sala de aula. Figura 1 – Evolução histórica do paradigma de ensino Fonte: Adaptado de Freitas, 2001. Freire (2001, p. 25) considerava que o educador precisa saber que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”. Essa afirmativa se contrapõe aos modelos tradicionais de ensino utilizados pelas áreas de exatas, nas quais o mestre, respaldado por seus 7 anos de experiência em áreas específicas, transmite o saber em aulas expositivas e, em alguns casos, com baixo grau de interação. TEMA 2 – ASPECTOS HISTÓRICOS DA APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS A Aprendizagem Baseada em Problemas foi gestada com base na teoria criada pelo francês Charles Maguerez, que tem como objetivo aplicar o ensino e promover a aprendizagem com base na realidade. A teoria criada pelo francês foi inserida na formação para o trabalho de analfabetos oriundos de países africanos, que migraram para países em desenvolvimento para trabalhar em indústrias, usinas petrolíferas e na agricultura. A proposta era compreender conteúdos específicos do trabalho, a língua e a cultura do novo país. Da observação do real seguia-se à maquete do objeto estudado, à discussão das teorias e à execução de outra maquete, para depois estudar o que tinham aprendido com base na realidade. Conforme Neusi Berbel (1996): O modelo que resultou em eficácia ganhou a adesão de estudiosos como o paraguaio Juan Díaz Bordenave e Adair Martins Pereira, autores do livro Estratégias de Ensino – Aprendizagem, publicado em 1977 e atualmente na 27ª edição. A pesquisadora brasileira Neusi segue a mesma vertente. Do ponto de partida que consiste na realidade, tudo é levado em conta, inclusive a subjetividade de cada um em relação ao real. O próximo passo é o recorte da realidade, para se ter uma delimitação que seja razoável. Em síntese, observa a realidade, identifica os problemas e os seleciona para um estudo de cada vez. (Ensino, 2012) Ou seja, a primeira referência para a Abordagem Baseada em Problemas é o Método do Arco, de Charles Maguerez, do qual conhecemos o esquema apresentado por Bordenave e Pereira (1982). Nesse esquema há cinco etapas que se desenvolvem com base na realidade ou de um recorte da realidade: Observação da Realidade; Pontos-Chave; Teorização; Hipóteses de Solução; Aplicação à Realidade (prática). De seu autor e do próprio esquema de Bordenave e Pereira (1982) não se obteve mais informações documentadas em artigos ou pesquisas significativas. Para Berbel (1996), o Método do Arco é “uma prática transformadora, com o retorno do estudo à realidade. Ainda que não seja possível em todas, é importante que uma ou mais hipóteses sejam colocadas em prática, as exequíveis, a mais urgente ou necessária. É possível a ação transformadora da realidade em algum grau, mas, para isso, é preciso planejamento e execução da ação”. (Ensino, 2012) Figura 2 – Planejamento do Arco da Problematização de Charles Maguerez 8 Fonte: Prado, 2012, p. 176. “Na base esquerda da figura geométrica utilizada na teoria de Maguerez está a observação do problema. Logo acima, antes do início da curva, são dispostos os pontos chave, com os fatores e assuntos determinantes maiores do problema. No centro da curva aparece a teorização, que não é somente a teoria já elaborada e difundida, mas a busca de informações. É a investigação propriamente dita. Depois da curva, aparecem as hipóteses de solução, por meio das quais é permitido criar e ousar ao máximo, para sair do círculo vicioso e chegar ao virtuoso. Na base direita inferior está a aplicação, que é a prática”. (Ensino, 2012) Inferimos, então, que a metodologia da problematização representa um horizonte a ser percorrido em etapas distintas, com base em um problema diagnosticado na realidade. Constitui-se assim um método que busca preparar o educando para tomar consciência da sociedade e agir intencionalmente para transformá-la em um lugar mais correto para todos os seres humanos. TEMA 3 – ETAPAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS A metodologia adotada pela perspectiva da ABP tem por base a Teoria da Problematização de Neusi Aparecida Navas Berbel (1996), a qual conta com as cinco etapas do Arco de Maguerez: 1. Observação da realidade 2. Identificação dos problemas ou pontos-chave 3. Teorização 4. Hipóteses de solução – planejamento 9 5. Aplicação – execução da ação (Prática) Em linhas gerais, a ABP baseia-se em grupos tutoriais (particularmente prefiro o conceito de grupos mediados) que são formados por um pequeno agrupamento de estudantes (entre 8 e 12 membros), acompanhados de um mediador. Nesses encontros, um problema ou caso pré-estruturado é colocado em discussão pelo educador, que orienta os educandos a analisá-lo cientificamente. Tendo em vista que a cada caso se apresentam temáticas diferenciadas, cada sessão de tutoria escolhe, de forma democrática, um coordenador e um secretário. Isso acontece de maneira contínua, pois ao término de um caso um novo tema é proposto e um novo coordenador e um novo secretário são eleitos. A dinâmica do grupo tutorial obedece a uma técnica própria denominada sete passos, assim elencada por Schmidt (1993): 1. esclarecer os conceitos não compreendidos na leitura do problema; 2. definir o problema; 3. analisar o problema; 4. desenhar um inventário das explicações inferidas a partir do passo 3; 5. formular objetivos de aprendizagem; 6. coletar informações adicionais fora do grupo; 7. sintetizar e testar as informações recém-adquiridas. As avaliações acontecem ao final de cada módulo, com basenos objetivos e conhecimentos específicos definidos no projeto da instituição. Assim sumarizam Afonso e Pereira (2013, p. 36): Segundo Schmidt (1993), o tutor é fundamental ao bom desenvolvimento das atividades do grupo, tendo como principais atribuições: estimular todos os membros do grupo a participarem das discussões; ajudar o coordenador com a dinâmica do grupo e na administração do tempo; assegurar que as anotações sejam corretamente realizadas pelo secretário; evitar desvios na discussão; assegurar que o grupo atinja, no mínimo, os objetivos de aprendizagem preestabelecidos; checar a compreensão do grupo; e, avaliar o desempenho dos membros e do grupo como um todo. Ao estudante que desempenha a função de coordenador cabe: liderar o grupo durante o processo; estimular todos os membros do grupo para que participem das discussões; manter a dinâmica do grupo; administrar o tempo; assegurar que o grupo cumpra a sua tarefa, assegurar que o secretário acompanhe as discussões e realize corretamente as anotações. O estudante na função de secretário tem responsabilidades de: anotar os termos desconhecidos, os problemas identificados, as formulações e hipóteses oferecidas e os objetivos de aprendizagem definidos; ajudar o grupo a ordenar as suas ideias; participar das discussões; enviar a primeira fase de anotações aos membros do grupo; anotar as fontes usadas pelo grupo; elaborar o 10 relatório final; e, enviar o relatório final aos membros do grupo. Aos demais estudantes cabe seguir em sequência os sete passos do processo; participar das discussões; ouvir com atenção e respeito à contribuição dos demais membros; perguntar abertamente sem receios; pesquisar, no mínimo, todos os objetivos de aprendizagem estabelecidos; partilhar o conhecimento adquirido com os colegas. Tendo em vista o exposto, iremos adaptar a APB a três etapas que mesclarão as propostas de Berbel (1996) e Schmidt (2003) a uma metodologia de ensino desenvolvida por Afonso e Pereira (2013, p. 37), as quais, combinadas a recursos tecnológicos, possam “[...] viabilizar o processo de transferência e compartilhamento de conhecimento aos alunos em um domínio específico”, tendo como resultado o processo chamado MaTUTO (Mapear, TUtoriar e Transformar em Ontologia). Figura 3 – Adequação dos passos da APB para a construção das Ontologias Fonte: Afonso; Pereira, 2013, p. 37. TEMA 4 – IMPLEMENTAÇÃO 1ª etapa – Mapear: observação da realidade social refere-se aos passos 1, 2 e 3 do esquema apresentado na Figura 3 (classificar os conceitos, definir e analisar o problema). 11 Nesta primeira etapa da ABP, elenca-se uma temática e ela é apresentada aos estudantes. Para isso, trabalha-se com questionamentos ou questões-problema. Com base nesse questionamento, abre-se um debate, em que todos os alunos possam expor suas ideias a respeito da temática — o que foi denominado de tempestade de ideias. Em seguida, realiza-se a leitura de um texto com caráter conceitual sobre a temática em debate. O texto tem a função de aprofundar a reflexão inicial dos estudantes, migrando de uma compreensão de senso comum para uma compreensão analítica, em que os educandos consigam sistematizar o que perceberam sobre a realidade referente à temática em questão. Importante registrar que a questão-problema dessa etapa se refere apenas ao momento inicial do processo, limitando-se a fomentar o debate. 2ª etapa – Tutorear: pontos-chave refere-se aos passos 4 e 5 do esquema apresentado na Figura 3 (desenhar um inventário das explicações e formular objetivos da aprendizagem). Na segunda etapa, os estudantes assistirão a um filme ou a parte de um documentário, ouvirão uma música, visualizarão uma imagem ou acessarão qualquer outra fonte oriunda da internet com o intuito de observar as várias causas que levam ao problema inicial. Depois realizarão um segundo debate, no qual o mediador solicitará que eles abordem fatos e elementos acerca do tema. Por fim, farão uma síntese dos principais motivos que são causas prováveis do problema. Após a síntese, o mediador realizará um novo debate, ainda mais reflexivo, justamente com o intuito de observar o crescimento dos estudantes. Para finalizar essa etapa, o mediador solicitará que os estudantes analisem uma fonte sobre o tema com mais qualificação que a anterior (Prado et al., 2012). 3ª etapa – Traduzir em Ontologia: teorização e inferências refere-se aos passos 6 e 7 da Figura 3. Nessa etapa os alunos realizarão uma grande pesquisa, em revistas, jornais, internet, entre outros, com o intuito de ampliar seus conhecimentos sobre o assunto. Após análise dos dados (que precisam seguir um método analítico, como por exemplo o uso de tabelas ou dados comparativos), infere-se sobre a melhor solução para o problema levantado. Para Berbel (2006), “esta etapa implica na construção de respostas mais elaboradas para o problema, proporcionando um amadurecimento mental baseado nos questionamentos do que é observado e fundamentado nos pontos-chave, definidos na etapa anterior.” 12 Ou seja, após as leituras, análise das tabelas e outros materiais teóricos referentes ao tema, os estudantes farão um registro dos dados para que, posteriormente, eles possam ser utilizados na resolução do problema. Acerca dessa etapa, Afonso e Pereira (2013, p. 39) observam que: Como tarefa inicial dessa etapa, coube ao tutor criar a estrutura da ontologia e a forma como os problemas poderiam ser ali classificados. Aos estudantes, coube questionar e propor mudanças nessa estrutura a fim de que ela pudesse ser extensível ao maior número de problemas possíveis. TEMA 5 – INFERÊNCIAS SOBRE A ABP Ribeiro et al. (2003) acreditam que a PBL contempla três princípios fundamentais sobre a aprendizagem: (1) a aprendizagem é um processo construtivo e não receptivo – o conhecimento é estruturado em redes de conceitos relacionados entre si e conceitos novos são aprendidos na medida em que são relacionados a redes preexistentes, sendo, portanto, importante ativar o conhecimento prévio dos alunos sobre o assunto em questão de modo a conseguir a aprendizagem de novos conceitos relacionados a ele; (2) a metacognição afeta a aprendizagem – habilidades tais como o estabelecimento de objetivos (o que vou fazer?), a seleção de estratégias (como vou fazer?) e avaliação dos resultados (funcionou?) são consideradas essenciais à aprendizagem; e (3) fatores contextuais e sociais influenciam a aprendizagem – o contexto em que o ensino se dá favorece ou inibe a aprendizagem, assim, a aprendizagem é otimizada quando o conteúdo ensinado está próximo do contexto profissional futuro dos alunos e quando os alunos compartilham responsabilidades e visões diferentes sobre uma mesma questão, o que leva os alunos a aprofundarem seu questionamento sobre o assunto e a desenvolverem habilidades tais como senso crítico, aceitação de opiniões diferentes, construção de consenso etc. O problema na ABP é um fim aberto, ou seja, que “não comporta uma única solução correta, mas uma (ou mais) melhor solução dadas as restrições impostas pelo próprio problema ou pelo contexto de aprendizagem em que está inserido, tais como tempo, recursos etc.” (Ribeiro et al., 2003). Conforme Ribeiro et al. (2003), segundo GIJSELAERS (1996) o papel primordial do professor nesta metodologia é o orientar os grupos, dando apoio para que a interação entre os alunos seja produtiva e ajudando os alunos a identificarem o conhecimento necessário para solucionar o problema. Em contrapartida, os alunos devem se responsabilizar por sua aprendizagem, desenvolvendo-a de modo a satisfazer suas necessidades individuais e perspectivas profissionais. 13 FINALIZANDO Nesta aula, exploramos, com base na teoria das Metodologias Ativas, a Abordagem Baseada em Problemas. Para sintetizar esse debate, faz-se necessário retomar asquestões que orientaram nossa trajetória nesta etapa: quais são os pressupostos e os conceitos da ABP? Quais os elementos que indicam os processos e resultados? De que forma estes foram articulados com os diversos estudos para compreender o significado da relação entre o tema e o contexto do tema? Com base nessas questões, inferimos que nessa forma de aprendizagem os estudantes percorrem 8 etapas educativas: 1. explorar o problema, levantar hipóteses, identificar e elaborar as questões de investigação; 2. tentar solucionar o problema com o que se sabe, observando a pertinência do seu conhecimento atual; 3. identificar o que não se sabe e o que é preciso saber para solucionar o problema; 4. priorizar as necessidades de aprendizagem, estabelecer metas e objetivos de aprendizagem e alocar recursos de modo a saber o que, quanto e quando é esperado e, para a equipe, determinar quais tarefas cada um fará; 5. planejar e delegar responsabilidades para o estudo autônomo da equipe; 6. compartilhar o novo conhecimento de forma eficaz, de modo que todos os membros aprendam os conhecimentos pesquisados pela equipe; 7. aplicar o conhecimento para solucionar o problema; 8. avaliar o novo conhecimento, a solução do problema e a eficácia do processo utilizado e refletir sobre ele. Com essas informações compreendemos que a ABP não significa uma técnica para resolver problemas. Ela representa uma metodologia em que o conhecimento é construído na busca da solução dos problemas, e as habilidades e atitudes desenvolvidas nesse processo são mais relevantes que a solução em si, conforme analisam Ribeiro et al. (2003). 14 LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica BERBEL, N. A. N. As metodologias ativas e a promoção da autonomia de estudantes. Ciências Sociais e Humanas, Londrina, v. 32, n. 1, p. 25-40, jan./jun. 2011. Nesse texto se descreve o eixo condutor do conceito de Metodologias Ativas aplicadas por meio da Aprendizagem Baseada em Problemas. Texto de abordagem prática OLIVEIRA, M. M. Como fazer pesquisa qualitativa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. Um dos pilares da Abordagem Baseada em Problema se encontra na capacidade de realizar pesquisas. Nesse sentido, esse livro didaticamente aponta elementos que auxiliam na compreensão de como realizar uma pesquisa com qualidade metodológica. Saiba mais BERBEL, N. A. N. Metodologia da problematização: Fundamentos e aplicações. Londrina: INP/UEL, 1999. Nesse texto se desenvolvem estratégias para o exercício da Aprendizagem Baseada em Problemas. 15 REFERÊNCIAS AFONSO, R. A.; PEREIRA, C. F. Matuto: adaptação da metodologia de aprendizagem baseada em problemas aplicada ao ensino de ontologias. Atoz: novas práticas em informação e conhecimento, Curitiba, v. 2, n. 1, p. 34-43, ago. 2013. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/atoz/article/view/41318/25254>. Acesso em: 10 nov. 2018. BARROWS, H. S. A Taxonomy of Problem-Based Learning methods. Medical Education, v. 20, p. 481-486, 1986. BERBEL, N. A. N. Metodologia da problematização no ensino superior e sua contribuição para o plano da praxis. Semina, [s.l.], v. 17, n. esp., p.7-17, 1996. BORDENAVE, J.; PEREIRA, A. Estratégias de ensino-aprendizagem. 4. ed., Petrópolis, RJ: Vozes, 1982. ENSINO problematizado consiste em alternativa transformadora. Unoeste, 23 out. 2012. Disponível em: <https://www.unoeste.br/Noticias/2012/10/ensino- problematizado-consiste-em-alternativa-transformadora>. Acesso em: 10 nov. 2018. FREITAS, W. F. Utilização de tecnologia de groupware no desenvolvimento de recursos humanos: uma análise comparativa entre dinâmicas disjuntas no ambiente de trabalho da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Belo Horizonte: Fundação João Pinto, 2001. FREIRE, P. Educação e mudança. 24. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001. PRADO, M. L. DO; VELHO, M. B.; ESPÍNDOLA, D. S.; SOBRINHO, S. H.; BACKES, V. M. S. Arco de Charles Maguerez: refletindo estratégias de metodologia ativa na formação de profissionais de saúde. Escola Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, p. 172-177, 2012. RIBEIRO, L. R. C.; ESCRIVÃO FILHO, E.; MIZUKAMI, M. da G. N. Uma experiência com a PBL no ensino de engenharia sob a ótica dos alunos. In: COBENGE – CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO EM ENGENHARIA, 31., 2003, Rio de Janeiro. Anais..., São Paulo: ABENGE, 2003. SCHMIDT, H. G. Foundations of problem-based learning: some explanatory notes. Medical Education, v. 27, n. 5, p. 422-432, 1993. Disponível em: <http://repub.eur.nl/res/pub/2709/eur_schmidt_107.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2018. 16 SOUZA, S. C. de; DOURADO, L. Aprendizagem baseada em problemas (ABP): um método de aprendizagem inovador para o ensino educativo. Holos, [S.l.], ano 31, v. 5, p. 182-200, 2015. Disponível em: <http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/holos/article/view/2880>. Acesso em: 10 nov. 2018. WOODS, D. R. The MPS Program: the McMaster Problem Solving Program. [S.l.]: McMaster University, 1998. Conversa inicial Contextualizando TEMA 1 – ASPECTOS CONCEITUAIS DA APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS TEMA 2 – ASPECTOS HISTÓRICOS DA APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS TEMA 3 – ETAPAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS TEMA 4 – IMPLEMENTAÇÃO TEMA 5 – INFERÊNCIAS SOBRE A ABP FINALIZANDO LEITURA OBRIGATÓRIA
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