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Pediatria – Crescimento e Desenvolvimento 1 Ana Luiza Azevedo de Paula Crescimento e Desenvolvimento PEDIATRIA – CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO CRESCIMENTO O crescimento, do ponto de vista biológico, refere-se à alteração da forma, tamanho e funções celulares Utilizamos a palavra crescimento para representar o aumento físico. É o processo de aumento da massa corporal, de peso e altura. *macroscopicamente, é expressão da hiperplasia e hipertrofia celulares. • O crescimento pode ser considerado um dos indicadores de saúde mais importantes da criança. DESENVOLVIMENTO • Refere-se ao ganho de funções, sejam elas as habilidades neuropsicomotoras adquiridas nos primeiros anos de vida, sejam as funções reprodutivas adquiridas durante a puberdade. Embora a carga genética seja determinante, o desenvolvimento humano emerge a partir das suas interações com o meio ambiente. Devido a sua grande plasticidade é nesse período que a criança melhor responde aos estímulos e intervenções. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO • Fatores extrínsecos como alimentação adequada, estímulos biopsicossociais e atividade física, assim como fatores intrínsecos (genética, sistema neuroendócrino), vão apresentar influências profundas e marcantes tanto no crescimento quanto no desenvolvimento de uma criança. • Diversas doenças, sejam elas de natureza carencial, genéticas, neoplásicas, infecciosas, inflamatórias, podem influenciar negativamente o crescimento e/ou o desenvolvimento. CRESCIMENTO FÍSICO: ASPECTOS GERAIS • Fase intra-uterina - A média da velocidade de crescimento (VC) do feto é de 1,2 a 1,5 cm/sem. • A VC no meio da gestação é de 2,5 cm/sem e diminui para quase 0,5 cm/sem logo antes do nascimento. • Os hormônios que influenciam o crescimento nessa fase são: insulina, lactogênio placentário, somatotrofina coriônica e somatomedinas. CRESIMENTO FÍSICO: ASPECTOS GERAIS – FASE DO LACTENTE • O primeiro ano de vida é caracterizado por maior VC (cerca de 25 cm/ano), sobretudo nos primeiros seis meses, a qual se reduz a partir do segundo ano (15 cm/ano). • Nessa fase, os principais fatores implicados no crescimento da criança são os nutricionais e ambientais; os fatores genéticos e o hormônio de crescimento têm menor atuação. • Portanto, na fase do lactente o padrão familiar de estatura tem pouca importância no crescimento. CRESCIMENTO FÍSICO: ASPECTOS GERAIS • Fase pré-púbere – Caracteriza-se por crescimento mais estável, de aproximadamente 5-7 cm/ano. Nessa fase, os fatores genéticos e hormonais (hormônio de crescimento) têm maior relevância. • Fase puberal – Nessa fase, a aceleração do crescimento está relacionada, principalmente, aos esteroides sexuais e ao hormônio de crescimento. Ana Luiza Azevedo de Paula Medicina 2 Pediatria – Crescimento e Desenvolvimento • Fase puberal final – Caracterizada por crescimento lento, de cerca de 1 a 1,5 cm/ano, sobretudo na região do tronco, com duração média de três anos. TIPOS DE CRESCIMENTO • CRESCIMENTO GERAL – altura e peso. •CRESCIMENTO NEURAL – SNC e sua mielinização. • CRESCIMENTO LINFÓIDE – imunidade (timo, gânglios linfáticos, amígdalas, adenóides e folículos linfóides intestinais). • CRESCIMENTO GENITAL/ REPRODUTIVO DESENVOLVIMENTO O desenvolvimento compreende alguns domínios de função interligados: • Sensorial •Motor (grosseiro e fino) •Linguagem •Social •Emocional •Cognitivo •Adaptativo MARCOS DO DESENVOLVIMENTO As idades chaves para os marcos de desenvolvimentos são : • RN • Lactante 3,6,9,12,18 e 24 meses • Dos 3 anos a 7 anos • Após – avaliações das funções corticais superiores juntamente com o desempenho escolar. AVALIAÇÃO Deve ser um processo continuo de acompanhamento das atividades relativas ao potencial de crianças para detecção precoce de desvios e atrasos. Caderneta de saúde da criança disponibiliza uma sistematização para vigilância do desenvolvimento até 3 anos. Caderneta permite acompanhar aquisição dos principais marcos do desenvolvimento. DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR • Conjunto de todas as reações da criança, todo o seu comportamento que evolui progressivamente ao longo do tempo sob a forma de funções e habilidades cada vez mais específicas. • As bases fisiológicas que explicam esta evolução neuropsicomotora assentam-se no próprio crescimento somático e desenvolvimento (mielinização, formação e remodelamento sinápticos) das vias motoras, sensitivas, sensoriais, de linguagem, raciocínio e memória dos sistemas nervoso central e periférico. • Céfalo à Caudal. • Proximal à Distal. • Borda ulnar à Borda radial Ana Luiza Azevedo de Paula Medicina 3 Pediatria – Crescimento e Desenvolvimento REFLEXOS PRIMITIVOS NEONATAIS • Os reflexos primitivos neonatais são respostas motoras estereotipadas deflagradas por estímulo externo do examinador, e representam as primeiras reações do neonato ao meio. • São chamadas “primitivas” porque não são voluntárias ou aprendidas, e estão sob controle de centros subcorticais, tronco encefálico e medula. • Transitório à permanência de um reflexo primitivo além da idade preconizada é um sinal patológico >>>impedindo que o córtex assuma o controle das funções cognitivas e motoras. • O desaparecimento do reflexo primitivo permite o surgimento de uma conduta motora voluntária, aprendida e sob controle cortical, o que é possível fisiologicamente pelo processo de amadurecimento do SNC. REFLEXO PRIMITIVO DE APOIO – 0-02 MESES: • Posição de teste: Criança suspensa verticalmente pelo examinador. • Estímulo: Apoio plantar dos pés da superfície da mesa. • Resposta: Aumento do tônus extensor dos MMII provocando extensão do joelho e quadril. REFLEXO DE MARCHA: • Posição de teste: Criança suspensa pelo examinador, apoiada na superfície da mesa. • Estímulo: Inclinação anterior do tronco. • Resposta: Passos curtos e ritmados sem haver extensão de joelho e quadril (falsa corrida). REFLEXO DE MARCHA EQUINA 0- 02MESES • Posição de teste: Criança suspensa verticalmente pelo examinador. • Estímulo: Tocar o dorso do pé da kid na borda da mesa. • Resposta: Tríplice flexão do MI e colocação do pé sobre a superfície, kid realiza o movimento de “subir degraus”. Ana Luiza Azevedo de Paula Medicina 4 Pediatria – Crescimento e Desenvolvimento REFLEXO DE BUSCA – 0-02 MESES • Posição de teste: Qualquer (exceto em decúbito ventral). • Estímulo: Leve toque nas comissuras labiais ou centro dos lábios superior ou inferior. • Resposta: Língua, lábios e cabeça movem-se em direção ao estímulo. REFLEXO DE SUCÇÃO – 0-05 MESES • Posição de teste: Qualquer (exceto em decúbito ventral). • Estímulo: Introdução do dedo do examinador entre os lábios do bebê. • Resposta: Desencadeará uma reação de sucção. REFLEXO DE PREENSÃO PALMAR – 0- 03/04 MESES • Posição de teste: Qualquer. • Estímulo: Contato do dedo do examinador na palma da mão do bebê. • Resposta: Flexão em massa dos dedos, persistindo até a retirada do estímulo. REFLEXO DE PREENSÃO PLANTAR – 0- 10/11 MESES • Posição de teste: Qualquer (exceto em posição ortostática). • Estímulo: Contato do dedo do examinador contra o sulco metatarso falângico. • Resposta: Flexão plantar dos artelhos (dedos do pé). REFLEXO DE MORO – 0-06 MESES • Posição de teste 1: Examinador mantém kid sentada. • Estímulo 1: Deixar cair a cabeça em extensão. • Posição de teste 2: Criança em decúbito dorsal. • Estímulo 2: Erguer rapidamente a pélvis, ou dar tapinhas no abdómen, ou puxar o lençol. • Resposta tantopara 1 quanto para 2: • 1ª fase: Abdução dos MMSS com abdução e extensão dos dedos. • 2º fase: Adução dos MMSS. • (reação do abraço). Ana Luiza Azevedo de Paula Medicina 5 Pediatria – Crescimento e Desenvolvimento REFLEXO TÔNICO CERVICAL ASSIMÉTRICO – 0-04 MESES • Posição de teste: Criança em decúbito dorsal com a cabeça na linha média, braços e pernas estendidas. • Estímulo: Rotação da cabeça (90 graus). • Resposta: Extensão das extremidades faciais e flexão das extremidades occipitais. REFLEXO DE LANDAU • Posição de teste: Criança em suspensão ventral. • Estímulo 1: Extensão passiva ou ativa da cabeça. • Resposta: Desencadeamento do tônus extensor, havendo extensão de tronco, quadril, MMSSII. • Estímulo 2: Flexão passiva ou ativa da cabeça. • Resposta: Flexão de tronco, quadril, MMSSII. DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR PERÍODO NEONATAL • Hipertonia flexora dos 4 membros, hipotonia axial e hiper-reflexia profunda. • Os reflexos primitivos estão todos presentes no RN a termo. • Funções cerebrais superiores : Pode seguir objeto com os olhos, iniciando a corticalização. Ana Luiza Azevedo de Paula Medicina 6 Pediatria – Crescimento e Desenvolvimento MOTOR Postura semifletida, vira a cabeça de um lado para outro e a cabeça pende durante a suspensão ventral Supina: postura fletida e levemente rígida REFLEXOS Moro, da marcha, do apoio plantar, preensão palmo-plantar. ADAPTATIVO Visão: Fixa face humana na sua linha de visão, movimento de “olhos de boneca” durante a rotação do bebê de um lado para o outro. LINGUAGEM Sons guturais. PESSOAL-SOCIAL Preferência pela face humana. DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR 3º MÊS • Iniciando hipotonia fisiológica. REFLEXOS PRIMITIVOS Presentes: sucção, Moro, mão-boca, preensão palmar, preensão plantar, cutâneo-plantar extensor – desapareceram: marcha reflexa, apoio plantar, tônico-cervical assimétrico . EQUILÍBRIO ESTÁTICO Firma o pescoço EQUILÍBRIO DINÂMICO Movimenta a cabeça MOTOR Levanta a cabeça e tórax com os braços estendidos, a cabeça fica acima do plano do corpo na suspensão ventral. Supina: postura tônica cervical assimétrica predominante Acena para um brinquedo. Sentado: a cabeça pende para trás quando puxado para sentar, a cabeça titubeia para alcançar o controle. LINGUAGEM Diz “aah, ngah”. PESSOAL-SOCIAL Ouve música. DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR 7º MÊS MOTOR Rola, rasteja-se, engatinha. Supina: levanta a cabeça; rola. Sentado: senta-se com apoio, inclinase com as mãos a frente. De pé: suporta mais peso; dá saltinhos. ADAPTATIVO Vê grandes objetos e inclina-se para pegá-los; transfere objetos de uma mão para outra; pega com a palma radial LINGUAGEM Sons de vogais repetidas, balbucia Lalação (“mmm”) PESSOAL-SOCIAL Prefere a mãe, gosta do espelho Ana Luiza Azevedo de Paula Medicina 7 Pediatria – Crescimento e Desenvolvimento DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR 1º ANO • Reflexos profundos semelhantes ao do adulto. MOTOR Levanta-se sozinho. Anda com uma das mãos apoiadas. ADAPTATIVO Faz o movimento de pinça entre polegar e indicador precisamente. LINGUAGEM Fala outras palavras além de “mama, dada”. PESSOAL-SOCIAL Ajusta a postura quando é vestido. DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR 15º MÊS MOTOR Anda sozinho escala as escadas. ADAPTATIVO Faz torre de 3 cubos; Faz uma linha com o lápis. LINGUAGEM Obedece a comandos simples. PESSOAL-SOCIAL Aponta o que deseja; Abraça os pais. DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR 2º ANO MOTOR • Corre bem • Sobe e desce escadas em um passo de cada vez • Abre portas. • Escala os móveis. • Pula. ADAPTATIVO • Faz torre de 7 cubos; • Rabiscos circulares; • Faz linha horizontal. LINGUAGEM • Forma frases (sujeito, verbo e objeto). PESSOAL-SOCIAL • Conta sobre suas experiências imediatas; • Ouve estórias quando são mostradas figuras • Ajuda a despir-se Ana Luiza Azevedo de Paula Medicina 8 Pediatria – Crescimento e Desenvolvimento TREINAMENTO ESFINCTERIANO ( TE ) O treinamento esfincteriano (TE) é um marco importante do desenvolvimento físico e psicológico em crianças, além de constituir um desafio para as famílias, pois ocorre em fase na qual a criança necessita de autoafirmação e há expectativa das famílias de que a continência ocorra o mais breve possível. •A criança se conscientiza sobre sua própria necessidade de eliminar urina e fezes. •Controle da evacuação, em geral, precede o controle da micção. •Recomenda-se que não sejam forçadas a iniciar o processo de TE até que apresentem os sinais de prontidão. •A AAP recomenda somente o uso de elogios para reforço, desencorajando o uso de guloseimas ou recompensas materiais. INSUCESSO •Aproximadamente 2% a 3% das crianças apresentam problemas durante o processo do TE •Muito frequente quando iniciado na ausência de sinais de prontidão. •TE é iniciado em apenas um ambiente em que a criança convive; •Falta de homogeneidade na orientação por parte de um dos pais. AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO Como avaliar o desenvolvimento? •Escalas •História •Exames Neurológicos INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO TESTE DE GESELL É um teste de desenvolvimento infantil. As tabelas de Gesell consistem numa série de 27 observações e reações, registradas por nível etário, a diversas situações padroni-zadas do nascimento até os cinco anos de idade. Em cada nível etário; um inventário de atividades é dividido em quatro categorias de comportamento: (1) Motor; (2) Adaptativo; (3) Linguagem; (4) Pessoal-Social. Cada uma des-sas categorias de comportamento é avaliada observando-se a criança num certo número de situações padronizadas. Ana Luiza Azevedo de Paula Medicina 9 Pediatria – Crescimento e Desenvolvimento ESCALA DE DESENVOLVIMENTO INFANTIL DE BAYLEY As Escalas de Desenvolvimento Infantil de Bayley foram desenvolvidas por Nancy Bayley e colaboradores em 1933 e revisada em 1969. É um meio abrangente de avaliar o desenvolvimento de uma criança em estado particular, após o resultado de mais de 40 anos de pesquisa e prática clínica com crianças pequenas.. A atual versão da Escala de Bayley está subdividida em cinco domínios: Cognição, Linguagem (comunicação expressiva e receptiva), Motor (grosso e fino), Social- emocional e Componente adaptativo. Os três primeiros domínios são observados com a criança em situação de teste e os dois últimos são observados por meio de questionários preenchidos pelos pais ou cuidadores. As escalas são consideradas complementares, tendo cada uma a sua importância na avaliação da criança.A escala permite também uma avaliação qualitativa do comportamento da criança, ou seja, sua atenção, compreensão das orientações, desempenho frente as tarefas e regulação emocional. Porém, a escala só pode ser aplicada por profissionais especializados e treinados. TESTE DE TRIAGEM DENVER II O DENVER II é usado para identificar a criança cujo desenvolvimento parece estar atrasado em comparação com o desenvolvimento de outras crianças, ou seja, é um teste de triagem do desenvolvimento. Pode ser também usado para identificar mudanças no escore ou padrões ao decorrer do tempo, sendo primeiro interpretados os itens individuais e depois o teste inteiro. A triagem é realizada considerando quatro áreasprimordiais do desenvolvimento: pessoal social, motor-fino adaptativo, linguagem e motor grosso. O instrumento é destinado para crianças desde o nascimento até os 6 anos de idade. CADERNETA DA CRIANÇA A caderneta da criança é uma ferramenta imprescindível para o acompanhamento do desenvolvimento infantil. Nela você consegue acompanhar os marcos de desenvolvimento, a relação peso x altura, perímetro encefálico e tudo que diz respeito ao crescimento e desenvolvimento da criança.
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