Buscar

MÓDULO 4 - PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

4. Princípios Constitucionais do Processo.
É preciso retornar um pouco e recordar o que são as normas. A norma pode ser vista sob várias formas, mas duas são fundamentais: a primeira é que a norma é uma "fórmula abstrata do que deve ser" (DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico universitário / Maria Helena Diniz. - São Paulo: Saraiva, 2010. p. 414) e, a segunda é que a norma é o gênero de onde nascem as espécies normativas regra e princípios. Essa lição é bem explicada por Araken de Assis quando diz que:
“Os princípios e as regras são espécies do gênero normas. Das regras, que exigem imperativamente uma conduta (impondo, proibindo ou permitindo), concretamente cumprida ou não, os princípios se destacam porque, a despeito de exibirem análoga função retórica-argumentativa (ou prescritiva), representam normas ‘impositivas de otimização, compatíveis com vários graus de concretização’, segundo as condições de fato e de direito”. (ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro, volume I: parte gera: fundamentos e distribuição de conflitos / Araken de Assis. - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 388/389). 
No entanto, sem ignorar a importância das regras dentro do ordenamento jurídico, é preciso observar que "no estudo de qualquer ramo do direito, é muito importante pesquisar os seus princípios, visto serem eles o caminho para alcançar o estado de coisas ideal visado na aplicação do conjunto de normas analisado" (THEODORO JUNIOR, Humberto.  Curso de direito processual civil [livro eletrônico] / Humberto Theodoro Júnior. – 59. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2018) e, por isso, este tópico e o seguinte se destinarão ao estudo dos princípios que regem o processo, pois "um princípio é uma norma que aponta para um estado ideal de coisas a ser promovido, sem, no entanto, indicar os comportamentos cuja adoção irá contribuir para a promoção gradual desse ideal" (ÁVILA, Humberto. O que é "devido processo legal"? / Humberto Ávila. RePro, São Paulo: Editora RT, 163/2008). 
Existem muitas formas de conceituar princípio e, por isso, é preciso adotar aquela que se aproxima mais de uma posição generalizada pela doutrina. Nesse sentido, a melhor compreensão é a de que o princípio constrói um estado de coisas que anseia acontecer, isto é, "os princípios seriam normas que obrigam que algo seja realizado na maior medida do possível, de acordo com as possibilidades fáticas e jurídicas do caso concreto" (THEODORO JUNIOR, Humberto et al., Novo CPC - Fundamentos e Sistematização / Humberto Theodoro Junior, Dierle Nunes, Alexandre Melo Franco Bahia, Flávio Quinaud Pedron - 2ª ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 55) enquanto a regra, de praxe, diz uma conduta que se espera praticada de determinada forma e não da melhor forma possível. 
Por isso, é possível ver diversas metodologias podem ser invocadas para separar de dentro da norma o que é uma regra e o que é um princípio, mas a grande diferença compreensível de modo mais prático possível é que a regra ordena que faça ou deixe de fazer isso ou aquilo, ou seja, espera que as partes cumpram o contrato de venda e compra onde o vendedor entrega a coisa e o comprador entrega o dinheiro pela coisa, enquanto que, por sua vez, o princípio se depara com situações não tão claras e espera que em todas as ações ou omissões das partes existe uma busca por atender o princípio da melhor forma possível como, no direito civil, o princípio da função social do contrato. 
No Processo Civil não é diferente. Por isso, a grande diferença é que no conflito de regras, uma regra deixa de ser aplicada, enquanto no princípio a única coisa que se faz é diminuir a intensidade de aplicação do princípio naquela oportunidade. Melhor dizendo, a regra se depara com os três brocardos latinos (lex posterior derogat legi priori, lex specialis derogat legi generali e lex superior derogat legi inferiori), a saber:  havendo o conflito entre duas regras se averigua se há entre elas algumas hierarquia (a regra superior derroga a inferior), algum grau de especialidade (a norma especial derroga a norma geral) ou de anterioridade temporal (a regra mais nova derroga a mais antiga), transcrita no art. 2º e seus parágrafos da Lei de Introdução das Normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei n° 4.657/42):
Art. 2o  [...] § 1o  A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. § 2o  A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.
E nesse sentido, correto é o exemplo da jurisprudência: 
Conflito de regras:
“EMENTA: Somente o proprietário pode dispor do bem, inclusive para oferta-lo como garantia em alienação fiduciária, o que faz do §2º do artigo 1º acrescentado Decret-Lei 911/69, letra morta, em razão do que rezam os artigos 5º, XXII, da CRFB e o artigo 1.228 do CCB e por aplicação do princípio lex superior que, diante do conflito entre normas de diferentes escalões, faz prevalecer a de nível mais elevado em relação a de nível inferior” (TJMG – Ap. 10024058125626001 – rel. Antônio Bispo – j. 08.03.2018).
Normas conflitantes: o art. 1º, §2º Dec-Lei 911/69 diz: “§ 2º Se, na data do instrumento de alienação fiduciária, o devedor ainda não fôr proprietário da coisa objeto do contrato, o domínio fiduciário desta se transferirá ao credor no momento da aquisição da propriedade pelo devedor, independentemente de qualquer formalidade posterior.”, enquanto o art. 5º, XXII, da CF88: “é garantido o direito de propriedade;”. Isto é, o art. 1º, §2º do Dec-Lei 911/69 retira o direito de propriedade que a Constituição (que é a norma superior) manda proteger, portanto, a regra do decreto deixa de valer. 
Quando dois princípios colidem com o que se faz é uma ponderação, ou seja, avalia-se quem, naquele momento e caso, deve prevalecer sobre o outro, mas sem tirar do princípio que perde toda a sua validade. 
Conflito de princípios:
“EMENTA: CONFLITO ENTRE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS. NEGADO PROVIMENTO. Em aparente conflito entre princípios constitucionais, cabe ao intérprete contrabalançá-los, afastando, temporariamente, determinado princípio com vistas a aplicar aquele que melhor conformar ao caso concreto. Nega-se provimento ao recurso quando as alegações não são suficientes para desconstruir os fundamentos da deliberação recorrida”. (TCU -n° 01122320071 – Rel. Valmir Campelo – j. 01.02.2011).
No exemplo acima, trata-se de uma discussão sobre um aposentadoria concedida a um cidadão e que fora retirada por se ver faltar recolhimento ao INSS para o período total, por exemplo, faltava ao cidadão recolher ainda 6 anos ao INSS, mas, mesmo assim, por equívoco, o Poder Público lhe havia dado a aposentadoria. Revogada a aposentadoria o cidadão argumentou que retirar dele esse direito depois de concedido violaria a segurança jurídica e, então, a Corte entendeu que não existe princípio absoluto e, nesse momento, a segurança jurídica deveria ceder ao princípio da legalidade para afastar a aposentadoria concedida.
Outro exemplo é quando o Código de Processo Civil permite à parte recorrer da decisão, mas, para ganhar tempo, a parte perdedora resolve recorrer infinitamente sem apresentar novos argumentos. Nesse caso, colidem com os princípios da Ampla Defesa com a Razoável Duração do processo. Quem deve permanecer? Se o juiz observar que o recurso é apenas para ganhar tempo (procrastinatório), será lícito ao juiz afastar temporariamente o direito de recorrer e punir a parte por litigância de má-fé.
E, para o Processo Civil, a má-fé é o melhor exemplo, pois o Código de Processo Civil manteve a tradição de fixar regras que visem impedir a litigância de má-fé, mas, inovando, trouxe também um princípio da boa-fé processual, fixando, ao mesmo tempo, regras e princípios para proteger o mesmo comportamento. 
Para ilustrar:
Regra: “Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres das partes, de seus procuradores e de todos aquelesque de qualquer forma participem do processo: I - expor os fatos em juízo conforme a verdade; II - não formular pretensão ou de apresentar defesa quando cientes de que são destituídas de fundamento; III - não produzir provas e não praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou à defesa do direito; IV - cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final, e não criar embaraços à sua efetivação; V - declinar, no primeiro momento que lhes couber falar nos autos, o endereço residencial ou profissional onde receberão intimações, atualizando essa informação sempre que ocorrer qualquer modificação temporária ou definitiva; VI - não praticar inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso.” (CPC15 - Lei 13.105 de 2015: Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm).
Princípio: “Art. 5º Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé.” (CPC15 - Lei 13.105 de 2015: Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm). 
A regra desenha comportamentos exatos como não mentir (mentira deliberada) do art. 77, I, enquanto o princípio descreve um ideal a ser perseguido como "agir de boa-fé" do art. 5º. Por isso, o Novo Código de Processo Civil instituiu um rol de princípios que entende por fundamental e imprimindo no seu dever de aplicação começando pela vinculação direta com os valores, objetivos, princípios e regras escritas na Constituição, pois "antes, porém, de enfocar os princípios específicos do direito processual civil, é bom lembrar que, sendo ramo de um organismo maior, que é o direito em sua configuração total, as leis que regem o processo se apoiam, antes de tudo, nos princípios gerais observáveis em todo o ordenamento jurídico" (THEODORO JUNIOR, Humberto.  Curso de direito processual civil [livro eletrônico] / Humberto Theodoro Júnior. – 59. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2018), ou seja:
Todo o direito hoje ou é direito constitucional (conforme à Constituição) ou não é direito. (ZANETI JUNIOR, Hermes. A constitucionalização do processo: o modelo constitucional da justiça brasileira e as relações entre processo e constituição / Hermes Zaneti Júnior - 2ª ed. - São Paulo: Atlas, 2014. p. 51).
 
4.1. Tutela constitucional do processo (supremacia da constituição):
O primeiro princípio não pode ser chamado de princípio processual porque é, na verdade, o princípio fundamental de todo o direito brasileiro, pois, "a norma jurídica que produz o poder constituinte é a norma fundamental" (BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico / Norberto Bobbio; tradução Ari Marcelo Solon - São Paulo: EDIPRO, 2014. p. 67) e, por isso, a Constituição é o topo, ou, melhor dizendo, a norma fundamental onde todas as demais normas retiram seus próprios fundamentos e nenhuma norma, sobretudo o processo civil, pode ignorar objetivos, valores, normas, regras e princípios que estão esculpidos na Constituição Federal, pois "estamos sustentando, com isso, que a norma processual, que no momento da sua criação observou princípios constitucionais, não pode ser aplicada além ou aquém do esperado pela CF" (MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de Processo Civil: de acordo com o Novo CPC / Misael Montenegro Filho. - 12. ed. - São Paulo: Atlas, 2016. p. 21).
Nesse sentido é bem claro o artigo 1º do Código de Processo Civil:
Art. 1o O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código. (CPC15 - Lei 13.105/15).
Portanto, o princípio da tutela constitucional do processo (também compreendido como o princípio da supremacia da constituição) significa que todos os atos, todas as partes, todas as interpretações e todas as circunstâncias que possam acontecer dentro do processo devem, sempre, submeter-se ao critério constitucional e, assim, averiguar se a escolha, a interpretação ou a aplicação do caso concreto buscam cumprir e fazer valer o Direito Constitucional (principalmente direitos e garantias fundamentais), pois "hoje os Direitos Fundamentais e suas gerações precisam cada vez mais influenciar todo o ordenamento brasileiro a fim de que os Direitos Protegidos pela Lei Maior possam ser efetivamente assegurados e consginar uma evolução concreta e efetiva da sociedade brasileira na luta do sacramento da Dignidade da Pessoa Humana". (DITÃO, Ygor Pierry Piemonte. Dano Moral Presumido: uma reflexão constitucional / Ygor Pierry Piemonte Ditão. - São Paulo: LiberArs, 2018. p. 127)
 
4.2. Princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional.
Juntamente com o princípio anterior (tutela constitucional do processo) é um dos princípios fundamentais para que exista o processo, pois, sem ele, seria possível que o poder judiciário simplesmente desaparecesse já que o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional tem por finalidade impedir que se crie obstáculos ao cidadão de ser ouvido por um juiz, cuja previsão se vê tanto na Constituição Federal (art. 5º, XXXV) quanto no novo Código de Processo Civil (art. 3º) que praticamente repete o teor do art. 5º, XXXV, da CF.
Art. 5º. [...] XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; (CF88), E
Art. 3o Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. (CPC15)
Sua interpretação é complexa e se divide em duas compreensões: (a) a primeira visão é que a constituição vincula o legislador, então, “a disposição impede a lei de erigir entraves ao exercício do direito à tutela jurídica do estado” (ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro, volume I: parte geral: fundamentos e distribuição de conflitos... op. Cit.  P. 395) e, (b) noutro viés, vincula o Poder Judiciário como medida de não lhe autorizar recusar casos pela simples interpretação de que o pedido é impertinente. No segundo caso bom exemplo é o seguinte: 
“EMENTA: PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DO PODER JUDICIÁRIO. À luz do princípio da inafastabilidade do poder judiciário, ainda que descabido, inoportuno ou desnecessário o pedido, não pode o magistrado se afastar da prestação jurisdicional” (TRT 12ª Região n° 0000417-45.2012.5.12.0010 - 3ª Turma – Rel. José Ernesto Manzi – dje. 13.02.2014).
Além desse ponto (que o juiz não pode negar julgar o caso por achar irrelevante, insignificante ou desarrazoado o pedido) existe ainda, é claro, o dever de propiciar ferramentas de acesso como o art. 98 do CPC15, pois se a questão econômica não receber cuidado, poderá transformar o tribunal em um tribunato dos patrícios (tribunal da Roma Antiga em que somente uma elite especial poderia participar) ofende a inafastabilidade da jurisdição por impedir o acesso ao Judiciário às pessoas em condições econômicas menos favoráveis, da mesma forma como consolidou a Súmula 667 do STF “Viola a garantia constitucional de acesso a jurisdição a taxa judiciária calculada sem limite sobre o valor da causa”.
No entanto, como todo princípio, a inafastabilidade da jurisdição não é absoluta e tem exceções como o art. 217, §1º CF88: “O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei.” e o Art. 1º, Parágrafo Único da Lei n° 7.347/85: “Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente determinados.”.
O legislador confirmou o compromisso firmado pelo ordenamento jurídico em ofertar ao indivíduo não apenas prestação jurisdicional de cunho repressivo, mas também a prevenção a qualquer ameaça ou lesão a direito.
 
4.3. Princípio do juiz natural.
Duas são a previsões constitucionais que garantem o princípio do juiz natural, a saber: (a) "ninguém será processado nem sentenciado senão pelaautoridade competente" (Art. 5º, LIII, da CF88), bem como (b) "não haverá juízo ou tribunal de exceção" (art. 5º, XXXVII, da CF88) que, de uma maneira, bem simples, é uma ferramenta de controle para evitar manipulação do Poder Judiciário, pois "o juiz natural, enquanto juiz pré-constituído e definido segundo critérios legais de competência, é um mecanismo eficiente para permitir que o acusado não seja julgado por um juiz parcial, evitando a manipulação dos poderes do Estado para atribuir um caso a um órgão jurisdicional específico" (BADARÓ, Gustavo. A garantia do juiz natural: predeterminação legal do órgão competente e da pessoa do julgador / Gustavo Badaró - RBCCRIM, vol. 112, São Paulo: Editora RT, jan-fev. 2015). 
O princípio do juiz natural proíbe a existência dos Tribunais de Exceção, que são juízos criados para julgar fatos já ocorridos, com parcialidade, para prejudicar ou beneficiar alguém (frequente em regimes ditatoriais).  Assim, a cláusula do juiz natural representa a garantia de que alguém somente será condenado por órgão jurisdicional preexistente ao ato praticado por essa pessoa, vale dizer, por órgão judicante pré-constituído, proibindo a constituição de órgão ex post facto, sendo consequência do Estado de Direito.
A Constituição ainda, em decorrência do juiz natural, para que o magistrado não seja influenciado, internamente ou externamente, contemplou a magistratura com as garantias da vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos.
Não devemos confundir juízo natural e juízo especializado, pois o último indica a existência de órgãos jurisdicionais dotados de competência específica (em contraposição à competência comum), como é o caso da Justiça do Trabalho, Justiça Eleitoral e Justiça Militar, mas já previstos anteriormente para julgar matéria específica na lei.
Também não se deve confundir juízo de exceção e prerrogativa de foro, que se constitui em razão da lei, levando em conta certo interesse público, define a competência do órgão jurisdicional segundo o foro como, por exemplo, ações em face da União perante a Justiça Federal; ação de alimentos no foro do domicílio do alimentando; ação de separação ou anulação de casamento no foro da residência da mulher; julgamento do Presidente da República nos crimes de responsabilidade pelo Senado Federal, etc..., pois em todos esses casos o Juízo é preexistente ao fato.
Portanto, o princípio do juiz natural se traduz no seguinte conteúdo: a) exigência de determinabilidade, consistente na prévia individualização do juízes por meio de leis gerais; b) garantia de justiça material (independência e imparcialidade dos juízes); c) fixação de competência absoluta, vale dizer, a existência de critérios objetivos para a determinação de competência dos juízes; d) observância das determinações de procedimento referentes à divisão funcional interna, ficando vedado o mecanismo de substituição, designação e convocação de juízes pelo Poder Executivo, tarefa reservada exclusivamente ao Judiciário, em virtude do princípio do autogoverno da magistratura.
 
4.4. Princípio do devido processo legal.
Art. 5º (...) LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; (CF88)
O devido processo legal (due process of law) é o direito ao processo, que não pode ser entendido somente como uma simples ordenação dos atos, através de qualquer procedimento; este há de realizar-se em contraditório, cercando-se de todas as garantias necessárias para que as partes possam sustentar suas razões, produzir provas, influir sobre a formação do convencimento do juiz, legitimando o exercício da função jurisdicional. Seu elo essencial é a compreensão prévia de regras do jogo que delimitem o como será procedida a averiguação da verdade processual.
Princípio fundamental do processo, sobre o qual todos os outros se sustentam (super princípio).  Configura gênero do qual todos os demais princípios constitucionais são espécies. É preciso compreender que "O devido processo legal, no Estado Democrático de Direito, jamais poderá ser visto como simples procedimento desenvolvido em juízo. Seu papel é o de atuar sobre os mecanismos procedimentais de modo a preparar e proporcionar provimento jurisdicional compatível com a supremacia da Constituição e a garantia de efetividade dos direitos fundamentais." (THEODORO JUNIOR, Humberto.  Curso de direito processual civil [livro eletrônico]... op. cit. idem).
Do Princípio do devido processo legal decorre, por exemplo: contraditório e ampla defesa (art. 5º, LV, CF88); igualdade processual (art. 5º, I, CF88); publicidade das decisões (Art. 93, IX, CF88); dever de motivar as decisões (art. 93, IX, CF88); inviolabilidade do domicílio (art. 5º, XI, CF88). Na área processual penal vemos ainda: presunção de não culpabilidade do acusado (Art. 5º, LVIII, CF88); indenização por erro judiciário e prisão que supere os limites da condenação.
Um bom exemplo pode ser retirado da jurisprudência:
EMENTA: PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. [...] A decisão agravada foi baseada na jurisprudência desta Corte, a qual entende pela possibilidade de bloqueio de ativos financeiros via BACENJUD, apenas quando o executado for validamente citado e não pagar nem nomear bens à penhora, sob pena de violação ao princípio do devido processo legal” (STJ – AgInt no REsp 1.485.018).
Sem entrar no mérito se a dívida existia ou não, ou, ainda, se é correto ver o devedor aproveitar-se das formalidades da Lei, a decisão acima do STJ (Superior Tribunal de Justiça) é um claro exemplo da supremacia do princípio do devido processo legal, pois é inaceitável, no Estado Democrático de Direito, que qualquer um seja surpreendido com ataques ao seu patrimônio sem ser claramente conhecedor do processo que contra ele existe. 
 
4.5. Princípio do contraditório e da ampla defesa.
O princípio constitucional do contraditório e o da ampla defesa repousa na impossibilidade de restrição da participação ativa  e contraditória das partes e ainda na produção de ampla defesa.
O referido princípio está previsto tanto na CF88 quanto no CPC15:
Art. 5º . [...] LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; (CF88)
Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório. (CPC15)
Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida. (CPC15)
Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. (CPC15)
É a imposição legal de audiência bilateral, ou seja, a necessidade de o juiz, caso tenha ouvido uma das partes, também ouvir a outra, traduzindo-se na imposição legal de dar conhecimento da ação (ao réu) e de todos os atos processuais às partes, e de assegurar-lhes a possibilidade de reagir juridicamente aos atos que lhes forem desfavoráveis (ciência bilateral dos atos contrariáveis); Esse princípio não deve, todavia, ser interpretado como uma exigência de que os litigantes se manifestem, efetivamente, acerca dos atos e termos do processo, mas sim lhes seja concedida a oportunidade para essa manifestação.
O Princípio da Ampla Defesa e do Contraditório era vistao "tradicionalmente [...] formado por dois elementos: informação e possibilidade de reação" (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil - volume único / Daniel Amorim Assumpção Neves - 8ª ed. - Salvador: JusPodivm, 2016. p. 115), ou seja, conhecer a situação e poder manifestar-se imediatamente sobre ela, mas, com o Novo CPC15 essa forma tradicional ganhou mais um relevo que foi a vedação, isto é, proibição de decisões surpresas, "o entendimento resta consagrado pelo art.10 do Novo CPC e em outros dispositivos legais. Segundo o dispositivo mencionado, nenhum juiz, em qualquer órgão jurisdicional, poderá julgar com base em fundamento que não tenha sido objeto de discussão prévia entre as partes, ainda que as matérias devam ser conhecidas de ofício pelo juiz" (NEVES,  Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil - volume único... op. cit. p. 118). 
É possível ver a Ampla Defesa e o Contraditório em pelo menos 6 situações, conforme ensina Araken de Assis (2015, p. 427):
(a) tempo razoável para defender-se (art. 335);
(b) defensor técnico (art. 341, parágrafo único do CPC15 e art. 1º Lei 8.906/94);
(c) participar de todos os atos do processo mesmo como simples espectador, salvo se causa risco ao processo (art. 385, §1º);
(d) ser chamado para se defender sempre (art. 9º e 10);
(e) direito de usar os remédios processuais sem ser punido por isso (art. 5º);
(f) direito de entender o que acontece como a necessidade de intérprete para estrangeiro ou língua dos sinais (art. 162).
Deve-se frisar que "por um lado, o contraditório legitima, democraticamente, o desfecho do processo [...] por outro lado [...] o contraditório efetivo e real é o único meio de as partes contrabalançarem os vastos e ilimitados poderes atribuídos ao órgão judiciário na direção material do processo" (ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro, volume I: parte geral: fundamentos e distribuição de conflitos... op. Cit.  P. 421), mas "o direito ao contraditório não comporta supressão, mas pode ser diferido por razões técnicas" (ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro, volume I: parte geral: fundamentos e distribuição de conflitos... op. Cit.  P. 421), como nos casos de (a) tutela provisória de urgência ou evidência (arts. 300 e 311); (b) art. 1.023, §2º do CPC, em hipótese de Embargos de Declaração só se chama a outra parte se os EDCL tiverem força ou aptidão para afetarem a decisão, isto é, caráter infringente; (c) art. 330, indeferimento de plano.
O contraditório se aplica a todo e qualquer tipo de processo, inclusive nos processos que permite a concessão de liminares. O fato de o juiz poder conceder medida liminar sem audiência do réu, não configura uma transgressão a este princípio, pois tal situação se dá justamente é para evitar que o réu, sendo citado, torne a medida ineficaz, ou na própria demora do provimento jurisdicional, acabe frustrando os objetivos desta, aliado ao fato de que o contraditório será estabelecido posteriormente (contraditório diferido).
Ademais, existem situações, como bem ensina Araken de Assis (2015, p. 427), que limitam o exercício da defesa ou que são exceções à regra de ampla defesa e contraditório sempre e a qualquer custo, como, por exemplo: (i) defesa técnica obrigatória: a parte junta contestação ela mesma (o juízo deve nomear defensor); (ii) art. 507, fazer no prazo (não praticado no tempo devido perde o direito de fazê-lo); (iii) art. 341, dever de contestar não exercido corretamente (dever de impugnar todos os argumentos do adversário) e art. 374 fatos que independem de prova (não se prova o dia do ano e que o sol existe); (iv) causa excepcionais: procedimentos que não têm a amplitude de prova e atuação como a regra geral (art. 398 prazo de 5 dias); (v) possibilidade de substituição do debate oral por memorial.
 
4.6.Princípio da inadmissibilidade de provas ilícitas.
A utilização de prova ilícita é expressamente proibida por dispositivos contidos tanto na Constituição Federal quanto no Código de Processo Civil que seguem:
Art. 5º [...] LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; (CF88)
Art. 369.  As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz. (CPC15)
O tema é controvertido. Pois a compreensão das provas ilícitas abrange discussões maiores quanto ao que se entende por ilicitude da prova e, ainda, se depara com uma maior complexidade trazida pelo CPC15 com a inclusão de locuções como "moralmente legítimos", fazendo-se difícil exemplificar de uma maneira abstrata para todos os casos o que seria uma prova aceitável ou não e, por isso, a análise sempre deverá levar em consideração o caso concreto escolhido. 
Nelson Nery Junior esclarece: "A prova é ilegal quando ofende o ordenamento jurídico como um todo (CF, leis e princípios), que se trate de ofensa material ou processual. A prova será ilícita quando sua proibição for de natureza material, vale dizer, quando tiver sido obtida ilicitamente." (NERY JUNIOR, Nelson. Constituição Federal comentada e legislação constitucional / Nelson Nery Junior, Rosa Maria de Andrade Nery. - 6ª ed. - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017. p. 269). No entanto, infelizmente, tal conceito por sua evidente tecnicidade acaba por ser de difícil compreensão e, com isso, é aconselhável replicar as lições de Araken de Assis que traz uma divisão mais empírica ao conhecimento das provas:
"(a) ilicitude material, em que a prova é obtida mediante ato contrário ao direito (v.g., invasão de domicílio, quebra de sigilo epistolar e do segredo profissional, subtração de coisa, captação clandestina de sons e imagens, constrangimento pessoal); (b) ilicitude formal, em que, originalmente lícito o procedimento de obtenção da prova, o vício ocorre no momento da produção da prova (v.g., depoimento de testemunha impedida)" (ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro, volume I: parte geral: fundamentos e distribuição de conflitos... op. Cit.  P. 476).
Para exemplificar, no primeiro caso, ilicitude materail, toda a construção da prova está contaminada como é o caso de prova obitida por meio de invasão de domicílio, furto ou ameaça, enquanto no segundo caso, ilicitude formal, a contaminação é interna e não perceptível a olho nu, pois parece ser toda válida, porque a prova foi obtida por um meio lícito (um contrato, por exemplo), mas seu fundo era ilícito como é o caso de depoimento de testemunha impedida que ninguém sabia que o era. 
No Brasil os Tribunais costumeiramente adotam a Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada (fruits of the poisonous tree). Tal teoria sustenta que a prova obtida mediante violação de norma jurídica contaminará todas as outras provas obtidas a partir daquela. Essas provas são consideradas ilícitas por derivação.
Embora o texto constitucional proíba a utilização no processo de provas obtidas por meio ilícitos, a doutrina se manifesta de forma bastante controvertida, sendo que vem ganhando força uma corrente intermediária, que se denomina modernamente de princípio da proporcionalidade.
Esta corrente defende que a ilicitude do meio de obtenção de prova seria afastada quando, por exemplo, houver justificativa para a ofensa a outro direito por aquele que colhe a prova ilícita. É o caso, por exemplo, do acusado que, para provar sua inocência, grava clandestinamente conversa telefônica entre outras duas pessoas.
 
4.7. Princípio da presunção de inocência.
Em conjunto com as demais garantias constitucionais, o princípio da presunção da inocência, relacionado principalmente com o processo penal, garante ao acusado pela prática de uma infração penal um julgamento justo partindo do pressuposto de que o mesmo é inocente enquanto não sobrevier decisão transitada em julgado que lhe impute, por meio do devido processo legal, prova em contrário. 
A CF88 apresenta o princípio da presunção de inocência no artigo 5º, LVII:
Art. 5º [...] LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;
O princípio da presunção de inocência é um dos princípios basilares do Estado Democrático de Direito, e visa tutelar a liberdade pessoal, pois cabe ao Estado provar a culpabilidade do indivíduo, que é constitucionalmente presumido inocente. Sua importância ganhou relevância recente em casos envolvendo a prisão do ex-presidente Inácio Lula da Silva cuja jurisprudência do STFmostrou-se instável até consolidar nas ADC 43, 44 e 54, o seguinte entendimento estabelecendo a supremacia da presunção de inocência e afastando a possibilidade de prisão em segunda instância:
"Decisão: O Tribunal, por maioria, nos termos e limites dos votos proferidos, julgou procedente a ação para assentar a constitucionalidade do art. 283 do Código de Processo Penal, na redação dada pela Lei nº 12.403, de 4 de maio de 2011, vencidos o Ministro Edson Fachin, que julgava improcedente a ação, e os Ministros Alexandre de Moraes, Roberto Barroso, Luiz Fux e Cármen Lúcia, que a julgavam parcialmente procedente para dar interpretação conforme." (ADC 43 - STF). 
O instituto da inocência presumida é, portanto, garantia fundamental e instituto essencial ao exercício da jurisdição imparcial, e, por incrível que pareça, pode influir no processo Civil como no seguinte caso:
“EMENTA: PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA. VIOLAÇÃO. 1. A jurisprudência dessa Corte é firme no sentido de que viola o princípio da presunção de inocência a negativa homologar diploma de curso de formação de vigilante com fundamento em inquéritos ou ações penais sem trânsito em julgado” (STF AgRg no ARE 943.503).
 
4.8.Princípio do duplo grau de jurisdição.
Por mais que a tecnologia tenha progredido - como nos recentes casos do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo em utilizar inteligência artificial para encontrar jurisprudência mais rapidamente aplicável ao caso - o julgamento é feito por seres humanos dotados de concepções pessoais, pré-conceitos próprios, religião e posicionamento político que influenciam sempre seu modo de ver o mundo e, tanto por tais pontos como pelo simples fato de serem seres humanos, são passíveis de erro. 
Por isso, a parte que não obteve a satisfação de sua pretensão pode provocar um novo exame de seu pedido por um órgão jurisdicional diverso sustentando, em apertadíssima síntese, a factível hipótese o juízo ter errado. Portanto, esse princípio prevê a possibilidade de revisão, por via de recurso, das decisões proferidas, garantindo, assim, um novo julgamento, por parte dos órgãos da jurisdição superior.
Isto é, "em linhas gerais, o duplo grau de jurisdição remete o operador à possibilidade de a parte vencida, através do recurso competente, obter um novo julgamento da causa (reexame), preferencialmente por órgão hierarquicamente superior, através de decisão que supere e substitua a decisão anterior. Divergências à parte, é disso que se fala quando se cogita sobre duplo grau de jurisdição" (TEIXEIRA, Guilherme Puchalski. Análise fragmentada do duplo grau enquanto regra de direito / Guilherme Puchalski Teixeira. - RePro - vol. 158, pp 337-362 - abr., 2008São Paulo: Editora RT, 2008).
A origem desse princípio encontra-se na história do homem que insatisfeito com o resultado obtido e sua busca por uma decisão que seja conforme a sua pretensão e, ainda, ao fato da possibilidade do julgador falhar em sua interpretação, deixando, porém, séria discussão se seria ou não um princípio constitucional. De um lado, há quem veja o princípio na CF de maneira implícita nos artigos 5º, 102, 105 e 108, enquanto, por sua vez, outros entendem ser apenas um princípio informativo, ou seja, infraconstitucional. No entanto, a corrente majoritária sobre o caráter constitucional do duplo grau de jurisdição ganhou mais força com a AP 470 quando o STF assentou o entendimento de caber Embargos Infringentes em ações penais originárias da Suprema Corte:
"O Ministro Celso de Mello votou pelo cabimento dos embargos infringentes nas ações penais originárias sob competência do STF: 'Tenho para mim, na linha do voto que proferi em 2 de agosto de 2012, que ainda subsistem no âmbito do Supremo Tribunal Federal, nas ações penais originárias, os embargos infringentes a que se refere o artigo 333, inciso I, do regimento interno da Corte, que não sofreu no ponto, segundo entendo, derrogação tácita ou indireta da superveniente edição da lei 8.038/90" (MIGALHAS, STF decide pelo cabimento dos infringentes no mensalão. - Disponível em: https://www.migalhas.com.br/quentes/186669/stf-decide-pelo-cabimento-dos-infringentes-no-mensalao - Acesso em: 22.03.2020). 
Por força disso, é melhor o posicionamento de defende o duplo grau de jurisdição como um princípio constitucional, respeitadas as posições divergentes. 
 
4.9.Princípio da publicidade.
Este princípio é bem ilustrado pela filosofia, quando Kant em A Paz Perétua escreveu que "todas as ações relativas ao direito de outros homens cuja máxima não se conciliar com a publicidade são injustas" (KANT, Immanuel, 1724-1804. À paz perpetua / Immanuel Kant; tradução Marco Zinano – Porto Alegre, RS: L&PM, 2016. P. 76).
No sentido mais simples: fazer escondido é a prova de que fazes algo contra a lei. O referido princípio é escrito no art. 93, IX, da CF88 e no art. 11 do CPC15:
Art. 93 [...] IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; (CF88)
Art. 11.  Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade. (CPC15)
Parágrafo único.  Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença somente das partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do Ministério Público. (CPC15)
A publicidade do processo constitui verdadeiro instrumento de controle da atividade dos órgãos jurisdicionais tanto pelas partes envolvidas como pela sociedade, pois a garantia em tela justifica-se na exigência política de evitar a desconfiança popular na administração da justiça. De modo que a publicidade é aquela que permite o acesso, na realização dos atos processuais, não só das partes, mas ainda do público em geral.
Contudo, sempre é frisante que nenhum princípio é absoluto, e, por isso, é necessário destacar a existência de exceção que vem prevista no parágrafo único do art. 11 em relação aos casos que demandam o segredo de justiça. Essa exceção existe em virtude de outro princípio: a dignidade da pessoa huamana e a intimidade, para que, assim, preservem-se a intimidade da pessoa sem ver sua vida no mais íntimo expostas em todo o território nacional.
Coerente com tal enunciado, o artigo 189 dispõe que:
Art. 189.  Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de justiça os processos:
I - em que o exija o interesse público ou social;
II - que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes;
III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade;
IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo.
 
4.10.Princípio da fundamentação das decisões judiciais.
Princípio esculpido, igualmente ao da publicidade, nos artigos 93, IX, da CF88 e no art. 11 do CPC15, diz: 
Art. 93 [...] IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; (CF88)
Art. 11.  Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade. (CPC15)
Parágrafo único.  Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença somente das partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do Ministério Público. (CPC15)
"A fundamentação da sentença é elemento essencial não só para o processo, mas também para toda a sociedade, que diante dos fundamentosganha condições de saber se o Judiciário age com imparcialidade e se suas decisões são fruto da lei ou do arbítrio do prolator" (RODRIGUEZ, Victor gabriel. Argumentação jurídica: técnicas de persuasão e lógica informal / Víctor Gabriel Rodriguez. - 6ª ed. - São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2015. p. 40).
Possui ainda este princípio estreita ligação com os postulados do regime democrático do Estado de Direito, que repugna a possibilidade de decisões judiciais arbitrárias, trazendo consequentemente a exigência da imparcialidade do juiz, a publicidade das decisões judiciais, passando pelo princípio constitucional da independência do magistrado, que pode decidir de acordo com a sua livre convicção, desde que motive as razões de seu convencimento.
O CPC não admite pronunciamento judicial despido fundamentação, mas isso todos os Códigos praticamente repetiram. Então, qual seria a grande inovação do Novo CPC? É que no Novo CPC a visão simplista de fundamentação formal é superada por uma fundamentação material em que é capaz de "tornar as decisões judiciais intersubjetivamente controláveis a partir de um método adequado de interpretação e aplicação do Direito" (MARINONI, Luiz Guilherme. Novo curso de processo civil: teoria do processo civil, volume I / Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart, Daniel Mitidiero. - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 138). 
Por isso, o CPC15 instituiu regras mais específicas e detalhadas para aferir e averiguar se a decisão proferida pelo juiz é fundamentada ou não, pois compreendeu que:
O CPC/2015 deu especial destaque ao modo como deve ser fundamentada a decisão judicial, seja no sentido de resposta àquilo que tiveram afirmados as partes, como manifestação do princípio do contraditório (cf. art. 489, §1º, IV do CPC/2015), seja ao dispor sobre o modo como o juiz demonstra como compreendeu os fatos,a través das provas (cf. arts. 371 e 479 do CPC/2015), seja sobre o modo como apreendeu o sentido da norma (cf. art. 489, §1º, I a III, e §2º, do CPC/2015) e a interpretou, à luz do que se vem decidindo, na jurisprudência (cf. art. 489, §1º, V e VI do CPC/2015). (MEDINA, José Miguel Garcia. Direito Processual Civil Moderno / José Miguel Garcia Medina. - 2ª ed. - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016. p. 136).
Em apertadíssima síntese, a fundamentação é o local onde todos nós podemos averiguar se o juiz respeitou todos os demais princípios como a supremacia da constituição, a inafastabilidade da jurisdição, da ampla defesa e do contraditório e, por isso, é tão importante ao processo. Por isso, o CPC15 institui um rol mínimo para analisar se a decisão é fundamentada ou não:
Art. 489. São elementos essenciais da sentença:
I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação do caso, com a suma do pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo;
II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;
III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe submeterem.
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.
Para compreender melhor, é importante buscar um exemplo prático:
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - INVENTÁRIO - CONSTRIÇÃO DE BENS DO ESPÓLIO - DECISÃO NÃO FUNDAMENTADA - NULIDADE. - Consoante o disposto no art. 93, inciso IX, da CF, bem como no art. 11 do CPC, é nula a decisão judicial não fundamentada, pelo que deve ser declarada a nulidade da decisão que, no curso do inventário, determina o bloqueio das matrículas dos bens imóveis do espólio sem expor os fundamentos fáticos e jurídicos da medida constrititva. (TJGM - AI 10342020283376003 - Rel. Adriano de Mesquita Carneiro - j. 07.02.2019). 
No exemplo acima, a decisão reformada limitou-se a dizer "defiro o bloqueio das matrículas até deliberação deste juízo" sem explicar às partes qualquer razão que justificasse a medida, mostrando-se como uma decisão fundada na vontade arbitrária do juízo e, por isso, inconstitucional. Esse exemplo serve a todos os demais do art. 489, §1º do CPC15, de modo que não basta citar artigo de lei (I), como o juiz que impõe penhora citando apenas o art. 835 do CPC, usar palavras comuns ou expressões de imponência (II) como o juiz que fundamenta sua decisão na dignidade da pessoa humana sem explicar como ela se aplica ao seu caso, apresentar decisão modelo que cabe para qualquer processo (III), que ignorar algum argumento importante (IV), que fundamenta sua decisão numa súmula (V) mas ignora o dever de demonstrar o como essa súmula cabe no caso em concreto, ou, ainda, (VI) quando resolve não seguir precedente, mas se nega a explicar a distinção dos casos. 
De uma maneira geral, se espera do Judiciário que as decisões tornem claro o posicionamento adotado e pela racionalidade persuada a parte sucumbente, pois uma decisão mal-fundamentada é uma das grandes razões pelas quais os recursos não cessam de acontecer. Uma decisão fundamentada permite o controle de todos e, ainda, inibe recursos desnecessários quando a parte derrotada vê que tudo que poderia utilizar foi devidamente rebatido.
 
4.11. Princípio da Isonomia (igualdade material):
Dentro de um processo ninguém deve ter privilégios ou ser perseguido de uma forma mais dura que a outra parte. A ninguém é dado gozar de privilégios ou obstáculos que não sejam fundados em normas racionais e claras, de modo que a fortuna, o cargo ou a importância midiática que uma pessoa tenha não seja elemento capaz de mudar a rota do processo ou o como procederá esse ou aquele juiz, pois sacramentou a Constituição Federal que:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza [...] (CF88)
E acrescentou O CPC15:
Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório. (CPC15).
Mas a igualdade é algo bem mais complexo do que dar às partes as mesmas oportunidades e, no desenvolver da história, se conceberam duas formas de ver a igualdade: (a) a formal, onde todos são iguais perante a Lei, e; (b) material, em que as desigualdades existentes entre as pessoas são reequilibradas pela Lei. Assim, "o preceito magno da igualdade, como já tem sido assinalado, é norma voltada que para o aplicador da lei quer para o próprio legislador. Deveras, não só perante a norma posta se nivelam os indivíduos, mas, a própria edição dela assujeita-se ao dever de dispensar tratamento equânime às pessoas" (MELLO, Celso Antônio Bandeira de. O contéudo jurídico do princípio da igualdade / Celso Antônio Bandeira de Mello. - 3ª ed. - São Paulo: Malheiros Editores, 2014. p. 09).
No processo, então, se revigora o princípio aristotélico de que "o juiz, então, reestabelece a igualdade" (ARISTÓTELES, Ética à Nicômaco / Aristóteles; tradução Torrieri Guimarães. - 5ª Ed. - São Paulo: Martin Claret, 2011. p. 107), onde é preciso ver que "nessas situações, a lei processual aplicou e incorporou o princípio da isonomia ao seu texto, estampado na CF. É que o citado princípio significaque partes iguais (do ponto de vista processual e/ou econômico) devem ser igualmente tratadas; partes desiguais devem ser tratadas desigualmente" (MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: de acordo com o novo CPC... op. cit. p. 28). 
Por isso, a regra é tratamento igual a todos: prazos, custos, direito de fala, manifestação e acesso. Todavia, para que a igualdade saia da simples linha formal e atenda seu critério material, existem situações excepcionais em que são dados tratamentos desiguais para igualar pessoas desiguais. 
Por exemplo, em um processo há uma disputa processual entre uma Multinacional fabricadora de veículos contra Joãozinho (pessoa simples, analfabeta que adquiriu o veículo depois de muito custo e trabalho como servente de pedreiro). O veículo, infelizmente, estava com defeito, então, Joãozinho, sem recursos foi até a defensoria público e conseguiu um defensor. 
Nesse caso o art. 186, do CPC15 instituiu a regra de que "a Defensoria Pública gozará de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais". Por quê? Simples, porque sem isso a defensoria pública que é responsável por defender o interesses de todas as pessoas que não têm condições de arcarem elas mesmas não teria condições de defender adequadamente Joãozinho, pois cuida de milhares de "joãozinhos" em todo o país. 
Nesse mesmo exemplo, tem-se ainda outro problema de caráter econômico: custas processuais. No caso hipotético, por causa do defeito no veículo, Joãozinho viu seu filho Pedrinho falecer em um acidente automobilístico e, então, acionou a fornecedora para reclamar danos materiais e morais em valores significativos em vista de tamanha perda. No entanto, todo processo tem custas e encargos (como os honorários do perito). Então, o CPC15 para não deixar a dificuldade econômica ser um obstácul de acesso à Justiça instituiu o art. 98, do CPC15 cristalizando que "a pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei". 
Ainda nesse mesmo exemplo, Joãozinho não tem condições de provar, pois além das questões de perícia, depende de participação e fornecimento de material da outra parte que Joãozinho é incapaz pessoal e economicamente de providenciar. Então, o CPC15 no art. 373, §1º, fixou uma possibilidade de mudar a regra de ônus da prova para equilibrar a disputa tão desigual neste caso, dizendo que: "§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído."
Existem outros exemplos, como o prazo em dobro do Ministério Público (art. 180, do CPC15), o prazo em dobro da União, Estados, DF e Municípios (art. 183, do CPC15) ou o litisconsorte com patronos diferentes (art. 229 do CPC15), mas todos retratam exceções que não violam a igualdade, mas otimizam-na praticando igualdade material e igualando os desiguais na lide, no conflito processual e estabelecendo uma igualdade de armas.
Conclusivamente:
"Vale dizer que a aplicação da igualdade depende de um critério diferenciado e de um fim a ser alcançado. Dessa constatação surge uma conclusão, tão importante como menosprezada: fins diversos levam à utilização de critérios distintos, pela singela razão de que alguns critérios são adequados á realização de determinados fins; outros, não. Mais do que isso: fins diversos conduzem a medidas diferentes de controle. Há fins e fins no Direito. [...] Os sujeitos devem ser considerados iguais em liberdade, propriedade e dignidade" (ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos / Humberto Ávila. - 15ª ed. - São Paulo: Malheiros Editores, 2014. p. 193).
Não se põe numa corrida golfinho contra um leopardo, ambos na água, mas golfinho contra golfinho (ambos na água) e leopardo contra leopardo (ambos na terra). Isso é igualdade. 
 
4.12. Razoável duração do processo e celeridade:
O tempo é valioso, pois "o homem está sujeito á passagem do tempo. Ele nasce, cresce, fica velho e morre. Seu tempo é escasso. Precisa economizá-lo como economiza outros fatores escassos" (MISES, Ludwig von. Ação Humana. / Ludwig von Mises. - São Paulo: Instituo Ludwig von Mises Brasil, 2010. p. 135). Por isso "já denunciava Sun Tzu que uma guerra longa demais é dura para todos" (DITÃO, Ygor Pierry Piemonte. Dano Moral Presumido: uma reflexão constitucional... op. cit. p. 12), e, um processo longo é uma tortura mesmo àquele que se utiliza do tempo para postergar o cumprimento de uma obrigação, uma vez que já é velha a reclamação da humanidade quanto a morosidade dos processos, posto que "Quem suportaria [...] as delongas da lei [...] podendo, ele próprio, encontrar seu repouso com um simples punhal?" (SHAKESPEARE, William. Hamlet. / William Shakespear; tradução Millôr Fernandes. - Porto Alegre: L&PM, 2010, p. 67).
Por isso, equilibrando com outros princípios como a Ampla Defesa, Contraditório e Devido Processo Legal, a razoável duração do processo e celeridade, emergem-se como o direito das partes de alcançarem uma decisão que produza uma "solução integral do processo, incluída a atividade satisfativa" (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil - volume único... op. cit. p. 142), pois "Ainda que afinal se reconheça e proteja o direito violado, o longo tempo em que o titular, no aguardo do provimento judicial, permaneceu privado de seu bem jurídico, sem razão plausível, somente pode ser visto como uma grande injustiça" (THEODORO JUNIOR, Humberto.  Curso de direito processual civil [livro eletrônico]... op. cit. idem).
Seus grandes exemplos são os arts. 300, 311, 355 e 356 do CPC15 (além de outros como indeferimento de plano da Petição Inicial ou o provimento ou improvimento de plano de recurso pela Relator), em que se tem a possibilidade, no art. 300, do CPC15, antecipar ou acautelar medidas e pedidos em vista de risco, urgência ou perigo de dano, bem como de antecipar, também, ou acautelar por força de notoriedade, isto é, evidência (conforme art. 311, do CPC15). Já os arts. 355 e 356, do CPC15, dispensam a necessidade de realização de provas inúteis (a parte que requer oitiva de testemunha para provar que é casada, mas já tinha nos autos certidão de casamento) para que se decida imediatamente, no mérito, a favor ou contra pontos que já estão bem provados ou seja matéria de direito.

Continue navegando