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CIRROSE Revisão Otimize o tempo e a qualidade do seu estudo www.sanarflix.com.br 1. Definição A cirrose é o estágio final de um processo crônico de agressão ao fígado e caracteriza-se pela substituição de tecido hepático normal por tecido fibroso e nódulos regenerativos. Corresponde a um processo difuso e essencialmente irreversível. 2. Epidemiologia/Etiologia A cirrose é uma causa importante de morbidade e mortalidade por todo o mundo. Apesar da dificuldade em se estabelecer a incidência e prevalência real dessa doença, estima-se que ela seja responsável por 1,1% das mortes no mundo e por 9,3 mortes para cada 100 mil nos Estados Unidos, representando a 12ª causa de morte mais comum. No Brasil, a taxa de mortalidade específica por cirrose hepática é de 4,6 por 100.000 habitantes. As principais causas da cirrose são: Hepatite viral crônica (B e C); hepatopatia alcoólica; esteatohepatite não alcoólica; hepatite autoimune; hemocromatose; doenças biliares; colangite esclerosante; cirrose biliar primária; doença de Wilson; doença celíaca; deficiência de alfa-1 antitripsina; doença hepática policística; insuficiência cardíaca direita; doença venoclusiva; infecções e parasitoses (ex.: sífilis, esquistossomose); hepatopatia medicamentosa (ex.: isoniazida, metotrexate); doença hepáticas primárias (fibrose portal idiopática, doença hepática granulomatosa). 2 Resumo de Cirrose www.sanarflix.com.br 3. Fisiopatologia Os processos patogênicos centrais da cirrose consistem na deposição de matriz extracelular (colágeno I e III, proteoglicanos sulfatados e glicoproteínas), morte dos hepatócitos e reorganização vascular. A deposição de colágeno tipo I e III ocorre no espaço de Disse e é consequência da ativação das células estreladas hepáticas pela lesão. Essa deposição forma tratos septais fribróticos e é acompanhada pela perda das fenestrações das células endoteliais dos sinusoides hepáticos, impedindo a troca de solutos entre os hepatócitos e o plasma, uma vez que os sinusóides são responsáveis por realizar essa troca. Durante todo o processo de lesão hepática e fibrose, a regeneração dos hepatócitos sobreviventes é estimulada e estes se proliferam dando origem a nódulos esféricos circundados por septos fibrosos. O resultado é um fígado nodular e com muitas fibroses, com comprometimento severo do suprimento de sangue para os hepatócitos e da secreção de substâncias no plasma pelos hepatócitos. A degeneração da interface entre o parênquima e os tratos portais também pode obliterar os canais biliares, levando ao desenvolvimento de icterícia. 4. Clínica As manifestações clássicas podem ser inespecíficas ou variar de acordo com a doença de base e incluem: icterícia, ascite, circulação colateral proeminente (circulação em cabeça de medusa), edema de membros inferiores, diminuição da pressão arterial, teleangiectasias, ginecomastia e atrofia testicular nos homens, eritema palmar, contratura de Dupuytren (atrofia da fáscia palmar), baqueteamento digital, osteoartropatia hipertrófica, distrofia ungueal, flapping, entre outras. Embora a cirrose seja definida pela presença (ou ausência) de fibrose e nódulos regenerativos no fígado, ou seja, um diagnóstico de “tudo ou nada”, ela pode ser 3 Resumo de Cirrose www.sanarflix.com.br 111 classificada como compensada ou descompensada, de acordo com sua apresentação clínica. ➢ Compensada: fase inicial; nela o paciente pode se apresentar assintomático ou com sintomas inespecíficos, como fadiga, perda de peso, fraqueza e anorexia. ➢ Descompensada: paciente pode apresentar icterícia, prurido, ascite (manifestação mais comum de descompensação), edema de membros inferiores, diarreia, sangramento gastrointestinal (hematêmese, hematoquezia, melena), confusão mental, entre outros. 5. Diagnóstico • Exames laboratoriais: testes de função hepática, testes de coagulação, hemograma completo e testes sorológicos (diagnóstico de causas virais, por exemplo, hepatites B e C). ➢ Os níveis das aminotransferases (ALT e AST) costumam estar moderadamente elevados. ➢ A fosfatase alcalina (FA) e a gama GT (GGT) geralmente estão normais; níveis elevados indicam colestase ou obstrução biliar. ➢ A bilirrubina geralmente está normal, estando aumentada somente quando há progressão da doença. ➢ Níveis baixos de albumina sérica e alargamento do tempo de protrombina (TP) indicam déficit de função hepática; a albumina pode estar baixa quando há desnutrição. ➢ A globulina sérica aumenta na cirrose e em outras doenças hepáticas inflamatórias. ➢ Anemia é comum e geralmente normocítica; é decorrente de inúmeros fatores, como sangramento gastrointestinal crônico, deficiência de folato, hemólise, entre outros. ➢ Pode haver leucopenia, trombocitopenia ou pancitopenia. 4 Resumo de Cirrose www.sanarflix.com.br • Exames de imagem: não têm alta especificidade ou sensibilidade para o diagnóstico em si, mas detectam suas complicações. ➢ Ultrassonografia (USG): na cirrose avançada, mostra um fígado pequeno e nodular; pode detectar hipertensão portal e ascite. ➢ Tomografia computadorizada (TC): pode detectar textura nodular, mas sem vantagens em relação ao USG. ➢ Ressonância magnética (RM): pode mostra fígado irregular e aumento esplênico, porém, possui alto custo em relação ao pequeno benefício. • Biópsia hepática: se os critérios clínicos e os testes não invasivos forem inconclusivos, a biópsia hepática deve ser realizada; apresenta uma sensibilidade de aproximadamente 100%. 6. Complicações • Hipertensão portal: complicação grave mais comum; pode se manifestar com sangramento gastrointestinal de varizes de esôfago, gástricas ou retais, ou por gastropatia hipertensiva portal. • Síndrome hepatopulmonar: aumento do gradiente alvéolo-arteriolar que ocorre por vasodilatação no território microvascular pulmonar, podendo resultar em hipoxemia. • Peritonite bacteriana espontânea: complicação da ascite que indica mau prognóstico, pois está associada a piora da função renal. • Congestão esplênica com hiperesplenismo: pode resultar em esplenomegalia, sequestro plaquetário e consequente citopenia. • Coagulopatia: em decorrência da insuficiência hepática. • Síndrome hepatorrenal, levando a uma falência renal. • Encefalopatia hepática • Colestase e icterícia: devido à menor secreção de bile pelos hepatócitos. • Má absorção de triglicerídeos e vitaminas lipossolúveis: devido à menor concentração de bile no intestino. 5 Resumo de Cirrose www.sanarflix.com.br Coagulopatia: devido à menor síntese hepática de fatores de coagulação e da má absorção da vitamina K. 7. Tratamento O tratamento da cirrose compensada visa prevenir a descompensação, através do tratamento da doença hepática de base, da suspensão dos fatores agravantes da doença hepática (por exemplo, álcool e drogas hepatotóxicas) e do rastreamento de varizes (para evitar hemorragia varicosa) e de carcinoma hepatocelular (para que o tratamento seja realizado no estágio inicial do tumor). O transplante hepático é o único tratamento definitivo para cirrose e é indicado para pacientes com insuficiência hepática terminal e que preencham os critérios para transplante (sistema MELD). ➢ Betabloqueadores: reduzem a pressão portal e, por isso, diminuem o risco de desenvolvimento de varizes, hemorragia varicosa e ascite. Posologia: propanolol 20mg, via oral, 2x/dia; nadolol 20mg, via oral, 1x/dia. ➢ Diuréticos: utilizados para controle da ascite. Furosemida pode ser iniciada simultaneamente à espironolactona em casos que a perda de peso for inadequada ou se houver desenvolvimento de hipercalemia. Posologia: espironolactona 100mg/dia, com ajuste da dose a cada 3-4 dias, dose máxima 400mg/dia; furosemidadose escalonada de 40 a 160mg/dia. ➢ Antibioticoterapia empírica: utilizada para tratar a peritonite bacteriana espontânea. Posologia: cefotaxima 2g, de 12/12 horas, via intravenosa; ceftriaxona 1 a 2g, de 24/24 horas, via intravenosa; ácido amoxicilina-clavulanato 1g, de 8/8 horas, via intravenosa. ➢ Laxantes: utilizados para controle da encefalopatia hepática. Posologia: lactulose 15 a 30mL, via oral, 2x/dia, ajustada para obter duas evacuações/dia. 6 Resumo de Cirrose www.sanarflix.com.br 8. Prognóstico O prognóstico da cirrose hepática depende da etiologia, gravidade da doença, presença de comorbidades e complicações. Os pacientes com doença compensada morrem de doença hepática apenas após a descompensação. A taxa de sobrevida em 10 anos de pacientes com a doença compensada é de aproximadamente 90%, enquanto a taxa dos pacientes descompensados é de 50%. Os parâmetros de hipertensão portal (varizes, esplenomegalia, contagem de plaquetas, gama-globulina) possuem uma alta importância na predição a sobrevida de pacientes com cirrose compensada. Já nos pacientes com a doença descompensada, os principais preditores de sobrevida são: disfunção renal, hemorragia e carcinoma hepatocelular. Na prática clínica são usados dois sistemas de classificação da gravidade da cirrose, são eles: classificação de Child-Pugh e o sistema MELD. A classificação de Child-Pugh utiliza parâmetros clínicos e laboratoriais para estratificar a gravidade da doença, o risco cirúrgico e o prognóstico geral. Os elementos utilizados são albumina, bilirrubina, tempo de protrombina, ascite e encefalopatia. São atribuídos pontos a cada elemento, de acordo com o critério estabelecido, e a somatória desses pontos indica a gravidade da doença. Grau A equivale a 5 ou 6 pontos na somatória e indica um baixo risco, de 7 a 9 pontos a doença é considerada de grau B e risco moderado, já de 10 a 15 pontos a doença é de alto risco (grau C). A sobrevida estimada em um ano com base neste sistema é de aproximadamente 100% para Child A, 80% para Child B e 45% para Child C. Já o sistema MELD é baseado na avaliação dos níveis de bilirrubinas, creatinina e INR (Internacional Normalized Ratio) e tem sido adotado para alocação dos pacientes na fila de transplante hepático. No Brasil, é utilizado desde o ano de 2006 com essa finalidade. 7 Resumo de Cirrose www.sanarflix.com.br Referências bibliográficas 1. Goldeman L, Schafer AI. Goldman’s Cecil Medicine. 25th ed. Philadelphia: Elsevier Saunders, 2016. 2. Kumar V, Abbas A, Fausto N. Robbins e Cotran – Patologia – Bases Patológicas das Doenças. 8ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. 3. Civan JM. Cirrose. Manuais MSD. Disponível em: <https://www.msdmanuals.com/pt- br/profissional/distúrbios-hepáticos-e-biliares/fibrose-e-cirrose/cirrose>. Acesso em: 06 de junho de 2018. 4. Barreto C. Cirrose Hepática: Apresentação Clínica e Manifestações Clássicas. Whitebook. Disponível em: <https://pebmed.com.br/cirrose-hepatica-apresentacao- clinica-e-manifestacoes-classicas/>. Acesso em: 05 de junho de 2018. 8 Resumo de Cirrose www.sanarflix.com.br
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