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Indexação Qualis A R ev is ta d o M éd ic o V et er in ár io • w w w .r ev is ta ve te q u in a. co m .b r ANO 12 - Nº 72 - JULHO / AGOSTO 2017 • Doping em Esportes Equestres • Prevalência de anticorpos anti-leptospira em éguas de tração carroceiras às margens do rio Paraíba em Alagoas, Brasil • Odontologia: Cáries periféricas em Equinos - Dentes pré-molares e molares • Ortopedia Equina: Casos clínicos (parte 2) • Agronegócio: Impactos da Polícia e da Receita Federal na Equinocultura • Informativo Equestre: Choque Circulatório em Equinos OBESIDADE: Uma visão sobre fator de risco de Síndrome Metabólica Equina Revisão de literatura • 1 S U M Á R I O ANO 12 - Nº 72 - JULHO / AGOSTO 2017 FOTO CAPA: Arquivo pessoal dos autores FOTO DESTAQUE: Érica Bertha F.R. Bezerra de Mello (2015) www.passoapasso.org.br 1. REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA EQUINA (ISSN 1809-2063) - publica artigos Científicos, Revisões Bibliográficas, Relatos de Ca- sos e/ou Procedimentos e Comunicações Curtas, referentes à área de Equinocultura e Medicina de Equídeos, que deverão ser destinados com exclusividade. 2. Os artigos Científicos, Revisões, Relatos e Comunicações curtas devem ser encaminhados via eletrônica para o e-mail: (revista.equina@gmail.com) e editados em idioma Português. To- das as linhas deverão ser numeradas e paginadas no lado inferior di- reito. O trabalho deverá ser digitado em tamanho A4 (21,0 x 29,0 cm) com, no máximo, 25 linhas por página em espaço duplo, com mar- gens superior, inferior, esquerda e direita em 2,5 cm, fonte Times New Roman, corpo 12. O máximo de páginas será 15 para artigo científico, 25 para revisão bibliográfica, 15 para relatos de caso e 10 para comu- nicações curtas, não incluindo tabelas, gráficos e figuras. Figuras, grá- ficos e tabelas devem ser disponibilizados ao final do texto, sendo que não poderão ultrapassar as margens e nem estar com apresentação paisagem. 3. O artigo Científico deverá conter os seguintes tópicos: Título, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Introdução; Material e Métodos; Resultados e Discussão; Conclusão e Referências. Agrade- cimento e Apresentação; Fontes de Aquisição; Informe Verbal; Comitê de Ética e Biossegurança devem aparecer antes das Referências. Pesquisa envolvendo seres humanos e animais obrigatoriamente devem apresentar parecer de aprovação de um comitê de ética institucional já na submissão (Modelo .doc, .pdf). 4. A Revisão Bibliográfica deverá conter os seguintes tópicos: Títu- lo, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Introdu- ção; Desenvolvimento (pode ser dividido em sub-títulos conforme ne- cessidade e avaliação editorial); Conclusão ou Considerações Finais; e Referências. Agradecimento e Apresentação; Fontes de Aquisição e Informe Verbal devem aparecer antes das Referências. 5. O Relato de Caso e/ou Procedimento deverá conter os seguintes tópicos: Título, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espa- nhol); Introdução; Relato de Caso ou Relato de Procedimento; Discus- são (que pode ser unida a conclusão); Conclusão e Referências. Agra- decimento e Apresentação; Fontes de Aquisição e Informe Verbal de- vem aparecer antes das Referências. NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS NA REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA EQUINA 6. A comunicação curta deverá conter os seguintes tópicos: Título, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Texto (sem subdivisão, porém com introdução; metodologia; resultados e discus- são e conclusão; podendo conter tabelas ou figuras); Referências. Agradecimento e Apresentação; Fontes de Aquisição e Informe Verbal; Comitê de Ética e Biossegurança devem aparecer antes das referênci- as. Pesquisa envolvendo seres humanos e animais obrigatoriamente devem apresentar parecer de aprovação de um comitê de ética institucional já na submissão. (Modelo .doc, .pdf). 7. As citações dos autores, no texto, deverão ser feitas no sistema numérico e sobrescritos, como descrito no item 6.2. da ABNR 10520, conforme exemplo: “As doenças da úvea são as enfermidades mais diagnosticadas nessa espécie, com prevalência de até 50%15”. “Se- gundo Reichmann et al.15 (2008), as doenças da úvea são as enfermi- dades mais diagnosticadas nessa espécie, com prevalência de até 50%”. No texto pode citar-se até 2 autores, se mais, utilizar “et al.” Exemplo: Thomassian e Alves (2010). Neste sistema, a indicação da fonte é feita por uma numeração única e consecutiva, em algaris- mos arábicos, remetendo à lista de referências ao final do artigo, na mesma ordem em que aparecem no texto. Não se inicia a nume- ração das citações a cada página. As citações de diversos docu- mentos de um mesmo autor, publicados num mesmo ano, são distin- guidas pelo acréscimo de letras minúsculas, em ordem alfabética, após a data e sem espacejamento, conforme a lista de Referências. Exem- plo: De acordo com Silva11 (2011a). 8. As Referências deverão ser efetuadas no estilo ABNT (NBR 6023/ 2002) conforme normas próprias da revista. 8.1. Citação de livro: AUER, J.A.; STICK, J.A. Equine Surgery. Phila- delphia: W.B. Saunders,1999, 2.ed., 937p. TOKARNIA, C.H. et al. (Mais de dois autores) Plantas tóxicas da Ama- zônia a bovinos e outros herbívoros. Manaus: INPA, 1979, 95p. 8.2. Capítulo de livro com autoria: GORBAMAN, A. A comparative pathology of thyroid. In: HAZARD, J.B.; SMITH, D.E. The thyroid. Balti- more: Williams & Wilkins, 1964, cap.2, p.32-48. 8.3. Capítulo de livro sem autoria: COCHRAN, W.C. The estimation of sample size. In: ______. Sampling techniques. 3.ed., New York: John Willey, 1977, cap.4, p.72-90. 8.4. Artigo completo: PHILLIPS, A.W.; COURTENAY, J.S.; RUSTON, R.D.H. et al. Plasmapheresis of horses by extracorporal circulation of blood. Research Veterinary Science, v.16, n.1, p.35-39, 1974. 8.5. Resumos: FONSECA, F.A.; GODOY, R.F.; XIMENES, F.H.B. et al. Pleuropneumonia em equino por passagem de sonda nasogástrica por via errática. Anais XI Conf. Anual Abraveq, Revista Brasileira de Medi- cina Equina, Supl., v.29, p.243-44, 2010. 8.6. Tese, dissertação: ESCODRO, P.B. Avaliação da eficácia e segu- rança clínica de uma formulação neurolítica injetável para uso perineu- ral em equinos. 2011. 147f. Tese (doutorado) - Instituto de Química e Biotecnologia. Universidade Federal de Alagoas. ALVES, A.L.G. Avaliação clínica, ultrassonográfica, macroscópica e histológica do ligamento acessório do músculo flexor digital profundo (ligamento carpiano inferior) pós-desmotomia experimental em equi- nos. 1994. 86 f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Medicina Ve- terinária e Zootecnia. Universidade Estadual Paulista. 8.7. Boletim: ROGIK, F.A. Indústria da lactose. São Paulo: Departa- mento de Produção Animal, 1942. 20p. (Boletim Técnico, 20). 8.8. Informação verbal: Identificada no próprio texto logo após a in- formação, através da expressão entre parênteses. Exemplo: ...são achados descritos por Vieira (1991 - Informe verbal). Ao final do texto, antes das Referências Bibliográficas, citar o endereço completo do autor (incluir e-mail), e/ou local, evento, data e tipo de apresentação na qual foi emitida a informação. 8.9. Documentos eletrônicos: MATERA, J.M. Afecções cirúrgicas da coluna vertebral: análise sobre as possibilidades do tratamento cirúr- gico. São Paulo: Departamento de Cirurgia, FMVZ-USP, 1997, 1 CD. GRIFON, D.M. Artroscopic diagnosis of elbow displasia. In: WORLD SMALL ANIMAL VETERINARY CONGRESS, 31., 2006, Prague, Czech Republic. Proceedings… Prague: WSAVA, 2006, p.630-636. Acessado em 12 fev. 2007. Online. Disponível em: http://www.ivis.org/ proceedings/wsava/2006/lecture22/Griffon1.pdf?LA=1. 9. Os conceitos e afirmações contidos nos artigos serão de inteira responsabilidade do(s) autor(es). 10. Os artigos serão publicados em ordem de aprovação. 11. Os artigos não aprovados serão arquivados havendo, no entanto, o encaminhamento de uma justificativa pelo indeferimento. 12. Em caso de dúvida, consultar os volumes já publicados antes de dirigir-se à Comissão Editorial. • Obesidade: umavisão sobre fator de risco de Síndrome Metabólica Equina (Página 4) • Dermatofitose Equina (Revisão de Literatura) (Página 14) • Doping em Esportes Equestres (Página 20) • Prevalência de anticorpos anti-leptospira em éguas de tração carroceiras às margens do Rio Paraíba em Alagoas, Brasil (Página 24) • Agronegócio: Impactos da Polícia e da Receita Federal na Equinocultura (Página 28) • Cáries periféricas em equinos (parte 1): Dentes pré- molares e molares (Página 32) • Ortopedia Equina: Casos Clínicos (parte 2) (Página 36) • Informativo Equestre: Choque Circulatório em equinos (Página 40) • Gestão Empresarial: Gestão de Pessoas na Medicina Veterinária (Página 44) 24 04 20 32 36 14 2 • E D I T O R I A L FUNDADOR Synesio Ascencio (1929 - 2002) DIRETORES José Figuerola, Maria Dolores Pons Figuerola EDITOR RESPONSÁVEL Fernando Figuerola JORNALISTA RESPONSÁVEL Russo Jornalismo Empresarial Andrea Russo (MTB 25541) Tel.: (11) 3875-1682 russo.jornalismo@gmail.com PROJETO GRÁFICO Studio Figuerola EDITOR DE ARTE Roberto J. Nakayama MARKETING Master Consultoria e Serviços de Marketing Ltda. Milson da Silva Pereira milsonbiconsult@gmail.com PUBLICIDADE / EVENTOS Diretor Comercial: Fernando Figuerola Fones: (12) 3959-2412 (11) 99184-7056 fernandofiguerola@terra.com.br ADMINISTRAÇÃO Fernando Figuerola Pons ASSINATURAS: Tel.: (12) 3959-2412 WhatsApp (12) 99790-0262 editoratrofeu@terra.com.br REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA EQUINA é uma publicação bimestral da EditoraTroféu Ltda. Administração, Redação e Publicidade: Rua Leonardo Gonçalves Caramurú, 249 / casa 23 Condomínio Bella Cittá CEP: 12321-490 Bairro Jardim Emília - Jacarei, SP Tel.: (12) 3959-2412 (11) 99184-7056 WhatsApp (12) 99790-0262 editoratrofeu@terra.com.br nossoclinico@nossoclinico.com.br NOTAS: a) As opiniões de articulistas e en- trevistados não representam ne- cessariamente, o pensamento da REVISTA BRASILEIRA DE MEDI- CINA EQUINA. b) Os anúncios comerciais e infor- mes publicitários são de inteira res- ponsabilidade dos anunciantes. DIRETOR CIENTÍFICO: Pierre Barnabé Escodro Cirurgia Veterinária e Clínica Médica de Equideos (Univ. Federal de Alagoas) pierre.vet@gmail.com CONSULTORES CIENTÍFICOS: NOSSO ENDEREÇO ELETRÔNICO Home Page: www.revistavetequina.com.br Redação: russo.jornalismo@gmail.com Assinatura/Administração: editoratrofeu@terra.com.br Publicidade/Eventos: fernandofiguerola@terra.com.br Editora: revistavetequina@revistavetequina.com.br 2 • Alexandre Augusto O. Gobesso Nutrição e Fisiologia do Exercício cateto@usp.br Aline Emerim Pinna Diagnóstico por Imagem aepinna@id.uff.br André Luis do Valle De Zoppa Cirurgia alzoppa@usp.br Cláudia Acosta Duarte Clínica Cirúrgica de Equídeos claudiaduarte@unipampa.edu.br Daniel Lessa Clínica lessadab@vm.uff.br Fernando Queiroz de Almeida Gastroenterologia, Nutrição e Fisiologia Esportiva almeidafq@yahoo.com.br Flávio Desessards De La Côrte Cirurgia delacorte2005@yahoo.com.br Geraldo Eleno Silveira Clínica Cirúrgica de Equinos geraldo@vet.ufmg.br Guilherme Ferraz Fisiologia do Exercício guilherme.de.ferraz@terra.com.br Henrique Resende Anatomia e Equinocultura resende@dmv.ufla.br Jairo Jaramillo Cardenas Cirurgia e Anestesiologia Equina dr.jairocardenas@yahoo.com.br Jorge Uriel Carmona Ramíres Clínica e Cirurgia carmona@ucaldas.edu.co José Mário Girão Abreu Clínica zemariovet@gmail.com.br Juliana Regina Peiró Cirurgia juliana.peiro@gmail.com Luiz Carlos Vulcano Diagnótico de Imagem vulcano@fmvz.unesp.br Luiz Cláudio Nogueira Mendes Clínica de Grandes Animais luizclaudiomendes@gmail.com Marco Antônio Alvarenga Clínica e Reprodução Equina malvarenga@fmvz.unesp.br Marco Augusto G. da Silva Clínica Médica de Equídeos silva_vet@hotmail.com Maria Verônica de Souza Clínica msouza@ufv.br Max Gimenez Ribeiro Clinica Cirúrgica e Odontologia mgrvet@bol.com.br Neimar V. Roncati Clinica, Cirurgia e Neonatologia neimar@anhembi.br Roberto Pimenta P. Foz Filho Cirurgia robertofoz@gmail.com Renata de Pino A. Maranhão Clínica renatamaranhao@yahoo.com Silvio Batista Piotto Junior Diagnóstico e Cirurgia Equina abraveq@abraveq.com.br Tobyas Maia de A. Mariz Equinocultura e Fisiologia Equina tobyasmariz@hotmail.com “É a economia, estúpido!” A frase original era apenas "a economia, estúpido!", mas popularizou-se com o acréscimo do verbo no inicio da frase, re- forçando a ideia. Ela foi cunhada pelo marqueteiro (sempre eles) da campanha presidencial de Bill Clinton de 1992. Naquela épo- ca, George Bush (pai) era o grande favorito: sua popularidade atingia incríveis 90% e havia resgatado o orgulho americano com a Guerra do Golfo. Mas James Carville, o marqueteiro, teve a sensibilidade de perceber que a economia era o que mais inco- modava o eleitor e foi esse o tema da campanha vencedora de Clinton. A participação em congressos e a literatura científica mos- tram os importantes avanços na medicina veterinária equina. O Brasil possui excelentes profissionais, muitos reconhecidos inter- nacionalmente. Assim como o popular George Bush, vitórias têm sido conquistadas no front profissional. Mas isso não tem sido suficiente para ganhar a eleição do mercado, nem sempre o con- sumidor faz a escolha que imaginávamos. Momentos como o atual, com a economia fraca, desem- prego e outros indicadores fora do ideal, surgem batalhas e al- vos longe de serem os corretos. Guerra de preços, especialmen- te por serviços, é uma das estratégias mais perversas que sur- gem nesses momentos. E o resultado costuma ser de perdas para todos. Ao invés da agressividade, adotar postura de mais estudos e análises gera melhores resultados. É necessário co- nhecer melhor estruturas de custos e de precificação. Analisar o mercado, desvendar os clientes. É a economia o centro dos pro- blemas e de onde deve partir a solução. A captação de recursos para pesquisas, a elevação de market share, a minimização de custos e a maximização de lu- cros, tudo depende de aprofundar estudos, desvendar uma área muitas vezes esquecida pelos profissionais ocupados com o co- tidiano de sua formação profissional. Mas esta área precisa ser resgatada e utilizada tal como uma lanterna ilumina o caminho mais adequado. Qual é essa área? É a economia, estúpido! Roberto Arruda de Souza Lima Professor da ESALQ/USP raslima@usp.br • 3 4 • INTRODUÇÃO A obesidade em cavalos ainda é um tema pouco explorado no Brasil. Os elementos que favorecem a ocorrência tanto de obesidade como resistência à insulina estão presentes em nosso meio. Ainda há uma crença entre cria- uma visão sobre fator de risco de Síndrome Metabólica Equina “Obesity: a vision on Equine Metabolic Syndrome awareness factor” “La obesidad: una visión sobre el factor de riesgo del Síndrome Metabólico del Caballo” ...................................................... Erica Bertha F. Raupp Bezerra de Mello* (bezerrademello.ebfr@gmail.com) Aluna de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária/UFRRJ Tanja Maria Hess Prof. Associado do Equine Sciences Department, Animal Sciences/CSU Paulo de Tarso Landgraf Botteon Prof. Associado do Depto. de Medicina e Cirurgia Veterinária - IV/UFRRJ Bruno Ferreira Spíndola Aluno de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária/UFRRJ Thayse Lima de Barros Aluna de graduação em Medicina Veterinária/UFRRJ, Bolsista PBIC-FAPERJ Bruno Gonçalves de Souza Médico Veterinário, D.Sc. - HVGA/UFRRJ Gustavo Mendes Gomes Prof. Titular da Universidade Severino Sombra/USS * Autora para correspondência RESUMO: A obesidade tem sido apontada como uma condição alarmante no que diz respeito a saúde humana e animal. Essa condição é fator de risco para aparecimento de distúrbios endócrino e metabólicos. Em cavalos, o quadro de resistência à insulina associado a obesidade e laminite é a tríade para diagnóstico da Síndrome Metabólica Equina. Sabe-se que, além do fator ambiente, há influência de fator genético para o aparecimento do quadro. Algumas formas de avaliação da condição corporal de cavalossão o escore corporal, escore de pescoço e porcentagem de massa gorda livre. Para avaliação da resistência à insulina, testes laboratoriais devem ser executados em animais suspeitos. O tratamento da condição se faz prioritariamente através de alterações do manejo nutricional e de exercícios dos animais. A avaliação sistemática através de métodos consagrados para conhecimento do grau de adiposidade nos cavalos se faz necessária na prática da clínica de equinos. Unitermos: cavalos, escore corporal, escore de pescoço, adiposidade ABSTRACT: Obesity has been identified as an alarming condition in regard to human and animal health. This condition is a risk factor for on set of endocrine and metabolic disorders. In horses, insulin resistance associated with obesity and laminitis is the triad for diagnosis of Equine Metabolic Syndrome. It is known that in addition to the environmental factor, there is the influence of genetic factor for the appearance of the clinical condition. Some forms of assessment of body condition of horses are the body score, neck score and percentage of free fat mass. For assessment of insulin resistance, laboratory tests should be performed in suspected animals. Treatment of the condition is done mainly through nutrition management changes and animal exercises. Systematic evaluation through established methods for understanding the degree of adiposity in horses is needed in the equine practice. Keywords: horses, body condition score, neck score, adiposity RESUMEN: La obesidad ha sido identificada como una condición alarmante en lo que respecta a la salud humana y animal. Esta condición es un factor de riesgo para la aparición de los trastornos endocrinos y metabólicos. En los caballos, la resistencia a la insulina asociada con la obesidad y laminitis es la tríada para el diagnóstico del síndrome metabólico equino. Se sabe que, además de el factor ambiental, existe la influencia del factor genético para la aparición del cuadro clinico. Algunas formas de evaluación de la condición corporal de los caballos son la puntuación cuerpo, el cuello y la puntuación de porcentaje de la masa libre de grasa. Para la evaluación de la resistencia a la insulina, las pruebas de laboratorio deben realizarse en animales sospechosos. El tratamiento de la enfermedad se realiza principalmente a través de cambios en la administración de nutrición y ejercicios de los animales. Se necesita una evaluación sistemática a través de métodos establecidos para la comprensión del grado de adiposidad en caballos en la práctica de la clínica equina. Palabras clave: caballos, condición corporal, puntuación del cuello, adiposidad dores que animais com escore corporal altos têm melhor trato que animais com escore cor- poral mediano e os métodos de ranqueamento são pouco difundidos. A aplicação de métodos consagrados para determinar o escore corporal e adiposidade Figura 1: Animal em estação, sendo avaliado por inspeção para escore corporal ........................................................ E R IC A B .F .R . B E Z E R R A D E M E LL O ( 20 15 ) • 5 dos animais provê um dado fidedigno à condição corpórea dos ani- mais quando comparado a percepção empírica de cada criador. Esse quadro é fator de risco para a Síndrome Metabólica Equina, um quadro semelhante à Síndrome Metabólica humana, que ocorre em animais que apresentam sobrepeso ou obesidade. OBESIDADE Sobrepeso e obesidade são definidos como o depósito anor- mal de gordura que podem levar riscos à saúde. Tais condições são de risco para o aparecimento de diversas doenças crônicas como diabetes, doenças cardiovasculares e câncer1. Sua ocorrência vem aumentando nas últimas décadas e têm sido apontadas como con- dição alarmante no que diz respeito a saúde humana e animal. O ponto de alerta para o aumento dos índices de obesidade é que a condição pode ser diretamente relacionada a distúrbios endocrino- metabólicos. Esses distúrbios, nas diferentes espécies, se apresen- tam de formas similares, onde uma das alterações encontradas é a do metabolismo energético envolvendo a insulina. O tipo de dieta e sedentarismo são incriminados como fatores de risco à saúde humana. A semelhança do que ocorrem em huma- nos, sistemas de criação baseados no fornecimento de rações ricas em energia e confinamento, restringindo a atividade física dos ca- valos, favorecem a ocorrência de obesidade. Um fator que pode ser abordado é o desconhecimento por parte de proprietários e criadores do escore corporal considerado ótimo para a vida saudável do animal. Fora do país isso fica claro comparando os resultados do censo promovido pelo National Ani- mal Health Monitoring System (2006)2 com os resultados obtidos da pesquisa de Thatcher et al. (2012)3. Algumas práticas de manejo podem contribuir para o desenvolvimento da obesidade. O apare- cimento da obesidade em cavalos a partir da maturidade sexual está associado com o oferecimento de dietas ricas em carboidratos solúveis e baixo nível de exercício diário4. A dieta rica em carboi- dratos associada a obesidade podem levar à resistência à insulina em cavalos5. Além disso, favorece o aumento do estresse oxidati- vo, inflamação e de doenças como artrite e laminite6,7. AMBIENTE vs GENÉTICA Cavalos classificados como obesos geralmente têm alta con- versão alimentar e apresentam baixa sensibilidade à insulina, mas mantendo a glicemia dentro dos padrões de normalidade4,8. Através da análise de pedigree em humanos conseguiu-se tra- çar um efeito genético sobre o fenótipo obeso e desenvolvimento de Síndrome Metabólica9. Além do fator ambiente, sabe-se que há influência de fator genético para o aparecimento do quadro de Sín- drome Metabólica Equina10. Pode-se apontar como uma das causas a seleção genética de animais mais resistentes a períodos de baixa oferta de alimentos. Um fator que pode influenciar no aparecimento do fenótipo obeso, são os cruzamentos favorecendo a endogamia. Um exemplo disso é o que ocorre na raça Mangalarga Marchador. Ela é a raça mais difundida no país. Sua criação tem origem em fazendas no Sul de Minas Gerais e, hoje, está distribuída por todas as regiões do Brasil11, com cerca de 500 mil animais registrados (GOMES - In- forme verbal, 2016*). É a principal raça criada no estado do Rio de Janeiro, com sua principal utilização no trabalho do campo e, com * GOMES, G.M. (informe verbal via e-mail): “Acabei de receber o e-mail da associação, número de animais em torno de 500 mil registrados (registros pro- visórios e registros definitivos) e em torno de 11.500 associados... Fonte ABC- CMM 2016...” o crescimento nos últimos anos, em esportes hípicos, lazer e tera- pia de reabilitação12. A formação da raça Mangalarga Marchador se deu no sudeste do Brasil a partir de cruzamentos de raças euro- peias. Para manter a característica do tríplice apoio, são realizados cruzamentos entre linhagens com nível elevado de homozigose e consaguinidade, que eventualmente podem também vir por seleci- onar características não desejosas. MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE ADIPOSIDADE EM EQUINOS Alguns métodos de predição de adiposidade podem ser utili- zados na rotina da clínica de equinos. Os mais difundidos são a escala de escore corporal13, escala de escore de pescoço14 e a avali- ação ultrassonográfica de percentagem de gordura livre15. • Escala de Escore Corporal Em equídeos, a categorização de acordo com o escore corpo- ral13 tem valor diagnóstico para a obesidade semelhante ao Índice de Massa Corporal utilizado na população humana16. A difusão e utilização deste método simples de diagnóstico para a obesidade nesses animais se torna importante quando observa-se que em pa- ralelo a epidemia de obesidade humana, há um crescente reconhe- cimento de que a obesidade é comum a muitas espécies de animais domésticos, incluindo cavalos3,17,18. Nessa escala, os animais são classificados em uma escala pro- posta que categoriza os animais de 1 a 9, levando-se em conta lo- cais de deposição de gordura (por saber crista do pescoço,cerne- lha, logo atrás e acima do codilho, costado, dorso-lombo e topo da cauda), onde 1 é o animal em condição caquética e 9 extremamente obeso, através de avaliação visual e palpação das áreas chave (Fi- guras 1, 2 e 3). A descrição do método está no Quadro 1. Figura 2: Animal sendo avaliado através da palpa- ção dos pontos-chave de deposição de gordura em equinos. Notar a maciez, relacionado a camada de gordura, no local de pal- pação Figura 3: Pontos de deposição de tecido gorduroso em equinos machos e fêmeas. A= Crista do pescoço, B= Cernelha, C= Lom- bo; D= Inserção da cauda; E= Costado; F= Região caudal à pa- lheta (Fonte: Purina Chart) E R IC A B .F .R . B E Z E R R A D E M E LL O ( 20 15 ) 6 • • Escala de Escore de Pescoço Outro método de avaliação de adiposidade é a escala de esco- re de pescoço14. Nela, os animais também são classificados numa escala de 0 a 5, através de inspeção e palpação (Figuras 4 e 5) como descrito no Quadro 2. As medidas de perímetro e do escore de pescoço demonstra- ram ter correlação negativa com os dados obtidos de sensibilidade à insulina14. Essa mensuração tem implicância semelhante a cir- cunferência de cintura utilizada em humanos obesos e está relacio- nado à gravidade clínica de doenças como a laminite. A diminuição a sensibilidade à insulina está associada com quadros de laminite19, além de obesidade, rabdomiólise de exaustão, osteocondrose5 e al- terações reprodutivas20. • Estimativa de Massa Gorda Livre Cálculos podem ser utilizados para determinação de porcen- tagem de gordura corporal baseados no peso total do animal e na espessura da camada de gordura avaliada ultrassonograficamente na região da garupa. Essa determinação pode ser usada como Figura 4: Palpação do bordo superior do pescoço. Aqui o clínico observa consistência e espessura da região Animal extremamente magro; processos espinhosos, costelas, ossos da inserção da cauda, íleo e ísquio se projetam de forma proeminentes; estrutura óssea da cernelha, ombros e pescoço facilmente perceptível, sem tecido adiposo palpavel. Animais magros; ligeira cobertura adiposa sobre a base dos pro- cessos espinhosos, processos transversos das vértebras lomba- res arredondados; processos espinhosos, costelas, ossos da in- serção da cauda, íleo e ísquio proeminentes; cernelha, ombros, pescoço e estrutura ligeiramente discernível. Acúmulo de gordura até a dos processos espinhosos; apófises transversas não podem ser sentidas; pequena cobertura de gor- dura nas costelas; processos espinhosos e costelas facilmente perceptíveis; ossos da inserção da cauda proeminentes, mas vértebras não são identificados visualmente; região do íleo arre- dondada, mas proeminente; ísquio não distinguíveis; cernelha, ombros e pescoço acentuados. Ligeira crista ao longo das costas, leve esboço de costelas visí- vel; destaque da inserção da cauda depende de conformação do animal com gordura palpável ao seu redor; íleo não distinguí- vel; cernelha, ombros e pescoço não tão obviamente magros. Costas planas (sem vinco ou crista); costelas não visualmente distinguíveis, mas facilmente palpáveis; gordura ao redor da base da cauda começando a ter consistência esponjosa; cernelha in- sere-se arredondada sobre os processos espinhosos; ombros e pescoço harmoniosos com o corpo. Pode ter ligeiro vinco nas costas, gordura sobre costelas de con- sistência esponjosa; gordura ao redor da base da cauda macia; pouca gordura depositada na cernelha, atrás dos ombros e pes- coço. Pode ter ligeiro vinco nas costas; costelas palpáveis, mas per- ceptível preenchimento com gordura entre as costelas; gordura ao redor da inserção da cauda macia, gordura depositada ao longo de cernelha, atrás dos ombros, e ao longo do pescoço. Vinco nas costas; difícil sentir as costelas, gordura da inserção da cauda muito macia; área da cernelha cheia por gordura, área atrás do ombro espessada, gordura visível no pescoço; gordura depositada ao longo da parte interna das coxas. Vinco óbvio nas costas; cobertura de gordura irregular sobre as costelas, saliência de gordura na inserção da cauda; gordura ao longo de cernelha, atrás dos ombros e ao longo do pescoço, par- te interna das coxas pode se encontrar; flanco cheio de gordura. 9 8 7 6 5 4 3 2 1 DESCRIÇÃO Quadro 1: Descrição de Escore Corporal (adaptado de Henneke et al., 1983) EC Figura 5: Escore de pescoço e suas características descritivas: 0) Nenhuma crista visível (tecido aparente acima do ligamento da nuca) e nenhuma crista palpável; 1) Sem crista visível, mas com ligeiro preenchimento sentido à palpação; 2) Crista aparente, mas a gordura é depositada de forma bastante equilibrada da nuca até a cernelha, a crista pode ser palpada facilmente com uma das mãos e pode ser deslocada de lado a lado; 3) Crista grossa e endurecida, com maior deposição de gordura no meio do pesco- ço, a crista pode ser palpada com uma das mãos, mas há dimi- nuição da maleabilidade; 4) Crista notadamente larga e endure- cida, a crista não consegue ser palpada somente com uma mão e não consegue haver lateralização, pode haver sulcos e rugas no topo da crista; 5) A crista é tão grande que se mantém todo tempo caída para um dos lados (adaptado de CARTER et al., 2009) E R IC A B .F .R . B E Z E R R A D E M E LL O ( 20 15 ) • 7 método de avaliação de programas de exercício e dieta dos ani- mais15. Para a determinação, os animais devem ser pesados e ser re- alizada a mensuração da espessura de tecido adiposo na área da garupa, usando aparelho ultrassonográfico. A técnica consiste em obter a imagem no ponto médio da linha imaginária traçada entre as tuberosidades ilíaca e isquiática de um dos lados da garupa (Fi- Figura 7: Imagem ultrassonográfica da camada de gordura de garupa. A partir do valor encontrado e peso vivo total, pode-se calcular o per- centual de gordura livre do animal .................................................................................................. Figura 6: realização do exame ultrassonográfico de camada de gordu- ra de garupa para obtenção de dados de porcentagem de gordura livre (Arquivo pessoal) guras 6 e 7). A porcentagem de gordura corporal é estimada através do cál- culo submetendo os dados obtidos durante a mensuração da cama- da de tecido adiposo da garupa, utilizando-se da equação15: 8,64 + (4,70 x espessura do tecido adiposo, em centímetros) Para determinação da estimativa de massa gorda livre21, utili- za-se os dados de peso de massa corporal total e porcentagem de gordura corporal, calculando-se uma regra de três simples, sendo a equação: Massa gorda = Massa Corporal Total x Porcentagem de gordura 100 SÍNDROME METABÓLICA EQUINA Em humanos, o termo Síndrome Metabólica é empregado para descrever um conjunto de fatores de risco associados ao desenvol- vimento de doença cardiovascular em humanos. A Síndrome Meta- bólica é caracterizada pela presença de resistência à insulina acom- panhada de pelo menos dois dos seguintes problemas: obesidade, hipertensão, hipercolesterolemia, dislipidemia e albuminúria22,23. A resistência à insulina acontece quando níveis normais ou aumenta- dos de insulina produzem uma resposta biológica reduzida; isso se refere, classicamente, à disparidade na sensibilidade da insulina mediada pela disponibilidade de glicose19,24. O termo Síndrome Metabólica Equina foi empregado primei- ramente por Johnson (2002)4, referindo-se a cavalos com histórico de laminite, resistência à insulina e uma característica fenotípica de espessamento da crista do pescoço com depósitos de gordura na cernelha e no dorso. A princípio houve divergência sobre a nomen- clatura utilizada nas síndromes observadas em cavalos adultos obe- sos. A resistência à insulina, está relacionada como fator de risco para o aparecimento de hiperlipidemia, adenoma pituitário, osteo- condrose, laminite aguda e laminite subclínica. As nomenclaturas adotadas foram utilizadas por associação aos sintomas observados em humanos25. Em 2010, o American Collegeof Veterinary Internal Medicine, Quadro 2: Descrição de Escore de Pescoço (adaptado de Carter et al., 2009) DESCRIÇÃOEP Nenhuma crista visível (tecido aparente acima do ligamento da nuca) e nenhuma crista palpável. Sem crista visível, mas com ligeiro preenchimento sentido à pal- pação. Crista aparente, mas a gordura é depositada de forma bastante equilibrada da nuca até a cernelha, a crista pode ser palpada facilmente com uma das mãos e pode ser deslocada de lado a lado. Crista grossa e endurecida, com maior deposição de gordura no meio do pescoço, a crista pode ser palpada com uma das mãos, mas há diminuição da maleabilidade. Crista notadamente larga e endurecida, a crista não consegue ser palpada somente com uma mão e não consegue haver late- ralização, pode haver sulcos e rugas no topo da crista. A crista é tão grande que se mantém todo tempo caída para um dos lados 1 0 2 3 4 5 E R IC A B .F .R . B E Z E R R A D E M E LL O ( 20 15 ) E R IC A B .F .R . B E Z E R R A D E M E LL O ( 20 11 ) 8 • chegou a um consenso em que seria denominada de Síndrome Metabólica Equina quadros em que os animais apresentam obesi- dade ou lipodistrofia, laminite clínica ou histórico de claudicação sem estar associada a nenhum outro fator predisponente e resistên- cia à insulina, detectada através de testes de sensibilidade à insuli- na, comumente referidos como testes de tolerância à glicose8. TESTES DE TOLERÂNCIA A GLICOSE Em cavalos, o quadro de resistência à insulina associado a obesidade e laminite é a tríade para diagnóstico de Síndrome Me- tabólica Equina. Animais que apresentam a síndrome tem diminui- ção da sensibilidade à insulina quando submetidos a teste oral ou teste intravenoso de tolerância a glicose como o Teste Intravenoso de Coleta Seriadas de Tolerância à Glicose (sigla em inglês - FSIGT)5. A resistência à insulina se caracteriza pela resposta biológica abaixo do normal dos tecidos a concentrações de insulina26, quan- do um nível normal ou elevado de insulina produz uma resposta biológica atenuada24. Algumas metodologias podem ser utilizadas para predição da sensibilidade à insulina. • Teste Intravenoso de Tolerância à Glicose com Coletas Frequentes A sensibilidade à insulina pode ser avaliada por diversos tes- tes, mas o modelo mais se assemelha a homeostase é o teste intra- venoso de tolerância à glicose com coletas frequentes (FSIGT)5. O teste para utilização em cavalos foi adaptado do modelo humano27 onde os dados obtidos durante o teste são utilizados para cálculos usando o análise de modelo mínimo28. Das amostras co- lhidas durante o teste, são analisadas glicemia e insulinemia de to- das as amostras. Para a execução do teste, os animais devem se encontrar em jejum parcial, onde é suprimido o oferecimento de ração na noite anterior ao teste, sendo oferecido volumoso de baixo índice glicê- mico e água ad libitum até o fim do ensaio. Na manhã do teste, após assepsia, a veia jugular deve ser cate- terizada. O cateter deve ser fixado a pele do animal e acoplado um extensor de cateter, também a ser fixado, para facilitar a manipula- ção da via. Após o processo, uma amostra basal deve ser colhida. Em seguida, administra-se um bolus de glicose de 200 mg/kg/PV. A partir daí, são realizadas coletas de sangue subsequentes nos minutos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10, 12, 14, 16 e 19 após a injeção de glicose. Aos 20 minutos uma dose de 20 mUI/kg/PV de insulina deve ser administrada. Outras coletas sucessivas são efetuadas nos minutos 22, 23, 24, 25, 27, 30, 35, 40, 50, 60, 70, 80, 90, 100, 120, 150, 180 após a injeção de glicose29. Amostras de sangue para aná- lise de glicose e insulina são coletados em todos os pontos do tem- po através do via, após a remoção de pelo menos 5 mL de sangue de resíduos. Entre as coletas, é utilizada uma solução heparinizada para evitar a coagulação do acesso. Dados de insulina e glicose obtidos durante o teste são sub- metidos ao modelo matemático denominado Modelo Mínimo, dis- ponível no software (MinMod Millenium)28. Esses dados deriva- dos do modelo mínimo são relativos a resposta das células β-pan- creáticas secretoras de insulina em resposta a glicemia através da resposta aguda da insulina a glicose (AIRg), a capacidade da glico- se promover sua autocaptação (Sg), a capacidade da insulina pro- mover a captação glicose plasmática (SI), a eficiência da resposta das células β-pancreáticas relativa ao grau de sensibilidade à insu- lina do tecido dado pelo produto entre AIRg e SI (DI). • Teste Combinado de Glicose e Insulina Esse é um teste que pode ser realizado quando há suspeita de Síndrome Metabólica Equina. O oferecimento de ração dos ani- mais deve ser suprimido na noite anterior ao teste, sendo oferecido volumoso de baixo índice glicêmico e água ad libitum até o fim do ensaio. Após assepsia, a veia jugular é canulada com uso de cateter e acoplado um extensor para melhor manipulação da via, sendo fixados a pele. É coletada uma amostra basal e logo em seguida, administrado um bolus de solução de glicose a 50% IV na dose de 150 mg/kg e 0,1 U/kg de insulina regular. São realizadas coletas em 1, 5, 15, 25, 35, 45, 60, 75, 90, 105, 120, 135 e 150 minutos após a administração de glicose e insulina, sendo avaliadas glice- mia em todos os pontos e insulinemia da amostra basal e ao 45º minuto. Amostras de sangue para análise de glicose e/ou insulina são coletados em todos os pontos do tempo através do via, após a remoção de pelo menos 5 mL de sangue de resíduos. Entre as cole- tas, é utilizada uma solução heparinizada para evitar a coagulação do acesso. Animais com sensibilidade a insulina normal têm con- centrações de glicose iguais ou menores que a basal ao 45º minuto de teste30. • Proxies Basais de Sensibilidade à Insulina Uma outra maneira de prever a sensibilidade à insulina é atra- vés do cálculo de proxies basais de sensibilidade à insulina e res- ponsividade β-pancreática31,32. Em humanos, a utilização de proxi- es basais de sensibilidade à insulina é feita em saúde pública para monitoração da Síndrome Metabólica. Através de cálculos de da- dos obtidos do modelo mínimo, chegou-se a cálculos semelhantes que possam ser utilizados em cavalos usando uma única coleta de sangue em jejum dos animais. As proxies derivadas tem correlação aos dados obtidos através do TIVTG31. Para determinação da sensibilidade à insulina, os dados de insulina plasmática foram utilizados na equação que determina o recíproco quadrado inverso da insulina basal (do inglês: RISQI), onde: RISQI = = insulina basal-0.5 √ insulina basal Para determinação da responsividade secretória de insulina das células β pancreáticas a glicose, os dados de glicemia e insuli- nemia foram utilizados na equação que determina a razão modifi- cada insulina-glicose (do inglês: MIRG), onde: 1 Os resultados obtidos são agrupados em quintilhos, mostra- dos no Quadro 3. RISQI tem comportamento crescente de MIRG = [ 800 - 0.30 x (insulina basal - 50)2 ] (glicose basal - 30) Quadro 3: Valores Referenciais dos Quintilhos de RISQI e MIRG (adaptado de Treiber et al., 2005) 1 2 3 4 5 RISQI (mU/L)-0,5 0,152 - 0,296 - 0,336 - 0,394 - 0,471 - 0,295 0,335 0,470 0,393 0,953 MIRG Uins 2/(10.L.mgglic) 1,20 - 2,13 - 3,49 - 4,55 - 5,27 - 2,12 4,54 3,48 5,27 10,67 • 9 10 • sensibilidade à insulina, ou seja, animais resistentes à insulina se encontram nos primeiros quintilhos, enquanto animais sensíveis se encontram nos últimos. Por sua vez, MIRG tem comportamento decrescente, sendo que animais nos últimos quintilhos precisam de maior secreção de insulina para manter a homeostase da glicose enquanto animais nos primeiros quintilhos precisam secretar me- nos insulina para manter a resposta biológica33. RECOMENDAÇÕES PARA COMBATE À SÍNDROME METABÓLICA EQUINA Até o momento, a principal forma de combate a Síndrome Metabólica Equina é através de alterações nomanejo dos animais. Alteração da fonte energética e programas de exercício se mostram mais eficientes do que manejo medicamentosos dos casos. • Manejo Dietético: Substituição de parte do Carboidrato por Gordura Vegetal Uma forma de acompanhamento e tratamento da Síndrome Metabólica Equina é através do manejo dietético, através da mu- dança da fonte energética do carboidrato para a gordura. Em ani- mais de enduro, a adição de óleo como fonte energética como alter- nativa aumentou a sensibilidade à insulina após o exercício quando comparados com animais ingerindo dieta rica em carboidratos so- lúveis34. O uso de gorduras vegetais também demonstrou aumentar a capacidade de captação de ácidos-graxos e aumento da sua taxa de oxidação35. Outra forma de manejo da condição é através da inserção de programas de exercício na rotina dos animais. Em ve- locidades consideradas baixas a moderadas, a fonte de energia uti- lizada para a função muscular são os lipídeos36. • Manejo de Exercícios: Inserção de Programas na Rotina dos Animais Através do acompanhamento sistemático das proxies referen- tes a secreção β-pancreática, encontrou-se que em animais que não apresentavam Síndrome Metabólica Equina havia uma menor se- creção de insulina pelas células β-pancreáticas em meses onde a intensidade de exercício era maior quando comparada com meses em onde o exercício era de menor intensidade ou descanso em ca- valos de uso militar37.Também foi encontrado um decréscimo dos valores de MIRG a partir da terceira semana em um protocolo pro- gressivo de treinamento em esteira38. Uma diminuição da secreção de insulina das células β-pancreáticas foi notada, através do cálcu- lo de AIRG, quando os animais foram submetidos ao teste durante o exercício, demonstrando o efeito do exercício sobre a secreção de insulina39. Esses dados são relevantes ao ponto que a diminui- ção da secreção de insulina com a manutenção da sensibilidade à insulina sugere um metabolismo energético mais eficiente na ma- nutenção da euglicemia33. • Manejo Medicamentoso: Uso de Drogas Formas medicamentosas de tratamento da condição não são substitutos para as adaptações de manejo. De qualquer forma, exis- te uma janela para modulação farmacológica da condição corporal dos animais. Uma possibilidade é o uso de levotiroxina que age na obesidade e resistência à insulina, mas tem alto custo. A utilização de metformina como controlador da euglicemia é feita em casos de Síndrome Metabólica e Diabetes Mellitus do tipo 2 em humanos, mas não se demonstrou eficiente na modulação da sensibilidade à insulina em cavalos40. CONSIDERAÇÕES FINAIS Após exposta a revisão acima, torna-se clara a importância da análise sistemática de escore corporal para manutenção da saúde dos animais. Animais que tenham fornecimento de dietas com altos índices de carboidratos solúveis e/ou tenham restrição no que tan- ge a prática de exercícios regulares devem ser observados e, se possível, alguma mudança feita no manejo desses animais. Em caso de suspeita clínica de Síndrome Metabólica Equina, diversos testes podem ser executados para obtenção da sensibilidade à insulina do animal. Para manejo do animal, alterações na dieta e programa de exercício se mostram tão ou mais eficazes do que tratamento medi- camentoso. Por isso, sugere-se que a avaliação de condição corpo- ral entre no hall de procedimentos realizados no dia a dia da práti- ca de clínica equina. Referências 1. WORLD HEALTH ORGANIZATION Obesity WHO, 2012 disponível em http:/ /www.who.int/topics/obesity/en/, acessado em 24/02/2016. 2. NATIONAL ANIMAL HEALTH MONITORING SYSTEM, UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE Equine 2005. National health monitoring sys- tem, part 1: baseline reference of equine health and management. NAHMS USDA Colorado - EUA, p.1-148, 2006. 3. THATCHER, C.D.; PLEASANT, R.S.; GEOR, R.J. et al. Prevalence of over conditioning in mature horses in southwest Virginia during the summer. Journal of Veterinary Internal Medicine, 2012. 4. JOHNSON, P.J. The equine metabolic syndrome Peripheral Cushing’s syndrome. Veterinary Clinics of North America: Equine Practice, v.18, n.2, p.271-93, 2002. 5. HOFFMAN, R.M.; BOSTON, R.C.; STEFANOVSKI et al. 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Federal de Viçosa (UFV), MG Jeferson Bello dos Santos Acadêmico em Medicina Veterinária Depto. de Veterinária (DVT), UFV, MG Gabriel Barbosa de Melo Neto Residente em Medicina Veterinária do DVT/UFV, MG Polyana Galvão Bernardes Coelho Pós-Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária (PPGMV), DVT/UFV, MG Thayne de Oliveira Silva Mestranda do PPGMV, DVT/UFV, MG Sérgio Gaspar de Campos Prof. Titular, Área de Microbiologia, Depto. de Microbilogia e Imunologia Veterinária, Univ. Federal Rural do Rio de Janeiro, RJ Maria Verônica de Souza* (msouza@ufv.br) (msouzavet@gmail.com) Profa. Titular, Área de Clínica Médica de Grandes Animais, DVT/UFV, MG * Autora para correspondência RESUMO: A dermatofitose é uma das principais doenças de origem fúngica e acomete diversas espécies animais, incluindo humanos. É causada por fungos queratinofílicos, classificados como zoofílicos, antropofílicos ou geofílicos, dependendo da sua adaptação ao hospedeiro ou ambiente. Além disso, a maioria das espécies possui caráter zoonótico, o que afeta diretamente a interação ser humano e animal, sendo essa doença desconhecida por muitos trabalhadores do meio rural. Esse trabalho possui como objetivo reunir informações sobre a dermatofitose, mediante realização de uma revisão sobre aspectos gerais relacionados com a afecção. Unitermos: cavalo, roído de traça, zoonose ABSTRACT: Ringworm is one of the major diseases of fungal origin and affects several animal species, including humans. Are diseases caused by keratinophilic fungal classified as zoophilic, anthropophilic or geophilic, depending on their adaptation to host or environment. In addition, most species have zoonotic, which interferes directly in humans and animal relationship, and this unknown disease for many workers in the rural areas. This work aims to gather information about ringworm by a review of the general aspects of the condition. Keywords: horse, gnawing worm, zoonosis RESUMEN: La dermatofitosis es una de las principales enfermedades de origen fúngica y afecta diversas especies animales, incluyendo a los hombres. Es causada por hongos queratinofílicos, clasificados como zoofílicos, antropofílicos o geofílicos, dependiendo de su adaptación al hospedador o ambiente. Además, la mayoría de las especies tienen carácter zoonótico, lo que afecta directamente a la interacción humana y animal, siendo esta enfermedad desconocida por muchos trabajadores del medio rural. Este trabajo tiene como objetivo reunir informaciones sobre la dermatofitosis, por medio de la realización de una revisión sobre aspectos generales relacionados con la enfermedad. Palabras clave: caballo, tiña, zoonosis (Revisão de Literatura) “Equine ringworm: literature review” “Dermatofitosis em caballos: revisión de literatura” de transmissão. O sinal clínico “roído de traça”, considerado como presente na afecção assemelha- se ao observado em outras doenças que afetam o tecido cutâneo, tanto em animais como em huma- nos. Infelizmente são raros os estudos epidemioló- gicos com a finalidade de determinar a prevalência e incidência dos casos de dermatofitose. Essa falta de estudos provavelmente esteja subestimando a ocorrência da afecção. Nesse contexto, é possível que o impacto das dermatofitoses nos seres huma- nos também seja subestimado. Embora a dermatofitose ainda seja negligencia- da, é importante destacar o elevado potencial zoonó- tico da afecção, de forma que a compreensão da mes- ma possa auxiliar na implementação de medidas Figura 1: Aparência de um equino com quadro de dermatofitose ...................................................A R Q U IV O P E S S O A L D O S A U TO R E S • 15 de saúde pública para sua prevenção e tratamento. Sendo assim, essa revisão teve como objetivo realizar uma abordagem geral so- bre a dermatofitose, enfatizando a sua importância dentro da medi- cina veterinária e da interação ser humano-animal, com destaque para estudos recentes e em andamento. DESENVOLVIMENTO A pele é considerada o maior órgão do corpo. Externamente exposta, protege o organismo e possui propriedades sensitivas, atu- ando de forma conjunta aos demais tecidos, o que possibilita a ex- teriorização de afecções sistêmicas, além das de origem especifi- camente dermatológica1. É considerada uma das primeiras barrei- ras de defesa do corpo, sendo a manutenção da sua integridade imprescindível para evitar a invasão e proliferação dos patógenos no organismo animal2. Por ser um órgão único e possuir limitações quanto à capaci- dade de reagir aos diferentes tipos de agentes agressores, algumas afecções cutâneas costumam apresentar sinais clínicos bastante se- melhantes3. Além do desconforto para os animais, as lesões derma- tológicas geram perdas econômicas devido à aparência da pele (Fi- gura 1), que muitas vezes é desagradável, e gastos resultantes do tratamento. Adicionalmente, podem limitar o transporte dos ani- mais, interferindo na participação dos mesmos em exposições, com- petições, entre outras atividades esportivas4. Etiologia e Perfil Epidemiológico A dermatofitose, também conhecida como “tínea”5, é impor- tante dentro da dermatologia veterinária devido ao seu potencial zoonótico6. Também é denominada “roído de traça” na clínica mé- dica de equinos7,8. Na realidade esse termo se refere ao aspecto físico da lesão. Os fungos patogênicos apresentam capacidade adaptativa aos diferentes ambientes e hospedeiros. Assim, nas últimas décadas têm- se observado alterações no comportamento biológico e, consequen- temente, epidemiológico desses fungos, devido às alterações cli- máticas, geográficas, vegetativas e das interações inter e intraespe- cífica de humanos e animais.9 Inicialmente os dermatófitos eram fungos adaptados ao solo, ou seja, geofílicos. Entretanto, o conta- to com animais e humanos fez com que se adaptassem aos diferen- tes hospedeiros, sendo então denominados zoofílicos e antropofíli- cos, respectivamente. De acordo com Mendez-Tovar10 (2010), a der- matofitose é a micose mais frequente no mundo. A espécie mais citada como afetando equinos é o Trichophyton equinum (Figura 2A). No entanto, as espécies T. verrucosum, T. mentagorphytes, Microsporum canis e M. gypseum (Figura 2B) também são comu- mente relatadas como agentes etiológicos.4,11,12 Escassas pesquisas foram desenvolvidas com objetivo de de- terminar a prevalência da dermatofitose em equinos, e apresenta- ram diferentes resultados. Schmidt13 (1996) realizou os exames mi- cológico direto e cultura fúngica (Figura 3A) em 606 amostras de várias espécies animais com lesões dermatológicas, atendidos em Westfalia do Norte (Alemanha), entre os anos de 1993 e 1995. A prevalência na população equina foi de 11,5%. Ahdy et al.12 (2016) estudaram por um ano 457 de 735 (62,2%) equinos da raça árabe no Egito, pertencentes a 15 fazendas nas cidades de Cairo e Giza. Em todos os animais selecionados foram realizados os exames mi- cológico direto e cultura fúngica e a prevalência observada foi de 16,8% para dermatofitose. Na região central da América do Norte e Canadá foi desenvolvido por Schaffer et al.14 (2013), um estudo retrospectivo utilizando laudos de biópsias (Figuras 3B e 3C) Figuras 2: Cultura fúngica onde se observa microscopicamente o agente Trichophyton equinum (A) e Microsporum gypseum (B) .......................................................................................................................... Figuras 3: Macromorfologia do Trichophyton equinum (A); e biópsia realizada com Punch (B); Aspecto da pele após realização da biópsia (C) A B B C A A R Q U IV O P E S S O A L D O S A U TO R E S A R Q U IV O P E S S O A L D O S A U TO R E S IM A G E M : S É R G IO G A S P A R D E C A M P O S IM A G E M : S É R G IO G A S P A R D E C A M P O S IM A G E M : S É R G IO G A S P A R D E C A M P O S 16 • cutâneas equinas e de lesões clínicas não neoplásica, realizadas durante o período de 10 anos, na Faculdade de Veterinária da Univer- sidade do Estado do Colorado e na Universidade de Saskatchewan. Dos 5.141 espécimes 2% foram positivos para dermatofitose. Embora grande parte dos estudos demonstrem prevalências relativamente baixas para dermatofitose, uma pesquisa conduzida por Nweze11 (2011) durante 30 meses em sete estados da Nigéria demonstrou o contrário. O autor observou que dos 538 animais de diferentes espécies domésticas avaliadas, sendo todos com derma- topatia, 39,8% foi positivo para dermatofitose. Dentre a população equina avaliada (n = 25), a prevalência observada foi de 44,0%. No Brasil, no estado de São Paulo, estudo conduzido por Ishi- kawa et al.15 (1996) com 175 equinos observou prevalência no total de equinos e naqueles com lesões dermatológicas sugestivas de der- matofitose de 1,7%, e 7,1%, respectivamente. O período de reali- zação do estudo não foi expresso pelos autores. Outro estudo de- senvolvido no Brasil, por Pessoa et al.16 (2014), no estado da Para- íba, região semiárida, avaliou registros de atendimentos clínicos retrospectivos de 10 anos de 1.786 equinos. Dentre os 447 animais dermatopata a prevalência foi de 3,4% para dermatofitose. A transmissão ocorre pelo contato direto entre o indivíduo sadio e o animal carreador ou por meio de fômites contaminados e mos- cas em repasto também podem atuar como transmissores dos fun- gos dermatofíticos17. Cães e gatos mantidos como animais de com- panhia são transmissores importantes da afecção, ainda que pos- sam não apresentar sinais clínicos18. Estudo epidemiológico rando- mizado realizado por Romano et al.19 (1997) em gatos assintomáti- cos oriundos da cidade de Siena (Itália), revelou que quase metade dos animais apresentaram cultura fúngica positiva para dermatófi- tos. Salebian e Lacaz20 (1980) realizaram cultura fúngica de 47 amos- tras de pelos sadios de 27 roedores silvestres do estado de São Paulo. Destas, 8,4% foi positiva para o gênero Trichophyton sp., sendo 4,2% positiva para a espécie T. mentagrophytes. De acordo com esses resultados, roedores silvestres também são potenciais portadores e transmissores da dermatofitose. A dermatofitose também está correlacionada com a imunida- de, de forma que equinos jovens apresentam maior risco de desen- volver a dermatofitose4. De acordo com Pickering et al.21 (2008), de modo geral, as zoonoses em humanos apresentam-se mais fre- quentemente em crianças e em indivíduos imunocomprometidos. Pesquisas indicam que a condição nutricional afeta as imunidades inata e adquirida, sendo utilizada inclusive como prevenção e tra- tamento de doenças22. Sendo assim, equinos submetidos a condi- ções nutricionais precárias também se tornam mais susceptíveis ao desenvolvimento da dermatofitose23. Embora a resolução espontânea da dermatofitose possa ocor- rer entre uma a quatro semanas, dependendo da melhora no manejo alimentar e sanitário, o tratamento é indicado devido ao caráter contagioso e zoonótico da afecção. Estudo epidemiológico reali- zado por Silva24 (2016) revelou que equinos sem sinais clínicos de lesão cutânea também podem ser positivos para dermatofitose. Adi- cionalmente, um dado muito interessante é que durante a pesquisa ocorreu o isolamento do T. rubrum, espécie ainda não mencionada em equinos. Sinais Clínicos O termo “roído de traça” é, na realidade, utilizado para carac- terizar diferentes afecções que se manifestam clinicamente pela presença de placas ou máculas circulares, com diferentes formas de apresentação de alopecia (Figura 4A), assim como, por áreas descamativas (Figura 4B), eritematosas e hipercrômicas25 em pa- drão anelarinicialmente bem demarcado e, mais raramente, na for- ma de crostas espessas. A dermatofitose é causada por fungos que têm a capacidade de digerir queratina4,17, portanto, estão localiza- dos nas camadas superficiais da pele, como o estrato córneo epi- dérmico, hastes pilosas e unhas ou cascos4,6. Para que a doença se manifeste, geralmente é necessária agres- são prévia à pele, ainda que de baixa intensidade4. Além disso, o estabelecimento da doença é dependente da capacidade do derma- tófitos em superar as barreiras imunes inatas da pele e se ligar ao hospedeiro, para obtenção dos nutrientes necessários para sua so- brevivência26. Cada espécie dermatófita é especializada em secre- tar proteases que definirão o perfil inflamatório no hospedeiro, que direcionará a resposta imune. Quanto mais grave for a inflamação gerada, maior será o recrutamento de células do sistema imune e mais rápida será a resolução da doença27. As lesões alopécicas são multifocais e crostas com pequenas dimensões podem se formar sobre os folículos, aderidas ao pela- me. De acordo com White7 (2005), é muito raro ocorrer intensa produção de crostas. Também pode ocorrer acúmulo de pequenas partículas queratinizadas, com aspecto semelhante à “cinza de ci- garro”4. O quadro pode causar irritação e prurido7. Ocasionalmen- te, no início pode apresentar característica urticariforme, com mu- dança do ângulo da haste pilosa4,7. Os locais de aparecimento pri- mário das lesões, que podem apresentar caráter superficial ou pro- fundo, incluem as regiões axilares e suas periferias. Podem se dis- seminar para o tronco, garupa, pescoço, cabeça e membros7. Figura 4: Quadro clínico frequentemente observado em animais com dermatofitose. A) Áreas de alopecia (setas) e B) Descamação (setas) .......................................................................................................................... A B A R Q U IV O P E S S O A L D O S A U TO R E S A R Q U IV O P E S S O A L D O S A U TO R E S • 17 Diagnóstico As dermatopatias equinas são consideradas um desafio diag- nóstico, devido à limitada capacidade da pele em responder de di- ferentes formas aos diversos estímulos a que é submetida, e assim apresentar sinais clínicos similares3. Portanto, para a realização do diagnóstico definitivo é imprescindível a realização de exames com- plementares. Os exames complementares utilizados para diagnóstico defi- nitivo da afecção são a avaliação da fluorescência do pelo com auxílio da lâmpada de Wood; a tricografia, para a realização dos exames parasitológico e micológico direto; a cultura fúngica do pelame e, mais raramente, o exame histopatológico mediante bióp- sia cutânea. A lâmpada de Wood é um exame de triagem utilizado para indicar a localização dos pelos que serão coletados para cultu- ra fúngica e micológico direto. Nesse caso, as hastes pilosas, possi- velmente infectadas, emitem uma coloração verde-maçã/amarelo- esverdeada quando são incididas pela luz da lâmpada. Entretanto, é este exame que possui baixa sensibilidade e especificidade28, uma vez que apenas cerca de 50% das cepas de M. canis fluorescem sob a lâmpada de Wood, enquanto as demais espécies não fluorescem, e a presença de debris, fios de algodão e medicamentos tópicos a base de tetraciclina podem gerar reação falso-positiva29. Nos equi- nos possui pouca indicação de utilização, pois as principais espéci- es fúngicas que acometem esses animais não apresentam fluores- cência sob a incidência da luz ultravioleta3. O raspado cutâneo (Figura 5A) pode ser associado à epilação por tração ou escovação (Figura 5B) para coleta de crostas e da superfície queratinizada da pele para cultura fúngica7. Esse método é utilizado para avaliação parasitológica direta do material. Outro método de coleta de material dermatológico é o descrito por Ma- ckenzie30 (1963), no qual é utilizada uma escova de dente para co- leta dos pelos da superfície corpórea e subsequente análise por cul- tura fúngica. O micológico direto, realizado pela tricografia, é uma análise direta da morfologia das hastes pilosas sob microscopia de luz. Os achados indicativos da doença são pelos morfologicamente alterados, com superfície irregular e aspecto áspero29. É um exame que possui baixa especificidade. Estudo relacio- nando a microscopia direta com a cultura fúngica, revelou especi- ficidade e sensibilidade relativas de 64,71% e 27,12%, respectiva- mente31. Entretanto, a visualização da infecção da haste pilosa é suficiente para o diagnóstico positivo. Por outro lado, caso o mico- lógico direto seja negativo ou ocorram dúvidas sobre o diagnósti- co, a cultura fúngica deve ser solicitada, visto que é considerada como exame padrão ouro para o diagnóstico da afecção. Nesse caso, as amostras de pelo28 ou do raspado cutâneo7 são depositadas sobre meio de cultura específico para fungos e as colônias desenvolvidas avaliadas microscopicamente28. A biópsia cutânea para o exame histopatológico somente está indicada em casos específicos17, como na suspeita de lesão neoplásica, grave e/ou com perda da configu- ração em lesão que necessite de biópsia para o diagnóstico defini- tivo, como nas doenças imunomediadas e dermatoses nutricionais, e nas lesões ulcerativas crônicas32. Além das técnicas tradicionais, é citado o uso da amplificação do DNA, como a reação em cadeia da polimerase (PCR) e reação em cadeia da polimerase em tempo real (RT-PCR) para o diagnós- tico da dermatofitose, tanto em humanos quanto em animais33,34. Para Brillowska-Dabrowska et al.35 (2007), as vantagens dessas téc- nicas incluem maior sensibilidade, simplicidade, rapidez diagnós- tica e consequente redução dos custos quando comparadas aos exa- mes micológico direto e de cultura e análise morfológica das colô- nias fúngicas. O estudo de Tartor et al.34 (2016) com 200 equinos da raça Árabe comparou os diferentes métodos de diagnóstico como micológico direto, cultura fúngica, PCR das amostras de pelo e PCR das colônias isoladas na cultura fúngica. Os autores concluí- ram que a associação das técnicas de PCR e cultura fúngica é a melhor forma de diagnosticar a dermatofitose. Prognóstico e Tratamento A resolução espontânea da dermatofitose pode ocorrer dentro de uma a quatro semanas17, embora animais imunocomprometidos sejam predispostos a infecções mais prolongadas e intensas8. Des- sa forma, o tratamento é sempre indicado devido ao caráter conta- gioso e zoonótico da afecção17. As terapias antifúngicas incluem tanto medicamentos de uso oral, quanto medicamentos tópicos. Entre os tratamentos utilizados, destacam-se o uso oral de itraco- nazol ou griseofulvina e de solução tópica de enilconazol ou tia- bendazol36. Além desses, também estão indicados banhos com so- luções de sulfato de cobre 1% a 3%, violeta genciana a 1% e ácido salicílico em álcool a 5%37, além de miconazol a 1% associado ou não à clorexidina38. Na prática da Medicina Veterinária equina, tam- bém são utilizados banhos de solução de dakin a 2% com resulta- dos considerados satisfatórios. Finalmente, também são utilizadas suspensão de nistatina, miconazol intralesional, cetoconazol oral ou iodo sódico intravenoso e creme de sulfadiazina de prata39. É importante ressaltar que, como os dermatófitos são fungos queratinofílicos, podem estar presentes em pelos e descamações livres no ambiente e fômites, que podem provocar novas infecções e disseminação da doença. Nesse contexto é importante a desinfec- ção geral do local onde ficam os animais e dos acessórios utilizados. Figura 5: Obtenção de amostras mediante realização de raspado cutâneo (A) e escovação (B) A B A R Q U IV O P E S S O A L D O S A U TO R E S A R Q U IV O P E S S O A L D O S A U TO R E S 18 • Capoci et al.40 (2015) testou in vitro a eficácia do extrato hidroalcó- lico de Cymbopogon nardus (L.) Rendle, planta conhecida como citronela contra o M. canis, isolado do ambiente de cães e gatos domésticos. Os resultados revelaram que a sua utilização mostrou-se eficaz como agente fungicida e fungistático ambiental contra esse dermatófitos. De acordo com os sinais clínicos, os principais diagnósticos diferenciais são dermatofilose, pênfigo foliáceo e foliculite por Sta- phylococcus sp.41. De forma complementar, devido ao caráter dis- cretamente pruriginoso, ao possível desenvolvimento de urticári- as23 e, particularmente pelo quadro “roído de traça”25, é possível incluir as desordens alérgicas como diagnóstico diferencial23. CONSIDERAÇÕES FINAIS Uma vez que o aumento da interação ser humano-animal e as mudanças climáticas, geográficas e vegetativas têm alterado o com- portamento dos fungos dermatófitos, mais estudos para elucidar os aspectos clínicos e epidemiológicos da dermatofitose nos animais domésticos são necessários. Apenas com a melhor compreensão do comportamento da afecção é que será possível canalizar a ela- boração de políticas públicas condizentes com as principais espé- cies em questão, bem como a instituição do tratamento associado ao controle ambiental como meio preventivo para o desenvolvi- mento da dermatofitose. Referências 1. SCOTT, D.W.; MILLER, W.H.Jr. Diagnostic methods. In: _____ Equine dermatology, St. Louis: Saunders, 2003, cap.2, p.59-162. 2. RICHMOND, J.M.; HARRIS, J.E. Immunology and skin in health and disease. Cold Spring Harbor Perspectives in Medicine, v.4, n.12, p.1-20, 2014. 3. KNOTTENBELT, D.C. The approach to the equine dermatology case in practi- ce. Veterinary Clinic Equine, v.28, n.1, p.131-153, 2012. 4. PILSWORTH, R.C.; KNOTTENBELT, D. Dermatophytosis (ringworm). Equi- ne Veterinary Education, v.19, n.3, p.151-154, 2007. 5. CHERMETTE, R.; FERREIRO, L.; GUILLOT, J. Dermatophytosis in animals. Mycopathologia, v.166, n.5, p.385-405, 2008. 6. BOND, R. 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