Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Prof.: Phelipe Macedo phelipe.macedo@ibmr.br Rio de Janeiro, 2020 TOXICOLOGIA SOCIAL ANÁLISES TOXICOLÓGICAS E AMBIENTAIS Áreas da Toxicologia • Estuda os efeitos nocivos provocados por substâncias químicas presentes em alimentos, para definir as condições em que estes podem ser ingeridos sem causar danos ao organismo. Toxicologia de Alimentos • Estuda os efeitos nocivos causados pela interação de agentes químicos contaminantes no ambiente – água, solo, ar – com os organismos humanos. Toxicologia Ambiental • Estuda os efeitos nocivos produzidos pela interação de medicamentos ou cosméticos com o organismo, decorrentes de uso inadequado ou da suscetibilidade individual. Toxicologia de Medicamentos e Cosméticos • Estuda os efeitos nocivos produzidos pela interação dos agentes químicos presentes no ambiente de trabalho com os indivíduos a eles expostos. Toxicologia Ocupacional • Estuda os efeitos nocivos decorrentes do uso não médico de drogas ou fármacos, causando prejuízo ao próprio indivíduo e à sociedade. Toxicologia Social Droga • Toda substância capaz de modificar ou explorar o sistema fisiológico ou estado patológico, utilizada com ou sem intenção de benefício do organismo receptor. Fármaco • Toda substância de estrutura química definida, capaz de modificar ou explorar o sistema fisiológico ou estado patológico, em benefício do organismo receptor. Exemplos O diclofenaco é um fármaco; Efeitos benéficos: ação anti-inflamatória; Efeitos maléficos: Nefrotóxico (quantidade e duração do tratamento) O ecstasy é uma droga; Causa alterações no nosso corpo, mas nenhum dos efeitos observados pode ser considerado benéfico e usado para fins terapêuticos. Fármaco ou Droga? Fármaco Droga Hidróxido de Alumínio Paracetamol LSD Pesticidas Dipirona Maconha Fármaco ou Droga? Fármaco Droga Hidróxido de Alumínio Paracetamol LSD Pesticidas Dipirona Maconha Farmacodependência Síndrome comportamental caracterizada pela perda de controle (compulsão) sobre o consumo da droga/fármaco mesmo com intensos prejuízos individuais e sociais. DEPENDENTEUSUÁRIO Classificação • As drogas de abuso são geralmente classificadas em diferentes categorias: Opiáceos: heroína, morfina; Estimulantes: cocaína e anfetamina; Depressores do SNC: etanol, barbitúricos, benzodiazepínicos; Inalantes: Tolueno, n-hexano, acetato de etila; Canabinóides: Δ9-THC; Alucinógenos: LSD, psilocibina, mescalina. Agem no SNC – Potencial de induzir dependência Dados Epidemiológicos - 2018 Dados obtidos de http://www.fiocruz.br/sinitox Casos Registrados de Intoxicação Animais Peçonhentos 35,3% Medicamentos 27,1% Animais não Peçonhentos 6,6% Outro 6,1% Domissanitários 6,1% Agrotóxicos 4,4% Produtos Químicos Industriais 3,8% Drogas de Abuso 3,6% Raticidas 1,5% Cosméticos 1,4% Desconhecido 1,3% Plantas 1,1% Produtos Veterinários 0,9% Alimentos 0,6% Metais 0,1% Dados Epidemiológicos - 2018 Dados obtidos de http://www.fiocruz.br/sinitox Óbitos Registrados de Intoxicação Agrotóxicos; 31,0% Medicamentos; 25,0% Animais Peçonhentos; 13,0% Produtos Químicos Industriais; 8,0% Drogas de Abuso; 8,0% Domissanitários; 2,0% Desconhecido; 2,0% Produtos Veterinários; 1,0% Raticidas; 0,5% Plantas; 0,5% Outros; 9,0% Dados Epidemiológicos CEBRID: Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas Uso de diferentes drogas psicotrópicas entre 50.890 estudantes de ensino fundamental e médio das redes pública e privada das 27 capitais brasileiras, de acordo com os tipos de uso Principais Drogas de Abuso ESTIMULANTES Cocaína, anfetaminas e análogos COCAÍNA • Alcalóide de sabor amargo • Com propriedades anestésicas e vasoconstritoras • Extraído das folhas da Erythroxylum coca (nativa da América do Sul), conhecida como coca ou epadu (pelos índios brasileiros) • Nome químico: benzoilmetilecgonina COCAÍNA Considerando as características físico químicas do cloridrato de cocaína, do crack e da merla quais são seus principais padrões de uso???? Cloridrato de cocaína Crack Merla PADRÕES DE USO COCAÍNA - Toxicidade • Doses tóxicas são muito variáveis • Dependem principalmente: tolerância individual via de administração (aspirada, fumada, injetada, etc) uso concomitante de outros fármacos: interações com álcool (cocaetileno), heroína (speed ball) e outros agentes (inibidores da acetilcolina) • Doses letais podem variar de 20 mg IV até doses de 1400 mg VO Uma “carreira” tem entre 30 a 40 mg Um “papelote” de pedra entre 100 e 150 mg COCAÍNA • Bem absorvida por todas as vias • Meia-vida: 30-60 minutos • Biotransformada no fígado e pelas esterases plasmáticas • Excretada na urina sob forma de 4 subprodutos identificáveis: ecgonina; ecgonina-metilester (sem atividade vaso-constritora); norcaina (potente vasoconstritor) e; benzoilecgonina (detectável até 30 dias). Absorção, distribuição, biotransformação e excreção COCAÍNA: mecanismo de ação complexo Inibição da recaptura e aumento da liberação de catecolaminas no SNC e periférico Bloqueio dos canais de sódio: • Anestesia das membranas axonais • Vasoconstrição • Ação quinidina-like no coração, em altas doses bradicardia e hipotensão Ação sinérgica + = efeitos cardiotóxicos COCAÍNA: mecanismo de ação complexo 3. Depressão Coma arreflexivo, arresponsivo Midríase fixa Paralisia flácida Instabilidade hemodinâmica Insuficiência renal (vasculite, necrose tubular aguda por rabdomiólise) Fibrilação ventricular ou assistolia Insuficiência respiratória, edema agudo pulmonar Cianose, respiração agônica, parada cardio-respiratória Quadro clínico: 3 Fases COCAÍNA: intoxicação aguda COCAÍNA: diagnóstico clínico • Paciente adulto jovem que desenvolve síndrome adrenérgica de curta duração • Agitação psicomotora • Movimentos estereotipados • Dor torácica • Lesões de mucosa e de septo nasal O uso concomitante de álcool e cocaína resulta na formação in vivo de ethylbenzylecgonina – cocaetileno, que tem uma toxicidade muito maior, meia vida mais longa e DL50 menor. Associação com fluoxetina pode resultar em síndrome serotoninérgica. COCAÍNA COCAÍNA Diagnóstico Laboratorial específico CCD - Cromatografia de camada delgada - Positiva para metabólitos da cocaína em urina, mais especificamente benzoilecgonina até 60 horas da exposição (única) e até 30 dias (uso crônico). ► Falsos positivos: Lidocaina (passagem de sonda vesical, naso-gástrica, p. Ex) Técnicas de antígeno/anticorpo ou espectrofotometria podem ser bem mais sensíveis, mas geralmente não são necessários na urgências. IDENTIFICAÇÃO DE COCAÍNA – TESTES COLORIMÉTRICOS Amostra: pó (branco cristalino) Reação com hipoclorito de sódio Em uma lâmina escavada de vidro, ou em placa de Petri, colocar uma pequena porção de pó e adicionar gotas de hipoclorito de sódio. Na presença de cocaína formar-se-á um precipitado branco flocoso (reação positiva). Teste com o reagente de tiocianato de cobalto Solução a 0,5% de Tiocianato de Cobalto acidificado. O desenvolvimento da coloração deve ser observado em até 5 minutos ANFETAMINAS e ANÁLOGOS www.cassiescorner.bizland.com/drugs Exemplos Anfetaminas: • Metilfenidato (Ritalina®) • Anorexígenos (anfepromona, femproporex, etc.) Methamphetamine: Speed, Ice, “Pervertin” MDMA: ecstasy Via de uso: Geralmente de uso oral IV ou fumada, pura ou misturada a outras drogas Mecanismo de ação: Bloqueio da recaptação das catecolaminas Quadro Clínico: Síndrome adrenérgica prolongada Ilusões, paranoia Taquicardia, hipertensão Hipertermia, transpiração excessiva Hiperreflexia, midríase (dilatação da pupila), convulsões, coma Pode ocorrer rabdomiolise ANFETAMINAS e ANÁLOGOS DEPRESSORES Opiáceos, opioides, Álcool Etanol Etanol • Substância psicoativa mais consumida • Estima-se que 1 em cada 10 indivíduos apresentam problemas por consumo abusivo • Acidentes de trânsito, hepatopatiase dependência são os piores problemas. Etanol Toxicidade Doses tóxicas muito variáveis, dependendo: Da tolerância individual Do uso concomitante de outros fármacos Etanol Toxicocinética •Absorção: 20% no estômago 80% no intestino delgado •Pico plasmático: em 30-90 minutos •Atravessa a barreira hemato-encefálica e placentária •Metabolizado pelo fígado formação de acetaldeído Etanol Toxicodinâmica Modulador do receptor GABA Depressores do SNC Etanol Efeitos agudos Efeitos crônicos 50 a 150 mg/dl: verborragia, reflexos diminuídos, visão borrada, excitação ou depressão mental. 150 a 300 mg/dl: ataxia, confusão mental, hipoglicemia (principalmente em crianças), logorréia. 300 a 500 mg/dl: incoordenação acentuada, torpor, hipotermia, hipoglicemia (convulsões), distúrbios hidreletrolíticos (hiponatremia, hipercalcemia, hipomagnesemia, hipofosfatemia), distúrbios ácido-básicos (acidose metabólica). > 500 mg/dl: coma, falência respiratória, falência circulatória, óbito. Sistema gastrointestinal: aumento incidência de câncer, gastrite, úlceras, esteatose hepática --- hepatite ------- cirrose -------câncer Sistema cardiovascular: aumento AVC e IAM, hipertensão e aumento do colesterol, SNC: neuropatia, alterações cognitivas, etc. Síndrome fetal: abortos, malformações, baixo peso. Etanol Diagnóstico Laboratorial inespecífico • Hemograma, ionograma, Ca, Mg • Glicemia (hipoglicemia), uréia, creatinina • Gasometria + pH (acidose) • RX de tórax (verificar broncoaspiração) • ECG (arritmias) • Transaminases, TP Diagnóstico Laboratorial específico • Dosagem sérica de etanol e metanol: 5 ml de sangue em tubo com heparina, tendo o cuidado de fazer a assepsia com água e sabão Etanol SINAIS CLÍNICOS • HIPEREXCITABILIDADE INICIAL •LETARGIA •ATAXIA •INCOORDENAÇÃO MOTORA •FALA ARRASTADA •AMNÉSIA •HIPOTENSÃO, HIPOTERMIA E HIPOGLICEMIA •CETOACIDOSE, DESIDRATAÇÃO, ALTERAÇÃO ELETRÓLITOS Tratamento 1- DESCONTAMINAÇÃO GÁSTRICA 2- ADMINISTRAÇÃO DE VIT B1/TIAMINA (Evita a Síndrome de korsakoff/Encefalopatia) 3- SORO HIPERGLICOSADO 4- CORREÇÃO ELETRÓLITOS E HIDRATAÇÃO PERTURBADORES DA ATIVIDADE DO SNC THC (maconha), anticolinérgicos, Ecstasy, ketamina, LSD-25 Club Drugs, Date-rape Drugs Maconha Substância: Delta 9 THC (tetrahidrocanabinol). Sinonímia: Charas (Extremo Oriente), Marijuana(E.U.A), Baseado, fininho, bomba, fumo, erva, etc (Brasil). Indicação terapêutica aprovada: Delta 9 THC sintético, como alternativa ao tratamento antiemético (Marinol ®) Canabidiol (CBD), como anticonvulsionante. Maconha Mecanismo de ação: • Receptor canabinóide específico (família proteína G). • SNC: gratificação (cerebelo, hipocampo, córtex) • Efeitos psíquicos muito variáveis dependendo de expectativas individuais, do estado de espírito etc. • Não provoca efeitos cardiovasculares ou respiratórios graves em exposição a doses excessivas. Toxicocinética: • Absorção: via respiratória, minutos; via oral: 1 a 4 horas. • Meia-vida: 28 horas (dependentes) - 57 horas (não-dependentes) • Armazenamento em tecido adiposo. • Subproduto principal: 11-hidroxi-THC. • Detecção laboratorial: 1 semana a 3 meses ou mais. Maconha Quadro clínico: Tratamento: • Medidas de Descontaminação, tratamento sintomático e suporte. • Sintomas melhoram em torno de 8 horas (exceto concentrados). • Risco de overdose letal é mínimo não há registro de óbitos por maconha e derivados exclusivamente . Drogas da noite “CLUB DRUGS”: Frequentadores de festas “raves”. • MDMA: Ecstasy, pílula do amor. • GHB: “Ecstasy líquido”. • Ketamina: Special K, Kit kat. • Methamphetamine: Speed, Crystal, Ice. • LSD (Ácido, doce, ponto). •Nitritos (Poppers) Ecstasy Definição: • MDMA: 3,4 methylenedioxymethamphetamine). • Sintetizada em 1912, patenteada em 1914 pela Merck. • 1977: Psicoterapia. Começa também o abuso recreacional. • Brazil 2000: descoberto o 1º laboratório clandestino aqui. • Efeitos similares a anfetamina (estimulante) e da mescalina (alucinógeno). Vias de uso e dose: • Geralmente oral (líquido ou comprimido). • Dose típica de 50 a 150 mg. • Poliabuso: álcool, inalantes, cannabis, LSD, cocaína. Ecstasy Toxicocinética: • Pico plasmático após +/- 2 horas. • Cruza barreira hematoencefálica. • Metabolizado pelo complexo YP2D6. • Meia vida de 8 horas, 95% é eliminado em +/- 40 horas. • Excreção renal (65% na forma intacta). • MDEA (3,4-metileno dioxianfetamina) é um metabólito ativo. Quadro clínico: • Aumento da energia, sociabilidade e da disposição sexual. • Ansiedade, pânico, agitação, delírios, cefaleia, sede intensa. •Hipertensão, taquicardia, hipertermia. • Sudorese + hiperatividade + secreção inapropriada de ADH Hemodiluição e hiponatremia convulsões + edema cerebral falência respiratória e circulatória • Síndrome serotoninérgica • RabdomióliseMioglobinúria Ecstasy Tratamento: • Descontaminação G.I. quando indicado. • Avaliação laboratorial: Hemogramas seriados, eletrólitos, função hepáticas e renal. • Hidratação e reposição adequada de eletrólitos. • Tratar a hipertermia com medidas físicas. • Se necessário, assistência ventilatória e tratar convulsões. Sinonímia: LSD-25 (dietilamida do ácido lisérgico): Ácido, doce, ponto, etc. LSD Formas de Apresentação: Cartelas picotadas, selos ,etc. Mecanismo de ação: • Tem ação antagonista e agonista parcial da serotonina. • Absorção via sublingual, de 20-80 microgramas por dose. • Início ação em 30-60minutos, pico de efeito em 5 horas, perduram por 12 horas. • A metabolização é hepática e a excreção é renal e pelas fezes. Quadro clínico: • Dependem da expectativa de uso e do ambiente físico que o cerca. • Ilusões visuais, auditivas e táteis. • Flashback. Tratamento: • Sintomático e de suporte. LSD Caso Clínico Caso Clínico R. F., advogado de 38 anos de idade com longo histórico de dependência de álcool. Por vezes, parava de beber durante uns poucos meses, mas nunca tinha considerado uma abstinência prolongada. Em um final de semana, ele teve mais uma recaída em uma bebedeira muito pesada. Na noite de domingo deu entrada na emergência do hospital queixando-se de uma horrível dor abdominal irradiando-se rumo às costas. Sendo confirmado gastrite e um nível elevado de amilase no sangue. Apesar dos melhores esforços da equipe hospitalar, ele morreu em choque 36 horas mais tarde. O pós-morte mostrou evidência de cirrose precoce do fígado. Caso Clínico 1) Explique o mecanismo de ação do etanol no SNC. 2) Explique o desenvolvimento de gastrite e cirrose no quadro clínico do paciente. 3) Os achados de nível elevado de amilase no sangue explicam a dor abdominal? Justifique. 4) Qual o tratamento farmacológico para dependência do alcoolismo? 5) Descreva sobre toxicidade crônica ao etanol.
Compartilhar