Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
COACHING E CARREIRA Ana Clara Aparecida Alves de Souza Coaching de carreira Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os objetivos do coaching de carreira. Associar o coaching de carreira ao conceito de empregabilidade. Reconhecer as vantagens da aplicação do coaching para a gestão de carreiras dentro da organização. Introdução Entre as mais diversas aplicações do coaching, há uma que é amplamente reconhecida: o coaching de carreira. Devido às constantes mudanças ambientais no aspecto macrossocial, que acabam por influenciar também os aspectos internos das organizações, muitos são os desafios cotidianos para a gestão das relações entre os colaboradores. As questões geracionais e a necessidade de inovação e de adaptações a novas demandas levam à ocorrência de desajustes, que tendem a interferir no fluxo dos trabalhos realizados. Dessa forma, o coaching de carreira pode ser uma ferramenta positiva para estimular e facilitar a adaptação por parte dos colaborado- res, no sentido de orientá-los à melhor percepção de suas práticas e às adequações necessárias para a solução dos conflitos organizacionais. Neste capítulo, você vai analisar a que se propõe o coaching de carreira, compreendendo os seus objetivos. Nesse processo de compreensão, você vai estudar também a associação existente entre o coaching de carreira e o conceito de empregabilidade. Por fim, você vai reconhecer as vantagens da sua aplicação para a gestão de carreiras dentro da organização. O coaching de carreira e os seus objetivos O coaching tem como premissa central despertar no coachee, por meio de estímulos, refl exões que permitam ao assessorado identifi car objetivos e ana- lisar a sua realidade e as suas opções, podendo, assim, traçar caminhos para a ação e o alcance dos objetivos. No chamado coaching de carreira, essa metodologia vai se voltar para as demandas sinalizadas pelo coachee no que diz respeito à sua carreira. Embora o coachee possa sinalizar questões mais pessoais que afetem o seu desempenho, a centralidade dos encaminhamentos estará voltada à melhoria da sua performance na carreira, conforme leciona Whitmore (2012). Considerando-se as amplas e constantes mudanças organizacionais promo- vidas pela globalização e suas consequências, como os efeitos da tecnologia da informação, é necessária, cada vez mais, a mobilização de meios para a adaptação constante dos colaboradores. Novos modelos de organização passaram a exigir novos modelos de carreira, conforme apontam Milaré e Yoshida (2009) e Inkson et al. (2012). É nesse cenário que o coaching de car- reira encontra um espaço de atuação, no qual a metodologia do coaching será destinada ao fim específico de suporte ao aprimoramento e desenvolvimento da carreira de um colaborador. No que diz respeito ao conceito de carreira, já na década de 1990, Hall (1996) destacava o caráter altamente turbulento e complexo do ambiente de negócios, resultando em carreiras terrivelmente ambíguas e contraditórias. Sobre esse cenário, o autor já destacava que “[...] indivíduos, talvez em autodefesa, estão se tornando correspondentemente ambivalentes sobre seus desejos e planos de desenvolvimento de carreira” (HALL, 1996, documento on-line). Hall (1996) alertava que, a partir do século XXI, a carreira seria impulsionada pela pessoa, e não pela organização, sendo reinventada pela pessoa de tempos em tempos, à medida que as mudanças ocorressem no indivíduo e no ambiente. O conceito de carreira tem uma diversidade de definições. Segundo Inkson et al. (2012, documento on-line, tradução nossa), “A noção de carreira oferece um ponto de partida para entender a evolução das relações entre estrutura e estratégia organizacional e agência e comportamento individu- ais”. A partir de sua reflexão sobre as mudanças no ambiente de trabalho, Hall (1996) destaca o conceito de carreira proteana, termo derivado do deus grego Proteus, que podia mudar de forma à vontade. Esse conceito se alinha à perspectiva de desenvolvimento do indivíduo, não colocando apenas a organização como foco de interesse e investimentos. Como se pode observar no Quadro 1, a carreira proteana tem duas dimensões e atitudes individuais correspondentes. Coaching de carreira2 Fonte: Adaptado de Vasconcellos e Bianchi (2018). Dimensão Atitude Autodirecionamento O indivíduo assume o controle do seu destino profissional e cria oportunidades para o seu desenvolvimento. Essa dimensão exige adaptabilidade e responsabilidade pela gestão da própria carreira. Orientação por valores Priorização de valores e objetivos pessoais nas decisões de carreira. Esses valores também são utilizados para medir o sucesso, sob critérios próprios. Quadro 1. Dimensões e atitudes da carreira proteana Chanlat (1996) destaca alguns paradoxos para se pensar a carreira na atualidade, ressaltando a dificuldade de falar sobre carreira sem considerar a sociedade e a cultura. O autor destaca os seguintes paradoxos: cada vez menos empregos estáveis e bem remunerados; formas de gestão dominadas por preocupações financeiras; declínio da ética no trabalho; crise nos sistemas de formação; encurtamento do horizonte profissional. Costa e Brum (2019), ao estudarem coaching e mentoring no processo de gestão de carreira, destacam que, na utilização dessas metodologias, é possível conceber soluções práticas a partir da identificação das necessidades atuais da organização, especialmente no que diz respeito à compreensão de seus colaboradores. Além disso, o coaching pode ser usado em diversas áreas da organização. Por meio da proposição do modelo GROW, que pode ser aplicado nas mais diversas demandas, sejam individuais ou organizacionais, Whitmore (2012) ressalta quatro elementos fundamentais, a partir dos quais o coach pode estimular no coachee o pensamento e a reflexão. O modelo GROW é uma das principais ferramentas aplicadas em sessões de coaching para 3Coaching de carreira realizar a identificação de objetivos e traçar planos de ação pelo coachee. Os elementos que configuram esse modelo e formam o acrônimo que o intitula são: objetivos (G, do inglês goals); realidade (R, do inglês reality); opções (O, do inglês options); e execução (W, dos termos em inglês when, who, will). O coaching de carreira dentro das organizações poderá ser aplicado por um coach interno, ou seja, alguém da própria empresa, já atuante na área de interesse do coachee e que tenha formação em coaching, ou por um profis- sional coach externo, contratado para auxiliar o coachee em relação à sua carreira. O coach externo não necessariamente deve ter formação na área de atuação do coachee, mas, idealmente, deve ter um conhecimento geral sobre o ambiente no qual o assessorado atua, conforme lecionam Campos e Pinto (2012) e Whitmore (2012). No processo de coaching para equipes, que visa orientar a carreira e as atividades realizadas por um grupo de colaboradores, o direcionamento da prática será para o atendimento de metas coletivas, conforme lecionam Campos e Pinto (2012). O coaching individual, no âmbito organizacional, pode ser compreendido também como coaching executivo. Nesse processo, o coach vai auxiliar um colaborador a atender demandas e solucionar problemas específicos. Nessa interação, serão trabalhadas questões específicas do coachee, e não soluções gerais para problemas da organização como um todo, conforme orientam Campos e Pinto (2012). Nesse contexto, ressalta-se a diferença entre o coaching e uma ação de consultoria, que visa a identificar problemas e propor ações para solucioná- -los. O coaching executivo, alinhado à proposta fundamental do coaching, vai buscar potencializar no coachee a reflexão, para o encontro de caminhos que o direcionem à identificação das suas demandas e à análise das informações Coaching de carreira4 e ações para atender a essas demandas. Um planode ação poderá ser criado em conjunto, dentro das especificidades de cada coachee e do contexto no qual ele atua, de acordo com Campos e Pinto (2012). Conforme destacam Milaré e Yoshida (2009), o coaching de executivos é um processo que visa a dar suporte a profissionais, no sentido de levá-los a atender metas por meio da aprendizagem de novas competências. Os autores destacam que, no coaching de executivos, observa-se que atitudes positivas e abertura em relação ao desenvolvimento de um programa interno à orga- nização tornam o processo mais fluido, passando pelos módulos de forma consistente e com evolução gradual. Mudanças obtidas em relacionamentos afetivo-relacionais também são observadas. No estudo conduzido por Milaré e Yoshida (2009) sobre a implementação de um programa de coaching de executivos, observou-se que as dificulda- des enfrentadas estavam relacionadas a diferentes aspectos. De um lado, essas dificuldades estavam relacionadas “[...] à falta de compreensão dos superiores quanto às percepções e expectativas que o participante tinha de seu ambiente (superiores e colegas), e do outro, à falta de percepção dele próprio sobre a necessidade de ampliar ou modificar suas atitudes, de forma a adequá-las às exigências deste ambiente” (MILARÉ; YOSHIDA, 2009, documento on-line). Hall (1996) ressalta que o objetivo final da carreira é o sucesso psicológico, configurado nos sentimentos de orgulho e realização pessoal advindos do alcance de objetivos nos mais diversos âmbitos da vida social. Assim, o coaching de carreira se apresenta como uma metodologia que busca auxiliar o indivíduo ou o grupo na busca pelas adequações diversas que a carreira vai demandar, de maneira a estimulá-lo como protagonista desse processo. Dessa forma, a partir de seu próprio desenvolvimento, o indivíduo pode também se tornar um vetor de potencialização para a autoconsciência de outros sujeitos na organização. Acesse a reportagem disponível no link a seguir e saiba mais sobre coaching de carreira, verificando também como identificar a necessidade de contratar um serviço de coaching para essa especificidade. https://qrgo.page.link/HrLhK 5Coaching de carreira Coaching de carreira e empregabilidade A noção de empregabilidade é algo recente, conforme destacam Helal e Rocha (2011), sendo um refl exo do agravamento da crise do mercado de trabalho no mundo todo, em função da diminuição do número de empregos formais e, consequentemente, do aumento do desemprego e dos trabalhos informais. Nesse contexto do mercado de trabalho, surge o debate da empregabilidade tanto no Brasil quanto em outros países do mundo. A relação entre a empregabilidade e o coaching se baseia na ideia de que novas exigências passaram a ser feitas aos trabalhadores por parte das organizações. Lavinas (2001) destaca que o termo empregabilidade se relaciona às ca- racterísticas do trabalhador que o tornam capaz de escapar do desemprego, mantendo a sua capacidade de obter um emprego. Nesse sentido, a empregabi- lidade estaria relacionada à aptidão para um determinado trabalho, acionando aspectos normativos como educação, habilidades e experiência. Helal e Rocha (2011) ressaltam que diversos autores se referem à empregabili- dade como um conceito neoliberal, que transfere a responsabilidade pelo emprego para o indivíduo, tirando-a do Estado e da sociedade. Isso é reforçado por Martins e Oliveira (2017), que salientam o custo que esse deslocamento de responsabilidade tem para o trabalhador, que, na maioria das vezes, terá pouca escolha. Conforme Helal e Rocha (2011), a ênfase no mercado e no cliente, as novas competências gerenciais e a questão da empregabilidade parecem dissolver o dilema tradicional de controlar e direcionar os indivíduos para que se compor- tem de maneira desejável. Estes passam a apresentar autonomia, flexibilidade, criatividade, autovigilância, espírito empreendedor, etc., sendo essas algumas características que o coaching busca potencializar no assessoramento ao coachee. Há uma institucionalização do discurso empresarial-individual da emprega- bilidade. Nesse processo, ocorre um reforço da responsabilidade do indivíduo no processo da obtenção de emprego, conforme apontam Helal e Rocha (2011). Essa configuração das relações do indivíduo com o trabalho faz do coaching uma metodologia alternativa, que contribui para que os indivíduos possam potencializar suas capacidades e ter melhor noção do seu potencial, no sentido de estarem aptos a se manterem empregados. Martins e Oliveira (2017) reforçam que a qualificação profissional surge como um dos requisitos para a empregabilidade e se constitui como um de- safio para aqueles que pretendem se inserir no mercado de trabalho e os que desejam se manter e alcançar outras posições. Loli e Treff (2018) ressaltam que as definições contemporâneas de carreira apresentam a transitoriedade como um elemento recorrente. Coaching de carreira6 Na Figura 1 são apresentados critérios considerados pelos indivíduos para a decisão de carreira; a contemplação dos níveis poderá também interferir na empregabilidade do indivíduo. Figura 1. Níveis e critérios para a decisão de carreira. Fonte: Adaptada de Loli e Treff (2018). Se pensados sob o ponto de vista da proposição do coaching de carreira como metodologia para reflexão profissional, os estímulos buscados nas sessões de assessoramento poderão ser focados em cada um dos níveis apresentados. Dessa maneira, o coachee pode identificar e refletir sobre aquilo que está no centro das suas decisões de carreira. Anderson, Tonato e Tavares (2019, documento on-line) destacam algumas fontes de frustração que geram crises ao longo da carreira: Gargalo profissional: muitas pessoas competindo por uma posição de liderança (promove inquietações especialmente entre profissionais pertencentes à faixa etária entre 40 e 50 anos). Tensão entre trabalho e vida pessoal: desafio de equilibrar, em meio de carreira, vida profissional e cuidados com os filhos e pais. Horizonte ampliado: necessidade de trabalhar por mais alguns anos por não ter feito economias ao longo dos anos. 7Coaching de carreira Capacitação obsoleta: necessidade de buscar adequação a novas rotinas de trabalho ou esperar que o tempo possa promover o profissional na carreira. Desilusão com a empresa: insegurança do profissional oriunda de cortes de pessoal, ou em razão da diferença salarial percebida pelos empregados, além de cargos mais elevados dentro do quadro de hie- rarquia da empresa. Esgotamento: cansaço extremo e tarefas repetitivas refletem na falta de interesse e energia para o trabalho. Decepção com a carreira: exercício de uma função baseada em valores que não são compatíveis com o que idealizou na juventude. Considerando, então, as crises e possíveis frustrações ao longo da carreira, conforme identificado no estudo apresentado por Loli e Treff (2018), o coaching como metodologia voltada a essa especificidade poderá contribuir para: favorecer o aprofundamento do autoconhecimento dos indivíduos; ajudar no encontro de sentido e propósitos profissionais; auxiliar na superação de barreiras de transição, por estimular o aumento no nível de autoeficácia de carreira; prestar auxílio sobre como lidar com visões oriundas de pessoas próximas; incentivar a criação de uma agenda sistemática de aprendizagem e experimentação em uma nova área de atuação. No processo de definição, as sessões de coaching podem ser direciona- das à configuração, pelo coachee, de um plano de carreira, utilizando-se de ferramentas que estimulem a reflexividade e permitam ao assessorado o reconhecimento daquilo que melhor se aplica à sua biografia e expectativa. Um dos maiores desafios contemporâneos para especialistas que trabalham com o desenvolvimento profissional é justamente encontrar meios e metodologias que permitam aos indivíduos a definição de projetos que sejam compatíveis comas suas competências, interesses e valores e, ao mesmo tempo, compatíveis com os objetivos e as demandas das empresas. Nesse sentido, a proposição metodológica do coaching se apresenta como uma alternativa para a superação desses desafios, por meio da potencialização da autoconsciência, conforme orienta Silva (2010). Coaching de carreira8 Na matéria disponível no link a seguir, é apresentada uma pesquisa sobre profissões em alta no mercado, salientando-se a relevância que o coaching de carreira teve para o encaminhamento de alguns indivíduos a determinadas profissões. https://qrgo.page.link/YGSxj Vantagens do coaching para a carreira dentro das organizações Pode-se considerar que a aplicação do coaching de carreira está condicionada a indivíduos e grupos atuantes em organizações privadas. Entretanto, a ne- cessidade de inovação e modernização das práticas de gestão leva também ao setor público o desafi o de se reconfi gurar diante das mudanças ambientais. Como destaca Melo (2013), o maior beneficiário de um processo de coaching organizacional é a própria organização, que vai obter benefícios com a poten- cialização da carreira e do desempenho de seus colaboradores, a formação de uma rede de cooperação e formação contínua e o reforço dos compromissos e resultados. Para tanto, o coaching deve atender àquele que é um dos maiores desafios das organizações: promover uma melhor interação das pessoas, de maneira que produzam mais e melhor juntas. O coaching na organização pode permitir o desenvolvimento de um es- tilo de liderança com foco na ampliação e no acompanhamento de equipes, assim como promover a autoestima e aumentar a empregabilidade. Há ainda a possibilidade de ganhos financeiros, promoção e salários. A obtenção de experiência também se potencializa nesse processo. Assim, a organização acaba por configurar uma rede de ensino eficiente, que, por meio da ajuda mútua, promove o reconhecimento e a superação das fragilidades de cada indivíduo, conforme leciona Melo (2013). Para além da ideia de aplicação do coaching apenas em organizações privadas, o serviço público também poderá tirar vantagens da metodologia. Conforme Marini (2016), quando se pensa na inovação no serviço público, não se tem como foco o fim da burocracia, mas a revisão dos processos, das ferramentas e das rotinas administrativas. Dessa forma, a autora ressalta que a aplicação do coaching no serviço público pode gerar o aumento da eficiência 9Coaching de carreira dos servidores, sendo uma ferramenta de autoconhecimento capaz de motivar os servidores com estabilidade em suas funções e promover a inovação e a melhora da comunicação entre líderes e servidores. Marini (2016) destaca que o coaching dentro das organizações públicas pode contribuir para agregar mais valor ao serviço e ao servidor público, de maneira que, com a mudança de pensamento e a valorização dos envolvidos nos processos, as rotinas possam fluir melhor. Dessa forma, ocorre o maior reconhecimento do trabalho dos servidores, que passam a se sentir mais motivados. O coaching no serviço público parte do diagnóstico do servidor e trabalha aspectos a serem melhorados na sua atuação, aproximando esse funcionário público do autoconhecimento e da autocrítica, no sentido de avaliar sua postura, suas atitudes e suas atividades. Além dessas questões, o coaching promove a me- lhoria da comunicação entre líder e colaborador, conforme leciona Marini (2016). Anderson, Tonato e Tavares (2019, documento on-line) resgatam o estudo de Louis (1980) sobre os nove tipos de transição de carreira, apresentados a seguir. Transição entre funções ou papéis Transição de entrada e reentrada: quando uma pessoa inicia no primeiro emprego ou quando um profissional se afasta por um período e retorna posteriormente. Transição intracompanhia: são as movimentações que ocorrem entre setores de uma mesma empresa. Transição intercompanhia: são aquelas ocasionadas por empresas dis- tintas, porém, em funções similares. Transição interprofissão: quando há uma mudança de atividade profis- sional, ou seja, quando uma pessoa exercia a função de administrador de empresas, por exemplo, e se torna um acadêmico. Transição de saída: quando se perde o emprego, ou ocorre uma saída voluntária para um período sabático. Transições dentro da mesma função ou papel Ajustes intrafunção: alunos que ajustam suas inclinações e escolhas na universidade. Ajustes extrafunção: quando novas funções são ajustadas às funções do trabalho; por exemplo: um professor que passa a ser o editor da revista da universidade, e, com isso, seu tempo destinado para os alunos e a família diminui. Coaching de carreira10 Transição de função: evolução da carreira como consequência do cres- cimento profissional. Transição no cenário pessoal: ocorre quando há o amadurecimento na carreira, e o profissional passa a apoiar o crescimento de carreira de outras pessoas. Todos esses processos de transição demandam atenção e ajustamentos necessários à adaptabilidade profissional. Dessa forma, o coaching pode ser empregado para contribuir no ajustamento às mudanças ocorridas. Com base em Schein (1996), Loli e Treff (2018) resgatam o conceito de ân- coras de carreira, que são competências, preferências e valores relacionados ao trabalho que não seriam abandonados por uma pessoa em um processo de nova escolha profissional, conforme apresentado no Quadro 2. O coaching de carreira, no processo de estímulo ao coachee sobre suas metas, seus objetivos e suas potencialidades, poderá levá-lo a melhor compreender quais são as suas âncoras. Fonte: Adaptado de Loli e Treff (2018). Âncora de carreira Explicação Segurança/ estabilidade Necessidade de segurança no trabalho — normalmente, asso- ciada a pacotes de benefícios e empregos de longo prazo em uma organização — e estabilidade em uma área geográfica. Autonomia/ independência Necessidade de liberdade em relação às restrições organizacio- nais para desenvolver competências profissionais. Estilo de vida Necessidade de integrar trabalho, família e questões pessoais em um estilo de vida coerente. Competência de gerência geral Desejo de alcançar uma posição que requer o uso de habilidades interpessoais, políticas, analíticas e financeiras associadas à gestão. Criatividade empreendedora Necessidade de criar ou construir (em vez de gerenciar) algo que seja um projeto próprio do indivíduo. Dedicação/ serviço a uma causa Necessidade de alinhar o trabalho com valores pessoais, para ajudar a sociedade e melhorar o mundo de alguma forma. Desafio puro Necessidade de testar habilidades com determinação, para vencer oponentes ou competir com eles e resolver problemas desafiadores. Quadro 2. Âncoras de carreira 11Coaching de carreira Por meio da condução das perguntas certas, e não pela entrega de res- postas, o coaching busca potencializar no indivíduo a capacidade de fazer as suas próprias identificações, considerando as informações que tem e as características do ambiente no qual atua. Dessa forma, o coaching é focado nas pessoas, havendo ganhos indiretos para a o sistema de negócios. Além disso, o coaching foca o desenvolvimento de competências para as vivências pessoais e profissionais, conforme aponta Melo (2013). Como visto anteriormente, o coaching nas organizações pode ser realizado por meio da prática de coaching de executivos ou de coaching corporativo, focada em indivíduos ou grupos e desenvolvida por um agente interno ou externo à organização. No que tange às vantagens dessa prática, pode-se destacar a capacitação do líder para alcançar as metas organizacionais em curto e longo prazos, sendo esse processo conduzido por meio de estímulos, feedbacks, confiança e respeito mútuo entre coach e coachee. O objetivo da prática do coaching corporativo é proporcionar aprendizagem e impactos máximos no desenvolvimento profissional dentro da organização, segundo Melo (2013).Na contratação do auxílio ao executivo ou ao grupo pela organização, são estabelecidos os procedimentos e processos para o encaminhamento rumo às metas definidas, mas sem a diretividade comum à consultoria ou às ordens hierárquicas. Buscam-se o florescimento das potencialidades individuais e o alcance de respostas adormecidas pela prática cotidiana e irreflexiva das funções desempenhadas. Isso torna o indivíduo mais consciente e responsável pelos objetivos que deseja alcançar, o que acarretará ampla vantagem individual e organizacional, conforme aponta Whitmore (2012). Entretanto, Melo (2013) destaca que o alcance dos objetivos e das vantagens decorrentes do coaching nas organizações demanda diversas atividades, como: mudanças de atitudes e hábitos; desenvolvimento de habilidades; preparação para o desenvolvimento de atividades futuras; definição e implementação de liderança; sistematização de metas de negócios e estratégias. Coaching de carreira12 O alcance das vantagens organizacionais pela implementação do coaching será decorrente da eficiência, baseada no desenvolvimento e no amadureci- mento de profissionais comprometidos com resultados. A partir dessa eficiência alcançada, decorrerão benefícios diretos e indiretos a todos os envolvidos, incluindo a organização e seu público interno, como fornecedores, clientes, acionistas e o próprio líder-coach. Nesse sentido, os funcionários ganham um curso prático de liderança e autoconhecimento que nenhuma formação superior ofereceria, conforme aponta Melo (2013). Considerando as questões apresentadas sobre os desafios contemporâneos tanto para a manutenção dos empregos quanto para a busca de novos hori- zontes na carreira, seja no aprimoramento em um cargo ou na mudança de profissão, é sempre desafiador ao indivíduo definir os melhores caminhos para a manutenção da sua empregabilidade e a construção de uma carreira sólida. O coaching de carreira surge como uma metodologia auxiliar nesse processo, pois permite, na interação entre coach e coachee, o estímulo do assessorado à reflexão, a identificação de caminhos mais assertivos e a melhor definição e alcance de metas e objetivos. Assim, o coaching de carreira pode ser considerado uma metodologia que estimula o colaborador na percepção do seu desempenho, das suas ações e dos seus objetivos. Dessa forma, o indivíduo pode reconhecer nas suas práticas cotidianas, muitas vezes pouco ref lexivas, os caminhos e as informações necessárias para buscar alcançar uma maior realização profissional. No link a seguir, você poderá assistir a uma matéria da Globo News que aborda como o coaching aplicado à carreira pode contribuir para acelerar o resultado profissional. Além de contextualizar o coaching de carreira, o vídeo traz uma entrevista com uma profissional coach, que esclarece algumas questões sobre o tema. https://qrgo.page.link/XDGjz 13Coaching de carreira ANDERSON, M. M. M.; TONATO, R. M.; TAVARES, L. M. Transição de carreira: mudança profissional a partir dos 40 anos. Revista de Carreiras e Pessoas, v. 9, n. 1, p. 128-142, 2019. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/ReCaPe/article/view/40597/27557. Acesso em: 10 jul. 2019. CAMPOS, T. M.; PINTO, H. M. N. Coaching nas organizações: uma revisão bibliográfica. Reuna, v. 17, n. 2, p. 15-26, 2012. CHANLAT, J. F. Quais carreiras e para qual sociedade (II). Revista de Administração de Empresas, v. 36, n. 1, p. 13-20, 1996. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rae/v36n1/ a03v36n1.pdf. Acesso em: 10 jul. 2019. COSTA, E. S.; BRUM, V. Coaching e mentoring no processo de gestão de carreira: um estudo sobre a ferramenta GROW e a sua aplicabilidade no contexto empresarial. Revista da Carreiras e Pessoas, v. 6, n. 1, p. 46-62, 2019. Disponível em: http://revistas.pucsp.br/ ReCaPe/article/download/37233/27514. Acesso em: 10 jul. 2019. HALL, D. T. Protean careers of the 21st century. Academy of Management Perspectives, v. 10, n. 4, p. 8-16, 1996. Disponível em: https://journals.aom.org/doi/abs/10.5465/ ame.1996.3145315. Acesso em: 10 jul. 2019. HELAL, D. H; ROCHA, M. O discurso da empregabilidade: o que pensam a academia e o mundo empresarial. Cadernos EBAPE.BR, v. 9, n. 1, p. 139-154, 2011. Disponível em: http://www.spell.org.br/documentos/ver/1330/o-discurso-da-empregabilidade--o- -que-pensam-a-academia-e-o-mundo-empresarial. Acesso em: 10 jul. 2019. INKSON, K. et al. Boundaryless careers: bringing back boundaries. Organization Studies, v. 33, n. 3, p. 323-340, 2012. Disponível em: https://journals.sagepub.com/ doi/10.1177/0170840611435600. Acesso em: 10 jul. 2019. LAVINAS, L. Empregabilidade no Brasil: inflexões de gênero e diferenciais femininos. Bra- sília: IPEA, 2001. Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/2064/1/ TD_826.pdf. Acesso em: 10 jul. 2019. LOLI, F.; TREFF, M. A. O coaching de carreira como recurso facilitador do processo de transição profissional. Revista de Carreira e Pessoas, v. 8, n. 1, p. 41-60, 2018. MARINI, D. A funcionalidade da aplicação do coaching no serviço público. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE GESTÃO DE PROJETOS, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE, 5., 2016, São Paulo. Anais [...]. São Paulo, 2016. MARTINS, B. V.; OLIVEIRA, S. R. Reflexões sobre a empregabilidade dos jovens prove- nientes de cursos superiores de tecnologia. Revista Pensamento Contemporâneo em Administração, v. 11, n. 1, p. 37-54, 2017. MELO, A. R. C. O coaching corporativo como ferramenta para maximizar a eficiência dos colaboradores e a produtividade da organização. Revista Especialize On-line IPOG, v. 6, n. 1, 2013. Coaching de carreira14 MILARÉ, S. A.; YOSHIDA, E. M. P. Intervenção breve em organizações: mudança em coaching de executivos. Psicologia em Estudo, v. 14, n. 4, p. 717-727, 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pe/v14n4/v14n4a12.pdf. Acesso em: 10 jul. 2019. SILVA, C. R. E. Orientação profissional, mentoring, coaching e counseling: algumas singularidades e similaridades em práticas. Revista Brasileira de Orientação Profissional, v. 11, n. 2, p. 299-309, 2010. VASCONCELLOS, M. R.; BIANCHI, E. M. P. G. Modelos contemporâneos de carreira e estilos cognitivos: possibilidades de associação teórica para o profissional empreendedor. NAVUS — Revista de Gestão e Tecnologia, v. 8, n. 3, p. 66-80, 2018. WHILTMORE, J. Coaching para aprimorar o desempenho. São Paulo: Clio Editora, 2012. 15Coaching de carreira
Compartilhar