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Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX TUMORES DO SNC CITOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO Os neurônios normais possuem núcleo arredondado, central e claro (cromatina descondensada) e possuem nucléolo bem evidente. No corpo celular está o Corpúsculo de Nissl que são estruturas basofílicas compostas por REG e ribossomos e é importante para a manutenção da estrutura. O neurônio vermelho apresenta alteração na estrutura do corpúsculo, ele deixa de ser basofílico e se torna eosinofílico. Os astrócitos podem ser de vários tipos, mas a principal função deles é a de nutrição e sustentação do SNC. Os astrócitos protoplasmáticos se localizam na substância branca e possuem corpo arredondado, de onde partem numerosos prolongamentos citoplasmáticos, sendo estes grossos e intensamente ramificados. Alguns destes prendem-se à parede endotelial dos capilares sanguíneos, sendo chamados de pés-vasculares. Já os astrócitos fibrosos apresentam corpo celular de forma irregular, de onde partem numerosos prolongamentos citoplasmáticos, sendo estes muito ramificados. Alguns destes também formam pés-vasculares. Os tumores que se originam dos astrócitos são denominados astrocitomas. A micróglia é um tipo de célula derivada de precursores da medula óssea fazendo parte do sistema mononuclear fagocitário, ou seja, é um macrófago responsável pela defesa. Possui corpo pequeno e alongado, com núcleo denso e também alongado, com prolongamentos curtos e irregulares, quando em estado inativo. Quando ativadas, retraem os prolongamentos, assumindo atividade fagocítica e apresentadora de antígeno. Os oligodendrócitos são importantes na formacao da bainha de mielina do SNC. Eles apresentam o corpo celular, geralmente com a forma hexagonal de onde partem poucos prolongamentos citoplasmáticos, sendo estes finos e pouco ramificados. A primeira foto é um HE, que representa o neurônio com seu corpo neuronal e o axônio. No corpo neuronal é possível visualizar o núcleo arredondado e central com a cromatina clara e o nucléolo evidente. No citoplasma há estruturas filamentosas basofílicas, que são os corpúsculos de Nissl. Já na segunda imagem, os astrócitos são as duas primeiras estruturas, a micróglia com seus vários prolongamentos e os oligodendrócitos. Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Figura 1 – Células do SNC TUMORES DO SNC É importante conhecer os tumores do SNC porque eles incidem em todas as faixas etárias, sendo as neoplasias malignas mais frequentes em crianças depois das leucemias. Existem lesões benignas e com variados de malignidade. E algumas lesões de baixo grau de malignidade sofrem evolução para tumores agressivos de alto grau: grau II pode evoluir para grau III ou IV. A suspeita se inicia pela clínica, que varia de acordo com o tamanho e a localização da lesão. Será feito TC e RNM que confirmam a existência de lesão expansiva no SNC. Em seguida, é obrigatório fazer exames anatomopatológicos para avaliar o grau da lesão e prognostico do paciente. A biopsia pode ser estereotáxica, em que não se faz a ressecção completa da lesão e o patologista recebe apenas um fragmento do tecido lesado. Ou ainda pode ser feita a biopsia completa em cirurgia aberta, tentando ressecar o máximo de tumor possível. A amostra mais ampla permite um diagnóstico mais certeiro. Como já foi dito, as lesões podem ser tanto benignas quanto malignas. Dependendo de onde estiver localizado o tumor, mesmo que seja lesão benigna, pode ter comportamento letal. Um exemplo disso é uma lesão benigna no bulbo que pode causar PCR por compressão. Além disso, é preciso fazer diagnóstico diferencial entre lesão primária e metastática já que o SNC é sede frequente de metástases. É sempre bom lembrar que em lesões infiltrativas pode não ser possível fazer a ressecção total da lesão sem comprometer a função neurológica do paciente. Assim, não é possível fazer margem cirúrgica. Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Os tumores do SNC são classificados de acordo com o tipo de célula que deu origem ao tumor. A classificação é feita pela OMS, assim como em todos os tumores. Tumores do tecido neuroepitelial ∟ Tumores astrocitários ∟ Tumores oligodendrogliais Tumores ependimários Tumores neuronais Tumores dos nervos periféricos Tumores das meninges Tumores de outros componentes Tumores metastáticos Além da classificação em relação ao tipo histológico, é necessário classificar em relação ao grau. Essa classificação permite avaliar o prognóstico e o comportamento da lesão. Essa graduação é baseada em características citológicas e arquiteturais: grau de atipia, necroses, mitoses atípicas, proliferação acentuada de capilares (no caso de astrocitomas) etc. Grau I: benignas. Grau II: baixo grau de malignidade. Grau III: grau moderado de malignidade. Grau IV: alto grau de malignidade. → Na classificação de 2016, além da graduação baseada em características citológicas e arquiteturais, é preciso fazer a classificação de acordo com as características moleculares. Assim, além do HE é preciso fazer imunohistoquímica ou PCR para avaliar mutações que caracterizam cada grupo de tumores. É necessário combinar classificação fenotípica e genotípica dos tumores. Em locais que não é possível fazer essa outra classificação, é obrigatório escrever no laudo que não foi realizada e que é necessário enviar para outro serviço para fazer. Na avaliação inicial o paciente apresenta disfunção cerebral focal e aumento da pressão intracraniana, dependendo do tamanho do tumor. Assim, serão feitos exames de imagem (TC e RNM) para a investigação do diagnóstico. É necessário fazer diagnóstico diferencial com outras lesões expansivas do SNC: hematomas, abscessos, granulomas, Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX infecções parasitárias (cisticercose), malformações vasculares e AVC (principalmente hemorrágico). Astrocitomas Esse grupo de tumores é extremamente importante porque neles há o principal tumor do SNC presente em adultos, o gliobastoma. É o principal porque, além do prognóstico ruim, é bem frequente. Os astrocitomas são divididos em dois grupos: Astrocitomas infiltrantes difusos → malignos ∟ Astrocitoma difuso (Grau II). ∟ Astrocitoma anaplásico (Grau III). ∟ Gliobastoma (Grau IV). Astrocitomas pilocíticos → benignos (Grau I). Os astrocitomas infiltrantes difusos são os tumores mais frequentes do SNC e acometem pacientes entre a 4ª e a 6ª décadas de vida. De maneira geral, a localização preferencial é nos hemisférios cerebrais, cerebelo, tronco ou medula. A clínica é a de disfunção cerebral focal de acordo com a localização. Como é uma lesão infiltrativa, no exame de imagem os limites da lesão serão pouco nítidos e pouco delimitados. a) Astrocitoma fibrilar difuso Esse tipo histológico é de grau II, possuindo um baixo grau de malignidade. Porém ele pode recidivar para graus maiores. Macroscopicamente é uma lesão de limites pouco definidos com presença de pequenos cistos no interior. Figura 2 – Macroscopia e TC Astrocitoma difuso Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Na microscopia será visualizado um fundo fibrilar e um aumento da celularidade, em relação ao parênquima normal. Não há necrose e mitose. Pode ser difícil de avaliar se é lesão benigna ou maligna porque o aumento da celularidade pode ser discreto. Figura 3 – Microscopia astrocitoma fibrilar b) Astrocitoma anaplásico Esse tipo histológico é grau III, ou seja, possui potencial para malignidade. Na microscopia a celularidade observada é maior do que a do grau II. As atipias são mais proeminentes com núcleos grandes e hipercromáticos e com diminuição do citoplasma. Já é observado as figuras de mitose. O fundo fibrilar se mantém, mas ele não é tão evidente porque o maior aumento da celularidade “esconde” ele. Figura 4 – Microscopia astrocitoma anaplásicoc) Glioblastoma É o tumor primário maligno mais frequente do SNC e é o glioma mais comum. Acomete adultos entre 45 e 70 anos, porém tem-se observado diminuição dessa faixa etária de incidência. Esse tipo histológico é grau IV, ou seja, é de alto grau de malignidade. Além disso, é uma neoplasia muito agressiva com crescimento rápido e destruição de grandes áreas do parênquima. Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Lesão infiltrativa com áreas de necrose ao exame de imagem, a primeira suspeita é glioblastoma. O prognóstico é muito ruim, sendo que a maioria dos pacientes morre em até 1 ano e meio do diagnóstico. Os últimos estudos realizados informam que há uma droga que aumenta a sobrevida dos pacientes em 13 a 14 meses. Ademais, o glioblastoma é um tumor que recidiva com alta frequência, mesmo após cirurgia, radio ou quimioterapia já que nem sempre é possível fazer ressecção de toda a lesão devido ao seu caráter infiltrativo. O que o diferencia do grau III é a presença de áreas de necrose. Ao exame de imagem já começa a suspeita de que é uma lesão com grau maior. As áreas centrais mais hipodensas estão relacionadas com a necrose. Em torno delas há uma hiperdensidade, relacionada ao edema. O edema perilesional leva ao efeito de massa importante. Além disso, não é rara a existência de extensão contralateral: a lesão começa em um hemisfério e progride para o outro. Figura 5 – TC glioblastoma Macroscopicamente, o tumor é volumoso e a lesão é mais friável por conta da necrose. Essa necrose leva à destruição do parênquima. Além disso, há desvio de linha média por conta do efeito de massa. E não é possível delimitar a lesão, porque ela é infiltrativa. Figura 6 – Macroscopia glioblastoma Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Ao exame de imagem, é possível ver uma lesão crescendo no lobo temporo- parietal de um dos hemisférios. Nela há uma área mais hipodensa central e o edema perilesional, possivelmente por conta de necrose. Já na peça de necropsia, é possível ver uma lesão em um dos hemisférios que cresceu em direção ao outro com desvio de linha média pelo efeito de massa. Figura 7 – TC e microscopia glioblastoma Na microscopia será visto uma grande celularidade com atipias acentuadas. Os núcleos são chamados de bizarros: possuem contorno irregular e são muito grandes, praticamente não vê citoplasma. Há extensas áreas de necrose, principalmente circundada por células em paliçada, que são células são organizadas em sentido vertical (como se fosse uma cerca) em torno da necrose. Além disso, é possível ver a proliferação vascular. Pode haver mitoses. Figura 8 – Microscopia glioblastoma Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Figura 9 – Glioblastoma com mitose Além disso, na microscopia ainda pode ter a proliferação endotélio-capilar. Na imagem abaixo apenas um capilar em que apenas um segmento foi afetado por essa proliferação. Note o segmento normal do capilar em que há apenas uma camada de células, ao contrário da outra porção que está proliferada e há aumento da espessura da parede. A alta taxa de proliferação vascular do tumor e o fato de a proliferação endotélio-capilar diminuir a luz do capilar levam à necrose. Figura 10 – Proliferação endotélio-capilar do glioblastoma A parede do capilar cerebral normal é bem fina, o espaço entre as células endoteliais é grande e essas células são achatadas. Já nos casos de proliferação endotelial, há uma proximidade entre as células. A proliferação pode ser tão intensa que chega ao aspecto glomeruloide (o glomérulo é uma estrutura que apresenta capilares enovelados). Em cada grau da classificação acrescenta uma característica na microscopia: Grau II: aumento da celularidade com atipias discretas. Grau III: maior aumento da celularidade + mitoses. Grau IV: maior aumento da celularidade + atipias acentuadas + necrose em paliçada + proliferação vascular. Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Figura 11 – Proliferação endotelial Pacientes com suspeita de glioblastoma precisam ir direto para a sala de cirurgia para tentar ressecar o máximo de tumor possível. O diagnóstico é posterior à cirurgia. Geralmente os pacientes são bastante sintomáticos porque já possuem um efeito de massa importante. d) Astrocitoma pilocítico É o tumor de comportamento benigno, grau I da OMS. Ele acomete mais crianças e adultos jovens. Sua localização preferencial é no quiasma e nervos ópticos e cerebelo. Assim, a clínica está associada à disfunção focal, perda visual, sinais de hipertensão intracraniana, estrabismo e ataxia. Seu crescimento é lento, por exemplo: o paciente pode apresentar essa lesão desde os 8 anos mas só cursa com sinais de HIC aos 30. Macroscopicamente são lesões bem delimitadas e não infiltrativas. Se for encontrada no cerebelo, geralmente a lesão se localiza no vermis cerebelar. Já na microscopia haverá um discreto aumento da celularidade com fundo fibrilar e sem mitose. Além do fundo fibrilar, há inclusões proteicas no interior dos prolongamentos astrocitários (fibras de Rosenthal). Essas fibras não são vistas na microscopia do grau II, porém elas não são patognomônicas do astrocitoma pilocítico. Figura 12 – Astrocitoma pilocítico no cerebelo Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Figura 13 – Microscopia astrocitoma pilocítico → Tanto no grau I quanto no grau II há aumento da celularidade sem mitose, então o que ajuda na hora do diagnóstico? O exame de imagem, a idade do paciente e as localizações mais frequentes. No caso do grau I, na TC será visto uma lesão com bordas bem delimitadas e não infiltrativas e os pacientes serão mais jovens. Já no grau II, a lesão estará em hemisfério cerebral, provavelmente. Oligodendroglioma Correspondem de 5 a 10% dos gliomas e são mais frequentes entre a 4ª e 5ª décadas de vida. Na grande maioria dos casos são de baixa malignidade, sendo grau II da OMS. Em alguns casos pode ter o oligodendroglioma anaplásico (grau III), dependendo da frequência das mitoses e das atipias. Sua localização mais frequente é nos hemisférios cerebrais e a clínica é de disfunção focal de acordo com a região acometida. Seu crescimento é lento e sua evolução é longa. A característica microscópica do oligodendroglioma é a presença de células com núcleo central e arredondado com um halo claro perinuclear. Quem descreveu a lesão, relatou que se assemelha a um ovo frito: núcleo é a clara e a gema o halo perinuclear. Figura 14 – Microscopia oligodendroglioma Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Meduloblastoma É o segundo tumor intracraniano mais frequente em pacientes com menos de 20 anos preferencialmente do sexo masculino, correspondendo de 16 a 20% dos casos. Possui alta malignidade, então é grau IV. O crescimento da lesão é rápido. Ele se origina de células indiferenciadas que formam a camada granular externa do córtex cerebral ou do córtex cereberal. Assim a suspeita começa no exame de imagem pela presença de uma lesão em córtex de pacientes com menos de 20 anos de idade. Figura 15 - Camadas do córtex. A principal localização é o cerebelo, geralmente em linha mediana nas crianças e no hemisfério cerebelar no caso de adultos. A lesão pode se propagar precocemente para outras regiões do encéfalo e da medula. Na clínica há disfunção focal, bloqueio liquórico nos casos de invasão do IV ventrículo levando à hidrocefalia, sinais e sintomas de hipertensão intracraniana e síndrome cerebelar (principalmente marcha atáxica). Na peça abaixo, é possível ver a lesão macroscópica na região central do cerebelo. Já na microscopia, há alta celularidade e as células são indiferenciadas. As são células pequenas com citoplasma escasso podendo formar rosetas neuroblásticas. No centro há apenas fundo fibrilar e em torno dele há o arranjo de células ao redor,se assemelhando a uma flor pequena. Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Figura 16 – Meduloblastoma Ependimoma É outro tipo de tumor grau II com baixo potencial de malignidade. Frequente na 1ª e na 2ª década de vida. Origina-se das células ependimárias que revestem o sistema ventricular, assim sua localização é intraventricular ou no canal central da medula espinhal, que também é revestido por células ependimárias. A clínica está associada à obstrução ventricular e o paciente cursa com hidrocefalia obstrutiva. Figura 17 – Hidrocefalia obstrutiva no ependimoma Na microscopia, as células são pequenas e com citoplasma escasso. Também há formação de rosetas: o centro é vazio, mas o fundo é fibrilar. Além disso, pode ter pseudorrosetas perivasculares que são as células se organizando em paliçada em torno de um vaso sanguíneo. Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Figura 18 – Microscopia ependimoma Meningeomas Em sua maioria são tumores benignos (grau I) de adultos, sendo mais frequente em mulheres. São tumores que se originam da meninge, assim é mais comum encontrá- los aderidos à dura-máter. O diagnóstico já é bem sugestivo ao exame de imagem e a microscopia é para confirmar. Na grande maioria das vezes o crescimento é lento e os sintomas dependem da localização do tumor, podendo ser: HIC, compressão de nervos cranianos, convulsão etc. Na macroscopia é visualizada uma lesão bem delimitada que está aderida à meninge. Pode ter efeito de massa dependendo do tamanho da lesão. A lesão pode comprimir o tecido nervoso. Na microscopia haverá células em arranjos arredondados que possuem núcleo arredondado, citoplasma amplo e a cromatina é frouxa. Além disso, pode haver focos de calcificação associados. Pode ter a presença de corpos psamomatosos. Figura 19 – Meningeoma Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Figura 20 – Microscopia meningeoma Metástases cerebrais O SNC é sede frequente de metástases por via sanguínea e essa é uma causa importante de morbi-mortalidade para o paciente oncológico porque geralmente são várias lesões nodulares. Os tumores mais frequentes que metastatizam para o cérebro são: carcinoma de pulmão, de mama, renal e melanoma. Apresentam-se como nódulos arredondados localizados nos hemisférios cerebrais, na junção entre o córtex cerebral e a substância branca porque é nessa região que há uma alta vascularização, permitindo a chegada dos êmbolos neoplásicos por via hematogênica. Em 50% dos casos de metástases há nódulos múltiplos. Pode ou não ter necrose e isso depende de qual é o foco primário de lesão. Figura 21 – Nódulos múltiplos no SNC
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