Buscar

Membros problematicos de grupos

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

• • 
• • 
• 
• • 
• • 
Membros problematicos de grupos 
Ainda estou para encontrar urn paciente 
que nao seja problematico, que navegue pelo 
curso da terapia como urn navio recem-bati-
zado, escorregando pela rampa ate a agua. 
Cada membro de grupo deve ter urn proble-
ma: 0 sucesso da terapia depende de cada in-
dividuo encontrar e aprender a lidar com os 
problemas basicos da vida no aqui-e-agora do 
grupo. Cada problema e complexo, determi-
nado e linico. A inten<;ao deste livro nao e 
promover urn compendio de solu<;6es para 
problemas, mas descrever uma estrategia e urn 
conjunto de tecnicas que possibilitem que 0 
terapeuta se ada pte a qualquer problema que 
surja no grupo. 
A expressao "paciente problematico" ja e 
problematica por si s6. Tenha em mente que 0 
paciente problematico raramente existe em urn 
vacuo, mas e urn amrugama que consiste de di-
versos componentes: a propria psicodinamica 
do paciente, a dinamica do grupo e as intera-
<;6es do paciente com os outros membros e 0 
terapeuta. Geralmente, superestimamos 0 papel 
do carater do paciente, enquanto subestima-
mos 0 papel do contexto interpessoal e social.1 
Determinadas constela<;6es comporta-
mentais ilustrativas merecem particular aten-
<;ao por causa de sua ocorrencia comum. Urn 
questionario enviado pela Associa<;ao Norte-
Americana da Psicoterapia de Grupo para 
terapeutas de grupo atuantes inquiriu sobre as 
quest6es criticas que 0 terapeuta de grupo deve 
dominar. Mais de 50% responderam: "Traba-
lhar com pacientes diHceis". 2 Dessa forma, nes-
te capitulo, voltamos nossa aten<;ao para pa-
cientes diHceis e discutimos especificamente 
oito tipos cImicos problematicos: 0 monopoliza-
dor, 0 paciente silencioso, 0 paciente aborreci-
do, 0 queixoso que rejeita ajuda, 0 paciente 
psicotico ou bipolar, 0 paciente esquizoide, 0 
paciente borderline e 0 paciente narcisista. 
o MONOPOUZADOR 
A besta negra de muitos terapeutas de gru-
po e 0 monopolizador, uma pessoa que parece 
for<;ada a tagarelar incessantemente. Esses in-
dividuos ficam ansiosos quando estao em silen-
cio. Se outros tomam a palavra, eles se inserem 
novamente com uma variedade de tecnicas: 
correr para preencher 0 menor silencio, respon-
der a cada afirma<;ao dita no grupo, responder 
continuamente aos problemas da pessoa que 
esta falando dizendo "tambem sou assim". 
o monopolizador pode descrever conver-
sas com outras pessoas (muitas vezes assumin-
do diversos papeis na conversa) em detalhes 
interminaveis ou apresentando relatos de ma-
terias de revistas e jornais que podem ser ape-
nas levemente relevantes para 0 problema do 
grupo. Esses monopolizadores mantem a pa-
lavra assumindo 0 papel de interrogador. Uma 
mulher bloqueava 0 grupo com tantas quest6es 
e "observa<;6es" que impossibilitava qualquer 
oportunidade para os membros interagirem ou 
refletirem. Finalmente, quando os outros mem-
bros a confrontaram furiosamente sobre 0 seu 
310 IRVIN D. YALOM 
efeito perturbador, ela explicou que tinha medo 
do silencio, pois ele a lembrava da "calmaria 
antes da tempestade" em sua familia - 0 silen-
cio que precedia os surtos explosivos e violen-
tos do seu pai. Outros capturam a aten<;ao dos 
membros provocando-os com material bizar-
ro, chocante ou sexualmente picante. 
Pacientes instaveis que tern urna veia dra-
matica podem monopolizar 0 grupo pelo meto-
do da crise: eles regularmente apresentam gran-
des problemas de vida para 0 grupo, que sempre 
exigem aten<;iio urgente e prolongada. Outros 
membros intimidam-se e ficam em silencio, pois 
seus problemas parecem trivia is em compara-
<;ao. ("Nao e facil interromper E 0 Vento Levou", 
como colocou urn membro de urn grupo.) 
Efeitos sobre 0 grupo 
Embora 0 grupo possa, na reuniao inicial, 
aceitar e talvez ate estimular 0 monopolizador, 
o humor logo se transforma em frustra<;ao e 
raiva. Alguns membros de grupos preferem nao 
silenciar outro membro por medo de incorre-
rem na obriga<;ao de preencher 0 silencio. Eles 
preveem a replica 6bvia: "Ok, eu calo a boca e 
voce fala". E e claro que nao e possfvel falar 
em urn clima tense e protegido. Os membros 
que nao sao particularmente assertivos podem 
nao ITdar diretamente com 0 monopolizador 
por algum tempo. Em vez disso, eles fervem 
em silencio ou fazem ataques hostis indiretos. 
Geralmente, os ataques obliquos contra 0 mono-
polizador apenas agravam 0 problema e ali-
men tam 0 ciclo vicioso. 0 discurso compulsivo 
do monopolizador e uma-tentativa de lidar com 
a ansiedade. A medida que 0 paciente sente a 
tensao e 0 ressentimento crescendo no grupo, 
sua ansiedade aumenta, juntamente com a ten-
dencia de falar compulsivamente. Nesses mo-
mentos, alguns monopolizadores tern conscien-
cia de que criam uma cortina de fuma<;a de 
palavras para impedir que 0 grupo fa<;a urn 
ataque direto. 
Finalmente, essa fonte de tensao nao-re-
solvida tera urn efeito prejudicial sobre a coe-
sao - urn efeito que se manifesta por meio de 
sinais de perturba<;ao do grupo como brigas 
indiretas e deslocadas do alvo, absentefsmo, 
desistencias e a forma<;ao de subgrupos. Quan-
do 0 grupo enfrenta 0 monopolizador, geral-
mente e com urn estilo e brutal. 0 
porta-voz do grupo geralmente recebe apoio 
unanime - ja testemunhei ate uma rod ada de 
aplausos. 0 monopolizador pode entao ficar 
amuado, permanecer em completo silencio por 
uma ou duas reunioes ("veremos 0 que eles 
farao sem mim") ou deixar 0 grupo. De qual-
quer jeito, todos obtem poucos resultados tera-
peuticos com tudo isso. 
terapeuticas 
Como pode 0 terapeuta interromper 0 
monopolizador de maneira terapeuticamente 
efetiva? Apesar da maior provoca<;ao e tenta-
<;ao de gritar com 0 paciente ou de silencia-lo 
por decreto, urn ataque desses tern pouco va-
lor (exceto como uma catarse temporaria para 
o terapeuta). 0 paciente nao tern beneficios: 
nao M aprendizado, a ansiedade subjacente 
ao discurso do paciente persiste e, 
sem duvida, voltara em salvas monopolizadoras 
ou, se nao houver uma v<ilvula de escape, for-
<;ara 0 paciente a abandonar 0 grupo. 0 grupo 
tam bern nao tern beneffcios. Independente-
mente das circunstancias, os OUtIOS se senti-
rao amea<;ados pelo terapeuta ter silenciado 
urn dos membros de maneira autoritaria. Plan-
ta-se uma semente de cautela e medo na men-
te de todos os membros, e eles come<;am a ques-
tionar se terao semelhante destino. 
Entretanto, 0 comportamento monopoli-
wdor deve ser analisado e geralmente isso e 
tarefa do terapeuta. Embora 0 terapeuta deva 
esperar que 0 grupo lide com os seus proble-
mas, 0 membro monopolizador e urn proble-
ma que 0 grupo, e especialmente urn grupo 
jovem, muitas vezes nao consegue enfrentar. 0 
paciente monopolizador representa uma amea-
c;a para os seus fundamentos metodol6gicos: 
os membros do grupo sao estimulados para 
falar no grupo, mas esse membro especifico 
deve ser silenciado. 0 terapeuta deve impedir 
a elabora<;ao de normas que obstruam a tera-
pia e, ao mesmo tempo, impedir que 0 pacien-
te monopolizador cometa suicfdio social. Vma 
abordagem de duas vias e mais efetiva: consi-
dere 0 monopolizador e 0 grupo que se deixou 
ser monopolizado. Essa abordagem reduz 0 
perigo de haver bodes expiatorios e ilumina 0 
papel que 0 grupo desempenha no comporta-
mento de cada membro. 
Do ponto de vista do grupo, tenha em men-
te 0 princfpio de que a psicologia individual e 
a do grupo sao intricadamente entremeadas. 
Nenhum paciente monopolizador existe em 
urn vacuo: 0 paciente sempre reside em urn 
equilfbrio dinamico com urn grupo que permi-
te ou estimula tal comportamento.3 Assim, 0 
terapeuta po de questionar por que 0 grupo 
permite ou estimula urn membro a carregar 0 
fardo de toda a reuniao. Esse questionamento 
pode surpreender os membros, que se perce-
bern apenas como vitimas passivas do monopo-
lizador. Apos os protestos iniciais serem traba-
lhados, os membros do grupo podem entao 
aproveitar e examinar a maneira como explo-
ram 0 monopolizador. Por exemplo, talvez eles 
se sentissem aliviadospor nao terem de parti-
cipar verbalmente do grupo. Eles podem ter 
permitido que 0 monopolizador fizesse todas 
as suas revela<;oes, ou parecesse tolo, ou agis-
se como urn para-raios para a raiva dos mem-
bros do grupo, enquanto eles mesmos assu-
miam pouca responsabilidade pelas tarefas te-
rapeuticas do grupo. Quando os membros re-
velam e discutem as razoes para a sua inativi-
dade, aumenta 0 seu comprometimento com 0 
processo terapeutico. Eles podem, por exem-
plo, discutir seu medo da assertividade, ou de 
prejudicar 0 monopolizador, ou de urn ataque 
de algum membra ou do terapeuta em retalia-
<;ao. Podem preferir nao chamar a aten<;ao do 
grupo para nao expor a sua avareza e podem 
se deleitar secretamente com a sina do mono-
polizador e gostar de fazer parte da maio ria 
vitimada e desapravadora. A revela<;ao de qual-
quer uma dessas questoes por urn paciente que 
ainda nao estava envolvido significa progres-
so e maior envolvimento na terapia. 
Em urn grupo, por exemplo, uma mulher 
submissa e cronicamente deprimida, Sue, ex-
plodiu com uma raiva inusitada e cheia de ex-
pletivos em resposta ao comportamento mono-
polizador de outro membro. A medida que ex-
plorau a sua explosao, Sue logo reconheceu 
que a sua raiva na verdade era voltada para 
PSICOTERAPIA DE GRUPO 311 
dentro, partindo de sua propria repressao de 
si mesma, sua passividade, por evitar as suas 
proprias emo<;oes. "Minha explosao foi cons-
trufda durante 20 anos", disse Sue, enquanto 
pedia desculpas e agradecia ao seu surpreso 
"antagonista" por cristalizar essa consciencia. 
A abordagem do grupo a esse problema deve 
ser complementada por meio de trabalho com 0 
indiv{duo monopolizador. 0 princfpio basico e 
simples: nao se deseja silenciar 0 monopoliza-
dor, nao se deseja ouvir menos do paciente -
deseja-se ouvir mais. A aparente contradi<;ao se 
resolve quando consideramos que 0 monopoli-
zador usa 0 seu discurso compulsivo para se 
esconder. As questoes que 0 monopolizador 
apresenta para 0 grupo nao refletem preocu-
pac;oes pessoais profundas de maneira precisa, 
mas sao escolhidas por outras razoes: entreter, 
ganhar aten<;ao, justificar uma posi<;ao, apre-
sentar queixas, e assim por diante. Dessa for-
ma, 0 monopolizador sacrifica a oportunidade 
de fazer terapia pela necessidade insaciavel de 
atenc;ao e contra Ie. Embora cada terapeuta 
construa intervenc;6es segundo seu estilo pes-
soal, a mensagem essencial para os monopoli-
zadores deve ser que, por meio de seu discur-
so compulsivo, eJes seguram 0 grupo e impe-
dem que os outros se relacionem com eJes de 
maneira significativa. Assim, nao se deve rejei-
ta-Ios, mas fazer urn convite para que se envol-
yam de forma mais integral no grupo. Se tiver 
o objetivo unico de silenciar 0 paciente, voce 
tera, de fato, abandonado 0 objetivo terapeu-
tico e sera ate melhor retirar aquele membra 
do grupo. 
As vezes, apesar de urn cuidado conside-
ravel por parte do terapeuta, 0 paciente conti-
nuara a entender apenas a mensagem: "Entao 
voce quer que eu cale a boca!" Esses pacientes 
acabarao deixando 0 grupo, seguidamente per-
turbados ou com raiva. Embora este seja urn 
evento perturbador, as conseqiiencias da inati-
vidade do terapeuta sao muito piores. Ainda que 
os membras remanescentes possarn lastimar a 
safda daquele membro, nao e incomum que eles 
reconhe<;am que eles mesmos estavam a beira 
de sair, se 0 terapeuta nao tivesse intervindo. 
Alem de seu comportamento nitidamen-
te fora dos padr6es esperados no grupo, 0 sis-
tema sensorial social dos monopolizadores tem 
312 IRVIN O. YALOM 
uma grande limitac;ao. Eles parecem peculiar-
mente inconscientes de seu impacto interpes-
soal e da resposta dos outros a eles. Alem dis-
so, nao possuem a capacidade ou a incIinac;ao 
para sentir empatia pelos outros. 
Dados de urn estudo explorat6rio corro-
boram essa concIusao.4 Solicitou-se que pacien-
tes e estudantes observadores preenchessem 
urn questionario ao final de cada reuniao do 
grupo. Uma das areas exploradas foi a ativida-
de. Os participantes deveriam avaliar os mem-
bros do grupo, incIuindo eles mesmos, com 
relac;ao ao numero total de palavras pronun-
ciadas durante a reuniao. Houve excelente fi-
dedignidade nas avaliac;oes da atividade entre 
os membros do grupo e os observadores, com 
duas excec;6es: (1) as avaliac;oes da atividade 
do terapeuta pelos pacientes apresentavam 
grandes discrepancias (uma func;ao da trans-
ferencia; ver 0 Capitulo 7), e (2) os pacientes 
monopolizadores se colocaram muito abaixo 
nas avaliac;6es de atividade do que os outros 
membros, que costumavam ser unanimes em 
cIassificar 0 monopolizador como 0 membro 
mais ativo da reuniao. 
o terapeuta, entao, deve ajudar 0 mono-
polizador a observar a si mesmo, incentivando 
o grupo a fornecer-Ihe feedback empatico e 
constante a respeito do seu impacto sobre os 
outros.5 Sem esse tipo de orientac;ao do lfder, 0 
grupo pode dar feedback de maneira des cone-
xa e explosiva, 0 que apenas torna 0 monopo-
lizador defensivo. Essa sequencia tern pouco 
valor terapeutico e simplesmente recapitula urn 
drama e urn papel que 0 paciente ja desempe-
- nhou muitas vezes. 
• Na entrevista inicial, Matthew, urn monopo-
lizador, recIamou de seu relacionamento 
com a sua esposa, que, segundo dizia, cos-
tuma recorrer subitamente a taticas pesa-
das como humilha-Io em publico ou acusa-
10 de infidelidade na frente dos seus filhos. 
Essa abordagem agressiva nao produzia 
nada nesse homem e, assim que as feridas 
saravam, ele e sua esposa comec;avam 0 ci-
cIo novamente. Nas primeiras reunioes, a 
mesma seqiiencia ocorreu no micro cosmo 
social do grupo: devido ao seu comporta-
mento monopolizador, suas crfticas e sua 
incapacidade de ouvir a resposta dos mem-
bros a ele, 0 grupo 0 encurralou cada vez 
mais, ate que, quando foi forc;ado a ouvir, a 
mensagem pareceu cruel e destrutiva. 
o terapeuta deve ajudar a aumentar a 
receptividade do paciente ao feedback. Talvez 
voce precise ser fume e diretivo, dizendo, por 
exemplo: "Charlotte, acho que seria melhor 
voce parar de falar; pois estou sentindo que ha 
sentimentos importantes sobre voce no grupo 
que the seriam uteis". Talvez voce tambem te-
nha que ajudar os membros a revelar suas res-
postas a Charlotte, em vez de suas interpreta-
c;oes dos motivos dela. Conforme descrito an-
teriormente nas sec;6es sobre 0 feedback e a 
aprendizagem interpessoal, e muito mais pro-
veitoso e aceitavel dizer algo como "quando 
voce fala desse jeito, eu sinto ... " do que "voce 
esta se comportando assim porque ... " 0 pacien-
te po de considerar as interpretac;oes motivacio-
nais como acusac;6es, mas tera mais dificulda-
de para rejeitar a validade das respostas subje-
tivas dos outros.Y 
Comfreqilencia, confundimos ou trocamos 
os conceitos de manifesta(;iio res-
posta e causa. A causa do comportamento 
monopolizador pode variar consigeravelmen-
te de paciente para paciente: alguns individuos 
falam para se controlar, muitos sentem tanto 
medo de ser influenciados ou invadidos pelos 
outros que defendem suas decIarac;6es compul-
sivamente, e outros exageram tanto 0 valor de 
suas ideias e observac;6es que nao conseguem 
esperar e precisam expressar todos os seus pen-
samentos imediatamente. Geralmente, a cau-
sa ou a intenc;ao real do comportamento do 
monopolizador nao e compreendida ate muito 
depois na terapia, e a interpretac;ao da causa 
po de ajudar pouco no manejo de padroes de 
comportamento diruptivos. E muito mais efeti-
vo concentrar-se na manifestar;ao do self do pa-
ciente no grupo e na resposta dos outros mem-
bros ao seu comportamento. De maneira cor-
tes mas repetida, devem-se confrontar os mem-
bros com 0 paradoxo de que, nao importa 0 
quanta possam desejar que os outros os acei-
tern e respeitem, eles persistem em urn com-
portamento que produz apenas irritac;ao, re-
jeic;ao e frustrac;ao. 
Urn exemplo cUnieo de muitas dessas 
questoes ocorreu em urn grupo de terapia em 
urn hospital/prisao psiquiatrieo onde agres-
soressexuais estavam encarcerados: 
• Walt, que estava no grupo havia tres sema-
nas, comec;ou urn longo e conhecido tribu-
to a notavel melhora que tinha feito. Des-
creveu em detalhes minuciosos a maneira 
como seu problema era que ele nao havia 
entendido os efeitos prejudiciais que seu 
comportamento tinha sobre os outros e 
como agora, tendo chegado a esse entendi-
mento, estava pronto para sair do hospital. 
o terapeuta observou que alguns dos mem-
bros estavam irrequietos. Urn deles baria le-
vemente com 0 punho na palma da mao, 
enquanto outros permaneciam sentados em 
uma posrura de indiferenc;a e resignac;ao. 
Ele interrompeu 0 monopolizador, pergun-
tando aos outros membros do grupo quan-
tas vezes eles ja tinham ouvido Walt fazer 
esse relato. Todos concordaram que ouviam 
a mesma hist6ria todas as reunioes - de fato, 
ouviram Walt falar assim na primeira reu-
niao. Alem disso, eles nunca 0 haviam ou-
vido falar em mais nada, e somente 0 co-
nheciam como uma hist6ria. Os membros 
discutiram a sua irritac;ao com Walt, sua 
relutancia em ataca-Io por medo de machu-
ca-Io seriamente, de perder 0 controle so-
bre si mesmos ou de uma retaliac;ao dolo-
rosa. Alguns falaram de ter perdido a espe-
ranc;a de tocar Walt e do fato de que ele 
somente se relacionava com eles como es-
tere6tipos de fig-mas humanas, sem carne 
ou profundidade. Outros ainda falaram de 
sentir medo de falar e se revelar no grupo. 
Portanto, aceitavam a monopolizac;ao de 
Walt. Alguns membros expressaram sua to-
tal falta de interesse ou fe na terapia e, as-
sim, nao interceptavam Walt por causa de 
sua apatia. 
Dessa forma, 0 processo ja estava determi-
nado: uma variedade de fatores interliga-
dos resultava em urn equilibrio dinamico, 
chamado monopolizac;ao. Interrompendo 0 
processo desgovernado, descobrindo e tra-
balhando os fatores subjacentes, 0 terapeuta 
tirou 0 maximo beneficio terapeutico de urn 
PSICOTERAPIA DE GRUPO 313 
fenameno de grupo potencialmente debili-
tante. Cada membro se aproximou do 
envolvirnento no grupo. Walt nao pade mais 
participar de urn modo que nao pudesse ser 
util para si mesmo ou para 0 grupo. 
E essencial orientar 0 paciente monopo-
lizador para 0 processo auto-reflexivo de tera-
pia. Digo a esses pacientes para refletirem so-
bre 0 tipo de resposta que esperavam receber 
originalmente do grupo e compara-Io com 0 
que acabou acontecendo. Como eles explicam 
a discrepiincia? Que papel planejavam nisso? 
Muitas vezes, os pacientes monopoliza-
dores podem desvalorizar a importancia da 
reac;ao do gropo a eles. Eles podem sugerir que 
o grupo consiste apenas de pessoas perturba-
das ou protestar: "Esta foi a primeira vez que 
algo assim aconteceu comigo". Se 0 terapeuta . 
impede 0 usa de bodes expiat6rios, essa decIa-
rac;ao sempre sera incorreta: 0 paciente encon-
tra-se ern urn lugar particularmente familiar. A 
diferenc;a no gropo e a presenc;a de normas que 
permitem que os outros comentem 0 seu com-
portamento abertamente. 
o terapeuta aumenta a forc;a terapeutica 
encorajando esses pacientes a examinarem e 
discutirem as dificuldades interpessoais de sua 
vida: solidao, falta de amigos intimos, nao ser 
ouvido pelos outros, ser excIuido sem razao -
todas as razoes para as quais eles procuraram 
terapia. Quando isso e explicitado, 0 terapeuta 
pode demonstrar aos pacientes monopoliza-
dores, de mane ira mais convincente, a impor-
tancia e a relevancia de examinar 0 seu com-
portamento no grupo. E necessario esperar 0 
momento adequado. Nao existe razao para ten-
tar fazer esse trabalho com urn individuo fe-
chado e defensivo no meio de uma tempesta-
de, sendo necessarias intervenc;6es brandas, re-
petidas e no momenta certo. 
o PACIENTE SILENCIOSO 
o membro silencioso e urn problema me-
nos perturbador, mas igualmente dificil para 0 
terapeuta. 0 membro silencioso sempre e pro-
blematico? Talvez 0 paciente se beneficie do 
silencio. Urn caso, provavelmente apocrifo, que 
314 IRVIN D. YALOM 
circula entre os terapeutas ha decadas fala de 
urn individuo que participou de urn grupo por 
urn ana sem mencionar uma palavra. Ao final 
da SO· reuniao, ele anunciou ao grupo que nao 
retornaria. Seus problemas estavam resolvidos, 
ele se casaria no dia seguinte e gostaria de ex-
pressar sua gratidao pela ajuda que 0 grupo 
tinha lhe dado. 
Alguns membros reticentes podem bene-
ficiar-se vicariamente, identificando-se com 
membros ativos com problemas semelhantes. 
E possivel que ocorram graduais de 
comportamento e na capaddade de correr ris-
cos nos relacionamentos desses padentes fora 
do grupo. 0 estudo de Lieberman, Yalom e 
Miles indicou que alguns dos participantes que 
mudaram mais pareciam ter uma capaddade 
especial de maximizar suas oportunidades de 
aprendizagem em urn grupo de curta 
(30 horas), envolvendo-se de forma vicana na 
experiencia de outros membros no grupO.6 
Entretanto, de urn modo geral, as eviden-
cias indicam que quanto mais ativo e influente 
o membro for na matriz do grupo, mais prova-
vel ele sera de se beneficiar. Pesquisas em gru-
pos experimentais demonstram que, indepen-
dentemente do que os participantes disserem, 
quanto mais palavras falarem, maior sera a 
mudanra positiva em sua imagem de si mesmos. 7 
Outras pesquisas demonstram que a experien-
cia vicaria, ao contrario da dire-
ta, nao foi efetiva para produzir sig-
nificativas, envolvimento emocional ou atra-
c;ao ao processo de grupO.8 
Alem disso, existe urn grande consenso 
clinico de que os membros silenciosos nao se 
beneficiam com 0 grupo na terapia de longa 
durac;ao. Os membros do grupo que se reve-
lam lentamente demais podem nunca alcan-
c;ar 0 resto do gmpo e, no maximo, alcanc;ar 
ganhos minimos.9 Quanto maior a participa-
c;ao verbal, maior 0 sentido de envolvimento e 
rna is os pacientes sao valorizados pelos outros 
e por si mesmos. A auto-revelac;ao nao apenas 
e essencial ao desenvolvimento da coesao 
grupal, como esta diretamente correlacionada 
com 0 resultado terapeutico positivo, assim 
como 0 "trabalho" do paciente na terapia. Su-
giro entao que nao sejamos levados pela len-
daria historia do membro silencioso que ficou 
bern. Um paciente silencioso e um paciente pro-
blematico e raramente se beneficia significativa-
mente com 0 grupo. Y 
Os pacientes podem estar em silencio por 
muitas razoes. Alguns podem experimentar urn 
medo disseminado de se revelarem: cada pa-
lavra, sentem eles, pode compromete-los com 
mais revelac;oes progressivas. Outros podem ser 
tao conflituosos com relac;ao a agressividade 
que nao conseguem ter a auto-afirmac;ao ine-
rente ao ato de falar. Alguns esperam ser ati-
vados e trazidos a vida por urn cuidador idea-
lizado, sem terem abandonado 0 desejo infantil 
do resgate magico. Outros que procuram nada 
menos que a perfeic;ao em si mesmos nunca 
falam por medo de passar vergonha, enquanto 
outros tentam manter distancia ou controle por 
meio de urn silencio altivo e superior. Alguns 
pacientes sentem-se especialmente ameac;ados 
por deterrninado membro do grupo e, habitual-
mente, apenas falam na ausencia daquela pes-
soa. Outros somente participam de reunioes 
menores ou em reunioes altemativas (sem li-
der). Alguns ficam em silencio por medo de 
serem considerados fracos, insipidos ou enjoa-
tivos. Outros ainda podem ficar silenciosamen-
te amuados para punir os outros ou para for-
c;ar 0 grupo a prestar atenc;ao a 
Nesse caso tamMm, a dinamica do grupo 
pode desempenhar urn papel. A ansiedade do 
grupo com relac;ao a agressividade potencial ou 
a disponibilidade de recurs os emocionais no 
grupo pode forc;ar urn membro vulneravel a se 
silenciar para reduzir a tensao ou a competic;ao 
por atenC;ao. Portanto, e bastante importante 
distinguir urn "estado" passageiro de silencio ou 
urn "trac;o" de silencio mais duradouro. 
o importante, contudo, e que 0 silencio 
nunca e silencioso. Ele e urn comportamento e, 
como qualquer comportamento no grupo, tern 
significado no aqui-e-agora como uma amos-
tra representativa da maneira dopaciente se 
relacionar com 0 seu mundo interpessoal. A 
tarefa terapeutica, portanto, nao e apenas mu-
dar 0 comportamento (que e essencial para que 
o paciente permanec;a no grupo), mas explo-
rar 0 significado do comportamento. 
o manejo adequado depende em parte 
da compreensao do terapeuta sobre a dinami-
ca do silencio. Deve haver urn direcionamento 
intermediario entre colocar pressao indevida 
sobre 0 paciente e pennitir que 0 paciente caia 
em urn papel isolado extremo. 0 terapeuta deve 
incluir 0 paciente silencioso periodicamente, 
comentando 0 seu comportamento nao-verbal: 
ou seja, quando, por gesto ou atitude, 0 pacien-
te demonstre interesse, tensao, tristeza, abor-
recimento ou divertimento. Com freqiiencia, 
uma pessoa quieta introduzida em urn grupo 
em.andamento ficara impressionada com a cla-
reza, honestidade e insight dos membros mais 
experientes. E importante que 0 terapeuta es-
clarec;a que muitos desses membros veteranos 
admirados tambem lutaram contra 0 silencio 
e duvidas pessoais quando comec;aram. Mui-
tas vezes, 0 terapeuta pode estimular a partici-
paC;ao de urn membro, encorajando outros 
membros a refletirem sobre a sua propria in-
clinac;ao para 0 silencio.lI Mesmo que seja ne-
cessario estimular ou bajular, 0 terapeuta deve 
incentivar a autonomia e responsabilidade do 
paciente, fazendo avaliac;oes repetidas do pro-
cesso. "Voce precisa ser estimulado nesta reu-
niao?" "Como voce se sentiu quando Mike 0 
colocou no holofote?" "Ele foi longe demais?" 
"Voce pode nos dizer quando 0 deixarmos 
desconfortavel?" "Qual e a pergunta ideal que 
poderiamos fazer hoje para ajuda-lo a partici-
par do grupo?" 0 terapeuta usaria a oportuni-
dade para reforc;ar a atividade do paciente e 
enfatizar 0 valor de forc;a-lo contra os seus te-
mores (indicando, por exemplo, os sentimen-
tos de alivio e realizaC;ao que ele sente apos 
correr riscos).J2 
Se urn paciente resistir a todos esses es-
forc;os e mantiver uma participac;ao muito limi-
tada, mesmo apos tres meses de reunioes, mi-
nha experiencia e que 0 prognostico sera des-
favoravel. 0 grupo ficara frustrado e cansado 
de estimular e instruir 0 membro bloqueado e 
silencioso. Diante da desaprovaC;ao do grupo, 
o paciente e mais marginalizado e ainda me-
nos provavel de participar. Podem-se usar ses-
soes individuais concomitantes para ajudar 0 
paciente nessa hora. Se isso fracassar, 0 
terapeuta pode considerar tirar 0 paciente do 
grupo. Ocasionalmente, entrar para urn segun-
do grupo de terapia pode se mostrar benefico, 
desde que 0 paciente esteja bem-infonnado dos 
perigos do silencio. 
PSICOTERAPIA DE GRUPO 315 
o PACIENTE ABORRECIDO 
Raramente, alguem procura terapia por 
ser aborrecido. Ainda assim, em uma diferen-
te roupagem, levemente disfarc;ada, a queixa 
nao e incamum. Os pacientes queixam-se de 
que nunca tern nada a dizer aos outros, que 
sao deixados de lado em festas, que ninguem 
os convida para sair mais de uma vez, que sao 
usados apenas para ter relac;oes sexuais, que 
sao inibidos, timidos, socialmente ineptos, va-
zios ou insipidos. Como 0 silencio, a monopo-
lizac;ao, ou 0 egoismo, 0 aborrecimento deve 
ser levado a serio. Ele e urn problema extre-
mamente importante, independentemente de 
o paciente se identificar dessa forma ou nao. 
No microcosmo social do grupo de tera-
pia, os membros aborrecidos recriam esses pro-
blemas e aborrecem os outros membros - e 0 
terapeuta. Qualquer terapeuta teme ter de par-
ticipar de uma reuniao com apenas dois ou tres 
membros aborrecidos presentes. Se eles desis-
tissem, simplesmente sumiriam do grupo, nao 
deixando sequer uma ondulaC;ao na superficie 
do lago. 
o aborrecimento e uma experiencia bas-
tante individual. Nem todos se aborrecem na 
mesma situaC;ao, e nao e facil fazer generaliza-
c;5es. De urn modo geral, contudo, 0 paciente 
aborrecido no grupo de terapia e aquele que e 
muito inibido, que nao tern espontaneidade, 
que nunca corre riscos. As declarac;5es dos pa-
dentes aborrecidos sempre sao "seguras" (e, 
da mesma forma, sempre previsiveis). Obse-
quiosos e cuidadosamente evitando qualquer 
sinal de agressividade, eles costumam ser ma-
soquistas (correndo para a autoflagelaC;ao an-
tes que alguem consiga esmurra-los - ou, para 
usar outra metafora, pegando flechas lanc;adas 
contra eles no ar e cravando-as em si mesmos). 
Eles dizem 0 que acreditam que a imprensa 
social quer OUW - ou seja, antes de falarem, 
analisam os rostos dos outros membros para 
detenninar 0 que se espera que digam e silen-
dam qualquer sentimento contrario vindo de 
dentro. 0 estilo social espedfico do individuo 
varia consideravelmente: urn po de ser silencio-
so, outro, afetado e excessivamente racional; 
urn, timido e retraido, outro, dependente, exi-
gente ou suplicante. 
316 IRVIN D. YALOM 
Alguns pacientes aborrecidos sao alexiti-
micos - uma dificuldade de expressao que parte 
nao de uma inibir;:ao neurotica, mas de deficits 
cognitivos na capacidade de identificar e co-
municar sentimentos. 0 paciente alexitfmico e 
concreto, carece de capacidade imaginativa e 
concentra-se em detalhes operacionais, nao na 
experiencia emocional. 13 A terapia individual 
com esses pacientes pode ser exaustivamente 
lenta e arida, semelhante a trabalhar com pa-
cientes com transtorno de personalidade 
esquizoide. A terapia de grupo apenas, ou 
concomitante a terapia individual, pode ser 
particularmente util para promover a expressi-
vidade emocional por meio de modelagem, 
apoio e a oportunidade de experimentar com 
os proprios sentimentos e expressividade.14 
A incapacidade de ler suas proprias pis-
tas emocionais tambem pode tomar esses in-
dividuos vulneraveis a doenr;as medicas e psi-
cossomaricas.15 A terapia de grupo, por causa 
de sua capacidade de promover a consciencia 
e a expressao das emor;6es, pode reduzir a 
alexitimia e mostrou melhorar os resultados 
medicos, por exemplo, em doenr;as cardiacas.16 
Os lideres e membros de grupos muitas 
vezes trabalham arduamente para incentivar 
a espontaneidade em pacientes aborrecidos. 
Eles solicitam que os pacientes compartilhem 
suas fantasias sobre os membros, gritem, xin-
guem - qualquer coisa que ajude a extrair algo 
imprevisivel deles. 
• Uma de minhas pacientes, Nora, levava 0 
grupo ao desespero com seus cliches e co-
mentarios autodepreciativos constantes. 
Apos muitos meses no grupo, sua vida ex-
terior comer;ou a melhorar, mas cada rela-
to de sucesso vinha acompanhado pela ine-
vita vel neutralizar;ao autodepreciativa. Ela 
foi aceita por uma sociedade profissional 
honoraria ("isso e born", disse ela, "po is e 0 
unico clube que nao pode me expulsar"), 
recebeu seu diploma de graduar;ao ("mas 
eu devia ter terminado mais cedo"), tirou 
apenas notas A ("mas parer;o uma crianr;a 
por me vangloriar disso"), parecia melhor 
fisicamente ("mostra 0 que urn bronzea-
mento artificial po de fazer"), foi convidada 
para sair por varios homens novos em sua 
vida ("deve haver pouca oferta no merca-
do"), conseguiu urn born emprego ("caiu no 
meu colo"), teve seu primeiro orgasmo va-
ginal ("0 credito e da maconha"). 
o grupo tentou sintonizar Nora a sua auto-
destruir;:ao. Urn engenheiro sugeriu trazer 
uma campainha eletrica para tocar cada vez 
que ela se diminuisse. Outro membra, ten-
tando levar Nora a urn estado mais esponta-
neo, comentou sobre 0 seu sutia, que acha-
va que poderia ser melhor. (Ed, discutido no 
Capitulo 2, que geralmente se relacionava 
apenas com as partes sexuais das mulheres.) 
Ele disse que traria urn sutia novo de pre-
sente para ela na proxima sessao. Com cer-
teza, na sessao seguinte, Ed chegou com uma 
grande caixa, que Nora disse preferir abrir 
em casa. E la ficou a caixa, durante a reu-
niao, inibindo qualquer outro tema. Pediram-
lhe que pelo menos adivinhasse 0 conteudo, 
e ela disse: "Urn sutia com enchimento". 
Nora finalmente foi convencida a abrir 0 
presente e 0 fez com muita dificuldade e 
embarar;o. A caixa continha nada aMm de 
isopor. Ed explicou que essa era asua ideia 
do novo sutia de Nora, que ela nao devia 
usar nenhum sutia. Nora desculpou-se com 
Ed (por achar que ele tinha lhe:; dado enchi-
mentos) e agradeceu pelo trabalho que teve. 
o incidente deu inicio.a urn produtivo tra-
balho para os dois. (Nao yOU discutir a con-
tinuar;ao para Ed.) 0 grupo falou a Nora 
que, embora Ed a tivesse embarar;ado e hu-
milhado, ela respondeu pedindo desculpas 
a ele. Ela havia agradecido educadamente 
a alguem que lhe tinha dado absolutamen-
te nada de presente! 0 illcidente criou a 
prime ira fagulha robusta de auto-observa-
r;ao em Nora. Ela comer;ou a reuniao se-
guinte dizendo: de bater 0 recorde 
da gratidao. Na noite passada, recebi uma 
ligar;ao obscena e pedi desculpas ao ho-
mem!" (Ela havia dito: "Desculpe, mas voce 
deve ter discado 0 numero errado".) 
A dinamica subjacente ao paciente abor-
recido varia imensamente de individuo para 
individuo. Muitos tern uma posir;ao dependente 
basica e, assim, temem a rejeir;ao e 0 abando-
no par serem compulsivamente condescenden-
tes, evitando qualquer comentario agressivo 
que possa dar inicio a uma retaliar;ao. Eles con-
fundem a auto-afirmar;ao saudavel com agressi-
vidade e, recusando-se a reconhecer a sua pro-
pria vitalidade, espontaneidade, interesses e 
opillioes, transmitem (aborrecendo os outros) 
a mesma rejeir;ao e abandono que esperam 
evitar.y17 
Se voce, como terapeuta, estiver aborre-
cido com urn paciente, esse aborrecimento e 
urn dado importante. (A terapia de todos os 
pacientes dificeis necessita de atenr;ao criterio-
sa para a sua contratransferencia.}18* Sempre 
pressuponhil. que se voce esta aborrecido com 
urn membro, os outros tambem estarao. Voce 
deve contrapor 0 seu aborrecimento com curio-
sidade. Questione-se: "0 que toma uma pes-
soa aborrecida? Quando fico mais e menos 
aborrecido? Como posso encontrar a pessoa -
a pessoa real, viva, espontanea, criativa - den-
tro dessa casca aborrecida?" Nao existe nenhu-
ma tecnica urgente indicada. Como 0 grupo 
tolera 0 individuo aborrecido mais do que 0 
paciente abrasivo, narcisista ou monopolizador; 
voce tem bastante tempo. 
Por ultimo, tenha em mente que 0 tera-
peuta deve manter uma postura socratica com 
esses pacientes. Nossa tarefa nao e colocar algo 
dentro do individuo, mas 0 oposto, deixar que 
saia algo que sempre esteve lao Assim, nao ten-
tamos inspirar pacientes aborrecidos, ou inje-
tar cor, espontaneidade ou riqueza dentro de-
les, mas identificar suas partes infantis vitais e 
* A contratransferencia do terapeuta sempre e uma 
fonte de dados valiosos sobre 0 cliente, ainda rnais 
com clientes provocativos, cujo comportamento de-
safia a nossa efetividade terapeutica. Os lideres de 
grupo devem determinar seu papel na constru<;ao 
conjunta das dificuldades do cliente problematico. 
Qualquer rea<;ao ou comportamento do terapeuta 
que se afaste de seus cornportamentos basais indica 
que estao sendo geradas atra<;6es interpessoais. 0 
terapeuta deve ter 0 cuidado de examinar seus sen-
tinlentos antes de responder. Juntas, essas perspec-
tivas informam e equilibram 0 usa do processamento 
empatico, da confronta<;ao e do feedback pelo 
terapeuta. 
PSICOTERAPIA DE GRUPO 317 
criativas reprimidas e ajudar a remover os obs-
taculos a sua livre expressao. 
o OUEIXOSO nUE REJElTA AJUDA 
o queixoso que rejeita ajuda, uma varia-
r;ao do monopolizador, foi identificado e no-
meado pela primeira vez por J. Frank em 
1952.19 Desde entao, 0 padrao de comporta-
mento foi reconhecido por muitos de 
grupo, e 0 termo aparece com freqiiencia na 
literatura psiquiarrica, particularmente nas 
areas de psicoterapia e psicossomatica.20 Nes-
ta ser;ao, discuto 0 queixoso que rejeita ajuda, 
que raramente se desenvolve completamente. 
Todavia, esse padrao de comportamento nao e 
uma sindrome clinica distinta, do tipo tudo ou 
nada. Os individuos podem chegar a esse esti-
10 de interar;ao por diversos camirIhos psicolo-
gicos. Alguns podem manifestar 0 comporta-
mento de maneira persistente em urn grau ex-
tremo, sem provocar;ao extema, enquanto ou-
tros podem demonstrar apenas urn trar;o do 
padrao. Outros ainda podem tomar-se quei-
xosos que rejeitam ajuda apenas em momen-
tos de muito estresse. Intimamente associada 
ao ato de se queixar e rejeitar ajuda, verifica-
se a expressao de perturbar;5es emocionais por 
rneio de queixas somaricas. Pacientes com sin-
tomas inexplidveis por meios medicos consti-
tuem urn grande e frustrante problema de aten-
r;ao primaria.21 
Descri,<iio 
Os queixosos que rejeitam ajuda apresen-
tam urn padrao comportamental distinto no 
grupo: eles pedem ajuda do grupo de forma 
implicita ou explicita, apresentando problemas 
ou queixas, e depois rejeitam qualquer ajuda 
oferecida. Eles apresentam problemas conti-
nuamente de urn modo que os faz parecer in-
superaveis. De fato, eles parecem se orgulhar 
da insolubilidade de seus problemas. Muitas 
vezes, concentram-se inteiramente no terapeu-
ta, em uma campanha incansavel para obter 
uma intervenr;ao ou conselho e parecem indi-
ferentes a rear;ao do grupo a eles. Parecem dis-
318 IRVIN D. YALOM 
postos a parecer ridiculos, desde que possam 
persistir na busca por ajuda, e baseiam seu 
relacionamento com os outros membros na 
dimensao singular de terem mais necessidade 
de ajuda. Os queixosos que rejeitam ajuda ra-
ramente sao competitivos em alguma area, 
exceto quando outro membro pede a aten<;ao 
do terapeuta e do grupo para aIgum proble-
ma; entao, eles, muitas vezes, tentam diminuir 
as queixas da outra pessoa, comparando-as des-
favoravelmente corn as suas. Eles tendem a exa-
gerar seus problemas e a culpar os outros, mui-
tas vezes figuras de autoridade de quem de-
pendem de alguma forma, e parecem inteira-
mente autocentrados, falando apenas de si 
mesmos e de seus problemas. 
Quando 0 grupo e 0 terapeuta respondem 
aos seus apelos, essa desconcertante configu-
ra<;ao assume uma forma, a medida que 0 pa-
ciente rejeita a ajuda oferecida. A rejei<;ao e 
inconfundfvel, embora possa assumir varias for-
mas sutis: as vezes, 0 conselho e rejeitado aber-
tamente e, as vezes, de fonna indireta. As ve-
zes, enquanto e aceito verbalmente, ele nunca 
produz uma a<;ao e, se produzir, inevitavelmen-
te nao consegue melhorar as dificuldades do 
individuo .. 
Efeitos sobre 0 grupo 
Os efeitos sobre 0 grupo sao obvios: os 
outros membros ficam irritados, frustrados e 
confusos. 0 queixoso parece urn redemoinho 
ganancioso, sugando toda a energia do grupo. 
Pior ainda, nao existe nentlUma redu<;ao evi-
dente nas suas exigencias. A fe no processo do 
grupo e abalada, a medida que os membros 
experimentam uma sensa<;ao de impotencia e 
desespero para que 0 grupo entenda as suas 
proprias necessidades. A coesao e abalada it 
medida que ha absentefsmo ou os pacientes 
unem-se em subgrupos para excluir 0 queixo-
so que rejeita ajuda. 
Dimimica 
o padrao comportamental do queixoso 
que rejeita ajuda parece ser uma tentativa de 
resolver sentimentos conflituosos sobre a de-
pendencia. Por urn lado, 0 queixoso se sente 
impotente, insignificante e com total depen-
dencia dos outros, em especial do terapeuta, 
para obter urn sentido de valor pessoal. Qual-
quer observa<;iio e aten<;iio do terapeuta aurnen-
tam a sua auto-estima temporariamente. Por 
outro lado, a sua posi<;ao de dependencia e 
bastante confundida com uma desconfian<;a e 
inimizade para com figuras de autoridade. 
Consumido por sua demanda, ele busca ajuda 
de uma figura que ja preve que nao estara dis-
posta ou nao conseguira ajudar. A antecipa<;ao 
da recusa colore 0 estilo de pedir ajuda de tal 
modo que a profecia se cumpre, e acumulam-
se mais evidencias da cren<;a na malfeitoria do 
cuidador potencial.22 0 resultado e urn cfrculo 
vicioso, que ja vern girando por grande parte 
da vida do paciente. 
Diretrizes de manejo 
Urn queixoso que rejeita ajuda grave e urn 
desafio clfnico extremamente dificil, e muitos 
pacientes tiveram sua vitoria de Pirro sobre seus 
terapeutas e seu grupo, fracassandona tera-
pia_ Dessa forma, seria presun<;oso e ilusorio 
tentar prescrever urn plano terapeutico cuida-
doso. Porem, certas generaliza<;6es podem ser 
postuladas. Certamente, seria urn grave enga-
no 0 terapeuta confundir a ajuda pedida com 
a ajuda necessaria.y23 0 queixoso que rejeita 
ajuda nao pede conselhos por seu valor poten-
cial, mas para refuta-los. Conselhos, orienta-
<;ao e 0 tratamento do terapeuta serao rejeita-
dos ou, se usados, nao se mostrarao efetivos 
ou, se forem efetivos, isso sera mantido em 
segredo. Tambem seria urn engano do terapeu-
ta expressar frustra<;ao e ressentimento. A re-
talia<;ao simplesmente completa 0 drculo vicio-
so: a previsao do tratamento erroneo e do aban-
dono realiza-se novamente: eles se sentemjus-
tificados em sua desconfian<;a hostil e conse-
guem afirmar mais uma vez que ninguem ja-
mais os consegue entender. 
Que linha de a<;ao, entao, esta disponfvel 
para 0 terapeuta? Urn clfnico sugere, talvez em 
desespero, que 0 terapeuta interrompa 0 dr-
culo vicioso, indicando que "nao apenas en-
tende, mas compartilha os sentimentos de de-
sesperan<;a do paciente com a situa<;ao", recu-
sando-se assim a perpetuar a sua participa<;ao 
em urn relacionamento rutil. Dois bravos co-
terapeutas que orientavam urn grupo compos-
to apenas de queixosos que rejeitavam ajuda 
nos advertiram contra investir em urn relacio-
namento solidario e estimulante com 0 pacien-
teo Eles sugerem que os terapeutas evitem qual-
quer expressao de otimismo, estfmulo ou orien-
ta<;ao e adotem uma postura de ironia, pela qual 
concordam com 0 conteudo do pessimismo do 
paciente, enquanto mantem urn afeto distante. 
Eric Berne, que considera 0 padrao do queixoso 
que rejeita ajuda como 0 mais comum de todos 
os jogos ern grupos sociais e de psicoterapia, 
chamou-o de "Por que voce nao - sim, mas". 0 
uso desses rotulos descritivos acessfveis torna 0 
processo mais transparente para os membros 
do grupo, mas se deve ter muito cuidado ao se 
utilizar qualquer abordagem de brincadeira: h3 
uma fina linha separando 0 cuidado terapeutico 
ludico do deboche e da humilha<;ao.24 
De urn modo geral, 0 terapeuta deve ten-
tar mobilizar os principais fatores terapeuticos 
a servi<;o do paciente. Quando urn grupo coeso 
se formou e 0 paciente - pela universalidade, 
identifica<;ao e catarse - come<;a a valOlizar a 
participa<;ao no grupo, 0 terapeuta pode esti-
mular a aprendizagem interpessoal, concen-
trando-se continua mente no feedback e no pro-
cesso da mesma mane ira que descrevi ao dis-
cutir 0 paciente monopolizador. Os queixosos 
que rejeitam ajuda geralmente nao estao cien-
tes de sua falta de empatia para com os outros. 
Ajuda-Ios a enxergar 0 seu impacto interpessoal 
sobre os outros membros e urn passo funda-
mental para que examinem 0 padrao caracte-
ristico dos seus relacionamentos. 
o PACIENTE PSICOTICO OU BIPOLAR 
Muitos grupos sao projetados especifica-
mente para trabalhar com pacientes com dis-
turbios do Eixo I significativos. De fato, quan-
do se consideram grupos em clfnicas psiquia-
tricas, unidades de hospitaliza<;ao parcial, 110s-
pitais para veteranos de guerra e programas 
de p6s-cuidado, 0 numero total de grupos de 
PSICOTERAPIA DE GRUPO 319 
terapia para pacientes com dificuldades gra-
ves provavelmente ultrapassa 0 de pacientes 
com funcionamento superior. Discutirei grupos 
compostos para pacientes hospitalizados no 
Capftulo 15 (para mais sobre 0 tema, veja meu 
texto Inpatient group psychotherapy, Basic 
Books, 1983), mas por enquanto considere 0 
que ocorre com urn grupo de terapia interativa 
para indivfduos de funcionamento superior 
quando urn membro desenvolve uma doen<;a 
psicotica durante 0 tratarnento. 
o destine do paciente psicotico, a resposta 
dos outros membros e as op<;6es efetivas dis-
ponfveis ao terapeuta dependem em parte do 
momento, ou seja, quando no curso do grupo a 
doen(:a psicotica ocorre. De urn modo geral, em 
urn grupo maduro em que 0 paciente psicotico 
ocupava urn papel central e valorizado, os 
membros do grupo sao mais provaveis de ser 
tolerantes e efetivos durante a crise. 
As rases iniciais do grupo 
No Capftulo 8, enfatizei que, na triagem 
inicial, 0 paciente inteiramente psic6tico deve 
ser exclufdo da terapia de grupo interacional 
ambulatorial. Todavia, e pratica comum indi-
car pacientes com doen<;a bipolar aparente-
mente estavel a uma terapia de grupo para li-
darem com as conseqiiencias interpessoais da 
sua doen<;a. 
As vezes, apesar de urna triagem cautelo-
sa, urn individuo descompensa nos primeiros 
estagios da terapia, talvez por causa de algum 
estresse inesperado de circunstancias da vida ou 
do grupo, ou talvez por rna adesao a urn reginle 
de medica<;ao. Esse e urn evento importante para 
o grupo e sempre cria problemas substanciais 
para 0 grupo recem-formado (e, e claro, para 0 
paciente, que provavelmente assumira urn pa-
pel fora dos padr6es do grupo e podera aban-
donar 0 tratamento, geralmente pior do que 
come<;ou, devido a experiencia). 
Neste livro, tenho enfatizado repetida-
mente que os escigios iniciais do grupo sao uma 
epoca de grande fluxo e de grande importan-
cia. 0 jovem grupo e facilmente influenciado e 
as normas estabelecidas no come<;o costumam 
ser muito duraveis. Segue-se uma seqiiencia 
320 IRVIN D. YAlOM 
intensa de eventos e, em algumas semanas, urn 
agregado de estranhos assustados e desconfia-
dos transforrna-se em urn grupo intimo e mu-
tuamente proveitoso. Qualquer evento que con-
suma uma quantidade exagerada de tempo e 
desvie a energia das tarefas da seqiiencia 
evolutiva e potencialmente destrutivo para 0 
grupo. Alguns dos problemas relevantes sao 
ilustrados pelo seguinte exemplo elmico. 
Sandy era uma dona de cas a de 37 anos 
que, muitos anos antes, havia sofrido uma 
grande e recalcitrante depressao, exigindo 
hospitaliza<;ao e eletroconvulsoterapia. Ela 
procurou a terapia de grupo por insistencia 
de seu terapeuta individual, que acreditava 
que uma compreensao de seus relaciona-
mentos interpessoais a ajudaria a melhorar 
o relacionamento com 0 seu marido. Nas 
primeiras reuni6es do grupo, ela era uma 
participante ativa,que revelava detalhes 
muito mais intimos de sua historia do que 
os outros membros. Ocasionalmente, Sandy 
expressava raiva para com algum outro 
membro e come<;ava com uma profusao de 
desculpas e comentarios autodepreciativos. 
Na sexta reuniao, seu comportamento tor-
nou-se ainda mais inadequado. Ela discur-
sou detalhadamente sobre os problemas 
urinarios de seu filho, por exemplo, descre-
venda as minucias da cirurgia feita para ali-
viar a sua constri<;ao uretral. Na reuniao se-
guinte, comentou que 0 gato da familia tam-
bern havia desenvolvido urn bloqueio do tra-
to urinario, e pediu que os outros membros 
descrevessem seus animais de estima<;ao. 
Na oitava reuniao, Sandy estava cada vez 
mais maniaca. Ela se comportava de ma-
neira bizarra e irracional, insultando os 
membros do grupo, flertando abertamente 
com os homens, a ponto de tocar seus cor-
pos, e finalmente come<;ou com trocadilhos, 
associa<;6es por assonancia, riso inadequa-
do e lagrimas. Urn dos terapeutas finalmen-
te a acompanhou para fora da sala, telefo-
nou para 0 marido e fez os arranjos neces-
sarios para uma hospitaliza<;ao psiqui<itri-
ca imediata. Sandy perrnaneceu no hospi-
tal em urn estado maniaco e psicotico por 
urn mes, recuperando-se gradualmente. 
Os membros obviamente ficaram extrema-
mente desconfortaveis durante a reuniao, 
seus sentimentos variando de perplexidade 
e medo a irrita<;ao. Apos ela sair, alguns ex-
pressaram culpa por ter, de alguma manei-
ra desconhecida, desencadeado 0 seu com-
portamento. Outros falaram de seu medo, 
e urn lembrou de alguem que; havia agido 
de maneira semelhante, mas que tambem 
exibia uma arma. 
Duqmte a reuniao seguinte, os membros 
discutiram muitos sentimentos relacionados 
com 0 incidente. Urn membro expressou a 
sua convic<;ao de que nao se pode confiar 
em ninguem: embora conhecesse Sandy ha 
setesemanas, 0 comportamento dela se 
mostrou totalmente imprevisivel. Outros 
expressaram seu aHvio por estarem psico-
logicamente saudaveis, em compara<;ao com 
ela. Outros, em resposta ao medo de tam-
bern perder 0 controle, empregaram muita 
nega<;ao e fugiram da discussao desses pro-
blemas. Alguns expressaram medo de Sandy 
retomar e destruir 0 grupo. Outros disse-
ram ter menos fe na terapia de grupo. Urn 
membro pediu para ser hipnotizado, e ou-
tro trouxe urn artigo de urn jomal cientifi-
co que afirrnava que a psicott;rapia nao era 
efetiva. A perda de fe nos terapeutas e em 
sua competencia expressou-se no sonho de 
urn membro, no qual 0 terapeuta estava no 
hospital e era salvo pelo paciente. 
Nas proximas reuni6es, todos esses temas 
permaneceram ocultos. Os encontros tor-
naram-se desinteressantes, superficiais e 
intelectualizados. A freqiiencia caiu bastan-
te, e 0 grupo parecia resignado a propria 
impotencia. Na 14" reuniao, os terapeutas 
anunciaram que Sandy havia melhorado e 
retomaria na semana seguinte. Houve uma 
calorosa e vigorosa discussao. Os membros 
temiamque: 
1. Eles a deixassem irritada. Uma reuniao 
intensa a deixaria doente novamente e, 
para evitar isso, 0 grupo seria for<;ado a 
andar lenta e superficialmente. 
2. Sandy seria imprevisivel. A qualquer 
momento, ela poderia perder 0 contro-
Ie e ter comportamentos perigosos e as-
sustadores. 
3. Por causa de sua falta de controle, seria 
impossivel confiar em Sandy. Nada que 
ocorresse no grupo perrnaneceria confi-
dencial. 
Ao mesmo tempo, os membros expressaram 
uma grande ansiedade e culpa por deseja-
rem exeluir Sandy do grupo, e logo preva-
leceu a tensao e urn silencio pesado. A rea-
<;ao extrema do grupo persuadiu 0 terapeuta 
a retardar a volta de Sandy (que, inciden-
temente, estava em terapia individual) por 
algumas semanas. 
Quando finalmente voltou ao grupo, ela foi 
tratada como urn objeto fragil, e toda a 
intera<;ao do grupo foi protegida e defensi-
va. Na 20' reuniao, cinco dos sete membros 
haviam saido do grupo, deixando apenas 
Sandy e outra pessoa. 
Os terapeutas reconstituiram'o grupo, acres-
centando cinco novos membros. E interes-
sante que, apesar do fato de que apenas dois 
dos membros antigos e os terapeutas conti-
nuavam no grupo reconstituido, a cultura 
do grupo antigo persistiu - urn forteexem-
plo do poder de permanencia das normas, 
mesmo na presen<;a de urn numero limita-
do de pessoas que as mantenham.2S A di-
namica do grupo havia fixado Sandy e 0 
grupo em fun<;6es e papeis rigidamente res-
tritos. Sandy foi tratada de forma tao deli-
cad a e obliqua pelos novos membros que 0 
grupo avan<;ou lentamente, arrastando-se 
em sua propria polidez e conven<;6es sociais. 
Somente quando os terapeutas confronta-
ram essa questao abertamente e discutiram 
o seu proprio medo de irritar Sandy e leva-
la a outra descompensa<;ao psicologica, os 
membros conseguiram lidar com seus sen-
timentos e temores em rela<;ao a ela. Na-
quele ponto, 0 grupo avan<;ou mais rapida-
mente. Sandy permaneceu no novo grupo 
por urn ana e teve melhoras visiveis em sua 
capacidade de se relacionar com outras 
pessoas e em seu conceito pessoal. 
Urn estagio rnais avanc;ado no grupo 
Uma situa<;ao completamente diferente 
pode surgir quando urn individuo que foi urn 
PSICOTERAPIA DE GRUPO 321 
membro ativo e envolvido por muitos meses 
descompensa em urn estado psicotico. Os ou-
tros membros entao se preocupam mais com 
aquele membro do que consigo mesmos ou com 
o grupo. Como ja conhecem e compreendem 0 
membro agora psicotico como pessoa, eles cos-
tumam reagir com muita preocupa<;ao e inte-
resse. 0 paciente e menos provavel de ser con-
siderado urn objeto estranho e assustador, que 
deve ser evitado.26* 
Embora perceber tendencias semelhantes 
em si mesmos possa aumentar a capacidade 
dos outros membros para continuarem a se 
relacionar com urn membro perturbado do gru-
po, tambem pode criar urn problema pessoal 
para alguns, que come<;am a temer que pos-
sam perder 0 controle e cair em urn abismo 
semelhante. Assim, 0 terapeuta deve antecipar 
e expressar seu medo para os outros membros 
do grupo. 
Quando confrontados com urn paciente 
psicotico no grupo, muitos terapeutas voltam 
a urn modelo medico e simbolicamente rejei-
tam 0 grupo, intervindo de forma vigorosa in-
dividualmente. De fato, eles estao dizendo ao 
grupo: "Esse e urn problema serio demais para 
voces resolverem". Todavia, essa manobra cos-
tuma ser antiterapeutica: 0 paciente fica as-
sustado, e 0 grupo, infantilizado. 
Minha experiencia mostra que urn grupo 
maduro e perfeitamente capaz de lidar com 
emergencias psiquiatricas e, embora possaha-
ver falsos movimentos, considerar cada con-
tingencia e tomar as mesmas a<;6es que 0 
terapeuta poderia ter imaginado. 
* Moos e eu demonstTamos, por exemplo, que estu-
dantes de medicina designados pela primeira vez a 
uma elinica psiquiatrica consideravam os pacientes 
psicoticos extTemamente perigosos, assustadores, 
imprevisiveis e diferentes deles mesmos. Ao final 
de cinco semanas de tTabalho, suas atitudes haviam 
mudado consideravelmente: os estudantes estavam 
menos assustados com seus pacientes e entendiam 
que os individuos psicoticos eram apenas seres hu-
manos confusos e profundamente angustiados, mais 
semelhantes a eles mesmos do que pensavam ante-
riormente. 
322 IRVIN D. YALOM 
• Na 45a reuniao, Rhoda, uma divorciada de 
43 anos, chegou alguns minutos atrasada 
em urn estado desarrumado e obviamente 
perturbado. Nas semanas anteriores, ela 
estava em urn processo gradual de depres-
sao, mas agora 0 processo parecia ter se ace-
lerado repentinamente. Rhoda estava cho-
rosa, desesperada e apresentava urn retar-
do psicomotor. Durante a prime ira parte da 
reuniao, ela chorou continuamente e ex-
pres sou sentimentos de solidao e desespe-
ran\=a, alem de uma incapacidade de amar; 
odiar ou tampouco de sentir qualquer emo-
\=ao profundamente. Rhoda disse sentir urn 
grande desapego de todos, incluindo 0 gru-
po e, quando questionada, discutiu rumi-
na\=oes suicidas. 
Os membros do grupo responderam a 
Rhoda com muita empatia e preocupa\=ao. 
Eles perguntaram sobre eventos da semana 
anterior e ajudaram-na a discutir dois acon-
tecimentos importantes que pareciam estar 
relacionados com a crise depressiva: (1) ha 
meses, ela vinha juntando dinheiro para 
uma viagem para a Europa. Na semana pas-
sada, seu filho de 17 anos havia decidido 
nao trabalhar na colonia de ferias no verao 
e se negava a procurar outro emprego - uma 
virada que, aos olhos de Rhoda, colocava 
sua viagem em perigo; (2) apos meses de 
hesita\=ao, ela tinha decidido ir a uma festa 
para pessoas divorciadas de meia-idade, que 
foi urn desastre: ninguem quis dan\=ar com 
ela, que acabou a noite consumida por sen-
timentos de completa inutilidade. 
o grupo a ajudou a explorar 0 relaciona-
mento com 0 seu filho e, pela primeira vez, 
Rhoda expressou raiva dele por sua falta 
de preocupa\=ao com ela. Com a ajuda do 
grupo, tentou explorar e expressar os !imi-
tes da sua responsabilidade para com ele. 
Foi dificil para Rhoda discutir a festa, por 
causa da vergonha e humilha\=ao que sen-
tia. Duas outras mulheres do grupo, uma 
solteira e outra divorciada, tiveram uma 
empatia profunda por ela e compartilharam 
suas experiencias e sua rea\=ao a falta de 
homens adequados. 0 grupo tambem a lem-
brou das tantas vezes em que, durante as 
sessoes, ela interpretava cada pequeno me-
nosprezo como uma rejei\=ao total e conde-
na\=ao. Finalmente, apos muita aten\=ao, 
carinho e afeto, urn dos membros apontou 
para ela que a experiencia da festa estava 
sendo negada a!i no grupo: varias pessoas 
que a conheciam bern estavam profunda-
mente preocupadas e envolvidas com ela. 
Rhoda rejeitou essa ideia, alegando que 0 
grupo, ao contrario da festa, era uma situa-
\=ao artificial, onde as pessoas seguiam re-
gras de conduta que nao eram naturais. Os 
membros logo disseram que 0 conrrario era 
o correto: a festa - a congrega\=aorestrita 
de estranhos, as atra\=oes baseadas em im-
pressoes imediatas e superficiais - era a si-
tua\=ao artificial e 0 grupo era a real. Era no 
grupo que ela era mais conhecida. 
Rhoda, saturada com sentimentos de inuti-
lidade, diminuiu-se entao por sua incapaci-
dade de sentir afeto e envolvimento reci-
procos pelos membros do grupo. Urn dos 
membros logo interceptou essa manobra, 
apontando que Rhoda tinha urn padrao fa-
miliar e de experimentar senti-
mentos para com os outros membros, evi-
denciado por sua expressao facial e postu-
ra corporal, mas deixando seus "deveres" 
tomarem conta e torturarem-na, insistindo 
que ela deveria sentir mais a/eto e mais 
amor do que qualquer urn. 0 efeito liquido 
era que 0 sentimento real que ela tinha era 
rapidamente extinguido pela for\=a de suas 
exigencias pessoais impossiveis. 
Em essencia, 0 que ficou claro foi 0 reco-
nhecimento gradual de Rhoda da discrepan-
cia entre sua estima publica e sua estima 
privada (descritas no Capitulo 3). Ao final 
da reuniao, Rhoda respondeu caindo em la-
grimas e chorando por alguns minutos. 0 
grupo relutou em ir embora, mas partiu 
quando os membros convenceram-se de que 
o suicidio nao estava mais em considera-
\=ao. Na semana seguinte, os membros man-
tiveram uma vigilia informal, cada urn te-
lefonando pelo menos uma vez para Rhoda. 
Alguns principios importantes e abrangen-
tes emergem com esse exemplo. No come\=o 
da sessao, 0 terapeuta compreendeu a impor-
tante dinamica que opera na depressao de 
Rhoda e, se tivesse preferido, poderia ter feito 
as interpreta\=oes adequadas para permitir que 
a paciente e 0 grupo chegassem muito mais 
rapidamente a urn entendimento do 
problema - mas isso teria se afastado cons ide-
ravelrnente da significancia e valor da reuniao 
para a protagonista e para os outros membros. 
Por exemplo, 0 grupo teria side privado da 
oportunidade de experimentar a sua propria 
for\=a. A cada sucesso aumenta a coesao do gru-
po e 0 auto-respeito de cada urn dos membros. 
E dificil para alguns terapeutas nao interpre-
tar, mas e essencial que eles aprendam a man-
ter a sua sensatez. Existem momentos em que 
e tolice ser sensato e e sensato ficar em silencio. 
AB vezes, como nesse episodio clinico, 0 
grupo escolhe e realiza a a\=30 adequada. Em 
outras, 0 grupo pode decidir que 0 terapeuta 
deve agir. Contudo, existe uma vasta diferen\=a 
entre a decisao apressada do grupo baseada 
em uma dependencia infantil e na avalia\=30 
irreal da for\=a do terapeuta e a decisao basea-
da na investiga\=ao minuciosa da situac;ao pe-
los membros e na avalia\=ao madura do conhe-
cimento do terapeuta. 
Essas questoes levaram-me a urn princi-
pio importante da dinamica de grupo, substan-
ciado por pesquisas consideraveis. Um grupo 
que chega a uma decisao autonoma com base 
em uma minuciosa dos problemas 
pertinentes empregara todos as seus recursos em 
favor de suas decisoes. Um grupo que recebe uma 
decisao imposta sobre si e provavel de resistir a 
essa decisao e.ser ate menos efetivo para tomar 
decisoes validas no futuro. 
Deixe-me tomar uma taugente urn pouco 
diferente, mas relevante, e contar uma histo-
ria sobre urn conhecido estudo de dinamica de 
grupo. 0 foco deste exemplo e uma fabrica de 
pijamas onde mudanc;as periodicas nos empre-
gos e rotinas faziam-se necessarias por causa 
de avan\=os na tecnologia empregada. Por mui-
tos anos, os empregados resistiram as mud an-
\=as. A cad a altera\=ao, havia urn aumento no 
absenteismo, na rotatividade e na agressividade 
dos funcionarios para com a gerencia, soman-
do a menor eficiencia e produ\=ao. 
Os pesquisadores projetaram urn experi-
mento para testar varios metodos para supe-
rar a resistencia dos empregados a mudan\=a. 
PSICOTERAPIA DE GRUPO 323 
A variavel critica a ser estudada era 0 grau de 
participa\=30 dos membros do grupo (os em-
pregados) no planejamento das mudan\=as. Os 
empregados foram divididos em tres grupos, e 
foram testadas tres varia\=oes. A primeira nao 
envolvia a participa\=30 dos empregados no 
planejamento das mudanc;as, embora eles te-
nham recebido uma explicac;ao. A segunda va-
ria\=30 envolvia a participa\=ao de representan-
tes eleitos dos trabalhadores na prepara\=ao das 
mudan\=as no trabalho. A terceira consistia da 
participa\=30 total de todos os membros do gru-
po no planejamento das mudan\=as. Os resulta-
dos mostraram conclusivamente que, em todas 
as medidas estudadas (agressividade para com 
a gerencia, absentefsmo, eficiencia, numero de 
empregados renunciando ao trabalho), a suces-
so da mudanrafoi diretamente proporcional ao 
grau de participarao dos membros do grupO.27 
As implica\=oes para a terapia de grupo 
sao visiveis: os membros que participam pes-
soalmente no planejamento de um curso de 
a\=ao comprometem-se com a execu\=ao do pla-
no. Por exemplo, eles se dedicam mais ao cui-
dado de urn membro com problemas se reco-
nhecerem que 0 problema tambem e seu, e nao 
apenas do terapeuta. 
AB vezes, como no exemplo clinico ante-
rior, toda a experiencia e benefica para 0 de-
senvolvimento da coesao de grupo. Comparti-
lhar experiencias emocionais intensas geral-
mente fortalece os vinculos entre os membros. 
o perigo para 0 grupo ocorre quando 0 paciente 
psicotico consome uma grande quantidade de 
energia por urn perfodo prolongado. Entao, 
outros membros podem desistir, e 0 grupo pode 
!idar com 0 individuo perturbado de maneira 
cuidadosa e restrita, ou tentar ignora-lo. Esses 
metodos sempre ajudam a piorar 0 problema. 
Nessas situa\=oes criticas, uma importante op-
c;ao que esta sempre disponivel ao terapeuta e 
atender 0 paciente perturbado em sessoes in-
dividuais durante a crise (essa opiniao sera tra-
tada mais profunda mente na discussao sobre 
terapia combinada). Contudo, 0 grupo deve 
explorar as implica\=oes disso cuidadosamente 
e compartilhar a decisao. 
Uma das piores calamidades que pode 
acontecer com urn grupo de terapia e a pre-
sen\=a de urn membro maniaco. Urn paciente 
324 IRVIN D. YALOM 
em meio a urn episodio hipomaniaco grave tal-
vez seja 0 problema mais diruptivo para 0 gru-
po. (Em compara<;ao, urn episodio manfaco 
completo representa pouco problema, pois 0 
curso de a<;ao imediato e dare: hospitaliza<;ao.) 
o paciente com transtorno bipolar agu-
do e pouco amtido e melhor manejado farma-
cologicamente e nao e urn born candidato para 
tratamentos de orienta<;ao interacional. Seria 
claramente insensato permitir que urn grupo 
investisse muita energia e tempo em urn trata-
mento com tao pouca probabilidade de suces-
so. Todavia, existem evidencias crescentes em 
favor do uso de interven<;5es de grupos esped-
ficos e homogeneos para pacientes com doen-
<;a bipolar. Esses grupos of ere cern psicoedu-
ca<;ao sobre a doen<;a e enfatizam a irnportan-
cia da adesao a farmacoterapia e da manuten-
<;ao de urn estilo de vida saudavel e de rotinas 
de auto-regula<;1io. Esses grupos devem ser usa-
dos em con junto com farmacoterapia na fase 
de manuten<;ao da doen<;a cronica, apos quais-
quer perturba<;5es agudas terem se estabiliza-
do. Foram demonstrados beneficios substan-
ciais da terapia, incluindo maior adesao a 
farmacoterapia, menos perturba<;5es do humor, 
menos recafdas da doen<;a, menos abuso de 
substancias e melhor funcionamento psi cos-
socia1.28 
o PACIENTE DE CARATER DlFiclL 
Os tres ultimos tipos de paciente proble-
matico da terapia de grupo que you discutir 
sao 0 paciente esquizoide, 0 paciente borderli-
ne e 0 paciente narcisista. Esses pacientes cos-
tumam ser discutidos em conjunto na litera-
tura clinica, sob a rubrica de pacientes de ca-
rater dificil do Eixo II. 29 Os criterios diagnos-
ticos tradicionais do DSM nao fazemjusti<;a a 
complexidade desses pacientes e nao captam 
adequadamente a sua experiencia psicologica 
interior.30 
A maioria dos pacientes de carater dificil 
tern em comum problemas na regula<;ao do 
afeto, envolvimento interpessoal e sentido de 
self. Acredita-se que sua patologia se baseie em 
problemas seriosdos primeiros anos de vida. 
Eles nao possuem tranqiiilidade interior ou 
representa<;5es parentais confortantes, e seu 
mundo interne e preenchido por representa<;5es 
parentais desinteressadas, retrafdas e decepcio-
nantes. Eles muitas vezes nao possuem a capa-
cidade de integrar sentimentos e rea<;5es inter-
pessoais ambivalentes, dividindo 0 mundo em 
preto e branco, born e mau, arnor e odio, idea-
lizado e desvalorizado. Em qualquer momen-
to, eles tern poucas recorda<;5es de outros sen-
timentos passados, alem dos poderosos senti-
mentos que tinham naquele momento. Suas 
dificuldades incluem sentir raiva, vulnerabili-
dade ao abandono e problemas narcisistas, 
alem de uma tendencia a identifica<;ao projeti-
va. Esses pacientes tambem nao tern percep-
<;ao do seu papel em suas dificuldades ou de 
seu irnpacto sobre os outroS.31 
Como essas dificuldades geralmente ma-
nifestam-se em relacionarnentos interpessoais 
perturb ados e perturb adores, a terapia de gru-
po tern urn papel irnportante em cenarios de 
hospitaliza<;ao parcial e ambulatoriais. A tera-
pia de grupo e promissora, mas dificil com es-
ses pacientes, mas a rela<;ao custo-beneficio psi-
cologico e do cuidado de saude e bastante po-
sitiva, particularmente quando 0 individuo 
passa 0 tempo adequado em tratamento.32 
Muitas vezes, urn paciente de carater di-
ficil tarnbem experirnentou abuso traumatico 
no come<;o de sua vida, 0 que amplifica 0 desa-
fio do tratamento. Em algumas amostras, a co-
morbidade do transtomo de estresse pos-trau-
matico e do transtomo de personalidade bor-
derline passa de 50%. Quando as experiencias 
traumaticas e os sintomas conseqiientes - prin-
cipalmente reexperiencias intrusi'{.as do trau-
ma, nega<;iio de qualquer lembran<;a do trau-
ma e hiper-excita<;ao geral - tern urn irnpacto 
combinado e profundo sobre 0 indivfduo, apli-
ca-se 0 termo "transtomo de estresse pos-trau-
matico complexo". Esse termo abrange a ma-
neira como os eventos traumaticos e as rea-
<;6es psicologicas a esses eventos moldam a per-
sonalidade do individuo.33 
Pacientes de carater diffcil sao comuns na 
maior parte dos cenarios cifnicos. Seus tera-
peutas individuais costumam indica-los para 
terapia de grupo quando: (1) a transferencia 
ficou intensa demais para a terapia a dois; (2) 
o paciente esta tao defensive que e necessaria 
a intera<;ao do grupo para envolver 0 pacien-
te; e (3) a terapia funcionou bern, mas se atin-
giu urn plato e so mente uma experiencia 
interativa produzira novos ganhos. 
o paciente esquizoide 
Muitos anos atras, em uma edi<;ao ante-
rior deste livro, comecei esta se<;ao com a se-
guinte senten<;a: "A condi<;ao esquizoide, uma 
doen<;a dos nossos tempos, talvez justifique: 
mais pacientes que come<;am a fazer terapia 
do que qualquer outra configura<;ao psicopato-
logica". Isso nao parece ser mais verdade. Os 
modismos de doen<;as mentais mudarn: atual-
mente, os pacientes geralmente entrarn em tra-
tamento por causa de abuso de substancias, 
transtomosalirnentares e seqiielas de !!PuSO 
sexual e fisico. Embora a condi<;1io e'squizoide 
nao seja mais a doen<;a da epoca, indivfduos 
esquizoides ainda sao visitantes comuns em 
grupos de terapia. Eles sao emocionalmente 
bloqueados, isolados e distantes, e procuram a 
terapia de grupo por uma sensa<;ao vaga de 
que algo esta faltando: eles nao conseguem 
sentir, nao conseguem amar, nao conseguem 
brincar, nao conseguem chorar. Sao especta-
dores de suas vidas, nao habitam seus proprios 
carpos, nao experimentam sua propria expe-
riencia. Superficialmente, 0 paciente esquizoide 
e 0 paciente esquivo sao parecidos. Contudo, 
existem diferen<;as claras. 0 indivfduo esquivo 
e ansioso e inibido, autoconsciente e capaz de 
se envolver quando tern certeza suficiente de 
que nao sera. rejeitado. 0 paciente esquizoide, 
ao contrario, sofre de urn deficit de capacida-
des emocionais e reflexivas fundamentais. 34 
Ninguem jamais descreveu 0 mundo das 
experiencias do indivfduo esquizoide de for-
ma mais vivida do que Sartre, em A [dade da 
raziio: 
Ele fechou 0 joma! e come<;ou a ler a materia 
do correspondente especial na prirneira pagi-
na. Cinqiienta mortos e trezentos feridos ja 
haviam sido contados, mas nao era tudo, cer-
tamente haveria corpos sob os destro<;os. Ha-
via milhares de homens na Fran<;a que nao 
conseguiam ler 0 joma! pela manha sem sen-
tir urn engasgo de raiva sub indo pela gargan-
PSICOTERAPIA DE GRUPO 325 
ta, milhares de hom ens que cerravam os pu-
nhos e murmuravam: "Porcos!" Mathieu cer-
rou os punhos e murmUTOU: "Porcos!", e sen-
tiu-se ainda mais culpado. Se ele pelo menos 
conseguisse descobrir em si uma leve emo<;ao 
que estivesse modestamente viva, consciente 
de seus limites, mas nao: ele estava vazio, e 
enfrentava uma vasta ralva, uma raiva deses-
perada. Ele a via e quase podia toea-la, mas 
estava inerte - para viver e encontrar expres-
sao no sofrirnento, ele precisaria sentir com 0 
seu proprio corpo. Era a raiva dos outros. Por-
cos! Ele cerrou os punhos, andou, mas nada 
aconteceu, a raiva perrnaneceu alheia a ele. 
Algo estava it beira da existencia, uma tirnida 
aurora de raiva. Enfirn! Mas dirninuiu e su-
miu, e ele foi deixado na solidao, caminhan-
do com 0 passo comedido e decoroso de urn 
homem em urn funeral em Paris. Lirnpou a 
testa com 0 len<;o e pensou: nao se podem for-
<;aT nossos sentirnentos mais profundos. Ha urn 
triigico e terrivel estado de coisas que deve 
excitar as emo<;5es mais profundas. Nao adian-
ta, 0 momento vira.35 
Os indivfduos esquizoides muitas vezes 
encontram-se em uma sina semelhante no gru-
po de terapia. Em praticamente todas as reu-
ni6es do grupo, eles tern evidencias que con-
firmam que a natureza e a intensidade de sua 
experiencia emocional diferem 
mente das dos outros membros. Confusos com 
essa discrepancia, eles podem conduir que os 
outros membros sao melodramaticos, excessi-
vamente instaveis, falsos, preocupados com 
quest6es triviais ou simplesmente tern urn tem-
peramento diferente. Contudo, os pacientes 
esquizoides, como 0 protagonista de Sartre, 
Mathieu, come<;am a se questionar, e come<;am 
a suspeitar que, em algum lugar dentro deles, 
ha urn vasto lago congelado de sentimentos. 
De urn modo ou de outro, pelo que di-
zem ou deixam de dizer, os pacientes esquizoi-
des transmitem esse isolamento emocional para 
os outros meinbros. No Capftulo 2, descrevi urn 
paciente que nao conseguia entender a preo-
cupa<;ao dos membros com 0 fato de 0 tera-
peuta sair do grupo ou os temores obsessivos 
de uma mulher de que seu namorado morres-
se. Ele considerava as pessoas como objetos 
substituiveis. Tinha sua necessidade diaria mi-
nima de afeto (sem, ao que parece, a preocu-
pa<;ao adequada com a fonte do afeto). Ele es-
326 IRVIN D. YALOM 
tava "incomodado" com a partida do terapeuta 
apenas porque isso atrasaria a sua terapia, mas 
nao compartilhava do sentimento que os ou-
tros expressavam: luto pela perda da pessoa 
que 0 terapeuta e. Em sua defesa, 0 paciente 
dizia: "Nao faz muito sentido ter sentimentos 
fortes pela safda do terapeuta, pois nao h3 nada 
que eu possa fazer a respeito". 
Outro membro, repreendido pelo grupo 
por sua falta de empatia para com dois mem-
bros com problemas, respondeu: "Entao eIes 
estao sofrendo. Existem miIh6es de pessoas 
sofrendo em todo 0 mundo neste instante. Se 
eu fosse me sentir mal por todos os que estao 
sofrendo, seria urn trabalho em tempo inte-
gral". A maior parte de nos tern urn surto de 
sentimentos, e as vezes tentamos compreen-
der 0 seu significado. Em pacientes esquizoides, 
os sentimentos vern depois - eles recebem 
prioridade conforme os ditames da raciona-
lidade. Os sentimentos devem ser justificados 
de maneira pragmatica: se eles nao tern ne-
nhuma fun<;ao, por que senti-los? 
o gtupO e bastante ciente das discrepan-
cias entre as palavras, experiencia e resposta 
emocional dos membros. Urn membro, que 
havia side criticado por esconder informa<;6es 
do grupo sobre seu relacionamento comuma 
namorada, perguntou friamente: "Voces gos-
tariam de trazer suas cameras e ir para a cama 
conosco?" Todavia, quando questionado, ele 
negou sentir raiva e nao conseguia explicar 0 
tom de sarcasmo. 
Em outros momentos, 0 gmpo Ie as emo-
<;6es do membro esquizoide a partir de pistas 
de sua postura ou comportamento. De fato, 
esses individuos podem relacionar-se de ma-
neira semelhante e participar da investiga<;ao, 
comentando, por exemplo: "Meu cora<;ao esta 
batendo forte, entao eu devo estar assustado" 
ou "meu punho esta cerrado, entao eu devo 
estar bravo". Nesse sentido, eles compartiIham 
uma dificuldade comum dos pacientes alexiti-
micos descritos anteriormente. 
A resposta dos outros membros e previsi-
vel. Ela parte da curiosidade e confusao com a 
descren<;a, solicitude, irrita<;ao e frustra<;ao. Eles 
perguntam repetidamente: "Como voce se sen-
te a respeito de ... ?" e, somente muito depois, 
entendem que estavam exigindo que essa pes-
soa aprendesse rapidamente a falar uma lin-
gua estrangeira. No come<;o, os membros sao 
muito ativos para ajudar a resolver 0 que pare-
ce ser urna pequena afli<;ao, dizendo aos pacien-
tes esquizoides 0 que deveriam sentir e 0 que 
eles sentiriam se estivessem naquela situa<;ao. 
Mais tarde, eles se cansam, a frustra<;ao se ins-
tala e eles redobram seus esfor<;os - quase sem-
pre sem resultados visfveis. Eles tentam ainda 
mais, na tentativa de for<;ar uma resposta 
afetiva aumentando a intensidade do estimu-
10. Finalmente, partem para uma abordagem 
agressiva. 
o terapeuta deve evitar participar da bus-
ca por urna grande mudan<;a. Nunca vi nenhum 
paciente esquizoide mudar significativamente 
em virtude de urn incidente dramatico. A mu-
dan<;a e urn processo prosaico, de trabalho ma-
<;ante, pequenos passos repetitivos e progresso 
quase imperceptive!. E tentador e as vezes pro-
dutivo empregar tecnicas ativadoras, nao-ver-
bais ou da gestalt para acelerar 0 movimento do 
paciente. Essas abordagens podem acelerar 0 
reconhecimento e a expresS§o por parte do pa-
ciente de sentimentos nascentes ou reprimidos, 
mas tenha em mente que se voce fizer muito 
trabalho diretivo individual, 0 grupo pode se 
tomar mais fraco, menos autonomo e mais de-
pendente e centrado· no !ider. (Discufuei esses 
temas no Capitulo 14.) Alem disso, os pacientes 
esquizoides nao apenas necessitam de novas 
habilidades como, de maneira mais importan-
te, precisam de uma nova experiencia intemali-
zada do mundo dos relacionamentos - e isso 
exige tempo, paciencia e perseveran<;a. 
No Capftulo 6, descrevi divers as tecnicas 
ativadoras do aquice-agora que sao uteis no 
trabalho com 0 paciente esquizoide. Trabalhe 
energicamente no aqui-e-agora. Estimule 0 
paciente a diferenciar os membros. Apesar de 
protestos, 0 paciente nao se sente precisamen-
·te da mesma maneira para com todos no gru-
po. Ajude esses membros a avan<;ar para senti-
mentos que dizem nao ter conseqiiencias. 
Quando 0 paciente admite: "Bern, talvez eu me 
sinta levemente irritado ou levemente magoa-
do", sugira que ele permane<;a com esses senti-
mentos. Ninguem disse que somente devemos 
discutir sentimentos gran des. "Coloque uma 
lente de aumento sobre a magoa," voce pode 
sugerir, "e descreva como ela en. Convide 0 
paciente a imaginar 0 que os outros estao sen-
tindo no gmpo. Tente cortar os metodos cos-
tumeiros de nega<;ao do paciente: "De algum 
modo, voce se afastou de algo que pare cia irn-
portante. Pode voltar para onde estava ha 5 
minutos? Quando voce estava falando com 
Julie, achei que voce estava quase chorando. 
Havia algo acontecendo ai dentro".Y 
Incentive 0 paciente a observar 0 seu cor-
po. Muitas vezes, 0 paciente pode nao sentir 
afeto, mas ted consciencia dos equivalentes 
afetivos autonomos: aperto no estomago, suor, 
constri<;ao' da garganta, rubor, e assim por 
diante. Gradualmente, 0 grupo pode ajudar 0 
paciente a traduzir esses sentimentos para seu 
significado psicologico. Os membros podem, 
por exemplo, observar 0 momento das rea<;6es 
do paciente em rela<;ao a algum evento do 
grupo. 
Os terapeutas devem acautelar-se de ava-
liar os eventos unicamente segundo seu pro-
prio mundo experimental. Como ja discuti an-
tes, os pacientes podem experimentar 0 mes-
mo evento de maneiras totalmente diferentes: 
urn evento que a principio e trivial para 0 tera-
peuta ou para um membro pode ser uma ex-
periencia muito importante para outro mem-
bro. Uma leve demonstra<;ao de irrita<;iio por 
um individuo esquizoide reprimido pode ser 
uma grande mudan<;a para aquela pessoa. Tal-
vez seja a primeira vez que ela expressa raiva 
na idade adulta, podendo possibilitar 0 teste 
de novoS comportamentos, tanto dentro quanto 
fora do gmpo. 
No grupo, esses sao indivfduos com nf-
veis altos de risco e recompensa. Aqueles que 
conseguem perseverar, continuar no grupo e 
nao se sentir desestimulados pela incapacida-
de de mudar 0 estilo de seus relacionamentos 
rapidamente devem obter beneficios conside-
rave is com a experiencia da terapia de grupo. 
o paciente borderline 
Ha decadas, os psicoterapeutas conhecem 
urn grande grupo de individuos que sao bas-
tante dificeis de tratar e que se encontram en-
tre os principais criterios diagnosticos de gra-
PSICOTERAPIA DE GRUPO 321 
vidade de limita<;6es: mais desorganizados do 
que os pacientes neuroticos, mas mais integra-
dos do que os pacientes psicoticos. Uma fina 
camada de integra<;iio oculta uma estrutura de 
personalidade primitiva. Sob estresse, esses pa-
cientes borderlines sao muito instaveis. Alguns 
desenvolvem psicoses que podem parecer psi-
coses esquizofrenicas, mas que sao lirnitadas, 
passageiras e episodicas. 
o DSM-IV-TR afirma que 0 transtomo de 
personalidade borderline e um padrao global 
de instabilidade dos relacionamentos interpes-
soais, da auto-imagem, dos afetos e do contro-
Ie de impulsos que exige pelo menos cinco das 
nove caractensticas seguintes: esfor<;os frene-
ticos para evitar 0 abandono real ou irnagina-
rio; relacionamentos interpessoais instaveis e 
intensos, caracterizados por altemancia entre 
extremos de idealiza<;ao e desvaloriza<;ao; per-
turba<;ao da identidade -auto-imagem ou sen-
tido de self notavelmente perturbados e persis-
tentes, distorcidos ou instaveis; impulsividade 
em duas areas autodestrutivas, como abuso de 
substancias, gas tar dinheiro, sexo, compulsao 
alimentar e dirigir sem cuidado; amea<;as ou 
comportamentos suicidas recorrentes ou auto-
mutila<;ao; instabilidade afetiva por reatividade 
acentuada do humor; sentirnentos cronicos de 
vazio; raiva intensa e inadequada ou falta de 
controle da raiva; idea<;ao paranoide ou sinto-
mas dissociativos graves relacionados com 0 
estresse.36 
Nos ultimos anos, h3 muito mais clareza 
sobre pacientes com transtomo de personalida-
de borderline, gra<;as especialmente ao trabalho 
de Otto Kemberg, que enfatizou a instabilidade 
predominante do paciente borderline - instabi-
lidade do humor, pensamento e envolvimento 
interpessoalY Ainda assim, a categoria ainda 
carece de precisao, tem fidedignidade insatisfa-
toria38 e muitas vezes serve para transtomos 
da personalidade que os clmicos nao consigam 
diagnosticar de outra forma. E provavel que 
ela sofra modifica<;6es em sistemas classificato-
rios futuros. 
Embora haja urn debate consideravel com 
rela<;ao a psicodinamica e as origens evolutivas 
do disrurbio de personalidade borderline,39 esse 
debate e tangencial a pratica da terapia de gru-
po e nao precis a ser discutido aqui. 0 impor-
328 IRVIN D. YALOM 
tante para 0 terapeuta de grupo, como enfatizei 
ao longo do livro, nao e a questao evasiva e 
sem resposta de como 0 individuo ficou do jei-
to que esta, mas a natureza das fon;as atuais, 
conscientes e inconscientes, que influenciam a 
mane ira como 0 paciente de carater dificil se 
reladona com os outros. 
Nao apenas houve uma explosao recente 
de interesse no diagnostico, psicodinamica e 
na terapia individual do paciente borderline, 
como grande parte da literatura

Continue navegando