18 pág.

Pré-visualização | Página 2 de 5
e mais ainda para o próprio profissional. Este, muitas vezes, não sabe se seu desempenho está de acordo com as expectativas, nem qual é o seu valor para a empresa. Faltam informações sobre onde ele poderá chegar caso permaneça na empresa. Coaching e gestão do desempenho humano4 Coaching e feedbacks A forma como se confi guram os feedbacks nas relações infl uencia diretamente o impacto que eles terão no desempenho futuro de quem os recebe. O coaching dedica atenção a como esses retornos podem ser aprimorados, de maneira a contribuir mais efetivamente para mudanças e refl exões sobre as práticas individuais. No livro Coaching for Performance, Whitmore (2012) destaca como elementos fundamentais da metodologia de coaching as abordagens de feedback e analisa as questões problemáticas que envolvem essa prática. Whitmore (2012) aborda de maneira assertiva e cautelosa o quão funda- mental o feedback é para o estabelecimento de boas relações de troca e para o estímulo sobre o desempenho apresentado, sempre visando a potencializá-lo. Para Whitmore (2012), feedback é uma palavra fundamental na caracterização da consciência, sendo um dos elementos centrais trabalhados em coaching. Nessa perspectiva, fala-se do feedback do ambiente, do corpo, das ações, das roupas usadas para aquecer, da posição manifestada em relação ao feedback de outras pessoas. Assim, trata-se da busca por um estágio amplo de consciência sobre a presença e sobre como o indivíduo está se sentindo em cada situação. O processo de feedback em organizações que têm lideranças mais autocrá- ticas e se percebem como positivamente democráticas trata o coaching apenas como um tema em curso, sem muita relevância transformacional. Nesses ambientes, uma vez que os colaboradores não têm autoridade igual aos líderes para responder aos feedbacks, eles não ousam esclarecer as questões aponta- das. Consequentemente, com o estabelecimento da ignorância, continua-se a rebaixar tanto a força de trabalho quanto a relevância do coaching, conforme aponta Whitmore (2012). No processo de desenvolvimento de feedback efetivo, o coaching emprega, sistematicamente, questões que levam a pessoa estimulada a buscar com atenção uma resposta, aplicando foco e precisão. Dessa forma, é possível criar um ciclo efetivo de feedback. Whitmore (2012) aponta algumas dessas questões: O que mais? Esse questionamento, usado no final da maioria das respostas, evocará um silêncio mais puro e reflexivo, enquanto permite que o coachee pense sobre novas possibilidades de reflexões. Se você soubesse a resposta, qual seria? Em diversas situações, o coachee faz um questionamento sobre a particularidade de uma situação, mas não há um esforço para buscar uma resposta possível por parte dele. Essa pergunta, por mais despretensiosa que possa parecer, permite que o coachee avance para além de um bloqueio. 5Coaching e gestão do desempenho humano Quais seriam as consequências disso para você ou para outras pessoas? Essa pergunta leva o coachee a um aprimoramento no senso de empatia, considerando os efeitos de suas ações e decisões sobre outras pessoas. Quais critérios você está usando? Questionar isso leva o indivíduo a refletir sobre as bases de suas reflexões e seus julgamentos, as ori- gens dos seus pensamentos, de modo que a consciência aumenta nesse processo. Qual é a parte mais difícil/desafiadora disso para você? Ao buscar a resposta para esse questionamento, o coachee visita as suas questões mais íntimas sobre receios e reflete sobre a situação apontada, perce- bendo como é afetado por ela. Que conselho você daria a um amigo na sua situação? Há momentos em que se busca respostas sem refletir sobre as possibilidades. Distanciar a questão do indivíduo, como se ele estivesse emitindo opinião a outro, ajuda-o a refletir sobre a própria condição. Imagine ter um diálogo com a pessoa mais sábia que você conhece ou pode imaginar. O que ela diria para você fazer nessa situação? As pessoas que admiramos são fundamentais como referência para as nossas ações. Pedir conselhos é sempre relevante, assim como tentar imaginar como aquela pessoa orientaria uma ação. O que você ganha/perde fazendo/dizendo isso? Calcular as conse- quências de escolhas e ações também se apresenta como uma refle- xão fundamental, que leva a um aprimoramento da consciência e da responsabilidade. Se alguém dissesse/fizesse isso para você, o que você sentiria/pen- saria/faria? O processo de pensar sobre como outra pessoa agiria no seu lugar é extremamente contributivo para que a pessoa reflita sobre as suas questões de maneira mais ampla e relacional, não isolada. Além desse exercício reflexivo estimulado pelo coach, o exercício de auto- feedback se mostra também essencial no processo de elevação da consciência e da responsabilidade. Os indivíduos podem passar a se perguntar sobre o que sentem, tocam, ouvem, veem, cheiram e pensam, de maneira a buscar respostas que potencializem a qualidade do retorno e a autopercepção. Em uma perspectiva geral, Whitmore (2012) identifica cinco tipos de feedback que são de uso comum e que variam de A, considerado o menos útil, para E, o mais produtivo e o único dos cinco que promove maiores benefícios de aprendizado e desempenho, conforme listado abaixo. Os demais, no melhor Coaching e gestão do desempenho humano6 dos casos, podem produzir uma melhora mínima de curto prazo e, no pior dos casos, causam mais declínio no desempenho e na autoestima. Destaca-se que os quatro primeiros são os mais amplamente e tradicionalmente utilizados nos círculos de negócios e podem parecer razoáveis, até que sejam examinados com cuidado. a) Exclamação do gestor: “Você é inútil”. Esse tipo de crítica persona- lizada pode ter um impacto destrutivo na autoestima e na confiança; seu efeito pode piorar ainda mais o desempenho futuro. Não contém nada de útil. b) Intervenção do gestor: “Este relatório é inútil”. Embora esse comentário crítico seja dirigido ao relatório, e não à pessoa, ele também prejudica a autoestima de quem o elaborou. Embora menos agressivo, ainda não fornece nenhuma informação sobre a qual o colaborador possa agir para corrigir. c) Intervenção do gestor: “O conteúdo do seu relatório era claro e con- ciso, mas o leiaute e a apresentação eram muito inferiores para seus leitores-alvo”. Esse retorno evita críticas e fornece ao colaborador alguma informação sobre o que corrigir, mas ainda é insuficiente nos detalhes. d) Intervenção do gestor: “Como você se sente sobre o relatório?”. A pessoa que elaborou o relatório passa a sentir a propriedade do traba- lho executado, mas é provável que dê uma resposta limitada a “Bem”, ou faça algum julgamento de valor do trabalho, como “Ótimo” ou “Ruim”, sem apresentar uma descrição útil. e) Intervenções do gestor: “Qual é o propósito fundamental do seu relató- rio? Até que ponto você acha que esse esboço alcança isso? Quais são os outros pontos que você acha que precisam ser enfatizados?”. Nessa configuração, em resposta a uma série de perguntas como essas, o colaborador apresenta uma descrição detalhada e sem julgamento do relatório e do pensamento por trás dele. Nesse sentido, Whitmore (2012) defende que a forma de feedback ilustrada em E acelera significativamente o aprendizado e melhora o desempenho. Para o autor, apenas o que se configura em E cumpre os melhores critérios de coaching. O processo de resposta e comunicação dos feedbacks, indo de um eixo mais julgador até chegar a um eixo mais descritivo e colaborativo, é destacado na Figura 2. 7Coaching e gestão do desempenho humano Figura 2. Processo de resposta e comunicação dos feedbacks, tendo em vista o melhor desempenho. Fonte: Adaptada de Whitmore (2012). É possível observar que, para responder às perguntas do gestor em E, o colaborador é obrigado a envolver seu cérebro e se envolver. Ele tem que se lembrar e formular seus pensamentos antes de poder