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Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) ANESTESIA LOCAL Dor • Mecanismo de defesa do orga- nismo. • É uma importante ferramenta Diagnóstica: a) Auxilia na identificação de patologias, b) Proteção (estímulos elétricos nociceptivos). • Também pode ser definida como sensação desagradável produzida por estímulos nocivos. Neurônios • Unidade morfofuncional do Siste- ma Nervoso Central (SNC). • Pode ser dividido em: a) Neurônio Sensitivo (Aferente): - Não transmite impulso elétrico. b) Neurônio Motor (Eferente): - Responde ao estímulo nocivo. Aspecto dualístico da dor Percepção da dor • A dor é percebida pelo córtex cere- bral, a partir das fibras do SNA. • A dor será sempre interpretada da mesma forma. • Porém, essa interpretação também depende da integridade e quali- dade do feixe nervoso (conjuntos de axônios) e presença de doenças crônicas (transmissíveis ou não), como a diabetes e a hanseníase. Reação à dor • A reação à dor depende de diver- sos fatores, tais como: expectativa do paciente, estresse, medo, gê- nero, cultura, experiências ante- riores, idade, cognição, histórico de dor pessoal e familiar. ANESTESIA LOCAL EM CIRURGIA ORAL MENOR Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) Limiar de reação à dor • Reação consciente, que possui influências externas. • É inversamente proporcional à reação à dor: - Quanto maior a reação à dor, menor é o seu limiar. Inflamação • Apresenta 5 sinais característicos (Sinais Cardinais): 1. Dor (sintoma referido pelo pacien- te) 2. Rubor (Vermelhidão) 3. Tumor (Edema ou Inchaço) 4. Calor 5. Perda de função • Com a lesão, ocorre liberação de mediadores químicos pelas célu- las de defesa, as quais promovem aumento da permeabilidade vas- cular, e vasodilatação local. • Esses mediadores, como as cininas e as prostglandinas, sensibilizam os nociceptores, os quais infor- mam o SNC por meio das fibras. • Alguns dos mediadores envolvi- dos nesse processo inflamatório são listados na foto abaixo: Condução nervosa • A membrana celular é delgada e elástica, constituída por fosfoli- pídeos e glicoproteínas. • Além disso, também apresenta poros que permitem a difusão de alguns íons. Eletrofisiologia da condução nervosa a) Situação de repouso: nessa situa- ção, o potássio (K+) encontra-se intracelular, enquanto o sódio (Na+) e o cloreto (Cl-) se encon- tram fora da célula (extracelular). Com isso, diz-se que esta é a Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) condição de equilíbrio. A condição de equilíbrio é mantida pelos canais de sódio. b) Em condição de estímulo, ocorre uma fase inicial de despolarização lenta, até atingir o limiar de ativação, o qual é seguido por uma fase de despolarização rápida com inversão da polaridade: entrada de Na+ e saída de K+ com a abertura dos canais de sódio. Esta inversão da polaridade do axônio é conhecida como impulso nervoso ou onda de despolari- zação. c) Na repolarização ocorre um período refratário absoluto, onde o nervo é incapaz de responder a outro estímulo, independente da sua força, e um período refratário relativo, onde já é possível iniciar um novo estímulo. - No período refratário absoluto, ocorre inativação dos canais de sódio (I), e a forma fechada dos canais de sódio (F) repolarizam a membrana. - F e I são estados não-condutivos; - Pode ocorrer despolarização a partir do estado F, mas não do estado I. Propagação do estímulo • O estímulo limiar gera impulso com amplitude e formato cons- tantes. • Quando a condução é iniciada, ocorre propagação às custas da energia gerada na própria fibra nervosa e não depende mais do estímulo inicial. • Caso não ocorra bloqueio, a condução se completa sem perder velocidade e/ou intensidade, em direção ao SNC. • Sentido de propagação: - Dendritos → Axônios. Fibras dos nervos periféricos Fibras tipo A • Possuem bainha de mielina (axô- nios mielinizados); • Condução saltatória: de nodo de Ranvier a nodo de Ranvier (mais rápida); • Responsáveis pela motricidade, propriocepção e dor. Fibras tipo C • Não possuem bainha de mielina (axônios amielinizados); • Diâmetro menor; • Condução mais lenta, pela despo- larização sequencial de curtos seg- mentos. Limiar de ativação Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) Vias de condução nervosa • A inervação dos dentes e algumas regiões peribucais se dão pelo ner- vo Trigêmeo (5º par craniano). Controle da dor • Quando feito pela via aferente, visa remover a causa, bloqueando as vias de condução ou elevando o limiar de dor, pelos meios farmacológicos ou não. Métodos de controle da dor • Meios de controle de limiar da dor: a) Trauma mecânico b) Hipotermia c) Anóxia d) Irritantes químicos e) Agentes neurolíticos (álcool ou fenol) f) Agentes químicos (Anestésicos locais) ANESTÉSICOS LOCAIS • Substâncias que apresentam a propriedade de interromper im- pulsos ou fluxos nervosos. • São estruturas anfipáticas: que apresentam características hidrofí- licas e hidrofóbicas; a) Parte Hidrofílica (solúvel em meio aquoso): permite a injeção da solução nos tecidos. b) Centro Lipofílico (solúvel em lipídeos e solventes orgânicos): responsável pela difusão do anes- tésico pela bainha nervosa → atravessar a membrana celular. c) Cadeia intermediária: união da parte hidrofílica à lipofílica. É a Cadeia Intermediária que deter- mina o tipo de anestésico (se o anestésico será do grupo Éster ou Amida). Grupo Éster Obs.: Anestésico tópico (Benzocaína) não contém centro hidrofílico. Grupo Amida Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) Características ideais • Ser transitório • Não irritante aos tecidos • Não provocar alterações perma- nentes na estrutura nervosa • Possuir baixa toxicidade: sofrer rá- pida biotransformação • Ser eficaz em tecido ósseo e mu- cosas • Pequeno tempo de manifestação inicial • Longo tempo de ação • Ser estéril Componentes da solução anesté- sica • Cada tubete de solução anestésica apresenta 1,8mL. 1. Conservantes: presente quando a solução anestésica está condi- cionada em tubetes plásticos, e evita contaminação microbiana; 2. Metilparabeno: propriedades bacteriostáticas e fungistáticas, porém é uma substância muito alergênica: - A FDA (Food and Drug Administration) exigiu a exclusão do metilparabeno em 1984. 3. NaCl (Cloreto de Sódio): solução isotônica; 4. Água destilada: diluente, cuja função é aumentar o volume. Teorias do mecanismo de ação dos anestésicos locais A teoria mais aceita é a do Receptor específico: • Segundo essa teoria, ocorre alteração da permeabilidade da membrana do nervo, estabili- zando-a e impedindo a penetração do íon Na+ e a saída de K+ e Cl-. Propriedades - Em casos de inflamação, o pH é diminuído, o que reduz a concen- tração de bases livres, aumen- tando o tempo de absorção. a) A difusão do anestésico depende do peso molecular: - Quanto maior o peso molecular, maior o tempo de absorção do anestésico e maior tempo de latência. b) A potência do anestésico depende da lipossolubilidade; c) A latência depende do grau de ionização (pKa); d) A duração depende da afinidade proteica. • Os anestésicos são bases fracas associadas a um ácido forte, formando sais hidrossolúveis. • A solução anestésica está em equilíbrio entre moléculas carre- gadas positivamente e bases livres não-ionizadas, que são responsáveis pela penetração do Bruna de Alencar Peres– Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) anestésico na célula e bloqueio dos canais de sódio. • Quanto mais próximo do pH fisiológico for o anestésico, mais rápido o efeito (maior concen- tração de bases livres). - Nos casos de inflamação, o pH da região é diminuído, o que diminui a concentração de bases livres, fazendo com que o anestésico tenha efeito mais lento ou até ausente. Absorção • O anestésico tem que ser aplicado o mais próximo possível da fibra nervosa: - Bloqueio de nervo alveolar inferior é o mais difícil (pela posição anatômica e pelo osso da mandíbula ser muito mais corticalizado que o da maxila). • Depende: a) Vascularização da região no qual é aplicado; b) Lipossolubilidade do agente anes- tésico; c) Velocidade da biotransformação do anestésico; d) Concentração da solução anesté- sica; e) Capacidade de fixação da fibra nervosa. Potência do anestésico local • Quanto maior a ligação às proteí- nas plasmáticas, menor a potência e a toxicidade; • Quanto maior a lipofilia (ou coeficiente de partição), maior é a potência e melhor a penetração do anestésico; • Quanto maior a fração não- ionizada, maior é a facilidade de penetração e potência e menor é a latência. Fatores de interferência na ação VASOCONSTRITORES • A solução anestésica é natural- mente vasodilatadora, fazendo com que se aumente a velocidade de absorção e diminuição do tempo de anestesia. • Com a associação do agente anestésico à uma substância vasoconstritora, tem-se alguns benefícios: • Redução da toxicidade do anestésico; • Redução da dose utilizada; • Promoção de hemostasia (conter possíveis hemorragias pequenas durante o procedimento). Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) Adrenérgicos • Ação sobre os receptores α e β; • Adrenalina é o vasoconstritor adrenérgico mais utilizado (pa- drão); • Receptores α1: efeito vasocons- tritor. • Receptores β1 cardíaco: aumento da frequência cardíaca, orça de contração e consumo de O2. • Receptores β2: efeito vasodilata- dor e broncodilatador. Adrenalina (epinefrina): • Solução 1:50.000: intensa isquemia e vasodilatação rebote • Solução 1:100.000: ade- quada hemostasia • Solução 1:200.000 Não-adrenégicos Felipressina • Sempre associada à Prilocaína; • Melhor hemostasia: Microcircula- ção venosa. Indicações • Pacientes que precisam evitar vasoconstritores adrenérgicos: hi- pertensos, diabéticos, gestantes, idosos... ANESTÉSICOS UTILIZADOS Lidocaína • Lidocaína a 2% com vasocons- tritor. • Anestésico local padrão, e é o mais utilizado. • Início de ação (latência): 2-4 min.; • Quando associada ao vasocons- tritor, tem-se aumento da duração da anestesia (1h de anestesia pul- par, e 2h30 de anestesia em tecidos moles). - Sem vasoconstritor: 5-10 minutos de anestesia pulpar. • Metabolizada no fígado e excre- tada pelos rins. • Meia-vida plasmática: cerca de 90 minutos. • Toxicidade: sobredosagem (esti- mulação inicial do SNC seguida de depressão, convulsão e coma). Mepivacaína • Mepivacaína a 2% com vasocons- tritor ou 3% sem vasoconstritor. • Potência anestésica similar à da Lidocaína. • Produz ligeira ação vasodilata- dora (forma pura a 3%), o que aumenta o tempo de duração da anestesia em relação à lidocaína (20-40 minutos). • Metabolizada no fígado e excre- tada pelos rins. • Meia-vida plasmática: cerca de 2h. • Toxicidade semelhante à da Lidocaína. Articaína • Articaína a 4% com vasoconstritor. • Introduzida no Brasil nos anos 2000. • Potência anestésica: 1,5X maior que a Lidocaína. • Início de ação (latência): 1-2 min.; • Metabolizada no fígado e plasma sanguíneo, e excretada pelos rins. • Meia-vida plasmática: cerca de 40 minutos. • Toxicidade semelhante à da Lidocaína. Bupivacaína • Bupivacaína a 0,5% com vasocons- tritor. Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) • Potência anestésica: 4X maior que a Lidocaína. • Início de ação (latência): 6-10 minutos, mas pode chegar até 16 minutos. • Ação vasodilatadora maior em relação à lidocaína, mepivacaína e prilocaína. • Anestésico local de longa duração: - Anestesia pulpar: até 4 horas; - Tecidos moles: até 12 horas. • Meia-vida plasmática: cerca de 3h. • Toxicidade: cardiotoxicidade 4X maior que a Lidocaína. Prilocaína • Prilocaína a 3% com vasocons- tritor: Felipressina (0,03 UI/mL). • Potência anestésica semelhante à da Lidocaína. • Início de ação (latência): 2-4 min.; • Metabolizada no fígado e nos pulmões, e excreção pelos rins. • Meia-vida plasmática: cerca de 90 minutos. • Toxicidade: menor que a da Lidocaína e Mepivacaína. - Forma metabólito Orto-tolui- dina, que na sobredosagem pode causar metemoglobinemia (oxi- dação da hemoglobina em metemoglobina, o que prejudica a circulação). FATORES DETERMINANTES DA TOXICIDADE • Condição geral do paciente; • Velocidade de aplicação da inje- ção; • Capacidade de metabolização; • Vascularização da área; • Concentração da solução. Obs.: estudos mostram que anestésicos que possuem altas concentrações apre- sentam maior incidência de parestesias. Concentração da solução • Exemplo: Lidocaína a 2%: - 2% equivale a 2g (2000mg) do sal em 100 mL da solução: 2000mg – 100mL X mg – 1mL 20mg/mL - O tubete possui 1,8mL. - Multiplica-se 20mg por 1,8mL, o que equivale a 36mg/tubete. Dose máxima • A dose máxima possível para cada anestésico já foi calculada, e se encontra na tabela abaixo. • Calculando a dose máxima para cada paciente: - Dose máxima da Lidocaína para um paciente de 50kg: 4,4mgX50kg = 220mg 220mg÷36mg/tubete = 6,1 tubetes - Neste caso, o máximo de tubetes a ser usado deve ser 6 tubetes. Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) • Agora, vamos calcular a dose máxima de Lidocaína a 2% para um paciente de 70kg: 4,4mgX70kg = 308mg 308mg÷36mg/tubete = 8,5 tubetes - Porém, o Máximo Absoluto (em mg) para esse anestésico é 300mg, o que equivale a 7 tubetes, e essa deve ser o máximo utilizado nesse paciente. PRECAUÇÃO • Deve-se conhecer a dose máxima do anestésico para o paciente, a fim de evitar sobredosagem abso- luta; • Conhecer a técnica anestésica para realizar uma boa anestesia; • Conhecer a anatomia para evitar injeção intravascular, pois pode causar sobredosagem relativa. PREVENÇÃO • Injeção lenta do anestésico, de 1ml/min.; • Aspiração prévia, para checar se algum vaso sanguíneo foi atingido ou não: - Atualmente, as seringas carpule possuem um êmbolo com refluxo automático. EFEITOS SISTÊMICOS • No SNC doses terapêuticas podem causar sonolência leve e analgesia. Porém doses elevadas, podem causar: a) Vertigem e tontura; b) Distúrbios visuais e auditivos; c) Apreensão e agitação; d) Sudorese e) Desorientação f) Convulsões, coma e depressão respiratória. • No sistema cardiovascular, doses elevadas podem causar: a) Vasodilatação nos vasos periféri- cos e hipotensão profunda; b) Diminuição da contratilidade e condutibilidade do miocárdio, o que leva a um colapso cardio- vascular. CUIDADOS ESPECIAIS Crianças • Apresentam reduzido volume de sangue e metabolismo menor, por isso necessitam de menores doses. • Recomenda-se a aplicação de anestesias infiltrativas. Gestantes e Lactantes • O anestésico pode se difundir pela barreira placentária. • Atender pacientes gestantes ape- nas em casos de emergências, ou caso seja procedimento necessário, realizar no 2º trimestre, e nesse caso utilizar lidocaína 2% com adrenalina 1:100.000. • Evitar uso de prilocaína,pois sua difusão é mais rápida, além de formar a orto-toluidina, o que prejudica a oxigenação do feto. • Em gestantes hipertensas não- controladas, utilizar mepivacaína 3% sem vasoconstritor. Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) • Em lactantes, deve-se utilizar doses terapêuticas. Diabéticos • A adrenalina é uma substância hiperglicemiante. • Em pacientes com a glicemia controlada, pode-se utilizar qualquer anestésico em doses terapêuticas. • Já em pacientes descompensados, e apenas em casos de urgência, utilizar prilocaína 3% com feli- pressina 0,03 UI/mL. Hipertensos • Quando o hipertenso está controlado, pode-se utilizar qualquer anestésico nas doses terapêuticas. • Em pacientes descompensados e em caso de urgência, utiliza-se prilocaína 3% com felipressina 0,03 UI/mL. Idosos • Apresentam menor metaboliza- ção e excreção. Por isso, deve-se utilizar menores doses (2-3 tubetes), e vasoconstritores em menores concentrações (1:100.000 ou 1:200.000). ARMAZENAMENTO • Os anestésicos são esterilizados industrialmente, devem ser desin- fetados com gaze embebida em álcool 70%. • Devem ser armazenados em local fresco, seco e sem luz. Não colocá- los na geladeira, pois a substância cristalizará. • O uso parcial do tubete contamina a solução. Após uso, descartar o tubete, mesmo que contenha solu- ção. REFERÊNCIAS Malamed, Stanley F.: Manual de Anes- tesia Local, 6ª edição, Parte I, Capítulos 1 a 4. Consolaro, Alberto: Inflamação e Reparo, 2ª edição, Capítulo 7. Andrade, Eduardo Dias de: Terapêutica Medicamentosa em Odontologia, 3ª edição, Capítulo 5.
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