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- -1 SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO E BENEFÍCIOS CAPÍTULO 4 - A QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO COMPLEMENTA A REMUNERAÇÃO? Rafaela Carvalho de Oliveira - -2 Introdução Inúmeros aspectos contribuem para que uma pessoa tenha qualidade de vida no trabalho (QVT): condições ambientais, higiene, segurança e estabilidade são alguns deles. Mas, será que esses aspectos podem ser considerados uma complementação à remuneração recebida? Quais fatores podem contribuir para que um colaborador tenha qualidade de vida no seu ambiente de trabalho? É importante entender os diversos componentes do bem-estar das pessoas dentro do ambiente organizacional. Muitas vezes estamos tão focados nas atividades, nos resultados e na produtividade, que esquecemos de questões banais, como oferecer um ambiente saudável para que as pessoas possam ter um tempo de qualidade dentro da empresa. Se considerarmos uma jornada de trabalho de oito horas, ela representa um terço do dia de uma pessoa – o que é muito significativo, afinal trabalha-se um período, dorme-se em outro e resta apenas uma porção para todas as demais questões ligadas ao lazer, social, saúde, educação, entre outros. Por isso, este local precisa propiciar que os colaboradores se sintam bem, seja na realização das atividades, seja em relação à estrutura física, sua saúde ou suas relações. Contudo, nem todas as decisões são facultativas ao empregador: muitas vezes alguns critérios são determinados pela legislação trabalhista. Vamos conferir como isso acontece? Esse é o objetivo deste capítulo: compreender a relação entre a remuneração e a qualidade de vida no trabalho. Bons estudos! 4.1 Aspectos legais da remuneração Em uma relação de trabalho, empregados e empregadores estão em polos distintos e cada um tem interesses próprios na relação de trabalho. O empregado deseja receber uma contrapartida financeira em troca do seu labor, da sua capacidade física ou intelectual, já o empregador quer que alguém realize um trabalho e em troca oferece uma remuneração. Na teoria parece uma relação simples, uma troca, mas na prática existem muitos interesses envolvidos e, muitas vezes, um dos polos não respeita o outro. Por isso, é necessário que essas relações sejam regidas por uma legislação específica, a chamada legislação trabalhista. Além disso, existe a figura dos sindicatos que são bem importantes para buscar equilibrar essa relação. Acompanhe! 4.1.1 Legislação trabalhista Ainda que alguns decretos e orientações internacionais tenham surgido anteriormente, considera-se que a legislação trabalhista brasileira tem como base a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), a qual entrou em vigor em 1º de maio de 1943, na época do Estado Novo e do governo de Getúlio Vargas. A data é tão importante que virou oficialmente o dia de comemoração do Dia do Trabalhador. A CLT não é um código porque não foi criado um novo direito, mas sim uma consolidação, porque uniu em um mesmo diploma legal as disposições trabalhistas que se encontravam dispersas em diversos decretos. A sua importância principal reside no fato de ter estabelecido regras que precisam ser observadas nas relações trabalhistas (SILVA, 2012). Essas determinações estão vigentes ainda hoje, tendo sofrido algumas alterações ao longo do tempo, como foi o caso da reforma trabalhista de 2017. A CLT rege as regras trabalhistas sobre a remuneração dos trabalhadores, por exemplo regulando pagamento de horas extras, adicionais, descanso semanal remunerado, benefícios legais, férias remuneradas, salário mínimo, entre outros. Além disso, são abordados aspectos específicos de diversas categorias profissionais. A Constituição Federal de 1988 também trouxe importantes determinações relacionadas ao direito trabalhista, tendo artigos específicos voltados para essa temática. Destaque especial para os incisos IV, VI, VII, VIII do artigo 7º da Constituição Federal (BRASIL, 1988). Clique nas abas e aprenda sobre eles. - -3 • Determinação do salário mínimo Valor fixo em lei, nacionalmente unificado que seja capaz de atender às necessidades básicas do trabalhador e de sua família (moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social), com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim. É determinado considerando uma jornada de 44 horas semanais, 220 mensais e 8 horas diárias, podendo ser reduzido para jornadas parciais. Além disso, é garantido ao trabalhador, nunca receber um valor inferior ao mínimo quando o sistema for de remuneração variável. • Irredutibilidade salarial O salário não pode ser reduzido, com exceção dos casos em que houver convenção ou acordo coletivo. Neste caso, a clt complementa que caso haja convecção ou acordo que pactue a redução da jornada ou do salário, deverá ser prevista a proteção dos empregados contra a dispensa imotivada durante a vigência do instrumento coletivo. • 13º salário Pagamento de um décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria. Perceba que não importa qual o formato do sistema de remuneração que será aplicado em uma empresa, sempre é preciso acatar a legislação e preservar todos os direitos dos trabalhadores. A legislação trabalhista rege as relações individuais e coletivas de trabalho. Quando falamos da relação individual, o contrato de trabalho é base da relação jurídica entre empregado e empregador. Ainda que haja ajuste de vontades das partes, ele segue normas irrenunciáveis relacionadas aos direitos do trabalhador (MOURA, 2016). Figura 1 - Contrato individual de trabalho sendo firmado com ajuste das vontades entre as partes e respeito à legislação trabalhista. Fonte: Gajus, Shutterstock, 2019. • • • - -4 Fonte: Gajus, Shutterstock, 2019. As relações coletivas de trabalho representam os negócios jurídicos firmados entre os sindicatos profissionais e as empresas. Todos os empregados e todas as empresas das categorias envolvidas precisam acatar o que for estipulado neste caso (MOURA, 2016). Clique nas setas e conheça outros aspectos relacionados ao tema. Neste momento, faz-se necessário entender a diferença entre acordo coletivo e convenção coletiva. O primeiro ocorre entre um sindicato de uma categoria profissional e uma empresa. Já a convenção é entre dois sindicatos, um profissional e outro patronal (das empresas de um setor). O sindicato é o intermediário das negociações coletivas. Contudo, em 2017, a reforma trabalhista tornou facultativa a contribuição sindical que, até então, era obrigatória. Além dessa mudança, outras determinações foram incorporadas às relações trabalhistas, como: prática do contrato intermitente (com prestação de serviço descontinuada com alternância de períodos de atividade e inatividade), regulamentação do teletrabalho ou home office, possibilidade de fracionamento das férias em até três períodos, possibilidade de a demissão ocorrer em comum acordo, entre muitas outras. Também é importante destacar dentro do contexto da legislação trabalhista a importância das normas regulamentadoras, as chamadas NRs. Elas são determinações obrigatórias, sobre questões como segurança e saúde do trabalho, as quais precisam ser seguidas por empresas e órgãos que tenham colaboradores celetistas, ou seja, com contratos de trabalho regidos pela CLT. Em resumo, independentemente de a organização precisar seguir as NRs, por conta da forma de contratação e regulação do contrato de trabalho, todas precisam seguir o que está determinado nos textos legais e nos acordos coletivos trabalhistas (CAMISASSA, 2017). Os sindicatos possuem um papel muito importante dentro do contexto das relações trabalhistas e do cumprimento da legislação. Por isso, nosso próximo tópico é dedicado a eles. Vamos lá! 4.1.2 Relações trabalhistas e sindicais Quando se trata de um país desenvolvido, os sindicatos surgem em resposta a uma “evolução material da própria classe trabalhadora, e a legislação do trabalho veio apenas ratificar uma realidade e formalizarconquistas já́ asseguradas; no Brasil, ocorreu exatamente o contrário” (CHIAVENATO, 2015, p. 186). Isso quer dizer que em nosso país foi a legislação que trouxe a criação da figura do sindicato, enquanto, em outros países, foram exigidas leis que trouxessem reconhecimento legal aos sindicatos já existentes. Você pode estar se perguntando: qual o reflexo dessa inversão? Como não houve reinvindicação de reconhecimento dos sindicatos, nem apoio e interesse da classe trabalhadora, os sindicatos brasileiros acabaram tendo a atuação mais limitada e restrita de representantes de categorias específica em contratos de trabalho, bem como de apoiar os seus associados (CHIAVENATO, 2015). Você pode aprender mais sobre as relações trabalhistas e sindicais, clicando nas abas abaixo. Com o fim da obrigatoriedade de contribuição sindical, que era o equivalente a um dia de VOCÊ SABIA? As organizações que possuem servidores públicos chamados de estatutários, isso quer dizer, que são regidos por estatutos, não precisam seguir as orientações das normas regulamentadoras. Todavia, isso não quer dizer que os direitos dos trabalhadores referentes à saúde e à segurança não sejam respeitados: apenas não são regidos pelas normas regulamentadoras (CAMISASSA, 2017). - -5 Você pode aprender mais sobre as relações trabalhistas e sindicais, clicando nas abas abaixo. Contribuição sindical Com o fim da obrigatoriedade de contribuição sindical, que era o equivalente a um dia de trabalho do trabalhador, a situação dos sindicatos fica ainda mais complicada. Afinal, a arrecadação vem caindo drasticamente. Muito vem sendo discutido sobre a inconstitucionalidade dessa determinação, contudo, em 2018, o STF declarou que é constitucional o fim da obrigatoriedade da contribuição. Liberdade de associação coletiva Mesmo assim, é importante compreender que a partir do artigo oitavo da Constituição Federal é abordada a relação trabalhista e sindical. O ponto mais importante diz respeito ao fato de que os trabalhadores possuem liberdade de associação coletiva. Além disso, é importante saber que o sindicato não precisa de autorização do Estado, contudo só poderá existir um único sindicato de uma categoria profissional específica em uma mesma base territorial (SILVA, 2012). Interesses dos trabalhadores Os sindicatos podem ser de categorias profissionais, os quais defendem os interesses dos trabalhadores de uma determinada categoria, e os sindicatos patronais defendem os interesses dos empregadores. Ambos têm como missão “defender no âmbito judicial e administrativo, os interesses da categoria integrada por seus sindicalizados” (SILVA, 2012, p. 288). Conflitos de interesses Assim, quando ocorre um conflito de interesses que seja necessário uma negociação, os sindicatos precisam intervir para que a negociação possa ser justa para os dois polos. Nesses casos são firmadas convenções coletivas entre os sindicatos. A convenção coletiva e o acordo coletivo terão duração de no máximo dois anos. Esse tipo de negociação permite solucionar conflitos, evitar greves e manter a paz (CHIAVENATO, 2015). Tanto as convenções quanto os acordos coletivos de trabalho têm prevalência sobre a lei trabalhista quando dispuserem sobre determinados assuntos. Contudo, alguns direitos não podem ser reduzidos ou suprimidos através de instrumentos coletivos. Confira! - -6 Quadro 1 - Questões que podem ou não ser tratadas através de instrumentos coletivos. Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de BRASIL, 1943. - -7 Perceba que muitos assuntos podem ser tratados diretamente entre empregado e empregador através de acordos e convenções coletivas, algumas vezes, tendo um peso maior que a própria lei, incluindo questões ligadas à remuneração, como plano de cargos e salários, banco de horas, remuneração por produtividade, participação nos lucros ou resultados. A legislação trabalhista traz inúmeras determinações que regulamentam e protegem o trabalhador. Mas um ponto que é muito importante para compor os fatores que levam esse trabalhador a ter um trabalhado realmente recompensador é a qualidade de vida de no trabalho, assunto do nosso próximo tópico. 4.2 Qualidade de vida no trabalho - QVT A remuneração do colaborador é um aspecto fundamental para a permanência dele na empresa, para a satisfação, para a valorização e o reconhecimento do trabalho realizado. Contudo, a remuneração não envolve apenas aspectos pecuniários, existem outras formas de recompensar um colaborador, como os benefícios, e também a qualidade de vida no trabalho (QVT). Muitos são os fatores que compõem a qualidade de vida no trabalho e que podem ser considerados complementares à remuneração, de modo a melhorar a vida do trabalhador dentro do ambiente organizacional. Quer entender como isso ocorre? Vamos lá! 4.2.1. Uma nova visão das relações do trabalho e da QVT As empresas costumam empregar esforços e recursos financeiros nas mais diferentes áreas da empresa, como produção e marketing, com o intuito de alcançar seus objetivos organizacionais. Mas, algumas vezes, ainda vemos que há um “esquecimento” de que é preciso ter pessoas trabalhando para que os objetivos da companhia sejam atingidos. Nesse sentido, a empresa precisa perceber que as pessoas precisam se sentir bem no ambiente de trabalho, estarem satisfeitas, terem condições adequadas, um ambiente limpo, saudável e seguro, com o objetivo de realizarem suas tarefas e desenvolverem cada vez mais o seu potencial. Isso envolve a gestão da qualidade de vida no trabalho, que nada mais é que “um conjunto de estratégias que têm como objetivo diagnosticar, promover, acompanhar e monitorar ações para a saúde, o bem-estar e a satisfação do profissional” (GRAMMS; LOTZ, 2017, p. 17). - -8 Figura 2 - Um trabalhador com saúde, bem-estar e satisfação profissional é mais capaz de aumentar sua produção e os resultados da companhia. Fonte: Shutterstock, 2019. No passado, o que se encontrava nas empresas eram ações e estratégias reacionais de QVT, com o intuito de evitar ou atender exigências relacionadas à responsabilidade civil e criminal. A partir dos anos 1990, cada vez mais se fala em responsabilidade social e desenvolvimento sustentável, e isso trouxe alguns desencadeadores de QVT (LIMONGI-FRANÇA, 2012, p. 23). Você pode clicar nas abas para conhecer esses desencadeadores. • Vínculos e estrutura da vida pessoal Família, lazer, esporte, hábitos de vida, expectativa de vida, saúde, alimentação, combate ao sedentarismo etc. • Fatores socioeconômicos Globalização, tecnologia, informação, desemprego, políticas de governo, organizações de classe, privatização de serviços públicos, expansão do mercado de seguro-saúde, padrões de consumos mais sofisticados. • Metas empresariais Competitividade, qualidade do produto, velocidade, custos, imagem corporativa. • Pressões organizacionais • • • • - -9 Pressões organizacionais Novas estruturas de poder, informação, agilidade, corresponsabilidade, remuneração variável, transitoriedade no emprego, investimento em projetos sociais. Para responder a esses desencadeadores, muita evolução precisou acontecer no cenário da gestão de pessoas e, em especial, da QVT. As empresas passaram a ter maior atenção aos riscos ocupacionais do trabalho, ergonomia, questões relacionadas à saúde e à segurança, sobrecarga mental, atividades com esforços repetitivos, comunicação, tecnologia, psicologia, psicopatologia, significação do trabalho, comportamentos, expectativas, contratação de psicológico de trabalho, motivação, liderança, empregabilidade, entre outros (LIMONGI-FRANÇA, 2012). No próximo tópico, você vai conferir um pouco melhor os conceitos, enfoques e as dimensões em que a qualidade de vida pode influenciar na vida do indivíduo. 4.2.2 Conceitos e diversidade de enfoques A qualidade de vida, de modo geral, “é o resultado da percepção que o indivíduo tem sobre as diferentes dimensões da sua vida. Assim, pessoas que veem de forma positiva o seu estado físico e psicológico – suas expectativas,valores e relações sociais – tende a acreditar que têm elevados níveis de qualidade de vida” (GRAMMS; LOTZ, 2017 p, 24). Vamos conhecer quais dimensões são essas? Acompanhe: VOCÊ QUER LER? O mundo corporativo, em especial a gestão de pessoas, vem passando por muitas mudanças. Fala-se sobre a valorização das pessoas, sobre perceber os colaboradores como capital e não como recurso. Mas, quais os impactos reais disso para o colaborador? Quais as diferenças que existem entre discurso e prática? Essas respostas você encontra no artigo “Empresa humana ou humano empresa?” (ANDRADE, 2011). Você pode conferir em: <https://rae.fgv.br/sites >./rae.fgv.br/files/artigos/38-41.pdf https://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/files/artigos/38-41.pdf https://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/files/artigos/38-41.pdf - -10 Quadro 2 - Dimensões da qualidade de vida. Fonte: GRAMMS; LOTZ, 2017, p. 24. Assim, quando falamos sobre a QVT, estamos tratando da dimensão profissional da qualidade de vida, mas também, com os impactos que o trabalho gera nas demais dimensões. A qualidade de vida no trabalho expressa “a ampla experiência que a pessoa vivencia em relação ao trabalho” (GRAMMS; LOTZ, 2017, p. 27). Entretanto, a qualidade de vida no ambiente de trabalho está totalmente relacionada com a qualidade de vida de modo geral que uma pessoa tem. Elas são indissociáveis. Por conta das diversas dimensões, é necessário identificar as reais necessidades dos colaboradores, evitando implantar programas de QVT com base nas possibilidades da empresa ou como reflexo de uma tendência ou de um modismo (LIMONGI-FRANÇA, 2012). Clique nas setas e aprenda mais sobre o tema. Durante muito tempo, o foco da QVT foi a saúde, a segurança e a higiene. Agora, cada vez mais ganha espaço fatores como integração, competências, e o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Mas não podemos ter a inocência de acreditar que as organizações estão focadas apenas no bem-estar dos trabalhadores, as empresas também se beneficiam melhorando a produção, os resultados, a sustentabilidade e a competitividade. Podemos, assim, afirmar que “o propósito da QVT é promover melhorias nas condições de trabalho e na vida dos VOCÊ QUER VER? O filme é uma comédia dramática que tem como protagonista Adam Sandler,Click interpretando um arquiteto que trabalha excessivamente e acaba negligenciando outras esferas da sua vida. Através dessa história, é possível realizar inúmeras reflexões sobre as dimensões da qualidade de vida, incluindo a QVT. - -11 Podemos, assim, afirmar que “o propósito da QVT é promover melhorias nas condições de trabalho e na vida dos trabalhadores, em uma relação de ganhos mútuos. Daí a importância de atentar para o ambiente físico e para o ambiente psicossocial da organização” (GRAMMS; LOTZ, 2017, p. 31). No ambiente físico da empresa estão incluídos os aspectos que influenciam na realização das atividades, são fatores tangíveis que influenciam nas condições de trabalho, como: ventilação, móveis ergonômicos, iluminação, ambiente seguro, materiais e equipamentos adequados etc. Um ambiente físico saudável evita riscos e acidentes, além de trazer maior segurança e bem-estar para os trabalhadores. Já o ambiente psicossocial envolve as interações, o conteúdo das atividades, as relações, a cultura, as competências, questões pessoais. Neste ambiente, ocorre a interação entre as questões ambientais e estruturais do trabalho e os aspectos pessoais do colaborador (GRAMMS; LOTZ, 2017). Os riscos ligados ao ambiente psicossocial podem influenciar diretamente a saúde e o bem-estar dos colaboradores e seus familiares. Destacam-se como os principais riscos psicossociais segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS): organização inadequada do trabalho; falta de clareza nas informações; má distribuição de tarefas; falta de respeito; falta de valorização e reconhecimento; abuso de poder; ameaças de punições; ausência de políticas voltadas à gestão de pessoas; assédios; discriminações de qualquer tipo, entre outros. Esses riscos podem trazer reações de comportamento dos colaboradores, ativas – reclamações, greves, enfrentamentos com gestores, atrasos etc. – ou passivas – absenteísmo, negligência em relação à qualidade do trabalho, falta de comprometimento, falta de participação, isolamento, agonia, insônia, consumo abusivo de comida, álcool ou tabaco etc. (GRAMMS; LOTZ, 2017). Com base nisso, podemos verificar que a QVT busca equilibrar as condições de trabalho e os aspectos humanos. É necessário cuidar das diferentes esferas da vida de uma pessoa, as quais podem influenciar positiva ou negativamente na saúde física e mental, o que afeta diretamente a relação do indivíduo com o trabalho. Por isso, as empresas precisam atuar para buscar meios de minimizar os riscos e melhorar as condições de trabalho e, consequentemente, de vida dos seus colaboradores, através de ações e programas de QVT. Vamos conferir como isso é possível? 4.3 Programas de Qualidade de vida no trabalho Para que as empresas possam investir em qualidade de vida no trabalho, de modo a tornar o ambiente e a realização das atividades mais agradáveis dentro do ambiente organizacional, mostra-se importante a definição de um programa de QVT. Existem diferentes formas de melhorar a qualidade de vida no trabalho, por isso, cada empresa precisará encontrar qual o melhor método, de acordo com a sua realidade. É importante destacar que um programa de QVT precisa ter seu desenvolvimento pautado em uma metodologia já testada, mas de forma personalizada para a realidade da organização. Vamos conferir como proceder para a implantação de um programa de QVT? Prossiga nos estudos! VOCÊ O CONHECE? Ana Cristina Limongi-França é professora, psicóloga e doutora em Administração, e é uma das principais pesquisadoras sobre a qualidade de vida no trabalho no Brasil. Possui diversas pesquisas realizadas e obras publicadas que ajudam a entender melhor a QVT, sua evolução ao longo do tempo e a relação entre empresa-indivíduo. - -12 4.3.1 Implantação de um programa de QVT O primeiro ponto importante para que uma empresa implante um programa de QVT é ter consciência de que a preocupação com as pessoas deve ser genuína. Mas, como assim? Muitas empresas desenvolvem programas para simplesmente atender a pré-requisitos relacionados a uma boa gestão ou para melhorar a imagem perante a sociedade. Isso não é adequado! Os programas precisam ser planejados, desenvolvidos e aplicados pensando nas pessoas e nas reais necessidades dos trabalhadores. O objetivo do programa de QVT é permitir que a organização propicie um ambiente saudável, onde as atividades são realizadas de forma segura, com condições que busquem favorecer a saúde e o bem-estar dos colaboradores no ambiente organizacional. Podemos perceber que um programa de QVT pode ser importante para os colaboradores e para a empresa, mas como é possível implantá-lo? A implantação pode ser dividida em três etapas sequenciais, segundo a metodologia proposta por O´Donnel (MASSOLA, 2007). Confira! Figura 3 - Etapas de Implantação de um programa de QVT. Fonte: Elaborada pela autora, adaptada de MASSOLA, 2007. Para aprender mais sobre essas etapas, clique nas abas abaixo. Primeira etapa A primeira etapa, a sensibilização, busca explicar aos colaboradores a razão de ser do programa, importância e objetivos, de modo que todos compreendam o foco. Neste momento, busca-se atrair a atenção, compreensão e gerar interesse dos colaboradores. Contudo, não basta sensibilizar os colaboradores, os gestores precisam ser sensibilizados também, de modo que entendam o seu papel. Essa é uma etapa de pouco investimento, pode ser realizada através de reuniões, e-mails, circulares, palestras etc. (MASSOLA, 2007). Segunda etapa Terminada a primeira fase, é iniciada a segunda etapa, que é o desenvolvimento do programa. Para isso, deve ser realizada uma avaliação inicial com os participantes do programa para definir indicadores, depois são iniciadas atividades de vivência, grupos de apoio, entre outrosmétodos educacionais que tenham como foco a mudança de comportamento dos colaboradores. É sempre importante realizar uma avaliação final ao término do programa para comparar os indicadores iniciais e finais. Além disso, é necessário que os participantes recebam feedbacks sobre os pontos desenvolvidos e quais ainda precisam ser melhorados (MASSOLA, 2007). Terceira etapa O programa de QVT busca mudar o estilo de vida das pessoas dentro do ambiente organizacional, ou seja, deve ter início, meio e fim, para que seja possível acompanhar essas mudanças. Talvez você esteja se perguntando: “e se os comportamentos antigos retornarem a acontecer?” Realmente, este risco existe. Por isso, existe a terceira e última etapa, Ambiente de Suporte. Ele ajuda a evitar recaídas e faz isso ao proporcionar aos colaboradores um ambiente saudável, compatível com o tema que foi abordado durante todo o programa (MASSOLA, 2007). - -13 Podemos perceber que cada uma das etapas é fundamental para que um programa seja bem-sucedido. A primeira trará um maior envolvimento e engajamento dos participantes, a segunda representa a execução e, a última, a possibilidade de perpetuar os resultados obtidos. Para que seja possível construir um programa, vimos que é importante levantar indicadores. Vamos conferi-los no próximo tópico! 4.3.2 Pesquisa e indicadores de QVT Para que seja possível entender os aspectos que compõem a QVT nas organizações, bem como para planejar programas específicos, é preciso pesquisá-la. Existem muitas metodologias, e a seguir você pode conferir uma série de indicadores determinados por diferentes estudiosos e pesquisadores. CASO Eduardo é o responsável pela gestão de pessoas de uma empresa que sofre com altos índices de absenteísmo, que são faltas e ausências dos colaboradores. A maior parte das ausências se deve a atestados médicos por problemas na coluna. Ele percebeu que os colaboradores não se sentavam corretamente, desconhecem questões ligadas a ergonomia, e também não participam das atividades de ginástica laboral. Para tentar reverter essa situação, Eduardo desenvolveu um programa de QVT voltado para ergonomia no ambiente de trabalho, com foco em evitar problemas ortopédicos e musculares em decorrência das atividades laborais. O programa teve pouca aderência, poucos colaboradores participaram. Contudo, todos que participaram tiveram mudanças significativas e contínuas nas suas vidas, com melhora na postura, mais exercícios e alongamentos nos intervalos das atividades de trabalho, e consequentemente menos atestados médicos por lesões na coluna. A implantação parecia perfeita, afinal os resultados eram positivos e duradouros. Todavia, os motivos da baixa participação não ficavam claros. Ao analisar todas as etapas de implantação do programa, Eduardo percebeu que havia esquecido de realizar a sensibilização, então nem colaboradores, nem coordenadores haviam conseguido entender a importância e o objetivo do programa. Uma segunda proposta foi planejada, incluindo a sensibilização antes da realização do programa e, agora, a participação foi muito maior e virou um sucesso, porque todos estavam conscientes da importância para a saúde de cada um e para a empresa. - -14 Quadro 3 - Principais modelos teóricos da QVT e seus indicadores. Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de LIMONGI-FRANÇA; KANIKADAN, 2006; ALVES, 2010. Existem outros modelos teóricos que possuem foco no cargo, o que ficou questionável com a gestão por competências e a remuneração estratégica. Ainda hoje, alguns dos modelos propostos, como é o caso de Walton, são utilizados nas organizações, mas, é importante lembrar da necessidade de adaptar e personalizar os instrumentos para a realidade de cada empresa. Não podemos afirmar que existe um modelo certo e outro errado, eles podem ser considerados complementares. Contudo, perceba que esses indicadores apresentados estão focando no ambiente interno da organização, é importante lembrar que o ambiente externo também interfere diretamente na QVT. Clique nos itens abaixo e conheça outros aspectos relacionados ao tema. • Na visão de Gramms e Lotz (2017), pode ser realizada uma avaliação diagnóstica antes da implantação de um programa de QVT. Essa avaliação é uma investigação sobre diversos indicadores, como saúde, estilo de vida, interesses e expectativas dos colaboradores, para poder conhecer a realidade e traçar um programa de QVT que traga realmente melhorias para as pessoas. • Essa avaliação diagnóstica pode ser dividida em três fases: coleta de dados da empresa e dos colaboradores, a aplicação da avaliação e a apresentação dos resultados através de relatórios individuais e grupais. Ela permitirá que sejam identificados o público-alvo, as áreas críticas e as ações que precisam ser tomadas (GRAMMS; LOTZ, 2017). • A pesquisa é importante porque a qualidade de vida no trabalho somente poderá ser melhorada se for medida de forma sistemática. Nesse ponto, por ser a QVT um construto, ela não pode ser medida diretamente, o que torna as medidas numéricas obtidas em índices imperfeitos (ALVES, • • • - -15 medida diretamente, o que torna as medidas numéricas obtidas em índices imperfeitos (ALVES, 2010). Além disso, perceba que são inúmeros os fatores contemplados nos indicadores, incluindo questões ligadas ao salário recebido e remuneração variável. A percepção sobre cada um desses itens é totalmente subjetiva. • A construção da pesquisa pode ser com perguntas fechadas, abertas ou mistas. É frequentemente usada a escala Likert, onde o respondente relata sua opinião ou satisfação com base em diversas opções, sem fazer uso do simples “sim” ou “não”. Para as pesquisas de QVT, essa escala é utilizada através de enunciados com declarações completas que expressam um ponto de vista sobre um dos indicadores, permitindo que o respondente avalie a importância de cada um dos itens apresentados (ALVES, 2010). Não podemos esquecer que uma pesquisa sempre precisa ser válida e confiável, por isso, a participação das pessoas precisa ser espontânea e o tratamento dos dados (tabulação e análise) precisam ser feitos com muito cuidado e atenção. A qualidade de vida no trabalho pode ser pesquisada e avaliada de diferentes formas. Cada organização precisa ter atenção às suas necessidades e pesquisar dentre as opções já existentes, os instrumentos já validados e a possibilidade de desenvolver um instrumento próprio. O importante é que a QVT esteja presente e seja foco de atenção das empresas. Contudo, precisamos ter atenção porque existem algumas determinações legais que influenciam nessa questão. Vamos conferir? 4.4 Relações trabalhistas e QVT Ao longo dos estudos, você teve a chance de perceber a importância da qualidade de vida no trabalho, tanto para os colaboradores, quanto para as organizações. Ela tem impacto direto na satisfação, na saúde, no bem-estar e é composta por inúmeros fatores como higiene, reconhecimento, questões financeiras, sociais, entre muitas outras. Por ser tão complexa, requer que seus programas sejam planejados, baseados na identificação de necessidades, de modo que sejam aplicadas estratégias personalizadas que tragam os melhores resultados possíveis. Contudo, nem sempre cabe à empresa pesquisar e decidir sobre as ações que realizará em prol da QVT. Existem algumas determinações legais voltadas para a área trabalhista que focam especificamente na QVT e precisam ser obedecidas. E é isso que vamos estudar a partir de agora. Acompanhe! • VOCÊ SABIA? Existem instrumentos de pesquisa prontos, que já foram aplicados e validados anteriormente por alguma organização. Eles podem ser genéricos, como o WHOQOL-100, quando focam na qualidade de vida de forma geral. Outros são específicos, com enfoque em um aspecto específico da qualidade de vida, como o ISSL, que analisa sintomas de stress (GRAMMS; LOTZ, 2017). - -16 4.4.1 Aspectos legais: higiene, saúde e segurança no trabalho A legislação trabalhista brasileira traz determinações na CLT sobre o ambiente, as condiçõesde trabalho e a proteção do colaborador. O capítulo 5 do referido texto legal é dedicado exclusivamente à segurança e à medicina do trabalho. São abordadas questões sobre iluminação, edificações, uso de equipamentos de proteção, atividades perigosas e insalubres, bem como os responsáveis e as possíveis penalidades para o não cumprimento de alguma determinação (BRASIL, 1943). Clique nas abas a seguir e conheça mais sobre o tema. • Saúde Em relação à saúde, além de propiciar um ambiente com condições adequadas, o empregador é obrigado a realizar exames médicos admissionais, demissionais e periódicos, de modo que não deixe de ser observada qualquer situação de risco para o colaborador e que se tenha plena certeza da aptidão física do mesmo para realização das atividades laborais. • Exames periódicos Um exemplo da necessidade de exames periódicos é o caso dos profissionais que atuam diretamente com fones de ouvido, os chamados headsets, realizando ligações. A audiometria se mostra necessária para assegurar que a capacidade auditiva do profissional não está sendo afetada pela realização das atividades. • CIPA Uma das determinações da CLT é a obrigatoriedade de constituição de uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, a chamada CIPA. Essa comissão será composta por colaboradores e representantes dos empregadores, tendo como objetivo principal preservar a saúde e a integridade física de todos os colaboradores. Contudo, a maior parte das determinações específicas sobre higiene, saúde e segurança são encontradas nas normas regulamentadoras. A Portaria do Ministério do Trabalho n.º 3.214/1978 determinou grande parte das normas regulamentadoras vigentes. No momento, 35 normas regulamentadoras estão em vigor, pois a NR27 foi revogada. Essas normas são divididas por temas, mas algumas são genéricas e podem ser aplicadas a diversas atividades (CAMISASSA, 2017). Confira, no quadro a seguir, o rol das normas regulamentadoras em vigor. • • • - -17 Quadro 4 - Normas regulamentadoras vigentes no Brasil. Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de CAMISASSA, 2017. Dentre os programas determinados na legislação, merecem destaque dois deles (LIMONGI-FRANÇA, 2012). Vamos conhecê-los? Clique nas abas e confira! PPRA Programa de Prevenção de Acidentes (PPRA): determinado pela NR9, objetiva a preservação da integridade do colaborador, por meio de ações que eliminem, neutralizem ou reduzam as agressões dos locais de trabalho que possuam agentes ambientais acima dos limites de tolerância estabelecidos como adequados. PCMSO Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional (PCMSO): determinado pela NR7, busca priorizar a - -18 Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional (PCMSO): determinado pela NR7, busca priorizar a preservação da higidez dos trabalhadores, por meio de ações de saúde que privilegiem o diagnóstico precoce dos agravos à saúde, originados nas agressões das atividades laborais fora do controle da higiene industrial. Embora sejam programas distintos, eles são interdependentes, sendo que a implantação pode acontecer de forma conjunta. É importante perceber que o PPRA tem como foco o ambiente de trabalho, já o PCMSO tem como foco o trabalhador. Podemos perceber que a legislação aborda fatores que contribuem diretamente para a QVT, mas estes não são facultativos às organizações, e sim obrigatórios. 4.4.2 Doenças ocupacionais e profissionais: estresse e fatores estressores Doenças ocupacionais e profissionais são aquelas desenvolvidas em decorrência das atividades laborais e/ou do ambiente de trabalho. Podem ser caracterizadas como doenças físicas ou psíquicas. Para que seja possível compreender melhor o ser humano e como as doenças ocupacionais podem afligi-lo, é preciso primeiramente entender que a pessoa é um ser biopsicossocial. Mas, o que isso significa? Clique nas setas para saber. Para Limongi-França e Rodrigues (2013) significa que somos formados por aspectos biológicos (características físicas herdadas ou desenvolvidas ao longo da vida – metabolismo, resistências e vulnerabilidades), aspectos psicológicos (processos afetivos, emocionais e intelectuais – personalidade, mentalidade, raciocínio, forma de se relacionar) e aspectos sociais (valores e crenças adquiridos dos grupos onde se insere). Trata-se desses aspectos de forma unificada porque somos seres únicos, então cada um desses aspectos pode ser manifestado simultaneamente ou sequencialmente com os demais. Vamos conferir um exemplo? Suponhamos um trabalhador que tenha sofrido um acidente de trabalho, onde cortou gravemente o pé. Em um primeiro momento, percebemos a gravidade no aspecto biológico, sendo necessário atendimento hospitalar. Sequencialmente, ele precisará do apoio dos seus familiares para sua plena recuperação, o que envolve o aspecto social. Mas se esse trabalhador fica preocupado (com a sua saúde, com a ausência do trabalho, com o apoio dos familiares) ou até deprimido, estamos falando do aspecto psicológico. Perceba que uma única ação, que foi o acidente, mobiliza de diferentes formas e em diferentes momentos todas as dimensões da composição do ser humano. Perceba também que são inúmeros os fatores que contribuem para o bem-estar e para a saúde do colaborador. Por isso, a medicina ocupacional – que se ocupa em evitar as doenças ocupacionais – precisa ter atenção a diversos aspectos da vida do indivíduo, como hábitos, vícios, medicamentos, doenças, entre outros fatores, que não são apenas as condições do ambiente de trabalho (como até pouco tempo se acreditava). Assim, se o colaborador tem um ótimo ambiente de trabalho, mas sua vida é conturbada, poderá ter consequências. A recíproca também é verdadeira, afinal pode ter uma vida pessoal tranquila, mas viver sob pressão no ambiente de trabalho. A QVT, assim como a saúde, está intimamente ligada à qualidade de vida pessoal, sendo que um dificilmente será positivo se o outro for negativo (LIMONGI-FRANÇA, 2012). VOCÊ QUER LER? Cada uma das normas regulamentadoras tem foco em um assunto específico, podendo ser direcionada para um setor também. Por isso, caso você queira conhecer mais sobre cada uma delas, o portal do Ministério do Trabalho (BRASIL, 2018) traz uma listagem todas elas, bem como apresenta a redação completa e detalhada dos textos. Confira em: <http://trabalho.gov. >.br/index.php/seguranca-e-saude-no-trabalho/normatizacao/normas-regulamentadoras http://trabalho.gov.br/index.php/seguranca-e-saude-no-trabalho/normatizacao/normas-regulamentadoras http://trabalho.gov.br/index.php/seguranca-e-saude-no-trabalho/normatizacao/normas-regulamentadoras - -19 Figura 4 - A medicina ocupacional busca dar atenção conjunta para a vida pessoal e a vida profissional do paciente. Fonte: woaiss, Shuttertock, 2018. Nesse sentido, virou senso comum dizer que o estresse está cada vez mais presente no dia a dia. Mas, o que exatamente essa palavra significa? Estresse pode ser definido como “um conjunto de reações físicas, químicas e mentais de uma pessoa decorrente de estímulos ou estressores que existem no ambiente. (...) é soma das perturbações orgânicas e psíquicas provocadas por diversos agentes agressores, como: traumas, emoções fortes, fadiga”, entre outros (CHIAVENATO, 2014, p. 405). Os fatores estressores podem desestabilizar e prejudicar o bem-estar das pessoas. Confira alguns desses fatores na figura a seguir. VOCÊ QUER LER? Para se aprofundar mais na relação do estresse com a QVT, é indicada a leitura da obra “Stress e Trabalho: uma abordagem psicossomática”. Neste livro, os autores abordam os mais diversos aspectos do estresse, com seus impactos positivos e negativos, riscos, fatores estressores e muito mais (LIMONGI-FRANÇA; RODRIGUES, 2013). - -20 Figura 5 - Fatores estressores são aqueles que desestabilizam o bem-estar da pessoa. Fonte: CHIAVENATO, 2014, p. 406. De forma complementar aos fatores estressores, Marras (2011) traz que eles podem ser ambientais ou contextuais, isso quer dizer que podem ser gerados pelo ambiente ou por situações.Também podem ser individuais ou organizacionais, isso significa que podem ser compartilhados pelos membros da equipe ou ser algo pontual e restrito a um determinado indivíduo. Ainda que os pesquisadores possam determinar alguns fatores que guardem relação direta com a QVT, é importante destacar que esses fatores variam e dependem muito das expectativas que cada um possui. Tanto é verdade, que nem sempre o estresse será algo negativo ou disfuncional, afinal, algumas pessoas trabalham bem (às vezes até melhor) sob pressão. Em níveis baixos, o estresse pode gerar maior criatividade e uma competitividade considerada saudável (CHIAVENATO, 2014). Dessa forma, é possível afirmar que o estresse “não é bom nem ruim. E que é impossível e indesejável erradicá- - -21 Dessa forma, é possível afirmar que o estresse “não é bom nem ruim. E que é impossível e indesejável erradicá- lo. Ao contrário, ele pode ser um recurso importante e útil para uma pessoa fazer frente às diferentes situações de vida que ela enfrenta em seu quotidiano” (LIMONGI-FRANÇA; RODRIGUES, 2013). Todavia, se excessivo, o estresse pode sim resultar em consequências indesejáveis e danosas, sendo necessário ter equilíbrio. Podemos verificar que os sistemas de remuneração podem interferir diretamente na QVT, por exemplo, quando a empresa oferece facilidades, como transporte, alimentação, flexibilização de horário, entre outros. Quando a organização busca simplificar a vida do colaborador ou atende uma necessidade que ele teria que suprir sozinho, ela estará contribuindo para que os níveis de estresse sejam menores e a QVT seja maior. Perceba que a preocupação com a QVT envolve buscar alternativas para diminuir os fatores estressores, os riscos e o possível aparecimento de doenças ocupacionais e profissionais. Dessa forma, uma pessoa que trabalha em um ambiente com esse tipo de preocupação com o seu bem-estar pode entender que este é um dos benefícios de lá estar e querer permanecer nesta organização. Síntese Você chegou ao fim do quarto capítulo! Nele, você pôde se aprofundar mais no estudo sobre a legislação trabalhista, atuação dos sindicatos e a qualidade de vida no trabalho (QVT), além de entender a relação de cada um deles com a remuneração. Neste capítulo, você teve a oportunidade de: • identificar os aspectos da legislação brasileira que interferem nos sistemas de remuneração; • compreender o papel dos sindicatos nas relações trabalhistas; • entender como ocorre a implantação de um programa de QVT; • conhecer os aspectos legais da QVT; • compreender as doenças ocupacionais, profissionais e o estresse. Bibliografia ALVES, E. F. Qualidade de vida no trabalho: indicadores e instrumentos de medidas. , v. 6, n.Diálogos & Saberes 1, Mandaguari, 2010. Disponível em: <https://www.ssoar.info/ssoar/bitstream/handle/document/34825 >. Acesso em: 20/11/2018./ssoar-dialogossab-2010-1-alves-Qualidade_de_vida_no_trabalho.pdf?sequence=1 ANDRADE, D. P. Empresa humano ou humano empresa? , v. 10, n. 1, jan./jun., 2011. Disponível em: GV-executivo < >. Acesso em: 24/11/2018.https://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/files/artigos/38-41.pdf BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1º maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Diário Oficial da União. Disponível em: < >. Acesso em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452compilado.htm 21/11/2018. ______. Diário Oficial da União.Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. Disponível em: < >. Acesso em: 21 nov.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm 2018. ______. Ministério do Trabalho. Normas Regulamentadoras. Disponível em: <http://trabalho.gov.br/index.php >. Acesso em: 21/11/2018./seguranca-e-saude-no-trabalho/normatizacao/normas-regulamentadoras CAMISASSA, M. Q. : NRs 1 a 36 comentadas e descomplicadas. 4. ed. Rio deSegurança e saúde no trabalho Janeiro: Forense, 2017. CHIAVENATO, I. : o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 4. ed. Barueri,Gestão de pessoas Manole, 2014. ______. : como reter talentos na organização. 7. ed. Barueri:Remuneração, benefícios e relações de trabalho • • • • • https://www.ssoar.info/ssoar/bitstream/handle/document/34825/ssoar-dialogossab-2010-1-alves-Qualidade_de_vida_no_trabalho.pdf?sequence=1 https://www.ssoar.info/ssoar/bitstream/handle/document/34825/ssoar-dialogossab-2010-1-alves-Qualidade_de_vida_no_trabalho.pdf?sequence=1 https://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/files/artigos/38-41.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm http://trabalho.gov.br/index.php/seguranca-e-saude-no-trabalho/normatizacao/normas-regulamentadoras http://trabalho.gov.br/index.php/seguranca-e-saude-no-trabalho/normatizacao/normas-regulamentadoras - -22 ______. : como reter talentos na organização. 7. ed. Barueri:Remuneração, benefícios e relações de trabalho Manole, 2015. CLICK. Direção: Frank Coraci. Roteiro: Steve Koren, Mark O'Keefe. Distribuição: Columbia Pictures, Estados Unidos. 107 minutos. 2006. GRAMMS, L. C.; LOTZ, E. G. . Curitiba: Intersaberes, 2017.Gestão da qualidade de vida no trabalho LIMONGI-FRANÇA, A. C. : conceitos e práticas nas empresas da sociedade Qualidade de vida no trabalho - QVT pós-industrial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012. LIMONGI-FRANÇA, A. C.; RODRIGUES, L. A. : uma abordagem psicossomática. 4. ed. São Paulo:Stress e trabalho Atlas, 2013. LIMONGI-FRANÇA, A. C.; KANIKADAN, A. Y. S. A construção de um instrumento de coleta de dados a partir do modelo de indicadores biopsicossocial e organizacional – BPSO96 e do modelo de competências do bem-estar – BEO, sobre gestão de qualidade de vida no trabalho. , ed. 54, v. 12, n. 6, nov./dez., 2006. Disponível em: <REAd >. Acesso em: 24/11/2018.http://www.seer.ufrgs.br/read/article/viewFile/40282/25618 MARRAS, J. P. conceitos e tendências. São Paulo: Saraiva, 2011.Gestão estratégica de pessoas: MASSOLA, R. M. Etapas de Implantação de Programas de Qualidade de Vida e a Mudança de Comportamentos. In: VILARTA, R.; SONATI, J. G. . Campinar:Diagnóstico da alimentação saudável e atividade física na FUNCAMP Ipes, 2007. p. 51-58. MOURA, M. Curso de Direito do Trabalho. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. SILVA, C. C. M. A proteção ao trabalho na Constituição Federal de 1988 e a adoção do permissivo flexibilizante da legislação trabalhista no Brasil. , v. 4, n. 7, jul./dez., 2012.Constituição, Economia e Desenvolvimento Disponível em: < >. Acesso em: 24/11/2018.http://www.abdconst.com.br/revista8/protecaoCassia.pdf http://www.seer.ufrgs.br/read/article/viewFile/40282/25618 http://www.abdconst.com.br/revista8/protecaoCassia.pdf Introdução 4.1 Aspectos legais da remuneração 4.1.1 Legislação trabalhista Determinação do salário mínimo Irredutibilidade salarial 13º salário 4.1.2 Relações trabalhistas e sindicais 4.2 Qualidade de vida no trabalho - QVT 4.2.1. Uma nova visão das relações do trabalho e da QVT Vínculos e estrutura da vida pessoal Fatores socioeconômicos Metas empresariais Pressões organizacionais 4.2.2 Conceitos e diversidade de enfoques 4.3 Programas de Qualidade de vida no trabalho 4.3.1 Implantação de um programa de QVT 4.3.2 Pesquisa e indicadores de QVT 4.4 Relações trabalhistas e QVT 4.4.1 Aspectos legais: higiene, saúde e segurança no trabalho Saúde Exames periódicos CIPA 4.4.2 Doenças ocupacionais e profissionais: estresse e fatores estressores Síntese Bibliografia
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