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E-book 2 Giovana Fernandes DIMENSÕES SOCIOCULTURAIS, HISTÓRICAS E FILOSÓFICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE Neste E-Book: INTRODUÇÃO ���������������������������������������������� 3 ORIGEM DOS JOGOS OLÍMPICOS ���������4 JOGOS OLÍMPICOS DA ERA MODERNA: EVOLUÇÃO E PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS �����������17 CONSIDERAÇÕES FINAIS ���������������������� 35 2 INTRODUÇÃO Neste e-book, vamos entender a origem dos Jogos Olímpicos, voltando à Antiguidade, na Grécia Antiga, onde tudo começou. Vamos conhecer algumas teo- rias que explicam como nasceu esse grande evento esportivo, quais eram as provas realizadas nessa grande competição, como os atletas se preparavam e como eram as instalações do local onde aconteciam. Os Jogos Olímpicos, durante muito tempo, foram o principal acontecimento relacionado à cultura na Grécia Antiga. Contudo, com o passar do tempo, o grandioso evento esportivo acabou. Por isso, vamos conhecer algumas versões que explicam as possíveis razões que levaram os Jogos Olímpicos da antigui- dade a entrar em decadência. Vamos compreender também todo o processo de reinvenção dos Jogos Olímpicos, movimento que foi idealizado pelo historiador francês Pierre de Coubertin. A história dos Jogos Olímpicos Modernos atravessou o século 20 cheia de altos e baixos e espalhou pelo mundo grandes transformações no universo dos esportes. 3 ORIGEM DOS JOGOS OLÍMPICOS Neste tópico, o tema é a origem dos Jogos Olímpicos. Vamos entender como o surgimento deste evento esportivo mantém uma estreita ligação com as ra- zões de cunho religioso. Vamos compreender ainda a importância e o prestígio que o evento tinha para a sociedade grega, isto é, de que maneira aconteciam seus preparativos, desde a organização até as prepa- rações dos atletas, as instalações onde aconteciam e de que maneira as provas eram disputadas. Figura 1: Deuses e heróis olímpicos. Fonte: Designed by macrovector / Freepik. A origem dos Jogos Olímpicos é sempre muito dis- cutida, apresentando-se pelas diversas versões e teorias explicadas pelos historiadores. Um dos mitos relacionados à origem dos Jogos Olímpicos é que 4 https://image.freepik.com/vetores-gratis/deuses-gregos-antigos-2-figuras-de-desenhos-animados-horizontais-conjuntos-com-dionysus-zeus-poseidon-aphrodite-apollo-athena_1284-27795.jpg https://image.freepik.com/vetores-gratis/deuses-gregos-antigos-2-figuras-de-desenhos-animados-horizontais-conjuntos-com-dionysus-zeus-poseidon-aphrodite-apollo-athena_1284-27795.jpg teriam surgido a partir das corridas de carruagem, em que Pélope (que deu nome a Peloponeso) teria saído vitorioso de uma dessas corridas e, com isso, conquistado a mão da princesa Hipodâmia. De fato, antigas evidências apontam para o prestígio e a importância das corridas de carruagem. Entre as incertezas sobre a origem dos Jogos Olímpicos, é unânime o fato de que suas origens mantêm uma relação estreita com a junção de exercício físico com religião. Os gregos acreditavam que o corpo tem a mesma importância que o intelecto e o espírito, assim, a melhor maneira de honrar Zeus (Figura 2) seria cuidando do corpo e da mente. Diante dessa estreita ligação com o culto aos deuses, entende-se que a origem dos Jogos Olímpicos possui razões de cunho religioso. Figura 2: Zeus. Fonte: Pixabay. 5 https://cdn.pixabay.com/photo/2013/07/12/13/25/zeus-146991_960_720.png SAIBA MAIS Saiba mais sobre o culto heroico, consultan- do, Culto heroico, cerimonias fúnebres e a ori- gem dos Jogos Olímpicos, de Haiganuch Sarian (1996/1997), que será importante para seus es- tudos, pois trará novos conhecimentos sobre as teorias que envolvem a origem dessa grande e importante competição atlética. As competições esportivas aconteciam em santuá- rios próximos aos templos e, em geral, realizavam-se por ocasião de festas religiosas, conforme ocorreram nas cidades gregas de Olímpia, Delfos, Nemeia e Istmo de Corinto. Nessa época, a Grécia não existia enquanto um país, e sim como uma região com cidades independentes entre si, mas que mantinham uma cultura comum. Essas cidades viviam em guerra; porém, no período dos Jogos, estabelecia-se uma trégua que era co- mumente respeitada por todos. Sobre a origem das modalidades de jogos, acredi- ta-se que muitas delas passavam por instituições divinas e heroicas. Apolo teria sido o inventor do pugilato; Zeus teria instituído a luta a partir de uma disputa com seu pai, Cronos; Jasão teria inventado o pentathlon, que envolve os cinco jogos mais fa- mosos da Antiguidade: corrida, arremesso de disco, lançamento de dardo, salto e luta. Quanto à corrida, existem duas versões: uma considera que teria sido 6 uma instituição de Apolo; outra que acredita que foi uma invenção de Héracles. Célebres festivais atléticos Pan-Helênicos eram rea- lizados na Antiga Grécia. A seguir, vamos conhecer alguns: ● Jogos píticos: considerados o segundo evento atlético mais importante, aconteciam a cada quatro anos em Delfos, onde havia um santuário com locais para a prática de atividade física. Esses jogos tive- ram uma grande importância não somente pelo seu caráter atlético, mas também pelo seu valor artístico. ● Jogos ístmicos: aconteciam no Istmo do Corinto, um dos principais centros comerciais do mundo antigo. A origem desses jogos é também cercada de diversas versões que se confundem, porém, sabe-se que além das disputas atléticas e artísticas os jogos tiveram uma famosa competição de pintura, devido ao relevante papel que o Corinto exercia sob a arte. ● Jogos nemeus: aconteciam em Nemeia, uma pe- quena vila localizada no Nordeste da Península do Peloponeso. A origem dos Jogos nemeus envolve duas versões muito diferentes, porém, com base nelas, fica claro que tinham um forte caráter fúne- bre. A programação do evento envolvia somente jogos atléticos, e sua primeira edição, após ter sido instituída a regularidade, foi registrada em 573 a. C, apesar de existirem algumas evidências que apontam a existência dos jogos desde 1251 a.C. 7 Todas essas competições tinham sua importância, porém, nenhuma se igualou aos Jogos Olímpicos, de Olímpia. Os Jogos Olímpicos eram a grande festa do mundo grego, e até unia cidades rivais. Sua popularidade foi de suma importância para fazer brotar nos gregos uma consciência de pertencer a uma só raça, falar uma mesma língua e de crer nos mesmos deuses, ocasio- nando a unificação e divulgação da cultura helênica. Os jogos aconteciam em Olímpia (Grécia Antiga), uma cidade banhada pelo rio Alfeu, que sediou por mais de um milênio os Jogos Olímpicos, o mais im- portante evento esportivo da Antiguidade. O Vale de Olímpia era considerado um lugar sagrado, neutro e inviolável, ou seja, não podia estar expos- to ao risco de guerras, pois muito mais do que um estádio, Olímpia era um lugar de culto, uma vez que a grande missão do santuário de Olímpia era a de representar, sacralizar, manter e honrar o espírito de competição. Os Jogos Olímpicos começaram a partir de 776 a.C., e essa data importante tornou-se uma referência para os gregos medirem o tempo. FIQUE ATENTO Há divergências sobre quando, de fato, os Jogos Olímpicos começaram. Por isso, Lima, Martins e Capraro (2009, p. 2-3) fazem um apanhado dos pontos divergentes: 8 Lee (1988) nos diz que, de acordo com as evidên- cias arqueológicas, é possível que tenham existi- do 27 jogos antes de 776 a.C., os quais não tinham grande significado. Já Mallwitz (1988), diretor ale- mão das escavações em Olímpia, acredita que os Jogos tiveram início no ano de 704 a.C. e eram re- alizados anualmente, sendo que somente em 680 a.C., passaram a ser quadrienais. Para Wacker (1996) a data de 776 a.C. pode ser um falso fato histórico criado na cidade de Elis, por uma série de razões. Ele argumenta que as descobertas realiza- das pelos arqueólogos demonstraram que o san- tuário de Olímpia foi aumentado por volta de 700 a.C. e que não existiam evidências da existência deatividades competitivas antes desse período. A cada quatro anos, era realizada uma Olimpíada que, inicialmente, durava um dia. Com o tempo, passou a durar uma semana. Acontecia no final do mês de julho, em agosto ou no início de setembro, sempre após o solstício de Verão, na segunda ou na terceira lua cheia, e assim que a data fosse definida, um co- municado era enviado para que as cidades gregas fossem avisadas. Os preparativos começavam um ano antes do evento, pois os templos e estádios eram preparados, as pis- tas precisavam ser niveladas, dentre outros reparos. O santuário de Zeus, onde aconteciam os Jogos, possuía templos, altares, complexos desportivos, ginásio, piscinas, estádio, hipódromo e um grande teatro. 9 O núcleo de Olímpia era um bosque sagrado cha- mado Áltis, de onde eram retirados os ramos de oliveira para a premiação dos atletas vencedores. Posteriormente, os atletas, ao se profissionalizarem, passaram a receber prêmios em dinheiro. O ginásio tinha locais específicos para a realização das provas de saltos e arremessos, pista de corrida, local para massagens, banhos e local para os espec- tadores. Com o tempo, o lugar foi incrementado com melhorias, por exemplo, a construção de um palácio, termas e uma grande fonte, além de todo local ser adornado com cerâmica e esculturas de deuses, atle- tas vencedores e de outras pessoas consideradas importantes nas várias épocas. As competições dos Jogos Olímpicos eram dividi- das em: ● gimnicas: provas realizadas no estádio, de acordo com a idade dos atletas (adultos ou adolescentes); ● hípicas: provas realizadas no hipódromo. Somente homens podiam participar das competi- ções, além disso, os atletas deveriam seguir regras rígidas, sob o risco de severas punições quando não respeitadas. Os atletas começavam a treinar por vol- ta de dez meses antes dos jogos, e com a mesma antecedência eram definidos os juízes. Um mês antes do início do evento, os atletas e ju- ízes tinham de ir a Olímpia para que lá os atletas pudessem treinar sob a orientação dos juízes. Os que não estivessem em condições, ou seja, não 10 apresentassem boa forma física, acabavam sendo desclassificados. SAIBA MAIS Algumas curiosidades sobre os atletas: Os atletas se exercitavam nus, por acreditar que a nudez facilitava os movimentos, bem como em virtude ao culto ao corpo, que era muito valoriza- do pelos gregos. Os competidores passavam, no corpo, óleo e areia no intuito de regular a tempe- ratura do corpo, proteger-se do Sol e proteger-se das punições do treinador, ocasionadas quando eles não realizavam corretamente os exercícios. Ao término das provas, os atletas usavam um instrumento curvo chamado de strigilis, para re- mover o azeite e a areia da pele, além de esponja e água. Após os treinos, os atletas podiam des- cansar, tomar banho e fazer massagem. Por mui- to tempo, a alimentação dos atletas durante os ciclos de treinos era somente vegetariana. Tanto o culto ao corpo quanto o culto à mente eram valorizados, pois um atleta completo era aquele que dominava diversas áreas do conhecimento. Além da hereditariedade, a educação da mente era conside- rada muito importante. Na época, já existiam muitos conceitos relacionados a conhecimentos sobre o treino de atletas, repouso e alimentação adequada. 11 Ao se aproximar o início dos jogos, começavam a chegar os que iriam assistir ao evento e as famílias dos atletas, príncipes, viajantes, peregrinos, comer- ciantes, pessoas ilustres, pessoas humildes etc. Todos ficavam instalados em tendas localizadas nas proximidades da área esportiva. Ir aos jogos significava tanto um divertimento quanto uma peregrinação, visto que naquela época não era nada fácil viajar por terra ou mar, porém, milhares de pessoas faziam esse grande esforço para assistir aos jogos. Os Jogos Olímpicos seguiam um ritual: no primeiro dia, era oferecido um sacrifício ao deus, e os atletas e juízes participavam de uma cerimônia na qual fa- ziam um juramento de lealdade perante a estátua de Zeus. Em seguida, começavam as provas e sempre os jogos iniciavam e findavam com festas homena- geando os deuses. Podemos notar que algumas características e tradi- ções dos jogos da Antiguidade são mantidas até os dias de hoje, pois nos Jogos Olímpicos realizados na atualidade são igualmente realizadas as cerimô- nias de abertura, o juramento olímpico, a entrada dos atletas no estádio, algumas provas como as corridas, lutas, dentre outras e também as cerimônias de con- sagração dos vitoriosos. Entre as provas que eram disputadas nos Jogos Olímpicos da Antiguidade, algumas são as corridas, corrida com armas (escudo), pugilato, pancrácio e pentatlo (salto, lançamento de disco, lançamento de 12 dardo, corrida e luta), que eram realizadas no está- dio, e as corridas de cavalos e corridas de carros de cavalos, que eram realizadas no hipódromo. SAIBA MAIS Fique por dentro de algumas regras e curiosida- des sobre as provas disputadas nos Jogos Olím- picos na Grécia Antiga. Luta: para ser vencedor, era preciso provocar a queda do adversário por três vezes, sendo carac- terizada a queda quando costas, ombros ou peito do adversário tocasse o chão. A luta não tinha um tempo limite, não era permitido atacar com mordidas nem a zona genital. Pugilato: só era permitido usar os punhos, visto que os dedos ficavam envolvidos em tiras de cou- ro. O jogo só acabava quando um dos atletas fi- cava em estado inconsciente ou quando alguém sinalizava desistência. Pancrácio: era um misto de luta e pugilato em que tudo era permitido, só não enfiar o dedo nos olhos do adversário, arranhar, morder ou atacar a região genital. Pentatlo: envolvia cinco provas, como lança- mento do disco, do dardo, salto em distância, corrida de 200 metros e luta. O disco podia ser de pedra, ferro ou bronze e pesava 9,5 kg. O dar- do era feito de madeira. O atleta que vencesse 13 as três primeiras provas não precisava realizar as duas últimas. O ponto alto desse grande evento esportivo era a distribuição dos prêmios, não pelo seu valor intrínse- co, mas por toda honraria, pois os vencedores eram reconhecidos por toda a Grécia como grandes heróis. Nas competições desportivas, nunca houve entre os atletas outras ambições que não fosse as do triunfo, uma vez que a performance característica do des- porto moderno ainda não existia naqueles tempos, além de não haver o conceito de recorde. Com isso, o que realmente importava era ser o melhor. Era pelos Jogos Olímpicos que se conheciam os no- vos heróis, sendo o momento em que o homem se aproximava dos deuses buscando a transcendência. A vitória alcançada durante os Jogos conferia aos atletas o status da imortalidade perante o povo grego, já que era digna de honras, uma prova de méritos (LO BIANCO, 2011). REFLITA Nos Jogos Olímpicos da Era Clássica, as mulhe- res sofriam preconceito, pois não podiam nem participar das competições. Além do mais, aque- las que fossem casadas corriam o risco inclusive de serem mortas se estivessem nos locais onde aconteciam as competições. No que diz respei- to às desigualdades e aos preconceitos relacio- nados ao gênero, que foram construídos social- 14 mente e transferidos para o mundo do esporte, a reflexão que proponho é a seguinte: nos esportes, as mulheres atletas conquistaram seu reconheci- mento, de fato. Mas elas conquistaram os mes- mos direitos e poderes que os homens atletas? Os Jogos Olímpicos eram o principal acontecimento de toda cultura grega, porém, apesar dessa grande popularidade, o imperador romano Teodósio I emi- tiu, em 394 d.C., um decreto proibindo a realização de celebrações pagãs. Com essa medida, os Jogos Olímpicos gregos foram aos poucos deixando de existir, e o templo de Olímpia transformou-se em ru- ínas, as quais ficaram soterradas durante séculos. Segundo Lo Bianco (2011), desconsiderando os ideais de promoção da paz e de união das cidades gregas, o imperador romano TeodósioI baniu a reali- zação do evento em 394 d.C., alegando divergências religiosas, pois o culto aos deuses praticado pela sociedade grega divergia das crenças romanas e toda forma de apologia ao politeísmo helênico de- veria ser evitada. Há divergências quanto à verdadeira razão pela qual os Jogos Olímpicos acabaram, e alguns estudos apontam que fatores como a dominação romana, o profissionalismo e a corrupção durante os Jogos contribuíram com a decadência dos grandes festivais esportivos. 15 REFLITA Você acredita que os Jogos Olímpicos envolvem implicações sociais e políticas ou são apenas uma manifestação prioritariamente desportivo- -cultural sem impacto em outras áreas? O fato é que a dominação romana determinou ou ace- lerou a decadência dos Jogos Olímpicos no período antigo. Após a extinção dos Jogos Olímpicos gregos, o movimento olímpico ressurgiu pela iniciativa do educador Charles Freddye Pierre, que posteriormente se tornaria o Barão de Coubertin. Assim, aconteceu uma reinvenção dos Jogos Olímpicos, iniciando a era dos jogos modernos. 16 JOGOS OLÍMPICOS DA ERA MODERNA: EVOLUÇÃO E PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS Neste tópico, vamos estudar de que maneira os Jogos Olímpicos ressurgiram depois de aproxima- damente 1500 anos e de que maneira aconteceu a evolução histórica dos jogos no período moderno. Com isso, vamos conhecer um pouco sobre o gran- de idealizador desses Jogos, o Barão de Coubertin, quais eram seus valores e pretensões no que diz respeito à reinvenção dos Jogos Modernos. Para isso, é preciso abordar primeiramente um pouco da história de Pierre de Coubertin, o grande responsá- vel pelos Jogos Olímpicos modernos, cujo logotipo podemos observar na Figura 3: Figura 3: Anéis olímpicos. Fonte: Pixabay. 17 https://cdn.pixabay.com/photo/2018/02/21/08/47/the-olympic-rings-3169743_960_720.jpg Por volta de 1500 anos após o desaparecimento dos Jogos Olímpicos antigos, um francês conhecido como Barão de Coubertin idealizou e apresentou uma pro- posta em prol de resgatar os Jogos Olímpicos, tendo por base os antigos jogos realizados na Grécia Antiga. No tocante às tentativas de reinventar os Jogos, é importante lembrar que Coubertin não foi o pioneiro, pois outras pessoas já haviam tentado recriar os ri- tuais olímpicos existentes na Grécia Antiga. Porém, nem todas as tentativas podem ser consideradas antecessoras dos Jogos Olímpicos da era moderna, considerando que a originalidade de Coubertin não se apoiou na reinvenção dos Jogos, mas no resgate de ideia e ideais olímpicos para estabelecer um mo- vimento internacional com pretensões globais. Nisso ele obteve sucesso com a posterior fundação do Comitê Olímpico Internacional (COI) (LOLAND, 1995). Sobre a idealização dos Jogos Olímpicos da era mo- derna, alguns estudiosos apontam que o educador Pierre de Coubertin recebeu educação católica e clás- sica, e que na sua juventude teve a oportunidade de praticar diferentes esportes, como o boxe, esgrima e equitação. Devido a educação e valores que recebeu, Coubertin valorizava o sistema educacional inglês, pois considerava-o capaz de aliar a educação do corpo com a da mente de maneira eficiente. E as- sim, como defensor desse ideal, Coubertin realizou algumas tentativas de implantar sem sucesso as características do sistema educacional inglês na educação francesa. 18 O ideal olímpico de Coubertin baseava-se em diver- sos pilares, e sua idealização com relação ao forma- to do evento tinha influência das feiras/exposições mundiais que aconteciam desde 1851 e que contri- buíram significativamente com o desenvolvimento dos esportes internacionais. Coubertin tinha a intenção de universalizar os espor- tes ao organizar os Jogos Olímpicos da modernidade, bem como, ao criar o termo olimpismo, fez com que os esportes passassem a conter uma moral idealiza- da. O olimpismo proposto por Coubertin tinha forte ligação com valores relacionados ao autocontrole e desenvolvimento moral de seus praticantes (SILVA, 2002). FIQUE ATENTO Olimpismo nos remete a imagens dos Jogos Olímpicos, pois é comum associarmos essa pa- lavra ao famoso festival esportivo. Entretanto, olimpismo é uma filosofia desenvolvida pelo ba- rão Pierre de Coubertin, fundador do Movimento Olímpico Moderno. Coubertin era um aristocra- ta francês muito influenciado pela tradição das escolas públicas britânicas de usar o esporte na educação, assim, a filosofia do olimpismo signifi- cava o envolvimento com o esporte não somente pelos atletas de elite, mas por todo mundo, não apenas por um período curto, mas pela vida toda, não apenas a preocupação com a vitória nas competições, mas também com os valores de 19 participação e cooperação, não apenas o esporte enquanto atividade física, mas também enquan- to influência na formação do homem. Com o propósito de envolver os jovens nas práticas esportivas, promover e universalizar os esportes em todo o mundo, Coubertin reinaugurou em 1896 os Jogos Olímpicos modernos, baseando sua propos- ta nos valores do amadorismo e do fair play (jogo limpo). Além do jogo limpo, valores como empenho, determinação, superação, sacrifício e autocontrole estavam constantemente ligados aos esportes. Com base nesses valores, considera-se que a criação das regras para os esportes foi pensada levando em conta as orientações da igreja e da fé católica, pois o comportamento do cristão virtuoso, que busca o reino dos céus, é muito semelhante às virtudes do esportista. Os conceitos de lealdade, obediência às regras, espírito de renúncia (castidade, por exemplo) são virtudes do esporte muito valorizadas na Igreja. Podemos recordar que os Jogos Olímpicos na Grécia Antiga também eram realizados com aspirações reli- giosas, o que nos faz pensar nesse fato comum entre os eventos realizados na antiguidade e os idealizados pelo Barão de Coubertin, a partir de 1896. Com o resgate dos Jogos Olímpicos, Coubertin al- mejou utilizar o esporte como um instrumento de desenvolvimento moral considerando a prática es- portiva essencial não apenas no desenvolvimento do corpo, mas também no aprimoramento moral. 20 Entre as motivações que levaram ao desenvolvimento do esporte moderno, consta o renascimento pelo interesse dos estudos clássicos que fez renascer o encantamento que a cultura helênica exercia sobre a cultura europeia, tal qual as descobertas de sítios arqueológicos que desvendaram os acontecimentos relacionados aos Jogos Olímpicos da Antiguidade. Tudo isso motivou Pierre de Coubertin a ir em busca de organizar uma instituição de caráter internacional com o intuito de cuidar e organizar os Jogos apos- tando que o esporte é uma atividade com poder de transformar a sociedade. A proposta de resgatar os Jogos Olímpicos seguin- do o mesmo padrão grego foi apresentado em 25 de novembro de 1892, mesma data do quinto ani- versário da União das Sociedades Francesas de Esportes Atléticos (USFSA), que contou com o Barão de Coubertin como paraninfo. Nessa ocasião, ele relatou suas intenções referentes à necessidade de internacionalizar o esporte através da organização dos novos Jogos Olímpicos. Dois anos depois, nas- ceu então o COI, com a explícita finalidade de realizar e organizar os Jogos Olímpicos da Era Moderna. O COI contava com o grego Dimítrios Vikélas como seu primeiro presidente e, como secretário-geral, Pierre de Coubertin. Embora fossem estudiosos da área da educação e parte das universidades mais respeitadas do mundo, Coubertin contava com a falta de compreensão com relação à importância do evento que desejava recriar. 21 A realização de uma competição esportiva de abran- gência internacional, baseada nos Jogos Olímpicos gregos, com caráter educativo e permanente, era considerada uma tarefa audaciosa e exigia dentre outras coisas a criação de uma instituição que desse o devido suporte para sua execução. Coubertin apresentou a proposta de recriação dos Jogos Olímpicos, em junho de 1894, na Sorbonne,em Paris, em um congresso esportivo-cultural que contou com uma plateia de aproximadamente 2 mil pessoas, sendo que 79 representavam as sociedades esportivas e universidades de 13 nações. A proposta inicial comtemplava um evento esportivo competitivo de caráter internacional, que aconteceria a cada quatro anos, onde os participantes estariam vinculados a representações nacionais. Com isso, as olimpíadas modernas dividem-se em Jogos de Inverno e de Verão; tal qual na Antiguidade, aconte- cem de quatro em quatro anos, alternando-se a cada dois anos entre os Jogos de Verão e os de Inverno. Se, para os gregos, os Jogos significavam um mo- mento de trégua nas guerras, em contrapartida, no decorrer dos 110 anos de competições, os Jogos Olímpicos da Era Moderna sofreram algumas inter- rupções, devido às duas grandes guerras e também aos boicotes por parte de alguns países que alega- ram que o movimento olímpico não estava alheio às questões sociais e políticas do mundo contemporâ- neo, conforme Pierre de Coubertin almejou. 22 REFLITA Segundo consta, Pierre de Coubertin recebeu uma educação católica e clássica, assim ele de- fendia a prática esportiva, ou seja, não somente como instrumento no desenvolvimento do cor- po, mas também no aprimoramento moral. Com base nessa proposição, reflita: Você acredita que a atitude de Pierre de Couber- tin, ao desejar resgatar os Jogos Olímpicos espe- lhados no modelo da Antiga Grécia, demonstra um conservadorismo ou seu ideal estava muito à frente do seu tempo, uma vez que ele enxergou no esporte uma ferramenta capaz de modificar a sociedade? Em 1896 foi aceita a proposta olímpica, que inicial- mente foi encarada como um devaneio dos nobres excêntricos e aristocratas que despendiam uma grande quantia em dinheiro e também energia para convencer governo e atletas a percorrerem o mundo em busca de difundirem o ideal dos jogos que algu- mas vezes foram confundidos com ideais alheios aos olímpicos. A princípio, a primeira edição dos Jogos Olímpicos era para ter acontecido em 1900 na cidade de Paris (França), integrando as comemorações da virada do século. Contudo, diante da ansiedade que tomou os gregos, perante o grande acontecimento, os Jogos da Primeira Olimpíada aconteceram no berço dos 23 Jogos Olímpicos da Antiguidade, ou seja, em Atenas (Grécia). FIQUE ATENTO Entre as modalidades presentes nos Jogos Olím- picos Modernos, estão o atletismo, ciclismo, es- grima, ginástica, luta, natação, tênis e tiro. Os Jogos que aconteceram em 1896, 1900 e 1904 fo- ram marcados por desprezo e insignificância, devido a uma compreensão equivocada do verdadeiro sig- nificado do evento. Os Jogos de 1904 tiveram pouco público e muitos atletas que não absorveram a ideia de que estavam disputando os Jogos Olímpicos. Porém, essa condição começou a se transformar nos Jogos de Londres (1908) e Estocolmo (1912), edições que contaram com uma organização mais racional, acontecendo então uma grande participação do público e um planejamento muito mais elaborado do evento. Na edição de 1896, o evento ainda não contava com investimentos públicos para a construção dos equi- pamentos necessários para a realização. No entanto, pôde contar com a ajuda de personalidades gregas importantes, como Georgios Averoff, quem financiou a restauração do estádio grego de Atenas. No que diz respeito às proibições da participação feminina nas competições dos Jogos, a regra man- teve-se somente durante a sua primeira edição. Essa imposição foi banida, visto que, diante dos movimen- 24 tos de inclusão feminina nas várias esferas da vida social, inclusive no esporte, não havia mais argumen- tos para tal restrição. Nas edições de Paris (1900), França, e Saint Louis (1904), Estados Unidos da América, os Jogos pas- saram pelas piores fases da sua história. Nessas ocasiões, as competições se perderam dentro de outras atividades das exposições mundiais, além disso, em Saint Louis, houve casos de racismo diante da discriminação a atletas negros, desconsiderando a igualdade entre os participantes dos Jogos. Já em Londres (1908), o principal desafio de Coubertin foi cumprir com as exigências impostas pelos organizadores ingleses, devido ao seu sistema métrico e à obrigatoriedade da convocação somente de árbitros ingleses. FIQUE ATENTO Logo no início da reinvenção dos Jogos Olímpi- cos, uma questão difícil de enfrentar foi a falta de universalização de regras e pontuações. Isso fez com que os competidores e as delegações re- corressem a inúmeros recursos e apelos contra os resultados divulgados. É importante entender- mos que tal situação revelou a fragilidade logo no início da volta dos Jogos Olímpicos, e que os responsáveis pela mobilização desse movimen- to olímpico precisariam ainda de muito empenho para que os Jogos não se perdessem diante da 25 rivalidade política-ideológica que já se estabele- cia pela Europa. Nos Jogos de Estocolmo (1912), houve um preparo maior por parte dos organizadores, que iniciaram os preparativos antecipadamente e arrecadaram fundos para a construção de instalações adequadas às com- petições. Esse novo formato de conduta com relação ao trabalho no período de organização do evento foi providencial, já que se tratava de um evento que crescia a cada edição. Os Jogos de 1916 não aconteceram devido à eclosão da Primeira Grande Guerra (1914-1918), que provocou a interrupção em um calendário que era seguido de maneira exemplar. Assim, houve um intervalo de oito anos entre uma competição e outra. A escolha das quatro primeiras cidades-sede aconte- ceu por uma votação realizada pelo Comitê Olímpico Internacional, porém, acredita-se que as nomeações aconteceram basicamente pelo valor simbólico das cidades. Atenas (1896) foi escolhida aparentemente pela consideração à sua contribuição histórica; Paris (1900) foi um tributo ao esforço de Coubertin; Saint Louis (1904) foi uma homenagem ao Novo Mundo; Londres (1908) foi em consideração à tradição do esporte que legou ao mundo. Após o fim da guerra, em 1920, os Jogos acontece- ram na cidade belga de Antuérpia. Nessa ocasião, não houve concorrência entre cidades para sediar os jogos, e a escolha pela Bélgica possivelmente 26 foi uma forma de homenagear o país que havia sido castigado pelos anos de guerra. E assim a periodici- dade e alguns outros valores que haviam se perdido nos anos de conflito foram resgatados. SAIBA MAIS Coubertin criou a bandeira olímpica, com seus famosos cinco anéis, que foi hasteada pela pri- meira vez em cerimônias de abertura dos Jogos Olímpicos. Consta que os anéis nas cores azul, verde, amarela, preta e vermelha representam todos os continentes, uma vez que pelo menos uma dessas cores faz parte de todas as bandei- ras nacionais. Os Jogos Olímpicos, com o passar do tempo, forta- leceram-se e sobreviveram ao período entre guerras. Após 24 anos do seu reinício, a imagem de uma aven- tura de nobres e aristocratas excêntricos já havia sido superada, com isso, o evento passou a ser respeitado e ganhou grande importância internacional. O reco- nhecimento e, consequentemente, o fortalecimento dos Jogos Olímpicos trouxeram muita satisfação ao seu idealizador, Pierre de Coubertin. Em 1925, Coubertin encerrou seu mandato frente ao COI; Baillet-Latour foi eleito o novo presidente. Por sugestão de Coubertin, Baillet-Latour deu apoio especial aos países da América do Sul, ajudando na organização dos Comitês Olímpicos Nacionais, que 27 ganharam o direito formal de indicar um membro para participar das instâncias de poder do COI. O COI, no decorrer do mandato do novo presidente, passou por grandes transformações, dentre elas a introdução do Comitê Executivo que representaria uma instância máxima de decisões da entidade, abandonando a estratégia autocrática de comando de Pierre de Coubertin, além de se aproximar das Confederações Internacionais das modalidades es- portivas como uma maneira de universalizaro espor- te. Com base nesse novo formato, organizaram-se os Jogos de Amsterdã (1928). Os jogos Olímpicos tornaram-se um grande fenôme- no, um evento que exigia dos seus organizadores muita dedicação e esforço, uma boa infraestrutura e empenho dos governantes para sua realização. Tornou-se um grande espetáculo que reunia muitos expectadores, atraindo não somente o público em geral, mas também os praticantes do esporte. Apesar do crescimento e da consolidação dos Jogos Olímpicos no decorrer de nove edições, lamentavel- mente os Jogos da Nona Olimpíada se depararam com os mesmos argumentos utilizados por Teodósio I em 394 d.C., para sua extinção. Dessa vez, a rainha Guilhermina da Holanda, uma puritana conservadora, não dispôs de nenhum apoio financeiro aos Jogos e ainda tentou aguçar o sen- timento antiolímpico entre seus súditos. Em sua crença, o olimpismo era um movimento pagão, que precisava ser freado, antes que tomasse proporções 28 incontroláveis. Porém, os esforços da rainha foram em vão, já que a população local se empolgou diante da possibilidade de sediar uma olimpíada, com isso, a monarca se rendeu e optou por apoiar a realização dos Jogos. Os Jogos Olímpicos também sofreram um impacto em razão do colapso da bolsa de valores de Nova Iorque (1929), que ocasionou a grande crise eco- nômica não somente nos EUA, mas também em grande parte do mundo, fato que provocou, entre outros contratempos, a ausência de atletas por falta de condições econômicas. Apesar das dificuldades, mais uma edição dos Jogos Olímpicos aconteceu. Dessa feita, em Los Angeles, Califórnia (EUA), estado que, nessa ocasião, se des- tacava como um grande centro de produção de es- petáculos e abrigava o principal polo da indústria cinematográfica do mundo. Assim, os Jogos Olímpicos de 1932 contaram com o Memorial Coliseum, estádio com capacidade para 120 mil espectadores; foi construída também uma Vila Olímpica com a concepção de casas, não mais de dormitórios, e assim o padrão “hollywoodiano” de produzir espetáculos chegou aos Jogos Olímpicos, sendo a cerimônia de abertura produzida pelo diretor de cinema Cecil B. DeMille (LUNZENFICHTER, 2002). A edição dos Jogos de Los Angeles aconteceu em meio a uma crise, porém, renderam ótimos lucros devido ao bom planejamento e às boas estratégias comerciais desenvolvidas pelo então presidente do 29 Comitê Olímpico Americano, Avery Brundage, que futuramente se tornou presidente do COI. Os Jogos da 11 Olimpíadas foram os mais polêmicos de toda a história do Movimento Olímpico contempo- râneo, e isso se deu pela presença de Adolf Hitler e a sua determinação de mostrar ao mundo a perfeição do nazismo. A edição dos Jogos sediada pela cidade de Berlim (Alemanha) rendeu inúmeras teorias e análises sobre os aspectos relacionados à influência da política e da ideologia no olimpismo. Ao considerarmos a flexibilidade com que o Movimento Olímpico lidava com as questões políticas e nacionais, muito se dis- cutiu sobre a verdadeira possibilidade de separar o olimpismo das questões políticas. Não se sabe se os vencedores dos Jogos de 1936 receberam alguma vantagem política por conta dos seus êxitos esportivos, mas o fato é que depois de Berlim, o mundo descobriu uma nova maneira de produzir heróis, e o Movimento Olímpico já não sus- tentava mais sua conduta apolítica e apartidária. Diante do sucesso de Jogos de Berlim com relação a organização, número de expectadores e rendimentos, ou seja, foram altamente rentáveis, a imagem políti- ca de Adolf Hitler ganhou força não só na Alemanha, como também no exterior (BEAMISH & RITCHIE, 2006). Durante a Guerra Fria, os Jogos Olímpicos foram utilizados como forma de demonstração de poder político e força social. Em 1948, a política passou a 30 ser protagonista no olimpismo, uma vez que as ques- tões do mundo político manchavam sua essência. Assim, nos Jogos de Melbourne (1956), aconteceram diversos conflitos relacionados à invasão soviética da Hungria, o que fez com que diversos países não participassem dos Jogos. Os governantes da China impediram a presença de seus atletas às vésperas dos Jogos, por saberem que Taiwan participaria na condição de Estado Nacional, causando assim uma enorme frustração naqueles atletas que haviam se preparado para a competição. Lamentavelmente, os conflitos políticos impactaram na carreira de muitos atletas que se frustraram por serem impedidos de competir. Na década de 1960, os Jogos Olímpicos acontece- ram em Roma (1960), Tóquio (1964) e Cidade do México (1968). Em Tóquio, o Japão mostrou ao mundo que havia superado as sequelas da Segunda Guerra Mundial, exibindo inovações tecnológicas nos Jogos. O México foi a primeira nação latino- -americana a sediar os Jogos Olímpicos, fato que provocou a indignação por parte de alguns países de língua inglesa diante da possibilidade da celebração olímpica acontecer em um país de terceiro mundo, porém, os países fora do circuito do desenvolvimento apoiaram a possibilidade, considerando, entre outras vantagens, a expansão do Movimento Olímpico. Com os Jogos Olímpicos de Munique, a Alemanha buscou apagar as marcas do nazismo que os Jogos de Berlim haviam deixado na memória do Ocidente. 31 Todavia, esses Jogos foram marcados pela invasão à Vila Olímpica, por membros do grupo palestino Setembro Negro, o qual exigia a libertação de 250 presos palestinos. Durante o sequestro, foram mor- tos membros da delegação israelense e, durante a invasão do aeroporto da cidade, uma ação policial causou a morte dos nove atletas, cinco terroristas, um piloto e um policial alemão. Por conta desses acontecimentos, os dirigentes do COI foram questionados sob a possibilidade de cancelar os Jogos, porém, eles optaram por man- ter as competições após guardar um dia de luto em homenagem aos falecidos no atentado. Assim, foi confirmada então a força que os Jogos Olímpicos haviam alcançado, ficando claro que nada impediria o grandioso espetáculo, uma vez que havia muitos interesses diante do aumento das concessões e dos investimentos do governo e da iniciativa privada. Nos Jogos Olímpicos de Montreal (1976), houve um boicote motivado por razões relacionadas ao precon- ceito racial, e assim 23 nações africanas deixaram de participar dos Jogos como forma de protesto. Também nos Jogos de Moscou (1980), somente 81 países foram aos Jogos, sendo que inicialmente 142 foram inscritos. Em 1984, 16 países não foram a Los Angeles (EUA), alegando questões relacionadas à falta de segurança para seus atletas. Os Jogos Olímpicos da Era Moderna atravessaram o século 20 sendo impactados por diversos fatores, como interesses políticos e econômicos, guerras, 32 boicotes e a transmissão televisiva que aconteceu a partir dos Jogos de Roma (1960). A grande visibili- dade provocada pela televisão proporcionou grande visibilidade aos atletas, estimulando então as empre- sas comerciais a terem suas marcas associadas aos grandes ídolos do esporte. O crescente gigantismo dos Jogos Olímpicos re- sultou na necessidade de uma ampla infraestrutura para a realização das competições, como uma aco- modação que comportasse os milhares de atletas, turistas e técnicos de apoio, o que levou à profissio- nalização de atletas e toda a estrutura do Comitê Olímpico Internacional. Na lógica interna do esporte contemporâneo, são inevitáveis a especialização e a profissionalização. Desde que a capacidade atlética em uma variedade esportista se tornou incompatível com a alta perfor- mance, a especialização tornou-se inevitável. Dentre os aspectos mais perversos que a busca de resultados tem proporcionado ao movimento olímpi- co, o doping tem despontado como a questão prin- cipal a ser superada no momento contemporâneo (RUBIO, 2010). Atualmente, a utilização de substâncias dopantes e o seu mascaramento podem provocar dificuldade em sua detecção, desmoralizando o sentido de igualdade que deve prevalecer nacompetição. O esporte transformou-se em uma atividade profis- sional extremamente lucrativa e, nos últimos tempos, 33 os campeões do esporte se tornaram em valiosas mercadorias que são compradas e vendidas. Ao conhecermos com mais detalhes a história dos Jogos Olímpicos Modernos, é possível questionar- mos se, de fato, o espirito olímpico proposto pelo Barão de Coubertin esteve presente nessa fase, e quais foram as transformações sociais que realmen- te ocorreram em consequência de todo movimento que envolve tal manifestação esportiva. 34 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste e-book, compreendemos a forma com que sur- giram os Jogos Olímpicos Modernos, com base nos fatos históricos. Assim, pudemos conhecer um pouco da cultura grega, entendendo quais eram os valores relacionados à prática esportiva e, com isso, analisar a importância dessa manifestação esportiva, que teve origem na Grécia Antiga. Além disso, identificamos também como o período dos Jogos Olímpicos tinha o poder de estabelecer a paz entre as cidades gregas. Diante da história dos jogos Olímpicos da Antiguidade, considerando seu caráter religioso, as modalidades esportivas que os atletas competiam na ocasião, como acontecia a preparação desses atle- tas e quais eram os locais em que se realizavam os eventos, refletimos sobre quais foram seus sentidos e significados para a sociedade naqueles tempos. Na sequência, tivemos acesso ao processo de rein- venção dos Jogos Olímpicos Modernos, conhecendo o seu idealizador, Pierre de Coubertin, entendendo quais eram suas pretensões ao trazer de volta esse grande espetáculo esportivo. Por fim, acompanhamos o processo de retorno dos Jogos Olímpicos, evento que se espalhou pelo mun- do, sendo sediado por diversos países, compreen- dendo os impactos sociais políticos e econômicos causados por ele. 35 Referências Bibliográficas & Consultadas BARBANTI, V. J. et al. Esporte e atividade física, interação entre rendimento e qualidade de vida. São Paulo: Manole, 2002 [Biblioteca Virtual]. BARBOSA, C. L. A. 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