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APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO ESPAÇO: PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE
Profa. Carol Ramos
1. LUGAR DO CRIME
 
Assim como o tempo do crime, o lugar do crime tem três teorias que lhe explicam:
1) teoria da atividade – o lugar do crime é o da ação ou omissão, ainda que outro seja o lugar
da ocorrência do resultado.
2) teoria do resultado – despreza o lugar da conduta e entende que lugar do crime será, tão somente, aquele em que ocorrer o resultado.
3) teoria mista, ou da ubiqüidade – adota as duas posições anteriores e diz que lugar do crime será o da ação ou omissão ou onde se produziu o resultado.
O Código Penal brasileiro adotou a teoria da UBIQÜIDADE. De acordo com seu artigo 6º:
Art. 6º. Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
LEMBRETE: LU TA
LUGAR DO CRIME – TEORIA DA UBIQÜIDADE (L U)
TEMPO DO CRIME – TEORIA DA ATIVIDADE (T A)
A adoção da teoria da ubiqüidade resolve problemas de Direito Penal internacional. 
Ex.: Um sujeito, na Argentina, envia carta-bomba que explode com seu destinatário, no Brasil. Se a Argentina adotar a teoria do resultado e o Brasil a da atividade, o agente ficaria impune.
OBS: A preocupação do legislador foi estabelecer quais crimes podem ser considerados como ocorridos no Brasil e, por via de consequência, a quais delitos se aplica a lei penal brasileira. O dispositivo rege, portanto, a “competência internacional”.
A regra em estudo só terá relevância nos chamados crimes a distância ou de espaço máximo, que são aqueles cuja execução se inicia no território de um país e a consumação se dá ou deveria dar-se em outro.
É preciso notar que a regra prevista no art. 6º do CP (acima estudada) não tem qualquer relevância para fixação do foro competente no Brasil.
Neste caso, devem ser observadas as regras previstas no Código de Processo Penal (arts. 70 a 91).
Como regra, o foro competente dependerá do lugar da infração. Se, contudo, for impossível encontrar o lugar da infração, a competência territorial levará em conta o domicílio ou residência do réu (critério subsidiário).
2. TERRITORIALIADE
Por território, no sentido jurídico, deve-se entender todo o espaço em que o Brasil exerce sua soberania:
■ os limites compreendidos pelas fronteiras nacionais;
■ o mar territorial brasileiro (faixa que compreende o espaço de 12 milhas contadas da faixa litorânea média — art. 1º da Lei n. 8.617/93);
■ todo o espaço aéreo subjacente ao nosso território físico e ao mar territorial nacional (princípio da absoluta soberania do país subjacente — Código Brasileiro de Aeronáutica, art. 11, e Lei n. 8.617/93, art. 2º);
■ as aeronaves e embarcações: 
a) brasileiras privadas, em qualquer lugar que se encontrem, salvo em mar territorial estrangeiro ou sobrevoando território estrangeiro; 
b) brasileiras públicas, onde quer que se encontrem; 
c) estrangeiras privadas, no mar territorial brasileiro ou espeço aéreo correspondente. 
A regra da territorialidade está insculpida no artigo 5o, do Código Penal:
Art. 5º. Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.
§ 1º. Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
§ 2º. É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.
O Brasil não adotou a teoria ABSOLUTA da territorialidade, mas sim a teoria da Territorialidade TEMPERADA, tendo em vista que o Estado pode abrir mão de sua jurisdição em atendimento a convenções, tratados e regras de direito internacional.
PRINCÍPIO DA EXTRATERRITORIALIDADE
O Princípio da Extraterritorialidade se preocupa com a aplicação da lei brasileira fora dos limites territoriais do país, ou seja, às infrações penais cometidas além de nossas fronteiras, em países estrangeiros.
A extraterritorialidade pode ser incondicionada (inciso I do artigo 7o) ou condicionada (inciso II, do mesmo artigo):
INCONDICIONADA (ART. 7 inc.I) – traduz a possibilidade de aplicação da lei penal brasileira a fatos ocorridos no estrangeiro, sem que, para tanto, seja necessário o concurso de qualquer condição.
Art. 7º. Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:
I - os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de
Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;
Nessas hipóteses, o agente será punido segundo a lei brasileira, ainda que tenha sido condenado ou absolvido no estrangeiro.
 Vale dizer que, caso houver condenação no estrangeiro, deverá ser observado o artigo 8o do Código Penal:
Art. 8º. A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.
CONDICIONADA (Art. 7, inc. II) – algumas condições têm de ser adimplidas para que o agente possa sujeitar-se à lei brasileira.
Art. 7º. Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:
II - os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
b) praticados por brasileiros;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercante ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.
*** E quais são as condições, tendo em vista que estamos falando de extraterritorialidade CONDICIONADA? 
Estão no §2o do mesmo artigo 7o:
§ 2º. Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das
seguintes condições:
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.
Em atenção ao chamado PRINCÍPIO DA DEFESA ou PRINCÍPIO DA PERSONALIDADE PASSIVA, dispõe o §3o que:
§ 3º. A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se reunidas às condições previstas no parágrafo anterior:
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.
Princípios aplicáveis a extraterritorialidade:
A doutrina costuma apontar uma série de princípios que inspiraram o legislador a eleger os casos em que a lei de um país deve ser aplicada a fatos que se deram no estrangeiro:
I) Princípio da universalidade, da justiça penal universal ou cosmopolita
Refere - se a hipóteses em que a gravidade do crime ou a importância do bem jurídico violado justificam a punição do fato, independentemente do local em que foi praticado e da nacionalidade do agente.
Conforme Hungria, “ao que proclama este princípio, cada Estado pode arrogar-se o direito de punir qualquer crime, sejam quais forem o bem jurídico por ele violado e o lugar onde tenha sido praticado. Não importa, igualmente, a nacionalidade do criminoso ou da vítima. Para a punição daquele, basta que se encontre no território do Estado”. Este princípio foi adotado na hipótese mencionada no art. 7º, I, d, e II, a, do CP, isto é, nos crimes de genocídio, definidos na Lei n. 2.889/56(desde que o agente seja brasileiro ou tenha domicílio no país), e naqueles que nosso país se obrigou a reprimir por força de tratado ou convenção internacional.
II) Princípio real, da proteção (ou proteção de interesses) ou da defesa
Justifica a aplicação da lei penal brasileira sempre que no exterior se der a ofensa a um bem jurídico nacional de origem pública. O Código Penal os adotou nas letras a, b e c do inc. I do art. 7º, a saber: crime contra a vida ou liberdade do Presidente da República; crime contra o patrimônio ou contra a fé pública de pessoa jurídica de direito público brasileira, da administração direta ou indireta, no plano federal, estadual ou municipal; e, crime contra a administração pública brasileira, por quem está a seu serviço.
III) Princípio da personalidade ou nacionalidade:
Como cada país tem interesse em punir seus nacionais, a lei pátria se aplica aos brasileiros, em qualquer lugar em que o crime tenha sido praticado. A base do sistema é o conceito de que o cidadão está sempre ligado à lei do seu país e lhe deve obediência, ainda que se encontre no estrangeiro. Foi adotado no CP, art. 7º, § 3º.
IV) Princípio da representação ou da bandeira
Cuida-se de levar em conta, para efeito de aplicação da lei penal brasileira, a bandeira da embarcação ou aeronave no interior da qual o fato foi praticado em mar aberto ou espaço aéreo correspondente.( Art. 5, §1 do CP).

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