Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AULA 3 INDICADORES DE GESTÃO DE PESSOAS Profª Gislaine Teles Rodrigues Potta 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula 3, será apresentado um modelo de elaboração de indicadores de desempenho chamado de Critérios Relevantes de Interpretação (CRI), com base na ideia de que todo indicador deve ser pensado a partir de um objetivo. Sendo assim, é preciso conhecer a relevância das necessidades e estratégias dos indicadores de Gestão de Pessoas e, para tanto, serão apresentados os Indicadores de Resultados de Treinamento e de Retenção de Pessoas com o objetivo de capacitar o estudante para a criação, interpretação, mensuração e desenvolvimento de propostas de correções e melhorias para a organização. CONTEXTUALIZANDO No contexto organizacional, as estratégias são pensadas de modo a atingir os resultados esperados por meio de estratégias de gestão de pessoas. Por isso, há uma necessidade de se estabelecer claramente qual a meta a ser atingida pelo gestor. Isso facilitará a análise dos resultados, pois sabe-se quais são as cobranças perante a meta estabelecida pelo gestor da área. Nesta aula, será analisada a importância dos Indicadores de Treinamento e Retenção de Pessoas, que revelam que muitas vezes são altos os custos disponibilizados pelas organizações em forma de investimentos em Treinamento & Desenvolvimento. Dessa forma, a realidade do Treinamento e Desenvolvimento nas organizações brasileiras tem se mostrado bastante favorável, com incentivos da alta direção para a realização de Programas de Treinamento e Desenvolvimento que corroborem com a eficiência do empregado em suas atividades diárias. Assim, os indicadores mostram-se necessários para facilitar o planejamento e a implementação dessas ações, que facilitam as atividades do empregado no dia a dia organizacional. Então, fica a grande questão para as organizações: quais são os indicadores-chave que auxiliam com informações concretas para a tomada de decisão? 3 TEMA 1 – MODELO PARA ELABORAÇÃO DE INDICADORES DE DESEMPENHO: CRITÉRIOS RELEVANTES DE INTERPRETAÇÃO Os resultados organizacionais podem ser alcançados por meio de um sistema integrado de gestão de pessoas que aja de modo sistêmico e que esteja alinhado às estratégias organizacionais. Por isso, cada gestor de área deve estabelecer metas, para que depois sejam criados indicadores que correspondam ao cálculo de desempenho esperado para o valor da meta a ser alcançada. Francischini e Francischini (2017) sugerem transformar um objetivo em indicador de desempenho por meio de uma ferramenta chamada de Critérios Relevantes de Interpretação, a qual facilita a elaboração de indicadores e evita erros de análise e de implementação de um sistema de medição de desempenho. Nesse modelo, conforme a Figura 1 a seguir, há três passos a serem adotados. Figura 1 – Critérios Relevantes de Interpretação – Modelo Fonte: Adaptado de Francischini; Francischini, 2017, p. 88. Primeiro, deve-se estabelecer claramente qual é o objetivo a ser atingido pelo gestor. Os objetivos podem ser determinados por: Desdobramentos dos objetivos estratégicos da empresa (por exemplo, os objetivos constantes no Balanced Scorecard da empresa, ou por qualquer outro modelo de elaboração de plano estratégico) em objetivos operacionais atribuídos a cada área da empresa. Expectativas dos clientes internos e externos da empresa que não estão sendo atendidas, gerando reclamações por parte dos clientes. Imposições derivadas de normas de referência a que a empresa ou alguma área específica da empresa é submetida, como: ISSO 9000, Good Manufacturing Pratices (GMP), Hazard Analysis Critical Control • Objetivo proposto pelo gestor da área (estratégico, tático ou operacional). Objetivo do gestor • Variáveis ou atributos mais importantes que mostram como o objetivo do gestor deve ser mantido. Critérios relevantes de interpretação • Conjunto de métricas que traduzem e esclarecem os Critérios Relevantes de Interpretação. KPIs Priorização Medição 4 Point (HACCP), Capability Maturity Model Integration (CMMI) Information Technology Infrastructure Library (ITIL) reformatada na ISSO 20000, Sarbanes-Oxley (Sarbox ou SOX) etc. Vale lembrar que o número de objetivos deve ser o menor possível para que o gestor concentre seus esforços nas ações gerenciais. Os objetivos podem ser tanto estratégicos quanto tático ou operacionais, dependendo somente do nível hierárquico com que são tratados. Segundo, deve-se estabelecer os Critérios Relevantes de Interpretação do significado do objetivo, e aqui cabe trocar palavras por números. Para tanto, é importante saber priorizar uma definição clara e específica para cada objetivo. Um erro comum entre os analistas é que estabelecem um número grande de variáveis capazes de medir quantitativamente um objetivo expresso em palavras. Ou seja, é preciso ter consciência de que você traduzirá conceitos (objetivos) qualitativos que são escritos em variáveis quantitativas as quais dão significado àquele conceito (objetivo) qualitativo. Os gestores e analistas costumam utilizar, para a elaboração de objetivos, palavras que causem impacto quando apresentadas à diretoria ou acionistas. Veja os exemplos a seguir: Promover uma administração flexível e integrada. Valorização dos funcionários comprometidos com a empresa. Ser referência internacional em pesquisa tecnológica. Contribuir com projetos socialmente relevantes. Promover a cidadania entre seus parceiros de negócios. (Francischini; Francischini, 2017, p. 88-89) Certamente, esses objetivos propostos serão aceitos pela diretoria, pois eles não saberão claramente o que cada um deles significa. Ao utilizar conceitos qualitativos na escrita dos objetivos, eles poderão sofrer influência na forma de interpretação por parte dos gestores, pois haverá uma interpretação distinta devido ao nível de percepção individual dos gestores. Segundo Francischini e Francischini (2017), para ter claro o significado de um conceito qualitativo, é necessário procurar as variáveis qualitativas ou quantitativas mais representativas para que o objetivo escolhido pelo gestor seja entendido. Sendo assim, é preciso esclarecer alguns termos: Variável é uma característica mensurável que pode assumir diversos valores dentro de um certo intervalo, amplo ou não. /as variáveis podem ser classificadas em: Variável Quantitativa: mensurável por meio de números (comprimento, peso, idade) e pode ser de dois tipos: 5 a. Contínua: assume qualquer valor dentro de um intervalo, o qual é geralmente limitado pela precisão do instrumento de medida (comprimento, peso, área etc.). b. Discreta: assume determinados valores que expressam uma entidade completa e acabada. Expressa-se, geralmente, por números inteiros (número de peças fabricadas, número de boletos de cobrança emitidos etc.). Variável Qualitativa: mensurável pelo grau de presença ou ausência de determinadas características ou propriedades que não podem ser mensuráveis numericamente. Subdivide-se em: a. Ordinal: relação de intensidade da presença ou ausência de determinadas características ou propriedades que podem ser expressas em determinada ordem ou hierarquia (avaliação de serviço prestado: Excelente, Muito bom, Bom, Ruim, Péssimo; priorização por Pareto: Classe A, Classe B ou classe C). b. Nominal: relação de identificação da presença de determinadas característica ou propriedades que não podem ser hierarquizadas ou ordenadas (cores, tipo de efeitos, locais etc.). Mais importantes: pressupõe algum tipo de priorização, isto é, ordenação dos elementos analisados segundo a importância relativa entre eles. (Francischini; Francischini, 2017, p. 89-90) Seguindo esses termos para clarificar o objetivo, percebe-se que o nível de interpretação pode ser o mais complexo, podendo existir diversosmodelos de hierarquização (por grau de importância) conforme o impacto de decisão a ser tomada pelo gestor. Alguns exemplos de ordenação por nível de maior importância: Diagrama de Pareto – ordenação de valores em ordem decrescente segundo uma variável de análise predefinida; Matriz de decisão de Hyman – média normalizada de matriz simétrica utilizando escala de Likert preestabelecida; Matriz de decisão pairwise – cálculo do Vetor de Priorização utilizado no método AHP (Analytic Hierarchy Process) e verificação da consistência da avaliação de prioridades; e Análise qualitativa por consenso de grupo de especialistas – em que os fatores mais importantes são selecionados por métodos simples de votação em um grupo de especialistas da empresa ou consultores convidados (Francischini; Francischini, 2017). O termo interpretado deve ser utilizado a fim de que o conceito qualitativo de um objetivo seja entendido e esclarecido por todos os participantes envolvidos no processo de atingir o objetivo, ou seja, todos precisam saber o real sentido e significado das expressões utilizadas. Conforme a explicação anterior sobre o uso dos termos, o processo de interpretação dos conceitos qualitativos também segue alguns critérios de priorização: Referir-se a um efeito e não a uma causa: interpretar significa descobrir o sentido de algo e não sua causa. Por exemplo: Objetivo: Melhorar a qualidade dos produtos fabricados 6 a. Interpretação correta: Produzir produtos dentro das especificações; qualidade é interpretada como produtos conforme especificações. b. Interpretação errada: Treinar os operadores; essa é uma causa da melhoria da qualidade e não uma interpretação do que se entende por qualidade. Objetivo: Atender ao cliente rapidamente a. Interpretação correta: Reduzir tempo médio de fila: atender rapidamente significa reduzir tempo médio de fila para o cliente ser atendido. b. Interpretação errada: Investir em softwares para Business Process Management, a qual é uma causa para aumentar a rapidez do atendimento. Objetivo: Melhorar a rentabilidade a. Interpretação correta: Aumentar o ROI (Return On Investiment); rentabilidade é interpretada como Return On Investiment. b. Interpretação errada: Negociar melhores taxas de empréstimo do capital empregado, pois esta é uma causa para aumento da rentabilidade do negócio. Na interpretação do significado do objetivo, evitar o uso de conceitos qualitativos tão ou mais difíceis de compreender do que o significado que pretende explicar. Por exemplo: Objetivo: Promover uma administração responsiva a. Interpretação complicada: Incentivar o ajustamento do sistema gestor de acordo com a demanda solicitada. b. Interpretação mais simples: Atender aos clientes internos antes do prazo acordado para emergências. Objetivo: Estabelecer a promoção de funcionários comprometidos com a empresa a. Interpretação complicada: Esmerar-se no fortalecimento do conhecimento pessoal dos funcionários com postura diferenciada em relação ao desempenho das atividades atribuídas. b. Interpretação simples: Conceder aumentos de salário acima da negociação sindical para funcionários com nota máxima na avaliação 360º. (Francischini; Francischini, 2017, p. 93-94) Também, como critério de priorização na interpretação, é relevante o uso de termos que possam ser contados e medidos, lembrando que não precisa ser redigido o objetivo em valores numéricos, devendo-se assegurar que os termos utilizados sejam passíveis de medição, por exemplo: prazo acordado pode ser em horas, dias, meses etc. TEMA 2 – APLICAÇÕES DO MODELO DOS CRITÉRIOS RELEVANTES DE INTERPRETAÇÃO (CRI) Os Critérios Relevantes de Interpretação são as características-chave que dão o significado do objetivo a ser atingido, então, percebe-se a clara demonstração de que o CRI mostra o efeito e não a causa. Por isso, vale lembrar que por vezes o analista ou o próprio gestor pode confundir os conceitos de 7 Fatores Críticos de Sucesso (FCS) com Critérios Relevantes de Interpretação (CRI). Dessa forma, Francischini e Francischini (2017, p. 95) definem que “FCSs são competências necessárias que a empresa ou o agente precisam possuir para poder atingir os objetivos propostos, [...] os FCSs medem causas para conseguir o efeito desejado expressado no objetivo”. Isso mostra como é relevante estabelecer primeiramente um objetivo para depois desenvolver o indicador de desempenho específico para o objetivo pensado ou elaborado. Para se empregar o CRI, é importante pensar nas aplicações de algumas soluções que são visivelmente encontradas nas empresas. Para tanto, observe alguns apontamentos: Um modelo de CRI é uma simplificação de uma realidade, podendo ser expressa em qualquer ambiente empresarial. Elabore um objeto claro, que seja alcançável. O gestor deve ter em mente o que ele espera alcançar, já prevendo uma resposta plausível para esse objetivo. Lembre-se de que no CRI há a palavra relevante, então, é preciso trabalhar com poucos fatores críticos, no máximo três, que deem sentido ao objetivo. Procure simplificar para que haja maior entendimento por todos os envolvidos (líderes, facilitadores, analistas) no processo de implantação e elaboração de um Sistema de Medição de Desempenho. Para entender a aplicação de um CRI, Francischini e Francischini (2017, p. 99) citam a experiência da Universidade de São Paulo (USP) em um momento de inovação e formulação de seu planejamento estratégico, em que define como objetivo “promover a USP como instituição de pesquisa”. Essa instituição passou, então, por um período de reuniões e decisões para interpretar o que seria produção acadêmica e direcionar os esforços para pesquisa e não ensino. O momento da definição dos critérios relevantes de interpretação foi verificado, nesse exemplo, quanto ao que se entendia por Pesquisa, que foi uma das etapas mais importantes e que demandou horas de reuniões e meses para a tomada de decisão pelos gestores pela implantação da gestão por indicadores. Veja, na Figura 2 a seguir, o modelo adotado pela USP. 8 Figura 2 – Modelo adotado pela USP Fonte: Adaptado de Francischini e Francischini (2017, p.101) Os dois principais indicadores adotados para a medição da atividade de Pesquisa foram: ( n.º publicações n.º docentes ) ( n.º patentes n.º pesquisadores ) Cabe mencionar a relevância dos dois recursos de mão de obra utilizados pela instituição de Ensino USP, docentes e pesquisadores, pois nem toda instituição de ensino tem como finalidade pesquisa e aquisição de patentes. Dessa forma, a instituição conseguiu separar seus dois objetivos e os dois tipos de recursos de MO utilizados. TEMA 3 – INDICADORES DE RESULTADO DE TREINAMENTO Segundo Chiavenato (2014), as pessoas são o maior patrimônio das organizações e também o principal diferencial competitivo das empresas de sucesso, pois as organizações precisam de pessoas e de que elas sejam talentosas, ágeis, competentes, bem como estejam dispostas a assumir riscos. Para sobreviverem nesse ambiente dinâmico e competitivo, as organizações contam com as pessoas para realizarem seus negócios, elaborarem produtos e prestarem serviços de modo excepcional. Para conseguir esse fato, é preciso que organizações de sucesso invistam fortemente em treinamento, visando a um retorno positivo para seu negócio e também para o indivíduo, e consequentemente, para seus clientes e stakeholders. USP Objetivo do Gestor Critérios Relevantes de Interpretação KPIs Promover a USP como Instituto de Pesquisa 1. Publicações 2. Patentes 1. N.º publicações/ n.º docentes 2. N.º patentes/ n.º pesquisadores Priorização Medição 9 No entanto, o investimento em treinamentos tem um custo muito elevado. Por isso, medir os resultados dos treinamentosé uma forma de visualizar o quanto a organização está investindo nesse processo de gestão de pessoas e qual tem sido a efetividade dessa ação para a organização. Mais uma vez, percebe-se a importância de se especificar os objetivos para o cálculo do Retorno do Investimento – denominado ROI (Return On Investment) – que significa o valor que o treinamento agregou para a organização em termos de retorno sobre o investimento. Para tanto, nesse cálculo, é importante previamente estabelecer os objetivos a serem mensurados pelos indicadores. Dessa forma, com os indicadores definidos, será possível verificar se o treinamento atingiu os objetivos e trouxe benefícios para organização, indivíduo, clientes e stakeholders. Cabe, então, apresentar agora como demonstrar esses resultados do treinamento por meio de dados, a porcentagem de empregados treinados e o custo médio dos treinamentos por empregado, além do ROI. Vale lembrar que a gestão de pessoas necessita mostrar que as ações do treinamento têm um reflexo positivo nos resultados da empresa, por exemplo: redução em custos operacionais; aumento na lucratividade; corroboração para a retenção de talentos, diminuindo a rotatividade; contribuição para o indivíduo na aquisição de novas habilidades e conhecimentos, e consequentemente, geração de vantagens competitivas para a organização. 3.1 Empregados treinados pelo número de empregados totais Esse indicador refere-se ao tempo médio de treinamento por empregado. Segundo Assis (2014, p. 141), é um “medidor do esforço em assegurar a qualificação, o desenvolvimento permanente da força de trabalho, através de ações diretas de treinamento, workshops e seminários [...]”. Esse indicador é obtido dividindo-se a quantidade de empregados treinados pela quantidade média de empregados no período analisado. Veja a seguir: Percentual de empregados treinados = empregados treinados ×100 média de empregados no período 10 Por exemplo: Quantidade de empregados treinados = 10 Média de empregados = 120 Percentual de empregados treinados = (10 ÷ 120) = 8,3% Essa medição é válida quando a empresa for comparar seus processos de treinamento com seus concorrentes, pois a proporção de empregados treinados sobre a totalidade de empregados serve de informação a mais para a organização. 3.2 Custo médio de treinamento per capita Segundo Marras (2011), esse indicador mede o esforço da qualidade dos empregados apresentando, de maneira direta, informações como quanto a empresa destinou em investimento para cada um dos empregados treinados que participaram do programa de treinamento dentro de determinado período. O custo médio per capita permite ao gestor obter informações para a área de treinamento as quais permitem projetar o orçamento e identificar se os recursos estão sendo utilizados e onde são necessários. O cálculo será obtido por meio da divisão das despesas totais com o treinamento pela quantidade média de empregados no período analisado. Custo médio de treinamento per capita = Despesas totais com treinamento Média de empregados no período Esse número do indicador de custo médio de treinamento per capita é interessante para delinear um esboço rápido voltado aos novos planos de treinamento e também para fazer uma projeção de orçamento ou comparação do impacto do orçamento de um ano para o outro. 3.3 Retorno do investimento em treinamento Para Assis (2014), o retorno do investimento em treinamento é uma relação entre o investimento em treinamento e desenvolvimento e o lucro de uma empresa, visando a que o investimento em treinamento tenha gerado valor agregado para a organização. Esse indicador tem uma relação de complexidade que precisa ser melhorada, dependendo assim de uma relação com demais indicadores para 11 auxiliar na mensuração do retorno do investimento na área de Recursos Humanos. TEMA 4 – INDICADORES DE RETENÇÃO DE PESSOAS A gestão de pessoas tem como objetivo buscar uma qualidade contínua em seus processos, e hoje reter talentos é um grande desafio, pois perder um talento é sinônimo de prejuízo e envolve questões críticas como conhecimento, financeiro e competitividade. Para Maximiano (2014, p. 240), mensurar o capital intelectual (capital estrutural + capital humano) não é uma tarefa fácil, por isso, o uso de indicadores ajuda o gestor na tomada de decisão quanto à qualidade dos talentos e tempo de permanência na empresa. Para melhor compreensão, o autor descreve que capital estrutural é “tudo o que foi criado pelas pessoas da organização e que permanece em seu domínio”. Para o entendimento de capital humano, existem diferentes perspectivas sob sua construção ideológica: perspectiva da economia, perspectiva gerencial, perspectiva individual e, para além, perspectiva humanista. Para as três primeiras perspectivas, o capital humano “é o conjunto de atributos das pessoas, como competências, conhecimentos, habilidades sociais, criatividade etc. que produzem valor econômico por meio do trabalho (Maximiano, 2014, p. 237). O Quadro 2 a seguir contém uma síntese das perspectivas de capital humano. Quadro 2 – Perspectivas do capital humano Perspectivas Econômica Capita humano é patrimônio da sociedade. Investimento em saúde e educação aprimoram o capital humano. O aumento da renda e da produtividade no trabalho é retorno desses investimentos. Gerencial Capital humano é ativo da empresa. A empresa procura obter retorno sobre os investimentos no seu capital humano. O investimento é representado pelas políticas e práticas de gestão de pessoas. O retorno é representado pelo desempenho da empresa: produtividade, valor financeiro e competitividade. Individual Capital humano é patrimônio de cada pessoa. A empresa não tem capital humano – simplesmente o emprega. Capital humano é substituível (até certo ponto) – e transferível, mas a transferência não implica perda. (continua) 12 (Quadro 2 – conclusão) Perspectivas Humanista As pessoas são pessoas e não ativos. As pessoas têm três características fundamentais: tempo, significado e alma. A estratégia de visão baseada em valor implica considerar em sua totalidade essas características. Fonte: Adaptado de Maximiano, 2014, p. 238. Para cada organização, sua estratégia de negócio pode variar conforme a perspectiva adotada sobre o capital humano, e quando se fala em reter talentos é muito importante estar munido de informações. Por meio dos indicadores de retenção de pessoas, é possível medir e controlar essas informações para poder tomar decisões e melhorar as práticas e políticas da área de recursos humanos. 4.1 Tempo de permanência no cargo O indicador de permanência no cargo revela o quanto a empresa conseguiu reter o indivíduo no cargo. A rotatividade alta em um cargo de difícil reposição, que demanda muito treinamento, torna-se bastante dispendiosa para a empresa. Sendo assim, esse indicador pode ajudar o gestor na tomada de decisão quanto a mudanças no perfil do cargo. Por exemplo, o RH de uma empresa X da área de construção civil percebe que seu índice de rotatividade por demissão voluntária é alto para o cargo de servente de obras, aquele profissional que auxiliará o pedreiro. O indicador apresentado estava em 50% após seis meses de contração, o que significa que 50% dos candidatos aprovados para aquele cargo solicitaram demissão da empresa. Essa empresa X, tendo um número relativo apresentado pelo indicador, pode diagnosticar um problema no processo de seleção, que, visando agilidade, estava contratando profissionais com perfil inadequado, que não permaneciam muito tempo na empresa. Para fazer o cálculo desse indicador, divide-se a quantidade de empregados que permanecem na empresa no período que será analisado pelo número de vagas preenchidas.Então, multiplica-se por 100, conforme a fórmula a seguir. 13 Índice de permanência no cargo = 100 – ( N.º desligamentos entre 6,9 ou 12 meses × 100 N.º de vagas preenchidas ) Se o resultado obtido por esse indicador for muito alto, independentemente do motivo do desligamento, se é pelo empregador ou pelo empregado, deve-se analisar as causas desse desligamento, podendo ser um problema no processo de seleção ou no perfil do cargo. 4.2 Tempo médio de serviço Esse indicador é relativamente simples. Também chamado de índice de retenção, ele informa o índice de empregados que permanecem na empresa em determinado período de tempo. Esse período pode corresponder a três, seis ou nove meses, por exemplo. É medido, nesse indicador, o tempo de permanência na empresa por admissão, promoção ou transferência de cargo (Assis, 2014). A prática de reter talentos na organização depende do objetivo organizacional. Há organizações que dependem das pessoas por um longo tempo devido à experiência e habilidade adquirida pelo profissional. Já outras empresas de bens e serviços exploram como estratégia a alta rotatividade, visando à renovação do seu quadro de empregados. Os indicadores de retenção são importantes para que a organização esteja alinhada com o mercado e atenta às melhores práticas de recursos humanos e políticas, principalmente as que visem a melhor remuneração, clima organizacional e qualidade de vida, pois contribuem para a retenção dos talentos na organização. 4.3 Quantidade de empregados com alto potencial sobre a quantidade de empregados totais As organizações visam, em suas políticas de recursos humanos, ao desenvolvimento de seus talentos para que possam assumir desafios e cargos de confiança. O número de empregados de alto potencial demonstra a capacidade da empresa de se ajustar às mudanças que são exigidas pelo mercado. Esse indicador pode ser medido por empresa, departamento, setor ou função (Assis, 2014). Para tanto, as organizações estabelecem em seu planejamento estratégico uma análise quantitativa e qualitativa da avaliação de desempenho e uma 14 avaliação da capacitação profissional (competências) para confrontar informações de desempenho e competências e identificar talentos potenciais para a formulação de Planos de Sucessão e de Carreira, como também formular planos de desenvolvimento e programas de treinamento (Lucena, 2017). Quando as organizações desenvolvem sua estrutura de avaliação de desempenho para conhecerem as informações relevantes sobre seus empregados, elaboram notas que variam de 0 a 10 e, com base nessas notas que são atribuídas aos empregados, é feito o cálculo desse indicador. Ou seja, a área de gestão de pessoas separa os empregados com notas superiores ao limite estipulado pela organização para serem considerados um talento com alto potencial e calcula a média com base na soma dessas notas dividindo-as pelo número total de empregados. TEMA 5 – INDICADORES DE REMUNERAÇÃO Remuneração é a contrapartida da relação de trabalho. É a quantia percebida pelos empregados que é composta pelo salário fixo, benefícios, parcela variável de comissão, gratificação e participação nos resultados. É o total recebido pelo empregado em dinheiro e vantagens (Chiavenato, 2014). Os indicadores de remuneração fornecem informações para a empresa manter o equilíbrio interno dos salários e dão origem à criação de um sistema de reconhecimento, recompensa e gestão de coerência com o mercado. Dessa forma, ela consegue atrair e reter os melhores profissionais. 5.1 Índice da folha nominal versus faturamento líquido O índice da folha nominal versus o faturamento líquido mede a representatividade do total de salários sobre o faturamento líquido da empresa. Esse índice deve ser analisado ao longo do tempo para verificar tendências e acompanhar a manutenção da sua representatividade sobre o faturamento líquido, levando em conta as características da empresa e do segmento (Marras, 2011). Para efetuar o cálculo desse indicador, divide-se o valor da folha nominal do mês pelo faturamento líquido do mês, e então, multiplica-se por 100. 15 Veja a fórmula a seguir. ( Valor da folha nominal do mês Faturamento líquido do mês )× 100 Veja o seguinte exemplo: Se uma empresa X tem uma folha nominal de R$ 5.000.000,00 e um faturamento líquido de R$ 27.800.000,00, o índice terá a representatividade de 18%. Esse índice ajuda os gestores nas projeções de receitas e despesas em termos percentuais, o que facilita a interpretação e visualização dos relatórios. 5.2 Percentual das horas extras sobre o total dos salários O cálculo do indicador de horas extras é importante para a organização, pois o excesso de horas extras pode prejudicar sua lucratividade. Esse indicador pode ajudar os gestores na tomada de decisão quanto a políticas internas, procedimentos, um dimensionamento no quadro de empregados e até mesmo planejar melhor o trabalho. Para o cálculo desse indicador, considera-se o valor total das horas extras. Isso deve ser feito mensalmente para acompanhar sua manutenção. Já encerrado o processamento da folha mensal, pega-se o resultado do valor total das horas extras e divide-se pelo valor total dos salários, então, multiplica-se por 100 para obter o resultado em percentual. ( Valor total das horas extras Valor total dos salários )× 100 Por exemplo: após o fechamento da folha de pagamento mensal, uma empresa obteve os seguintes resultados: valor total das horas extras igual a R$ 50.000,00 e valor total dos salários igual a R$ 5.020.300,00. Portanto, o percentual das horas extras sobre o total dos salários é igual a 0,99%. 5.3 Percentual da remuneração variável sobre os salários A remuneração variável também é percebida tanto pelo empregador quanto pelo empregado como uma forma de recompensa. Por isso, ter um indicador parece ser uma excelente oportunidade para verificar a eficiência dessa recompensa. A “remuneração variável [...] consiste em pagamentos que correspondam a prêmios pelo desempenho, principalmente a realização de objetivos, e não alteram o salário base”. (Maximiano, 2017, p. 345). 16 Para calcular esse indicador, parte-se do valor da soma das variáveis que compõem a remuneração variável, então, divide-se esse valor pelo valor dos salários totais e multiplica-se por 100 para obter o resultado em percentual. Veja a fórmula a seguir. ( Total da remuneração variável Total dos salários )× 100 Após o fechamento da folha mensal, por exemplo, uma empresa obteve os seguintes resultados: total de comissões igual a R$ 10.000,00, total de gratificações igual a R$ 7.000,00, total da participação nos resultados igual a R$ 115.000,00 e total dos salários igual a R$ 850.000,00. Nesse caso, teria um percentual de remuneração variável sobre os salários de 17,5%. FINALIZANDO Nesta aula, foi apresentada a elaboração de indicadores de desempenho, chamada de Critérios Relevantes de Interpretação, visando deixar claro a necessidade de se ter um objetivo definido para a elaboração do Indicador, bem como para a aplicação do CRI, trabalhando no efeito e não na causa do objetivo. Dessa forma, foram apresentados indicadores-chave como os indicadores de resultados em treinamentos, de retenção de pessoas e de remuneração, seus objetivos, exemplos de cálculos e a importância deles para a área de gestão de pessoas, resolvendo assim o problema de estabalecer os indicadores-chave para que a organização, de modo sistêmico, possa se planejar para executar ações que a tornem mais eficientes e competitivas. LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: e o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. Capítulo 12 – Treinamento. 17 Texto de abordagem prática LEITE, N. P.; LEITE,F. P.; ALBUQUERQUE, L. G. de. A gestão de pessoas e as estratégias de atração, desenvolvimento e retenção de profissionais: o caso Petrobras. Revista Ibero-Americana de Estratégia, São Paulo, v. 12, n. 4, p. 91- 122, 2013. Disponível em: <http://www.redalyc.org/pdf/3312/331231868005.pdf>. Acesso em: 05 fev. 2019. http://www.redalyc.org/pdf/3312/331231868005.pdf 18 REFERÊNCIAS ASSIS, M. T. de. Indicadores de gestão de recursos humanos: usando indicadores demográficos, financeiros e de processos na gestão do capital humano. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2014. CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: e o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. FRANCISCHINI, A. S. N.; FRANCISCHINI, P. G. Indicadores de desempenho: dos objetivos à ação – métodos para elaborar KPIs e obter resultados. Rio de Janeiro: Altas Books, 2017. LUCENA, M. D. da S. Planejamento estratégico de recursos humanos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2017. MARRAS, J. P. Administração de recursos humanos: do operacional ao estratégico. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
Compartilhar