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AULA 04 PRÁTICA V

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CASO CONCRETO:
Tício, brasileiro, casado, engenheiro, na década de setenta, participou de movimentos políticos que faziam oposição ao Governo então instituído. Por força de tais atividades, foi vigiado pelos agentes estatais e, em diversas ocasiões, preso para averiguações. Seus movimentos foram monitorados pelos órgãos de inteligência vinculados aos órgãos de Segurança do Estado, organizados por agentes federais. Após longos anos, no ano de 2010, Tício requereu acesso à sua ficha de informações pessoais, tendo o seu pedido indeferido, em todas as instâncias administrativas. Esse foi o último ato praticado pelo Ministro de Estado da Defesa, que lastreou seu ato decisório, na necessidade de preservação do sigilo das atividades do Estado, uma vez que os arquivos públicos do período desejado estão indisponíveis para todos os cidadãos. Tício, inconformado, procura aconselhamentos com seu sobrinho Caio, advogado, que propõe apresentar ação judicial para acessar os dados do seu tio.
 Na qualidade de advogado contratado por Tício, redija a peça cabível ao tema, observando:
 a) competência do Juízo; b) legitimidade ativa e passiva; c) fundamentos de mérito constitucionais e legais vinculados; d) os requisitos formais da peça inaugural.
À PRESIDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
TÍCIO, brasileiro, casado, engenheiro, portador do documento de identidade, nº…, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas-CPF sob o nº…., residente e domiciliado na Rua… , nº… Bairro… Cidade/Estado, por seu advogado que a este subscreve (procuração em anexo), com endereço na rua…, nº… Bairro… Cidade /Estado, CEP:… , local indicado para receber intimações (art.39, do CPC), vem respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento no art.5º, LXXII, da Constituição Federal de 1988 , Lei 9.507/1997, e art.319  do Código de Processo Civil, impetrar:
                                     
HABEAS DATA
em face do ato praticado pelo MINISTRO DE ESTADO DE DEFESA, pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos:
I—DA GRATUIDADE
Importante salientar no começo desde remédio que por mandamento constitucional caracteriza-se ação gratuita nos moldes do art.5º, LXXVII, da CRFB/1988, c/c o art.21 da lei 9.507/1997.
II—DA TENTATIVA ADMINISTRATIVA FRUSTRADA
Há previsão expressa e entendimento pacificado na jurisprudência que, para a concessão do habeas data, é necessário a recusa pela autoridade coatora em atender ao pedido do impetrante administrativamente.
Tal requisito é ,inclusive, sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça em sua Súmula 2 e está contido no I do parágrafo único do art. 8º da lei 9.507/1997, sendo, inclusive, a recusa ou omissão, por prazo superior a dez dias, ensejadores do presente remédio constitucional.
Nesses termos, o impetrante faz constar em anexo a cópia do processo administrativo que negou o seu acesso as suas informações, como forma de preencher os requisitos de recebimento do presente writ.
III—DA LEGITIMIDADE ATIVA
A legitimidade para a impetração de habeas data é sempre do impetrante para informações de si, ou seja, é um remédio personalíssimo. Essa interpretação é que se extrai do mandamento constitucional do art. 5º, LXXII, a, da CRFB/88.
Assim, neste caso, Tício, é o legitimado ativo para a impetração do presente remédio constitucional.
IV—DA LEGITIMIDADE PASSIVA
Da leitura do art..5º, LXXII, a , da CRFB/1988 c/c o art 1º, parágrafo único, e 7º, I, da lei 9.507/1997, podemos extrair que o legitimado passivo é sempre registro ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter público. Ou seja, é sempre quem tem o poder-dever de conceder vistas, retificação ou anotação de dados referentes ao legitimado ativo.
Nesse tom, concluímos que o chefe máximo da instância administrativa que poderia rever os atos coatores de seus subordinados é , senão, o Ministro do Estado da Defesa, ora autoridade coatora, legitimado passivo da presente lide.
V- DOS FATOS
O Impetrante na década de setenta, participou de movimentos políticos que faziam oposição ao Governo então instituído. Por força de tais atividades, foi vigiado pelos agentes estatais e, em diversas ocasiões, preso para averiguações. Seus movimentos foram monitorados pelos órgãos de inteligência vinculados aos órgãos de Segurança do Estado, organizados por agentes federais. Após longos anos, no ano de 2010, Tício requereu acesso à sua ficha de informações pessoais, tendo o seu pedido indeferido, em todas as instâncias administrativas. Esse foi o último ato praticado pelo Ministro de Estado da Defesa, que lastreou seu ato decisório, na necessidade de preservação do sigilo das atividades do Estado, uma vez que os arquivos públicos do período desejado estão indisponíveis para todos os cidadãos.
VI- DO DIREITO
Ocorre que o art. 5º, LXXII, da CF/1988 assim dispõe: conceder-se-á “habeas-data”: a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo. No mesmo sentido é a redação do art.7º, da Lei 9507/1997. De outra banda o art.5º, XIV da CF/1988 diz que é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional.
Ademais, o Art.37, caput da CF/1988, assenta que administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
Dessa forma, resta claro, que houve desrespeito aos dispositivos constitucionais ora elencados, pois ainda que haja ressalva do sigilo imprescindível à segurança da sociedade e do Estado, não se pode confundir a preservação das atividades do Estado, com o direito, também, constitucional de ter-se acesso, somente, às suas informações pessoais, de interesse claramente particular. O sigilo estaria preservado e o respeito à Lei também, pois o acesso pretendido é somente dos dados pessoais do Impetrante, não houve e não há pedido para acesso de dados de terceiras pessoas constante dos arquivos públicos do período desejado.
 Resta patente que o ato denegatório no fornecimento de informações do Impetrante, inclusive com o esgotamento da via administrativa, se mostra ilegal e abusivo, já que é contrário aos dispositivos Constitucionais que garantem o direito de acesso à informação de dados do Impetrante.
VII- DO PEDIDO
  Face ao exposto, requer o Impetrante que Vossa Excelência:
A) notificar o coator sobre os fatos narrados a fim de prestar as informações que entender necessárias (art.9º, da Lei 9.507/1997);
B) determinar a oitiva do representante do Ministério Público no prazo de cinco dias (art.12 da Lei 9.507/1997);
C) julgar procedente o pedido, determinando ao Impetrado o fornecimento das informações pleiteadas (art.13 da Lei 9.507/1997)
D) pedido de prioridade de julgamento conforme o exposto art. 19 da lei 9.507/1997;
E) condenação do impetrado nos ônus de sucumbência , notadamente no que se refere as custas processuais.
Considerando que o art.5º, LXXVII da CF/1988, afirma que são gratuitas as ações de habeas data, e, na forma do Art. 1º, I da Lei 9265/1996 são gratuitos os atos necessários ao exercício da cidadania, o Impetrante deixa de atribuir valor a respectiva ação.
Nestes termos, 
pede deferimento.
Local e Data
Advogado
OAB

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