Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Direito Internacional Público e Privado Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof. Ms. Claudio Brites Personalidade de Direito Internacional • Introdução • O Estado • Organização Internacional · Conhecer os dois mais destacados sujeitos de Direito Internacional Público, os estados e as organizações internacionais. Em relação aos estados, ver quais são seus elementos constitutivos e como eles são reconhecidos. Já em relação às organizações internacionais, conhe- cer as suas características para, em seguida, conhecer duas das mais destacadas delas: a Organização das Nações Unidas e o Mecorsul. OBJETIVO DE APRENDIZADO Personalidade de Direito Internacional Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Personalidade de Direito Internacional Introdução Tradicionalmente, os estados figuram como os únicos detentores de personalidade internacional, ou seja, podem ser titulares de direitos e obrigações estipuladas pelas fontes do Direito Internacional. Porém, após a segunda metade do último século, passou-se a entender que as organizações internacionais também possuem esse mesmo qualificativo, ficando isso extremamente evidente com a entrada em vigor da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1986, que expressamente menciona que essas organizações podem ser signatárias de tratados. Nesse particular, ensina Rezek (2000, p. 145): A personalidade jurídica do Estado, em direito das gentes, diz-se originária, enquanto derivada a das organizações. O Estado, com efeito, não tem apenas precedência histórica: ele é antes de tudo, uma realidade física, um espaço territorial sobre o qual vive uma comunidade de seres humanos. A organização internacional carece dessa dupla dimensão material. Ela é produto exclusivo de uma elaboração jurídica resultante da vontade conjugada de certo número de Estados. Muito embora haja uma importante divergência doutrinária a respeito de um terceiro sujeito do Direito Internacional, o indivíduo, o foco de nossa aula está naqueles primeiros sujeitos, ou seja, os estados e as organizações internacionais sob a ótica do Direito Internacional. O Estado Como vimos, inicialmente o Direito Internacional estava voltado para a relação entre estados e, somente nas últimas décadas, ocorreu um alargamento para reconhecer a personalidade das organizações internacionais. O estado é, antes de mais nada, uma realidade política e social, cabendo ao Direito Internacional estudar quais são seus elementos constitutivos e a forma como se dá o seu reconhecimento. Elementos constitutivos Se verificarmos os diversos autores, não encontraremos unanimidade na identificação dos elementos constitutivos do Estado. Com essa observação, deve ser destacado o ensinamento de Rezek (2000, p. 153): 8 9 O Estado, sujeito originário de direito internacional público, ostenta três elementos conjugados: uma base territorial, uma comunidade humana estabelecida sobre essa área e uma forma de governo não subordinado a qualquer autoridade exterior. Contudo, na Convenção sobre Direitos e Deveres dos Estados1 firmada por ocasião da Sétima Conferência Internacional Pan-americana, realizada em Montevidéu em 1938, estabeleceu-se que: Convenção sobre Direitos e Deveres dos Estados Artigo 1 O Estado como pessoa de Direito Internacional deve reunir os seguintes requisitos. I. População permanente. II. Território determinado. III. Governo. IV. Capacidade de entrar em relações com os demais Estados. Seguindo o disposto nessa convenção, analisaremos cada um desses elementos constitutivos. População permanente É o elemento humano do Estado. População é o conjunto de pessoas residentes em caráter permanente no território do Estado, abrangendo em sua maioria os nacionais e uma minoria de estrangeiros. Embora na linguagem comum muitas vezes a palavra povo acabe sendo empregada como equivalente à população, elas não se confundem. A palavra povo “tem sentido sobretudo social, ou seja, povo em oposição a governo, ou parte da coletividade determinada pelo aspecto social” (ACCIOLY, 2014, p. 248). Decorre da análise desse elemento a necessidade de sabermos o que é a nacionalidade. Nacionalidade é um vínculo político entre o Estado soberano e o indivíduo, que faz deste um membro da comunidade constitutiva da dimensão pessoal do Estado (REZEK 2000, p. 153). 1 Esta convenção foi ratificada em nosso país por meio do Decreto n. 1.570/37. Disponível em: <https://goo.gl/j3nLSv>. 9 UNIDADE Personalidade de Direito Internacional Embora tenha importantes reflexos no Direito Internacional, cabe a cada Estado estipular em seu Direito Interno as regras que adotará para estabelecer o vínculo de nacionalidade. Território É o espaço onde o Estado exerce sua soberania, ou seja, espaço em cujos limites ocorre o exercício do poder estatal. Nele, o Estado soberano exerce uma jurisdição geral e exclusiva. A generalidade da jurisdição significa que o Estado exerce no seu domínio territorial todas as competências de ordem legislativa, administrativa e jurisdicional. A exclusividade significa que, no exercício de tais competências, o Estado local não enfrenta concorrência de qualquer outra soberania. Só ele pode, assim, tomar medidas restritivas contra pessoas, detentor que é do monopólio do uso legítimo da força pública (REZEK, 2000, p. 154). Governo e a capacidade de manter relações com os demais estados Esses requisitos se referem à capacidade do Estado de tomar decisões sobre a sua gestão interna e suas relações internacionais de forma livre de interferências. Para ser reconhecido como tal, o Governo não pode sofrer interferências dos de- mais estados, seja no âmbito interno (gestão interna do país), seja nas suas relações com outros atores do direito internacional, ou seja, o Governo deve ter soberania. A soberania significa independência sem qualquer tipo de subordinaçãode suas decisões a qualquer tipo de autoridade ou ordem externa. Sem a sua presença, não podemos identificar um governo e, em decorrência, um Estado que possa manter relações em igualdade com os demais. Identificamos o Estado quando seu governo [...] não se subordina a qualquer autoridade que lhe seja superior, não reconhece, em última análise, nenhum poder maior que dependa a definição e o exercício de suas competências (REZEK 2000, p. 216). Para manter relações com outros sujeitos de direito internacional, é necessário que um Estado seja reconhecido como tal por esses sujeitos. Reconhecimento de Estado O reconhecimento de um Estado é uma manifestação de direito internacional diretamente relacionada à sua soberania. O reconhecimento do Estado é a manifestação unilateral e discricionária de outros Estados ou Organizações Internacionais no sentido de aceitar a criação de um novo sujeito de direito internacional, portanto, com direitos e obrigações (VARELLA, 2012, p. 246). 10 11 Sendo assim, formado um Estado, surge a necessidade do seu reconhecimento internacional. Trata-se de ato discricionário, unilateral, irrevogável e incondicional, por meio do qual o surgimento de um novo sujeito de direito internacional é atestado pelos demais estados. Esse reconhecimento pode ser expresso ou tácito. O reconhecimento expresso ocorre, por exemplo, em declarações conjuntas de reconhecimento e na confecção de tratados bilaterais. Já no reconhecimento implícito, não há atos formais, mas apenas o tratamento de questões comuns que demonstram esse reconhecimento mútuo. É o que ocorre, por exemplo, quando um Chefe de Estado em visita oficial é recebido por outro e esses passam a discutir questões internacionais comuns ou que se refiram ao relacionamento de seus estados. Para que haja o reconhecimento, é preciso que o governo seja independente e tenha o controle de forma efetiva de seu território, bem como cumpra as obrigações internacionais. Duas observações se fazem necessárias: • Não cabe à Organização das Nações Unidas decidir sobre a existência e o reconhecimento de um determinado Estado. Cada Estado, no uso da sua soberania e de acordo com seus interesses e conveniências, deve decidir se realiza esse reconhecimento de outro Estado; • Quando o Estado participa da elaboração ou adere a um tratado multilateral, ele não está reconhecendo outros estados que também se comprometeram nesse instrumento. Deve ficar claro que o reconhecimento mútuo da personalidade internacional só configura pressuposto necessário da celebração de tratados bilaterais. No plano da multilateralidade, a situação sempre foi diversa. Ninguém discute a certeza deste princípio costumeiro: o fato de certo Estado negociar em conferência, assinar ou ratificar um tratado coletivo, ou de a ele aderir, não implica, por sua parte, o reconhecimento de todos os demais pactuantes (REZEK, 2000, p. 219). Reconhecimento de Governo O reconhecimento de governo não se confunde com o reconhecimento do Estado. O reconhecimento de um novo governo dá-se quando a comunidade internacional vislumbra, em um Estado anteriormente já reconhecido, a alteração de sua direção. Em geral, quando não há uma ruptura da linha política interna, esse reconhecimento se dá sem maiores problemas. Tanto é assim que, normalmente, os países que mantêm relações diplomáticas com aquele Estado enviam representantes para a posse do novo mandatário. Contudo, a instalação de um novo governo em um Estado a partir da desconsi- deração do ordenamento jurídico vigente, tal como em casos de golpes de Estado e revoluções, acarreta a necessidade de que essa nova direção do Estado tenha que passar por um claro reconhecimento que, muitas vezes, chega a ser expresso. 11 UNIDADE Personalidade de Direito Internacional Extinção e sucessão de estados O desaparecimento de qualquer dos elementos constitutivos do Estado ocasiona a sua extinção total ou parcial. Será total, quando decorrente da fusão, anexação total ou desaparecimento do território, e parcial, quando estiver caracterizada, de qualquer forma, a restrição de sua soberania. A Convenção de Viena sobre Sucessão de Estados em Matéria de Tratados (1978) dispõe que a “sucessão de estados significa a substituição de um Estado por outro na responsabilidade das relações internacionais de um território”, ou seja, há uma transferência de direitos e obrigações do Estado extinto para outro Estado – anteriormente existente ou formado nesse ato. As principais modalidades de sucessão de estados são: • Emancipação: é a aquisição da independência de uma colônia em relação ao estado controlador. Ex.: Brasil, em relação a Portugal; • Fusão: é a união de dois ou mais Estados para formar um terceiro, com nova personalidade jurídica internacional. Ex.: Unificações alemã e italiana; • Anexação total: ocorre quando um Estado é absorvido (anexado) plenamente por outro, extinguindo-se a personalidade internacional do primeiro. Ex.: Etiópia, quando anexada à Itália de Mussolini; • Anexação parcial: ocorre quando um Estado perde parcela de seu território em favor de outro. Ex.: transferências de territórios depois das guerras mundiais. Organização Internacional As primeiras organizações internacionais surgiram com a finalidade de criar condições para a cooperação e solução de problemas bastante específicos, tais como garantir a liberdade de navegação em determinados rios. Na verdade, o escopo da organização é conjugar forças, recursos e interesses em torno de objetivos transnacionais comuns. A primeira grande experiência de organização internacional de âmbito mundial foi a Liga das Nações. As organizações internacionais (ou intergovernamentais) são pessoas jurídicas de direito internacional que se caracterizam por possuir ordens jurídicas próprias que não se confundem com as dos estados que as integram. Como elas resultam da manifestação de vontade de sujeitos de direito internacional público, ou seja, de Estados ou de outras organizações internacionais, não são aceitos, em suas composições, sujeitos de direito interno, tais como indivíduos, empresas e organizações não governamentais (VARELLA, 2012, p. 285). 12 13 Podemos dizer que uma organização internacional é a associação voluntária de sujeitos de direito internacional (estados e outras organizações internacionais) constituída mediante ato internacional (um tratado), de caráter relativamente permanente, dotada de regulamento e de órgãos de direção próprios, cuja finalidade é a de atingir os objetivos comuns determinados por seus membros constituintes. A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1986 buscou dis- ciplinar as normas de direito internacional aplicáveis ao poder convencional das organizações internacionais. Essas organizações intergovernamentais, uma vez constituídas, adquirem personalidade internacional independente da de seus mem- bros constituintes, podendo, portanto, adquirir direitos e contrair obrigações em seu nome próprio – inclusive por intermédio da celebração de tratados com outras organizações internacionais e com estados, nos termos do seu ato constitutivo. Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1986 ARTIGO 6º – Capacidade das organizações internacionais para concluir tratados A capacidade de uma organização internacional para concluir tratados é regida pelas regras da organização. Vamos então conhecer a Organização das Nações Unidas e o Mercosul, duas das organizações mais importantes para o nosso Direito. Organização das Nações Unidas – ONU Antecedentes históricos É comum imaginar que somente no século XX os estados passaram a se preocupar em criar organizações internacionais mais estruturadas para a solução de problemas comuns, que necessitavam de uma coordenação deesforços para que fossem solucionados; contudo, não é essa a realidade. No século XIX, surgiram algumas iniciativas desse tipo, as quais redundaram na criação das mais antigas organizações internacionais, as quais ainda estão em plena atividade: • A União Internacional de Telecomunicações (International Telecommunication Union – ITU2) foi fundada em 1865 em Paris, tendo o nome inicial de International Telegraph Union; 2 O site da ITU na internet é <https://goo.gl/lsZEm>. Desde 1947, essa organização é uma agência especializada da ONU. Figura 1 − Símbolo da União Internacional de Telecomunicações 13 UNIDADE Personalidade de Direito Internacional • A União Postal Universal (Universal Postal Union – UPU3) foi fundada em 1874. Figura 2 − Símbolo da União Postal Universal Também deve ser destacada a Conferência de Paz em Haia de 1899 (Países Baixos), que estabeleceu mecanismos para a criação de tribunais arbitrais para resolver conflitos e disputas que envolvessem estados. Fazia parte desses mecanismos a criação de um escritório permanente localizado em Haia para registro judicial e secretariado dos tribunais quando fossem criados. Esse escritório acabou sendo denominado de Corte Permanente de Arbitragem (The Permanent Court of Arbitration), sendo estabelecido em 1900 e iniciado seus trabalhos em 1902. Essa corte é a predecessora da Corte Internacional de Justiça4 da ONU. Outro ponto histórico marcante é a criação da Liga das Nações (ou Sociedade das Nações), que foi instituída em 28 de junho de 1919, pelo Tratado de Versailles, durante a conferência organizada em razão do final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Antes mesmo do final da guerra, o presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, já havia apresentado uma proposta de criação dessa organização. Contudo, apesar desse entusiasmo, o Senado de seu país não ratificou o tratado, razão pela qual não houve a adesão daquele país àquela Liga. O grande propósito da Liga das Nações era o de estabelecer mecanismos para a manutenção da paz, evitando a ocorrência de um grande, conflito como a Primeira Guerra Mundial. Tratado de Versailles Art.11. Fica expressamente declarado que toda guerra ou ameaça de guerra, quer afete diretamente ou não um dos Membros da Sociedade, interessará à Sociedade inteira e esta deverá tomar as medidas apropriadas para salvaguardar eficazmente a paz das Nações. Em semelhante caso, o Secretário Geral convocará imediatamente o Conselho a pedido de qualquer Membro da Sociedade. 3 O site da UPU na internet é <http://www.upu.int/en.html>, sendo essa organização uma agência especializada da ONU. 4 O site da Corte Internacional de Justiça na internet é <http://www.icj-cij.org/en>. 14 15 Além disso, fica declarado que todo Membro da Sociedade tem o direito de, a título amigável, chamar a atenção da Assembleia ou do Conselho sobre qualquer circunstância de natureza a afetar as relações internacionais e que ameace, consequentemente, perturbar a paz ou o bom acordo entre as Nações, do qual depende a paz. Em razão do disposto no artigo 14 do Tratado de Versailles5, a Liga das Nações realizou a criação de um Tribunal a ela vinculado que tinha a função de resolver conflitos e de emitir pareceres consultivos em disputas que envolvessem estados que faziam parte da Liga. Tratado de Versailles Art. 14. O Conselho será encarregado de preparar um projeto de Tribunal permanente de justiça internacional e de submetê-lo aos Membros da Sociedade. Esse Tribunal tomará conhecimento de todos os litígios de caráter internacional que as Partes lhe submetam. Dará também pareceres consultivos sobre toda pendência ou todo ponto que lhe submeta o Conselho ou a Assembleia. Esse tribunal, denominado Corte Permanente de Justiça Internacional (The Permanent Court of International Justice), foi instalado em Haia em 1922, dividindo o mesmo edifício da Corte Permanente de Arbitragem – o Palácio da Paz. Também decorrente do Tratado de Versailles se deu a criação da Organização Internacional do Trabalho6 (International Labour Organization – ILO), que também se vinculava à Liga das Nações. Apesar dos avanços, a Liga das Nações acabou sendo extinta em 1946. Entre outros fatores, isso se deu em razão de sua incapacidade de evitar a ocorrência de grandes conflitos, como a Segunda Guerra Mundial. Em consequência, foi realizada a criação da Organização das Nações Unidas – ONU (United Nations – UN7). Figura 3 − Palácio da Paz – Haia Fonte: Wikimedia Commons 5 Disponível em: <https://goo.gl/gH4EK7>. 6 O site da ILO na internet é <https://goo.gl/BeSYV>. 7 O site da ONU na internet é <https://goo.gl/RBr4VZ>. 15 UNIDADE Personalidade de Direito Internacional Criação A Organização das Nações Unidas foi fundada oficialmente em 24 de outubro de 1945, em São Francisco, Estados Unidos, por 51 países, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, sendo que a sua primeira Assembleia Geral foi realizada em 10 de janeiro de 1946 no Westminster Central Hall, localizado em Londres. Em 1952, foi inaugurada a sua atual sede, na ci- dade de Nova York, devendo ser destacado que entre as pessoas envolvidas na elaboração do projeto de suas instalações estava o brasileiro Oscar Niemayer. Seu principal documento de regência é a Carta das Nações Unidas8 que, dentre outros vários assuntos, indica seus propósitos. Carta das Nações Unidas Artigo 1. Os propósitos das Nações unidas são: 1. Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar, coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma perturbação da paz; 2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal; 3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião; e 4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos comuns. Em razão de suas características, a Organização das Nações Unidas tem como línguas oficiais as seguintes: chinês, francês, russo, inglês e espanhol. 8 Esse documento foi elaborado por ocasião da Conferencia de Organização Internacional da Nações Unidas, em São Francisco (Estados Unidos), sendo assinada em 26 de junho de 1945. Em nosso país, essa Carta foi ratificada pela Decreto n. 19.841/45 – disponível em: <https://goo.gl/FV9xHj>. Figura 4 − Símbolo da ONU 16 17 Membros Atualmente9 a ONU é composta por 193 estados-membros, que participaram de sua criação ou que, posteriormente, solicitaram a sua filiação nos termos do artigo 4 da Carta. Carta das Nações Unidas Artigo 4. 1. A admissão como Membro das Nações Unidas fica aberta a todos os Estados amantes da paz que aceitarem as obrigações contidas na presente Carta e que, a juízo da Organização, estiverem aptos e dispostos a cumprir tais obrigações. 2. A admissão de qualquer desses Estados como Membros das Nações Unidas será efetuada por decisão da Assembleia Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança. Para ser admitido na ONU, um Estado deve, inicialmente, apresentar um pedido para o Secretário Geral atestando que se compromete com os princípios da Carta e solicita a sua admissão. Essa solicitação é encaminhada ao Conselho de Segurança(CS), onde precisa ser aprovado. Em seguida, esse requerimento é remetido para a Assembleia Geral (AG), na qual, novamente, precisa obter a aprovação. Estrutura Os principais órgãos da estrutura da ONU são: • Assembleia Geral; • Conselho de Segurança; • Conselho Econômico e Social; • Secretariado; • Conselho de Tutela; • Corte Internacional de Justiça. Carta das Nações Unidas Artigo 7 1. Ficam estabelecidos como órgãos principais das Nações Unidas: uma Assembleia Geral, um Conselho de Segurança, um Conselho Econômico e Social, um conselho de Tutela, uma Corte Internacional de Justiça e um Secretariado. 9 Em agosto de 2017. 17 UNIDADE Personalidade de Direito Internacional Assembleia Geral É o mais importante órgão deliberativo da ONU, sendo constituído por todos os membros dessa organização que se reúnem em sessões anuais (iniciadas em setembro de cada ano). Nela, cada membro tem um voto e não existe, tal como ocorre no Conselho de Segurança, o direito a veto. Figura 5 − Salão de Reuniões da Assembleia Geral Fonte: iStock/Getty Images Em cada sessão, é eleito um presidente desse órgão. Além das sessões anuais regulares, podem ocorrer sessões especiais, as quais podem ser convocadas, nos termos do artigo 20 da Carta da ONU, a pedido: • do Secretário Geral; • do Conselho de Segurança; • da maioria dos Membros das Nações Unidas. Há duas formas de os assuntos serem decididos: • Nas chamadas questões importantes, a decisão se dá pela maioria de dois terços dos membros presentes e votantes. As questões importantes são as seguintes: recomendações relativas à manutenção da paz e da segurança internacionais; eleição dos Membros não permanentes do Conselho de Segurança; eleição dos membros do Conselho Econômico e Social; eleição dos Membros do Conselho de Tutela; admissão de novos Membros das Nações Unidas; suspensão dos direitos e privilégios de Membros; expulsão dos Membros; questões referentes ao funcionamento do sistema de tutela e questões orçamentárias; • Nas demais questões apreciadas pela Assembleia Geral, a decisão se dá por maioria de votos dos países presentes e votantes. 18 19 Muito embora tenha sido estabelecido o quórum de aprovação das suas deliberações, o costume desse órgão é que se busque, ao máximo, a formação de consenso para as questões de sua competência, assim sempre se persegue o ideal de que as decisões sejam unânimes, muito embora nem sempre isso seja possível. No que concerne às suas funções, a Assembleia deve discutir e fazer recomen- dações sobre temas relacionados às competências da ONU; discutir e fazer reco- mendações relativas sobre desarmamento e regulamentação de armamentos; considerar os princípios gerais de cooperação na manutenção da paz e da segurança internacionais” e fazer recomendações relativas a tais princípios (artigo 11); fazer estudos e recomendações sobre cooperação internacional, nos diferentes domínios econômicos, culturais e sociais, codificação e desenvolvimento do Direito Internacional e fazer recomendações para a solução pacífica de qualquer situação internacional. Conselho de Segurança O Conselho de Segurança (CS) é órgão permanente da ONU, vale dizer, e permanece em funcionamento ao longo do ano. Não obstante, embora se reuna ordinariamente na sede da ONU, em Nova Iorque, nada impede que o Conselho realize encontros em outras localidades. Figura 6 − Salão do Conselho de Segurança Fonte: Wikimedia Commons É formado por quinze membros, sendo: • Cinco Membros Permanentes: » China; » Estados Unidos; » Rússia; » França; e » Reino Unido. 19 UNIDADE Personalidade de Direito Internacional • Dez Membros Não Permanentes: que são escolhidos pela Assembleia Geral (AG) para um mandato de dois anos. Os Cinco Membros Permanentes ou Cinco Grandes são os cinco Grandes Vitoriosos da Segunda Guerra Mundial que, nessa qualidade de protagonistas, angariaram privilégios e poderes diferenciados dos demais estados. Vale ressaltar que os membros permanentes possuem o poder de veto. Na eleição dos Dez Membros Não Permanentes, devem ser considerados os seguintes elementos descritos no artigo 23.1 da Carta da ONU: • a contribuição dos Membros das Nações Unidas para a manutenção da paz e da segurança internacionais e para os outros propósitos da Organização; • a distribuição geográfica equitativa. Os membros do Conselho de Segurança (permanentes e não permanentes) se alternam na presidência desse órgão, sendo que a troca ocorre mensalmente, considerando para tanto a ordem alfabética (em inglês) do nome dos estados que fazem parte dele. Dentre as funções do Conselho de Segurança, devem ser destacadas as mencionadas no artigo 24 da Carta da ONU: Carta da ONU Artigo 24 1. A fim de assegurar pronta e eficaz ação por parte das Nações Unidas, seus Membros conferem ao Conselho de Segurança a principal responsabilidade na manutenção da paz e da segurança internacionais e concordam em que, no cumprimento dos deveres impostos por essa responsabilidade, o Conselho de Segurança aja em nome deles. Ao fazer suas recomendações, o Conselho de Segurança deve levar em consideração que as controvérsias de caráter jurídico devem, em regra geral, serem submetidas pelas partes à Corte Internacional de Justiça. Ao lado disso, o Conselho de Segurança ostenta atribuições outras, como a participação na escolha dos membros da Corte Internacional de Justiça. Pautando-se pelos princípios orientadores da ONU, o Conselho de Segurança deve buscar, precipuamente, uma solução pacífica para conflitos. Em casos extremos, ele pode impor as seguintes sanções: • A interrupção completa ou parcial das relações econômicas, dos meios de co- municação ferroviários, marítimos, aéreos, postais, telegráficos, radiofônicos, ou de qualquer outra espécie e o rompimento das relações diplomáticas (art. 41); • Se infrutíferas as sanções do art. 41, poderá levar a efeito, por meio de forças aéreas, navais ou terrestres, a ação que julgar necessária para manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais. Tal ação poderá compreender demonstrações, bloqueios e outras operações por parte das forças aéreas, navais ou terrestres dos Membros das Nações Unidas (art. 42). 20 21 Na verdade, a imposição das sanções pelo Conselho de Segurança ou outro órgão da ONU representa uma forma de trazer o Estado em litígio para negociação, buscando prevenir a eclosão de conflitos armados ou a sua interrupção. Forças de Paz Embora o processo de manutenção da paz não seja especificamente mencionado na Carta das Nações Unidas, essa norma confere ao Conselho de Segurança responsabilidade primária pela manutenção da paz e da segurança internacionais. Para desempenhar essa sua missão, o Conselho, em muitos casos, cria missões de manutenção da paz. Isso é feito por meio da estipulação de um mandato – uma descrição das tarefas e dos objetivos que devem ser perseguidos pela Missão de Paz. Além disso, os países membros da ONU e que não tenham ligação com o conflito são convidados a participar da formação dessa missão, sendo que eles devem disponibilizar pessoal e equipamentos para a sua realização. A Força de Paz apresenta periodicamente ao Conselho de Segurança relatórios sobre as dificuldades e as tarefas desempenhadas, para que esse acompanhe essas medidas e, se for o caso, realize outras deliberações para que os objetivos que motivaram a sua criação sejam atingidos. Muito embora deva haver a aceitação do Estado onde a Força de Paz atuará, ela não se subordina ou se reporta a autoridades locais, sendo que somente há vinculação de suas ações ao Conselho de Segurança. Processo decisório do Conselho de Segurança Para que uma matéria seja aprovada pelo Conselho de Segurança, deve havera concordância de, pelo menos, nove de seus quinze membros. Nesse particular, os vo- tos dos Membros Permanentes e dos Membros Não Permanentes se equivalem. Contudo, para a aprovação, também é necessário que nenhum dos Membros Permanentes se utilize do poder de veto. Se algum ou alguns deles apresentar veto para a questão, não se considera aprovada a deliberação, muito embora tenham sido colhidos nove ou mais votos dos demais membros. Também é possível que um Membro Permanente se abstenha de participar da deliberação, situação em que não haverá qualquer prejuízo para a aprovação da questão em votação, sendo somente necessário que se atinja o quórum mínimo de deliberação – nove votos10. Secretariado É um órgão permanente composto pelo Secretário Geral e pelo pessoal necessário à gestão administrativa da Organização. Nos termos do artigo 97 da Carta da ONU, o Secretário Geral é o principal funcionário administrativo da Organização, sendo que nessa qualidade atuará em todas as reuniões da Assembleia Geral, do Conselho de Segurança e do Conselho Econômico e Social. 10 Membros Não Permanentes também podem se abster de participar de votações. 21 UNIDADE Personalidade de Direito Internacional O Secretário Geral, no desempenho de suas funções, poderá chamar a atenção do Conselho de Segurança para qualquer assunto que, em sua opinião, possa ameaçar a manutenção da paz e da segurança internacionais. Além disso, fazem parte de suas atribuições: • exercer tarefas conferidas pela Assembleia Geral, Conselho de Segurança, de Tutela, Econômico e Social; • fazer relatórios à Assembleia Geral sobre os trabalhos da Organização; • nomear os demais integrantes do Secretariado, seguindo o regramento estabelecido pela Assembleia Geral; • atuar na fase inicial de ameaças à paz. No desempenho de suas funções, o Secretário Geral e os demais membros do Secretariado devem estrito respeito ao disposto no artigo 100.1 da Carta: Carta da ONU Artigo 100. 1. No desempenho de seus deveres, o Secretário-Geral e o pessoal do Secretariado não solicitarão nem receberão instruções de qualquer governo ou de qualquer autoridade estranha à organização. Abster-se-ão de qualquer ação que seja incompatível com a sua posição de funcionários internacionais responsáveis somente perante a Organização. O Secretário Geral é eleito pela Assembleia Geral após prévia aprovação pelo Conselho de Segurança para um mandato de cinco anos, podendo ser reeleito. O Secretário Geral também é Presidente do Conselho de Coordenação dos Chefes Executivos do Sistema das Nações Unidas (CEB), que reúne os Chefes Executivos de todos os fundos, programas e agências especializadas das Nações Unidas duas vezes por ano a fim de promover a coordenação e a cooperação de todos eles em questões de maior relevância e para a gestão de desafios enfrentados pelo Sistema das Nações Unidas. Também é no secretariado que os tratados internacionais são registrados e depositados após a ratificação pelos estados que participaram de sua formação ou após a adesão de outros que, mesmo não participando de sua formação, concordaram expressamente com suas disposições. Conselho Econômico e Social O Conselho Econômico e Social (ECOSOC) é composto por cinquenta e quatro Membros das Nações Unidas eleitos pela Assembleia Geral, sendo que anualmente há uma renovação de um terço deles (18 Membros) em novas eleições. 22 23 Figura 7 − Salão do Conselho Econômico e Social Fonte: Wikimedia Commons Suas atribuições estão descritas nos artigos de 62 a 66 da Carta da ONU, podendo ser destacadas as seguintes: • Realizar estudos e relatórios a respeito de assuntos internacionais de caráter econômico, social, cultural, educacional, sanitário e conexos, podendo fazer recomendações a respeito deles para a Assembleia Geral, para os Membros das Nações Unidas e para as entidades especializadas interessadas; • Fazer recomendações destinadas a promover o respeito e a observância dos direitos humanos e das liberdades fundamentais para todos; • Preparar projetos de convenções a serem submetidos à Assembleia Geral sobre assuntos de sua competência; • Poderá convocar, de acordo com as regras estipuladas pelas Nações Unidas, conferências internacionais sobre assuntos de sua competência; • Estabelecer acordos com qualquer organização internacional, a fim de determinar as condições em que ela poderá se vincular à ONU, devendo esses atos serem submetidos à aprovação da Assembleia Geral; • Coordenar as atividades das entidades especializadas; • Pode fornecer informações ao Conselho de Segurança e, a pedido desse, prestar a ele assistência. Por meio do Conselho Econômico e Social há a integração de diversas organizações internacionais à Organização das Nações Unidas, sendo que essas formam as chamadas agências especializadas. Elas também são chamadas de integrantes da família das Nações Unidas. 23 UNIDADE Personalidade de Direito Internacional Apesar de laços formais com as Nações Unidas, as organizações especializadas não podem ser consideradas como sendo seus órgãos, tanto especiais quanto subsidiários. Elas conservam uma independência jurídica e de conteúdo. Assim, por exemplo, países que não fazem parte das Nações Unidas podem integrar os organismos especializados (SEITENFUS, 2003, p. 149-150). Como vimos, algumas das agências especializadas foram criadas antes da Organização das Nações Unidas, sendo que, posteriormente, vincularam-se a ela. As agências especializadas podem participar das reuniões da Assembleia Geral e nelas apresentar manifestações; contudo, não possuem direito de voto. Como exemplos de agências especializadas que fazem parte da família das Nações Unidas, temos as seguintes: • FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura; • ICAO (International Civil Aviation Organization) – Organização da Aviação Civil Internacional; • IFAD (International Fund for Agricultural Development) – Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola; • ILO (International Labour Organization) – Organização Internacional do Trabalho; • IMF (International Monetary Fund) – Fundo Monetário Internacional; • IMO (International Maritime Organization) – Organização Marítima Internacional; • ITU (International Telecommunication Union) – União Internacional de Telecomunicações; • UNESCO (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organiza- tion) – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura; • UNIDO (United Nations Industrial Development Organization) – Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial; • UNWTO (World Tourism Organization) – Organização Mundial de Turismo; • UPU (Universal Postal Union) – União Postal Universal; • WHO (World Health Organization) – Organização Mundial da Saúde; • WIPO (World Intellectual Property Organization) – Organização Mundial da Propriedade Intelectual; • WMO (World Meteorological Organization) – Organização Meteorológica Mundial; • WORLD BANK GROUP – Banco Mundial; • WTO (World Trade Organization) – Organização Mundial do Comércio. 24 25 • As agências especializadas se ligam ao Conselho Econômico e Social e à Assembleia Geral. Há, contudo, duas agências que reportam suas atividades para o Conselho de Segurança e para a Assembleia Geral, são elas: • IAEA (International Atomic Energy Agency) - Agência Internacional de Energia Atómica; • OPCW (Organization for the Prohibition of Chemical Weapons) – Organização para a Proibição de Armas Químicas. Conselho de Tutela Ao final da Segunda Guerra Mundial ainda existiam no mundo onze territórios aos quais a Carta das Nações Unidas se referia como: territórios cujos povosnão tenham atingido a plena capacidade de se governarem a si mesmos (artigo 73). Eles eram constituídos, em geral, de ex-colônias de estados europeus. Figura 8 − Salão do Conselho de Tutela Fonte: Wikimedia Commons Para resolver a essa situação, a ONU estabeleceu o sistema de tutela, com o objetivo de dar aos povos desses territórios condições estruturais para que pudessem criar novos estados. Para tanto, foram designados sete estados-membros para que, nos termos do Capítulo XII da Carta da ONU, realizassem juntamente com o Conselho de Tutela essa transição. Todos esses territórios adquiriram a sua independência ou se juntaram a outros estados já constituídos, sendo que o último deles foi República de Palau (na Oceania), em 1994. Atingido o seu objetivo, o Conselho de Tutela suspendeu suas atividades em novembro de 1994, mas poderá se reunir quando necessário: • por decisão de seu Presidente; • a pedido da maioria de seus membros; • por decisão da Assembleia Geral ou do Conselho de Segurança. 25 UNIDADE Personalidade de Direito Internacional Parte de suas competências, contudo, foi destinada ao Quarto Comitê da Assembleia Geral, que foi encarregado de tratar da política de descolonização das Nações Unidas. Corte Internacional de Justiça Como parte dos esforços pela paz que resultaram na criação da Organização das Nações Unidas, também houve a criação da Corte Internacional de Justiça (CIJ). Figura 9 − Brasão da Corte Internacional de Justiça Fonte: icj-cij.org Trata-se de um órgão permanente da ONU, dotado de dupla função jurisdicional: • Consultiva; • Contenciosa – em matéria não penal. Esse órgão jurisdicional, cuja sede está instalada no Palácio da Paz, em Haia, foi criado na mesma Convenção de São Francisco que finalizou as tratativas para a criação da Organização das Nações Unidas, razão pela qual seu Estatuto (seu principal instrumento normativo) encontra-se anexado à Carta das Nações Unidas. O Estatuto da CIJ só admite a jurisdição de estados, dessa forma, indivíduos e organizações internacionais não têm legitimidade para apresentar seus litígios junto a esse órgão. Estatuto da Corte Internacional de Justiça Artigo 34 1. Só os Estados poderão ser partes em questões perante a Corte. Todos os membros da ONU podem apresentar questões a serem submetidas à CIJ, contudo, excepcionalmente, esse órgão também estará aberto a questões que envolvam estados que não fazem parte das Nações Unidas. 26 27 Estatuto da Corte Internacional de Justiça Artigo 35. 1. A Corte estará aberta aos Estados que são parte no presente Estatuto. 2. As condições pelas quais a Corte estará aberta a outros Estados serão determinadas pelo Conselho de Segurança, ressalvadas as disposições especiais dos tratados vigentes; em nenhum caso, porém, tais condições colocarão as partes em posição de desigualdade perante a Corte. Uma característica dos litígios apresentados na CIJ é que os estados-parte não precisam firmar qualquer compromisso prévio de reconhecimento da jurisdição desse órgão. Também deve ser destacado que a apresentação do litígio por um Estado não precisa contar com a prévia concordância do outro Estado litigante. Os juízes têm mandatos de nove anos, sendo franqueada a recondução. Sobre a composição desse órgão, estabelece seu estatuto que: Estatuto da CIJ Artigo 2. A Corte será composta de um corpo de juízes independentes, eleitos sem atenção à sua nacionalidade, entre pessoas que gozem de alta consideração moral e possuam as condições exigidas em seus respectivos países para o desempenho das mais altas funções judiciárias, ou que sejam jurisconsultos de reconhecida competência em direito internacional. Artigo 3. 1. A corte será composta de quinze membros, não podendo configurar entre eles dois nacionais do mesmo Estado. O processo de escolha dos juízes da CIJ envolve três etapas: • Escolha realizada pela Corte Permanente de Arbitragem; • Eleição pelo Conselho de Segurança da ONU; • Eleição pela Assembleia Geral da ONU. Estatuto da Corte Internacional de Justiça Artigo 8. A Assembleia Geral e o Conselho de Segurança procederão, independentemente um do outro, à eleição dos membros da Corte. [...] Artigo 10. 1. 0s candidatos que obtiverem maioria absoluta de votos na Assembleia Geral e no Conselho de Segurança serão considerados eleitos. 2. Nas votações do Conselho de Segurança, quer para a eleição dos juízes quer para a nomeação dos membros da comissão prevista no artigo 12, não haverá qualquer distinção entre membros permanentes e não permanentes do Conselho de Segurança. 27 UNIDADE Personalidade de Direito Internacional Há toda uma preocupação para que não haja qualquer alegação que a nacionalidade dos juízes possa influenciar na decisão da CIJ; dessa forma, seu estatuto estabelece uma forma de equilibrar essa situação. Estatuto da CIJ Artigo 31 1. Os juízes da mesma nacionalidade de qualquer das partes conservam o direito de funcionar numa questão julgada pela Corte. 2. Se a Corte incluir entre os seus membros um juiz de nacionalidade de uma das partes, qualquer outra parte poderá escolher uma pessoa para funcionar como juiz. Essa pessoa deverá, de preferência, ser escolhida dentre os que figuram entre os candidatos a que se referem os Artigos 4 e 5. 3. Se a Corte não incluir entre os seus membros nenhum juiz de nacionalidade das partes, cada uma destas poderá proceder à escolha de um juiz, de conformidade com o parágrafo 2 deste Artigo. 4. As disposições deste Artigo serão aplicadas aos casos previstos nos Artigos 26 e 29. Em tais casos, o Presidente solicitará a um ou, se necessário, a dois dos membros da Corte integrantes da Câmara que cedam seu lugar aos membros da Corte de nacionalidade das partes interessadas e, na falta ou impedimento destes, aos juízes especialmente escolhidos pelas partes. 5. No caso de haver diversas partes interessadas na mesma questão, elas serão, para os fins das disposições precedentes, consideradas como uma só parte. Qualquer dúvida sobre este ponto será resolvida por decisão da Corte. 6. Os juízes escolhidos de conformidade com os parágrafos 2, 3 e 4 deste Artigo deverão preencher as condições exigidas pelos Artigos 2 e 17 (parágrafo 2), 20 e 24 do presente Estatuto e tomarão parte nas decisões em condições de completa igualdade com seus colegas. Como dispõe o dispositivo acima, podem ser convocados juízes ad hoc (não permanentes) para atuarem em um determinado litígio. Por exemplo, em 2013, a CIJ iniciou o processamento de um litígio que envolvia a Bolívia e o Chile. Alegava a Bolívia que o Chile deveria restituir-lhe um território que anteriormente lhe pertencia e que lhe garantiria acesso ao Oceano Pacífico. Nesse processo, aturam dois juízes ad hoc, um indicado por cada Estado-Parte, nos termos do artigo 31.3 do Estatuto. Dentro da competência da CIJ firmada no artigo 36 de seu Estatuto, devem ser destacadas as seguintes matérias: 28 29 • qualquer ponto de direito internacional; • a existência de qualquer fato que, se verificado, constituiria violação de um compromisso internacional; • a natureza ou extensão da reparação devida pela ruptura de um compromisso internacional. Mercado Comum do Sul – Mercosul O Mercosul foi formatado a partir dos seguintes tratados: • Tratado de Assunção – 26/03/91 – Carta Constitutiva do Mercosul; • Protocolo de Brasília – 17/12/91 – Regulamentou a resolução de controvérsias no âmbito do Mercosul e instaurou procedimentos de negociação, conciliação e arbitragem; • Protocolo de Ouro Preto – 16/12/94 – Conferiu ao bloco personalidade jurídica internacional, elegeu fontes e estruturou os órgãos; • Protocolo de Olivos – 18/02/02 – Criou o Tribunal Arbitral Permanente de Revisãodo Mercosul. Objetivou solucionar e minimizar conflitos entre os países-membros. O Mercosul foi concebido com o objetivo de consolidar a integração política, eco- nômica e social entre os países que o integram com vistas a criar um mercado comum. Seus membros originários são: Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Seu principal marco regulatório é o Tratado de Assunção, concluído na cidade de Assunção, no Paraguai, em 26 de março de 1991. A bandeira do Mercosul é formada pelo Cruzeiro do Sul e o horizonte do qual emerge. O Cruzeiro do Sul foi escolhido porque representa o principal elemento de orientação do Hemisfério Sul e, para o Mercosul, simboliza o rumo otimista de integração regional que se pretende dar aos países membros. Os idiomas oficiais são o português e o espanhol. Figura 10 − Bandeira do Mercosul 29 UNIDADE Personalidade de Direito Internacional O Mercosul tem personalidade jurídica internacional e funciona como uma união aduaneira. Ainda como propósitos do Mercosul, podemos apontar: a adoção de uma política comercial comum em relação a terceiros estados; a coordenação de políticas setoriais e macroeconômicas e a harmonização legislativa. Outra função atribuída ao Mercosul cinge-se à mediação de conflitos entre seus membros, razão pela qual essa organização internacional possui instrumentos para dirimir controvérsias afetas às suas competências. Em 2012, a Venezuela passou a integrar o Mercosul como membro efetivo. Desde de 2012, a Bolívia está em processo de adesão. Os demais estados da América do Sul (Chile, Peru, Colômbia, Equador, Guiana e Suriname) são Estados Associados ao Mercosul. 30 31 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Convenção sobre Direitos e Deveres dos Estados, Ratificada por meio do Decreto n. 1.570/37 https://goo.gl/j3nLSv União Internacional de Telecomunicações https://goo.gl/lsZEm União Postal Universal https://goo.gl/EaAkLI Corte Internacional de Justiça https://goo.gl/nyeoMA ONU https://goo.gl/RBr4VZ 31 UNIDADE Personalidade de Direito Internacional Referências ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G. E. do Nascimento; CASELLA, Paulo Borba. Manual de direito internacional público. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. ARAÚJO, Luis Ivani de Amorim. Curso de direito internacional público. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. HUSEK, Carlos Roberto. Curso de Direito Internacional Público. 14. ed. São Paulo: LTr, 2017. REZEK, J. F. Direito internacional público. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. SEITENFUS, Ricardo. Manual das organizações internacionais. 3. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003. VARELLA, Marcelo Dias. Direito Internacional Público. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 32
Compartilhar