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Síndrome do Manguito Rotador Esther dos Santos Laura Toazza Nathalie Silva Kathleen Renling Elisa Tavares Bosquerolli Porto Alegre, 5 de maio de 2020 Síndrome do Manguito Rotador Objetivo O objetivo desta revisão é conhecer o conceito, epidemiologia, fisiopatologia, tratamento e cuidados de enfermagem da Síndrome do Manguito Rotador. Introdução A Síndrome do Manguito Rotador tem uma relevância para a saúde pública e para as questões relacionadas a perda de função do ombro, limitações de movimento e portanto tem grande impacto socioeconômico podendo acometer pessoas profissionalmente ativas, afastando –os do trabalho e idosos tornando-os mais vulneráveis e dependentes. O presente estudo é de suma importância para identificação do impacto da SMR para a população e também serve como base para o desenvolvimento de ações por parte da equipe multidisciplinar para sanar o problema. Discussão O Manguito rotador segundo Hebert et al (2017) é formado por 4 músculos : subescapular, supraespinal, infraespinal e redondo menor. Esses músculos terão origem na escápula e inserem-se na tumerosidades do úmero. Esses músculos terminam em tendões largos e achatados. O Manguito rotador (MR) atua para estabilizar dinamicamente e equilibrar a cabeça do úmero em relação a glenóide. A ruptura do MR pode facilmente levar á perda de função do ombro em vários graus.(Lech et al, 2000) As três funções essenciais do MR conforme descreve Hebert et al (2017) são: estabilidade, mobilidade e nutrição da articulação glenoumeral. Problemas no ombro são o terceiro problema musculoesquelético mais freqüente, pode –se estimar uma incidência anual de 7% e uma prevalência anual de 5% a 47% e em torno de 40% tornam-se crônicas. (Rached et al,2013) Segundo Lech et al (2000) a patologia do ombro mais freqüente é a Síndrome do Manguito Rotador (SMR), relacionada a processos degenerativos ou traumáticos necessitando envolvimento de uma equipe multidisciplinar para sucesso do tratamento. Num estudo de Gardezin et al (2008) sobre Síndrome do Ombro Doloroso identificou-se que o principal diagnóstico relacionado é a SMR. Este estudo traz também a relação freqüente das lesões do MR com processos degenerativos do envelhecimento natural. Segundo Rached et al (2013) as patologias do ombro, a exemplo da SMR tem um importante impacto socioeconômico pois atinge uma população economicamente ativa e aos idosos adiciona e/ou causa dependência de terceiros, representando um alto custo para a sociedade. A patogênese das lesões do MR ainda não estão bem definidas, mas embora controverso, algumas possíveis causas são descritas pela maioria dos autores: trauma, atrito(degeneração), hipovascularização e impacto subcromial.(Hebert,2017). A patologia do MR pode ser classificada em 3 estágios conforme apresentado na tabela 1, além de ser classificada também levando em conta a espessura do tendão envolvido ( parcial articular, parcial intra-tendínea, parcial bursal e total), a etiologia (degenerativa ou traumática) e tamanho da ruptura ( pequena menor que 1 cm, média menor que 3 cm, grande menor que 5 cm e maciça maior que 5cm). (Lech et al, 2000) Tabela 1 Estágio Manifestações População acometida I Edema, inflamação e hemorragia da bursa e dos tendões do MR Principalmente em jovens II Espessamento da bursa e fibrose dos tendões Principalmente pessoas entre 25 e 40 anos III Ruptura completa do MR associada com alterações ósseas da cabeça do úmero e do acrômio Principalmente acima de 40 anos Lech et al, 2000 Algumas das manifestações clinicas das lesões do MR descritas por Hebert et al (2017) são: dor que pode ser espontânea ou aumentar com o movimento, é localizada ao redor do ombro podendo irradiar até a região escapular e cotovelo; crepitação que é observada na palpação com 2 dedos colocados imediatamente à frente do acrômio e pode estar presente nas fases I e II (tabela 1); força muscular diminuída na abdução e rotação externa nas lesões totais, e muito diminuídas nas lesões maciças, no estágio final da perda de força identifica-se a incapacidade do paciente levantar o membro ativamente; contratura; tendinite ou ruptura da cabeça longa do bíceps. Alguns fatores contribuíram para o aumento de diagnósticos dessas patologias nos últimos anos: aumento da expectativa de vida; grande desenvolvimento de esportes que utilizam o membro superior; desenvolvimento de diagnósticos clínicos e radiológicos mais modernos e maior entendimento da patologia. (Hebert et al,2017). Para o diagnóstico são aspectos fundamentais a coleta da história adequada, exame clinico especializado, teste de xilocaína (teste de Neer), Raio X e RM. O estudo de Lech et al (2000) traz uma análise do tratamento conservador que incluem reabilitação com exercícios supervisionados e pode ser a primeira escolha no tratamento de pacientes com ruptura do MR. Entretanto há casos em que é necessário cirurgia como em casos de dor intensa e quando não responde ao tratamento conservador entre 3 a 6 meses. No estudo de Lech et al (2000) foram 26 pessoas com lesões do MR que foram submetidas a tratamento conservador, tinham entre 34 e 84 anos de idade e dentre elas 12 eram sedentárias e 14 consideradas ativas. Dos pacientes analisados 8 (30,76%) tinham ruptura completa do MR e 18 (69,23%) ruptura parcial do MR. Os resultados após tratamento conservador foi excelente em 38,46% dos casos, bom em 30,76%, regular em 7,69% e mau em 23,07%. O tratamento conservador consiste em alívio da dor, alongamento capsular e reforço muscular, sendo indicado nas fases I e II (tabela 1). Já o tratamento cirúrgico tem o objetivo de proporcionar o aumento do espaço subacromial aliviando o impacto. ( Hebert, 2017). Rached et al (2013) apresenta em seu artigo algumas recomendações para o tratamento da SMR pode –se observar algumas delas na tabela 2. Tabela 2 Uso de analgésicos simples Mais usados: paracetamol e dipirona de 6/6h Em caso de dor aguda ou agudização da dor crônica Relaxante muscular Ciclobenzaprina, carisoprodolna e o tiocolchicosídeo Quando há quadro doloroso miofascial associado Anti-inflamatório AINES como celecoxibe, naproxeno ou nimesulida por 14 dias, meloxican ou piroxican por 7 dias Dor aguda e associada a quadros de tendinite do MR e bursite Opióides Medicações controladas pelo paciente ou infusão interescalênica Usa-se para reabilitação precoce no pós operatório de cirurgia aberta Antidepressivos Amitriptilina, nortriptilina, imipramina ou clomipramina Dor crônica musculoesquelética e/ou neuropática Anticonvulsivantes Gabapentina ou carbamazepina Para melhora da dor no pós operatório ou dor crônica sem melhora com analgésicos e anti-inflamatórios Acupuntura 15 sessões duas vezes por semana Melhora da dor, funcionalidade e de sintomas associados (ansiedade, depressão, irritabilidade e qualidade do sono Agulhamento seco Agulhamento em pontos gatilho Melhora da dor e amplitude do movimento Infiltração intra-articular e subcondral Anti –inflamatório hormonal, não hormonal, hialuronato de sódio ou anestésico Eficaz na melhora da dor, amplitude do movimento e na funcionalidade Infiltração intramuscular Triacinolona, mepivacaína ou toxina botulínica tipo A Para pacientes com tendinite do MR e sem melhora com analgésicos e anti-inflamatórios aplicado em pontos gatilho de músculos da cintura escapular para alívio da dor Terapia por ondas de choque Aparelho focal, 2 a 5 sessões com intervalo de 1 ou 2 semanas Melhora significativa da dor, funcionalidade e calcificações, pode ser considerada antes da atroscopia para tendinite crônica calcificada do ombro Exercícios de alongamento e fortalecimento Programa de treinamento de resistência progressiva para fortalecimento da musculatura do MR e estabilizadores da escápula Redução da dor e melhora da função Tratamento pós operatório Fisioterapia com exercícios e estimulação elétrica Melhora importante da dor Rached et al (2013) O tratamento cirúrgico pode ser realizadode 4 formas diferentes segundo Hebert et al (2017) : 1. Incisão cutânea pela linha de Langer, 2. Incisão transversa, 3. Mini-incisão de aproximadamente 3 a 4 cm sendo procedimento ambulatorial, 4. Via atroscópica que é considerado método de escolha pois permite rápido retorno ao trabalho/lazer e é também um procedimento ambulatorial. A reabilitação pós cirúrgica deve ser iniciada após 6 semanas da cirurgia e evoluir de forma gradual a fim de possibilitar o sucesso do processo de cicatrização (Hebert et al, 2017). Nos casos em que os tratamentos conservadores não são satisfatórios a cirurgia pode ser indicada. Malavolta et al (2017) faz uma analise entre 2003 e 2015 dos reparos do MR realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No período estudado o autor relata a realização de 50.207 cirurgias em todo o país pelo SUS. As taxas de cirurgias realizadas, calculadas para cada 100.000 habitantes, permite observar um crescimento de 238% nesses 13 anos alvos do estudo, a evolução desse crescimento pode-se verificar no gráfico a seguir. 0123 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 numero de cirurgias por 100.00 habitantes Cuidados de enfermagem O papel do enfermeiro na equipe multidisciplinar no que diz respeito a SMR é fundamental nos aspectos de investigação dos sintomas, conseqüências do quadro para o paciente, questões de educação e orientação entre outros cuidados. Para isso o enfermeiro utilizará de instrumentos específicos que são parte da sistematização da assistência de enfermagem e incluem anamnese e exame físico. Para uma boa compreensão do quadro do paciente as perguntas corretas e um exame físico minucioso precisam ser realizados. Anamnese: perguntas importantes a serem feitas conforme Barros (2016) Idade, sexo e raça Histórico de doenças relacionadas às fases da vida Se o paciente é ativo ou sedentário Qual a natureza das suas atividades ( movimentos repetitivos, esporte) Quando a dor começou Pedir que o paciente mostre o local da dor O que o fez procurar atendimento Existem atividades que pioram a dor Existe algo que faça que melhore a dor Existe história de lesão ou cirurgia previa no ombro Tem mais algum sintoma associado, como dor em outros locais (cervical por exemplo) Questionar a presença de edema Exame físico: Barros(2016) apresenta um roteiro para o exame do aparelho locomotor e os pontos importantes na investigação de problemas nos ombros estão apresentados abaixo Na inspeção avaliar rotação externa e abdução (principais movimentos prejudicados na SMR) Rotação interna e adução Extensão Flexão Supinação Pronação Volume articular e edema Deformidades articulares Rigidez articular Simetria, contorno e presença de nódulos na articulação Na palpação avaliar Queixas álgicas Intumescências Natureza de qualquer edema Gradiente térmico Tônus muscular Consistência e contorno dos músculos Rigidez articular Sensibilidade Amplitude do movimento Realizar teste de força para avaliar possíveis prejuízos no membro afetado Orientações e cuidados Orientar o paciente em uso de analgésicos, anti-inflamatórios e outras medicações utilizadas no tratamento quanto a forma correta de usar, contra-indicações e efeitos adversos Estimular a adesão ao tratamento Fazer os encaminhamentos para o médico especialista e se possível manter a comunicação com toda equipe envolvida no cuidado deste paciente Prestar cuidados no pré, no intra e no pós operatório conforme necessidade Aplicar acupuntura se enfermeiro habilitado Conclusão Esta revisão demonstrou a importância da Síndrome do manguito rotador, patologia que é de relevância para a saúde pública pela sua alta prevalência e incidência que com o passar dos anos tem sido demonstradas como crescentes devido a facilidade em diagnosticar essa patologia nos tempos atuais. Também percebeu-se um aumento substancial das intervenções cirúrgicas pelos mesmos motivos do maior numero de diagnósticos. Além das questões de afastamento dos indivíduos das suas atividades cotidianas e /ou dependência causada pela perda da função do ombro que conferem grande importância socioeconômica . O trabalho ainda descreveu o tratamento conservador como primeira escolha, apresentou recomendações de medicamentos e procedimentos mais utilizados no tratamento desta síndrome alem de indicar quando um procedimento cirúrgico pode ser indicado. Em relação aos cuidados de enfermagem é de suma importância que o enfermeiro esteja embasado em conhecimentos sobre a patologia para assim desempenhar as habilidades necessárias para uma boa avaliação do paciente, estar pronto a acolher as queixas do paciente com uma escuta ativa que servirão de subsídios para o desenvolvimento de um plano de cuidados personalizado. Fundamental também a interação com a equipe multidisciplinar envolvida em todo o processo. Referências RACHED, P.A. et al, Síndrome do manguito rotador: reabilitação. Acta Fisiart., vol 20, n 2, 2013. MALAVOLTA, E. A. et al, Reparo do manguito rotador no Sistema Único de Saúde: tendência brasileira de 2003 a 2015. Rev. Bras. Ortop., vol 52, n 4, 2017. GARDEZIN,DDS et al, Intensidade da dor em pacientes com Síndrome do Ombro Doloroso. Acta Ortop Bras, vol 16, n 3, 2008. LECH, O; NETO, C. V.; SEVERO, A., Tratamento conservador das lesões parciais e completas do manguito rotador. Acta Ortop Bras, vol 8, n 3, JUL/SET, 2000. HEBERT, S. et al . Ortopedia e Traumatologia: Princípios e Praticas. [recurso eletrônico ]. 5 edição. Porto Alegre: Artmed, 2017. BARROS, A,L,B,L. Anamnese e exame físico: avaliação diagnóstica de enfermagem no adulto. [recurso eletrônico]. 3 edição. Porto Alegre: Artmed, 2016. _1234567890.
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