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1 Sãmya Magalhães Para a gente começar a falar do retratamento endodôntico, precisamos saber o que é o insucesso endodôntico, precisa identificar quando o tratamento não deu certo. Primeiramente é necessário associar sinais e sintomas de lesão periapical de dente tratado endodônticamente. Vamos supor que eu tenho um dente que tratou o canal há 6 meses e ele continua com dor a percursão, dor a palpação, fistula, tumefação, edema e isso eu posso considerar com o insucesso endodôntico. Então eu devo associar esses sinais e sintomas, a presença da lesão periapical e de um dente tratado endodônticamente. Causas do insucesso endodôntico: Fatores microbianos: acontecem pela permanência da bactéria no tratamento anterior, então se eu não limpei certo, se eu não obturei no comprimento correto, eu deixei um espaço vazio e esse espaço vazio serviu de nicho para os microrganismos e com isso gerou uma infecção persistente. Por isso eu devo sempre obturar esse dente no comprimento correto, sem espaços vazios, porque isso pode causar danos ao paciente. Imagem acima representando um tratamento endodontico com espaços vazios. Fatores inerentes ao dente: são erros que que a gente pode cometer durante o tratamento, como por exemplo: qualidade da obturação, sub e sobreobturação, limas fraturadas. Isso pode levar a necessidade de retratamento. Qualidade da obturação: a qualidade da obturação não é somente se eu consegui obturar no limite certo, mas também se eu consegui dar um preenchimento adequado. A qualidade da obturação é um resultado da minha instrumentação, se eu não instrumentei corretamente, se eu não alarguei, a obturação vai ficar ruim. Se eu tenho uma obturação fina, quer dizer que eu não instrumentei corretamente esse dente, não tirei bactérias o suficiente, não limpei o suficiente... Imagem 2. Representando uma obturação fina, onde não foi realizado a instrumentação de maneira satisfatória. Mais uma imagem de qualidade da obturação. Nessa imagem, o cone chegou quase próximo do forame, mas o preenchimento não está adequado, tem bastante espaço para as bactérias se movimentarem e com isso perpetuarem a infecção no canal radicular. Subobturação: acontece quando a gente não chega no limite certo da obturação. Lembrando que o limite é o mesmo estabelecido pelo CTP, então vamos retratar esse canal para chegar nesse limite. Imagem abaixo representando uma Subobturação: Espaços vazios Nicho para microrganismos Infecção persistente Qualidade da obturação Sub e sobreobturação Limas fraturadas 2 Sãmya Magalhães Sobreobturação: acontece quando eu extravaso o material, o que pode acontecer é extravasar o cimento endodôntico, não tem problema porque o cimento é reabsorvido com o tempo, agora quando extravasa cone de guta percha, o paciente tende a sentir dor, causando uma nova lesão periapical, ou a antiga lesão periapical não vai diminuir e cicatrizar. Nesses casos também precisamos remover e retratar Imagem abaixo representando a sobreobturação: Limas fraturadas: impedem que a gente consiga limpar todo o comprimento do canal radicular, se torna um empecilho para a passagem das novas limas e precisam ser removidas para fazer um novo tratamento. Existem casos em que o paciente não sente nada, quando isso ocorre, a gente só acompanha o paciente. Casos em que a lima fraturou e o paciente sente dor, temos que tratar mesmo. Imagem abaixo representando uma lima fraturada: Selamento coronário deficiente: ocorre quando há falta e uma restauração adequada. Quando realizamos o tratamento endodôntico não dá certo por si só, ele depende da restauração ou da coroa, a protese ou dentística tem que estar associada a endo. Quando o tratamento de canal já está feito, mas não foi restaurado, depois de 30 dias já é considerado que foi contaminado e esse paciente vai ter que retratar. Não podemos correr o risco de realizar uma prótese cara para o paciente e depois ele sentir sintomas de infecção. Por isso recomenda que se a restauração/coroa fraturar e o paciente não procurar dentista, esse canal vai ter que ser retratado. Imagem abaixo representando um selamento coronário deficiente: Por que essa restauração definitiva é tão importante para a endo? Porque a saliva é cheia de bactérias e elas podem penetrar no canal radicular com a falta da restauração e com isso todo o tratamento endodôntico pode dar errado pela falta da restauração. Esse artigo fala sobre: Infiltração marginal microbiana em selamento coronário duplo. Esse selamento coronário duplo é o selamento que fazemos na clínica, depois que o paciente terminou o tratamento endodôntico, mas ainda não foi realizado a restauração definitiva. A gente coloca o selamento com cotozol e ionômero de vidro. Só que esse estudo mostrou que esse selamento não é tão eficiente: 3 Sãmya Magalhães O que é adequado mesmo é o paciente restaurar o dente, seja com resina ou com uma protese. Objetivos: Indicação: Persistência de rarefação óssea: se o paciente já realizou o tratamento por muito tempo e eu não consegui ver melhora nessa rarefação óssea, nessa radiolucidez no ápice, eu posso indicar o retratamento. Quando a gente faz um tratamento de canal em um paciente, essa lesão demora sumir, então vamos fazer acompanhamento por um período para ver se está regredindo Se a lesão já tem uns 3 anos, e essa lesão continua grande, aí sim posso indicar o retratamento. Imagem abaixo representando uma rarefação óssea: Sintomatologia: se o paciente tem dor a percursão, dor a palpação, dor espontânea, vou indicar o retratamento. Lesão endo-perio: é identificada pela junção da doença periodontal e pulpar no mesmo dente, tendo como consequência inflamação ou degeneração dos dois tecidos, pode ser causada por inúmeras comunicações que a polpa tem com o periodonto: forame apical, canais laterais, foraminas e túbulos dentinário desprovidos de cemento radicular. Se for um dente já tratado e tiver essa lesão, vamos ter que retratar e associar o tratamento com a periodontia. Imagem a seguir representando uma lesão endo-perio: Técnica convencional: 1. Gattes Glidden/Largo (em baixa rotação) 2. Limas tipo K e tipo Hedstroen 3. Solvente (para ajudar a soltar a guta-percha do canal radicular, geralmente o óleo de banana) Passo a passo: 1. Raio X inicial 2. Medir o Comprimento Aparente do Dente (CAD) 3. Trabalhar em CRI (CAD-2mm ou CAD-3mm) 4. Refinar o acesso e remover qualquer interferência para eu conseguir enxergar os canais radiculares 5. Gattes/Largo: terço cervical e médio apenas, porque se eu passar disso pode ser que elas fraturem 6. Depois de eu usar a Gattes e a Largo até o terço médio, já vou ter tirado boa parte da guta percha e a partir disso vou usar as limas para remover a guta-percha da parte apical do canal 7. Vou iniciar com as limas do tipo K (no 15, 20, 25), fazendo o movimento de cateterismo 8. Se restar guta-percha no terço médio, eu removo até chegar em direção a apical, até chegar no comprimento de CRI 9. Devo intercalar as limas K, com as limas Hedstroen. Lembrando que as limas do tipo Hedstroen não foram feitas para girar dentro do canal radicular, então elas realizam movimento de limagem (encostadas e puxadas) 10. Nos casos em que a gente não consegue remover a guta- percha, podemos usar os solventes, esses solventes ajudam a dissolver o material dentro do canal radicular, mas devem ser usado com moderação, porque deixam o canal muito molhado e é difícil remover esse solvente, eles podem interferir no uso de novos cimentos, ele pode recobrir os túbulos dentinários, impedindo a penetração, pode interferir também no uso de medicação intra-canal, por isso o indicado é utilizar nos últimos casos e em pequenasquantidades. 11. Quando você já fez todas as etapas anteriores, você vai tirar outro Raio X para confirmar a remoção do material obturador: caso não tenha saído tudo, você vai ficar tentando com as limas, até sair tudo 12. Caso tenha removido tudo, fazer uma nova odontometria para estabelecer um novo comprimento de trabalho. 13. Depois disso, prosseguir como se fosse um tratamento convencional Remover todo o material presente Limpeza completa Eliminação da sintomatologia persistente. 4 Sãmya Magalhães 14. Definir novo instrumento anatômico: ver qual instrumento está travando e a partir disso fazer o preparo apical com mais 3 ou 4 instrumentos e depois disso o escalonamento regressivo. 15. Medicação intracanal: Hidróxido de cálcio, associado a agua destilada, ou soro fisiológico ou anestésico, vai ficar com essa medicação em torno de 7 a 14 dias. 16. Quando ele retornar, vamos ver se ele está sem sinais e sintomas se ele tiver sem sinais e sintomas vamos finalizar o tratamento com a obturação Tem alguns casos que precisamos indicar uma cirurgia paraendôdontica: Essa cirurgia é quando é cortado um pedaço do ápice (apicectomia) e é curetado a lesão ao redor do ápice. Isso é indicado quando o paciente está com uma lesão muito grande e só o retratamento não resolveria. Além disso quando temos uma lima fraturada no ápice do dente e essa lima tem que ser removida, porque o paciente está com sintomas e não conseguiram remover a lima via canal, então a gente pode indicar essa cirurgia para esses casos, para cortar esse pequeno ápice do dente Nesse raio x, essa lesão era muito grande e se desconfiava que tinha um cisto e ela regrediu quase totalmente depois da cirurgia Diagnóstico Diferencial: Descartar a possibilidade de dor: Não Odontogênica: DTM, nevralgia do trigêmeo e sinusite Odontogênica de origem não endodôntica: trauma dental, doença periodontal, fraturas dentárias. Caso clínico: Paciente, sexo feminino, 35 anos, 17 meses de dor contínua. História clínica: inchaço local (área do molar inferior esquerdo) e aumento de temperatura na região dos ápices. Conduta do dentista: fazer o canal do molar inferior, fez o tratamento e receitou um antibiótico. Não houve melhora Depois de 10 meses após o tratamento, sensação de aumento de volume extra-oral, o C.D fez um retratamento, remoção da guta- percha do canal distal para ver se era esse o problema. Não houve diminuição da dor. Preciso fazer todas as perguntas acima para ter um diagnóstico correto 5 Sãmya Magalhães No caso da paciente do caso clínico, ela foi encaminhada para um especialista e foi suspeitado: DTM ou Nevralgia do Nervo trigêmeo. Nesse caso por que podemos descartar a nevralgia do nervo trigêmeo? Porque no caso clínico, a paciente está com dor continua (não de curto período) É uma doença mais complexa.! Se for suspeito que o paciente tem DTM, além do teste de palpação nos músculos faciais e perceber que ele está tensionado, ou sentindo dor, temos que perguntar duas coisas: 1. Se ele acorda com dor de cabeça: pode ser um sinal que ele tem bruxismo 2. Se ele sente dor ao abrir a boca, se tem dor de ouvido, perceber se ele está desviando para um lado a mandíbula, se tem zumbidos ao abrir a boca. No caso da paciente do caso clínico, ela apresentou aumento de volume dor na inserção do masseter (onde ela colocava a mão) O diagnóstico dela final era: DTM, o tratamento endodôntico foi feito erroneamente. “Um músculo exercitado até a fadiga muscular torna-se dolorido pela acumulação de ácido lático juntamente com seu enrijecimento, aumento de tamanho e temperatura” -James J. Gutmann. Por fim:
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