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A Cultura do Arroz

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Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 
 
 
 
 
A Cultura do Arroz 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 
2
1. Importância 
O arroz (Oryza sativa L.) é uma espécie hidrófila, cujo processo evolutivo tem 
levado à sua adaptação as mais variadas condições ambientais. De uma maneira mais 
abrangente, são considerados dois grandes ecossistemas para a cultura, que são o de 
várzeas e de terras altas, englobando todos os sistemas de cultivo de arroz no país. 
O consumo de arroz pela população mundial é um hábito inquestionável e 
dificilmente sofrerá substituição. O arroz é cultivado em todos os continentes, por cerca 
de 120 países. 
Na primeira grande “Revolução Verde”, no final da década de 60, a planta do 
arroz foi objeto de expressivas modificações fenotípicas e genotípicas, o que contribuiu 
para proporcionar ganhos importantes em qualidade e produtividade. 
Nos últimos anos, entretanto, a produtividade média vem mantendo-se estável, 
não só pela possibilidade de ter sido atingida a aproximação do potencial da cultura, 
mas, sobretudo, pelas possíveis dificuldades entre a pesquisa e o produtor, na 
transferência e adoção das tecnologias mais modernas. 
O Brasil é o nono produtor mundial, o arroz é cultivado em todas as regiões, sob 
diversos ecossistemas, tanto em terras altas como em várzeas. A produção e a 
produtividade aumentaram nos últimos anos. 
Porém, se consideradas as estatísticas até a década de 70, as médias eram muito 
baixas. Atualmente, mesmo com ganhos expressivos na produtividade, a média ainda 
está muito aquém da dos países mais evoluídos na exploração deste cereal. 
Deve-se considerar que, apesar de o Brasil ser o maior produtor de arroz em 
regime de terras altas do mundo, neste sistema há muito que ser feito no que se refere à 
adoção de tecnologias. 
Ainda predominam o empirismo e o risco de exploração, em contraste com a 
grande evolução na oferta de conhecimentos e tecnologias. É necessário concentrar 
esforços no sentido de melhorar as estratégias de transferência de tecnologia, já que 
existem muitos exemplos de produtividade entre 3 e 5 t/ha, em regime de terras altas, e 
de 7 a 8 t/ha, no regime com irrigação por inundação controlada, em nível de produtor. 
A preferência do mercado brasileiro é pelo produto com grão da classe longo-
fino (agulhinha), característica comumente encontrada nas cultivares de arroz irrigado. 
Embora a pesquisa já tenha disponibilizado, aos produtores de terras altas, cultivares de 
arroz com grão agulhinha, o cultivo do arroz irrigado deverá manter-se estável, ou até 
ter aumento na área cultivada, enquanto o arroz de terras altas certamente poderá sofrer 
redução na área de cultivo, se não forem tomadas algumas medidas. Isso se observa pela 
própria redução da disponibilidade de áreas novas para exploração, como tem 
acontecido historicamente, particularmente no Cerrado. 
 
2. Estatística de Produção 
No mundo, a maior parte da produção e do consumo de arroz está localizada no 
continente asiático, cujo sistema básico de cultivo é o irrigado. O sistema de sequeiro 
(terras altas) é encontrado predominantemente no Brasil e, em menor proporção, no 
continente africano. 
O crescente processo de industrialização dos países asiáticos tem resultado na 
diminuição da mão-de-obra disponível para o trabalho no campo e no deslocamento da 
produção agrícola para áreas marginais. Por outro lado, o crescimento acelerado da 
população está aumentando a demanda do produto em proporções não compatíveis com 
o crescimento da produção. Para se atender esta demanda, nos próximos anos devem ser 
adicionadas ao mercado mundial de arroz cerca de 10 milhões de toneladas/ano. Metade 
desse total deve ser produzido no continente asiático, devendo a outra parte originar-se 
 
Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 
3
fora dessa macro-região. A América Latina e a África destacam-se no cenário mundial 
como as duas únicas regiões com grande e quase inexplorado, potencial para produção 
de arroz e com capacidade de atender a essa demanda. 
 
 
Produção Mundial de Arroz 
 
ARROZ: Principais países produtores (em milhões de toneladas) 
Fonte: FAO – Food and Agriculture Organization (www.fao.org) 
 
O continente latino-americano está melhor preparado que o africano para 
responder, de maneira rápida, a essa demanda. O Brasil como maior produtor de arroz 
no continente, deve considerar esse aspecto em seu planejamento estratégico para o 
desenvolvimento da cultura. Diante desse panorama, a discussão sobre sistemas de 
produção de arroz no Brasil assume um papel de extrema relevância para traçar 
estratégias futuras. 
 
 
 
 
 
Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 
4
 
 
 
 
 
 
 
Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 
5
 
 
 
Comparativo entre a área, rendimento e produção do arroz irrigado e de sequeiro. 
 
Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 
6
 
Área colhida x Produção do arroz de sequeiro e irrigado 
Os produtores de arroz têm passado por dificuldades naturais e financeiras nos 
últimos anos. No final de 2004 e início de 2005, por exemplo, a região Sul teve a pior 
estiagem dos últimos 40 anos. A estiagem também atingiu o Centro-Oeste. Os altos 
custos de produção e a forte queda nos preços de comercialização de arroz deram 
prejuízos para os agricultores e contribuíram para aumento de apenas 0,5% da área 
semeada em 2005 e redução de 0,9% na áreas da safra de 2006. 
Esta queda de renda foi manifestada com a redução de compra de máquinas e 
implementos agrícolas. A insatisfação dos agricultores tem sido motivo de 
reivindicações junto ao governo federal, como a movimentação de 3000 tratores em 
Brasília em junho de 2005. 
Os agricultores esperam que as medidas a serem anunciadas brevemente pelo 
governo consistam, de um lado, de redução da carga tributária de PIS, CONFIS, 
imposto de renda, dos juros, custos de insumos e, de outro, iniciativas de reformas de 
estradas e portos, por exemplo. 
No caso do arroz, em 2005 houve aumento de 5% da área cultivada, mas com 
redução de 0,4% na produção em relação a 2004. 
Para que os produtores, órgãos de pesquisa, ensino e extensão e governos 
federal, estaduais e municipais possam fazer planejamento e decidir ações futuras, é 
necessário uma compreensão da tendência desse cultivo. 
Por esse motivo, elaborou-se uma perspectiva de área, produção e produtividade 
do arroz irrigado e de terras altas no Brasil ate 2011, tomando como base informações 
de produção a partir de 2000. 
No Brasil, todos os 26 Estados e o Distrito Federal produzem arroz. Os Estados 
do RJ e SE produzem apenas arroz irrigado, e 15 outros Estados produzem arroz 
irrigado e de terras altas. 
Em 2005, o arroz de terras altas ocupou 64,2% da área total e o irrigado 35,8%. 
No conjunto, o Irrigado em relação aos estados e os respectivos percentuais de 
participação de área são liderados pelo Rio Grande do Sul, com 76,63%; já o de Terras 
Altas é liderado pelo Mato Grosso, com 39,59%. 
 
Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 
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A área ocupada com Irrigado e Terras Altas no Brasil indica que, no período de 
2001/03, houve redução de Terras Altas, enquanto o Irrigado reduziu apenas no ano 
2001. Até 2011 não haverá significativa alteração de área no Irrigado, enquanto que o 
de Terras Altas deverá ter um aumento de área em torno de 25%. Estas características 
contribuirão para o aumento geral da área em torno de 18%, em nível nacional. 
A partir do ano de 2007, deverá ocorrer uma expansão de Terras Altas. A 
produção no de Terras Altas, no período 2001/2, decresceu, mas, a partir de 2004, 
começou a aumentar. No ano 2008 o aumento de produção deverá ser superior a 13% e 
no ano 2011 esse aumento chega a 30%, comparado ao ano 2005. 
No mesmo ano de 2008 a produção no Irrigado também deverá aumentar, mas 
em menor escala se comparado com o Terras Altas.Em 2008, o aumento da produção 
em ambos os sistemas deverá apresentar o mesmo percentual, mas em 2011 o Irrigado 
deverá ficar 3% inferior ao de Terras Altas. 
Um outro dado levantado em Terras Altas, faz referência sobre a perspectiva de 
ligeiro aumento de produtividade até 2011, mas, em nível nacional, tem pequena 
redução. Em 2001, o sistema Terras Altas teve redução, ao contrário com o Irrigado e a 
produtividade no Irrigado, no ano 2011 aumentou 31% em relação a 2000. 
Em 2004, a produtividade era 6.000 kg ha e em 2011 a previsão é em torno de 6.800 kg 
ha. O aumento de produtividade no Terras Altas até 2011 será pequeno, algo em torno 
de 3% entre 2005 e 2011. 
 
3. Origem, domesticação e introdução no Brasil 
Diversos historiadores e cientistas apontam o sudeste da Ásia como o local de 
origem do arroz. Na Índia, uma das regiões de maior diversidade e onde ocorrem 
numerosas variedades endêmicas, as províncias de Bengala e Assam, bem como na de 
Mianmar, têm sido referidas como centros de origem dessa espécie. 
O arroz é uma planta herbácea pertencente à família das Gramíneas. Alguns 
autores classificam-na como pertencente à família Poaceae. Duas formas silvestres são 
apontadas na literatura como precursoras do arroz cultivado: a espécie Oryza rufipogon, 
procedente da Ásia, originando a Oryza sativa; e a Oryza barthii (= Oryza 
breviligulata), derivada da África Ocidental, dando origem à Oryza glaberrima. 
O gênero Oryza é o mais rico e importante da tribo Oryzeae e engloba cerca de 
23 espécies, dispersas espontaneamente nas regiões tropicais da Ásia, África e 
Américas. 
A espécie Oryza sativa é considerada polifilética, resultante do cruzamento de 
formas espontâneas variadas. 
Bem antes de qualquer evidência histórica, o arroz foi, provavelmente, o 
principal alimento e a primeira planta cultivada na Ásia. As mais antigas referências ao 
arroz são encontradas na literatura chinesa, há cerca de 5.000 anos. O uso do arroz é 
muito antigo na Índia, sendo citado em todas as escrituras hindus. Variedades especiais 
usadas como oferendas em cerimônias religiosas, já eram conhecidas em épocas 
remotas. 
Certas diferenças entre as formas de arroz cultivadas na Índia e sua classificação 
em grupos, de acordo com ciclo, exigência hídrica e valor nutritivo, foram mencionadas 
cerca de 1.000 a.C. Da Índia, essa cultura provavelmente estendeu-se à China e à Pérsia, 
difundindo-se, mais tarde, para o sul e o leste, passando pelo Arquipélago Malaio, e 
 
Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 
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alcançando a Indonésia, em torno de 1500 a.C. A cultura é muito antiga nas Filipinas e, 
no Japão, foi introduzida pelos chineses cerca de 100 anos a.C. Até sua introdução pelos 
árabes no Delta do Nilo, o arroz não era conhecido nos países Mediterrâneos. Os 
sarracenos levaram-no à Espanha e o espanhóis, por sua vez, à Itália. Os turcos 
introduziram o arroz no sudeste da Europa, de onde alcançou os Bálcãs. Na Europa, o 
arroz começou a ser cultivado nos séculos VII e VIII, com a entrada dos árabes na 
Península Ibérica. Foram, provavelmente, os portugueses quem introduziram esse cereal 
na África Ocidental, e os espanhóis, os responsáveis pela sua disseminação nas 
Américas. 
Alguns autores apontam o Brasil como o primeiro país a cultivar esse cereal no 
continente americano. O arroz era o "milho d'água" (abati-uaupé) que os tupis, muito 
antes de conhecerem os portugueses, já colhiam nos alagados próximos ao litoral. 
Consta que integrantes da expedição de Pedro Álvares Cabral, após uma 
peregrinação por cerca de 5 km em solo brasileiro, traziam consigo amostras de arroz, 
confirmando registros de Américo Vespúcio, que trazem referência a esse cereal em 
grandes áreas alagadas do Amazonas. 
Em 1587, lavouras arrozeiras já ocupavam terras na Bahia e, por volta de 1745, 
no Maranhão. Em 1766, a Coroa Portuguesa autorizou a instalação da primeira 
descascadora de arroz no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. A prática da orizicultura 
no Brasil, de forma organizada e racional, aconteceu em meados do século XVIII e 
daquela época até a metade do século XIX, o país foi um grande exportador de arroz. 
 
4. Características morfofisiológicas relacionadas à produtividade 
4.1. Fases de desenvolvimento da planta de arroz 
O ciclo de vida da planta de arroz pode ser dividido em três fases distintas: fase 
vegetativa, fase reprodutiva e fase de maturação. 
A fase vegetativa corresponde ao período compreendido entre a germinação da 
semente e a iniciação da panícula. É modificada pela temperatura e pelo fotoperíodo, o 
que permite sua divisão em fase vegetativa básica ou basal e fase sensível ao 
fotoperíodo. Diferenças varietais na duração do crescimento devem-se basicamente a 
diferenças na fase vegetativa. A emissão de perfilhos e a diferenciação e a diferenciação 
das folhas ocorre nesta fase. O número máximo de perfilhos coincide com o início da 
diferenciação de panículas em cultivares de ciclo curto, enquanto em cultivares de ciclo 
longo se prolonga pela fase reprodutiva. 
A fase reprodutiva , que vai da iniciação da panícula ao florescimento, tem 
duração relativamente constante de cultivar para cultivar, requerendo normalmente 35 
dias em condições tropicais. São reconhecidos dois períodos no processo de 
desenvolvimento da panícula jovem: o de formação da panícula jovem, que vai da 
determinação da primeira bráctea ao estádio final de diferenciação de espiguetas, e o de 
gestação da panícula, que finaliza com a maturação dos grãos de pólen. 
A panícula jovem torna-se visível a olho nu como uma estrutura cônica, 
plumosa, medindo de 0,5 a 1,5 mm, cerca de dez dias após sua diferenciação. Contudo, 
como essa estrutura em desenvolvimento encontra-se envolvida pela bainha das folhas, 
sua observação só é possível mediante dissecação do colmo. O alongamento dos 
entrenós normalmente tem início com a diferenciação da panícula e ocorre apenas nos 
quatro últimos entrenós. O alongamento do último entrenó, o qual subtende a 
inflorescência, determina a emergência da panícula. A emergência da panícula dá início 
ao florescimento, em que ocorrem os processos de abertura de flores, polinização e 
fertilização. 
 
Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 
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A fase de maturação, etapa final do ciclo de vida da planta do arroz vai do 
florescimento à maturação dos grãos; tem uma duração de 30 a 35 dias, e subdivide-se 
em estádio de grão leitoso, ceroso e maduro. 
O processo de crescimento da planta de arroz exibe variações quanto ao padrão 
de absorção de nutrientes e metabolismo, durante as várias fases de desenvolvimento. 
Na fase vegetativa, os nutrientes, incluindo N, P, K e S são absorvidos ativamente, 
enquanto fotoassimilados são produzidos e proteínas são sintetizadas de forma a 
sustentar os processos de perfilhamento e de expansão foliar. 
Durante a fase reprodutiva, caracterizada pelo desenvolvimento do primórdio da 
panícula e o alongamento do caule, os fotoassimilados são transformados em 
componentes da parede celular, como lignina e celulose. Os fotoassimilados em excesso 
são armazenados nos colmos e bainhas na forma de amido. 
Na fase de maturação, a morfogênese da planta já se completou e os 
fotoassimilados acumulam-se nas panículas na forma de amido. À medida que este 
processo avança, os carboidratos, proteínas e minerais acumulados nas folhas movem-se 
para panículas e a planta torna-se senescente. 
Dois fatores são responsáveis pela existência de um ciclo ótimo: limitação do 
suprimento de nitrogênio e do espaço físico para crescimento. 
 
Processos, principais compostos orgânicos e nutrientes envolvidos no crescimento, 
durante as três fases do ciclo de vida da planta de arroz. 
 Fase vegetativa Fase reprodutiva Fase de maturação 
Processos envolvidos Emergência de perfilhos e folhas 
Desenvolvimento do 
primórdio da panícula, 
alongamento dos 
entrenós. 
Enchimento dos 
grãos, senescência da 
raiz e parte aérea. 
Compostosorgânicos Proteínas Celulose e lignina, amido. Amido 
Nutrientes N, P, K e S Mg, Ca e S. 
Translocação de N, P, 
S e Mg para 
panículas. 
 
4.2. Características morfológicas 
4.2.1. Classificação botânica e morfologia 
A espécie Oryza sativa é uma Monocotiledônea da família Poaceae. Como tal, 
caracteriza-se por possuir caules ocos, flores reduzidas de cor verde e aquênios 
especializados ou cariopses como frutos. 
a) Raiz 
 
 Coleorriza Raízes Raízes adventícias 
A raiz seminal, ou radícula, surge da coleorriza logo após o seu aparecimento e é 
seguida por uma ou duas raízes seminais secundárias, todas elas desenvolvendo raízes 
laterais. Persistem apenas por um curto período de tempo após a germinação, sendo 
logo substituídas pelo sistema secundário de raízes adventícias. Estas são produzidas a 
partir de nós inferiores dos caules jovens. São fibrosas, possuindo muitas ramificações e 
pêlos radiculares. 
 
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b) Folha 
A folha primária, surgida do coleóptilo, difere das demais por ser cilíndrica e 
não apresentar lâmina. A segunda folha, e todas as demais, são dispostas de forma 
alternada no colmo, surgindo a partir de gemas situadas nos nós. A porção da folha que 
envolve o colmo denomina-se bainha. A porção pendente da folha é a lâmina. Na junção 
dessas duas partes situa-se o colar, do qual emergem dois pequenos apêndices em forma 
de orelha, sendo por essa razão chamados de aurículas, e uma estrutura membranosa em 
forma de língua, denominada lígula. A partir do colmo principal originam-se de 8 a 14 
folhas, dependendo do ciclo da cultivar. A última folha denomina-se folha bandeira. 
 
Folha bandeira e panícula 
c) Caule 
 
Caule Caule- Nós- Entrenós 
 O caule da planta de arroz é composto por um colmo principal e um número 
variável de colmos primários e secundários, ou perfilhos. Durante o período vegetativo, 
um perfilho é visualizado como uma estrutura composta de folhas e gemas axilares. O 
caule propriamente dito encontra-se na base do perfilho, sendo visível mediante 
dissecação, como um conjunto de nós. Somente no período reprodutivo da cultura é que 
os nós se distanciam devido ao alongamento dos entrenós, permitindo a sua 
visualização. 
 As características dos entrenós, tais como comprimento, diâmetro e espessura, 
determinam a resistência ao acamamento. A cor dos nós e entrenós, o número de 
perfilhos e o seu ângulo são importantes características de descrição varietal. 
 
d) Panícula 
A inflorescência determinada da planta de arroz denomina-se de panícula. 
Localiza-se sobre o último entrenó do caule e é subtendida pela folha-bandeira. É 
composta pela ráquis principal, que possui nós dos quais saem as ramificações primárias 
que, por sua vez, dão origem às ramificações secundárias de onde surgem as espiguetas. 
 
Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 
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Estas são formadas por dois pares de brácteas ou glumas. O par inferior é 
rudimentar, sendo suas glumas denominadas de estéreis. As glumas do par superior 
denominam-se pálea e lema e contém no seu interior a flor propriamente dita, composta 
por um pistilo e seis estames. O pistilo contém um óvulo. A lema pode ter uma extensão 
filiforme denominada arista, que é um importante descritor varietal. 
 
Planta de arroz – Panícula com folha bandeira – Panícula 
 
Espiguetas A – Gluma, B - Pálea e Lema. 
 C- Embrião, endosperma 
 
 Estame – Pistilo – Óvulo 6 filamentos = 6 estames 
 
 
 
 
Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 
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e) Grãos 
É formado pelo ovário fecundado, contendo uma única semente aderida às suas 
paredes (pericarpo), envolvida pela lema e a pálea. Estas, juntamente com as glumas 
estéreis e estruturas associadas, formam a casca. O grão sem casca denomina-se 
cariopse. 
 
 Semente dentro da casca Estrutura de um cariopse (grão de arroz) 
 
4.2.2. Raças ou grupos eco-geográficos 
Existem três grupos varietais para o arroz: 
a) subespécie Indica: presentes em clima temperado, apresentam folhas largas de 
cor verde-claro, perfilhamento profuso e estatura alta, tecidos com consistência macia. 
Grãos finos, com pêlos curtos na lema e pálea, na maioria das vezes não apresentam 
arista e degranam facilmente. Sensibilidade variável ao fotoperíodo. Os genótipos de 
arroz irrigado cultivados no Brasil pertencem a este grupo. 
b) subespécie Japonica: presentes em climas tropicais, apresentam folhas 
estreitas de cor verde-escuro, médio perfilhamento e baixa estatura, tecidos de 
consistência dura. Grãos curtos e redondos, pêlos densos e longos na lema e pálea, arista 
ausente ou longa, baixo degrane. Sensibilidade variável ao fotoperíodo. 
c) subespécie Javanica ou Japonica tropical: presentes na Indonésia, apresentam 
folhas largas, rígidas, de cor verde-claro, baixo perfilhamento e alta estatura, tecidos de 
consistência dura. Grãos largos e espessos, pêlos longos na lema e pálea, arista ausente 
ou longa, baixo degrane. Baixa sensibilidade ao fotoperíodo. Os genótipos tradicionais 
de sequeiro do Brasil pertencem a este grupo. 
4.2.3. Diferenças morfológicas entre genótipos irrigados e de sequeiro 
O arroz de sequeiro evoluiu do arroz irrigado há algumas centenas de anos, 
através da pressão exercida pelo homem, ao deslocar-se de áreas baixas de várzeas para 
locais mais elevados. 
A pressão natural de seleção exercida no ecossistema de terras altas induziu a 
alterações e adaptações, especialmente no hábito de crescimento radicular. As cultivares 
de sequeiro apresentam raízes longas e espessas, enquanto as semi-anãs, finas e 
fibrosas. A maior relação raiz parte-aérea está relacionada a uma maior proporção de 
raízes espessas. 
4.3. Características fisiológicas 
4.3.1. Fotossíntese 
A fotossíntese diária é a base para a determinação da taxa de crescimento da 
cultura e, consequentemente, do acúmulo de fitomassa. 
 
 
 
 
Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 
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4.3.2. Área foliar 
A variação da área foliar e a sua duração são os principais responsáveis para a 
variação da produção. A taxa fotossintética da folha é um importante determinante da 
taxa de crescimento da cultura. 
4.3.3. Partição dos Fotoassimilados para os grãos 
A produtividade ou rendimento de grãos da cultura do arroz pode ser estimada 
pelo produto dos seus componentes: o número de panículas por unidade de área; o 
número de espiguetas por panícula; o percentual de fertilidade das espiguetas; e o peso 
médio dos grãos. 
4.4. Efeitos dos fatores climáticos na produtividade 
Pelo fato de ser praticada em quase todos os Estados, em latitudes que variam de 
5º Norte até 33º Sul, a cultura do arroz é submetida a condições climáticas bastante 
distintas. Assim, a precipitação pluvial, a temperatura do ar, a radiação solar e o 
fotoperíodo podem, em diferentes intensidades, afetar a produtividade do arroz. 
4.4.1. Fotoperíodo 
É o tempo, em horas, compreendido entre o nascer e o pôr-do-sol. Como o arroz 
é uma planta de dias curtos, os dias de curta duração (fotoperíodo de 10 horas) encurtam 
seu ciclo, antecipando a floração. 
Considera-se como fotoperíodo ideal o comprimento do dia no qual a duração da 
emergência até a floração é mínima. Para a maioria das cultivares, esse comprimento 
situa-se em torno de 10 horas. 
As cultivares são classificadas em três categorias, quanto à resposta ao 
fotoperíodo: 
• insensíveis – a fase vegetativa sensível ao fotoperíodo (FSF) é curta (inferior a 
30 dias) e a fase vegetativa básica (FVB) varia de curta a longa; 
• pouco sensíveis – ocorre aumento acentuado no ciclo da planta quando o 
fotoperíodo é superior a 12 horas, a duração da FSF pode exceder 30 dias mas a 
floração irá ocorrer em qualquer fotoperíodo longo; 
• muito sensíveis – grande aumento no ciclo, com incremento no fotoperíodo, não 
há florescimento além de um valor de fotoperíodo crítico, e a FVB é, 
normalmente, pequena (não mais que 40 dias). 
Se foremobservadas as épocas recomendadas de semeadura, o fotoperíodo não 
chega a ser um fator limitante nas principais regiões produtoras do País, pois as 
cultivares lançadas apresentam comprimento de ciclo compatível com as características 
fotoperiódicas da região. Entretanto, o fotoperíodo pode ser limitante quando se 
pretende produzir arroz fora das épocas tradicionais de cultivo. 
4.4.2. Temperatura 
A temperatura é um dos elementos climáticos de maior importância para o 
crescimento, o desenvolvimento e a produtividade da cultura do arroz. Cada fase 
fenológica tem sua temperatura crítica ótima, mínima e máxima. A temperatura ótima 
para o desenvolvimento do arroz situa-se entre 20ºC e 35ºC. Em geral, a cultura exige 
temperaturas relativamente elevadas da germinação à maturação, uniformemente 
crescentes até a floração (antese) e decrescentes, porém sem abaixamentos bruscos, 
após a floração. As faixas de temperatura ótima variam de 20ºC a 35ºC para a 
germinação, de 30ºC a 33ºC para a floração e de 20ºC a 25ºC para a maturação. 
A planta é mais sensível às baixas temperaturas no estádio de pré-floração. Para 
fins práticos, pode-se considerar o período do emborrachamento, que vai de 14 a 7 dias 
antes da emissão das panículas, como o mais sensível. A floração é o segundo estádio 
mais sensível às baixas temperaturas. Dependendo da sensibilidade das cultivares, 
temperaturas inferiores a 15ºC ou 20ºC induzem a esterilidade das espiguetas. 
 
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Em lavouras irrigadas, é possível minimizar o efeito do frio sobre a planta de 
arroz com elevação do nível da água na lavoura para 20 a 25cm, por aproximadamente 
15 dias, durante o estádio mais sensível às baixas temperaturas. Essa prática, conhecida 
como “afogamento”, é recomendada para as cultivares modernas, de estatura mais baixa 
e de origem tropical, principalmente quando semeadas tardiamente, na zona sul do Rio 
Grande do Sul. 
Para evitar o efeito das baixas temperaturas, tanto a germinação como a 
emergência das plântulas podem ser retardadas em mais de 20 dias, sobretudo nas 
cultivares mais sensíveis. Em geral, as folhas das plântulas tornam-se cloróticas e 
apresentam uma taxa de crescimento muito baixa. Para o Estado do Rio Grande do Sul, 
mais sujeito a baixas temperaturas na época de implantação da cultura do arroz, a 
pesquisa recomenda a utilização, na medida do possível, de cultivares com bom vigor 
inicial, e que a semeadura não seja efetuada antes que a temperatura se estabilize acima 
de 12ºC, no início da primavera. 
O estádio mais sensível do arroz a altas temperaturas é a floração, seguida pela 
pré-floração. A ocorrência de temperaturas superiores a 35ºC pode causar esterilidade 
de espiguetas, principalmente se a cultura estiver sob limitado suprimento de água. 
Para um melhor emprego dos tratos culturais, a soma térmica, ou graus-dias, é 
caracterizada como o acúmulo diário de temperaturas que se situam acima da condição 
mínima e abaixo da máxima exigida pela planta. Ela expressa a disponibilidade 
energética do meio. Sua estimativa permite definir as fases fenológicas da cultura e, 
como conseqüência, oferecer informações para um melhor planejamento dos tratos 
culturais. No Rio Grande do Sul, a soma térmica, da emergência até a diferenciação do 
primórdio floral, tem sido utilizada para determinar a época de aplicação da adubação 
nitrogenada em cobertura. 
4.4.3. Radiação solar 
A importância da radiação solar varia conforme as fases fenológicas do arroz. A 
fase vegetativa, por exemplo, apresenta baixa resposta à radiação solar. Os maiores 
incrementos na produtividade, para níveis crescentes de radiação solar, são obtidos, 
respectivamente, durante a fase reprodutiva e de maturação. 
Uma avaliação da quantidade de energia solar disponível nas distintas regiões 
produtoras de arroz sugere que, em princípio, a radiação solar não seria um fator 
limitante para os atuais níveis de produtividade. Produtividades em torno de 5 t/ha 
podem ser alcançadas com níveis de radiação solar de aproximadamente 300 
cal/cm2/dia durante a fase reprodutiva. Valores superiores a este normalmente ocorrem 
nas regiões produtoras de arroz. Entretanto, devem ser buscadas alternativas que 
aumentem a eficiência no aproveitamento da radiação solar pela planta de arroz, para se 
alcançarem produtividades maiores. 
A eficiência na utilização da radiação solar é afetada pelo tipo de planta do 
arroz. Um ângulo foliar adequado permite que maior quantidade de radiação atinja as 
folhas inferiores do dossel, fazendo com que elas sejam fotossinteticamente mais 
eficientes, além de aumentar sua longevidade e permitir, também, maior perfilhamento. 
A densidade de fluxo de radiação solar diminui gradualmente à medida que a radiação 
penetra em uma população de plantas com folhas eretas e mais rapidamente naquelas 
com folhas decumbentes. Assim, a utilização de cultivares com folhas eretas é uma das 
principais características que apontam para o aumento da produtividade do arroz. 
4.4.4. Deficiência Hídrica 
De maneira geral, o estresse hídrico não causa prejuízos severos à 
produtividade quando ocorre na fase vegetativa da planta. Entretanto, o arroz é muito 
sensível ao estresse hídrico na fase reprodutiva, especialmente durante a meiose (divisão 
 
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do núcleo da célula, na qual o número de cromossomos é reduzido da forma diplóide, 
2n, para a forma haplóide, n) e o florescimento. 
Durante a fase vegetativa, os processos de perfilhamento e de alongamento das 
folhas são inibidos. Na fase reprodutiva, ocorre a inibição da emissão de panículas, 
resultando em panículas mal expostas, ou mesmo não emitidas. Outro sintoma é o 
dessecamento parcial ou total das espiguetas. Juntamente com a inibição da antese, 
esses sintomas resultam em alta esterilidade de espiguetas. 
É possível minimizar o efeito da deficiência hídrica no arroz de terras altas 
(sequeiro), observando as épocas de semeadura que proporcionam menor risco de 
ocorrência de estresse hídrico durante o ciclo da cultura, principalmente durante a fase 
reprodutiva, e identificando, por meio do zoneamento agroclimático, as regiões com 
menor chance de ocorrência de estresse hídrico. 
O zoneamento agroclimático consiste no estudo da precipitação pluvial diária e 
da evapotranspiração de uma região e, com base nesses elementos climáticos, no 
detalhamento de áreas e períodos mais apropriados ao cultivo do arroz, para reduzir as 
possibilidades de exposição da cultura a riscos climáticos. Para tanto, devem ser levados 
em consideração a capacidade de armazenamento de água do solo e o ciclo da cultivar. 
A classificação de risco climático para a cultura do arroz de terras altas é feita 
com base na relação entre a evapotranspiração real, que expressa a quantidade de água 
que a planta irá consumir nas condições consideradas, e a evapotranspiração máxima, 
que é o total necessário para garantir sua máxima produtividade. Quando essa relação, 
no estádio de floração, for igual ou maior que 0,65, a cultura do arroz estará exposta a 
baixo risco climático. 
O zoneamento auxilia os produtores na tomada de decisão, principalmente 
quanto às épocas de semeadura mais apropriadas e quanto ao ciclo das cultivares a 
serem utilizadas. Além disso, pode ser usado na política governamental para a cultura 
como instrumento orientador do crédito e do seguro agrícola, conforme os níveis de 
risco climático e da tecnologia empregada. 
De acordo com os estudos realizados até o momento, as áreas com menor risco 
climático são: o Estado de Mato Grosso, o centro-norte de Mato Grosso do Sul e o 
sudoeste Goiano, na Região Centro-Oeste; o Estado do Tocantins (exceto o sul) e o 
Estado do Pará, na Região Norte; o Estado do Maranhão e o Sul do Piauí, na Região 
Nordeste. 
A evapotranspiração é maior em populações de plantas de pequeno porte e com 
folhas eretas do que em populações de plantas deporte alto e com folhas decumbentes. 
 
5. Cultivares 
 A escolha da cultivar deve ser feita com base em diversos fatores, entre os 
quais destacam-se: 
 - O conhecimento da cultura na região, 
 - O conhecimento das características das cultivares (ciclo, altura da planta, 
resistência a doenças, qualidade do produto e produtividade), 
 - O sistema de cultivo (várzeas ou terras altas), 
 - A disponibilidade de água, 
 - O nível de tecnologia a ser utilizada, 
 - A fertilidade do solo, 
 - O sistema de plantio, 
 - A disponibilidade de sementes. 
Embora seja uma classificação empírica, em termos práticos existem três tipos 
de arquitetura de plantas de arroz nas lavouras orizícolas do Brasil, assim denominadas: 
 
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tradicional (gaúcha); intermediária (americana), semi-anã/filipina (moderna/filipina) e 
semi-anã/americana (moderna/americana). 
A distinção de grupos de plantas auxilia aqueles que estão envolvidos com a 
lavoura orizícola, pois facilita tomada de decisões quanto a práticas de manejo a serem 
adotadas, diagnóstico de estresses bióticos (doenças) e abióticos (frio) e até prognóstico 
de produtividade. 
As plantas de arquitetura tradicional, em geral, apresentam porte superior a 105 
cm, baixa capacidade de perfilhamento, folhas longas e decumbentes-pilosas, rústicas, 
suscetibilidade à brusone, ciclo biológico médio ou semi-tardio, boa resistência às 
doenças de importância econômica secundária-rizoctonioses. Boa capacidade 
competitiva com plantas invasoras, no entanto acamam sob alta fertilidade natural ou 
quando recebem doses elevadas de nitrogênio. 
As plantas intermediárias, em geral, possuem o porte ao redor de 100 cm, 
folhas curtas, estreitas, semi-eretas e lisas. O ciclo, em geral, varia entre precoce e 
médio; baixa capacidade de perfilhamento; baixa resistência às doenças de importância 
econômica secundária, Grãos de alta qualidade e aceitação no mercado internacional, 
fácil degranação. Possuem suscetibilidade à brusone variável, porém a maioria é atacada 
sob níveis elevados de nitrogênio e deficiente manejo de água. 
As semi-anãs/filipina são todas as cultivares de porte baixo (ou semi-anão), 
inferior a 100 cm, folhas curtas e eretas (pilosas ou lisas) e de alta capacidade de 
perfilhamento. O ciclo biológico vai de precoce a tardio, reação intermediária às raças 
de brusone. 
As semi-anãs americanas incluem as cultivares de porte baixo (ou semi-
anão/moderno), inferior a 100 cm. As plantas possuem folhas de superfície lisa; cor 
verde-azulada; curtas e hábito ereto e baixa capacidade de perfilhamento, característica 
que a diferencia das plantas do tipo moderna/filipina. As panículas são, geralmente, 
compactas com alta fertilidade de espiguetas, superando a da moderna/Filipina. O ciclo 
biológico vai de precoce a mediano, reação intermediária a brusone. 
 A definição de planta moderna é bastante subjetiva. Geralmente, esse termo 
tem sido usado para designar uma planta de arroz com porte baixo, resistente ao 
acamamento e de folhas eretas. 
 
5.1. Arroz cultivados em Terras Altas 
 
As principais cultivares de arroz para o cultivo em terras altas são: 
 
Primavera: indicada para plantio em áreas de abertura e áreas velhas, pouco ou 
moderadamente férteis, devido à sua tendência ao acamamento em condições de alta 
fertilidade. Pode também ser plantada em solos férteis, desde que os fertilizantes sejam 
utilizados com moderação. Tem apresentado bons resultados em diversas situações, tais 
como: Sistema Barreirão (plantio consorciado com pastagem), Sistema Plantio Direto 
em área de soja e até plantio em safrinha. Apresenta excelente qualidade culinária; 
contudo, para que se obtenha uma boa porcentagem de grãos inteiros no 
beneficiamento, a colheita deve ser feita com a umidade dos grãos entre 20 e 24%. 
Apresenta grãos longo-finos, de excelente aspecto e ampla aceitação comercial. 
 
Maravilha: recomendada para regiões com baixo risco de veranico, ou com 
disponibilidade de irrigação suplementar por aspersão ou, ainda, em várzea úmida não-
sistematizada. Seus grãos são do tipo agulhinha. É moderadamente resistente à brusone 
e à escaldadura, e moderadamente suscetível à mancha de grãos. Por ser resistente ao 
 
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acamamento e responsiva à fertilidade, é recomendada para cultivo com alta tecnologia, 
inclusive sob pivô central. Seu crescimento inicial é lento, o que, somado à sua 
arquitetura de folhas eretas, torna-a pouco competitiva com plantas daninhas, exigindo, 
portanto, um bom controle. 
Caiapó: seu grão, embora não seja do tipo agulhinha, tem ótima aceitação no mercado, 
devido ao alto rendimento de inteiros e à boa qualidade culinária que apresenta. É 
recomendada para solos novos ou velhos, em níveis moderados de fertilidade, para 
evitar acamamento. Deve ser plantada o mais cedo possível, em plantio pouco denso, 
planejando-se medidas de controle de brusone, em situações de risco, principalmente 
nas áreas dos Cerrados e em regiões de maior altitude. Apresenta melhor produtividade 
em regiões onde a incidência de brusone é baixa. 
 
Carajás: de ciclo precoce, é indicada para áreas de fertilidade média ou alta, 
apresentando bom potencial de produção e pouco acamamento. Seus grãos são do tipo 
tradicional, longos e largos, o que pode levar a um preço inferior ao praticado para as 
cultivares de grão agulhinha nos mercados em que este padrão é o preferido. 
 
Canastra: apresenta boa produtividade nas mais diversas situações de plantio, em áreas 
velhas ou novas, adaptando-se a diferentes níveis de fertilidade. Em condições muito 
favorecidas tende a apresentar alta incidência de escaldadura e mancha de grãos. Tem 
boa resistência ao acamamento e pode alcançar alta produtividade. Seus grãos são da 
classe longo-fino e a qualidade de panela é regular. 
 
Bonança: cultivar semi-precoce, de porte baixo, resistente ao acamamento lançada em 
2001, apresenta ampla adaptação a sistemas de manejo e tipos de solo. Seus grãos 
apresentam problemas de adequação a uma referida classe por terem dimensões 
próximas do limite entre elas, entretanto apresentam boa aparência e boa qualidade 
culinária, porém inferior à Primavera. Destaca-se pela excepcional estabilidade do 
rendimento de grãos inteiros, mesmo em circunstâncias em que ocorrem atrasos na 
colheita, dentro de certo limite. 
 
Carisma: cultivar semi-precoce, de porte baixo, resistente ao acamamento, de grãos da 
classe longo-fino. Pode ser cultivada em sequeiro, sob pivô central ou em várzea úmida, 
sem irrigação, apresentando alto potencial de produção. Necessita medidas de controle 
de brusone, quando cultivada em situações de risco desta doença. Tem grãos longo fino 
e de boa qualidade de panela. 
 
Talento: cultivar semiprecoce, de porte baixo, perfilhadora, resistente ao acamamento, 
de grãos da classe longo-fino. É uma cultivar de ampla adaptação, de ótimo potencial de 
produção e responsiva ao uso de tecnologia. Pode ser considerada uma opção para 
plantio em várzeas úmidas. De grãos translúcidos e boa qualidade de panela, pode ser 
disponibilizada para o consumo logo após a colheita. Os resultados obtidos, 
possibilitaram seu lançamento para cultivo a partir de 2002/2003, nos Estados de Goiás, 
Mato Grosso, Rondônia, Pará, Maranhão, Piauí e Tocantins. Tem se mostrado resistente 
à escaldadura e à mancha de grãos, mas em relação à brusone, a BRS Talento se 
comporta apenas como moderadamente resistente. Em locais de alta pressão da doença, 
necessita-se, portanto, adotar as medidas de controle recomendados. 
 
Soberana: como a Primavera é indicada para plantio em solos pouco ou 
moderadamente férteis, normalmente presente em áreas de abertura, devido à sua 
 
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tendência ao acamamento em condições de alta fertilidade. Pode também ser cultivada 
em solos férteis, utilizando menores doses de fertilizantes e espaçamentosmais largos, 
como 30 a 40 cm, para evitar acamamento. É ligeiramente menos resistente à seca que a 
Primavera e pôr isto deve ser preferida em áreas de melhor disponibilidade de chuva 
como o Centro Norte do Mato Grosso. Em condições experimentais tem-se mostrado 
menos suscetível à brusone e ao acamamento que a Primavera, mas não a nível de 
dispensar atenção em medidas ou práticas que reduzem os riscos de incidência destes 
dois fatores restritivos. Produz grãos com excelente qualidade culinária, todavia exige 
colheita com umidade dos grãos entre 20 a 24%, para que se tenha uma boa 
porcentagem de grãos inteiros no beneficiamento. 
 
 As cultivares de arroz de terras altas recomendadas para os principais estados 
produtores de arroz no Brasil são: 
Caiapó: CE, GO, MT, MS, TO, MG, RR, MA, PI, SP, BA. 
Carajás: GO, MT, MS, TO, MA, PI, BA. 
Maravilha: AC, AP, AM, GO, MT, RO, AM, MS, TO, PA. 
Canastra: CE, GO, TO, MG, MA, PI, BA. 
Primavera: CE, GO, MT, RO, MS, TO, MA, PI, BA. 
Bonança: GO, MT, TO, PI, MA. 
Carisma: GO, MG, MS. 
Progresso: AC, AM, MT, RO, PA. 
Confiança: AP, MG, RR. 
Douradão: MG. 
Rio Doce: MG. 
IAC 165: SP. 
IAC 201: SP. 
IAC 202: SP. 
Xingu: AC, AP, AM, MA, RR, PA. 
 
5.2. Arroz Irrigado 
 
A listagem completa e atualizada das cultivares de arroz registradas no Brasil 
está disponível para consulta na Internet (www.agricultura.gov.br/snpc). 
As cultivares de arroz de terras altas recomendadas para os principais estados 
produtores de arroz no Brasil são: 
EEA 406: RS. 
IAS 12-9: Formosa RS. 
Bluebelle: RS. 
BR Irga 409: MS, PR, RJ, RR, RR, RS e SC. 
BR Irga 410: MS, PR, RS e SC. 
BR Irga 412: MS, RR, RS. 
BR Irga 413: RS. 
BR Irga 414: MS, RR, RS e SC. 
IRGA 416: PA, RR, RS. 
BRS Chuí: PA, RS. 
BRS Taim: MS, RR, RS, PI, MA. 
El Paso L 144: RS. 
Irga 417: MS, RR, RS. 
BRS Ligeirinho: RS. 
BRS Agrisul: RS. 
 
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Supremo 1: RS. 
BRS Bojuru: RS. 
Irga 418: RS. 
Irga 419: RS. 
Irga 420: RS. 
BRS Atalanta: RS. 
BRS Firmeza: RS. 
Empasc 101: SC e norte do RS. 
Empasc 105: RJ, SC e norte do RS. 
Cica 8: SC, norte do RS, AP, CE, MA, MS, PI, RN, SE, PA, PR. 
IR 841: SC e norte do RS. 
Epagri 106: SC e norte do RS. 
Epagri 107: SC e norte do RS. 
Epagri 108: SC e norte do RS. 
Epagri 109: SC e norte do RS. 
BR IPA 101 (Moxotó) : PE. 
Cica 7: MA. 
Cica 9: ES, MS, PI, PR, RN. 
Diamante: AL, CE, MA, PB, PE, PI, RN, SE. 
Metica 1: AL, GO, MT, PI, PR, RJ, RN, TO, SE. 
Pericumã: MA. 
Pesagro 101: RJ. 
Pesagro 102: RJ. 
Pesagro 103: RJ. 
Pesagro 104: RJ. 
Pesagro 105: RJ. 
Pesagro 106: RJ. 
Pesagro 107: RJ. 
São Francisco: AL, PE, SE. 
Javaé: GO, RR, TO. 
IAC 100: SP. 
IAC 101: SP. 
IAC 102: SP. 
IAC 103: SP. 
IAC 104: SP. 
IAC 238: SP. 
IAC 242: SP. 
IAC 4440: SP. 
Formoso: GO, TO. 
Aliança: ES, GO, MT, MS. 
Jequitibá: MG. 
Sapucaí: MG. 
MG 1: MG. 
Inca: ES, MG, MS, RJ. 
6. Ciclo de desenvolvimento do arroz 
Quanto ao ciclo de desenvolvimento, as cultivares de arroz irrigado do clima 
subtropical do Sul do Brasil, variam, no Rio Grande do Sul, entre super-precoce (<100 
dias), precoce ( 110-120 dias), médio (121-130 dias) e semi-tardio ( >130dias). 
 
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Em Santa Catarina e no Mato Grosso do Sul e nos demais estados produtores, o 
ciclo é definido como precoce (< 120 dias), médio (121-135 dias), semi-tardio (136-150 
dias) e tardio (> 150 dias). 
Uma classificação mais geral, de acordo com o número de dias decorridos entre 
o plantio e a maturação de colheita, as cultivares de arroz são classificadas como: 
Precoces: até 115 dias, Intermediárias: de 115 a 135 dias, Tardias: mais de 135 dias. Em 
condições similares, as cultivares com maior duração de crescimento podem ser mais 
produtivas do que as de ciclo curto, pois têm mais tempo para produzir e acumular 
fotoassimilados. As cultivares precoces de terras altas podem ser mais produtivas que as 
de ciclo médio, quando escapam dos efeitos de veranicos. 
7. Sistemas de Cultivo 
O arroz no Brasil é produzido nos ecossistemas de várzea e de terras altas, sob 
diversos sistemas de cultivo. 
O sistema irrigado, responsável por aproximadamente 60% da produção 
nacional, predomina nas várzeas da Região Sul do país, onde é tradicionalmente 
conduzido em rotação com pastagem. Nesse sistema, o cultivo mínimo, o plantio direto 
e, mais recentemente, o pré-germinado, especialmente no Estado de Santa Catarina, 
estão se expandindo rapidamente. Nas demais áreas produtoras, situadas na região 
tropical, o uso de várzeas com e sem irrigação controlada são alternativas comuns. O 
plantio deste tipo de arroz ocorre nos meses de outubro, e nos meses de novembro, 
dezembro e janeiro do ano seguinte a lavoura é alagada, exigindo uma grande 
quantidade de água, normalmente oriunda de açudes, ou bombeada de rios. A colheita é 
realizada no período de março a maio. 
A cultura do arroz no ecossistema de terras altas vem se apresentando como um 
componente fundamental em sistemas agrícolas, tanto em cultivo sem irrigação como 
irrigado por aspersão, enquanto o sistema de sequeiro tradicional, de abertura de novas 
áreas, está diminuindo em importância. O plantio em terras altas, das plantas não 
irrigadas artificialmente, ocorre de outubro a dezembro. A irrigação é feita através de 
chuvas que ocorrem no período de outubro e se estende até maio. A colheita inicia de 
janeiro e vai até maio, dependendo da variedade e local de plantio. 
O desenvolvimento de cultivares de arroz mais produtivas e de melhor qualidade 
de grão, associado à utilização de técnicas de manejo adequadas, poderá permitir o país 
atingir a auto-suficiência e até exportar arroz dentro de um prazo relativamente curto. 
 
Arroz inundado e cultivado em sequeiro 
 
7.1. Ecossistema de Várzeas 
Caracteriza-se pela condição anaeróbica de desenvolvimento radicular da planta, 
o que implica uma série de transformações químicas, microbiológicas e físicas, que 
influenciam, não só o desenvolvimento da planta de arroz, como também a absorção de 
nutrientes e o manejo do solo. 
Pascoal
Realce
 
Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 
21
De uma maneira geral, os solos apropriados para o cultivo de arroz nas várzeas 
caracterizam-se por serem hidromórficos e apresentarem topografia plana, sendo, 
consequentemente, suscetíveis a inundações nos períodos de chuva. Por possuírem 
horizontes argilosos, que apresentam condutividade hidráulica baixa, são também de 
difícil drenagem. Essas condições favorecem o cultivo de arroz, não sendo, contudo, 
adequadas para utilização com outras culturas. 
Nesse ecossistema, a cultura do arroz pode ser encontrada sob cultivo de várzeas 
sistematizadas, com controle da lâmina de água, como também em várzeas úmidas, não 
sistematizadas, irrigadas pela água da chuva ou pela elevação do lençol freático. 
7.1.1. Sistema irrigado por inundação controlada 
 A maior parcela da produção de arroz no país é proveniente do sistema irrigado 
por inundação, sendo cultivado em várzeas sistematizadas e com controle de lâmina de 
água. Esse sistema é predominante na Região Sul do Brasil. Entretanto, nas 
propriedades agrícolas, o nível de controle da água pode variar desde áreas bem 
sistematizadas, onde o agricultor coloca e retira a água quando é conveniente ao cultivo, 
até lavouras onde o mau nivelamento impede o controle da lâmina de água e a má 
drenagem não permite o manejo eficiente do sistema. 
 Os métodos de preparo do solo e de semeadura dependem do nível de 
sistematização do terreno. Em áreas em desnível, são utilizados o sistema convencional, 
o cultivo mínimo ou o plantio direto, com semeadura em solo seco. Em áreas 
sistematizadas, a tendência atual é o plantio com sementes pré-germinadas cuja 
preparação é feita com o solo seco ou inundado. 
 O custo da água é um componente importante no custo de produção total. 
Quando se compara o consumo de água entre os sistemas convencional, pré-germinado, 
cultivo mínimo e plantio direto,os resultados indicam que a semeadura com sementes 
pré-germinadas consome menos água que os demais sistemas, principalmente em 
relação ao convencional. 
O sistema tradicional de cultivo tem contribuído para a degradação das 
condições físicas e químicas dos solos hidromórficos, além de facilitar a disseminação 
das espécies daninhas, principalmente do arroz vermelho, também conhecido como 
arroz daninho, que representa um dos principais problemas da cultura. O cultivo 
mínimo e o plantio direto, bem como o pré-germinado, ajudam no controle das plantas 
daninhas, inclusive do arroz vermelho, e permitem maior integração da agricultura e da 
pecuária. 
 Em geral, os agricultores iniciam com o cultivo mínimo, reduzindo o preparo do 
solo a gradagens leves e aplicação de herbicidas dessecantes antes do plantio. Com o 
decorrer do tempo e o ganho de experiência, passam ao plantio direto, que é a 
semeadura do arroz sobre cobertura vegetal morta, sem nenhum preparo anterior. Além 
de prevenir a erosão e reduzir os custos com a aplicação de fertilizantes, as vantagens 
atribuídas a esse sistema são: maior retenção da umidade do solo; melhor controle de 
plantas daninhas; mais tempo útil de trabalho no período de semeadura; otimização do 
uso de máquinas, insumos e mão-de-obra; melhoria das características fisioquímicas dos 
solos; e facilidade para rotação de culturas. 
 7.1.2. Sistema de várzea úmida 
O cultivo do arroz nesse sistema caracteriza-se pelo baixo nível de insumos. Em 
geral, este tipo de exploração utiliza alto índice de mão-de-obra familiar, pequenas áreas 
e máquinas de pequeno porte, não existindo a preocupação com a construção de 
sistemas de controle e eliminação de água. As cultivares normalmente usadas são as 
tradicionais e o plantio é feito por meio de semeadura direta ou do transplante de mudas. 
A época de plantio é limitada pela capacidade de manejar o solo, ou seja, uma vez 
 
Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 
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iniciadas as chuvas, nos meses de outubro ou novembro, inicia-se de imediato o preparo 
do solo e a semeadura. 
Áreas extensivas de cultivo de arroz em várzeas úmidas são observadas às 
margens de rios como o Araguaia, no Estado do Tocantins. Nessa situação, as áreas são 
grandes (maiores que 100 ha) e o cultivo é mecanizado, embora o nível de utilização de 
insumos continue sendo baixo. O plantio segue sendo limitado pela capacidade de 
operacionalização do processo, mas, devido à limitada possibilidade de uso de mão-de-
obra, é sempre direto e em solo seco. As cultivares normalmente utilizadas são do tipo 
moderno, como Cica 8 e Metica 1. 
7.2. Ecossistema de Terras Altas 
Caracteriza-se pela condição aeróbica de desenvolvimento radicular da planta. 
7.2.1. Sistema sem irrigação (Sequeiro) 
A Região Centro-Oeste é a mais importante no cultivo do arroz de sequeiro 
tradicional mecanizado. Nessa região, em geral, os solos são Latossolos muito 
profundos, com boas características físicas, mas de baixa fertilidade. O pH varia de 4,5 
e 5,5, os níveis de fósforo e potássio são baixos e a saturação de alumínio elevada. A 
pluviometria anual está ao redor de dos 1.500 mm, bem distribuídos entre os meses de 
outubro e abril, sendo que, quanto mais ao norte, maior a quantidade total de chuva. 
Todavia, durante os meses de janeiro e fevereiro, no sul da Região Centro Oeste, podem 
ocorrer períodos de estiagem (veranicos) de até 30 dias. 
Com base na quantidade de água disponível para as raízes, as áreas onde se 
planta arroz de sequeiro no País podem ser caracterizadas em cinco classes, abrangendo 
desde áreas consideradas muito favoráveis até aquelas muito desfavoráveis. A maior 
parte da Região Norte é considerada como muito favorável; o Estado do Tocantins, o 
norte de Goiás, o estado do Mato Grosso e o do Maranhão são áreas favoráveis, 
enquanto o sul de São Paulo e do Mato Grosso do Sul e norte de Minas Gerais são 
regiões desfavoráveis. A meso-região sul maranhense (área de cerrado), é considerada 
desfavorável, bem como o sudeste do Estado do Piauí. 
Na região dos cerrados, as propriedades agrícolas caracterizam-se por serem 
bastante extensas. Um estudo de amostragem feito em 200 fazendas da região Centro 
Oeste, indicou que, no Mato Grosso do Sul, 50% das propriedades possuíam área maior 
que 1.000 ha e, no Estado de Goiás, existiam 31% nesse grupo e 33% entre 500 e 1.000 
ha. Ainda que exista um significativo número de pequenos produtores de arroz, sua 
importância, em termos de produção total, é pouco relevante. 
O sistema tradicional mecanizado de cultivo de arroz de sequeiro vem sendo 
utilizado desde o início da década de 70, quando as políticas governamentais, através de 
créditos diferenciados e assistência técnica, estimularam a utilização dos cerrados para a 
produção de alimentos. O arroz, por sua rusticidade e tolerância à acidez, foi utilizado 
nessa região como elemento de abertura de novas áreas para a implantação de pastagens 
melhoradas e outras culturas como o milho e a soja. Sob essas condições, a deficiência 
hídrica era o principal fator limitante à produção. 
Nessa região, o sistema de produção do arroz de sequeiro caracteriza-se pela 
utilização de máquinas em todas as operações agrícolas. Portanto, a utilização de mão-
de-obra é baixa e requer especialização. Embora exista tecnologia desenvolvida para 
esse sistema de cultivo, o agricultor em geral não a utiliza, seja por desconhecimento ou 
por falta de interesse. Assim, as características básicas desse sistema podem ser 
descritas como: baixa utilização de insumos; preparo do solo mal feito ou inadequado 
(uso intensivo de grades aradoras); mau manejo da cultura; e utilização de cultivares 
não adaptadas e de baixo potencial produtivo. A instabilidade climática durante o 
período de cultivo e a ocorrência de doenças (brusone) e pragas (cupins), influenciaram 
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de maneira marcante a resposta do arroz de terras altas e levaram a atribuir a essa 
cultura o rótulo de “cultura de alto risco”, que, de fato, manejada dessa forma, apresenta 
produtividades médias raramente superiores a 2.000 kg/ha. 
Quando manejada de maneira adequada e dentro de uma visão sistêmica, a 
cultura do arroz é capaz de apresentar produtividades que facilmente ultrapassam 3,0 
t/ha. Dentro desse novo panorama, os problemas ligados à produtividade e à fixação da 
cultura nos novos sistemas agrícolas deixam de ser relacionados apenas ao manejo e 
passam a ser, prioritariamente, de caráter genético, com a necessidade de 
desenvolvimento de cultivares produtivas e, principalmente, com qualidade de grão 
competitiva no mercado nacional. 
Na década dos anos 80, devido à importância crescente da cultura da soja, à 
necessidade de abertura de áreas nas regiões climaticamente mais favoráveis, à rotação 
de culturas e à presença de agricultores mais tecnificados, o arroz passou a ser visto 
como uma alternativa economicamente rentável para o sistema agrícola a região. Na 
região Centro Oeste houve incrementos na produtividade da cultura, apesar de, em 
algumas áreas, ter sido substituída por outros cultivos. 
Como a condição básica para a existência desse sistema é a disponibilidade de 
água através da chuva, o cultivo é feito no período do verão, entre os meses de outubro 
e abril. Existem épocas ideais de semeadura do arroz nos diferentes municípios da 
região dos cerrados, definidos com base no regime pluvial e no balanço hídrico 
simulado. Porém, a decisão do agricultor sobre o momento ideal de plantio considera 
outros fatores relevantes e de caráter pessoal como, entre outros: a disponibilidade e a 
capacidade do maquinário; a disponibilidade de recursos financeiros, geralmente 
vinculados à liberação de financiamento bancário; e o tamanho da lavoura. A 
conjugação destes fatores faz com que, na prática, o período de plantio se estenda até o 
início de fevereiro, aumentando assim os riscos de ocorrência de veranicosna fase 
reprodutiva da cultura e levando a decréscimos significativos da produtividade. 
O sistema de sequeiro consorciado baseia-se na utilização de áreas em pousio 
por vários anos. As operações utilizadas no cultivo do arroz podem ser descritas em: 
roçada, retirada de tocos e raízes, queimada; limpeza e plantio. Quase que na totalidade, 
essa estrutura de produção utiliza a participação de mão-de-obra familiar, com práticas 
culturais e de colheita tradicionais. O uso de insumos é praticamente inexistente. 
No estado do Maranhão, segundo maior produtor de arroz no país, as condições 
climáticas contribuíram de maneira decisiva para que o arroz fosse escolhido como a 
cultura principal do sistema consorciado. A crescente presença da pecuária substituindo 
as áreas de lavoura fez com que, cada vez mais, a produção de grãos fosse deslocada 
para áreas marginais e deixada nas mãos de pequenos agricultores. 
Na Região Sudeste do país, a distribuição pluvial é irregular e frequentemente 
ocorrem veranicos nos meses de janeiro a fevereiro nas regiões produtoras (sudeste de 
Minas Gerais, nordeste de São Paulo). As tecnologias geradas recentemente não tem 
sido suficientes para recuperar a perda dos níveis de área plantada com a cultura. Os 
agricultores de arroz de sequeiro apontam como principal fator responsável por esta 
situação a inferior qualidade de grão das cultivares de sequeiro, quando comparada à do 
sistema irrigado. 
No Estado do Paraná, na Região Sul do Brasil, a cultura do arroz de sequeiro foi 
importante até a década de 70 como elemento desbravador de áreas para a implantação 
de lavouras de soja e trigo, na porção sul do estado. Na região norte, abriu espaço para a 
cafeicultura, com a qual esteve associado como cultura intercalar. A evolução dos 
preços dos produtos agrícolas e pecuários favoreceu a expansão do binômio soja/trigo e 
 
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a implantação de pastagem em áreas de arroz. Atualmente o arroz de sequeiro é 
plantado em áreas marginais, sujeitas a estiagens. 
O arroz de terras altas, cultivado no sistema de sequeiro tradicional, é 
encontrado em praticamente todos os estados brasileiros. Os estados descritos acima são 
os mais representativos, por isso os aspectos mais relevantes da cultura foram 
ressaltados em cada estado. 
7.2.2. Sistema com irrigação suplementar por aspersão 
Esse sistema de produção predomina nos Estados de Minas Gerais, Goiás, 
Bahia, São Paulo e Mato Grosso do Sul. 
A diferença básica entre este sistema e o anterior, nas suas diversas variantes, 
está na capacidade do agricultor em efetuar irrigação suplementar em suas lavouras 
sempre que necessário, eliminando assim os riscos decorrentes da falta ou má 
distribuição das chuvas. Esse sistema proporciona maior estabilidade da produção e 
segurança para aplicação de investimentos e insumos. Trabalhos de pesquisa indica 
aumentos de produtividade da ordem de 70% quando, no arroz plantado sob condições 
de cerrado, é utilizada irrigação suplementar. 
Segundo técnicos em irrigação, um país deve ter entre 12 e 15% de sua área 
agrícola sob irrigação. O Brasil ainda não alcança esses valores, embora na década de 
80 as políticas governamentais (créditos e assistência técnica) tenham estimulado os 
agricultores das Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste a utilizarem a irrigação como 
alternativa para incrementar a produção de alimentos no país. 
O sistema de cultivo de arroz com irrigação por aspersão caracteriza-se pelo 
intenso uso do solo, com rotação de culturas e elevado uso da tecnologia. Os plantios 
feitos na estação chuvosa (outubro-maio) fazem uso da irrigação de forma suplementar. 
É sabido que no início do período das águas, a ocorrência de precipitações é errática e 
também que, nos meses de janeiro e fevereiro, pode acontecer um período de estiagem. 
De um modo geral, o agricultor que usa irrigação por pivô central cultiva o feijoeiro 
durante o inverno, ou mesmo trigo, utilizando milho, arroz ou soja durante o verão. O 
milho representa cerca de 80% da rotação de culturas nas áreas sob pivô. O arroz, 
embora venha sendo pouco utilizado, é a cultura de maior potencial para o sistema no 
futuro. 
Os agricultores, em geral, observam as recomendações técnicas, utilizando 
fertilização adequada e fazendo bom manejo cultural. Sob essas condições, as cultivares 
de arroz utilizadas no sistema, embora ainda apresentem algumas limitações, produzem 
entre 3,5 a 5,0 t/ha. Contudo, para que o arroz seja um componente rentável nesse 
sistema, a cultivar deve possuir algumas características, como: ciclo curto, resistência ao 
acamamento; elevado potencial produtivo; e boa qualidade do grão. Além disso, dados 
experimentais evidenciaram que a cultivar adequada ao sistema de cultivo com irrigação 
por aspersão deve apresentar tipo de planta intermediário entre o sequeiro tradicional e 
o irrigado. 
Não há domínio completo do sistema de cultivo, sendo necessário estudos 
adicionais para o ajuste ou adaptação de práticas de manejo que o tornem mais eficiente. 
Há alguns anos atrás já eram percebidos problemas, além dos atuais como a 
autotoxicidade, fator que limita o desenvolvimento do arroz quando plantado por anos 
consecutivos na mesma área, mesmo que em rotação com o feijão. 
A curto prazo, as expectativas para o incremento da área com irrigação 
utilizando o pivô central são limitadas, visto ser este um sistema que requer elevado 
investimento inicial para sua implantação. 
Mas considerando-se a área disponível no país para a prática de agricultura sob 
pivô central, é possível antever a possibilidade de crescimento da área plantada com 
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arroz dentro desse sistema, já que a cultura, nos últimos anos, vem apresentando 
vantagens econômicas em relação ao milho, no sistema de rotação com o feijão. 
 
 
7.3. Consórcio Arroz/Pastagem 
No Brasil, o sistema de cultivo que envolve a associação de arroz e pastagens, 
conhecido pela denominação de “Sistema Barreirão”, fundamenta-se na necessidade dos 
pecuaristas da região dos cerrados em implantar ou renovar suas pastagens a um custo 
baixo. 
Embora os conhecimentos científicos sobre esse sistema tenham sido 
desenvolvidos há quase 20 anos, o agricultor já o utilizava de maneira rudimentar em 
suas fazendas. Após a derrubada da vegetação no cerrado, a implantação da cultura do 
arroz era, e até certo ponto continua sendo uma prática usual. A partir do segundo ano 
de cultivo do arroz, alguns pecuaristas, na urgência de formar pastagens, passavam a 
semear, sem nenhum embasamento técnico, o arroz misturado às sementes da planta 
forrageira. No momento da colheita, o arroz era visto não como um produto de interesse 
comercial, mas apenas como um componente que contribuía para reduzir os custos de 
implantação da pastagem. O uso da cultura do arroz para essa finalidade, sem a 
preocupação com o uso de insumos ou qualquer tipo de tecnologia, contribuiu 
sobremaneira para que o arroz fosse encarado como “cultura de risco”. 
Basicamente, o sistema pode ser descrito iniciando por um bom preparo do solo, 
com aração profunda e com fertilização de acordo com a análise de solo e com os 
requerimentos da cultura do arroz. O arroz (2-3 cm) e a forrageira (8 cm) são semeados 
juntos, mas a diferentes profundidades, sendo a semente da pastagem semeada mais 
profundamente. Após a colheita do arroz, deve observar-se um período de tempo 
necessário à recuperação e desenvolvimento da forrageira, antes de colocar os animais 
para pastoreio. 
Algumas das vantagens e resultados preconizados pelo sistema são: incremento 
na produção de arroz; implantação ou renovação de pastagens a um custo relativo mais 
baixo; melhor desenvolvimento da pastagem; redução na infestação por plantas 
daninhas e cupins; e maior número de animais por unidade de área. 
7.4. Rotação de Culturas 
O monocultivo do arroz de sequeiro diminui o potencialprodutivo do solo 
devido a fatores não totalmente conhecidos. Alguns autores chamam este fenômeno de 
“doença do solo”. A cultura conduzida sob a influência destes fatores apresenta redução 
do crescimento e da produtividade. Sistemas de produção adequados, como a rotação de 
culturas, resultam na preservação das características físicas do solo, na otimização da 
disponibilidade química e hídrica do solo, na convivência com os compostos 
alelopáticos liberados pelas culturas e na redução da incidência de pragas e doenças de 
solo. 
A capacidade do solo da região dos Cerrados em manter a produtividade do 
arroz de sequeiro em monocultura sucessiva é diminuída a partir do segundo ano de 
exploração. Sistemas de produção que envolvam rotação de culturas e manejo adequado 
do solo podem manter a sustentabilidade desses solos é tornar o cultivo do arroz de 
sequeiro um empreendimento economicamente ativo. 
A redução da produtividade, muitas vezes pela metade, é conseqüência de 
diversos fatores, isolados ou em conjunto. Sabe-se que um desses fatores diz respeito a 
produtos excretados pelas raízes do arroz que permanecem no solo, prejudicam o seu 
próprio desenvolvimento (autotoxicidade ou autotoxidez) e provocam diferenças entre o 
número de determinados organismos da rizosfera e entre fileiras no campo. 
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O uso de leguminosas nos sistemas de rotação de culturas é indispensável, 
principalmente aquelas apresentando sistema radicular profundo. A cultura do arroz em 
rotação com o guandu (Cajanus cajan L.) apresentou um aumento na produção de 
75,2%. 
 
8. Preparo do Solo, Adubação e Calagem 
Convencionalmente, o preparo do solo para o arroz cultivado em terras altas é 
realizado com implementos de discos, como a grade aradora, e o preparo para arroz 
cultivado em várzeas é feito com grade aradora ou enxada rotativa. 
 Na escolha de um sistema de preparo do solo para a cultura do arroz devem ser 
considerados os fatores relacionados às economias de combustível e de tempo, e às 
conservações do solo e da água, evitando-se, principalmente nos cultivos realizados em 
terras altas, o uso continuado, por vários anos, de um único tipo de equipamento 
agrícola, operando na mesma profundidade ou muito superficialmente, para evitar a 
formação de camadas compactadas no solo. 
8.1. Terras altas 
A maioria dos solos de cerrado onde o arroz de terras altas é cultivado são 
Oxissolos e possuem baixa fertilidade. Os valores médios das propriedades químicas 
dos solos de cerrado em estado natural são: pH 5,2; P < 2 mg kg-1 , K < 50 mg kg-1; Ca 
<1,5 cmolc kg -1; Mg <1 cmolc kg-1, Zn e Cu em torno de 1 mg kg-1, matéria orgânica na 
faixa de 15 a 25 g kg-1 e saturação por bases < 25%. Com base nestes dados, pode-se 
concluir que os solos de cerrado são ácidos e de baixa fertilidade, o que evidencia o 
manejo da fertilidade como um dos aspectos mais importantes para a produção das 
culturas na região. 
Na escolha do método de preparo do solo do arroz de terras altas devem ser 
observados os seguintes aspectos: 
• O teor de umidade do solo deve ser adequado à realização da operação, isto é, o solo 
não deve estar nem muito seco nem muito úmido. 
• A presença de restos culturais e de plantas daninhas na área, que é importante para 
determinar a seqüência de utilização de arados, grades e roçadoras. 
• A profundidade de mobilização do solo e a capacidade de trabalho devem ser 
consideradas na escolha do tipo de equipamento. 
• O período de preparo, ou seja, os dias disponíveis para o preparo do solo, deve ser 
levado em conta, a fim de dimensionar os equipamentos e planejar os trabalhos. 
• É necessário identificar a presença e a localização de compactação no solo, o que 
auxilia na escolha e na regulagem do equipamento para romper a camada 
compactada. 
• No caso de cultivo irrigado, o uso de irrigação e a ausência de camadas superficiais 
de solo compactado dispensam o preparo profundo do solo. 
O preparo inadequado do solo interfere em diversas fases do processo de 
produção do arroz. A presença de torrões grandes, superfície do solo irregular e 
ajuntamento de restos vegetais na superfície do solo, em decorrência de preparo e 
incorporação deficientes do material vegetal, podem afetar a operação de semeadura 
mecanizada, comprometendo a qualidade do plantio. Nessas condições, a uniformidade 
de plantio adequada pode não ser alcançada, em decorrência da distribuição irregular 
das sementes ao longo da linha de plantio. A profundidade de semeadura pode também 
ser afetada, por ser ora muito superficial, ora muito profunda, o que prejudica a 
germinação das sementes e a obtenção de estande adequado de plantas. Ademais, a 
presença de camadas compactadas e a desagregação excessiva do solo o predispõem à 
erosão, dificultam a infiltração da água e afetam o desenvolvimento radicular. A 
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incorporação superficial de sementes de plantas daninhas e a aplicação de herbicidas em 
épocas inadequadas aumentam a competição dessas plantas com a cultura do arroz, 
afetando a produtividade. 
Quando o preparo é feito com o solo muito úmido, ocorrem danos físicos em sua 
estrutura, principalmente no sulco onde trafegam as rodas do trator, e aderência nos 
órgãos ativos dos implementos, a ponto de inviabilizar a operação. Por seu turno, o 
preparo com o solo muito seco exige maior número de operações para o destorroamento 
e maiores gastos de combustível e de tempo. 
O teor adequado de umidade corresponde ao ponto de friabilidade do solo, ou 
seja, o ponto em que a umidade é tal que, ao comprimir-se uma porção do solo na mão, 
ela é facilmente moldada, mas também esboroa-se com facilidade tão logo cesse a força 
de compressão. Nessas condições, o trator opera com o mínimo de esforço, produzindo 
melhor qualidade na operação que estiver realizando, em termos de estrutura, tamanho 
de agregados, porosidade do solo e controle de plantas daninhas. 
 O método convencional de preparo do solo é realizado com o emprego de 
arados e grades leves, médias ou pesadas. As grades leves, médias e pesadas possuem, 
respectivamente, até 50 kg, de 50 a 130 kg e mais de 130 kg de massa em cada disco. 
No preparo com arado, é feita uma operação com arado de disco, para revirar a leiva do 
solo e incorporar restos de culturas e plantas daninhas, seguida de duas gradagens leves, 
sendo uma imediatamente após a aração (com o objetivo de quebrar os torrões), e outra 
no ato do plantio (para nivelar o solo e eliminar as plantas daninhas novas). No preparo 
com grade, são feitas duas gradagens com grade aradora média ou pesada, ou 
combinando grade aradora com grade leve. 
O tempo para preparar o solo varia de acordo com o método empregado. 
Utilizando-se um arado de três discos e uma grade leve de 30 discos, são necessárias de 
5 a 6 h/ha. Com uma grade aradora média ou pesada, são necessárias de 2 a 3 h/ha. 
No método com arado de disco, o perfil do solo preparado é heterogêneo, em 
virtude do desempenho inadequado desse implemento que, na presença de restos 
culturais e plantas daninhas, penetra irregularmente no solo. Nessa situação, além dos 
obstáculos criados à operação da semeadura, a lenta decomposição dos resíduos pode 
afetar a disponibilidade e/ou a absorção de nitrogênio e provocar o amarelecimento das 
plantas. O arado de disco não descompacta o solo convenientemente, saltando os pontos 
de maior resistência, principalmente nos solos com pouca umidade. 
O método de preparo do solo com grade aradora é aconselhável para o 
cultivo do arroz de terras altas, desde que seja evitado o uso continuado desse 
implemento, pois tal procedimento provoca formação de camada compactada na soleira 
da gradagem. Essa compactação localiza-se superficialmente, porque as grades têm 
baixa capacidade de penetração em comparação aos arados. A soleira compactadadificulta a infiltração de água no solo e o desenvolvimento radicular do arroz abaixo 
dessa camada, o que pode afetar a produtividade. Para solucionar esses problemas, é 
importante a alternância da profundidade de trabalho da grade aradora, sem prejudicar a 
qualidade do preparo do solo, ou a alternância da profundidade de aração pela utilização 
de outros tipos de equipamentos. Um detalhe importante é que as grades aradoras 
realizam, numa só operação, a aração e a gradagem. 
O método de preparo profundo do solo com incorporação das restevas com 
grade antes da aração consiste na inversão da ordem de realização das operações de 
preparo, sendo denominado de “aração invertida”. Inicialmente, faz-se a gradagem do 
terreno com a grade aradora média ou leve, fazendo a pré-incorporação das plantas 
daninhas ou dos restos culturais e, de 10 a 30 dias depois, realiza-se a aração com arado 
de aiveca, em profundidade superior a 25 cm. 
 
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As vantagens de se utilizar este método são: 
• Incorporação mais homogênea dos restos culturais no perfil arado, da superfície até 
a soleira da aração. 
• Maior facilidade para realizar a aração, em virtude do desenraizamento das 
soqueiras e das plantas daninhas e a formação de uma boa estrutura no solo. 
• Melhor homogeneização e estruturação do perfil do solo arado. 
• Redução sensível dos riscos durante curtos e médios períodos de estiagem, em 
decorrência do maior armazenamento de água no perfil do solo, do enraizamento 
mais vigoroso e profundo e das melhorias das propriedades do solo. 
• Não-formação de “pé-de-grade” superficial. 
• Incorporação profunda das sementes das plantas daninhas, dificultando sua 
germinação. 
Esse método de preparo deixa o solo bem nivelado e com uma boa estrutura em 
termos de tamanho de agregados. Se o teor de umidade do solo e a regulagem do arado 
forem adequados por ocasião do preparo, o plantio poderá ser feito sem necessidade de 
gradagem de nivelamento ou, no máximo, após uma operação de grade leve, a fim de 
preservar a porosidade e a estrutura criada pela aração. 
O método do cultivo mínimo tem como principais objetivos a manutenção da 
estrutura do solo, a adoção de procedimentos que visam diminuir, ao mínimo 
necessário, as operações primárias e/ou secundárias de preparo do solo e a redução dos 
custos. Consiste na utilização de implementos como o arado escarificador ou a grade 
niveladora, para romper apenas a camada superficial adensada e, no caso da grade, para 
controlar as plantas daninhas de pequeno porte. O arado escarificador rompe o solo a 
uma profundidade de 20 a 30 cm, mantendo grande parte dos resíduos vegetais na 
superfície, que protege o solo da erosão. Além dessa vantagem, o escarificador permite 
o preparo de solo seco e proporciona maior rendimento operacional e maior economia 
de combustível e de tempo de operação, se comparado com os arados de disco e de 
aiveca. 
 
 
O método de plantio direto é um método de semeadura no qual a 
semente e o adubo são colocados diretamente no solo não revolvido, usando-se 
semeadoras/ adubadoras especiais. É recomendado para solos descompactados, 
com fertilidade homogênea no perfil de 0 a 40 cm, sendo o controle de plantas 
daninhas dependente de herbicidas. A superfície do terreno deve possuir uma 
camada de restos culturais que auxilia na conservação do solo e da umidade do 
perfil. 
Os discos são utilizados no sistema de plantio direto e têm a função de cortar os 
restos de culturas e as plantas daninhas, visando facilitar o trabalho dos mecanismos 
sulcadores na deposição do adubo e da semente no solo. A largura de sulco formado 
pelos discos lisos, estriados e ondulados é de até 3, 5 e 9 cm, respectivamente. Sulcos 
mais estreitos são preferidos por demandar menor esforço de tração e revolver menos o 
solo. Nos solos argilosos e úmidos, o pior desempenho é proporcionado pelo disco 
ondulado, pois nele ocorre muita aderência de solo, seguido pelo dos discos estriado e 
liso. Nos solos arenosos, secos ou úmidos, o comportamento dos três tipos de disco é 
semelhante, diferindo basicamente na largura do sulco e na exigência de força para o 
tracionamento. No solo seco, o poder de penetração do disco liso no solo é maior que o 
dos estriado e ondulado. 
A baixa fertilidade dos solos de cerrado é bastante conhecida. Esses solos 
possuem teores extremamente baixos de nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio 
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e zinco. Além de pouco férteis, os solos de cerrado são extremamente ácidos, o que 
diminui a disponibilidade de nutrientes para as culturas. Entre os nutrientes essenciais, o 
nitrogênio, o fósforo e o potássio são os que a planta necessita em maior quantidade. 
Para a incorporação dos solos de cerrado ao processo produtivo é indispensável o uso 
adequado de adubação e calagem. O uso adequado de adubação não somente aumenta a 
produtividade, mas também reduz o custo da produção e propicia maior retorno 
econômico para os produtores. Ainda, a aplicação de adubação e calagem de acordo 
com a necessidade da cultura, reduz o risco de degradação do meio ambiente. A 
quantidade de N recomendada está em torno de 90 kg ha-1 aplicado em duas vezes, 
metade no plantio e o restante na época do perfilhamento ativo. Se o arroz é plantado 
após soja, uma redução de 30 kg N ha-1 é recomendada. A aplicação de P depende da 
análise do solo, quando o teor de P é menor que 5 mg kg-1, a aplicação de 100 a 120 kg 
P2O5/ha é recomendada. A aplicação de K também é feita com base na análise do solo. 
Quando o K está na faixa de 25 a 50 mg kg-1, uma aplicação de 80 kg K2O/ha é 
recomendada. Quando o teor de K é maior de 50 mg kg-1, a aplicação de adubação de 
manutenção em torno de 50 kg K2O/ha é recomendada. Com relação os micronutrientes, 
a deficiência de Zn é comumente observada em arroz de terras altas. A deficiência de 
Zn pode ser corrigida com a aplicação de 5 kg Zn/ha. O pH adequado para o arroz de 
terras altas está em torno de 5,5. 
Em geral, as culturas não se desenvolvem satisfatoriamente em solos muito 
ácidos. Entretanto, certas espécies toleram melhor a acidez, como é o caso do arroz de 
terras altas. 
Embora a cultura do arroz de terras altas não responda ou responda pouco ao 
calcário, isso não significa que a calagem não deva ser recomendada. A calagem para a 
cultura do arroz de terras altas deve ser feita com vista, prioritariamente, ao suprimento 
nutricional da planta em Ca e Mg, e não como meio de correção de acidez. 
Na cultura do arroz, a prática da calagem deve ser encarada com cautela, 
devendo ser considerada apenas quando o arroz for utilizado em sistema de rotação. 
Na rotação do arroz com culturas como milho, soja e feijão, que não toleram 
níveis muito altos de acidez e possuem necessidades mais elevadas de Ca e Mg, é 
comum, em situações onde a correção da acidez do solo é feita com altas doses de 
calcário, a indução, no arroz, de deficiências de micronutrientes, como Zn e Fe, em 
solos de Cerrado com baixa disponibilidade desses nutrientes. Nessas condições, 
recomenda-se uma prévia correção do solo com micronutrientes e uma aplicação de 
calcário em quantidade suficiente para manter o pH em torno de 5,8 a 6,0. 
Existem muitos materiais que podem ser utilizados para corrigir a acidez do 
solo, entre os quais óxidos e/ou hidróxidos de Ca e/ou de Mg, silicatos, carbonatos, etc. 
Os carbonatos, comumente denominados de calcários, são os mais empregados, por 
terem menor custo e serem encontrados em quase todos os Estados brasileiros. Ressalte-
se, entretanto, que existe grande variação de qualidade entre os calcários disponíveis no 
mercado. 
Entre as tecnologias geradas que permitiram a utilização agrícola de solos 
ácidos, destacam-se o emprego de fertilizantes como fonte de nutrientes e de calcário 
como corretivo da acidez natural dos solos, sem o que teria sido impossível

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