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Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel A Cultura do Arroz Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 2 1. Importância O arroz (Oryza sativa L.) é uma espécie hidrófila, cujo processo evolutivo tem levado à sua adaptação as mais variadas condições ambientais. De uma maneira mais abrangente, são considerados dois grandes ecossistemas para a cultura, que são o de várzeas e de terras altas, englobando todos os sistemas de cultivo de arroz no país. O consumo de arroz pela população mundial é um hábito inquestionável e dificilmente sofrerá substituição. O arroz é cultivado em todos os continentes, por cerca de 120 países. Na primeira grande “Revolução Verde”, no final da década de 60, a planta do arroz foi objeto de expressivas modificações fenotípicas e genotípicas, o que contribuiu para proporcionar ganhos importantes em qualidade e produtividade. Nos últimos anos, entretanto, a produtividade média vem mantendo-se estável, não só pela possibilidade de ter sido atingida a aproximação do potencial da cultura, mas, sobretudo, pelas possíveis dificuldades entre a pesquisa e o produtor, na transferência e adoção das tecnologias mais modernas. O Brasil é o nono produtor mundial, o arroz é cultivado em todas as regiões, sob diversos ecossistemas, tanto em terras altas como em várzeas. A produção e a produtividade aumentaram nos últimos anos. Porém, se consideradas as estatísticas até a década de 70, as médias eram muito baixas. Atualmente, mesmo com ganhos expressivos na produtividade, a média ainda está muito aquém da dos países mais evoluídos na exploração deste cereal. Deve-se considerar que, apesar de o Brasil ser o maior produtor de arroz em regime de terras altas do mundo, neste sistema há muito que ser feito no que se refere à adoção de tecnologias. Ainda predominam o empirismo e o risco de exploração, em contraste com a grande evolução na oferta de conhecimentos e tecnologias. É necessário concentrar esforços no sentido de melhorar as estratégias de transferência de tecnologia, já que existem muitos exemplos de produtividade entre 3 e 5 t/ha, em regime de terras altas, e de 7 a 8 t/ha, no regime com irrigação por inundação controlada, em nível de produtor. A preferência do mercado brasileiro é pelo produto com grão da classe longo- fino (agulhinha), característica comumente encontrada nas cultivares de arroz irrigado. Embora a pesquisa já tenha disponibilizado, aos produtores de terras altas, cultivares de arroz com grão agulhinha, o cultivo do arroz irrigado deverá manter-se estável, ou até ter aumento na área cultivada, enquanto o arroz de terras altas certamente poderá sofrer redução na área de cultivo, se não forem tomadas algumas medidas. Isso se observa pela própria redução da disponibilidade de áreas novas para exploração, como tem acontecido historicamente, particularmente no Cerrado. 2. Estatística de Produção No mundo, a maior parte da produção e do consumo de arroz está localizada no continente asiático, cujo sistema básico de cultivo é o irrigado. O sistema de sequeiro (terras altas) é encontrado predominantemente no Brasil e, em menor proporção, no continente africano. O crescente processo de industrialização dos países asiáticos tem resultado na diminuição da mão-de-obra disponível para o trabalho no campo e no deslocamento da produção agrícola para áreas marginais. Por outro lado, o crescimento acelerado da população está aumentando a demanda do produto em proporções não compatíveis com o crescimento da produção. Para se atender esta demanda, nos próximos anos devem ser adicionadas ao mercado mundial de arroz cerca de 10 milhões de toneladas/ano. Metade desse total deve ser produzido no continente asiático, devendo a outra parte originar-se Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 3 fora dessa macro-região. A América Latina e a África destacam-se no cenário mundial como as duas únicas regiões com grande e quase inexplorado, potencial para produção de arroz e com capacidade de atender a essa demanda. Produção Mundial de Arroz ARROZ: Principais países produtores (em milhões de toneladas) Fonte: FAO – Food and Agriculture Organization (www.fao.org) O continente latino-americano está melhor preparado que o africano para responder, de maneira rápida, a essa demanda. O Brasil como maior produtor de arroz no continente, deve considerar esse aspecto em seu planejamento estratégico para o desenvolvimento da cultura. Diante desse panorama, a discussão sobre sistemas de produção de arroz no Brasil assume um papel de extrema relevância para traçar estratégias futuras. Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 4 Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 5 Comparativo entre a área, rendimento e produção do arroz irrigado e de sequeiro. Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 6 Área colhida x Produção do arroz de sequeiro e irrigado Os produtores de arroz têm passado por dificuldades naturais e financeiras nos últimos anos. No final de 2004 e início de 2005, por exemplo, a região Sul teve a pior estiagem dos últimos 40 anos. A estiagem também atingiu o Centro-Oeste. Os altos custos de produção e a forte queda nos preços de comercialização de arroz deram prejuízos para os agricultores e contribuíram para aumento de apenas 0,5% da área semeada em 2005 e redução de 0,9% na áreas da safra de 2006. Esta queda de renda foi manifestada com a redução de compra de máquinas e implementos agrícolas. A insatisfação dos agricultores tem sido motivo de reivindicações junto ao governo federal, como a movimentação de 3000 tratores em Brasília em junho de 2005. Os agricultores esperam que as medidas a serem anunciadas brevemente pelo governo consistam, de um lado, de redução da carga tributária de PIS, CONFIS, imposto de renda, dos juros, custos de insumos e, de outro, iniciativas de reformas de estradas e portos, por exemplo. No caso do arroz, em 2005 houve aumento de 5% da área cultivada, mas com redução de 0,4% na produção em relação a 2004. Para que os produtores, órgãos de pesquisa, ensino e extensão e governos federal, estaduais e municipais possam fazer planejamento e decidir ações futuras, é necessário uma compreensão da tendência desse cultivo. Por esse motivo, elaborou-se uma perspectiva de área, produção e produtividade do arroz irrigado e de terras altas no Brasil ate 2011, tomando como base informações de produção a partir de 2000. No Brasil, todos os 26 Estados e o Distrito Federal produzem arroz. Os Estados do RJ e SE produzem apenas arroz irrigado, e 15 outros Estados produzem arroz irrigado e de terras altas. Em 2005, o arroz de terras altas ocupou 64,2% da área total e o irrigado 35,8%. No conjunto, o Irrigado em relação aos estados e os respectivos percentuais de participação de área são liderados pelo Rio Grande do Sul, com 76,63%; já o de Terras Altas é liderado pelo Mato Grosso, com 39,59%. Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 7 A área ocupada com Irrigado e Terras Altas no Brasil indica que, no período de 2001/03, houve redução de Terras Altas, enquanto o Irrigado reduziu apenas no ano 2001. Até 2011 não haverá significativa alteração de área no Irrigado, enquanto que o de Terras Altas deverá ter um aumento de área em torno de 25%. Estas características contribuirão para o aumento geral da área em torno de 18%, em nível nacional. A partir do ano de 2007, deverá ocorrer uma expansão de Terras Altas. A produção no de Terras Altas, no período 2001/2, decresceu, mas, a partir de 2004, começou a aumentar. No ano 2008 o aumento de produção deverá ser superior a 13% e no ano 2011 esse aumento chega a 30%, comparado ao ano 2005. No mesmo ano de 2008 a produção no Irrigado também deverá aumentar, mas em menor escala se comparado com o Terras Altas.Em 2008, o aumento da produção em ambos os sistemas deverá apresentar o mesmo percentual, mas em 2011 o Irrigado deverá ficar 3% inferior ao de Terras Altas. Um outro dado levantado em Terras Altas, faz referência sobre a perspectiva de ligeiro aumento de produtividade até 2011, mas, em nível nacional, tem pequena redução. Em 2001, o sistema Terras Altas teve redução, ao contrário com o Irrigado e a produtividade no Irrigado, no ano 2011 aumentou 31% em relação a 2000. Em 2004, a produtividade era 6.000 kg ha e em 2011 a previsão é em torno de 6.800 kg ha. O aumento de produtividade no Terras Altas até 2011 será pequeno, algo em torno de 3% entre 2005 e 2011. 3. Origem, domesticação e introdução no Brasil Diversos historiadores e cientistas apontam o sudeste da Ásia como o local de origem do arroz. Na Índia, uma das regiões de maior diversidade e onde ocorrem numerosas variedades endêmicas, as províncias de Bengala e Assam, bem como na de Mianmar, têm sido referidas como centros de origem dessa espécie. O arroz é uma planta herbácea pertencente à família das Gramíneas. Alguns autores classificam-na como pertencente à família Poaceae. Duas formas silvestres são apontadas na literatura como precursoras do arroz cultivado: a espécie Oryza rufipogon, procedente da Ásia, originando a Oryza sativa; e a Oryza barthii (= Oryza breviligulata), derivada da África Ocidental, dando origem à Oryza glaberrima. O gênero Oryza é o mais rico e importante da tribo Oryzeae e engloba cerca de 23 espécies, dispersas espontaneamente nas regiões tropicais da Ásia, África e Américas. A espécie Oryza sativa é considerada polifilética, resultante do cruzamento de formas espontâneas variadas. Bem antes de qualquer evidência histórica, o arroz foi, provavelmente, o principal alimento e a primeira planta cultivada na Ásia. As mais antigas referências ao arroz são encontradas na literatura chinesa, há cerca de 5.000 anos. O uso do arroz é muito antigo na Índia, sendo citado em todas as escrituras hindus. Variedades especiais usadas como oferendas em cerimônias religiosas, já eram conhecidas em épocas remotas. Certas diferenças entre as formas de arroz cultivadas na Índia e sua classificação em grupos, de acordo com ciclo, exigência hídrica e valor nutritivo, foram mencionadas cerca de 1.000 a.C. Da Índia, essa cultura provavelmente estendeu-se à China e à Pérsia, difundindo-se, mais tarde, para o sul e o leste, passando pelo Arquipélago Malaio, e Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 8 alcançando a Indonésia, em torno de 1500 a.C. A cultura é muito antiga nas Filipinas e, no Japão, foi introduzida pelos chineses cerca de 100 anos a.C. Até sua introdução pelos árabes no Delta do Nilo, o arroz não era conhecido nos países Mediterrâneos. Os sarracenos levaram-no à Espanha e o espanhóis, por sua vez, à Itália. Os turcos introduziram o arroz no sudeste da Europa, de onde alcançou os Bálcãs. Na Europa, o arroz começou a ser cultivado nos séculos VII e VIII, com a entrada dos árabes na Península Ibérica. Foram, provavelmente, os portugueses quem introduziram esse cereal na África Ocidental, e os espanhóis, os responsáveis pela sua disseminação nas Américas. Alguns autores apontam o Brasil como o primeiro país a cultivar esse cereal no continente americano. O arroz era o "milho d'água" (abati-uaupé) que os tupis, muito antes de conhecerem os portugueses, já colhiam nos alagados próximos ao litoral. Consta que integrantes da expedição de Pedro Álvares Cabral, após uma peregrinação por cerca de 5 km em solo brasileiro, traziam consigo amostras de arroz, confirmando registros de Américo Vespúcio, que trazem referência a esse cereal em grandes áreas alagadas do Amazonas. Em 1587, lavouras arrozeiras já ocupavam terras na Bahia e, por volta de 1745, no Maranhão. Em 1766, a Coroa Portuguesa autorizou a instalação da primeira descascadora de arroz no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. A prática da orizicultura no Brasil, de forma organizada e racional, aconteceu em meados do século XVIII e daquela época até a metade do século XIX, o país foi um grande exportador de arroz. 4. Características morfofisiológicas relacionadas à produtividade 4.1. Fases de desenvolvimento da planta de arroz O ciclo de vida da planta de arroz pode ser dividido em três fases distintas: fase vegetativa, fase reprodutiva e fase de maturação. A fase vegetativa corresponde ao período compreendido entre a germinação da semente e a iniciação da panícula. É modificada pela temperatura e pelo fotoperíodo, o que permite sua divisão em fase vegetativa básica ou basal e fase sensível ao fotoperíodo. Diferenças varietais na duração do crescimento devem-se basicamente a diferenças na fase vegetativa. A emissão de perfilhos e a diferenciação e a diferenciação das folhas ocorre nesta fase. O número máximo de perfilhos coincide com o início da diferenciação de panículas em cultivares de ciclo curto, enquanto em cultivares de ciclo longo se prolonga pela fase reprodutiva. A fase reprodutiva , que vai da iniciação da panícula ao florescimento, tem duração relativamente constante de cultivar para cultivar, requerendo normalmente 35 dias em condições tropicais. São reconhecidos dois períodos no processo de desenvolvimento da panícula jovem: o de formação da panícula jovem, que vai da determinação da primeira bráctea ao estádio final de diferenciação de espiguetas, e o de gestação da panícula, que finaliza com a maturação dos grãos de pólen. A panícula jovem torna-se visível a olho nu como uma estrutura cônica, plumosa, medindo de 0,5 a 1,5 mm, cerca de dez dias após sua diferenciação. Contudo, como essa estrutura em desenvolvimento encontra-se envolvida pela bainha das folhas, sua observação só é possível mediante dissecação do colmo. O alongamento dos entrenós normalmente tem início com a diferenciação da panícula e ocorre apenas nos quatro últimos entrenós. O alongamento do último entrenó, o qual subtende a inflorescência, determina a emergência da panícula. A emergência da panícula dá início ao florescimento, em que ocorrem os processos de abertura de flores, polinização e fertilização. Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 9 A fase de maturação, etapa final do ciclo de vida da planta do arroz vai do florescimento à maturação dos grãos; tem uma duração de 30 a 35 dias, e subdivide-se em estádio de grão leitoso, ceroso e maduro. O processo de crescimento da planta de arroz exibe variações quanto ao padrão de absorção de nutrientes e metabolismo, durante as várias fases de desenvolvimento. Na fase vegetativa, os nutrientes, incluindo N, P, K e S são absorvidos ativamente, enquanto fotoassimilados são produzidos e proteínas são sintetizadas de forma a sustentar os processos de perfilhamento e de expansão foliar. Durante a fase reprodutiva, caracterizada pelo desenvolvimento do primórdio da panícula e o alongamento do caule, os fotoassimilados são transformados em componentes da parede celular, como lignina e celulose. Os fotoassimilados em excesso são armazenados nos colmos e bainhas na forma de amido. Na fase de maturação, a morfogênese da planta já se completou e os fotoassimilados acumulam-se nas panículas na forma de amido. À medida que este processo avança, os carboidratos, proteínas e minerais acumulados nas folhas movem-se para panículas e a planta torna-se senescente. Dois fatores são responsáveis pela existência de um ciclo ótimo: limitação do suprimento de nitrogênio e do espaço físico para crescimento. Processos, principais compostos orgânicos e nutrientes envolvidos no crescimento, durante as três fases do ciclo de vida da planta de arroz. Fase vegetativa Fase reprodutiva Fase de maturação Processos envolvidos Emergência de perfilhos e folhas Desenvolvimento do primórdio da panícula, alongamento dos entrenós. Enchimento dos grãos, senescência da raiz e parte aérea. Compostosorgânicos Proteínas Celulose e lignina, amido. Amido Nutrientes N, P, K e S Mg, Ca e S. Translocação de N, P, S e Mg para panículas. 4.2. Características morfológicas 4.2.1. Classificação botânica e morfologia A espécie Oryza sativa é uma Monocotiledônea da família Poaceae. Como tal, caracteriza-se por possuir caules ocos, flores reduzidas de cor verde e aquênios especializados ou cariopses como frutos. a) Raiz Coleorriza Raízes Raízes adventícias A raiz seminal, ou radícula, surge da coleorriza logo após o seu aparecimento e é seguida por uma ou duas raízes seminais secundárias, todas elas desenvolvendo raízes laterais. Persistem apenas por um curto período de tempo após a germinação, sendo logo substituídas pelo sistema secundário de raízes adventícias. Estas são produzidas a partir de nós inferiores dos caules jovens. São fibrosas, possuindo muitas ramificações e pêlos radiculares. Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 10 b) Folha A folha primária, surgida do coleóptilo, difere das demais por ser cilíndrica e não apresentar lâmina. A segunda folha, e todas as demais, são dispostas de forma alternada no colmo, surgindo a partir de gemas situadas nos nós. A porção da folha que envolve o colmo denomina-se bainha. A porção pendente da folha é a lâmina. Na junção dessas duas partes situa-se o colar, do qual emergem dois pequenos apêndices em forma de orelha, sendo por essa razão chamados de aurículas, e uma estrutura membranosa em forma de língua, denominada lígula. A partir do colmo principal originam-se de 8 a 14 folhas, dependendo do ciclo da cultivar. A última folha denomina-se folha bandeira. Folha bandeira e panícula c) Caule Caule Caule- Nós- Entrenós O caule da planta de arroz é composto por um colmo principal e um número variável de colmos primários e secundários, ou perfilhos. Durante o período vegetativo, um perfilho é visualizado como uma estrutura composta de folhas e gemas axilares. O caule propriamente dito encontra-se na base do perfilho, sendo visível mediante dissecação, como um conjunto de nós. Somente no período reprodutivo da cultura é que os nós se distanciam devido ao alongamento dos entrenós, permitindo a sua visualização. As características dos entrenós, tais como comprimento, diâmetro e espessura, determinam a resistência ao acamamento. A cor dos nós e entrenós, o número de perfilhos e o seu ângulo são importantes características de descrição varietal. d) Panícula A inflorescência determinada da planta de arroz denomina-se de panícula. Localiza-se sobre o último entrenó do caule e é subtendida pela folha-bandeira. É composta pela ráquis principal, que possui nós dos quais saem as ramificações primárias que, por sua vez, dão origem às ramificações secundárias de onde surgem as espiguetas. Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 11 Estas são formadas por dois pares de brácteas ou glumas. O par inferior é rudimentar, sendo suas glumas denominadas de estéreis. As glumas do par superior denominam-se pálea e lema e contém no seu interior a flor propriamente dita, composta por um pistilo e seis estames. O pistilo contém um óvulo. A lema pode ter uma extensão filiforme denominada arista, que é um importante descritor varietal. Planta de arroz – Panícula com folha bandeira – Panícula Espiguetas A – Gluma, B - Pálea e Lema. C- Embrião, endosperma Estame – Pistilo – Óvulo 6 filamentos = 6 estames Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 12 e) Grãos É formado pelo ovário fecundado, contendo uma única semente aderida às suas paredes (pericarpo), envolvida pela lema e a pálea. Estas, juntamente com as glumas estéreis e estruturas associadas, formam a casca. O grão sem casca denomina-se cariopse. Semente dentro da casca Estrutura de um cariopse (grão de arroz) 4.2.2. Raças ou grupos eco-geográficos Existem três grupos varietais para o arroz: a) subespécie Indica: presentes em clima temperado, apresentam folhas largas de cor verde-claro, perfilhamento profuso e estatura alta, tecidos com consistência macia. Grãos finos, com pêlos curtos na lema e pálea, na maioria das vezes não apresentam arista e degranam facilmente. Sensibilidade variável ao fotoperíodo. Os genótipos de arroz irrigado cultivados no Brasil pertencem a este grupo. b) subespécie Japonica: presentes em climas tropicais, apresentam folhas estreitas de cor verde-escuro, médio perfilhamento e baixa estatura, tecidos de consistência dura. Grãos curtos e redondos, pêlos densos e longos na lema e pálea, arista ausente ou longa, baixo degrane. Sensibilidade variável ao fotoperíodo. c) subespécie Javanica ou Japonica tropical: presentes na Indonésia, apresentam folhas largas, rígidas, de cor verde-claro, baixo perfilhamento e alta estatura, tecidos de consistência dura. Grãos largos e espessos, pêlos longos na lema e pálea, arista ausente ou longa, baixo degrane. Baixa sensibilidade ao fotoperíodo. Os genótipos tradicionais de sequeiro do Brasil pertencem a este grupo. 4.2.3. Diferenças morfológicas entre genótipos irrigados e de sequeiro O arroz de sequeiro evoluiu do arroz irrigado há algumas centenas de anos, através da pressão exercida pelo homem, ao deslocar-se de áreas baixas de várzeas para locais mais elevados. A pressão natural de seleção exercida no ecossistema de terras altas induziu a alterações e adaptações, especialmente no hábito de crescimento radicular. As cultivares de sequeiro apresentam raízes longas e espessas, enquanto as semi-anãs, finas e fibrosas. A maior relação raiz parte-aérea está relacionada a uma maior proporção de raízes espessas. 4.3. Características fisiológicas 4.3.1. Fotossíntese A fotossíntese diária é a base para a determinação da taxa de crescimento da cultura e, consequentemente, do acúmulo de fitomassa. Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 13 4.3.2. Área foliar A variação da área foliar e a sua duração são os principais responsáveis para a variação da produção. A taxa fotossintética da folha é um importante determinante da taxa de crescimento da cultura. 4.3.3. Partição dos Fotoassimilados para os grãos A produtividade ou rendimento de grãos da cultura do arroz pode ser estimada pelo produto dos seus componentes: o número de panículas por unidade de área; o número de espiguetas por panícula; o percentual de fertilidade das espiguetas; e o peso médio dos grãos. 4.4. Efeitos dos fatores climáticos na produtividade Pelo fato de ser praticada em quase todos os Estados, em latitudes que variam de 5º Norte até 33º Sul, a cultura do arroz é submetida a condições climáticas bastante distintas. Assim, a precipitação pluvial, a temperatura do ar, a radiação solar e o fotoperíodo podem, em diferentes intensidades, afetar a produtividade do arroz. 4.4.1. Fotoperíodo É o tempo, em horas, compreendido entre o nascer e o pôr-do-sol. Como o arroz é uma planta de dias curtos, os dias de curta duração (fotoperíodo de 10 horas) encurtam seu ciclo, antecipando a floração. Considera-se como fotoperíodo ideal o comprimento do dia no qual a duração da emergência até a floração é mínima. Para a maioria das cultivares, esse comprimento situa-se em torno de 10 horas. As cultivares são classificadas em três categorias, quanto à resposta ao fotoperíodo: • insensíveis – a fase vegetativa sensível ao fotoperíodo (FSF) é curta (inferior a 30 dias) e a fase vegetativa básica (FVB) varia de curta a longa; • pouco sensíveis – ocorre aumento acentuado no ciclo da planta quando o fotoperíodo é superior a 12 horas, a duração da FSF pode exceder 30 dias mas a floração irá ocorrer em qualquer fotoperíodo longo; • muito sensíveis – grande aumento no ciclo, com incremento no fotoperíodo, não há florescimento além de um valor de fotoperíodo crítico, e a FVB é, normalmente, pequena (não mais que 40 dias). Se foremobservadas as épocas recomendadas de semeadura, o fotoperíodo não chega a ser um fator limitante nas principais regiões produtoras do País, pois as cultivares lançadas apresentam comprimento de ciclo compatível com as características fotoperiódicas da região. Entretanto, o fotoperíodo pode ser limitante quando se pretende produzir arroz fora das épocas tradicionais de cultivo. 4.4.2. Temperatura A temperatura é um dos elementos climáticos de maior importância para o crescimento, o desenvolvimento e a produtividade da cultura do arroz. Cada fase fenológica tem sua temperatura crítica ótima, mínima e máxima. A temperatura ótima para o desenvolvimento do arroz situa-se entre 20ºC e 35ºC. Em geral, a cultura exige temperaturas relativamente elevadas da germinação à maturação, uniformemente crescentes até a floração (antese) e decrescentes, porém sem abaixamentos bruscos, após a floração. As faixas de temperatura ótima variam de 20ºC a 35ºC para a germinação, de 30ºC a 33ºC para a floração e de 20ºC a 25ºC para a maturação. A planta é mais sensível às baixas temperaturas no estádio de pré-floração. Para fins práticos, pode-se considerar o período do emborrachamento, que vai de 14 a 7 dias antes da emissão das panículas, como o mais sensível. A floração é o segundo estádio mais sensível às baixas temperaturas. Dependendo da sensibilidade das cultivares, temperaturas inferiores a 15ºC ou 20ºC induzem a esterilidade das espiguetas. Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 14 Em lavouras irrigadas, é possível minimizar o efeito do frio sobre a planta de arroz com elevação do nível da água na lavoura para 20 a 25cm, por aproximadamente 15 dias, durante o estádio mais sensível às baixas temperaturas. Essa prática, conhecida como “afogamento”, é recomendada para as cultivares modernas, de estatura mais baixa e de origem tropical, principalmente quando semeadas tardiamente, na zona sul do Rio Grande do Sul. Para evitar o efeito das baixas temperaturas, tanto a germinação como a emergência das plântulas podem ser retardadas em mais de 20 dias, sobretudo nas cultivares mais sensíveis. Em geral, as folhas das plântulas tornam-se cloróticas e apresentam uma taxa de crescimento muito baixa. Para o Estado do Rio Grande do Sul, mais sujeito a baixas temperaturas na época de implantação da cultura do arroz, a pesquisa recomenda a utilização, na medida do possível, de cultivares com bom vigor inicial, e que a semeadura não seja efetuada antes que a temperatura se estabilize acima de 12ºC, no início da primavera. O estádio mais sensível do arroz a altas temperaturas é a floração, seguida pela pré-floração. A ocorrência de temperaturas superiores a 35ºC pode causar esterilidade de espiguetas, principalmente se a cultura estiver sob limitado suprimento de água. Para um melhor emprego dos tratos culturais, a soma térmica, ou graus-dias, é caracterizada como o acúmulo diário de temperaturas que se situam acima da condição mínima e abaixo da máxima exigida pela planta. Ela expressa a disponibilidade energética do meio. Sua estimativa permite definir as fases fenológicas da cultura e, como conseqüência, oferecer informações para um melhor planejamento dos tratos culturais. No Rio Grande do Sul, a soma térmica, da emergência até a diferenciação do primórdio floral, tem sido utilizada para determinar a época de aplicação da adubação nitrogenada em cobertura. 4.4.3. Radiação solar A importância da radiação solar varia conforme as fases fenológicas do arroz. A fase vegetativa, por exemplo, apresenta baixa resposta à radiação solar. Os maiores incrementos na produtividade, para níveis crescentes de radiação solar, são obtidos, respectivamente, durante a fase reprodutiva e de maturação. Uma avaliação da quantidade de energia solar disponível nas distintas regiões produtoras de arroz sugere que, em princípio, a radiação solar não seria um fator limitante para os atuais níveis de produtividade. Produtividades em torno de 5 t/ha podem ser alcançadas com níveis de radiação solar de aproximadamente 300 cal/cm2/dia durante a fase reprodutiva. Valores superiores a este normalmente ocorrem nas regiões produtoras de arroz. Entretanto, devem ser buscadas alternativas que aumentem a eficiência no aproveitamento da radiação solar pela planta de arroz, para se alcançarem produtividades maiores. A eficiência na utilização da radiação solar é afetada pelo tipo de planta do arroz. Um ângulo foliar adequado permite que maior quantidade de radiação atinja as folhas inferiores do dossel, fazendo com que elas sejam fotossinteticamente mais eficientes, além de aumentar sua longevidade e permitir, também, maior perfilhamento. A densidade de fluxo de radiação solar diminui gradualmente à medida que a radiação penetra em uma população de plantas com folhas eretas e mais rapidamente naquelas com folhas decumbentes. Assim, a utilização de cultivares com folhas eretas é uma das principais características que apontam para o aumento da produtividade do arroz. 4.4.4. Deficiência Hídrica De maneira geral, o estresse hídrico não causa prejuízos severos à produtividade quando ocorre na fase vegetativa da planta. Entretanto, o arroz é muito sensível ao estresse hídrico na fase reprodutiva, especialmente durante a meiose (divisão Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 15 do núcleo da célula, na qual o número de cromossomos é reduzido da forma diplóide, 2n, para a forma haplóide, n) e o florescimento. Durante a fase vegetativa, os processos de perfilhamento e de alongamento das folhas são inibidos. Na fase reprodutiva, ocorre a inibição da emissão de panículas, resultando em panículas mal expostas, ou mesmo não emitidas. Outro sintoma é o dessecamento parcial ou total das espiguetas. Juntamente com a inibição da antese, esses sintomas resultam em alta esterilidade de espiguetas. É possível minimizar o efeito da deficiência hídrica no arroz de terras altas (sequeiro), observando as épocas de semeadura que proporcionam menor risco de ocorrência de estresse hídrico durante o ciclo da cultura, principalmente durante a fase reprodutiva, e identificando, por meio do zoneamento agroclimático, as regiões com menor chance de ocorrência de estresse hídrico. O zoneamento agroclimático consiste no estudo da precipitação pluvial diária e da evapotranspiração de uma região e, com base nesses elementos climáticos, no detalhamento de áreas e períodos mais apropriados ao cultivo do arroz, para reduzir as possibilidades de exposição da cultura a riscos climáticos. Para tanto, devem ser levados em consideração a capacidade de armazenamento de água do solo e o ciclo da cultivar. A classificação de risco climático para a cultura do arroz de terras altas é feita com base na relação entre a evapotranspiração real, que expressa a quantidade de água que a planta irá consumir nas condições consideradas, e a evapotranspiração máxima, que é o total necessário para garantir sua máxima produtividade. Quando essa relação, no estádio de floração, for igual ou maior que 0,65, a cultura do arroz estará exposta a baixo risco climático. O zoneamento auxilia os produtores na tomada de decisão, principalmente quanto às épocas de semeadura mais apropriadas e quanto ao ciclo das cultivares a serem utilizadas. Além disso, pode ser usado na política governamental para a cultura como instrumento orientador do crédito e do seguro agrícola, conforme os níveis de risco climático e da tecnologia empregada. De acordo com os estudos realizados até o momento, as áreas com menor risco climático são: o Estado de Mato Grosso, o centro-norte de Mato Grosso do Sul e o sudoeste Goiano, na Região Centro-Oeste; o Estado do Tocantins (exceto o sul) e o Estado do Pará, na Região Norte; o Estado do Maranhão e o Sul do Piauí, na Região Nordeste. A evapotranspiração é maior em populações de plantas de pequeno porte e com folhas eretas do que em populações de plantas deporte alto e com folhas decumbentes. 5. Cultivares A escolha da cultivar deve ser feita com base em diversos fatores, entre os quais destacam-se: - O conhecimento da cultura na região, - O conhecimento das características das cultivares (ciclo, altura da planta, resistência a doenças, qualidade do produto e produtividade), - O sistema de cultivo (várzeas ou terras altas), - A disponibilidade de água, - O nível de tecnologia a ser utilizada, - A fertilidade do solo, - O sistema de plantio, - A disponibilidade de sementes. Embora seja uma classificação empírica, em termos práticos existem três tipos de arquitetura de plantas de arroz nas lavouras orizícolas do Brasil, assim denominadas: Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 16 tradicional (gaúcha); intermediária (americana), semi-anã/filipina (moderna/filipina) e semi-anã/americana (moderna/americana). A distinção de grupos de plantas auxilia aqueles que estão envolvidos com a lavoura orizícola, pois facilita tomada de decisões quanto a práticas de manejo a serem adotadas, diagnóstico de estresses bióticos (doenças) e abióticos (frio) e até prognóstico de produtividade. As plantas de arquitetura tradicional, em geral, apresentam porte superior a 105 cm, baixa capacidade de perfilhamento, folhas longas e decumbentes-pilosas, rústicas, suscetibilidade à brusone, ciclo biológico médio ou semi-tardio, boa resistência às doenças de importância econômica secundária-rizoctonioses. Boa capacidade competitiva com plantas invasoras, no entanto acamam sob alta fertilidade natural ou quando recebem doses elevadas de nitrogênio. As plantas intermediárias, em geral, possuem o porte ao redor de 100 cm, folhas curtas, estreitas, semi-eretas e lisas. O ciclo, em geral, varia entre precoce e médio; baixa capacidade de perfilhamento; baixa resistência às doenças de importância econômica secundária, Grãos de alta qualidade e aceitação no mercado internacional, fácil degranação. Possuem suscetibilidade à brusone variável, porém a maioria é atacada sob níveis elevados de nitrogênio e deficiente manejo de água. As semi-anãs/filipina são todas as cultivares de porte baixo (ou semi-anão), inferior a 100 cm, folhas curtas e eretas (pilosas ou lisas) e de alta capacidade de perfilhamento. O ciclo biológico vai de precoce a tardio, reação intermediária às raças de brusone. As semi-anãs americanas incluem as cultivares de porte baixo (ou semi- anão/moderno), inferior a 100 cm. As plantas possuem folhas de superfície lisa; cor verde-azulada; curtas e hábito ereto e baixa capacidade de perfilhamento, característica que a diferencia das plantas do tipo moderna/filipina. As panículas são, geralmente, compactas com alta fertilidade de espiguetas, superando a da moderna/Filipina. O ciclo biológico vai de precoce a mediano, reação intermediária a brusone. A definição de planta moderna é bastante subjetiva. Geralmente, esse termo tem sido usado para designar uma planta de arroz com porte baixo, resistente ao acamamento e de folhas eretas. 5.1. Arroz cultivados em Terras Altas As principais cultivares de arroz para o cultivo em terras altas são: Primavera: indicada para plantio em áreas de abertura e áreas velhas, pouco ou moderadamente férteis, devido à sua tendência ao acamamento em condições de alta fertilidade. Pode também ser plantada em solos férteis, desde que os fertilizantes sejam utilizados com moderação. Tem apresentado bons resultados em diversas situações, tais como: Sistema Barreirão (plantio consorciado com pastagem), Sistema Plantio Direto em área de soja e até plantio em safrinha. Apresenta excelente qualidade culinária; contudo, para que se obtenha uma boa porcentagem de grãos inteiros no beneficiamento, a colheita deve ser feita com a umidade dos grãos entre 20 e 24%. Apresenta grãos longo-finos, de excelente aspecto e ampla aceitação comercial. Maravilha: recomendada para regiões com baixo risco de veranico, ou com disponibilidade de irrigação suplementar por aspersão ou, ainda, em várzea úmida não- sistematizada. Seus grãos são do tipo agulhinha. É moderadamente resistente à brusone e à escaldadura, e moderadamente suscetível à mancha de grãos. Por ser resistente ao Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 17 acamamento e responsiva à fertilidade, é recomendada para cultivo com alta tecnologia, inclusive sob pivô central. Seu crescimento inicial é lento, o que, somado à sua arquitetura de folhas eretas, torna-a pouco competitiva com plantas daninhas, exigindo, portanto, um bom controle. Caiapó: seu grão, embora não seja do tipo agulhinha, tem ótima aceitação no mercado, devido ao alto rendimento de inteiros e à boa qualidade culinária que apresenta. É recomendada para solos novos ou velhos, em níveis moderados de fertilidade, para evitar acamamento. Deve ser plantada o mais cedo possível, em plantio pouco denso, planejando-se medidas de controle de brusone, em situações de risco, principalmente nas áreas dos Cerrados e em regiões de maior altitude. Apresenta melhor produtividade em regiões onde a incidência de brusone é baixa. Carajás: de ciclo precoce, é indicada para áreas de fertilidade média ou alta, apresentando bom potencial de produção e pouco acamamento. Seus grãos são do tipo tradicional, longos e largos, o que pode levar a um preço inferior ao praticado para as cultivares de grão agulhinha nos mercados em que este padrão é o preferido. Canastra: apresenta boa produtividade nas mais diversas situações de plantio, em áreas velhas ou novas, adaptando-se a diferentes níveis de fertilidade. Em condições muito favorecidas tende a apresentar alta incidência de escaldadura e mancha de grãos. Tem boa resistência ao acamamento e pode alcançar alta produtividade. Seus grãos são da classe longo-fino e a qualidade de panela é regular. Bonança: cultivar semi-precoce, de porte baixo, resistente ao acamamento lançada em 2001, apresenta ampla adaptação a sistemas de manejo e tipos de solo. Seus grãos apresentam problemas de adequação a uma referida classe por terem dimensões próximas do limite entre elas, entretanto apresentam boa aparência e boa qualidade culinária, porém inferior à Primavera. Destaca-se pela excepcional estabilidade do rendimento de grãos inteiros, mesmo em circunstâncias em que ocorrem atrasos na colheita, dentro de certo limite. Carisma: cultivar semi-precoce, de porte baixo, resistente ao acamamento, de grãos da classe longo-fino. Pode ser cultivada em sequeiro, sob pivô central ou em várzea úmida, sem irrigação, apresentando alto potencial de produção. Necessita medidas de controle de brusone, quando cultivada em situações de risco desta doença. Tem grãos longo fino e de boa qualidade de panela. Talento: cultivar semiprecoce, de porte baixo, perfilhadora, resistente ao acamamento, de grãos da classe longo-fino. É uma cultivar de ampla adaptação, de ótimo potencial de produção e responsiva ao uso de tecnologia. Pode ser considerada uma opção para plantio em várzeas úmidas. De grãos translúcidos e boa qualidade de panela, pode ser disponibilizada para o consumo logo após a colheita. Os resultados obtidos, possibilitaram seu lançamento para cultivo a partir de 2002/2003, nos Estados de Goiás, Mato Grosso, Rondônia, Pará, Maranhão, Piauí e Tocantins. Tem se mostrado resistente à escaldadura e à mancha de grãos, mas em relação à brusone, a BRS Talento se comporta apenas como moderadamente resistente. Em locais de alta pressão da doença, necessita-se, portanto, adotar as medidas de controle recomendados. Soberana: como a Primavera é indicada para plantio em solos pouco ou moderadamente férteis, normalmente presente em áreas de abertura, devido à sua Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 18 tendência ao acamamento em condições de alta fertilidade. Pode também ser cultivada em solos férteis, utilizando menores doses de fertilizantes e espaçamentosmais largos, como 30 a 40 cm, para evitar acamamento. É ligeiramente menos resistente à seca que a Primavera e pôr isto deve ser preferida em áreas de melhor disponibilidade de chuva como o Centro Norte do Mato Grosso. Em condições experimentais tem-se mostrado menos suscetível à brusone e ao acamamento que a Primavera, mas não a nível de dispensar atenção em medidas ou práticas que reduzem os riscos de incidência destes dois fatores restritivos. Produz grãos com excelente qualidade culinária, todavia exige colheita com umidade dos grãos entre 20 a 24%, para que se tenha uma boa porcentagem de grãos inteiros no beneficiamento. As cultivares de arroz de terras altas recomendadas para os principais estados produtores de arroz no Brasil são: Caiapó: CE, GO, MT, MS, TO, MG, RR, MA, PI, SP, BA. Carajás: GO, MT, MS, TO, MA, PI, BA. Maravilha: AC, AP, AM, GO, MT, RO, AM, MS, TO, PA. Canastra: CE, GO, TO, MG, MA, PI, BA. Primavera: CE, GO, MT, RO, MS, TO, MA, PI, BA. Bonança: GO, MT, TO, PI, MA. Carisma: GO, MG, MS. Progresso: AC, AM, MT, RO, PA. Confiança: AP, MG, RR. Douradão: MG. Rio Doce: MG. IAC 165: SP. IAC 201: SP. IAC 202: SP. Xingu: AC, AP, AM, MA, RR, PA. 5.2. Arroz Irrigado A listagem completa e atualizada das cultivares de arroz registradas no Brasil está disponível para consulta na Internet (www.agricultura.gov.br/snpc). As cultivares de arroz de terras altas recomendadas para os principais estados produtores de arroz no Brasil são: EEA 406: RS. IAS 12-9: Formosa RS. Bluebelle: RS. BR Irga 409: MS, PR, RJ, RR, RR, RS e SC. BR Irga 410: MS, PR, RS e SC. BR Irga 412: MS, RR, RS. BR Irga 413: RS. BR Irga 414: MS, RR, RS e SC. IRGA 416: PA, RR, RS. BRS Chuí: PA, RS. BRS Taim: MS, RR, RS, PI, MA. El Paso L 144: RS. Irga 417: MS, RR, RS. BRS Ligeirinho: RS. BRS Agrisul: RS. Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 19 Supremo 1: RS. BRS Bojuru: RS. Irga 418: RS. Irga 419: RS. Irga 420: RS. BRS Atalanta: RS. BRS Firmeza: RS. Empasc 101: SC e norte do RS. Empasc 105: RJ, SC e norte do RS. Cica 8: SC, norte do RS, AP, CE, MA, MS, PI, RN, SE, PA, PR. IR 841: SC e norte do RS. Epagri 106: SC e norte do RS. Epagri 107: SC e norte do RS. Epagri 108: SC e norte do RS. Epagri 109: SC e norte do RS. BR IPA 101 (Moxotó) : PE. Cica 7: MA. Cica 9: ES, MS, PI, PR, RN. Diamante: AL, CE, MA, PB, PE, PI, RN, SE. Metica 1: AL, GO, MT, PI, PR, RJ, RN, TO, SE. Pericumã: MA. Pesagro 101: RJ. Pesagro 102: RJ. Pesagro 103: RJ. Pesagro 104: RJ. Pesagro 105: RJ. Pesagro 106: RJ. Pesagro 107: RJ. São Francisco: AL, PE, SE. Javaé: GO, RR, TO. IAC 100: SP. IAC 101: SP. IAC 102: SP. IAC 103: SP. IAC 104: SP. IAC 238: SP. IAC 242: SP. IAC 4440: SP. Formoso: GO, TO. Aliança: ES, GO, MT, MS. Jequitibá: MG. Sapucaí: MG. MG 1: MG. Inca: ES, MG, MS, RJ. 6. Ciclo de desenvolvimento do arroz Quanto ao ciclo de desenvolvimento, as cultivares de arroz irrigado do clima subtropical do Sul do Brasil, variam, no Rio Grande do Sul, entre super-precoce (<100 dias), precoce ( 110-120 dias), médio (121-130 dias) e semi-tardio ( >130dias). Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 20 Em Santa Catarina e no Mato Grosso do Sul e nos demais estados produtores, o ciclo é definido como precoce (< 120 dias), médio (121-135 dias), semi-tardio (136-150 dias) e tardio (> 150 dias). Uma classificação mais geral, de acordo com o número de dias decorridos entre o plantio e a maturação de colheita, as cultivares de arroz são classificadas como: Precoces: até 115 dias, Intermediárias: de 115 a 135 dias, Tardias: mais de 135 dias. Em condições similares, as cultivares com maior duração de crescimento podem ser mais produtivas do que as de ciclo curto, pois têm mais tempo para produzir e acumular fotoassimilados. As cultivares precoces de terras altas podem ser mais produtivas que as de ciclo médio, quando escapam dos efeitos de veranicos. 7. Sistemas de Cultivo O arroz no Brasil é produzido nos ecossistemas de várzea e de terras altas, sob diversos sistemas de cultivo. O sistema irrigado, responsável por aproximadamente 60% da produção nacional, predomina nas várzeas da Região Sul do país, onde é tradicionalmente conduzido em rotação com pastagem. Nesse sistema, o cultivo mínimo, o plantio direto e, mais recentemente, o pré-germinado, especialmente no Estado de Santa Catarina, estão se expandindo rapidamente. Nas demais áreas produtoras, situadas na região tropical, o uso de várzeas com e sem irrigação controlada são alternativas comuns. O plantio deste tipo de arroz ocorre nos meses de outubro, e nos meses de novembro, dezembro e janeiro do ano seguinte a lavoura é alagada, exigindo uma grande quantidade de água, normalmente oriunda de açudes, ou bombeada de rios. A colheita é realizada no período de março a maio. A cultura do arroz no ecossistema de terras altas vem se apresentando como um componente fundamental em sistemas agrícolas, tanto em cultivo sem irrigação como irrigado por aspersão, enquanto o sistema de sequeiro tradicional, de abertura de novas áreas, está diminuindo em importância. O plantio em terras altas, das plantas não irrigadas artificialmente, ocorre de outubro a dezembro. A irrigação é feita através de chuvas que ocorrem no período de outubro e se estende até maio. A colheita inicia de janeiro e vai até maio, dependendo da variedade e local de plantio. O desenvolvimento de cultivares de arroz mais produtivas e de melhor qualidade de grão, associado à utilização de técnicas de manejo adequadas, poderá permitir o país atingir a auto-suficiência e até exportar arroz dentro de um prazo relativamente curto. Arroz inundado e cultivado em sequeiro 7.1. Ecossistema de Várzeas Caracteriza-se pela condição anaeróbica de desenvolvimento radicular da planta, o que implica uma série de transformações químicas, microbiológicas e físicas, que influenciam, não só o desenvolvimento da planta de arroz, como também a absorção de nutrientes e o manejo do solo. Pascoal Realce Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 21 De uma maneira geral, os solos apropriados para o cultivo de arroz nas várzeas caracterizam-se por serem hidromórficos e apresentarem topografia plana, sendo, consequentemente, suscetíveis a inundações nos períodos de chuva. Por possuírem horizontes argilosos, que apresentam condutividade hidráulica baixa, são também de difícil drenagem. Essas condições favorecem o cultivo de arroz, não sendo, contudo, adequadas para utilização com outras culturas. Nesse ecossistema, a cultura do arroz pode ser encontrada sob cultivo de várzeas sistematizadas, com controle da lâmina de água, como também em várzeas úmidas, não sistematizadas, irrigadas pela água da chuva ou pela elevação do lençol freático. 7.1.1. Sistema irrigado por inundação controlada A maior parcela da produção de arroz no país é proveniente do sistema irrigado por inundação, sendo cultivado em várzeas sistematizadas e com controle de lâmina de água. Esse sistema é predominante na Região Sul do Brasil. Entretanto, nas propriedades agrícolas, o nível de controle da água pode variar desde áreas bem sistematizadas, onde o agricultor coloca e retira a água quando é conveniente ao cultivo, até lavouras onde o mau nivelamento impede o controle da lâmina de água e a má drenagem não permite o manejo eficiente do sistema. Os métodos de preparo do solo e de semeadura dependem do nível de sistematização do terreno. Em áreas em desnível, são utilizados o sistema convencional, o cultivo mínimo ou o plantio direto, com semeadura em solo seco. Em áreas sistematizadas, a tendência atual é o plantio com sementes pré-germinadas cuja preparação é feita com o solo seco ou inundado. O custo da água é um componente importante no custo de produção total. Quando se compara o consumo de água entre os sistemas convencional, pré-germinado, cultivo mínimo e plantio direto,os resultados indicam que a semeadura com sementes pré-germinadas consome menos água que os demais sistemas, principalmente em relação ao convencional. O sistema tradicional de cultivo tem contribuído para a degradação das condições físicas e químicas dos solos hidromórficos, além de facilitar a disseminação das espécies daninhas, principalmente do arroz vermelho, também conhecido como arroz daninho, que representa um dos principais problemas da cultura. O cultivo mínimo e o plantio direto, bem como o pré-germinado, ajudam no controle das plantas daninhas, inclusive do arroz vermelho, e permitem maior integração da agricultura e da pecuária. Em geral, os agricultores iniciam com o cultivo mínimo, reduzindo o preparo do solo a gradagens leves e aplicação de herbicidas dessecantes antes do plantio. Com o decorrer do tempo e o ganho de experiência, passam ao plantio direto, que é a semeadura do arroz sobre cobertura vegetal morta, sem nenhum preparo anterior. Além de prevenir a erosão e reduzir os custos com a aplicação de fertilizantes, as vantagens atribuídas a esse sistema são: maior retenção da umidade do solo; melhor controle de plantas daninhas; mais tempo útil de trabalho no período de semeadura; otimização do uso de máquinas, insumos e mão-de-obra; melhoria das características fisioquímicas dos solos; e facilidade para rotação de culturas. 7.1.2. Sistema de várzea úmida O cultivo do arroz nesse sistema caracteriza-se pelo baixo nível de insumos. Em geral, este tipo de exploração utiliza alto índice de mão-de-obra familiar, pequenas áreas e máquinas de pequeno porte, não existindo a preocupação com a construção de sistemas de controle e eliminação de água. As cultivares normalmente usadas são as tradicionais e o plantio é feito por meio de semeadura direta ou do transplante de mudas. A época de plantio é limitada pela capacidade de manejar o solo, ou seja, uma vez Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 22 iniciadas as chuvas, nos meses de outubro ou novembro, inicia-se de imediato o preparo do solo e a semeadura. Áreas extensivas de cultivo de arroz em várzeas úmidas são observadas às margens de rios como o Araguaia, no Estado do Tocantins. Nessa situação, as áreas são grandes (maiores que 100 ha) e o cultivo é mecanizado, embora o nível de utilização de insumos continue sendo baixo. O plantio segue sendo limitado pela capacidade de operacionalização do processo, mas, devido à limitada possibilidade de uso de mão-de- obra, é sempre direto e em solo seco. As cultivares normalmente utilizadas são do tipo moderno, como Cica 8 e Metica 1. 7.2. Ecossistema de Terras Altas Caracteriza-se pela condição aeróbica de desenvolvimento radicular da planta. 7.2.1. Sistema sem irrigação (Sequeiro) A Região Centro-Oeste é a mais importante no cultivo do arroz de sequeiro tradicional mecanizado. Nessa região, em geral, os solos são Latossolos muito profundos, com boas características físicas, mas de baixa fertilidade. O pH varia de 4,5 e 5,5, os níveis de fósforo e potássio são baixos e a saturação de alumínio elevada. A pluviometria anual está ao redor de dos 1.500 mm, bem distribuídos entre os meses de outubro e abril, sendo que, quanto mais ao norte, maior a quantidade total de chuva. Todavia, durante os meses de janeiro e fevereiro, no sul da Região Centro Oeste, podem ocorrer períodos de estiagem (veranicos) de até 30 dias. Com base na quantidade de água disponível para as raízes, as áreas onde se planta arroz de sequeiro no País podem ser caracterizadas em cinco classes, abrangendo desde áreas consideradas muito favoráveis até aquelas muito desfavoráveis. A maior parte da Região Norte é considerada como muito favorável; o Estado do Tocantins, o norte de Goiás, o estado do Mato Grosso e o do Maranhão são áreas favoráveis, enquanto o sul de São Paulo e do Mato Grosso do Sul e norte de Minas Gerais são regiões desfavoráveis. A meso-região sul maranhense (área de cerrado), é considerada desfavorável, bem como o sudeste do Estado do Piauí. Na região dos cerrados, as propriedades agrícolas caracterizam-se por serem bastante extensas. Um estudo de amostragem feito em 200 fazendas da região Centro Oeste, indicou que, no Mato Grosso do Sul, 50% das propriedades possuíam área maior que 1.000 ha e, no Estado de Goiás, existiam 31% nesse grupo e 33% entre 500 e 1.000 ha. Ainda que exista um significativo número de pequenos produtores de arroz, sua importância, em termos de produção total, é pouco relevante. O sistema tradicional mecanizado de cultivo de arroz de sequeiro vem sendo utilizado desde o início da década de 70, quando as políticas governamentais, através de créditos diferenciados e assistência técnica, estimularam a utilização dos cerrados para a produção de alimentos. O arroz, por sua rusticidade e tolerância à acidez, foi utilizado nessa região como elemento de abertura de novas áreas para a implantação de pastagens melhoradas e outras culturas como o milho e a soja. Sob essas condições, a deficiência hídrica era o principal fator limitante à produção. Nessa região, o sistema de produção do arroz de sequeiro caracteriza-se pela utilização de máquinas em todas as operações agrícolas. Portanto, a utilização de mão- de-obra é baixa e requer especialização. Embora exista tecnologia desenvolvida para esse sistema de cultivo, o agricultor em geral não a utiliza, seja por desconhecimento ou por falta de interesse. Assim, as características básicas desse sistema podem ser descritas como: baixa utilização de insumos; preparo do solo mal feito ou inadequado (uso intensivo de grades aradoras); mau manejo da cultura; e utilização de cultivares não adaptadas e de baixo potencial produtivo. A instabilidade climática durante o período de cultivo e a ocorrência de doenças (brusone) e pragas (cupins), influenciaram Pascoal Realce Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 23 de maneira marcante a resposta do arroz de terras altas e levaram a atribuir a essa cultura o rótulo de “cultura de alto risco”, que, de fato, manejada dessa forma, apresenta produtividades médias raramente superiores a 2.000 kg/ha. Quando manejada de maneira adequada e dentro de uma visão sistêmica, a cultura do arroz é capaz de apresentar produtividades que facilmente ultrapassam 3,0 t/ha. Dentro desse novo panorama, os problemas ligados à produtividade e à fixação da cultura nos novos sistemas agrícolas deixam de ser relacionados apenas ao manejo e passam a ser, prioritariamente, de caráter genético, com a necessidade de desenvolvimento de cultivares produtivas e, principalmente, com qualidade de grão competitiva no mercado nacional. Na década dos anos 80, devido à importância crescente da cultura da soja, à necessidade de abertura de áreas nas regiões climaticamente mais favoráveis, à rotação de culturas e à presença de agricultores mais tecnificados, o arroz passou a ser visto como uma alternativa economicamente rentável para o sistema agrícola a região. Na região Centro Oeste houve incrementos na produtividade da cultura, apesar de, em algumas áreas, ter sido substituída por outros cultivos. Como a condição básica para a existência desse sistema é a disponibilidade de água através da chuva, o cultivo é feito no período do verão, entre os meses de outubro e abril. Existem épocas ideais de semeadura do arroz nos diferentes municípios da região dos cerrados, definidos com base no regime pluvial e no balanço hídrico simulado. Porém, a decisão do agricultor sobre o momento ideal de plantio considera outros fatores relevantes e de caráter pessoal como, entre outros: a disponibilidade e a capacidade do maquinário; a disponibilidade de recursos financeiros, geralmente vinculados à liberação de financiamento bancário; e o tamanho da lavoura. A conjugação destes fatores faz com que, na prática, o período de plantio se estenda até o início de fevereiro, aumentando assim os riscos de ocorrência de veranicosna fase reprodutiva da cultura e levando a decréscimos significativos da produtividade. O sistema de sequeiro consorciado baseia-se na utilização de áreas em pousio por vários anos. As operações utilizadas no cultivo do arroz podem ser descritas em: roçada, retirada de tocos e raízes, queimada; limpeza e plantio. Quase que na totalidade, essa estrutura de produção utiliza a participação de mão-de-obra familiar, com práticas culturais e de colheita tradicionais. O uso de insumos é praticamente inexistente. No estado do Maranhão, segundo maior produtor de arroz no país, as condições climáticas contribuíram de maneira decisiva para que o arroz fosse escolhido como a cultura principal do sistema consorciado. A crescente presença da pecuária substituindo as áreas de lavoura fez com que, cada vez mais, a produção de grãos fosse deslocada para áreas marginais e deixada nas mãos de pequenos agricultores. Na Região Sudeste do país, a distribuição pluvial é irregular e frequentemente ocorrem veranicos nos meses de janeiro a fevereiro nas regiões produtoras (sudeste de Minas Gerais, nordeste de São Paulo). As tecnologias geradas recentemente não tem sido suficientes para recuperar a perda dos níveis de área plantada com a cultura. Os agricultores de arroz de sequeiro apontam como principal fator responsável por esta situação a inferior qualidade de grão das cultivares de sequeiro, quando comparada à do sistema irrigado. No Estado do Paraná, na Região Sul do Brasil, a cultura do arroz de sequeiro foi importante até a década de 70 como elemento desbravador de áreas para a implantação de lavouras de soja e trigo, na porção sul do estado. Na região norte, abriu espaço para a cafeicultura, com a qual esteve associado como cultura intercalar. A evolução dos preços dos produtos agrícolas e pecuários favoreceu a expansão do binômio soja/trigo e Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 24 a implantação de pastagem em áreas de arroz. Atualmente o arroz de sequeiro é plantado em áreas marginais, sujeitas a estiagens. O arroz de terras altas, cultivado no sistema de sequeiro tradicional, é encontrado em praticamente todos os estados brasileiros. Os estados descritos acima são os mais representativos, por isso os aspectos mais relevantes da cultura foram ressaltados em cada estado. 7.2.2. Sistema com irrigação suplementar por aspersão Esse sistema de produção predomina nos Estados de Minas Gerais, Goiás, Bahia, São Paulo e Mato Grosso do Sul. A diferença básica entre este sistema e o anterior, nas suas diversas variantes, está na capacidade do agricultor em efetuar irrigação suplementar em suas lavouras sempre que necessário, eliminando assim os riscos decorrentes da falta ou má distribuição das chuvas. Esse sistema proporciona maior estabilidade da produção e segurança para aplicação de investimentos e insumos. Trabalhos de pesquisa indica aumentos de produtividade da ordem de 70% quando, no arroz plantado sob condições de cerrado, é utilizada irrigação suplementar. Segundo técnicos em irrigação, um país deve ter entre 12 e 15% de sua área agrícola sob irrigação. O Brasil ainda não alcança esses valores, embora na década de 80 as políticas governamentais (créditos e assistência técnica) tenham estimulado os agricultores das Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste a utilizarem a irrigação como alternativa para incrementar a produção de alimentos no país. O sistema de cultivo de arroz com irrigação por aspersão caracteriza-se pelo intenso uso do solo, com rotação de culturas e elevado uso da tecnologia. Os plantios feitos na estação chuvosa (outubro-maio) fazem uso da irrigação de forma suplementar. É sabido que no início do período das águas, a ocorrência de precipitações é errática e também que, nos meses de janeiro e fevereiro, pode acontecer um período de estiagem. De um modo geral, o agricultor que usa irrigação por pivô central cultiva o feijoeiro durante o inverno, ou mesmo trigo, utilizando milho, arroz ou soja durante o verão. O milho representa cerca de 80% da rotação de culturas nas áreas sob pivô. O arroz, embora venha sendo pouco utilizado, é a cultura de maior potencial para o sistema no futuro. Os agricultores, em geral, observam as recomendações técnicas, utilizando fertilização adequada e fazendo bom manejo cultural. Sob essas condições, as cultivares de arroz utilizadas no sistema, embora ainda apresentem algumas limitações, produzem entre 3,5 a 5,0 t/ha. Contudo, para que o arroz seja um componente rentável nesse sistema, a cultivar deve possuir algumas características, como: ciclo curto, resistência ao acamamento; elevado potencial produtivo; e boa qualidade do grão. Além disso, dados experimentais evidenciaram que a cultivar adequada ao sistema de cultivo com irrigação por aspersão deve apresentar tipo de planta intermediário entre o sequeiro tradicional e o irrigado. Não há domínio completo do sistema de cultivo, sendo necessário estudos adicionais para o ajuste ou adaptação de práticas de manejo que o tornem mais eficiente. Há alguns anos atrás já eram percebidos problemas, além dos atuais como a autotoxicidade, fator que limita o desenvolvimento do arroz quando plantado por anos consecutivos na mesma área, mesmo que em rotação com o feijão. A curto prazo, as expectativas para o incremento da área com irrigação utilizando o pivô central são limitadas, visto ser este um sistema que requer elevado investimento inicial para sua implantação. Mas considerando-se a área disponível no país para a prática de agricultura sob pivô central, é possível antever a possibilidade de crescimento da área plantada com Pascoal Realce Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 25 arroz dentro desse sistema, já que a cultura, nos últimos anos, vem apresentando vantagens econômicas em relação ao milho, no sistema de rotação com o feijão. 7.3. Consórcio Arroz/Pastagem No Brasil, o sistema de cultivo que envolve a associação de arroz e pastagens, conhecido pela denominação de “Sistema Barreirão”, fundamenta-se na necessidade dos pecuaristas da região dos cerrados em implantar ou renovar suas pastagens a um custo baixo. Embora os conhecimentos científicos sobre esse sistema tenham sido desenvolvidos há quase 20 anos, o agricultor já o utilizava de maneira rudimentar em suas fazendas. Após a derrubada da vegetação no cerrado, a implantação da cultura do arroz era, e até certo ponto continua sendo uma prática usual. A partir do segundo ano de cultivo do arroz, alguns pecuaristas, na urgência de formar pastagens, passavam a semear, sem nenhum embasamento técnico, o arroz misturado às sementes da planta forrageira. No momento da colheita, o arroz era visto não como um produto de interesse comercial, mas apenas como um componente que contribuía para reduzir os custos de implantação da pastagem. O uso da cultura do arroz para essa finalidade, sem a preocupação com o uso de insumos ou qualquer tipo de tecnologia, contribuiu sobremaneira para que o arroz fosse encarado como “cultura de risco”. Basicamente, o sistema pode ser descrito iniciando por um bom preparo do solo, com aração profunda e com fertilização de acordo com a análise de solo e com os requerimentos da cultura do arroz. O arroz (2-3 cm) e a forrageira (8 cm) são semeados juntos, mas a diferentes profundidades, sendo a semente da pastagem semeada mais profundamente. Após a colheita do arroz, deve observar-se um período de tempo necessário à recuperação e desenvolvimento da forrageira, antes de colocar os animais para pastoreio. Algumas das vantagens e resultados preconizados pelo sistema são: incremento na produção de arroz; implantação ou renovação de pastagens a um custo relativo mais baixo; melhor desenvolvimento da pastagem; redução na infestação por plantas daninhas e cupins; e maior número de animais por unidade de área. 7.4. Rotação de Culturas O monocultivo do arroz de sequeiro diminui o potencialprodutivo do solo devido a fatores não totalmente conhecidos. Alguns autores chamam este fenômeno de “doença do solo”. A cultura conduzida sob a influência destes fatores apresenta redução do crescimento e da produtividade. Sistemas de produção adequados, como a rotação de culturas, resultam na preservação das características físicas do solo, na otimização da disponibilidade química e hídrica do solo, na convivência com os compostos alelopáticos liberados pelas culturas e na redução da incidência de pragas e doenças de solo. A capacidade do solo da região dos Cerrados em manter a produtividade do arroz de sequeiro em monocultura sucessiva é diminuída a partir do segundo ano de exploração. Sistemas de produção que envolvam rotação de culturas e manejo adequado do solo podem manter a sustentabilidade desses solos é tornar o cultivo do arroz de sequeiro um empreendimento economicamente ativo. A redução da produtividade, muitas vezes pela metade, é conseqüência de diversos fatores, isolados ou em conjunto. Sabe-se que um desses fatores diz respeito a produtos excretados pelas raízes do arroz que permanecem no solo, prejudicam o seu próprio desenvolvimento (autotoxicidade ou autotoxidez) e provocam diferenças entre o número de determinados organismos da rizosfera e entre fileiras no campo. Pascoal Realce Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 26 O uso de leguminosas nos sistemas de rotação de culturas é indispensável, principalmente aquelas apresentando sistema radicular profundo. A cultura do arroz em rotação com o guandu (Cajanus cajan L.) apresentou um aumento na produção de 75,2%. 8. Preparo do Solo, Adubação e Calagem Convencionalmente, o preparo do solo para o arroz cultivado em terras altas é realizado com implementos de discos, como a grade aradora, e o preparo para arroz cultivado em várzeas é feito com grade aradora ou enxada rotativa. Na escolha de um sistema de preparo do solo para a cultura do arroz devem ser considerados os fatores relacionados às economias de combustível e de tempo, e às conservações do solo e da água, evitando-se, principalmente nos cultivos realizados em terras altas, o uso continuado, por vários anos, de um único tipo de equipamento agrícola, operando na mesma profundidade ou muito superficialmente, para evitar a formação de camadas compactadas no solo. 8.1. Terras altas A maioria dos solos de cerrado onde o arroz de terras altas é cultivado são Oxissolos e possuem baixa fertilidade. Os valores médios das propriedades químicas dos solos de cerrado em estado natural são: pH 5,2; P < 2 mg kg-1 , K < 50 mg kg-1; Ca <1,5 cmolc kg -1; Mg <1 cmolc kg-1, Zn e Cu em torno de 1 mg kg-1, matéria orgânica na faixa de 15 a 25 g kg-1 e saturação por bases < 25%. Com base nestes dados, pode-se concluir que os solos de cerrado são ácidos e de baixa fertilidade, o que evidencia o manejo da fertilidade como um dos aspectos mais importantes para a produção das culturas na região. Na escolha do método de preparo do solo do arroz de terras altas devem ser observados os seguintes aspectos: • O teor de umidade do solo deve ser adequado à realização da operação, isto é, o solo não deve estar nem muito seco nem muito úmido. • A presença de restos culturais e de plantas daninhas na área, que é importante para determinar a seqüência de utilização de arados, grades e roçadoras. • A profundidade de mobilização do solo e a capacidade de trabalho devem ser consideradas na escolha do tipo de equipamento. • O período de preparo, ou seja, os dias disponíveis para o preparo do solo, deve ser levado em conta, a fim de dimensionar os equipamentos e planejar os trabalhos. • É necessário identificar a presença e a localização de compactação no solo, o que auxilia na escolha e na regulagem do equipamento para romper a camada compactada. • No caso de cultivo irrigado, o uso de irrigação e a ausência de camadas superficiais de solo compactado dispensam o preparo profundo do solo. O preparo inadequado do solo interfere em diversas fases do processo de produção do arroz. A presença de torrões grandes, superfície do solo irregular e ajuntamento de restos vegetais na superfície do solo, em decorrência de preparo e incorporação deficientes do material vegetal, podem afetar a operação de semeadura mecanizada, comprometendo a qualidade do plantio. Nessas condições, a uniformidade de plantio adequada pode não ser alcançada, em decorrência da distribuição irregular das sementes ao longo da linha de plantio. A profundidade de semeadura pode também ser afetada, por ser ora muito superficial, ora muito profunda, o que prejudica a germinação das sementes e a obtenção de estande adequado de plantas. Ademais, a presença de camadas compactadas e a desagregação excessiva do solo o predispõem à erosão, dificultam a infiltração da água e afetam o desenvolvimento radicular. A Pascoal Realce Pascoal Realce Pascoal Realce Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 27 incorporação superficial de sementes de plantas daninhas e a aplicação de herbicidas em épocas inadequadas aumentam a competição dessas plantas com a cultura do arroz, afetando a produtividade. Quando o preparo é feito com o solo muito úmido, ocorrem danos físicos em sua estrutura, principalmente no sulco onde trafegam as rodas do trator, e aderência nos órgãos ativos dos implementos, a ponto de inviabilizar a operação. Por seu turno, o preparo com o solo muito seco exige maior número de operações para o destorroamento e maiores gastos de combustível e de tempo. O teor adequado de umidade corresponde ao ponto de friabilidade do solo, ou seja, o ponto em que a umidade é tal que, ao comprimir-se uma porção do solo na mão, ela é facilmente moldada, mas também esboroa-se com facilidade tão logo cesse a força de compressão. Nessas condições, o trator opera com o mínimo de esforço, produzindo melhor qualidade na operação que estiver realizando, em termos de estrutura, tamanho de agregados, porosidade do solo e controle de plantas daninhas. O método convencional de preparo do solo é realizado com o emprego de arados e grades leves, médias ou pesadas. As grades leves, médias e pesadas possuem, respectivamente, até 50 kg, de 50 a 130 kg e mais de 130 kg de massa em cada disco. No preparo com arado, é feita uma operação com arado de disco, para revirar a leiva do solo e incorporar restos de culturas e plantas daninhas, seguida de duas gradagens leves, sendo uma imediatamente após a aração (com o objetivo de quebrar os torrões), e outra no ato do plantio (para nivelar o solo e eliminar as plantas daninhas novas). No preparo com grade, são feitas duas gradagens com grade aradora média ou pesada, ou combinando grade aradora com grade leve. O tempo para preparar o solo varia de acordo com o método empregado. Utilizando-se um arado de três discos e uma grade leve de 30 discos, são necessárias de 5 a 6 h/ha. Com uma grade aradora média ou pesada, são necessárias de 2 a 3 h/ha. No método com arado de disco, o perfil do solo preparado é heterogêneo, em virtude do desempenho inadequado desse implemento que, na presença de restos culturais e plantas daninhas, penetra irregularmente no solo. Nessa situação, além dos obstáculos criados à operação da semeadura, a lenta decomposição dos resíduos pode afetar a disponibilidade e/ou a absorção de nitrogênio e provocar o amarelecimento das plantas. O arado de disco não descompacta o solo convenientemente, saltando os pontos de maior resistência, principalmente nos solos com pouca umidade. O método de preparo do solo com grade aradora é aconselhável para o cultivo do arroz de terras altas, desde que seja evitado o uso continuado desse implemento, pois tal procedimento provoca formação de camada compactada na soleira da gradagem. Essa compactação localiza-se superficialmente, porque as grades têm baixa capacidade de penetração em comparação aos arados. A soleira compactadadificulta a infiltração de água no solo e o desenvolvimento radicular do arroz abaixo dessa camada, o que pode afetar a produtividade. Para solucionar esses problemas, é importante a alternância da profundidade de trabalho da grade aradora, sem prejudicar a qualidade do preparo do solo, ou a alternância da profundidade de aração pela utilização de outros tipos de equipamentos. Um detalhe importante é que as grades aradoras realizam, numa só operação, a aração e a gradagem. O método de preparo profundo do solo com incorporação das restevas com grade antes da aração consiste na inversão da ordem de realização das operações de preparo, sendo denominado de “aração invertida”. Inicialmente, faz-se a gradagem do terreno com a grade aradora média ou leve, fazendo a pré-incorporação das plantas daninhas ou dos restos culturais e, de 10 a 30 dias depois, realiza-se a aração com arado de aiveca, em profundidade superior a 25 cm. Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 28 As vantagens de se utilizar este método são: • Incorporação mais homogênea dos restos culturais no perfil arado, da superfície até a soleira da aração. • Maior facilidade para realizar a aração, em virtude do desenraizamento das soqueiras e das plantas daninhas e a formação de uma boa estrutura no solo. • Melhor homogeneização e estruturação do perfil do solo arado. • Redução sensível dos riscos durante curtos e médios períodos de estiagem, em decorrência do maior armazenamento de água no perfil do solo, do enraizamento mais vigoroso e profundo e das melhorias das propriedades do solo. • Não-formação de “pé-de-grade” superficial. • Incorporação profunda das sementes das plantas daninhas, dificultando sua germinação. Esse método de preparo deixa o solo bem nivelado e com uma boa estrutura em termos de tamanho de agregados. Se o teor de umidade do solo e a regulagem do arado forem adequados por ocasião do preparo, o plantio poderá ser feito sem necessidade de gradagem de nivelamento ou, no máximo, após uma operação de grade leve, a fim de preservar a porosidade e a estrutura criada pela aração. O método do cultivo mínimo tem como principais objetivos a manutenção da estrutura do solo, a adoção de procedimentos que visam diminuir, ao mínimo necessário, as operações primárias e/ou secundárias de preparo do solo e a redução dos custos. Consiste na utilização de implementos como o arado escarificador ou a grade niveladora, para romper apenas a camada superficial adensada e, no caso da grade, para controlar as plantas daninhas de pequeno porte. O arado escarificador rompe o solo a uma profundidade de 20 a 30 cm, mantendo grande parte dos resíduos vegetais na superfície, que protege o solo da erosão. Além dessa vantagem, o escarificador permite o preparo de solo seco e proporciona maior rendimento operacional e maior economia de combustível e de tempo de operação, se comparado com os arados de disco e de aiveca. O método de plantio direto é um método de semeadura no qual a semente e o adubo são colocados diretamente no solo não revolvido, usando-se semeadoras/ adubadoras especiais. É recomendado para solos descompactados, com fertilidade homogênea no perfil de 0 a 40 cm, sendo o controle de plantas daninhas dependente de herbicidas. A superfície do terreno deve possuir uma camada de restos culturais que auxilia na conservação do solo e da umidade do perfil. Os discos são utilizados no sistema de plantio direto e têm a função de cortar os restos de culturas e as plantas daninhas, visando facilitar o trabalho dos mecanismos sulcadores na deposição do adubo e da semente no solo. A largura de sulco formado pelos discos lisos, estriados e ondulados é de até 3, 5 e 9 cm, respectivamente. Sulcos mais estreitos são preferidos por demandar menor esforço de tração e revolver menos o solo. Nos solos argilosos e úmidos, o pior desempenho é proporcionado pelo disco ondulado, pois nele ocorre muita aderência de solo, seguido pelo dos discos estriado e liso. Nos solos arenosos, secos ou úmidos, o comportamento dos três tipos de disco é semelhante, diferindo basicamente na largura do sulco e na exigência de força para o tracionamento. No solo seco, o poder de penetração do disco liso no solo é maior que o dos estriado e ondulado. A baixa fertilidade dos solos de cerrado é bastante conhecida. Esses solos possuem teores extremamente baixos de nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio Pascoal Realce Pascoal Realce Grandes Culturas – Professor Fábio de Lima Gurgel 29 e zinco. Além de pouco férteis, os solos de cerrado são extremamente ácidos, o que diminui a disponibilidade de nutrientes para as culturas. Entre os nutrientes essenciais, o nitrogênio, o fósforo e o potássio são os que a planta necessita em maior quantidade. Para a incorporação dos solos de cerrado ao processo produtivo é indispensável o uso adequado de adubação e calagem. O uso adequado de adubação não somente aumenta a produtividade, mas também reduz o custo da produção e propicia maior retorno econômico para os produtores. Ainda, a aplicação de adubação e calagem de acordo com a necessidade da cultura, reduz o risco de degradação do meio ambiente. A quantidade de N recomendada está em torno de 90 kg ha-1 aplicado em duas vezes, metade no plantio e o restante na época do perfilhamento ativo. Se o arroz é plantado após soja, uma redução de 30 kg N ha-1 é recomendada. A aplicação de P depende da análise do solo, quando o teor de P é menor que 5 mg kg-1, a aplicação de 100 a 120 kg P2O5/ha é recomendada. A aplicação de K também é feita com base na análise do solo. Quando o K está na faixa de 25 a 50 mg kg-1, uma aplicação de 80 kg K2O/ha é recomendada. Quando o teor de K é maior de 50 mg kg-1, a aplicação de adubação de manutenção em torno de 50 kg K2O/ha é recomendada. Com relação os micronutrientes, a deficiência de Zn é comumente observada em arroz de terras altas. A deficiência de Zn pode ser corrigida com a aplicação de 5 kg Zn/ha. O pH adequado para o arroz de terras altas está em torno de 5,5. Em geral, as culturas não se desenvolvem satisfatoriamente em solos muito ácidos. Entretanto, certas espécies toleram melhor a acidez, como é o caso do arroz de terras altas. Embora a cultura do arroz de terras altas não responda ou responda pouco ao calcário, isso não significa que a calagem não deva ser recomendada. A calagem para a cultura do arroz de terras altas deve ser feita com vista, prioritariamente, ao suprimento nutricional da planta em Ca e Mg, e não como meio de correção de acidez. Na cultura do arroz, a prática da calagem deve ser encarada com cautela, devendo ser considerada apenas quando o arroz for utilizado em sistema de rotação. Na rotação do arroz com culturas como milho, soja e feijão, que não toleram níveis muito altos de acidez e possuem necessidades mais elevadas de Ca e Mg, é comum, em situações onde a correção da acidez do solo é feita com altas doses de calcário, a indução, no arroz, de deficiências de micronutrientes, como Zn e Fe, em solos de Cerrado com baixa disponibilidade desses nutrientes. Nessas condições, recomenda-se uma prévia correção do solo com micronutrientes e uma aplicação de calcário em quantidade suficiente para manter o pH em torno de 5,8 a 6,0. Existem muitos materiais que podem ser utilizados para corrigir a acidez do solo, entre os quais óxidos e/ou hidróxidos de Ca e/ou de Mg, silicatos, carbonatos, etc. Os carbonatos, comumente denominados de calcários, são os mais empregados, por terem menor custo e serem encontrados em quase todos os Estados brasileiros. Ressalte- se, entretanto, que existe grande variação de qualidade entre os calcários disponíveis no mercado. Entre as tecnologias geradas que permitiram a utilização agrícola de solos ácidos, destacam-se o emprego de fertilizantes como fonte de nutrientes e de calcário como corretivo da acidez natural dos solos, sem o que teria sido impossível
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