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Infecções em cirurgias Introdução: • Século XIII a XIX: infecção como maior vilão; • Final do século XIX: ↪ Pasteur elucida mecanismo de fermentação; ↪ Lister (1825): primeiros estudos de antissepsia; ↪ Semmelveis (1847): diminuiu a mortalidade do setor de obstetrícia do Hospital Geral de Viena para 1,33% (medidas simples como lavar as mãos após examinar os pacientes e manipular cadáveres); • Antimicrobianos: ↪ 1935: sulfanamidas; ↪ 1941 - Fleming: penicilinas; ↪ Acreditou-se que o problema estaria resolvido → uso indiscriminado → resistência bacteriana + seleção de bactérias resistentes; • Infecção cirúrgica: diretamente relacionado ao ato cirúrgico ou a medidas a ele relacionadas; ↪ Muito frequente acontecer após a alta do paciente; ↪ Importante: tipo de infeção/período de incubação; Tipos de infecção: • Grande risco aos pacientes: ↪ Aumenta a morbimortalidade; ↪ Prolonga a permanência no hospital; ↪ Eleva substancialmente o custo; • Pacientes cirúrgicos: ↪ Infecção mais comum: infecção de ferida; • Contexto hospitalar: 1. Infecção urinária; 2. Infecção respiratória; 3. Ferida cirúrgica; 4. Septicemia; 5. Infecções cutâneas; Infecção da ferida operatória: • Grande importância nas infecções cirúrgicas: ↪ Elevada incidência; ↪ Custo e morbidade envolvidos; • Maior dificuldade no registro: frequentemente se manifestam após a alta hospitalar; • Principalmente em cirurgias limpas, podem representar um acurado indicador do problema de infecção hospitalar na instituição; ↪ Quase sempre extra-hospitalar; ↪ Necessitam de sistema de busca ativa; ↪ Identificação de fatores de risco; ↪ Medidas para se evitar; • Definição: aquela em que há a presença de pus; • Classificação da ferida operatória quanto ao grau de contaminação: ↪ Ferida limpa (risco de 2 a 5% de infecção): ▪ Quando TGI, respiratório e urinário não são lesados; ▪ Feridas não traumáticas; ▪ Sem processo inflamatório; ▪ Sem quebra da técnica asséptica; ▪ Ex: cirurgia cardíaca e hérnia inguinal; ↪ Ferida potencialmente contaminada (risco de 3 a 11% de infecção): ▪ Quando há penetração no TGI, respiratório e urinário (sem contaminação significante); ▪ Feridas traumática com menos de 6 horas; ▪ Pequena quebra da técnica asséptica; ▪ Local de difícil assepsia; ▪ Ex: cirurgias gástricas e biliares; ↪ Ferida contaminada (risco de 10 a 27% de infecção): ▪ Quando há contaminação do TGI, respiratório e urinário; ▪ Feridas traumáticas com mais de 6 horas; ▪ Processo inflamatório sem presença de pus; ▪ Grande quebra da técnica asséptica; ▪ Ex: cirurgia colônicas; ↪ Ferida infectada (risco de 27% de infecção): ▪ Feridas traumáticas com mais de 6 horas; ▪ Presença de pus, vísceras perfuradas; ▪ Ex: apendicite com abscesso; TEC CIRÚRGICA Infecção urinária: • Definição: presença de mais de 100.000 colônias de bactérias/ml, associada a sintomas urinários; • Algumas bactérias são consideradas positivas com apenas 10.000 colônias/ml – ex: E. coli, Pseudomonas sp., Acinetobacter; • Estreita relação com duração do cateter vesical; • 5 a 8% dos pacientes cateterizados (dia); • Mais de 10 dias de cateterismo: 40 a 50%; Infecção respiratória pós-operatória: • Infecções altas: ↪ Traqueobronquites, bronquites e broquiolites; ↪ Tosse produtiva, acompanhada ou não de febre; ↪ Sem evidências radiológicas de pneumonia; • Pneumonias: ↪ Terceira causa mais comum de infecção hospitalar pós-operatória; ↪ Associada a elevada mortalidade; ↪ Tosse produtiva, febre e alterações radiológicas; ↪ Incidência de 1,5 a 3%; • Abcessos pulmonares ou empiemas: ↪ Coleção purulenta no pulmão ou na cavidade pleural; ↪ Quadros graves com elevada mortalidade; Septicemia: • Definição: presença de mais de dois picos febris num período de 24 horas, acompanhados de hipotensão e oligúria; • Estado infeccioso generalizado devido à presença de microrganismos patogênicos e sus toxinas na corrente sanguínea; • Alta mortalidade; Abscesso abdominal e peritonite: • Coleções purulentas intra-abdominais; ↪ Bem definidas; ↪ Difusas; • Decorrentes de processos inflamatórios de órgãos abdominais; • Quadro clínico das peritonites é evidente (achados do exame físico, com sinais claros de irritação peritoneal); • Abscessos podem evoluir com poucos ou nenhum dado propedêutico. Exames complementares de imagem para fechar diagnóstico; Etiologia: • Normalmente, o agente etiológico são aquelas bactérias que geralmente convivem na pele, orofaringe e TGI; • Principais: Staphylococcus aureus e o Streptococcus pyogenes; ↪ Habitam a pele e a nasofaringe; ↪ Dependendo do local da cirurgia e da flora bacteriana que os habitam, estes agentes etiológicos podem variar; ↪ Pode variar de hospital para hospital; Resposta orgânica à infecção: • Infecção é produto de três componentes: ↪ Microrganismo infectante; ↪ Meio através do qual a infecção se desenvolverá; ↪ Mecanismos de defesa do paciente; • Muita atenção foi dada ao microrganismo e ao meio (técnicas assépticas e antibióticoprofilaxia) – mesmo assim as infecções continuam acontecendo; • Atualmente: esforço no estudo dos mecanismos de defesa do indivíduo; • Resposta inicial à contaminação bacteriana: ↪ Hiperemia; ↪ Exsudação; ↪ Aumento do influxo de células fagocitárias; • Ativação dos mecanismos de defesa celular e humoral: ↪ Próximos passos na defesa à agressão bacteriana; ↪ Intenso fluxo de células fagocitárias migram para o local da contaminação; ↪ Inicialmente: predomínio de macrófagos; ↪ Após poucas horas: número de neutrófilos é superior; ↪ Degranulação de mastócitos e liberação de histamina e outras substâncias vasoativas; ▪ Aumento da permeabilidade capilar; ▪ Migração de células polimorfonucleares; ↪ Essas células fagocitárias, além de realizarem fagocitose, atuam como mediadoras na liberação do fator de necrose tumoral e na ativação do complemento; ↪ Reação inflamatória inicial: protetora! ↪ Maior defesa que o organismo lança mão: ativação do complemento pela célula lesada, conduzindo a quimiotaxia com afluxo de polimorfonucleares e permitindo a opsonização e fagocitose dos microrganismos; ↪ Macrófagos: além de papel fagocitário, também atuam como mediadores de uma série de fenômenos locais e sistêmicos; ↪ O número de mediadores inflamatórios envolvidos nas reações locais e sistêmicas cresce a cada dia; ▪ Mais importantes: derivados do ácido araquidônico (prostaglandinas e leucotrienos), fator de crescimento e citocinas; • Último mecanismo que o organismo utiliza contra a infecção: ↪ Tenta localizá-la! ↪ Após atuação das substâncias vasoativas e o aumento da permeabilidade capilar, surge um exsudato, rico em proteínas, contendo fibrinogênio; ↪ Células danificadas: liberação de tromboplastina e protrombina; Fibrinogênio + tromboplastina + protrombina = formação da fibrina! ↪ Fibrina: tende a isolar a bactéria do resto do organismo, prevenindo a disseminação da infecção = formação de abscesso; ↪ Liberação de catecolaminas; ↪ Aumento da secreção de hormônio adrenocortical, com secreção de aldosterona e ADH; ↪ Translocação dos patógenos oriundos da microflora intestinal através da parede do intestino; • Status imunológico do paciente: ↪ Trauma cirúrgico pode deprimir os mecanismos de defesa do organismo como resultado de alguns eventos (perda de sangue, trauma tissular, contaminação); ↪ Patologias associadas ao trauma: idoso, diabetes, neoplasias, desnutrição; ↪ Barreira mecânica: são o meio básico de proteção que separa os microrganismos do corpo estéril; ↪ Imunidade humoral: após a contaminação, um dos mecanismos de defesa do organismo é a imunidade humoral. Anticorpos aderem aos microrganismos ou às suas toxinas causando alterações estruturais, ativando o sistema complemento; ▪ Primariamente a IgG,IgG, nos fluidos orgânicos, e a IgA secretória, nas superfícies mucosas; ▪ Exposições prévias a um específico antígeno desencadeia a produção de anticorpos bastante específicos com ação protetora mais eficaz; ↪ Imunidade celular: a imunidade celular é a forma de atuação dos macrófagos, neutrófilos e linfócitos; ↪ Atividade das citocinas: após o trauma e a contaminação, os macrófagos são ativados e liberam citocinas. ▪ Mediadoras dos mecanismos de defesa do organismo; ▪ Principais citocinas produzidas após uma infecção: TNF (fator de necrose tumoral), interleucinas 1, 6 e 8, e o gama interferon; • Fatores de risco: ↪ Idade; ↪ Obesidade; ↪ Desnutrição; ↪ Diabetes; ↪ Tabagismo/etilismo; ↪ Duração da cirurgia; ↪ Cirurgia abdominal; ↪ Infecção prévia; ↪ Imunossupressão/uso de corticóides; ↪ Permanência pré-operatória; ↪ Risco intrínseco da cirurgia; ↪ Patologia de base; ↪ Pacientes oncológicos; Fatores predisponentes à infecção: • Dizem respeito, basicamente, a duas variáveis: ↪ Bactéria; ↪ Hospedeiro; • Bactéria: ↪ Virulência e o número de bactérias contaminantes são dois dos mais importantes fatores que determinam uma infecção; ↪ Produção de exotoxinas (Clostridium, Staphulococcus, Streptococcus) ou endotoxinas (enterobactérias); ↪ Podem se esporular (Clostridium) ou se encapsular (Klebisiella, Pneumococcus); ↪ Podem produzir proteínas que comprometam diretamente a ação de certos antibióticos; ↪ Quanto maior a virulência de uma bactéria, menor é o número necessário para uma infecção; ↪ Maneira simples e eficaz de prevenir um aumento da virulência das bactérias que convivem no organismo: reduzir o período de internamento pré-operatório; • Hospedeiro: ↪ Condição de defesa do hospedeiro; ↪ Algumas condições favorecem a contaminação e a infecção; ↪ Diabetes: colonização da pele por Clostridium; ↪ Falta de higiene; ↪ Preparação pré-operatória inadequada (antissepsia, tricotomia, preparo de cólon, etc); ↪ Desnutrição; ↪ Icterícia; ↪ Pacientes idosos; ↪ Leucopenias; ↪ Corticoidoterapia; ↪ Cateterização vesical; ↪ Cateterização de veia central; ↪ Quimioterapias; Diagnóstico: • Eminentemente clínico; • Nenhum dado clínico ou laboratorial, por si só, dá o diagnóstico de infecção; • Dados clínicos sugestivos de infecção: ↪ Anorexia; ↪ Alterações de temperatura (febre vespertina, febre alta, calafrios); ↪ Náuseas e vômitos; ↪ Taquicardia; ↪ Taquipneia; ↪ Distensão abdominal; ↪ Oligúria; ↪ Outros; • Dados laboratoriais sugestivos de infecção: ↪ Leucocitose; ↪ Baixa de plaquetas; ↪ Baixa do Ht e da Hb; ↪ Elevação do lactato sérico e da glicemia; ↪ Diminuição da albumina; ↪ Quando possível, isolamento da bactéria (sangue, urina, ferida, nos biomateriais – sondas vesicais e cateteres vasculares – ou de secreções); ↪ Meios radiológicos e de imagem: subsídios indiretos ou fazer diagnóstico do processo infeccioso; Uso de antibióticos: • Resistência bacteriana; • Uso inadequado de antibiótico profilático: elevação do índice de infecção e indução de custo desnecessário; • Utilização de antibiótico profilático nas cirurgias limpas ou potencialmente contaminadas não diminui a taxa de infecção da ferida cirúrgica; ↪ Algumas cirurgias limpas não se comportam como tal e cursam com uma alta taxa de infecção de ferida (hernioplastias incisionais e esplenectomias de pacientes esquistossomóticos); ↪ Nesses tipos de cirurgias, utiliza-se antibioticoprofilaxia, de preferência com cefazolina, apenas durante a cirurgia; • Critérios de indicação de antibiótico profilático: ↪ Cirurgias limpas e potencialmente contaminadas (com risco da infecção é de até 5% ou 10%, respectivamente): não há indicação; ↪ Preferência para dose única; ↪ Pacientes acima de 70 anos; ↪ Desnutridos; ↪ Imunodeprimidos; ↪ Urgências; ↪ Implante de próteses; ↪ Esplenectomia; ↪ Hernioplastia incisional; ↪ Pacientes portadores de doença valvular reumática, diabetes descompensada, obesidade mórbida, hérnias multirrecidivadas, mais de três diagnósticos; • Antibiótico deve obedecer aos princípios básicos da profilaxia: ↪ Espectro: antibiótico que se relacione com a flora bacteriana a ser encontrada e que não vá de encontro ao perfil de sensibilidade bacteriológica identificado no hospital; ↪ Toxicidade: deve-se sempre considerar a toxicidade da droga; ↪ Risco de alterar a flora bacteriana: principal condição que favorece a resistência bacteriana. ↪ Farmacocinética; ↪ Duração: não deve exceder 24-48 horas e, preferencialmente, deve cobrir apenas o período do procedimento cirúrgico; ↪ Custo; • A seleção de antibióticos com finalidade curativa deve ser feita com base em cultura e na determinação da sensibilidade bacteriana; • Antes do resultado: escolha empírica; • Resultado do teste de Gram; Prevenção: • Importância da CCIH (Comissão de Controle de Infecção Hospitalar); • Medidas com bons resultados: ↪ Redução do período de internação pré- operatório; ↪ Adoção do banho pré-operatório; ↪ Tricotomia no pré-operatório (no máximo 1 hora antes); ↪ Exame físico rigoroso no pré-operatório em busca de infecções comunitárias; ↪ Sondagem vesical e cateteres venosos somente quando extremamente necessários; ↪ Ação efetiva da CCIH;