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Alterações da circulação Introdução • Distúrbios hemodinâmicos: edema, congestão e choque; • Hemostasia: hemorragia e trombose; • Diversas formas de embolia. Edema e efusões: • Em condições normais, encontra-se equilíbrio entre a P hidrostática vascular (sais e água do vaso para o espaço intersticial) e a P osmótica do plasma (sais e água para o interior dos vasos). Se ocorre aumento da pressão hidrostática ou diminuição da pressão osmótica plasmática = desequilíbrio; Aumento da saída de fluídos para fora dos vasos (interstício); Quantidade de fluido extracelular > quantidade de fluido drenada pelos vasos linfáticos; Edema/Efusão • Anasarca: edema generalizado e grave; • Alteração das funções cardiovascular, renal ou hepática → acúmulo de fluidos nos tecidos (edema) e cavidades corporais (efusão); • Fluido do edema: ↪ Exsudato (inflamatório): rico em proteínas (mediado por inflamações → vasodilatação e estase + aumento do espaço intersticial = extravasamento de líquido e proteínas); ↪ Transudato (não-inflamatório): pobre em proteínas (aumento da pressão hidrostática/redução da pressão osmótica coloidal/redução de proteína plasmática); • Aumento da pressão hidrostática: causada por condições que prejudicam o retorno venoso. → Edema localizado (ex: TVP) ou difuso/sistêmico (ex: ICC); • Diminuição da pressão osmótica plasmática: causada por condições que levam a redução da síntese de albumina (cirrose, desnutrição proteica, síndrome nefrótica, etc); • Independente da causa., leva ao edema, diminuição do volume intravascular, hipoperfusão renal e hiperaldosteronismo secundário; • Retenção de sódio e água: ↪ Causa tanto aumento da pressão hidrostática (expansão do fluido intravascular) e aumento da pressão osmótica (diluição); ▪ Comprometimento da função renal = retenção de sal (ex: ICC →ativação do eixo renina-angiotensina- aldosterona); • Obstrução linfática: pode ser causada por trauma, fibrose, tumores e infecções que PATOLOGIA I comprometem os vasos linfáticos → linfedema; ↪ Ex: filariose/elefantíase fibrose obstrutiva dos canais linfáticos e linfonodos; • Microscopia: clareamento e separação da matriz extracelular e discreto aumento celular; Hiperemia e congestão: • Resultado do aumento do volume sanguíneo nos tecidos; • Hiperemia: processo ativo; ↪ Dilatação das arteríolas → aumento do fluxo sanguíneo (congestão de sangue oxigenado → tecido de coloração avermelhada = er itema); Ex: músculo estriado durante exercícios físicos ou em inflamações; • Congestão: processo passivo; ↪ Redução do fluxo sanguíneo em um tecido; ↪ Pode ser sistêmica (insuficiência cardíaca) ou localizada (obstrução venosa isolada); ↪ Estase dos glóbulos vermelhos e acúmulo de hemoglobina desoxigenada → Cor vermelho-escuro ao azulada = cianose; ↪ Congestão → aumento do volume e pressão → edema; ↪ Congestão passivo-crônica: hipóxia crônica → lesão tecidual isquêmica → cicatrização; ▪ Pode apresentar ruptura de capilares e focos de hemorragia → pequeno grupamento de macrófagos com grânulos de hemossiderina (catabolismo de glóbulos vermelhos extravasados); ▪ Ex: congestão pulmonar aguda, congestão pulmonar crônica (ICC – grânulos de hemossiderina), congestão passiva crônica do fígado (fígado em “noz moscada”); Hemostase, desordens hemorrágicas e trombose: Hemostase: • Definição: Mecanismo essencial para a manutenção da vida, caracterizado pela coagulação sanguínea/formação de coágulos, impedindo a perda sanguínea/hipovolemia; • Distúrbios da hemostase: ↓hemostase → desordens hemorrágicas → sangramento excessivo; ↑ hemostase → desordens tromboembólicas → trombose; • Envolve plaquetas, fatores de coagulação e endotélio; 1. Lesão vascular; 2. Vasoconstrição arteriolar: o Ocorre logo após a ↓ do fluxo sanguíneo na área da lesão; o Mecanismos de reflexo neurogênico + secreção de endotelina; o Efeito transitório e o sangramento pode continuar se não houver ativação dos sistemas plaquetários e de coagulação; 3. Hemostase primária (plug de plaquetas); o Rompimento do endotélio → exposição do fator de von Willebrand (vWF) e colágeno subendotelial → adesão e ativação de plaquetas → altera a forma das plaquetas e libera grânulos secretores → adesão de mais plaquetas → plug/tampão homestático primário; 4. Hemostase secundária (depósito de fibrinas): o Exposição do fator tecidual pelas células subendoteliais → se liga ao fator VII iniciando uma cascata de reações → formação de trombina. o Fibrinogênio ↓Trombina Fibrina (insolúvel) 5. Estabilização e reabsorção do coágulo): o Contração do agregado de plaquetas e fibrina → plug sólido e permanente; o Mecanismos contrarreguladores (ex: ativador de plaminogênio tecidual – tPA) limitam a formação do coágulo ou levam à sua reabsorção e reparo tecidual; • Endotélio: as células endoteliais são as “atrizes” principais na regulação da hemostasia; ↪ Atividades antitrombóticas e prótrombóticas = equilíbrio → determina se ocorre formação, propagação ou dissolução do trombo; ↪ Em situação normal: propriedades antiplaquetárias, anticoagulantes e fibrinolíticas → (limita a coagulação); ↪ Após lesão ou ativação (trauma, agentes infecciosos, citocinas, forças hemodinâmicas e mediadores plasmáticos): adquirem propriedade pró-coagulantes; ↪ Efeito inibitório nas plaquetas: atuação em “barreira”; Libera fatores (prostaciclina, óxido nítrico, adenosina-difosfatase) que inibem a ativação/agregação plaquetária; ↪ Efeitos anticoagulantes: protege os fatores de coagulação do fator tecidual, expressa trombomodulina, receptor da proteína C e inibidor do fator tecidual. ↪ Efeitos fibrinolíticos: síntese do ativador de plasminogênio tecidual (t-PA) que ativa a via fibrinolítica (t-PA cliva o plasminogênio tecidual, formando a plasmina, que cliva a fibrina, degradando o trombo). • Plaquetas: ↪ Formação de um tampão hemostático que inicialmente sela os defeitos vasculares e apresentam uma superfície que recruta e concentra os fatores de coagulação ativados = Formação do plug primário → “vedação” do defeito vascular; ↪ Grânulos-α → adesão de P-selecinas de membrana, contém proteínas da coagulação (fibronectina, fator plaquetário 4, PDGF, etc); ↪ Grânulos densos (δ) →contém ADP, ATP, cálcio ionizado, serotonina e epinefrina; ↪ Após a lesão vascular, as plaquetas iniciam uma sequência de reações até a formação do plug/tampão plaquetário: ▪ Adesão plaquetária: interação com o vWF e o colágeno subendotelial; ▪ Alteração da forma das plaquetas: de “disco” para forma espiculada com maior superfície e aumento da afinidade com fibrinogênio; ▪ Secreção do conteúdo dos grânulos citoplasmáticos: libera ADP (que estimula novos ciclos de ativação plaquetária) e produz tromboxanos A2 que induz agregação plaquetária; ▪ Agregação plaquetária: ligação do fibrinogênio forma “pontes” entre as plaquetas próximas. A primeira onda de agregação é reversível, mas a consequente ativação de trombina estabiliza* o plug de plaquetas, estimulando mais a ativação e agregação plaquetária e formando o plug hemostático secundário. *Estabiliza: fibrinogênio → fibrina insolúvel e contração plaquetária; • Cascata de coagulação: ↪ Sequência de reações enzimáticas amplificadas que culmina na formação de um coágulo de fibrina insolúvel; ↪ Cada passo (reação) da cascata envolve uma enzima (fator de coagulação ativado), um substrato (fator de coagulação na forma pró-enzima inativa) e um cofator (acelerador da reação); ↪ Esses componentes são montados em uma superfície fosfolipídica carregada negativamente, fornecida pelas plaquetas ativadas;↪ Tradicionalmente dividida em via intrínseca e via extrínseca; ▪ Tempo de pró-trombina (PT): avalia a função das proteínas da via extrínseca (fatores VII, X, V, II e fibrinogênio); ▪ Tempo de tromboplastina parcial (PTT): avalia a função das proteínas da via intrínseca (fatores XII, XI, IX, VIII, X, V, II e fibrinogênio); ↪ Deficiência de protrombina: incompatível com a vida; ↪ Deficiência de fator XII: trombose; ↪ Deficiência de fator XI: hemorragia leve; ↪ Deficiência de fatores V, VII, VIII, IX e X: hemorragia moderada a intensa; ▪ Def. fator VIII: hemofilia tipo A; ▪ Def. fator IX: hemofilia tipo B. • Trombina – funções: ↪ Conversão de fibrinogênio em fibrina: amplifica a coagulação; ↪ Ativação plaquetária: induz a agregação plaquetária; ↪ Efeitos pró-inflamatórios: ajuda no reparo tecidual e angiogênese; ↪ Efeito anticoagulante: passa de um estado pró-coagulante para um estado anticoagulante quando em contato com o endotélio normal; • Fatores limitantes da coagulação: ↪ Fluxo sanguíneo e fosfolipídeos (“lava os fatores de coagulação”); ↪ Cascata fibrinolítica (“limita o tamanho do coágulo”); Plasminogênio ↓tPA, fatores XIa e XIIa Plasmina ↓ Fibrinólise Desordens hemorrágicas: • Definição: extravasamento de plasma no espaço extravascular; • Defeitos primários e secundários na parede dos vasos, plaquetas ou fatores de coagulação. • Apresentação clínica variável: ↪ Volume ↪ Velocidade ↪ Local do sangramento • Sangramento maciço: ruptura de grandes vasos (ex: dissecção de aorta, ruptura de aneurisma aórtico) → choque hipovolêmico; • Sangramento discreto: condições de stress hemostático (cirurgias, menstruação, traumas, falência renal, etc); • Defeitos hereditários dos fatores de coagulação: hemofilias; • Princípios do sangramento anormal e suas consequências: ↪ Defeitos da hemóstase primária (plaquetas e vWF): sangramentos pequenos na pele e mucosas petéquias e púrpuras, epistaxe, menorragia, etc; ▪ Petéquias: hemorragias minúsculas (1 a 2 mm) na pele, nas membranas, nas mucosas ou nas superfícies serosas. Aumento local da pressão intravascular, trombocitopenia ou defeitos na função plaquetária, como na uremia; ▪ Púrpuras: hemorragias levemente maiores (≥ 3mm). Podem estar associadas às mesmas doenças que causam petéquias ou podem ser secundárias a trauma, vasculite ou aumento da fragilidade vascular (ex: amiloidose); ▪ Equimoses: hemorragias maiores (>1 a 2 cm). Resultam em mudanças de cor, chamadas de contusão; ▪ Hematoma: acúmulo em tecido. ↪ Defeitos da hemóstase secundária (fatores de coagulação): sangramento nas partes moles (músculo) ou articulações após pequenos traumas (ex: hemofilia); ↪ Defeitos generalizados dos pequenos vasos: púrpuras “palpáveis” e equimoses (“contusões”) formando hematomas (ex: vasculites, amiloidose, escorbuto); Trombose: • Alterações primárias que levam a trombose - Tríade de Virchow: Estase/Turbinolhamento do fluxo sanguíneo Lesão endotelial Hipercoagulabilidade do sangue • A integridade endotelial é o fator mais importante; ↪ As lesões das células endoteliais podem alterar o fluxo sanguíneo local e afetar a coagulabilidade. • O fluxo sanguíneo anormal (estase ou turbulência) pode causar lesão endotelial; • Os fatores que promovem a trombose podem atuar de forma independente ou em combinação; • Lesão endotelial: ↪ Ativação plaquetária → formação do trombo no coração e artérias; ↪ Lesão profunda → exposição do vWF e fator tecidual; ↪ Inflamação →mudança na expressão gênica para padrão trombótico; ↪ Alterações pró-coagulantes: regulam a atividade da trombomodulina (resulta em uma atividade sustentada de trombina → ativação das plaquetas); ↪ Efeitos anti-fibrinolíticos: secreção de inibidores do ativador de plasminogênio (IAPs) e expressa t-PA → limita a fibrinólise (favorece o trombo); • Alteração do fluxo sanguíneo: ↪Turbinolhamento: (“contracorrentes”) → estase → trombose arterial/cardíaca (ex: aneurisma aórtico, aterosclerose, endocardite, estenose da valva mitral); ↪ Estase → trombose venosa (ex: hiperviscosidade – policitemia vera, anemia falciforme); ↪ Promovem ativação endotelial → aumentando a atividade pró-coagulante → adesão leucocitária; ↪ Rompimento do fluxo laminar → permitem que as plaquetas entrem em contato com o endotélio; ↪ Impede a limpeza e eliminação/diluição dos fatores de coagulação pelo fluxo sanguíneo fresco e o influxo dos inibidores dos fatores de coagulação. • Hipercoagulabilidade (trombofilia): ↪ Contribui com menor frequência para o estado trombótico, mas é um importante fator no processo e, no entanto, em algumas situações, pode ser o fator principal; ↪ Definição: qualquer alteração nas vias de coagulação que predispõe à trombose; ↪ Desordens primárias (genéticas): mutações do gene do fator V de Leiden e protrombina, causas de aumento de homocisteína; ↪ Desordens secundárias (adquiridas): multifatorial (ex: ICC, trauma, ACO, gravidez, neoplasia, tabagismo, obesidade); ▪ ICC ou trauma: por causa de estase ou lesão vascular; ▪ ACO ou estado hiperestrogênico da gravidez: produção de mais fatores de coagulação pelo fígado e redução da síntese de anticoagulantes; ▪ Cânceres disseminados: produção de fatores pró-coagulantes pelo tumor; ▪ Idade: redução do PGI2 endotelial; ▪ Tabagismo e obesidade: mecanismos desconhecidos; ↪ Síndrome da trombocitopenia induzida pela heparina: (secundária) anticorpos que ativam e estimulam a agregação e consumo de plaquetas; ↪ Síndrome do anticorpo antifosfolipídeo: trombose recorrente, abortos de repetição, vegeta.ção das valvas cardíacas e trombocitopenia; • Morfologia: ↪ Trombo: formado em qualquer lugar do sistema cardiovascular, tamanho e forma variáveis em relação a etiologia. Se adere a superfície vascular adjacente no início da formação: ▪ Trombo arterial: geralmente se iniciam no local de turbilhonamento ou de lesão endotelial - crescimento retrógrado; ▪ Trombo venoso: ocorrem caracteristicamente em locais de estase - cresce na direção do fluxo sanguíneo; ▪ Ambos se propagam em direção ao coração. ↪ Porção “em propagação” pouco aderida → ↑risco de fragmentação → êmbolos; ↪ Linhas de Zahn: laminações/depósitos claros de plaquetas e fibrinas que se alternam com camadas escuras ricas em hemácias; ▪ Diferenciam trombo formado no fluxo sanguíneo de trombo posmortem; ↪ Trombo arterial: ▪ Oclusivo (ex: coronárias, cerebral, femoral) – placa aterosclerótica; ▪ Malha de plaquetas, fibrina, hemácias e leucócitos degenerados; ↪ Trombo venoso (“flebotrombose”): ▪ Quase sempre oclusivo (ex: veias dos MMII); ▪ Quantidade maior de hemácias (circulação venosa lenta) → trombo vermelho; ↪ Coágulo posmortem: ▪ Gelatinoso, com porção inferior vermelho escuro (hemácias depositadas pela gravidade) e uma porção amarela. NÃO se adere a parede vascular adjacente; ↪ Vegetações: ▪ Trombos nas valvas cardíacas, por causas infecciosas (endocardite infecciosa) ou estéreis (hipercoagulação – endocardite trombótica não-bacteriana); • Evolução/destino do trombo: 4 etapas: Propagação: acumula mais plaquetas e fibrina; Embolização: o trombo fragmenta e vai para outra parte da vascularização; Dissolução: fibrinólise → o trombo diminui/desaparece; Organização e recanalização: crescimento interno de células endoteliais, musculares lisas e fibroblastos → formam canais capilares em contato com a luz vascular “original”; • Características clínicas: ↪ Trombose venosa: ▪ Veias superficiais da perna (varizes): congestão, edema, dor e sensibilidade. Raramente forma êmbolos → risco de infecção (úlcera varicosa); ▪ Trombose venosa profunda (TVP):grandes veias da perna (polítea, femoral e ilíaca) → maior risco de embolização e infarto pulmonar. Mais de 50% são assintomáticos (circulação colateral) → diagnóstico pós- embolização. Fatores de risco: repouso, imobilização, ICC (estase → hipercoagulabilidade). ↪ Trombose arterial e cardíaca: ▪ Principal causa = aterosclerose. ▪ IAM e doença cardíaca reumática = trombo mural; ▪ Maior risco: oclusão de um vaso crítico (maior risco de embolização); ↪ Coagulação intravascular disseminada (CIVD): ▪ Complicação possível para várias condições associadas a ativação sistêmica da trombina → formação disseminada de trombos na microcirculação → disfunção de órgãos (principalmente cérebro, pulmões, coração e rins); ▪ Consome plaquetas e fatores de coagulação → ativa mecanismos fibronolíticos (coagulopatia consuptiva); Embolismo: • Êmbolo: massa intravascular (sólida, líquida ou gasosa) não aderida, carregada pelo sangue para um ponto distante de seu ponto de origem, onde geralmente causa disfunção e infarto tecidual. • A grande maioria dos êmbolos são trombos expelidos = “tromboembolismo”; • O êmbolo segue através do sangue até encontrar vasos muito pequenos que não permitem sua passagem → oclusão vascular parcial ou completa; • Tromboembolismo pulmonar (TEP): ↪ Mais de 95% dos casos: origem em TVP; ↪ Pode ocluir: artéria pulmonar principal, bifurcação da artéria pulmonar (“trombo em sela”) ou artérias/ramificações menores; ↪ Paciente que já teve TEP → maior risco de novos episódios; ↪ Obstrução > 60%: morte súbita ou ICC direita (cor pulmonale); ↪ Obstrução de ramos terminais: hemorragia e infarto pulmonar; ↪ Raramente um êmbolo pode passar por um defeito interatrial ou interventricular e atingir a circulação sistêmica (embolia paradoxal); • Tromboembolismo sistêmico: ↪ 80% dos êmbolos sistêmicos: origem em trombos murais intracardíacos (IAM, FA, aneurisma de aorta, aterosclerose, vegetação valvar); ↪ Maioria se aloja nos MMII (75%) e cérebro (10%); ↪ As consequências clínicas dependem de: ▪ Tecido afetado; ▪ Calibre do vaso ocluído; ▪ Presença de circulação colateral; ↪ Geralmente resulta em infarto tecidual. • Embolismo gorduroso e medular: ↪ Glóbulos de gordura e, às vezes, medula óssea, na vasculatura pulmonar após fraturas de ossos longos ou traumas/queimaduras de partes moles; ↪ Síndrome da embolia gordurosa → insuficiência pulmonar → sintomas neurológicos → anemia e trombocitopenia → fatal em 5-25% dos casos; ↪ 1 a 3 dias após lesão: ataque súbito de taquipneia, dispneia e taquicardia; ↪ Irritabilidade e inquietação podem evoluir para o delírio e coma; ↪Trombocitopenia: adesão de plaquetas ao êmbolo gorduroso, com consequente agregação ou sequestro esplênico; ↪ Anemia: adesão de eritrócitos ou hemólise; ↪ Exantema petequial difuso (20 a 50% dos casos): início rápido da trombocitopenia e útil para diagnóstico; ↪ Patogenia: obstrução mecânica e lesão bioquímica ▪ Liberação de ácidos graxos livres dos glóbulos de gordura pode agravar a condição por causar lesão tóxica local ao endotélio. • Embolismo gasoso: ↪ Bolhas de gás (p. ex: cirurgias cardíacas e neurológicas) → obstruem fluxo vascular; ↪ Doença descompressiva →↓súbita da pressão atmosférica (mergulhadores); • Embolismo amniótico: ↪ Infusão de líquido amniótico fetal/tecido fetal na circulação materna por aberturas nas membranas placentárias ou rompimento das veias uterinas → ativação bioquímica de fatores de coagulação e imunidade inata; Infarto: • Definição: é uma área de necrose isquêmica causa pela oclusão de suprimento arterial ou de drenagem venosa; • Aproximadamente 40% dos óbitos → doenças cardiovasculares (IAM ou AVC); • Outras complicações → infarto pulmonar ou intestinal; • Necrose isquêmica das extremidades (gangrena) → diabetes; • Causa mais frequente: trombose/embolismo arterial. • Outras causas incluem: vasoespasmo, compressão extrínseca (tumor), torção vascular (ex: testículo), hemorragia por trauma, etc; • Morfologia: classificados de acordo com a cor e presença de infecção: ↪ Infarto vermelho: hemorrágico → Oclusões venosas (ex: torção testicular), tecidos esponjosos ou circulação dupla (ex: pulmão, intestino delgado), tecidos congestos (fluxo venoso lento); ↪ Infarto branco: anêmico → oclusões arteriais em órgãos sólidos com circulação arterial terminal (coração, baço, rim) ou tecidos pouco vascularizados. ↪ Forma de “cunha”, com vaso ocluído no ápice e periferia do órgão formando a base (infartos antigos, bem formados); ↪ As hemácias extravasadas nos infartos hemorrágicos são fagocitadas e transformadas em hemossiderina (“hemossideráfagos” – cor marrom); • Microscopia: ↪ Característica predominante do infarto: Necrose isquêmica coagulativa (evidente só 4-12 horas após morte tecidual e bem definido após 1-2 dias); ↪Tardiamente o infarto é substituído por cicatrizes ou pelo parênquima regenerado; ↪ Infarto séptico: vegetações valvares cardíacas infectadas embolizam ou microabscessos liberam fragmentos de tecido necrótico → o infarto é convertido em abscesso, com intensa resposta inflamatória; • Fatores que influenciam o desenvolvimento de um infarto: ↪ Natureza do suprimento vascular: disponibilidade de um suprimento sanguíneo alternativo é o fator mais importante para determinar se a oclusão dos vasos irá causar danos; ▪ Ex: pulmões – duplo suprimento sanguíneo arterial (pulmonar e brônquico), fígado – circulação dupla (artéria hepática e veia porta), mão e antebraço – circulação arterial dupla (radial e ulnar) = proteção contra um infarto por tromboembolismo; ▪ Ex: Circulações renal e esplênica – arterial-terminal = obstrução vascular, geralmente, provoca morte dos tecidos. ↪ Taxa de desenvolvimento da oclusão: oclusões de desenvolvimento lento apresentam menor probabilidade de causar um infarto, pois proporcionam tempo de desenvolvimento de vias de perfusão alternativa; ↪ Vulnerabilidade à hipóxia: neurônios sofrem danos irreversíveis se expostos a 3-4 min de ausência de suprimento sanguíneo; ↪ Teor de oxigênio sanguíneo: a obstrução de um pequeno vaso não causa nenhum efeito em uma pessoa normal, entretanto, pode causar um infarto em paciente anêmico ou cianótico; Choque: • Definição: é um estado de hipotensão sistêmica, causado por redução do débito cardíaco ou redução efetiva do volume circulante, que prejudica a perfusão tecidual e hipóxia celular; • No início: dano é reversível; • Potencialmente fatal; • Consequência de hemorragias, queimaduras graves, traumas intensos, amplo infarto do miocárdio, embolia pulmonar grave e sepse microbiana; • Três causas principais: ↪ Choque cardiogênico: resulta de um baixo débito cardíaco, causado por falência da bomba do miocárdio; ▪ Danos intrínsecos ao miocárdio (infarto); ▪ Danos extrínsecos ao miocárdio (arritmias ventriculares, compressão extrínseca – tamponamento cardíaco, obstrução ao fluxo – embolia pulmonar); ↪ Choque hipovolêmico: resulta de um baixo débito cardíaco, causado por perda do volume sanguíneo ou plasmático; ▪ Hemorragias graves ou queimaduras graves; ↪ Choque séptico (inflamação aguda): resulta da vasodilatação e acúmulo de sangue na circulação periférica, como um componente de uma reação imunológica sistêmica a uma infecção bacteriana ou fúngica. ▪ Liberação de mediadores inflamatórios → vasodilatação arterial e extravasamento de sangue → hipoperfusão tecidual, hipóxia celular; ▪ Causas: infecções, queimaduras, trauma, pancreatite, etc; ▪ Clínica: Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS); ▪ Vasodilatação periférica com acúmulo de sangue; ▪ Ativação/lesão endotelial = dano induzido porleucócitos; ▪ Coagulação intravascular dissemina.da; ▪ Ativação de cascatas de citocinas; • Causas secundárias, menos frequentes: ↪ Choque anafilático: episódio de hipersensibilidade mediada por IgE, resultando em vasodilatação sistêmica e aumento da permeabilidade vascular; ↪ Choque neurogênico: acidente anestésico ou lesão na medula espinhal, com perda do tônus vascular e acúmulo sanguíneo na circulação periférica; • Choque séptico: ↪ Principal causa de morte na UTI (mortalidade > 20%); ↪ Frequência/causa: bactérias gram- positivas > bactérias gram-negativas > fungos; ↪ Fatores importantes na fisiopatologia do choque: ▪ Resposta inflamatória e anti- inflamatória: “contrarregulação”; ▪ Ativação e lesão endotelial: permeabilidade vascular, perda sanguínea; ▪ Indução de um estado pró- coagulante: CIVD; ▪ Alterações metabólicas: resistência insulínica, hiperglicemia, acidose láctica, insuficiência adrenal – déficit de glicocorticóides; ▪ Disfunção de órgãos: diminuição do débito cardíaco, hipóxia celular, falência múltipla dos órgãos. • Estágios do choque: (cardiogênico e hipovolêmico); Condição progressiva, se não tratada; ↓ Hipóxia tecidual; Falência múltipla dos órgãos; ↓ Óbito. 1. Fase inicial não progressiva: ↪ Mecanismos compensatórios neuro-humorais são ativados → manutenção do débito cardíaco e pressão arterial → perfusão tecidual é mantida; ↪ Reflexos barorreceptores, liberação de catecolaminas, ativação do eixo renina- angiotensina-aldosterona, liberação de ADH e estimulação simpática generalizada; ↪ Efeito final: taquicardia, vasoconstrição periférica (palidez e frieza da pele) e conservação do líquido renal; ↪ Manutenção da perfusão de órgãos vitais. 2. Fase progressiva: ↪ Ocorre se a causa de base não foi solucionada; ↪ Aumento do desequilíbrio circulatório e metabólico (acidose láctica - ↓ pH resulta em menor responsividade dos vasos = arteríolas se dilatam e sangue começa a acumular-se na microcirculação); ↪ Hipoperfusão tecidual; 3. Fase irreversível: ↪ Lesões celulares e teciduais irreversíveis (mesmo após a correção do distúrbio circulatório); ↪ Falência dos órgãos; ↪ Saída da enzima lisossômica = agravamento do estágio de choque; ↪ Síntese de NO = diminuição da função contrátil do miocárdio; ↪ Intestino isquêmico pode permitir a entrada de microbiota na circulação = sepse sobreposta; ↪ Oclusão renal = necrose tubular aguda. • Morfologia: ↪ Alterações celulares e teciduais causas pela hipóxia em qualquer tecido; ↪ Rim: necrose tubular aguda; ↪ Pulmões: dano alveolar difuso (“choque pulmonar”); ↪ Adrenal: diminuição dos depósitos lipídicos celulares (síntese de esteroides); ↪ Choque séptico: CIVD → microtrombos no cérebro, coração, pulmão, etc. • Consequências clínicas: ↪ As manifestações clínicas dependem do mecanismo causador do choque; ↪ Choques hipovolêmicos e cardiogênicos: hipotensão, pulso rápido e fraco, taquipneia, pele cianótica, fria e pegajosa; ↪ Choque séptico: pele pode estar quente e com rubor, devido à vasodilatação periférica; ↪ Primeira fase: catástrofe de base que ocasionou o choque, com exacerbação do quadro pelas perturbações eletrolíticas e acidose metabólica; ↪ Segunda fase: dominada pela insuficiência renal e marcada por uma queda progressiva no débito urinário, assim como por desequilíbrios eletrolíticos e líquidos graves.
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