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Fundamentos Metodológicos do Ensino de Matemática O ensino das operações do Campo Conceitual Aditivo Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra, Edda Curi Revisão Textual: Profa. Esp. Vera Lídia de Sá Cicaroni 5 • Introdução • O ensino das operações de adição e multiplicação • Campo Conceitual das Estruturas Aditivas Você vai realizar algumas atividades que possibilitam um resgate de suas memórias do tempo de estudante; vai ainda ler textos e discutir, no fórum, questões sobre o ensino atual dessas noções. As discussões realizadas nesta unidade estão baseadas nos estudos de Gerard Vergnau (1996) (colocar link com bibliografia) sobre o Campo conceitual aditivo. Amplie os conhecimentos sobre o assunto com as leituras recomendadas no texto. Nesta unidade vamos discutir o ensino das operações do campo aditivo. Você já deve ter percebido que, nos anos iniciais do ensino fundamental, o foco do trabalho com a Matemática está nas quatro operações denominadas fundamentais. Mas por que será que, mesmo com o ensino centrado nesse tema, as crianças têm tanta dificuldade para resolver problemas envolvendo essas operações e também para calcular o resultado de operações. Estudos e pesquisas recentes discutem a mudança de foco no ensino das operações, partindo sempre da resolução de problemas e deixando a criança mais livre para escolher sua estratégia de resolução. Esses estudos servem de base a documentos curriculares publicados nos últimos anos, daí a necessidade de conhecê-los. É o que faremos nesta unidade. O ensino das operações do Campo Conceitual Aditivo • Significado de Composição • Significado de Transformação • Significado de Comparação • Significado de Composição de Transformação • Sobre Procedimentos de Cálculo 6 Unidade: O ensino das operações do Campo Conceitual Aditivo Contextualização Nesta unidade vamos refletir sobre o ensino e a aprendizagem das operações do campo conceitual aditivo. Você já ouviu falar em campo conceitual aditivo? O autor que discute esse tema é Gerard Vergnaud (1996). Para ele, cada conceito matemático está inserido em um campo conceitual, e este é constituído por um conjunto de situações de diferentes naturezas. Ele sugere o trabalho conjunto com os problemas aditivos e subtrativos, pois fazem parte de um mesmo campo conceitual, denominado de campo aditivo. O campo conceitual aditivo é formado por um conjunto de situações que envolvem as operações de adição e subtração, com base em um campo mais amplo de significados do que tem sido usualmente realizado. Ele considera que não basta o professor ensinar aos seus alunos as estratégias dos algoritmos da adição e subtração; esses cálculos precisam estar relacionados a situações problemas em contextos variados. Com a finalidade de avançar nas práticas de ensino de Matemática com relação às operações do campo aditivo, as atividades propostas nesta unidade visam aos seguintes objetivos: • identificar concepções e práticas sobre ensino e aprendizagem das operações com números naturais que integram o campo aditivo; • incentivar reflexões sobre a contribuição de teorias sobre o tema; • discutir investigações sobre procedimentos pessoais de cálculo realizados pelas crianças, sobre o cálculo mental, a compreensão de algoritmos, o uso da calculadora; • analisar práticas de sala de aula; discutir sequências de atividades relativas ao tema. 7 Introdução Na primeira parte deste texto, vamos refletir sobre o ensino das operações de adição e subtração ao longo dos últimos quarenta anos; depois vamos apresentar os estudos de Vergnaud sobre o ensino das operações do campo aditivo. Na segunda parte, discutiremos alguns estudos sobre procedimentos de cálculos para resolver essas operações. Para Pensar Compatibilize seu mapa conceitual sobre o ensino das operações de adição e subtração com a leitura da primeira parte do texto. Faça anotações para discutir no fórum. O ensino das operações de adição e multiplicação Ao longo dos últimos anos, o ensino das operações sofreu várias modificações. Certamente, ao fazer seu mapa conceitual, você identificou algumas daquelas afirmações com períodos em que você estudou. Agora você vai fazer a leitura do texto e se situar no tempo, certamente evocando outras lembranças, e, depois, vai analisar o que vem sendo proposto, hoje, para o ensino desse tema. Nos anos sessenta, a ênfase maior era para as técnicas operatórias, ensinadas mecanicamente, sem justificativas, seguidas da “prova real” e da “prova dos nove” para verificação de resultados. Às vezes, a criança perdia tanto tempo ao realizar a prova real e errava nessa prova, achando que havia errado a operação. Assim, apagava a sua resolução e começava tudo de novo; resolvia a operação e depois a prova real. O trabalho com cálculo mental era pouco desenvolvido, a não ser nas “tabuadas” da adição, que eram aprendidas e memorizadas por causa de um treinamento constante. O ensino das operações era realizado por passos, de acordo com a ordem de grandeza dos números envolvidos e as possíveis dificuldades que eles poderiam causar e com o ano de escolaridade da criança. Assim, no geral, o professor ensinava adição e subtração com números da ordem das unidades, depois passava para números da ordem das dezenas, ampliava para a ordem das centenas e chegava, na antiga quarta série, até a ordem das unidades de milhar. O professor propunha problemas para as crianças resolverem somente após o estudo e o domínio das operações. Os significados trabalhados eram restritos. Também os problemas eram propostos paulatinamente, após o estudo de cada operação. Assim, o professor trabalhava com os cálculos de adição e, após muito treino, apresentava problemas que se resolviam a partir dessa operação. Depois fazia o mesmo com a subtração. A criança não identificava o significado do problema, resolvia automaticamente, usando a operação recém-ensinada. Com esse foco, o problema era usado como aplicação dos conhecimentos já estudados. 8 Unidade: O ensino das operações do Campo Conceitual Aditivo Na década de setenta, o ensino de Matemática, no Brasi, foi fortemente influenciado por um movimento internacional denominado “Matemática Moderna”. Nessa fase, o ensino das operações era baseado na teoria dos conjuntos. A adição era apresentada por meio da união de dois conjuntos distintos; a subtração era apresentada como conjunto complementar. O sentido de equivalência entre as duas operações era enfatizado, ou seja, se havia uma adição com um termo desconhecido, era possível determinar esse termo com uma subtração. O diagrama de Venn era usado com a intenção de facilitar a visualização dessas operações. Os conjuntos eram representados por diagramas. Quanto ao cálculo mental, nessa época, foi inteiramente abandonado. A ênfase ficava nas propriedades das operações (comutativa, associativa, elemento neutro, fechamento) e não nos cálculos. Dizia-se que era mais importante que a criança identificasse a propriedade comutativa da adição do que soubesse calcular uma adição, ou seja, era mais importante que a criança identificasse que 5 + 4 = 4 + 5 (propriedade comutativa) do que calculasse, mentalmente, o resultado de 5 + 4. A partir da década de 1980, as ideias do “Movimento Matemática Moderna” começaram a ser questionadas. Um movimento ocorrido nos Estados Unidos denominado “Agenda para ação” rompeu com a abordagem das operações por meio da teoria de conjuntos e colocou o foco no trabalho com a resolução de problemas. No Brasil esse foco começou a surgir no final dos anos 80, quando alguns Estados modificaram suas orientações curriculares, que foram influenciadas pelo movimento americano. Assim, a indicação era que se trabalhasse com problemas que focalizassem algumasideias das operações, como juntar, tirar, comparar, complementar, medir. Nessa época, acreditava-se que as crianças aprendiam a calcular usando os denominados “materiais concretos”. As escolas tinham o Material Dourado, as barras de Cuisenaire, entre outros, e havia uma proposta de uso desses materiais para potencializar o trabalho com os algoritmos (técnicas operatórias). Dessa forma, buscava-se a compreensão dessas técnicas operatórias, como o “vai um” na adição, os “empréstimos” na subtração. A reta numérica também era usada para representar as operações. Havia algumas discussões sobre a importância do cálculo mental, mas este se reduzia aos fatos básicos das operações, ou seja, percebeu-se a importância de a criança saber de cor, por exemplo, o resultado de 5 + 4. O trabalho com as operações de adição e subtração era realizado separadamente, e a ordem de grandeza dos números era ampliada em cada série. Nessa fase, houve um incentivo ao uso de jogos, materiais manipulativos e problemas “não convencionais”. No final dos anos 90, com o advento dos Parâmetros Curriculares Nacionais, o estudo das operações adição e subtração sofreu várias alterações e a mais importante é a realização de um trabalho articulado entre elas e entre os cálculos para a resolução de problemas. As ideias dessas operações foram ampliadas e o documento tomou por base os estudos de Gerard Vergnaud. A ênfase ficou na resolução de problemas não pelas técnicas operatórias já ensinadas pelo professor, mas por meio de estratégias pessoais das crianças. No trabalho com cálculos, valoriza- se o cálculo mental, o cálculo com papel e lápis e o uso da calculadora. Clematytedusud - pt.wikipedia.org 9 No próximo item vamos focalizar os estudos de Vergnaud. Trocando Ideias Faça um quadro com as ideias-chave de cada época a respeito do ensino das operações e compare com o mapa conceitual que você fez. Guarde suas anotações para discutir no fórum Como já foi dito, os Parâmetros Curriculares Nacionais apoiam-se nas pesquisas de Gerard Vergnaud para o ensino das operações do campo conceitual aditivo. Vamos conhecê-las. Vergnaud (1996) é psicólogo de formação, foi discípulo de Piaget e trabalha com cognição. Para esse autor, um Campo Conceitual é um conjunto informal e heterogêneo de problemas, situações, conceitos, relações, conteúdos e operações de pensamento que se relacionam e que provavelmente são interligados em sua aquisição. Segundo ele, o domínio de um campo conceitual faz-se ao longo de um grande período de tempo por meio de vivências que levem à maturação e à aprendizagem. Por causa dessa visão, Vergnaud defende que um conceito não deve ser estudado isoladamente, pois ele só ganha sentido quando surge em diferentes situações. Ele também defende que uma situação pode envolver mais de um conceito. Campo Conceitual das Estruturas Aditivas De acordo com Vergnaud (1996), o Campo Conceitual das Estruturas Aditivas é, ao mesmo tempo, o conjunto de situações que envolvem uma (ou mais de uma) Adição e/ou Subtração ou uma combinação dessas duas operações e o conjunto de conceitos e teoremas que permitem analisar tais situações como tarefas matemáticas. Para ele, o Campo Conceitual das Estruturas Aditivas refere-se ao conjunto de problemas que envolvem a exploração de adições e/ou subtrações com diferentes graus de complexidade. Ele define seis relações de base em que é possível engrenar todos os problemas de Adição e de Subtração da aritmética comum (Vergnaud, 1996). Essas relações são (Vergnaud, 1996, p. 172): I. a composição de duas medidas numa terceira; II. a transformação (quantificada) de uma medida inicial numa medida final; III. a relação (quantificada) de comparação entre duas medidas; IV. a composição de duas transformações; V. a transformação de uma relação; VI. a composição de duas relações. 10 Unidade: O ensino das operações do Campo Conceitual Aditivo O autor sistematizou as relações aditivas, conforme segue no quadro: } I II III IV V VI Medida Transformação ou relação (positiva ou negativa) Quadro 1 – Relações Aditivas de Base Passamos a explicitar melhor cada uma dessas categorias. Significado de Composição Para Vergnaud, o significado de composição aparece em problemas que juntam dois estados para obter um terceiro. Trata de situações em que basta “juntar” ou “tirar”, sem que haja nenhuma transformação no ambiente. O autor considera três estados: Estado Inicial (Ei), Estado Intermediário (I) e o Estado Final (Ef). Dados dois deles, obtém-se o terceiro estado. Os exemplos de problemas, a seguir, envolvem a ideia de composição. 1º Exemplo: busca o estado final }7 Numa caixa de chocolates há 7 chocolates brancos e 8 chocolates ao leite. Quantos chocolates há nessa caixa? 8 11 2º Exemplo: busca o estado intermediário }7Numa caixa há 15 carrinhos, sendo 7 azuis e os demais vermelhos. Quantos carrinhos vermelhos há nessa caixa? 15 Significado de Transformação Para Vergnaud (1996), o significado de transformação envolve uma ação ocorrida a partir da situação, de forma direta ou indireta, causando aumento ou diminuição. O estado inicial da situação sofre uma transformação aditiva (ou subtrativa) para obter um resultado. Essa transformação é uma ação decorrente de verbos que surgem no enunciado da situação e permitem que a transformação seja de acréscimo ou de redução. O autor afirma que as crianças, mesmo antes da educação formal, já constroem um pensamento intuitivo de adição e subtração, relacionando espontaneamente o “ganho” e a “perda” vivenciados em situações do cotidiano. Vergnaud caracteriza o raciocínio de transformação por uma situação dada por um Estado Inicial (Ei), geralmente correspondente a números que indicam medidas (quantidades, grandezas ou valores) que sofrem uma transformação (T) que produz mudanças em relação ao Estado Inicial, levando a um Estado Final (Ef). Apresentamos, a seguir, alguns exemplos de situações em que ocorrem transformações positivas e negativas. Luiz tinha 10 figurinhas. Ele ganhou de seu padrinho 6 figurinhas. Quantas figurinhas ele tem agora? 10 6 O autor afirma que as situações de transformação são intuitivas pela ideia de juntar ou adicionar uma quantidade a outra já existente, possibilitando uma alteração do estado inicial. A transformação também pode ser negativa, quando a situação correlaciona o estado inicial com o ato de perder algo que tinha, como ilustra o exemplo a seguir. Gustavo tinha 12 figurinhas. Ele perdeu 7 no jogo de bafo. Quantas figurinhas ele tem agora? 12 7 12 Unidade: O ensino das operações do Campo Conceitual Aditivo Você deve ter percebido que, nos dois problemas apresentados que envolvem a ideia de transformação (positiva e negativa), o estado inicial e a transformação são conhecidos e busca- se o estado final. Mas há situações em que o estado inicial e o estado final são conhecidos e busca-se o valor da transformação, e há outras em que são conhecidos o estado final e a transformação e busca-se o estado inicial. O primeiro exemplo, a seguir, ilustra a situação em que o estado inicial e o estado final são conhecidos e busca-se o valor da transformação. No segundo exemplo, o estado final e a transformação são conhecidos e busca-se o estado inicial. Rafael tinha 8 carrinhos, ganhou alguns de sua mãe e ficou com 15. Quantos carrinhos ele ganhou? 8 15 No final de um jogo de bafo, Bernardo tinha 15 figurinhas. Durante o jogo ele perdeu 8. Quantas figurinhas ele tinha inicialmente? 8 15 Significado de Comparação Vergnaud (1996) afirma que uma situação tem significado de comparação quando as quantidades são comparadas entre duas partes no sentido de relacionar essas partes. No raciocínio de comparação, osvalores não se transformam, apenas se estabelece a ideia de uma comparação entre dois estados. Segundo o autor, há três tipos de variação nesse significado, e estão apresentadas a seguir. 1) O valor de referência é conhecido e busca-se o referido a partir da relação dada. 2) Busca-se o valor de referência a partir do referido pela relação dada. 3) O valor de referência é conhecido, assim como o referido, e busca-se a relação. A seguir apresentamos alguns exemplos de cada tipo de problema de comparação. 1) Valor de referência é conhecido e busca-se o valor do referido a partir da relação dada. Bianca tem 20 adesivos coloridos e Simone tem 10 a mais que Bianca. Quantos adesivos tem Simone? Sabemos quantos adesivos Bianca tem, portanto temos uma referência, e Bianca é o referente. Mas não sabemos quantos adesivos Simone tem; ela é nosso referido. A relação é dada: “Simone possui 10 a mais que Bianca”. A comparação é positiva e, portanto, nesse caso, o problema pode ser resolvido por meio de uma adição. 13 2) Busca-se o valor de referência a partir do referido pela relação dada. Simone tem 8 adesivos a menos que Bianca. Se Simone tem 15 adesivos, quantos adesivos Bianca tem? Neste caso, sabemos quantos adesivos Simone tem, portanto temos uma referência, e Simone é o referente. Mas não sabemos quantos adesivos Bianca tem; ela é nosso referido. A relação é dada: “Simone tem 8 adesivos a menos que Bianca”. A comparação é negativa, mas, neste caso, o problema pode ser resolvido por meio de uma adição, pois, se Simone tem 8 adesivos a menos que Bianca, Bianca tem 8 adesivos a mais que Simone, então tenho a quantidade de adesivos de Simone. 3) O valor de referência é conhecido, assim como o referido, e busca-se a relação. Bianca tem 15 adesivos e Simone tem 8. Quantos adesivos Simone deve ganhar para ter o mesmo número que Bianca? Nesse caso, temos a referência (Bianca) e o referido (Simone), mas não temos a relação. É essa relação que deve ser encontrada: Bianca tem 7 adesivos a mais que Simone, ou seja, Simone precisa ganhar 7 adesivos para ficar com o mesmo número que Bianca. No próximo exemplo, o referente é conhecido (a quantidade de adesivos de Bianca), o referido é desconhecido (a quantidade de adesivos de Simone), o texto evidencia uma perda, mas a operação que resolve esse problema é uma adição. Bianca tem 15 adesivos. Ela tem 7 adesivos a menos que Simone. Quantos adesivos tem Simone? Segundo Vergnaud, para a criança é difícil discernir o valor de referência do referido, as relações existentes entre dois grupos e todas as combinações possíveis de obter com o significado de comparação. Significado de Composição de Transformação Vergnaud (1996) afirma que existem situações em que pode ocorrer mais de uma transformação sucessiva, gerando uma composição de transformação, e apresenta quatro possibilidades de composição de transformação: a) Transformação positiva e positiva, quando a situação gera “ganho” e “ganho”. No início de um jogo, Rafael tinha certa quantia de figurinhas. No decorrer do jogo, ele ganhou 10 figurinhas e, em seguida, ganhou 25 figurinhas. O que aconteceu com suas figurinhas após essas duas rodadas do jogo? 14 Unidade: O ensino das operações do Campo Conceitual Aditivo b) Transformação positiva e negativa, quando ocorre a situação “ganho”, seguida de “perda”. No início de um jogo, Rafael tinha certa quantia de figurinhas. No decorrer do jogo, ele ganhou 20 figurinhas e em seguida, perdeu 7. O que aconteceu com suas figurinhas nesse jogo? c) Transformação negativa e positiva, quando a proposta é de “perda” e, a seguir, de “ganho”. No início de um jogo, Rafael tinha certa quantia de figurinhas. No decorrer do jogo, ele perdeu 20 figurinhas e depois ganhou 7. O que aconteceu com suas figurinhas nesse jogo? d) Transformação negativa e negativa, quando a situação é de “perde” e “perde”. No início de um jogo, Rafael tinha certa quantia de figurinhas. No decorrer do jogo, ele perdeu 20 figurinhas e depois perdeu 7. O que aconteceu com suas figurinhas nesse jogo? Vergnaud (1996) defende que o processo de aprendizagem dos problemas que envolvem estruturas aditivas demanda uma série de atividades envolvendo vários tipos de problemas para que os alunos possam, por meio de resoluções de problemas, avançar na construção de conceitos. Atenção Cabe destacar que não basta reproduzir categorias de problemas em sala de aula, nem utilizar essas nomenclaturas com as crianças. De acordo com Curi (2004), algumas tentativas de levar essa teoria para a sala de aula têm se limitado a reproduzir as diferentes categorias de problemas propostos, o que, evidentemente, é um reducionismo em relação aos avanços que a teoria permite. A autora salienta que, embora seja muito positivo o fato de se utilizarem dados de pesquisas para orientação de ensino, ainda estamos longe de ver resultados desses estudos chegarem à sala de aula. Sobre Procedimentos de Cálculo Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, a construção de habilidades de cálculo depende de pontos de apoio, como contagens e tabuadas, fatos fundamentais, repertório básico das crianças, etc. Por esse motivo, é preciso realizar um trabalho que envolve a construção, a organização e, como consequência, a memorização compreensiva desses fatos. 15 O documento destaca que a construção dos fatos básicos apoia-se na resolução de problemas e confere significados a escritas do tipo a + b = c e que a organização dessas escritas e a observação de regularidades facilita a memorização compreensiva desses fatos. Na organização de um repertório básico de cálculo, os alunos começam a perceber, intuitivamente, algumas propriedades da adição, como a associatividade e a comutatividade, mesmo sem a apresentação do professor, por exemplo, em situações em que, ao adicionarem 5 + 9, invertem os termos e começam a contar pelo 9, o maior número. Os Parâmetros Curriculares Nacionais destacam alguns procedimentos que os alunos costumam utilizar na construção e organização do repertório de cálculo no campo aditivo como: • usar resultados de adições de números iguais, como 4 + 4, 7 + 7 para cálculos com números maiores como 40 + 40, 700 + 700, etc. • “dobrar e adicionar um” para se chegar ao resultado de 5 + 6 como sendo 5 + 5 + 1; • adicionar pares de números iguais, como, por exemplo, 8 + 8, para calcular 7 + 9; • adicionar 10 e subtrair 1 para somar 9; • aplicar as adições que resultam 10 em situações como 7 + 4 calculando (7 + 3) + 1 (um dos números é decomposto de maneira a completar um outro para formar dez); • usar regras ou padrões na construção de listas, como, por exemplo: 07 + 5 = 12 = 5 + 07 17 + 5 = 22 = 5 + 17 27 + 5 = 32 = 5 + 27 37 + 5 = 42 = 5 + 37; Fonte: BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais para os 1º e 2º ciclos. Brasília: Secretaria de Ensino Fundamental, 1996, p. 74,75. O documento destaca, ainda, que a construção dos fatos da subtração deve ser realizada a partir da compreensão de relações entre a adição e a subtração e da não validade de propriedades presentes na adição, tais como a comutatividade e a associatividade para a subtração. A construção de um repertório básico constitui suporte para a ampliação dos diferentes procedimentos e tipos de cálculos que o aluno vai desenvolver ao longo dos ciclos iniciais: cálculo mental ou escrito, exato ou aproximado. Os Parâmetros Curriculares Nacionais destacam diferentes procedimentos e tipos de cálculo que se relacionam e se complementam. O documento chama atenção para o fato de que o cálculo escrito apoia-se no cálculo mental, nas estimativas e aproximações e que as estratégias de cálculo mental são limitadas e podem ter apoio de cálculos intermediários escritos. O documento recomenda que o professorprivilegie a exploração concomitante de procedimentos de cálculo mental e cálculo escrito, exato e aproximado, de tal forma que o aluno perceba as relações existentes entre esses tipos de cálculo e, com isso, possa aperfeiçoar seus procedimentos pessoais, tornando-os cada vez mais próximos das técnicas usuais. 16 Unidade: O ensino das operações do Campo Conceitual Aditivo O cálculo mental é a base do cálculo aritmético usado no cotidiano; é realizado por meio de estratégias individuais de acordo com a vivência de cada um. Para Pensar Analise os procedimentos de duas crianças para calcular mentalmente 57000+29000. Explique como procederam. Você faria esse cálculo da mesma forma que uma dessas crianças? Se fizer de outra maneira, reflita sobre seu procedimento. Procedimento de Mariana Procedimento de Felipe 57 000 mais 10 000, que é igual a 67 000 57 000 mais 30 000 é igual a 87 000 67 000 mais 10 000 que é igual a 77 000 87 000 menos 1 000 é igual a 86 000 77 000 mais 9 000 é igual a 86 000 Os procedimentos usados pelas crianças e talvez por você foram diferentes, pois, no cálculo mental, é possivel escolher a forma que mais se adapta a uma situação em função da vivência de quem está calculando, do tipo de número envolvido e das operações a serem resolvidas, transformando cada situação num problema aberto que pode ser resolvido de formas diferentes, com uso de procedimentos próprios que permitam encontrar o resultado. O cálculo mental é um grande aliado na validação do cálculo escrito. Por exemplo, no cálculo de 67-19, saber que 67-20 = 47 vai ajudar a localizar corretamente o resultado da subtração proposta, ou seja, o resultado não pode ser menor que 47, pois 19 é menor que 20 e, quando se tira “menos” de um número, o resultado é maior do que quando se tira mais. O cálculo escrito, tão valorizado pelos professores, é usado apenas na escola. Fora dela, o indivíduo deve optar por um tipo de cálculo que se adapta à situação que está enfrentando. Por exemplo, se for fazer o cálculo de um valor final de um apartamento comprado em 50 meses, com entrada, parcelas fixas, parcelas intermediárias, etc., o indivíduo acaba usando a calculadora para saber o valor exato do apartamento a ser adquirido ou, então, faz uma estimativa do valor aproximado. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, a estimativa auxilia no desenvolvimento da capacidade de tomar decisões. O documento ressalta que, desde o início da escolarização, as estimativas devem estar presentes em situações que permitam aos alunos perceberem o significado de um valor aproximado e decidirem quando é conveniente usá-lo. O documento enfatiza que as estimativas devem extrapolar as relações “maior que”, “menor que” e o professor deve trabalhar com a relação “estar entre”. Quanto ao cálculo escrito, o documento destaca que as técnicas operatórias usualmente ensinadas na escola apoiam-se nas regras do sistema de numeração decimal e em propriedades e regularidades das operações. No entanto, da forma como são ensinadas mecanicamente, os alunos não reconhecem a presença dessas regras e propriedades nos cálculos. O documento enfatiza que isso acontece, provavelmente, porque a escola não explora os procedimentos pessoais dos alunos e chama a atenção para o fato de que os procedimentos usados pelos alunos são, muitas vezes, formas intermediárias para se chegar ao registro das técnicas usuais. 17 O documento destaca alguns recursos que podem auxiliar a compreensão das técnicas operatórias: A escrita decomposta dos números ajuda a evidenciar o estabelecimento de correspondência entre as unidades das diversas ordens no registro da técnica da adição e da subtração; também evidencia o “transporte”, no caso da adição, e o “empréstimo”, no caso da subtração, à ordem imediatamente superior. Exemplo 1: 255 + 148 200 50 5 +100 40 8 300 + 90 + 13 300 + 100 + 3 400 + 3 = 403 Exemplo 2: 355-168 200 140 15 - 100 60 8 100 + 80 + 7 A aplicação da invariância da diferença — adicionar (ou subtrair) um mesmo número aos dois termos de uma subtração não altera a diferença — permite a compreensão de uma das técnicas utilizadas para subtrair. 300 150 15 200 70 -100 60 8 100 + 80 + 7 Fonte: BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais para os 1º e 2º ciclos. Brasília: Secretaria de Ensino Fundamental, 1996, pg 80. Quanto ao uso da calculadora, os Parâmetros Curriculares Nacionais sugerem várias atividades em que a criança vai usar seu raciocínio para realizá-las. • A partir de um número registrado no visor da calculadora, sem apagá-lo, fazer aparecer um outro número. Por exemplo, transformar: a) 459 em 409 b) 7.403 em 7.003 c) 354 em 9.054 • Eliminar o “7” das seguintes escritas numéricas, sem apagá-las: 3.074, 32.479, 879. 18 Unidade: O ensino das operações do Campo Conceitual Aditivo • Descobrir o resultado das operações, nas condições dadas: a) 273 + 129, sem usar a tecla que indica adição; b) 1.000 : 43, usando só a tecla que indica a adição; só a tecla que indica a multiplicação, só a tecla que indica a divisão; c) partindo do número 572, com uma única operação, obter: 502; 5.720; 57, 2. Fonte: BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais para os 1º e 2º ciclos. Brasília: Secretaria de Ensino Fundamental, 1996, pg 82. Trocando Ideias Na parte do texto que discute os diferentes tipos de cálculo, destaque o que mais lhe chamou a atenção e justifique sua escolha. Atenção A leitura do texto sobre procedimentos de cálculo permite concluir que um indivíduo não é proficien- te em cálculo se souber apenas fazer cálculos com lápis e papel. Ele deve calcular usando estimativas e aproximações, fazer cálculo mental e usar calculadora e, mais ainda, deve ser capaz de escolher, numa dada situação, que tipo de cálculo é mais adequado. Só assim, podemos dizer que esse sujeito é proficiente no cálculo. Explore Se quiser saber mais sobre procedimentos de crianças de 8 anos na resolução de problemas do campo aditivo leia os textos: • De autoria da professora Solange Fátima Mariano: Procedimentos De Crianças Do 2º Ano Do Ensino Fundamental Na Resolução De Problemas Do Campo Aditivo Com O Sig- nificado De Transformação, in: Educação Matemática: grupos colaborativos, mitos e práticas. Org. Curi, E. e Nascimento, J. C. P. Editora Terracota, 2012, p.95-114. • De autoria da professora Janaína Pinheiro Vece: Alunos do 1º Ano do Ensino Fundamental e os Problemas De Transformação Negativa, in: Educação Matemática: grupos colaborati- vos, mitos e práticas. Org. Curi, E. e Nascimento, J. C. P. Editora Terracota, 2012, p.71-94. 19 Em Síntese Nesta unidade, você explorou: • o ensino das operações de adição e subtração ao longo dos últimos quarenta anos; • os estudos de Vergnaud sobre o ensino das operações do campo aditivo; • a importância de se trabalhar com diferentes tipos de cálculo. 20 Unidade: O ensino das operações do Campo Conceitual Aditivo Material Complementar Para seu aprofundamento, leia o texto dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática do 1º e 2º ciclos sobre orientações didáticas para o ensino das operações do campo aditivo, em especial sobre procedimentos de cálculo, nas páginas de 74 até 82. Nesse texto, o documento apresenta algumas situações que podem ser desenvolvidas em sala de aula com o objetivo de desenvolver um repertório básico de cálculo e de ampliar procedimentos de cálculo. 21 Referências BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais para os 1º e 2º ciclos. Brasília: Secretaria de Ensino Fundamental, 1996. MARIANO, S. F. Procedimentos de crianças do 2º ano do ensino fundamentalna resolução de problemas do campo aditivo com o significado de transformação. In: CURI, E.; NASCIMENTO, J. C. P. (orgs.) Educação Matemática: grupos colaborativos, mitos e práticas. São Paulo: Editora Terracota, 2012. PIRES, C. M. C. Educação Matemática: conversas com professores dos anos iniciais. São Paulo. Zapt Editora.2012. VECE, J.P. Alunos do 1º ano do ensino fundamental e os problemas de transformação negativa. In: CURI, E.; NASCIMENTO, J. C. P. (orgs.) Educação Matemática: grupos colaborativos, mitos e práticas. São paulo: Editora Terracota, 2012, p.71-94. VERGNAUD, G. A teoria dos campos conceituais. In: BRUN, J. Didática das Matemáticas. Tradução Maria José Figueiredo. Lisboa: Instituto Piaget, 1996, p. 155-191. 22 Unidade: O ensino das operações do Campo Conceitual Aditivo Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000
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