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Curso de Especialização em Gestão Educacional e Escolar Disciplina: Administração e Gestão no Contexto Histórico-Político Social Brasileiro ·_/C0i.Y ••• t © 2002 by0, autores ~ CAPA [airo Alvarenga Fonseca (sobre foto da Stock Fotos) EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Waldênia Alvarenga Santos Ataide REVISÃO Ana Elisa Ribeiro Oliveira, Dalila Andrade 048p Política e Gestão da Educação / organizado por Dalila Andrade Oliveira e Maria de Fatima Felix Rosar . - Belo Horizonte: Autêntica, 2002. 176 p. ISBN 85-7526-067-7 1.Política educacional. 2.Administração escolar. I.Rosar, Maria de Fatima Felix. I.Título. CD 37.014 371.2 2002 Todos os direitos reservados pela Autêntica Editora. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da editora. Autêntica Editora Rua [anuária. 437 - Floresta - 31110-060 B 'Ia Horizont - MG - PABX: (5531.) 3423 3022 T'I 'V md : 0800-2831322 - www.autanttcaedttora.com.br ('-I/Inl/: lut ntl <@ ut nti dítcra. m.br SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 07 RELAÇÕES DE PODER NA ESCOLA , ..............•............ 11 Maurício Tragtenberg .GESTÃO DA EDUCAÇÃO: ONDE PROCURAR O DEMOCRÁTICO? 17 Lúcia Bruno A GESTÃO DA EDUCAÇÃO COMO SETOR PÚBLICO NÃO-ESTATAL E A TRANSIÇÃO PARA O ESTADO FISCAL NO BRASIL ..............................•............... 39 Raquel Pereira Chainho Gandini e Sandra Aparecida Riscal EM BUSCA DE UMA NOVA' GOVERNABlLIDADE NA EDUCAÇÃO 59 Nora Rui Krawczyk A PESQUISA SOBRE MUNICIPALIZAÇÃO ENSINO: ALGUMAS TENDÊNCIAS 73 leiton de Oliveira 1~ 'A E EDUCAÇÃO PÚBLICA: T ,N -N IAS ADMINISTRATIVAS E DE GESTÃO 89 71 tõnio Li boa L iiã» d Souza 1'111,1111'" 11(~I"IIW 11" 1(111)( "1,,\11 MENEZES, J, G, C. Direção de grupos escolares: análise de a/;ividades 11(' diretores, São Paulo: CRPE/MEC, 1972. PEREIRA, L. A Escola numa área metropolitana: crise e racionali.zação de um em- presa' de serviços pública. São Paulo: Pioneira/Edusp, 1967. SILVA, T. R. N. da. "Plano de metas da atual gestão da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo e análise do perfil da Secretaria", Estudos em .Avaliação Educacional, n. 13, jan./jun. 1996, P 7-12. ___ o "Descentralização da educação no Estado de São Paulo". In: COS- TA, V.L. C. (org.). Descentralizaçãoda educação: novas formas de coordenação efinanciamento. São Paulo: Fundap/Cortez, 1999, p. 168-90, \ I ) 124 MUDANÇAS NA ORGANIZAÇÃO E NA GESTÃO DO TRABALHO NA ESCOLA DALILA ANDRADE OLIVEIRA A década de 1990 representou um período ímpar no Brasil em termos de reformas no Estado e, conseqüentemente, nos serviços públicos. Embora as reformas educacionais tenham se iniciado logo nos primórdios da referida década, só ganharam maior vigor e abran- gência nacional a partir da segunda metade dos anos 90, com o pri- meiro governo de Fernando Henrique Cardoso. Apesar de ter-se assistido antes a algumas iniciativas de reformas da educação nacio- nal, como, por exemplo, o Plano Decenal de Educação, assinado du- rante o governo Itamar Franco, em 1993, estas não passaram de tenta tivas que ficaram no papel. O referido Plano Decenal teve como objetivo implementar no Brasil a reforma educacional que traduzia os compromissos firmados pelo governo em [omtien.' Bernardo (1991) propõe compreender o processo de reestrutu- ração capitalista como um estágio de desenvolvimento do capitalis- mo, que pressupõe, necessariamente, uma maior integração das empresas e, por isso mesmo, uma redução nas atribuições clássicas do Estado. Para melhor compreender esse processo, o autor desen- volveu o conceito de Condições Gerais de Produção - CGP: Não deve entender-se aqui produção num sentido merarnon te técnico, mas em toda a sua amplitude social. As CGP nMII ,"w 'A Conferência Mundial Sobre Educação Para Todos, realizada em [orntlen, 1111'Iilllnll!ll pode ser considerada um marco nas reformas educacionais dos anos 90, Ili'(Il I111li 11111111 eqüidade social nos países mais pobres e populosos do mundo, O \lI'IIMII,~I'IIIIII 11.,11 rio dessa Conferência, procurou implementar reformas nos 8('11.'1 /l1~11'1I11\. 1'11"111 educação básica em consonância com os princípios da mcsmn, 125 I1111111"I .1 l'Atlll" I!IlIJl fII, Ali . . lmente se den mina "infra- trutur ",umítem ao que gera . f o as cobrem todo o campo da tecnolog1a, q~e d !fi. om :quele em que as rel~ções S?C~~iSde produçao se articulam com a sua realização matenal . (p. 162) l' O papel da educação no contexto atual é funda- Para ana isar A das Condi ões Gerais de Produ- mental compreende-Ia como uma lena r~alização da produção çãO,.in~ispensável, po:t~n~~ ~::::v;lvimento. Só assim é possível capltahsta no atual es~aglO . . bretudo dos organismos in- entender os esforços mternaclO U na1s,so bn ar os países em desen- . t 'ON para o ng ternaciona1s pertencen es a . ' d nsino a fim de assegurar volvimento a reformar seus sistemas e e '_ it l' t , li - d produçao capl a 1Sa.as condições necessárias a rea ízaçao a . .' O 90 irão refletir um contexto de reformas cujo obJeh~o s anos derni a-o do Estado brasileiro e sua adequaçao . . 1 rá a mo ermzaç pnnClpa s.e . dial Para tanto, os referenciais perse- às exigênClas da economia mun.. ~. eren- 'dos pelos reformadores estatais serão as novas tendenClas g'd ' gUl . contrapartl a a. . d ela literatura mals recente, em ciais aPdont~ adsoPmodelo weberiano de administração burocrática. 2 chama a cnse - da Iezt ) ida oara a recuperaçao a eg1-Para Bresser Pereira (1999 , a sal a p ., - rbli ge- timidade bu.ro.crática foi enc07traq~: ::t:d:;;::~çaa~~: a~~:ços cial definida como aque a " :::lizados pelá administração de empresas, caractenzada por. a) descentralização do ponto de vista políti,c~,transf~rin~~-~~ . cursos e atribuições para os níveis pohtIcoS reg1~nals, ~eescentralização administrativa, através da delegaçao:; a~~ toridade aos administradores públicos, tr~nsf~rmados ~os . . to~no·mos·c) orgamzaçoes com pou t Scada vez mais au ,ren e " .d . . d) pressuposto íveis hierárquicos, ao invés de p1ram1 a1S, ~a confiança limitada e não da desconfiança total; e) con:o- osteriori ao invés do controle rígido, passo a passo, os le a p dm'l'n1'strativOs'e f) administração voltada para o Processos a ' f id (B SER. do cid da-o ao invés de auto-re en a. RESatend1mento o C1a , PEREIRA, 1999, p. 242-3) , , , A descentralização, como orientação para o planejament.o'tem- . ovidade pois já estava prevls a na bora não se conflgurasse como n D' t n 200 d~ 1967 ganhará reforma do Estado da década de 60, no ecre o . , 1cr. ÀBRÚCIO (1999); BRESSER PEREIRA & SPINK (1999). 126 11111NI, N" 1111\"NI/"I,AII 1\N" 111'IAIII~ I I IlfIII" I 1I11N" III 111." n vo vllJ, li" H' t r na r f rma atuei. A d s ntralízs , apr '8 .ntn n: stratégía administrativa das reformas d an 90 traz mo principal eixo a flexibilização e desregulamenta c da gestão pública, com a justificativa de busca de melhoria no at n- dimento ao cidadão/contribuinte, reduzindo mediações. Por i ' se distingue da descentralização proposta na reforma de 1967, q I , segundo Bresser Pereira (1999), colocou toda sua ênfase na aut - nomia da administração indireta, a partir do pressuposto da ri i- dez da administração direta e da maior eficiência da administraçã o descen tralizada. Podemos considerar que o processo de descentralização, n- tão, começa a ocorrer, sobretudo a partir da tentativa de municipali- zação, defendida como a possibilidade de permitir às populaçõ s maior controle sobre a gestão das políticas públicas pela proximidad ' física com os meios de decisão e gestão das mesmas. Isso porque, com afirma Silva (1998,p. 352): "o processo de democratização que o p ( viveu fez aumentar, simultaneamente, o interesse por moviment descentraliza dores,como se descentralização fosse sinônimo de d • mocracia". O mesmo autor nos chama atenção para o fato de que tal movimento não se deu (nem se dá) sem conflitos, na realidade, tra- ta-se de um novo pacto federativo que encontra vivas resistência na relação entre o governo nacional e os subnacionais. A descentralização passa então a nortear as reformas propostas para a organização e administração dos sistemas de ensino, seguin- do as orientações gerais no quadro de reformas do Estado brasilei- ro. Ressalta-se nesse quadro o relativo recuo que o Estado nacional vem apresentando, tanto na sua participação direta no setor produ- tivoquanto em outras esferas de seu domínio, provocando mudan- ças nas formas de financiamento das políticas sociais, que passam, via de regra, pelo recurso à iniciativa privada. A Emenda Constitucional n. 19, de junho de 1998, reflete a lógi- ca racional presente na reforma do Estado assumida pelo governo de Fernando Henrique Cardoso. A instituição das Organizações So- ciais e dos Contratos de Gestão vai interferir nos rumos que tomará a gestão da educação brasileira. As reformas sociais no Estado bra- sileiro hoje e, em especial, no setor educacional aliam-se às deman- das de maior acesso e às questões de ineficiência produtiva do sistema. Dessa maneira, têm conduzido mudanças nos aspectos g - renciais das políticas públicas, recomendando a adoção de critéri s 127 POLíTICA E GESTÃO DA EDUCAÇÃO de tempo e preparo. Se os diretores se vêem diante desse desafio, não é menor o que se coloca para os pesquisadores da área. O mo- mento requer observações atentas e presentes na realidade das es- colas e reflexões teóricas que possam espelhar a prática, buscando rumos que sinalizem uma escola verdadeiramente democrática. Referências bibliográficas ABRUCIO, F. L. "Os avanços e os dilemas do modelo pós-burocrático: a reforma da administração pública à luz da experiência internacional". In: BRESSER PEREIRA, L'C. & SPINK, P. K. Reforma do Estado e admi- nistração pública gerencial. 3. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1999. ARROYO, M. Mestre, educador e trabalhador: organização do trabalho e profissio- natizaçõo. Belo Horizonte: FAE/UFMG, 1985. (Tese, concurso para P}O- fessor titular). BERNARDO, J. Economia dos conflitos sociais. São Paulo: Cortez, 1991. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 18. ed. São Paulo: Sa- raiva, 1998. ___ o Lei n. 9424 - 24 dez. 1996. Dispõe sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magisté- rio, na forma prevista no art. 60, § 7°, do Ato das Disposições Constitu- cionais Transitórias, e dá outras providências. ___ o Lei De Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n. 9.394 de 20 dez. 1996. ___ o Plano Decenal de Educação para Todos. Brasília, 1993. ___ o Plano Nacional de Educação. Brasília: Plano: MEC/INEP, 2001. BRESSER PEREIRA, r.c. "Da administração pública burocrática à geren- cial". In: . & SPINK, PK. Reforma do Estado e administração pública gerencial. 3. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1999. CURY, C. R. J. "O profissional de administração da educação: seleção, for- mação e atuação". RBAE. ANPAE: Porto Alegre, 1986. 1\ LARAÇÃO mundial sobre educação para todos e plano de ação por. arisfazer as necessidades básicas de aprendizagem. Nova York: UNI nr,1990. 1)111\1111\,:. M. "1\ P líti a social na América Latina: o que ensinam as expe- 1i 11\ 1I1 1'(" 'nl 'I) I r f rmas?" Tn:OlNIZ, E .&AZEVEDO, S. Reforl/la do I II/Iltl I' tI"II/(/em in 110 IJrnsi/: rlil /IIn e perspectivas. Brasília: Edit ra Uni- I I dlH 11' dt' Hrn 110, I 7. MUDANÇAS NA ORGANiZAÇÃO E NA GEST' AO DO TRABALHO NA ESCOLA DU~RTE, M. R. T. e OLIVEIRA, D.A "P ,. . . çao: um estudo de algumas did, olítica e admmlstração d: 'li Iu I M' me I as recente' Imas Gerais". Relatório técnico d . s Imp antadas no EslilLil1 d" 2000. e pesquisa. Belo Horizonte: FJ\PI:MI .. " MINAS GE~S. Lei n, 12.678. 22 ian. 199 . ConshtUlçao do Estado o IdJ. _ 8. Regulamenta o artIg It 7 1111 dá ' qua ispoe sobre a d .no, e a outras providências Min G' escentralIzação cio \'11, I NISKIER A S Ad '. _ . as erats, Belo Horizonte, 1998. , .. mmtstrução escolar Ri d J . OLIVEIRA D A "Arrual i . o e aneiro: Tabajara, 1969. . . ,.. qualidade total na educação' . , . privada na gestão da escola públí "I . os cntenos da econom 11 trabal! '. rca . n: BRUNO L ( ) Ed 10 no capiialismo coniemporãn S- P , . org.. Ii níl70 I' "Ed _ . eo. ao aulo: Atlas, 1996, p. 57-90 ___ o ucaçao e planeJamento' a I . OLIVEIRA,D.A.(org) ceem d' es~oacomonúcIeodagestã ".In· A • • ao emocràtica da edu - desaii . raneos. 2. ed. Petrópolis: Vozes 1997 caçao; esafio« contenum PINTO J M R O ,. , '," . . S recursos para a educação no Bras '1 públicas. Brasílía: Plano, 2000. 1 no contexto das fil/(l/I("II.'I RIBEIRO, J. Q. "Introdução à administ - ta". In: TEIXEIRA A S et I Ad . raçao_escolar: alguns pontos I' vi d I S· ,. . a. mmtstraçãa Escolar Edi - ' va o impósio Interamericano d Ad .. :.. içao cornernoratl ANPAE, 1968. e mmlstraçao Escolar. Salvador: SALA MA, P Pobrezas e desiguald d .1997. a es no terceiro mundo. São Paulo: Nob 'I SILVA, P L. B. "A natureza do conflír f d . ' AZEVEDO S R ,(, d I o e eratívo no Brasil". In: DINIZ F '<. , .' . ejorma o Estado e democraci B ... ' .. c vaso Brasílía. Editora Uni id d ,a.no rasil: dllemaseperspl1cli SOUSA S M " rversi a e de Brasília, 1997. _ ' . . Z. L. Escola e empresa' i .. . . Sao Paulo". In: FERREIRA N S C . ruciatívas de parcena no esta 10 dp ed -' ' " . & AGUIAR MAS (ucaçao: tmpasses; perspectivas e com . "" orgs.). Gestita dll TAVARES R H O promissos. 3. ed. São Pa ulo: Cortez 200 .' . . s trabalhadores em educação e suas fi ' .. Gerais. Belo Horizonte: Fac ld d d _ ormas de luta em M il/IIS _ M u a e e Educaçao/UFMG 1995 çao, estrado em Educação). ' . (Di S '1'111 TEIXEIRA,A. S. "Natureza e fun - d .. et ai. Administração Escolar EdÇ~~ a administração escolar". In: . . rçao come ti d . ,--' mencano de Administração Esc I S I mora iva o I Simpósio lnt '1'1- o ar. a vador: ANPAE, 1968. 1 , I), I r bl I. m .Tai crit rio tã a nt do na n sid d d f lizac d políticas para o atendimento aos muito pobres', às populaçõ s vuln - ráveis, sob a justificativa de que os recursos disponíveis não são sufi- cientes para atender a todos em igual proporção, Segundo Draibe (1998), a partir de análise comparativa da ten- dência de reformas de políticas e programas sociais na América Latina, considerando a experiência de sete países, o receituário pre- dominantemente proposto para as mudanças na área social apóia- se em três grupos de justificativas, Os episódios de ajustamentos fiscais da primeira metade dos anos 80, que exigiam do gasto social maior eficiência e principal- mente uma forte adequação aos objetivos macroeconôrnicos. Em seguida, tratava-se de reorientar o gasto social para atender ao pre- visível empobrecimento da população, resultante dos impactos do ajustamento recessivo sobre emprego, renda e redução dos servi- ços sociais, Para tanto, a focalização do gasto, a opção por fundos sociais de emergência e por programas compensatórios dirigidos exclusivamente aos grupos pobres e vulneráveis passam a compor o núcleo da estratégia de reforma social. Por fim, o gasto social teria de priorizar ações básicas de saúde, nutrição e principalmen- te programas de caráter produtivo, como investimento em "capi- tal humano", As políticas educacionais mais recentes espelham exatamente essa tendência apontada por Draibe (1999), sendo que o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valori- zação do Magistério - FUNDEF - e o Programa Nacional do Bolsa Escola parecem constituir-se os melhores exemplos, Contudo, para adotar as reformas que focalizassem determinadas políticas sociais,seria necessário emendar a Constituição, no capítulo concernente à educação, já que trazia a garantia de certos direitos fundados na noção de igualdade e universalidade, O argumento do governo FHC para reformar a Constituição será de que esta ampliou as obrigações do Estado para com o setor educacional, acolhendo interesses e aspi- rações dos diversos segmentos sociais, sem a necessária avaliação da efetiva possibilidade de ação governamental. No caso específico da 3 cr. SALAMA (1997), 128 'l/IICd,' 10, ('(111 -I(/(\/'ou qu I I I '1 M 11 • ' I 01' UIl1I 110 I '1 I 10/111.'1.() lu I' )V '1'10 P" , I nu: lu o. 'UIlI, ar: / 1 'lu a ' I /dc I, I ti g '.'I [ti , n d ix / I t < ,g \I'ElI \,.l o LII c '( 1111 I ' a 1., r , n m J' J'" t " ~s r 1 onsabWd d s • , ' I' /VISOl / ln'compet ncia de dsfera d gov mo, ca a LImada r Iiv: ~ O reg' dime e colaboração entre d if trativas será indispensáv L as, 1 crentes esferas adminis- , , e para a constItuiç- d fma UnICOque possa f I' ao e ato de um sist _oca Izar o atendi t 'funcionando de maneí , imen o aos maIS necessitad - eIra mtegrada e artic 1 d ' ' boraçao entre municípios, estados e U ,_ u a ,a, O regrrns ,de cola- refendo FUNDEF4 , , ruao sera a base da cnação do ,por permItIr uma re ti - d ' ponsabilidades no cum ' par içao e obngações e res- pnmento de um d 1'com a população, ever egaI do Estado para En: relação às políticas educacionais " , a ConstItuiÇão Federal d 1988 ' ,e Importante salIentar que d' e, ao Incorpora -o ensmo públicoS na-o 't r a gestao democrática, so rouxe como ' zação do mesmo como t prerrogatIva a descentrali- , , ,apon ou novas for d ' mmIstração da escola d ' mas e organIzação e ad- , e o SIstema, A te t ti d ' ,do ensino fundamental a ,n a rva e munIcIpalização , que se aSSIsteno B 'I maIS que em outros, a partir de 1997 rasi "eu: alguns estados reflete bem essa tendê , ' com a cnaçao do FUNDEFencra. ' Contudo, a descentralização da ed _ administrativas fI'nan ' ucaçao nas suas vertentes, cerras e pedag' , uma transferência de resp bilíd ogrcas Ocorrerá não só como onsa 1 1 ade do ' - locais, da União para os t d d s orgaos centrais para os , es a os e estes par ' , ,Implicará também um' a os munIClplOS, como mOVImento de re digações de órgãos do sist passe ireto de certas obri- - erna para a escola A' d çao da educação será com di d ,SSIm a emocratiza- necessidade de procur ' p~ee~ 1 a pelo Estado como uma ar ImpnmIr ma' , , da mesma, São propo ' - ror raclOnahdade à gestão siçoes que converge de gestão do ensino p ibli L m para novos modelos- , u ICO,ca cados em f ' parhClpativas e descentral' d d ermas mais flexíveisIza as e adrní - t - 'das responsabilidades, - nus raçao dos recursos e 4 Maiores deta111essob __ , re a cnaçao e funcionamento d FUN - Note-se que embora reco _ o DEF, ver: PINTO (2000) - _ zrentemente temos usad _ ça~, o que a ConstItuiÇão Federal garante n 0.0 termo gestão democrática da educa- cratJca do ensinopúblico, na forma da lei" °LS~UArtlg_o206, inciso VI, é a "gestão demo- constztulI1te uma vitória dos privatistas sob a restnça.o representou durante o processo re os publzostas, , 129 POLÍTICA E GESTÃO DA EDUCAÇÃO As reformas educacionais, portanto, constituíram-se de orien- tações administrativas cujo referencial será a lógica da economia privada." Na gestão da educação pública, os modelos fundamenta- dos na flexibilidade administrativa podem ser percebidos na desre- gulamentação de serviços e na descentralização dos recursos, para os quais a escola é fortalecida como núcleo do sistema? São mode- los alicerçados na busca de melhoria da qualidade na educação, en- tendida como um objetivo mensurável e quantificável em termos estatísticos, que poderá ser alcançada a partir de inovações incre- mentais na organização e na gestão do trabalho na escola. As reformas educacionais dos anos 90 trarão, então, a marca da descentralização que resultou em maior autonomia das escolas, po- rém teve como contrapartida uma sobrecarga de trabalho adminis- trativo sem a real correspondência em termos de condições de infra-estrutura nos estabelecimentos de ensino. Sob o argumento da necessidade de conferir maior autonomia às unidades escolares, os órgãos centrais do sistema acabaram por delegar às escolas muitas das suas rotinas administrativas. Tal processo fez com que fossem ampliados as responsabilida- des e os espaços de decisão nas unidades escolares, tais como a ela- boração do calendário escolar, o orçamento anual da escola, bem como a definição de prioridades de gastos, entre outras. Porém, ve- rifica-se que, se por meio da autonomia, as escolas passam a contar com maiores possibilidades de decidir e resolver suas questões coti- dianas com mais agilidade, essa abertura vem estimulando as esco- las a buscar complementação orçamentária por sua própria conta junto à iniciativa privada e a outras formas de contribuição da po- pulação". A maior flexibilidade com que passam a contar, fruto da descentralização administrativa, parece repousar na possibilidade de a escola pública estatal passar a buscar, fora do Estado, meios para garantir melhor sua sobrevivência, ou seja, formas alternativas de financiamento. "OLIVEIRA (1996) Discuto esta questão em um livro, no capítulo intitulado: "A qualida- de total na educação: os critérios da economia privada na gestão da escola pública". 7 Cf.: OLIVEIRA (1997). "Educação e planejamento: a escola como núcleo do sist ma". • P squtse r allzada por SOUSA (2000) analisa as par erias realizadas nas os elas públi- nH -m no Paulo. I, () - - ---~ MUDANÇAS NA ORGANIZAÇÃO E NA GESTÃO DO TRA BALHO NA ESCOLA A legislação educacional e as mudanças na organização e na gestão da escola Se desde o início da décad d 90 vinham implementando muda a e as re~or~as na educação já colar, com a Lei de Diret . nçBasna orgamzaçao e na gestão es- nzes e ases da Ed - N . mulgada em dezembro de 1996 i t ucaçao. aciona], pro- que se refere à gestão e à ' .s o ~assa a ser um Imperativo. No 9394/96' t duz í orgamzaçao da educação básica a LDB 111 ro uz Impo t t d ' referI'da Lei t r an es mu anças na escola. Na realidade a 1 orna uma obrig - , ocorrendo de maneira espar:a çao PI ara :odo o sistema o que já vinha pe o pais. só emAr:~~t;ã:o~~:~~~ :~~:lt:~~::~ss ~:rensin~ foi am~lia~a não colar. Para melhor compreender essas mas: ?rgamzaçao es- se faça uma distinção entre o conceito :udança~ e I~portante que escolar e o de organização escolar. e orgamzaçao do trabalho A or?a~i~ação do trabalho escolar é um conceito A. refere-se a dIVISão do t b lh economíeo, ra a o na escola Pod id 'forma como o trabalho d f . emos consi era-Ia a~:~:I:i~:d~~:i~::~i~~f:~:~a::S~::n~~Sad:t:~~~::~~~::e~: discriminadas, como ~s tere-se a f~rm~ ~omo as atividades estão tarefas e competências, ase~fa~~::t~o ~~vldIdo~, a distribuição das ções d d e rerarqui., que refletem rela- trabalhe p~ er, e~tre outras características inerentes à forma como o o e organrzado. O conceito de organização do trabalho d à luz das teorias econômicas EI eve ser compreendido d . e compreende uma form ífe organização do trabalh b '. a especí rca b lh '. o so o capItalIsmo. No processo d tr a o capItalIsta, os insumos, objetos e meios de trabalho ~ a- apresentam de forma I té I nao se balho, estão submetid:s e : ~~: e ~s, ju~amente com a força de tra- a finalidade da produção b o:Ientadçaob~stante específica que é so o SIgno o capItal. PÚbli~~s~~od:e t;~~:s;e~::r~:alho ~docenteem estabelecimentos . . consi era r que a escola tal existe hoje, está marcada por uma forma específ d '. c~mo qu ta r fI t a ma . I ica e orgamzaçao e d mb ra n ~'l' n Ira como ~ trabalho é organizado na oci da- , . c c 1 r c tu rc d Ll • I na I s p ífi a I)' . d lI' V 1\ I., sobr o 1 n 1. e 'c 1an n- 1I1 POLíTICA E GESTÃO DA EDUCAÇÃOJá O termo" organização escolar" refere-se às condições objeti- vas sob as quais o ensino está estruturado. Das competências admi- nistrativas de cada órgão do poder público ao currículo que se pratica em sala de aula, passando pelas metodologias de ensino e processos de avaliação adotados, tudo seria matéria da organização escolar. Esses dois conceitos - organização do trabalho escolar e organiza- ção escolar - são distintos, porém interdependentes, fundamentais para a compreensão das relações de trabalho na escola. As reformas educacionais dos anos 90 atuaram fortemente so- bre a organização escolar, trazendo novas formas de ensinar e de avaliar. Tais mudanças exigiram novos critérios para enturmação dos alunos, novos procedimentos na avaliação, o que tem implica- do mudanças nos métodos e instrumentos de observação e registro, o que, por sua vez, tem resultado em dispêndio de maior tempo do professor para atendimento aos alunos e reuniões com colegas para planejamento e avaliação do trabalho. Essas mudanças, por sua vez, repercutem diretamente sobre a organização do trabalho escolar, pois exigem mais tempo de trabalho do professor, tempo este que, se não aumentado na sua jornada objetivamente, acaba se traduzindo numa intensificação do trabalho, que o obriga a responder a um número maior de atividades em menos tempo. Além disso, as mudanças na organização escolar tendem a alterar a divisão do trabalho na escola, na extinção de algumas rotinas e na adoção de outras, na substituição de certas hierarquias, na demanda por novos procedimentos profissionais. As reformas atuais, contempladas na legislação educacional em vigor, sobretu- do na LDB n. 9394/96, apresenta um reforço ao trabalho coletivo e a necessidade de participação e envolvimento da comunidade na gestão da escola. A referida Lei, no seu Art. 12, incumbe os estabelecimentos de ensino, por exemplo, de elaborar e executar sua proposta pedagó- gica e ainda articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola. Para isso, a mesma Lei, no seu artigo seguinte, incumbe os docentes de parti- ciparem da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimen- to d nsino. Com relação à gestão democrática, prevê no seu artigo 14, 1 s i t mas de nsino definirão as normas da gestão demo- cr ti' I ofli n p 'l li na IC ão bá ica. d acordo com as MUDANÇAS NA ORGANIZAÇÃO E NA GESTÃO DO TRABALHO NA ESCOLA s.uasparticularidades e conforme os rincí i "- fissionais da educação n 1 b _P P os de participação dos pro- a e a oracao do projeto ped ,. d da comunidade escolar e I 1 s agoglco a escola,oca em conselhos escol . No seu artigo 23 irá atribui ares ou equivalentes., urr maior autonomi I zarem-se em séries ciclos ' d Ia as esco as para organí-, ,peno os semestrais alte A • períodos de estudos am li d . d .zutemancia regular de, p ian o am a a aut . d avaliar e classificar os al di onorrua as escolas paraunos me íante a verifi - d escolar, bem como outras di . _ caçao e rendimentolSposlçoes no mesmo sentido. Congruente à tendência descentr r legislação educacional da décad .a izadora apresentada pela cação, aprovado como lei .a a~tenor, o Plano Nacional de Edu- I, em ]anelIO de 2001 sob 10 estabelecer como um de s b" ,o n. .172, iráeus o letivos e prioridades a Democratização da gestão do ensin ,. mentos oficiais, obedecend . ~ pubhco nos estabeleci- profissionais da educação ~aa~~a~nnCl~LO~da p~rticipação dos co da escola e a participação das ~~;;ao .daxroJeto pedagógi- em cons lh I um a es escolar e local . e os esco ares ou equivalentes. (BRASIL, 2001, p. 34) . TaiSmudanças trazidas pela le isla - ducaci . Irão repercutir no trabalh 1 g çao e ucacional mais recente o esco ar, sobretudo no papel do diretor. A gestão democrática da escola pública: repercussões no trabalho do diretor Após a Constituição Federal de 1988 te . . ças nas formas de escolha do dir t d' mos assistido a mudan- seu artigo 206 inciso VI di ue_or e escola em decorrência do , ,que Ispoe sobre a gestã d ' ensino público o que t ' ao emocratica do, es ara presente també .taduais e leis o A • ••• m nas constituições es- rganIcas mUnICIpaIS. . O processo de escolha do diretor I . . - ; veio somar-se às novas fu _ drni esco ar VIa eleições diretas f nçoes a ministrativas da es 1 A ormações introduzidas pela eleição di t . ~o a. s trans- giados assaram rre a e constituição dos cole- . I P a ressaltar as características políticas do di t reco ocar suas condi _ ,. Ire ar e ainda, que em geratçnOoesst~ctmco-operacionais. Considerando-se, , ,SIS emas em que a I . - d' mitida orno a for de orovi e eiçao íreta foi ad- r did ,~a_ e provimento do cargo de diretor pod m n 1 atos a 1 içao todos os pr f ' n S d rv i . r mim n d Ia, < S I. t - ignifi ativs It POLÍTICA E GESTÃO DA EDUCAÇÃO Já o termo 1/ organização escolar" refere-se às condições objeti- vas sob as quais o ensino está estruturado. Das competências admi- nistrativas de cada órgão do poder público ao currículo que se pratica em sala de aula, passando pelas metodologias de ensino e processos de avaliação adotados, tudo seria matéria da organização escolar. Esses dois conceitos - organização do trabalho escolar e organiza- ção escolar - são distintos, porém interdependentes, fundamentais para a compreensão das relações de trabalho na escola. As reformas educacionais dos anos 90 atuaram fortemente so- bre a organização escolar, trazendo novas formas de ensinar e ~e avaliar. Tais mudanças exigiram novos critérios para enturmaçao dos alunos, novos procedimentos na avaliação, o que tem implica- do mudanças nos métodos e instrumentos de observação e registro, o que, por sua vez, tem resultado em dispêndio de maior tempo do professor para atendimento aos alunos e reuniões com colegas para planejamento e avaliação do trabalho. Essas mudanças, por sua ve~, repercutem diretamente sobre a organização do trabalho escolar, p~IS exigem mais tempo de trabalho do professor, tempo este ~ue, se nao aumentado na sua jornada objetivamente, acaba se traduzmdo numa intensificação do trabalho, que o obriga a responder a um número maior de atividades em menos tempo. Além disso, as mudanças na organização escolar tendem a alterar a divisão do trabalho na escola, na extinção de algumas rotinas e na adoção de outras, na substituição de certas hierarquias, na demanda por novos procedimentos profissionais. As reformas atuais, contempladas na legislação educacional em vigor, sobretu- do na LDB n. 9394/96, apresenta um reforço ao trabalho coletivo e a necessidade de participação e envolvimento da comunidade na gestão da escola. A referida Lei, no seu Art. 12, incumbe os estabelecimentos de ensino, por exemplo, de elaborar e executar sua pro?osta pe~agó- gica e ainda articular-se com as famílias e a comumdade, c~lando processos de integração da sociedade com a escola. Para ISSO,.a mesma Lei, no seu artigo seguinte, incumbe os docentes de parti- ciparem da elaboração da proposta pedagógica do estabelecim~n- to de ensino. Com relação à gestão democrática, prevê no seu artigo H, que os sistemas de ensino definirão as normas da gestão d mo- r ti nsin públic na du açã bá íca. d acord m a MUDANÇAS NA ORGANIZAÇÃO E NA GESTÃO DO TRABALHO NA ESCOLA suas particularidades e conforme os princípios de participação dos pro- fissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola, da comunidade escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. No seu artigo 23, irá atribuir maior autonomia às escolas para organi- zarem-se em séries, ciclos,períodos semestrais, altemância regular de períodos de estudos, ampliando ainda a autonomia das escolas para avaliar e classificar os alunos mediante a verificação de rendimento escolar,bem como outras disposições no mesmo sentido. Congruente à tendência descentralizadora apresentada pela legislaçãoeducacional da década anterior, o Plano Nacional de Edu- cação, aprovado como lei, em janeiro de 2001, sob o n. 10.172, irá estabelecer como um de seus objetivos e prioridades a J Democratização da gestão do ensino público nos estabeleci- mentos oficiais, obedecendo aos princípios da participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógi- co da escola e a participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. (BRASIL,2001, p. 34) Taismudanças trazidas pela legislação educacional mais recente irão repercutir no trabalho escolar, sobretudo no papel do diretor. A gestão democrática da escola pública: repercussões no trabalho do diretor Após a Constituição Federal de 1988, temos assistido a mudan- ças nas formas de escolha do diretor de escola em decorrência do seu artigo 206, inciso VI, que dispõe sobre a gestão democrática do ensino público, o que estará presente também nas constituições es- taduais e leis orgânicas municipais. O processo de escolha do diretor escolar via eleições diretas veio somar-se às novas funções administrativas da escola. As trans- formações introduzidas pela eleição direta e constituição dos cole- giados passaram a ressaltar as características políticas do diretor e recolocar suas condições técnico-operacionais. Considerando-s , ainda, que, em geral, nos sistemas em que a eleição direta foi ad- mitida como a forma de provimento do cargo d dir tor, p r n id t à I içã todo 05 pr f r m p 1 m n I li n S d . rvi n Ia, < sis! -5 lime. ig"ifi tlv: 11 "1<; () 1'" 1'(11,11'11/111 CI'iIAu 1)/lII.Ill)( /l1:AI) N 111(IIi\NI/III, AI) 1I Ni\ (11".1 AIII ~ I 1111.111.1111) NA I'K mA no perfil desse profisaional." Tal fato traz novas xi ri it~. ar formação do diretor escolar e novos desafios para sua identidad caracterização. Por tais razões, não há como negar que o perfil do diretor esco- lar mudou sobremaneira nos últimos anos, pelo menos nos estados e municípios onde se passou a realizar eleições diretas. As propos- tas governamentais, a literatura espes:ífica e mesmo o.s debates na área de Administração' Escolar têm demonstrado relativo consenso de que houve mudanças no perfil do diretor esc~lar..~ais .mudanças são identificadas como resultado de alterações slgmficativas na. ro- tina administrativa das escolas, a partir das medidas descentral~~a- doras na gestão educacional por parte do estado e da União, sobrecarregando o diretor, como já mencionado. Da administração escolar à gestão educacional ou do abandono da técnica à assimilação da política A Administração Escolar constituiu-se como uma discipli~a específica e, nos cursos de pedagogia, uma habili.ta.ção com o obje- tivo de formar os diretores de escola como administradores esco- lares. Essa disciplina organizou-se, na sua origem, à ~rr:agem e semelhança da Administração empresarial, como uma cO~la adap- tada das teorias desenvolvidas para a organização e gestao do tr.a- balho das empresas para a escola. Nos seus trinta, ou pouco n:a~s, anos de existência, nunca deixou de ser um arremedo da Adrninis- tração de Empresas. . . Quando constituiu-se como uma disciplina específi~a: não ~Ol de maneira unívoca. Já nos seus primórdios, encontrou senas reSIS- tências. É revelador do contexto contraditório em que emerge como um campo de formação profissional específico o de~ate que se tra- vou por ocasião do primeiro Simpósio daANP:-E~ reahza~o em Salva- dor, em 1961. A partir da leitura das conferências real~zadas pelos professores Anísio Teixeira e José Querino Ribeiro, é_possível o~s~rvar 1 . if rentes entendimentos da natureza e da funçao da AdmImstra- I 1I I'" l' I r e, por conseguinte, do perfil e da formação pretendida para . I ANP'AE b 5 formas de provimento do cargo1"1 ,I 11.11IlInn I r alizada pe a 50 re a I 11 1.1111111111'11 11,nos anos 90. 134 (\,It'I"lll1l tlllill.). ,111 ta P anãoeraconsensualaidéiadeqLleo din'lllI' di' (' ('01" s formado especificamente comoAdministrador 'S '01,11',Nus P .1,vras do próprio Anísio Teixeira (1968, p. 14): somente o educador ou o professor pode fazer Administra- ção Escolar. Administração de ensino ou de escola não é car- reira especial para que alguém se prepare desde o início, por meio de curso especializado, mas opção posterior que faz o professor ou o educador já formado e com razoável expe- riência de trabalho. Nesse contexto contraditório, acabou predominando por al- guns anos um entendimento distinto do defendido por Anísio Teixeira e, nas décadas seguintes, muitos cursos de pedagogia fo- ram criados ofertando a habilitação em Administração Escolar, formando profissionais segundo os pressupostos da chamada "Adrnirjis tração Científica do Trabalho". O profissional assim for- mado, alçado ao cargo por nomeação do poder executivo, acabou por revelar-se, na maioria das vezes, um burocrata. Revestido da autoridade patrimonial que lhe foi assegurada pela nomeação do chefe político ou, no caso específico, de onde havia concurso para o.preenchimento do cargo de diretor, a autoridade conferida pelo mérito, esse diretor agia como uma encarnação do poder público estatal dentro da escola, delegando responsabilidade e dando ordens aos seus subalternos. O perfil desse diretor era de autori- dade local, dedicando muito de seu tempo à representação polí- tica em eventos e momentos em que o poder público educacional fosse requerido. Nesse período, confundiu-se o papel do diretor com o do administrador de empresas, o que, durante os anos 80, foi duramente criticado pelos movimentos democráticos. A década de 80,no Brasil, apresentou-se como um período mui- to fecundo de conquistas democráticas para a sociedade brasileira e especificamente para a educação pública. Após vinte e um anos de ditadura militar, os anos 80 representaram o momento da abertura política, o que veio acompanhado de manifestações de luta dos tra- balhadores muito diversas nas suas formas e conteúdos. Os traba- lhadores da educação marcaram definitivamente essa década com as greves que promoveram nos finais dos anos 70 e início dos 80. O envolvimento da comunidade nas lutas em defesa da escola pública 135 POLíTICA E GESTÃO DA EDUCAÇÃO e de melhores condições de trabalho e remuneração d~s profe~s~rel~ imprimiu a essas greves uma legitimidade a que JamaIs se assIst~U. Tais manifestações tiveram como eixo as mudanças na gestao e na organização da educação e a valorização do magist,é~io como pro- fissão. Nesse contexto é que o termo "gestão democrat~ca da e.duca- ção" emerge significando a defesa de n:e~anis~os mais coletIvqs_ e participativos de planejamento e administração escolar. A gesta.~ democrática da educação passa a representar a luta pelo rec~nheCl mento da escola como espaço de política e trabalhou, on~e diferen- tes interesses podem se confrontar e, ao mesmo tempo, dla~ogar em busca de conquistas maiores. A defesa da autonomia, entendl~a ~omo o espaço de explicitação da política, da possibilidade da propna es- cola refletir sobre si mesma e adequar-se à realidade local, como exercício de autodeterminação, vai resultar na busca de novas for- mas de gestão escolar. Malgrado essa autonomia política tenha sido, de c~rt.a=-- adulterada ao ser compartimentada em autonomia administrativa, financeira e pedagógica pelas administraçõ~s pú~licas, o qu: p~~- vocou reducionismos nas interpretações e distorção n~ ~eu ~IgnIfI- cado, implicou, ainda assim, a possibilidade da partI~I~açao dos segmentos que compõem a escola na sua gestão. A.possIbIhda~~ de cada estabelecimento de ensino elaborar seu projeto ped~go.gIco, definir seu calendário, eleger diretamente seu diretor, constituir co- legiados, entre outras possibilidades criadas a partir das reformas iniciadas nos anos 80 e aprofundadas nos 90, representa. grandes conquistas. Contudo, essa ainda não é ~ma real~dade que atmge todo o universo das escolas públicasbrasileiras, vanando com as normas vigentes em cada sistema de ensino. . Tais mudanças na prática cotidiana das escolas repercutiram nas teorias no campo da Administração Escolar, resultando en: um relativo desuso do próprio termo. Nos últimos quinze anos, VImos pouco a pouco a Administração Escolar ir arrefecendo-se ante a . . d . ··te.iosa das greves ocorridasJIITAVARES (1995) faz uma análise, a partir e pesquIsa Cll I, •. no movimento dos trabalhadores da educação em 1978 e 1979 e as ocorridas em 19~2, em Minas Gerais. Conclui que na última greve houve um processo ~e ~urocratlzaçao do movimento, o que resultou no isolamento da corporação em relaçao a comunidade das lideranças sindicais em relação aos trabalhadores. . llvro !'olfl irn r TI'obolllo /'/0 Escotn: ndministmçõo dos eistemas públicos de educação báSICO, ol'H nl7. tio I 01' mim' p Ia prof.a Marisa Duart , t rua r fi til' .ssa qu st, . I. MUDANÇAS NA ORGANIZAÇÃO E NA GESTÃO DO TRABALHO NA ESCOLA emergência da gestão educacional. Embora haja pouca pesquisa es- pecificamente sobre o assunto, o que se percebe é um entendimento quase tácito entre os pesquisadores da área de que o termo '!gestão" é mais amplo e aberto que "administração", sendo ainda o segundo carregado de conotação técnica, o que predominou nas décadas an- teriores como orientação para as escolas. Nesse sentido, a gestão im- plicaria participação e, portanto, a presença da política na escola. Já o termo "escolar" vai sendo substituído pelo "educacional", justamen- te pela compreensão de que a educação não se realiza só na escola e que, por isso, os sistemas não são escolares, mas educacionais. As pesquisas realizadas na década de 80 trarão uma forte ênfa- se nos estudos sobre a organização e a gestão do trabalho na escola. A discussão acerca da organização do trabalho ensejou um forte de- bate nos anos 80, a respeito da sua natureza. As tentativas eram de superar uma situação de imobilismo que perdurou nos anos mais fechados do regime militar. Além disso, percebe-se uma tentativa de buscar preencher lacunas deixadas pela despolitização com que o debate sobre trabalho e política na escola se pautou ao longo de muitos anos, quando a gestão educacional, denominada Adminis- tração Escolar, buscou reduzir a organização do trabalho na escola a uma questão técnica, esvaziando-a de qualquer conteúdo político. Os anos 80 foram singulares para os trabalhadores da educação no reconhecimento de sua condição profissional e na redefinição de sua identidade como trabalhadores. As pesquisas da época revelam os movimentos desses trabalhadores em busca de uma escola pública democrática que contemplasse as condições de trabalho como fator indispensável à realização de um ensino de qualidade. Contudo, es- ses movimentos não foram suficientes para forjar condições de traba- lho que correspondessem às necessidades de uma educação pública, democrática e para todos, como' têm pretendido, pelo menos nas in- tenções proclamadas, as reformas educacionais da última década. Podemos considerar, então, que os anos 80 refletiram um mo- mento de politização da discussão acerca do trabalho docente ao incor- porar a necessidade de se repensar as formas de organização e gestão da escola pública. Sobretudo, o debate da época demonstrou que a es- cola' local de trabalho e, por isso mesmo, reflete contradições, s ja na ua ra i. nalidad ,qu mLlit, v Z S P d ntrariar int r d I v [vi os.. j<l nas trab lh 117 POLíTICA E GESTÃO DA EDUCAÇÃO A emergência do gerencialismo: o esgotamento da via política? A despeito de toda a teoria crítica que se produ~iu ~a década de 80 e início dos anos 90 acerca da gestão e da organ1zaça~ d~, tr~- balho na escola, culminando quase no absolu~O~e~p~ezoã~e;sc:~~ ca e na sobrevalorização da política na A rrurus raç .,.' 1 umas reformas mais recentes procuraram resgatar o perhl tec~- :ogdo diretor, porém agora denominado gerente ..Os pr~gralmas d'~ - d uais a Quahdade Iota na e gerenciamento para a educaçao, os q. . a el de d de 90 foi a maior expressão, atnbuem ao diretor o p P ca a te de um negócio que precisa viabilizar-se: a escola. geren f ., .. 1 A forma ão do diretor como Administrador Escolar O.ll.n1Cla.- mente pensa~a apresentando os c~nteúdos técnicoss~~r:~~~~::~revalência sobre os demals. Durante os ano , vos com p erfil re uerido para o diretor acarreta mu- já menClonado, o ~ovdop fi~ional12 Em meio à crítica que rejei- danças na formaçao esse pro .' . '1 ia métodos e f ção técnica que pnvl egtava totalmente a orrna . h bilitação instrumentos de trabalho, os cur~os de ~::t:g~;l~:;O:-va:iamento em Administração Escolar, se vrram d. h bilitação numérico (a demanda dos alunos de Pedagog1a p~r essa ~ 1 nos estados onde realiza-se eleição direta para dl:~tores e esco a teve uma queda sensível) e de conteúdo programatlco. . Em muitos casos, o que acabou ocorrendo foi um r:l~tlVo em- b . nto do curso resultando numa crítica pela crítíca, o que po reClme' bili - seu ca-lh falta de identidade profissional da ha 1ltaçao e espe ava a . _ . te É como se tivesse passado, em ráter inócuo ante a sítnaçao vlgen f · - d Administrador Esco- certos casos, a realizar-se a contra ormaçao: va é um vácuo que lar. Passada mais de uma década, o que se o ser urge preenchimento. . Talvez por essa razão, nos referidos programas ddegerencfla- se a defen er uma or- mento adotados mais recentemente, passou- her o - o técnica que com muitos eufemismos,·procurou preenc maça ' . terí mente No programa. d ixado pelo processo descnto an enor . vazio el. to da Qualidade Total que tentou-se implantar na de gerenClamen . " d s anos 90 os rede pública estadual de Minas Gerais no InlC10 o t: db ti muitas vezes a e eprofessores eleitos diretores su me iam-se. 11 f.: RY (1986) L1V ·IRA (1996). I H MUDANÇAS NA ORGANIZAÇÃO E NA GESTÃO DO TRABALHO NA ESCOLA forma obrigatória, a cursos de treinamento gerencial sobre Quali- dade Total, sendo condição para que assumissem seu posto na Ia. Tal formação apresentava como objetivo o treinamento d s diretores eleitos como gerentes de suas escolas, sabendo usar as fer- ramentas e instrumentais oferecidos por tal modelo de administra- ção. Isso porque, segundo essa concepção administrativa, o diretor é o gestor da escola: controlador e avaliador da unidade escolar. Com talpreocupação, foram produzidos por essesprogramas, além dos cursos destinados à formação dos diretores/ gerentes, textos que difundiam ferramentas operacionais para a gestão escolar, em que o diretor deveria comportar-se como Gestor, Animador e Formador, Con- trolador e Avaliador. Tal modelo de capacitação acabou por reforçar a idéia de que o diretor é o único responsável pela gestão escolar, concen- trando todas as decisões e responsabilidades pelos erros e acertos. Essa abordagem trouxe uma concepção de diretor como ges- tor / gerente escolar que buscou resgatar, em um contexto dominado pela politização das ações, a separação fundamental entre os que mandam e os que fazem. Porém isso agora ocorre sem a efetiva cor- respondência nas condições materiais das escolas e sobretudo da autoridade que o cargo de diretor já se viu revestido. Premido pela necessidade de ter popularidade junto à comunidade, de ser legíti- mo nas suas atitudes, que não deverão contrariar os princípios da gestão democrática, e ainda tendo que responder aos constrangi- mentos que reforçam a necessidade do trabalho coletivo na escola, o diretor tem de trabalhar dobrado, pois encontra grande dificuldade em delegar responsabilidades, dar ordens, distribuir tarefas. De acordo com essa visão gerencial, o diretor é, novamente, colocado no centro da estrutura de poder na escola, algo similar ao que fora defendido em outros tempos pelos precursores da Admi- nistração Científica do Trabalho na gestão escolar. Trata-se de pro- postas que vêm corroborar as necessidadesde competência técnica gerencial frente às recentes mudanças trazidas pelo processo de des- centralização administrativa nas redes públicas de ensino, que, jus- tamente por sobrecarregar o diretor na rotina burocrática, acabam servindo de desestímulo ao investimento do mesmo nas dimensões pedagógicas de sua função. Em pesqui a r nt c m dir tores c vi -dir tor s da R d Muni i I d "nsin B I ri?, nt , F j s fv I 1:11) POLíTICA E GESTÃO DA EDUCAÇÃO rofissionais em exercício de direção sobrecarga de trabalho que os Pd suas J. ornadas de trabalho, . rd de Ao escrevertêm sofndo na atua 1 a . - ter na sua grande maio- . demonstraram nao , esses diretores e VICes balhando sem planejamento, ten- ria, controle sobre seu temp~, ~ra d d mandas que Ihes são . d imedIabsmo as e ~ tando respon er ao s manifestaram certa impoten- dAI' disso os mesmoapresenta as. em , . a ui i á discutidas, por não con- cia diante das mudanças ~c~rn.dast' azql.d~Spela nova legislação, aos . d r às eXIgenClaS rsegUlrem respon e . , demandas requeri das por. 1 órgãos centraIs, as . PrazoS Impostos pe os tici tiva ou ainda às necessi-.d d . tenta e par icrpa , uma comum ~ e mal:r:balhadores e usuários no exercício da ges- dades de envo ver o~ . têm erado um sentimento de tão escolar. Tais dIficuldades ~ g ados e inibidos de to- di t ue se veem ameaç desconforto nos Ire ores q 1 1· .taçõ es impostas pelas condi- d . - quer pe as irrumarem certas ecisoes. de serem interpretados como ções de infra-estrutura, quer pelo temor dirigentes autoritários. , . d ma so- t do que esta corren o u As pesq\.~is.asvê.m dem::~:a~scolar, sem uma correspondên- brecarga admIDIstratlva na r I tem resultado em um di - t riais da esco a, o que cia nas con içoes ma e d d· tor nessas tarefas, provocando . bsoluto o ue ,envolvlmento quase a b lho o que não só podera tra- if - b utal do seu tra a ,uma intensl lCaçao r I mas principalmente para a ..~ . danosas para a esco a, zer consequenClaS nho dessas atividades tem co- saúde dos trabalhadores. O desempe di t r tenha uma interven- locado sérias dificuldades para que 0 1 Ire o o um profissional que .. áti o cotidiano esco ar com _ ção mais SIstema ica n 'ltiplas dimensoes e f - d escola nas suas mucompreende as u~çoes a ficialmente isso seja o que mais relações com a sOCledade, embora o se espera dele. . r assasse a trabalhar mais e, Tais tarefas levaram a que o dbl~el.tdodPespara com a escola. Além . es responsa 1 I a sobretudo, a ter malür . ~ . de ue o diretor conseguisse fazer disso, aumentaram as eXIgenClaS ql mesmo os multiplicasse ebidos pela esCOa, ou render os recursos rec , .d de e a's empresas ou, ainda, ib . - . ntoacomum a buscando contn Ulçoes~u. bIs orçamentos e melhor 1 - atrvas para ur ar oprocurando so uçoes cn id d específicas. Essas tarefas fo- . . , 1 undo as neceSSI a es •redlstnbm- os seg . . t ti da função de diretor es-: . d 'ter admIDISra lVO ram intensIfiCan o o cara d di e a' outras dimensões da h ara e lcar-slar r tirando-l e tempo p 1 ais são valorizadas por .. t qu a que m 1 , r - ntr uon rn nLI 11I" I MUDANÇAS NA ORGANIZAÇÃO E NA GESTÃO DO TRABALHO NA ESCOLA ele, por seus pares, pelos discursos oficiais e pela literatura específi- ca. É curioso observar que à medida em que as dimensões políticas do perfil do diretor passaram a ser valorizadas, em detrimento de um comportamento mais técnico e burocrático, ampliaram-se suas obrigações administrativas, o que na prática resultou em um cer- ceamento de muitas das suas atividades políticas. Diante do duplo desafio de manter a escola funcionando a qual- quer custo, sem assumir uma postura centralizadora e autoritária, pesa sobre os ombros do diretor uma intensificação do trabalho, já que se encontra impedido de delegar poder e dar ordens, em razão de que a noção de subalternidade foi substituída por uma retórica que valoriza o trabalho coletivo e as relações horizontais. Contudo, não é necessário ser um observador muito atento para perceber o quão distante de uma cultura democrática e autônoma, envolvendo a participação de todos, estão as escolas públicas brasi- leiras. Caracterizadas pelo abandono e pela carência material, sub- metidas a uma carga de trabalho e obrigações que só têm aumentado nos últimos anos, fica difícil esperar dos profissionais da educação e dos usuários dessas escolas que tenham tempo e disposição para uma participação diferenciada e politizada no cotidiano escolar. As tarefas administrativas, como já mencionado, vêm absor- vendo quase todo o tempo do diretor, esvaziando de conteúdo críti- co e analítico suas atitudes,· reduzindo-o à função de gerente, de controlador da força de trabalho e de administrador de recursos es- cassos, em síntese: um funcionário da organização escolar. Ao contrá- rio do que é alardeado como sendo seu principal papel e sua função. As dificuldades materiais, traduzidas em reduzido financiamento para tantas demandas apresentadas à escola pública, têm forçado os diretores a procurar outras formas de garantir o funcionamento em condições minimamente aceitáveis das escolas. Dentre as alternati- vas apresentadas aos diretores, destacam-se duas: a procura por par- cerias junto às empresas e o recurso ao comunitarismo. No momento em que as escolas se debruçam sobre importan- tes questões pedagógicas, como adotar os Parâmetros Curriculares Nacionais, optar entre as formas de organização escolar em ciclos ou séries, repensar suas formas de avaliação, elaborar seu projeto político-p dagógico, ntr outras, os dir tores corr m o risco d nã ns g iir rcsp nd r, m n rnai im iau lut íalt I () Educação & Sociedade Print version ISSN 0101-7330On- line version ISSN 1678-4626 Educ. Soc. vol.20 n.69 Campinas Dec. 1999 http://dx.doi.org/10.1590/S0101-73301999000400006 Sistemas de ensino e planos de educação: O âmbito dos municípios* Dermeval Saviani** RESUMO: Partindo do significado das expressões sistema de educação e sistema de ensino, este artigo explicita o tratamento dado pela Constituição e pela LDB ao problema dos sistemas municipais de ensino. Em seguida recupera o percurso histórico dos planos de educação no Brasil para, num terceiro momento, equacionar a questão das relações entre sistemas de ensino e planos de educação no âmbito dos municípios, indicando os passos a serem seguidos para a implantação dos sistemas municipais de ensino assim como para a elaboração dos planos municipais de educação. O texto se encerra com a recuperação sintética da trajetória das concepções de planos de educação, concluindo pela necessidade de se contrapor à racionalidade financeira, que rege os planos de educação no contexto atual, a racionalidade social, isto é, o uso adequado dos recursos de modo a realizar o valor social da educação. Palavras-chave: Sistemas de educação, sistemas de ensino, planos de educação, sistemas municipais de ensino, planos municipais de educação Sistema de ensino e plano de educação. Há, efetivamente, uma íntima relação entre esses dois conceitos. Com efeito, o sistema resulta da atividade sistematizada; e a ação sistematizada é aquela que busca intencionalmente realizar determinadas finalidades. É, pois, uma ação planejada. Sistema de ensino significa, assim, uma ordenação articulada dos vários elementos necessários à consecução dos objetivos educacionais preconizados para a população à qual se destina. Supõe, portanto, o planejamento. Ora, se "sistema é a unidade de vários elementos intencionalmente reunidos, de modo a formar um conjunto coerente e operante" (Saviani 1996a, p. 80), as exigências de intencionalidade e coerência implicam que o sistema se organizee opere segundo um plano. Consequentemente, há uma estreita relação entre sistema de educação e plano de educação. Num momento como este que estamos atravessando, quando, na conjuntura de implantação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, coloca-se pela primeira vez a questão relativa aos sistemas municipais de ensino, resulta extremamente pertinente a questão proposta para discussão neste artigo. Tentemos, pois, abordar distintamente cada um dos dois temas para depois, à guisa de conclusão, proceder à sua articulação. Sistemas de ensino O termo "sistema", em relação à educação, é empregado com acepções diversas, o que lhe confere um caráter de certo modo equívoco. No entanto, partindo da educação como fenômeno fundamental, é possível superar essa aparência e captar o seu verdadeiro sentido. Com efeito, a educação aparece como uma realidade irredutível nas sociedades humanas. Como assistemática, ela é indiferenciada, ou seja, não se distinguem ensino, escola, graus, ramos, padrões, métodos etc. Quando o homem sente a necessidade de intervir nesse fenômeno e erigi-lo em sistema, então ele explicita sua concepção de educação enunciando os valores que a orientam e as finalidades que preconiza, sobre cuja base se definem os critérios de ordenação dos elementos que integram o processo educativo. E surgem as distinções: ensino (como transmissão de conhecimentos e habilidades), escolas (como locais especialmente preparados para as atividades educativas), articulação vertical e horizontal (graus e ramos) etc. Com base nesses critérios pode-se classificar o sistema educacional. Exemplificando: a) do ponto de vista da entidade administrativa, o sistema educacional pode ser classificado em: federal, estadual, municipal, particular etc.; b) do ponto de vista do padrão, em: oficial, oficializado ou livre; c) do ponto de vista do grau de ensino, em: primário, médio, superior; d) do ponto de vista da natureza do ensino, em: comum ou especial; e) do ponto de vista do tipo de preparação, em: geral, semiespecializado ou especializado; f) do ponto de vista dos ramos de ensino, em: comercial, industrial, agrícola etc. Além dos mencionados, outros critérios poderiam ser levantados. Daí derivam expressões como: "sistema geral de educação", "sistema federal de ensino", "sistema oficial", "sistema público", "sistema escolar", "sistema de ensino superior" etc. Na verdade, porém, o uso dessas expressões é impróprio; um exame mais detido revelará que, em todos esses casos, se trata propriamente do sistema educacional, considerado sob este ou aquele prisma, nesse ou naquele aspecto. Além do mais, o conceito de sistema denota um conjunto de atividades que se cumprem tendo em vista determinada finalidade, o que implica que as referidas atividades são organizadas segundo normas que decorrem dos valores que estão na base da finalidade preconizada. Assim, sistema implica organização sob normas próprias (o que lhe confere um elevado grau de autonomia) e comuns (isto é, que obrigam a todos os seus integrantes). Ora, os cursos livres são tais exatamente porque não se subordinam às normas gerais e comuns. Dessa maneira, os cursos livres, por definição, estão fora do sistema educacional. Logo, não parece adequado classificar o sistema educacional como oficial, oficializado ou livre. Por outro lado, nas sociedades modernas a instância dotada de legitimidade para legislar, isto é, para definir e estipular normas comuns que se impõem a toda a coletividade, é o Estado. Daí que, a rigor, só se pode falar em sistema, em sentido próprio, na esfera pública. Por isso as escolas particulares integram o sistema quando fazem parte do sistema público de ensino, subordinando-se, em consequência, às normas comuns que lhes são próprias. Assim, é só por analogia que se pode falar em "sistema particular de ensino". O abuso da analogia resulta responsável por boa parte das confusões e imprecisões que cercam a noção de sistema, dando origem a expressões como sistema público ou particular de ensino, sistema escolar, sistema de ensino superior, primário, profissional etc. Em verdade, a atitude que tem prevalecido entre os educadores em geral e especialmente entre os legisladores tem sido a de evitar a questão relativa ao esclarecimento preciso do conceito de sistema, considerando-o como algo constantemente referido, mas cujo sentido permanece sempre implícito, supostamente compreendido, mas jamais assumido explicitamente. Cabe observar que as dificuldades em relação a esse tema decorrem já do próprio texto constitucional. Tudo indica que os constituintes procederam nesse assunto segundo aquela atitude acima descrita, pressupondo tacitamente o significado de sistema, mas sem compreendê-lo de forma rigorosa e clara. Com isso, inadvertidamente, introduziram no texto, por analogia, o conceito de sistema municipal de ensino. Ora, a própria Constituição, ao prescrever no art. 22, inciso XXIV, que compete privativamente à União legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional; que compete à União, aos estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre educação, cultura, ensino e desporto (art. 24, inciso IX); e que é competência comum da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência (art. 23, inciso V), não estendeu aos municípios a competência para legislar em matéria de educação. Portanto, não tendo autonomia para baixar normas próprias sobre educação ou ensino, os municípios estariam constitucionalmente impedidos de instituir sistemas próprios, isto é, municipais, de educação ou de ensino. Não obstante, o texto constitucional deixa margem, no art. 211, para que se possa falar em sistemas de ensino dos municípios quando estabelece que "a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os seus sistemas de ensino". Como interpretar esse dispositivo? Estaria ele afirmando claramente a competência dos municípios para instituir os respectivos sistemas de ensino? Mas então, por que não se estendeu aos municípios, de forma explícita, a competência para legislar em matéria de educação? Observe-se que nessa passagem da Constituição Federal não aparece a expressão "os respectivos sistemas de ensino", mas "os seus sistemas de ensino". Ora, o adjetivo "respectivos" denota univocamente "de cada um" enquanto a palavra "seus" pode significar tanto "de cada um" como "deles", isto é, os sistemas de ensino da União, dos estados e dos municípios. Será que, no citado artigo 211, o acento deve ser posto na competência individual de cada ente federativo ou no regime de colaboração entre eles? Ou seja: o plural "sistemas de ensino" deve ser lido como significando que cada um organiza o respectivo sistema de ensino ou estaria significando que a organização dos sistemas de ensino pressupõe sempre a colaboração entre os vários entes federados? Assim, no Distrito Federal, que não é constituído por municípios, a organização do sistema de ensino implicaria apenas a colaboração entre a União e o Distrito Federal. Já nos estados essa organização envolveria a colaboração entre a União, o estado e os seus municípios. Por outro lado, o termo "sistema" é utilizado em educação de forma equívoca assumindo, pois, diferentes significados. Ao que tudo indica, o artigo 211 da Constituição Federal de 1988 estaria tratando da organização das redes escolares que, no caso dos municípios, apenas por analogia são chamadas aí de sistemas de ensino. Com efeito, sabe-se que é muito comum a utilização do conceito de sistemade ensino como sinônimo de rede de escolas. Daí falar-se em sistema estadual, sistema municipal, sistema particular etc., isto é, respectivamente, rede de escolas organizadas e mantidas pelos estados, pelos municípios ou pela iniciativa particular. Obviamente, cabe aos municípios manter escolas, em especial de Educação Infantil e de Ensino Fundamental, o que, aliás, está prescrito expressamente no inciso VI do artigo 30 da Constituição Federal de 1988: "compete aos Municípios: VI – manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação pré-escolar e de ensino fundamental". É de notar, por outro lado, que não consta desse artigo 30 que trata das competências dos municípios, a prerrogativa de "legislar sobre educação, cultura, ensino e desporto" como ocorre com a União, os estados e o Distrito Federal. Portanto, numa interpretação estrita do que está expresso no texto da Constituição Federal em vigor, os municípios não disporiam da faculdade de instituir sistemas próprios de ensino já que isso entraria em conflito com o disposto no Título III da Constituição. Consequentemente, não haveria lugar para a instituição de sistemas municipais de ensino. As escolas municipais integrariam, via de regra, os sistemas estaduais de ensino subordinando-se, pois, às normas estabelecidas pelos respectivos estados. O texto da nova LDB, entretanto, procurou contornar a dificuldade apontada, ultrapassando a ambiguidade do texto constitucional e estabelecendo com clareza a existência dos sistemas municipais de ensino. Para tanto, além do artigo 211 ("A União, os Estados e os Municípios organizarão em regime de colaboração os seus sistemas de ensino"), a LDB terá certamente buscado respaldo nos incisos I e II do artigo 30 da Constituição Federal que afirmam, respectivamente, a competência dos municípios para "legislar sobre assuntos de interesse local" e "suplementar a legislação federal e a estadual no que couber". Assim, o inciso III do artigo 11 da LDB estipula que cabe aos municípios "baixar normas complementares para o seu sistema de ensino". Isto posto, ainda que do ponto de vista da hermenêutica constitucional se possa arguir contra a constitucionalidade do disposto na LDB – já que, se os constituintes quisessem, de fato, estender essa competência aos municípios o teriam feito expressamente como o fizeram em relação aos estados e ao Distrito Federal –, já não pairam dúvidas, à luz do texto da LDB, quanto à competência legal dos municípios para instituir os respectivos sistemas de ensino. A questão que se põe, agora, diz respeito às condições para a sua efetivação. E aqui a LDB revela uma certa cautela ao prescrever, no parágrafo único do artigo 11, que "os municípios poderão optar, ainda, por se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele um sistema único de educação básica". Cumpre observar, então, que a definição clara da competência dos municípios para instituir os próprios sistemas de ensino flui da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e não da Constituição Federal. Portanto, não parece procedente a posição daqueles que entendem que a LDB, ao tornar opcional a organização dos sistemas municipais de ensino, teria enfraquecido a norma constitucional já que esta não diz que os municípios poderão organizar seus sistemas de ensino, mas afirma que deverão fazê-lo (Romão 1997, pp. 21-22). Em verdade, a LDB, ainda que lhe dê caráter opcional, estabelece claramente a competência dos municípios para organizar os próprios sistemas de ensino. Aliás, o próprio fato de deixar a eles a opção indica o reconhecimento explícito de sua competência nessa matéria. Com certeza a LDB introduziu a possibilidade de opção à luz de duas evidências, uma no plano formal e outra no plano real. Do ponto de vista formal, levou em conta a ambiguidade da Constituição, como já se mostrou. Do ponto de vista real, considerou as dificuldades técnicas e financeiras que muitos municípios teriam para organizar a curto ou mesmo a médio prazo os seus sistemas de ensino. É de notar que o reconhecimento dessa limitação está expresso também no texto constitucional quando, ao estabelecer no inciso VI do artigo 30 a competência inequívoca dos municípios de manter programas de Educação Pré-escolar e de Ensino Fundamental, acrescenta que isso será feito com a cooperação técnica e financeira da União e do estado. Cabe, pois, a cada município decidir entre as três possibilidades previstas na LDB, a saber: a) instituir o próprio sistema de ensino; b) integrar-se ao sistema estadual de ensino; c) compor com o estado, no âmbito de seu território, um sistema único de educação básica. A opção a ser adotada deverá ser prevista no plano educacional do município ao mesmo tempo em que determinará a forma como será detalhado o referido plano educacional. Vejamos, pois, a seguir, como se situa, no contexto do nosso país, o tema relativo aos planos de educação. Planos de educação A idéia de plano no âmbito educacional remonta à década de 1930. Sua primeira manifestação explícita nos é dada pelo "Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova" lançado em 1932. O "Manifesto", após diagnosticar o estado da educação pública no Brasil afirmando que "todos os nossos esforços, sem unidade de plano e sem espírito de continuidade, não lograram ainda criar um sistema de organização escolar à altura das necessidades modernas e das necessidades do país" (Manifesto 1984, p. 407), irá enunciar as diretrizes fundamentais e culminar com a formulação de um "Plano de reconstrução educacional". Pela leitura global do "Manifesto" pode-se perceber que a idéia de plano de educação se aproxima, aí, da idéia de sistema educacional, isto é, a organização lógica, coerente e eficaz do conjunto das atividades educativas levadas a efeito numa sociedade determinada ou, mais especificamente, num determinado país. Trata-se, no caso em questão, do conceito de plano entendido como um instrumento de introdução da racionalidade científica no campo da educação em consonância com o ideário escolanovista para o qual "os trabalhos científicos no ramo da educação já nos faziam sentir, em toda a sua força reconstrutora, o axioma de que se pode ser tão científico no estudo e na resolução dos problemas educativos, como nos da engenharia e das finanças" (ibid., p. 409). Esse entendimento influenciou, por certo, a Constituição Brasileira de 1934 cujo artigo 150, alínea a), estabelecia como competência da União "fixar o plano nacional de educação, compreensivo do ensino de todos os graus e ramos, comuns e especializados; e coordenar e fiscalizar a sua execução, em todo o território do país". Vê-se que, nessa acepção, o plano coincide praticamente com o significado da própria Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional. A mesma Constituição de 1934 previu, ainda, no artigo 152, um Conselho Nacional de Educação, cuja principal função seria a de elaborar o Plano Nacional de Educação. Para atender a essa finalidade o Conselho Nacional de Educação, criado pelo Decreto 19.850, de 11 de abril de 1931, foi objeto de uma reorganização em 1936, instalando-se o Conselho reestruturado em 11 de fevereiro de 1937. Sob a orientação do ministro Gustavo Capanema, os conselheiros se desempenharam da tarefa da elaboração do Plano Nacional de Educação, cujo documento final foi encaminhado ao ministro em 17 de maio de 1937 (Horta 1997, p. 148). Esse "Plano de Educação Nacional" (1949, pp. 210-320) era, na verdade, um minucioso texto com 504 artigos que se autodenominava, no artigo primeiro, de "código da educação nacional", o qual, entretanto, acabou sendodeixado de lado em razão do advento do "Estado Novo" naquele mesmo ano de 1937. Do ponto de vista da forma, o referido "Plano" correspondia ao espírito da Constituição de 1934 já que aí, como se assinalou, a idéia de plano coincidia com as próprias diretrizes e bases da educação nacional. Quanto ao conteúdo, entretanto, ele já se afastava da idéia dos pioneiros que prevalecia, também, na Associação Brasileira de Educação, aproximando-se da orientação que irá predominar durante o Estado Novo. Assim, enquanto para os educadores alinhados com o movimento renovador o plano de educação era entendido como um instrumento de introdução da racionalidade científica na política educacional, para Getúlio Vargas e Gustavo Capanema o plano se convertia em instrumento destinado a revestir de racionalidade o controle político-ideológico exercido através da política educacional. Durante o período do Estado Novo (1937-1945), Capanema se aproxima da idéia de Plano de Educação como operacionalização da política educacional ao entender que "a promulgação de uma lei geral de ensino, ou seja, de um Código da Educação Nacional, apresentava-se como condição prévia para a elaboração de um plano de educação" (Horta 1997, pp. 149-150) que, por sua vez, se constituiria na "base e no roteiro das providências de governo" no âmbito educacional. Em que pese essa intenção ambiciosa de Capanema de redefinir todo o arcabouço da educação nacional, o que implicava a promulgação do Código da Educação Nacional, a aprovação das Leis Orgânicas do Ensino, a formulação do Plano Nacional de Educação e a orientação e o controle de todas as atividades educativas do país, incluindo aquelas desenvolvidas pelos governos locais e pelas entidades privadas, nem o Código de Educação nem o Plano de Educação chegaram a ser elaborados. Sabemos que apenas as Leis Orgânicas do Ensino, também conhecidas como "Reformas Capanema", foram, então, decretadas. No período compreendido entre 1946 e 1964 observa-se uma tensão entre duas visões de Plano de Educação que, de certo modo, expressa a contradição entre as forças que se aglutinaram sob a bandeira do nacionalismo desenvolvimentista que atribuíam ao Estado a tarefa de planejar o desenvolvimento do país libertando-o da dependência externa, e aquelas que defendiam a iniciativa privada se contrapondo à ingerência do Estado na economia e àquilo que taxavam de monopólio estatal do ensino. Ambas essas tendências repercutiram no debate que se travou por ocasião da discussão no Congresso Nacional do projeto da nossa primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A primeira tendência teve como porta-voz Santiago Dantas que, intervindo no debate na Câmara dos Deputados na sessão de 4/6/59, salientou a necessidade de o projeto de LDB criar as condições para a construção de um sistema de ensino voltado para a realidade e as necessidades do desenvolvimento brasileiro, criticando o projeto de LDB por ser apenas uma consolidação das leis do ensino. Para ele, a Lei de Diretrizes e Bases não pode ser apenas uma moldura jurídica, mas deve fixar os objetivos, os meios e as condições de planejamento por meio dos quais o Poder Público possa coordenar os esforços da nação no campo educativo (Dantas 1959, p. 2.664). Em seu entendimento, o Plano Nacional de Educação resulta, portanto, mais importante do que a própria Lei de Diretrizes e Bases. Entretanto, na discussão da LDB prevaleceu a segunda tendência que defendia a liberdade de ensino e o direito da família de escolher o tipo de educação que deseja para seus filhos, considerando que a ação planificada do Estado trazia embutido o risco de totalitarismo. Em decorrência dessa orientação, a idéia de Plano de Educação na nossa primeira LDB ficou reduzida a instrumento de distribuição de recursos para os diferentes níveis de ensino. De fato, pretendia- se que o Plano garantisse o acesso das escolas particulares, em especial as católicas, aos recursos públicos destinados à educação. Assim, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, promulgada em 20 de dezembro de 1961, refere-se a "plano de educação" no parágrafo segundo do artigo 92. Após estabelecer que "com nove décimos dos recursos federais destinados à educação, serão constituídos, em parcelas iguais, o Fundo Nacional do Ensino Primário, o Fundo Nacional do Ensino Médio e o Fundo Nacional do Ensino Superior" (parágrafo primeiro), o parágrafo segundo determina que "o Conselho Federal de Educação elaborará, para execução em prazo determinado, o Plano de Educação referente a cada Fundo". Também o artigo 93 define que os recursos constitucionais vinculados à educação (art. 169 da Constituição Federal de 1946) "serão aplicados preferencialmente na manutenção e no desenvolvimento do sistema público de ensino de acordo com os planos estabelecidos pelo Conselho Federal de Educação e pelos Conselhos Estaduais de Educação". Nesse caso o conceito de "plano" já assume o significado estrito de forma de aplicação de determinado montante de recursos financeiros. Atendendo àquelas normas legais, o Conselho Federal de Educação elaborou em 1962 um documento (Brasil 1962) em que procurou, numa primeira parte, traçar as metas para um Plano Nacional de Educação e, numa segunda parte, estabelecer as normas para a aplicação dos recursos correspondentes aos Fundos do Ensino Primário, do Ensino Médio e do Ensino Superior (Horta 1982, pp. 93-125). A partir de 1964 o protagonismo no âmbito do planejamento educacional se transfere dos educadores para os tecnocratas, o que, em termos organizacionais, se expressa na subordinação do Ministério da Educação ao Ministério do Planejamento cujos corpos dirigente e técnico eram, via de regra, oriundos da área de formação correspondente às ciências econômicas. Essa tendência se explicita na reforma do ensino traduzida pela Lei 5.692/71 cujo artigo 53 define que "o Governo Federal estabelecerá e executará planos nacionais de educação", esclarecendo no parágrafo único que "o planejamento setorial da educação deverá atender às diretrizes e normas do Plano-Geral do Governo, de modo que a programação a cargo dos órgãos da direção superior do Ministério da Educação e Cultura se integre harmonicamente nesse Plano- Geral" (Saviani 1996b, p. 136). Nesse contexto os planos para a área de educação decorriam diretamente dos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs) recebendo, por isso mesmo, a denominação de "Planos Setoriais de Educação e Cultura" (PSECs). Dir-se-ia que, se no período de 1932 a 1962, descontados os diferentes matizes, o plano era entendido, grosso modo, como um instrumento de introdução da racionalidade científica na educação sob a égide da concepção escolanovista, no período seguinte que se estende até 1985 a idéia de plano se converte num instrumento de racionalidade tecnocrática consoante à concepção tecnicista de educação. Com o advento da "Nova República" elaborou-se o I Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova República: 1986-1989 (Brasil 1985) e, "não obstante a existência do Plano `Educação para Todos', que expressava de modo geral o que o `Governo Tancredo' pretendia para a educação nacional, privilegiou-se uma estratégia de repasse aos Estados e Municípios, com objetivos clientelistas, que desconsiderou aquele Plano" (Kuenzer 1990, p. 56). Como assinala a mesma autora, "passou-se, desta forma, de uma estratégia de formulação de políticas, planejamento e gestão tecnocrática, concentrada no topo da pirâmide no governo autoritário, para o pólo oposto, da fragmentação e do descontrole, justificado pela descentralização, mas imposto e mantido por mecanismos