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Paulo Tsuyoshi C. Takeda --- Acadêmico de medicina da UNL Turma XXXVI INTRODUÇÃO: O exame neurológico não segue uma ordem exata: inspeção, palpação, percussão e ausculta. A ordem do exame neurológico é: INSPEÇÃO MARCHA ESTÁTICA MOTRICIDADE SENSIBILIDADE NERVOS CRANIANOS INSPEÇÃO Primeiramente, devo observar as manifestações cutâneas: Manchas café com leite Neurofibromas Angiofibromas Angioma portovinhoso facial Lesões eritematovesiculares dolorosas no trajeto de uma raiz nervosa Máculas anestésicas Em segundo lugar, devo observar a atitude do paciente, tendo em vista que alterações neurológicas podem causar deformidade na postura do paciente, como exemplo os AVE’s que causam danos aos neurônios motores. Em terceiro, observar a fáscie do paciente: Parkinson; Fáscie inexpressiva, apática. Miastenia gravis; Ptose palpebral bilateral, geralmente assimétrica. Distrofia miotônica de Steinert; Fáscie em machadinha. Paralisias faciais; Central ou periférica. Fácies de Lúpus Eritematoso Sistêmico. MARCHA Começo a avaliar a marcha, quando o paciente entra no consultório (o ideal é que o paciente esteja com os joelhos e pés a mostra). Ao observar a maneira como o paciente se locomove, é possível em algumas afecções neurológicas, suspeitar ou fazer um diagnóstico sindrômico. Por conseguinte, eu peço que o paciente caminhe de um lado para o outro da sala várias vezes e observar a sequência do andar, comprimento e simetria das passadas, elevação correta dos joelhos, balanceio correto dos braços, toque do pé no solo (primeiro o calcanhar), posição do tronco e da cabeça, por fim, se o paciente segue uma linha reta durante o movimento e se a virada ocorre naturalmente. Após isso, peço que o paciente caminhe rapidamente e pare abruptamente sob comando (Para observar ataxias e paresias não evidentes no andar atual). Em seguida, peço que o paciente caminhe nas pontas dos pés e sobre os calcanhares. Pedir que ande em fila indiana ou marcha pré-antepé, encostando o calcanhar na ponta do outro a cada passada (Para testar a marcha do equilíbrio). A todo e qualquer distúrbio da marcha, nomeamos de disbasia, que pode ser uni ou bilateral. Tipos de marcha: M. Ceifante: MI estendido, pé em inversão e braço flexionado e rígido. M. Escarvante: Caminha arrastando a ponta dos pés no chão, e eleva anormalmente os joelhos na tentativa de não arrastar a ponta dos pés; típica de lesões dos nervos periféricos, radiculites, polineurites ou poliomielite. M. Atáxica: Caminha com a base alargada e as pernas são projetadas para a frente e para os lados, com movimentos largos e imprecisos, olhando para as pernas quando deambulam e com perda de equilíbrio; típica de lesão cerebelar; M. dos Pequenos Passos: Paciente caminha com passos curtos (um pé não ultrapassa o outro em cada passo) de maneira lenta, rígida e arrastada e não balançam os braços ao andar, tem dificuldade ao virar, (mantém cabeça, ombro, tronco, cotovelo, punhos, joelhos e tornozelos flexionados). Típica de Parkinson e aterosclerose avançada. M. em Tesoura: Pacientes com espasticidade grave dos MMII (paralisia cerebral, doença de Little); enrijecimento dos mm. adutores do quadril, adução das coxas, joelhos cruzando-se um em frente ao outro a cada passo. M. Tabética: Perda da propriocepção dos MMII por lesão do cordão posterior da medula ou neuropatia periférica sensorial. Caminha com a base alargada, olhando para o solo, arremessa o pé para diante e o bate com força no chão (por perda da noção da proximidade com o solo). Descrita para pacientes com neurossífilis. M. de Trendelenburg: Característica das miopatias, caracteriza-se pela fraqueza dos mm. da pelve (principalmente mm. glúteos médios); paciente caminha com rotação exagerada da pelve, arremessando ou jogando os quadris de um lado para o outro a cada passo, para deslocar o peso do corpo; parece um pato quando anda. ESTÁTICA Usada quando o paciente não consegue andar. Para o exame da estática, iremos pesquisar o sinal de Romberg. Sinal de Romberg - pedir que o paciente fique de pé com os pés juntos, olhando para frente e com os braços junto ao corpo; em seguida peço que fique parado e feche os olhos. Postar-se de maneira a segurar o paciente para evitar uma queda. Sinal positivo quando perde o equilíbrio: perda de propriocepção (cai para um lado aleatório); lesões vestibulares (cai sempre para o lado do vestíbulo lesionado); pacientes histéricas (cai sempre para o lado do examinador). MOTRICIDADE Os atos motores possui três tipos: M. Voluntária M. Involuntária M. Reflexa O sistema motor voluntário que comanda os vários segmentos do corpo é representado pelos neurônios centrais ou superiores que se situam no córtex frontal, precisamente no giro pré-central, cujo os axônios formam a via piramidal. Motricidade voluntária: Iremos avaliar a motricidade espontânea e a força muscular. 1- Motricidade espontânea: Irei pedir para que o paciente faça algumas séries de movimentos com os membros, como abrir e fechar a mão, estender e fletir o braço, abduzir e elevar o braço, fletir a coxa e fletir e estender a perna e o pé. 2- Força muscular: O paciente procura fazer os mesmos movimentos referidos na motricidade espontânea, só que agora com a oposição aplicada pelo examinador. Força Muscular Normal Força muscular normal Movimento submáximo contra a resistência Movimento moderado contra a resistência Movimento discreto contra a resistência Vence gravidade, mas não a resistência Não vence gravidade Contração sem movimento Sem contração muscular Motricidade involuntária: Iremos avaliar o tônus muscular e a coordenação. 1- Tônus muscular: O exame do tônus é feita com o paciente em decúbito dorsal com os músculos completamente relaxados, seguindo a seguinte técnica. Inspeção Verifico se não há achatamento das massas musculares no leito (Quando temos uma hipotonia, conseguimos ver o tônus caído sobre o leito) Palpação Ver a consistência muscular, geralmente quando há lesões no sistema nervosos central, o tônus fica aumentado e em lesões 5 4+ 4 4- 3 2 1 0 periféricas, teremos um tônus diminuído (hipotonia). Movimentos passivos Veremos se o paciente terá movimentos passivos ou não. Pedimos para o paciente deixa o braço mole e você irá começar a mexer o esse braço. Após isso, veremos o grau de resistência e passividade e a extensibilidade. Hipotonia Observamos o achatamento das massas musculares no leito e teremos uma consistência muscular diminuída. Hipertonia Observamos a consistência muscular e extensibilidade aumentada. Pode ocorrer por lesão na via piramidal ou extrapiramidal. Numa lesão de via piramidal, teremos algo chamada de espasticidade, como exemplo podemos citar a postura de Wernick-mann, que acaba acontecendo em um paciente que teve um AVE, então esse paciente fica com o tônus aumentado, contralateral. Ela é eletiva, ou seja, extensora de MMII, e flexora de MMSS. É elástica, vemos um braço fletido, tentamos estica-lo, mas ele volta, igual um elástico. Numa lesão extrapiramidal, ela vai ter uma rigidez contínua, mas não é eletiva. É uma hipertonia plástica, com resistência constante à movimentação passiva, como se fosse de cera, aí nós teremos o sinal da roda dentada, que vai se caracterizar por interrupções sucessivas ao movimento. 2- Coordenação:Para termos coordenação, temos que ter cerebelo e propriocepção (sensibilidade espacial que temos do nosso próprio corpo). Para podermos diferenciar se o problema está no cerebelo ou na propriocepção, fazemos os testes com os olhos fechados. Exemplo: Pedimos que o paciente de olhos fechados traga o dedo indicador até a ponta do nariz, se o paciente tiver problema na propriocepção ele irá errar esse teste, mas se o problema for no cerebelo, ele não irá ter coordenação nenhuma para fazer esse teste, tanto com os olhos abertos, como fechados. Fazemos o exame da coordenação seguindo algumas provas: Prova indicador-nariz – com o paciente de olhos fechados, peça para que ele traga a ponta do dedo até o nariz. Se conseguir, a propriocepção e cerebelos estão bem. Prova calcanhar-joelho – com o paciente em decúbito dorsal, peça para que ele traga o calcanhar até o joelho contralateral. Prova Diadococinesia – Peço para o paciente fazer movimentos alternados e rápidos Se o paciente conseguir realizar os movimentos, chamamos de eudiadococinesia, se o paciente apresentar dificuldades, chamamos de disdiadococinesia e se o paciente for incapaz de realizar esses movimentos, chamamos de adiadococinesia. Motricidade reflexa: A reação dos reflexos, podem ser motoras ou secretora, dependendo da modalidade de estímulo e do órgão estimulado. Possuímos os reflexos exteroceptivos ou superficiais, que são cutâneos, podendo ser: Cutâneoplantar Cutâneoabdominais Temos também os reflexos profundos: Tricipital Bicipital Supinador Patelar Aquileu (tornozelos) Cutâneoplantar Vou pegar uma borda romba e vou passar na planta do paciente, sendo normal o paciente sentir cócegas e fazer a flexão dos dedos. Quando temos o sinal de Babinski (lesão de via piramidal ou corticoespinhal), eu vou ter uma extensão patológica dos dedos. Cutâneoabdominal Vou sair da periferia com a mesma borda romba e vou trazer até a linha média, tipo como se tivesse arranhando a barriga do paciente. É esperado uma contração unilateral. Se não tem esse tipo de reflexo, pode indicar algum problema no arcoreflexo ou na via piramidal. Reflexos profundos Primeiramente irei começar pelo supinador, onde vou bater acima da proeminência óssea. Depois vou para o bicipital, onde vou ter que colocar meu polegar na fossa cubital pressionar, botar o martelo em cima do meu dedo e bater. O que espera ver é uma contração do bíceps fazendo uma flexão do braço. No tricipital eu vou precisar colocar o braço do meu paciente lá para cima e fazer uma percussão no tendão distal do tríceps, tendo como resposta uma extensão do antebraço. Por conseguinte, vou para o patelar na qual vou percutir o tendão da patela junto com a articulação do joelho, tendo como resposta a contração do músculo quadríceps femoral e extensão da perna. Por fim, vou para o aquileu na qual vou segurar o pé do paciente e bato no tendão de Aquiles, tendo como resposta a extensão do pé. Classificação de reflexo em cruzes 0 Arreflexia - Hiporreflexia + Normorreflexia ++ Reflexo Vivo +++ Hiperreflexia SENSIBILIDADE Sensibilidade Superficial: Para a sensibilidade tátil, utiliza-se um pedaço de algodão ou um pincel macio, que eu irei roçar de leve em várias partes do corpo. A sensibilidade térmica requer dois tubos de ensaio, um com água gelada e outro com água quente, com que se tocam em diversas partes do corpo alternando os tubos. A sensibilidade dolorosa é pesquisa da com o estilete rombo, capaz de provocar dor sem ferir o paciente. Sensibilidade profunda: A sensibilidade vibratória (palestesi a) é pesquisada com o diapasão de 1 28 vibrações/s, colocado em saliências ósseas A sensibilidade à pressão (barestesia) é pesquisada mediante compressão digital ou manual em qualquer parte do corpo. A cinética postural ou artrocinética (batiestesia) é explorada deslocando suavemente qualquer segmento do corpo em várias direções (flexão, extensão). A sensibilidade dolorosa profunda deve ser pesquisada com uma agulha. Diminuição da sensibilidade – hipoalgesia. Perda da sensibilidade – analgesia Aumento da sensibilidade – hiperalgesia. NERVOS CRANIANOS Nervo Olfatório (I) Função – Olfação Se examina cada narina separadamente, colocando-se uma substancia de odor facilmente reconhecida, como café, e, uma narina do paciente com outra ocluída e olhos fechados. Perda Anosmia Diminuição Hiposmia Aumento Hiperosmia Perversão Parosmia Nervo Óptico (II) É examinado de 4 formas: campimetria, reflexos e o exame do fundo de olho. Nervo Oculomotor (III), Troclear (IV) e Abducente (V) São responsáveis pela movimentação ocular e são examinados em conjunto. O exame de movimentação ocular é realizado pedindo ao paciente para fixar a visão no dedo do examinado e perseguir o dedo do examinador que irá aferir a integridade dos seis músculos extraoculares fazendo um grande H ou masterisco. Nervo Trigêmeo (VI) O reflexo é pesquisado encostando- se um chumaço de algodão ou gaze na córnea do paciente e a resposta esperada é o piscar dos dois olhos. É importante que o paciente não visualize o objeto que irá provocar o estímulo. Nervo Facial (VII) Responsável pela musculatura da mímica facial. O exame é realizado pedindo-se ao paciente para enrugar a testa (olhar para cima), fechar os olhos com força, sendo importante analisar o apagamento dos cílios do paciente, sempre comparado um lado com outro (a permanência de uma abertura entre as pálpebras ao fechar dos olhos se chama lagoftalmia). Nervo Vestibulococlear (VIII) É examinada grosseiramente através do sussurrar ou roçar dos dedos próximos a um ouvido, sempre comparando os dois. Esses testes analisam condução óssea e aérea através do som, como a integridade das orelhas externas, médias e internas. Teste de Rinne: consiste em colocar um diapasão vibrando na hipófise mastoide do paciente e pedir para ele avisar quando parar de ouvir. Quando ele disser que parou de ouvir a ponta vibrante do diapasão deve ser colocada próxima ao pavilhão auricular do paciente que deve continuar a ouvir vibração. Se não ouvir nada, o teste é negativo ou anormal e o paciente apresenta déficit na condução aérea do som. Nervo Glossofaríngeo (IX) e Vago (X) Os nervos glossofaríngeos e vago podem ser examinados juntos, são responsáveis pela motricidade do palato mole, úvula e músculos da deglutição – podem ser examinados pedindo para o paciente abrir a boca e fala AH! Por alguns segundos. Paciente com lesões desses dois nervos, podem queixar-se de disfagia (dificuldade para deglutir), disartria (dificuldade na articulação da fala) e disfonia (problema na fonação). Nervo Acessório (XI) É responsável pela inervação dos músculos esternocleidomastóideo e trapézio ipisilateral. Quando há paresia do ECOM há dificuldade de virar a cabeça para o lado oposto. Examina o ECOM pedindo para o paciente virar a cabeça e o pescoço contra a resistência do examinador (com uma mão na mandíbula do paciente), e o trapézio pedindo ao paciente elevar os ombros contra a resistência. Nervo Hipoglosso (XII) É responsável pela inervação dos músculos da língua, se examina este nervo observado a língua em repouso na boca (em busca de alterações), depois pedindo para o paciente colocar a língua para fora e mobilizá-la para um lado e para o outro. Nas lesões deste nervo ocorre desvio da língua para o lado da lesão quando é protraída e desvio contralateral à lesão quando a línguaestá dentro da boca. AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIENCIA A escala de Glasgow deve fazer parte do exame neurológico nos pacientes com alteração no nível de consciência. REFERÊNCIAS Semiologia Médica – Celmo Celeno Porto – 7ª Edição. 2013. Editora Guanabara Koogan Bates – Propedêutica Médica – Lynn S. Bickley. 11ª Edição. 2015. Editora Guanabara Koogan
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