Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
P á g i n a | 1 Pericardites Definição Processo inflamatório do pericárdio, que pode ser primário (infecção viral), ou secundário (lúpus), podendo cursar com ou sem derrame pericárdicoe ter múltiplas causas. Anatomia Pericárdio é a membrana que recobre o coração (epicárdio), formada por duas camadas: visceral e parietal. Inflamação aguda em uma das membranas → pericardite. Evolução com acúmulo de líquido → derrame pericárdico. Derrame extenso → tamponamento cardíaco. Inflamação crônica = Fibrose → pericardite constritiva ou efusivo-constritiva. Epidemiologia Pericardite aguda em 5% dos pacientes com dor torácica de etiologia não isquêmica. Qualquer idade e sem prevalência de sexo. Etiologia Infecções – virais (enterovírusm ecovírus, Epstein barr, herpes simples, influenza, CMV, adenovírus, coxaque), tuberculose, que são responsáveis por 2/3 dos casos de pericardites Isabela Terra Raupp P á g i n a | 2 o Virais → sua ação se deve a ação direta do vírus ou ao processo inflamatório secundário. o Bacteriana → derrame pericárdico e ligado a história de pneumonia, empiema, disseminação hematogênica, pós-cirurgia cardíaca ou torácica. Auto-imune – LES, AR, Febre reumática. Neoplasia metastática – pulmão e mama, sarcoma de Kaposi e linfoma (imunodeprimidos). Metabólica – uremia e hipotireoidismo. o Insuficiencia renal produz derrame em até 20% dos pacientes. Radiação precoce ou tardia – principalmente na região torácica. Causas cardiovasculares: Síndrome de Dressler (pós-IAM) e após cirurgia cardíaca. o Pós IAM – até 3 dias. o Síndroe de Dressler – 3 semanas a 6 meses ligado a atividade autoimune. Classificação Pericardite aguda; Pericardite crônica; Derrame pericárdico e tamponamento cardíaco; Pericardite constritiva; Pericardite recorrente. Fisiopatologia Tamponamento cardíaco O sulco pericárdico contém uma pequena quantidade de líquido normalmente (30 a 50mL). No Tamponamento, há acúmulo de líquido no espaço entre os pericárdios parietal e visceral, que normalmente é virtual, gerando distensão do tecido fibroelástico, com progressiva compressão das câmaras cardíacas (pelo aumento da pressão intrapericárdica), redução do volume de enchimento cardíaco e menor interdependência ventricular, causada pela inflamação. Gera problemas para o paciente. Inflamação acúmulo de líquido no pericárdio distenção do tecido fibroelástico ↑ pressão intrapericár dica compressão das câmaras cardíacas ↓ volume de enchimento cardíaco P á g i n a | 3 Velocidade que o líquido se acumula no pericárdio. Se for uma efusão lenta (direita - subagudo), o limite de estiramento vai demorar mais para ser atingido. Então, posso ter um acúmulo de grande quantidade de líquido e demorar mais para demonstrar aumento de pressão suficiente para causar um tamponamento e sintomas, que se apresentam como dispneia e fadiga, hipovolemia. Causas que levam a efusão rápida (curva da esquerda - agudo), principalmente a uremia e as causas metastáticas, além de trauma, ruptura do coração e aorta, como complicação de procedimentos, causam acúmulo rápido de líquido, que leva a um aumento de pressão muito rápido, faz tamponamento mais rápido. Quadro clínico Pericardite aguda O quadro clássico é síndrome febril + acometimento de VAS + dor torácica + atrito pericárdico. Dor torácica: Pleurítica (respiratório-dependente, piora com a inspiração), aguda, melhora ao sentar e inclinar para frente (diminui a pressão no pericárdio e não consegue expandir tanto a caixa torácica). Atrito pericárdico (33% dos pacientes, podendo ser transitório). Taquicardia (dor faz estimulação simpática e a inflamação aumenta a frequência cardíaca). Febre, sintomas de IVAS (espirros, tosse, coriza) ou sintomas gastrointestinais (vômito, diarreia), podem preceder o quadro de pericardite. Outros sintomas de acordo com a etiologia – LES (eritema malar, artrite), causa metastática (perda ponderal associada), pós-op. De cirurgia cardíaca ele vai ter no relato que operou recentemente. Marcadores de alto risco de pericardite aguda: elevação de enzimas de necrose miocárdica, febre > 38ºC e leucocitose, derrames pericárdico volumosos com ou sem tamponamento cardíaco, pacientes imunocomprometidos, história de anticoagulante oral, disfunção global no ecocardiograma (miopericardite). Derrame Pericárdico Abafamento de bulhas (alta concentração de líquido entre as camadas do pericárdio). Tamponamento: tríade de Beck: Bulhas Abafadas Estase Jugular Choque circulatório A pressão cai, o paciente fica hipotenso e a PAS e PAD se aproximam (PA pinçada). P á g i n a | 4 Pulso paradoxal – queda na PAS em > 10mmHg com a inspiração. Redução do descenso Y do pulso venoso – momento em que os átrios estão ejetando volume nos ventrículos, com a abertura das valvas AV, o sangue passa do átrio para o ventrículo, então a pressão no átrio diminui. Com isso, há uma tendência de cair a pressão de pulso fisiologicamente. Com o tamponamento, as pressões cardíacas estão mais altas, então essa queda de pressão praticamente não acontece. Pericardite Constritiva Frequentemente associado a dispneia de esforço e/ou fadiga associada a disfunção diastólica e presença de ascite desproporcional de MMII. Pulso com colapso de Y proeminente e sinal de Kussmaul. Sinais de congestão sistêmica/direita → estase jugular, edema de MMII, hepatoesplenomegalia, ascite. Knok pericárdico → som que acontece no começo da diástole quando o sangue está sendo ejetado do átrio para os ventrículos, porque o ventrículo perde a complacência, deixando o pericárdio duro, pero turbilhonamento de fluxo. Sinal de Kussmaul → quando o paciente inspira, acontece um aumento da estase jugular, pelo aumento de pressão nas câmaras direitas. Descenso Y do pulso venoso proeminente → o problema é de relaxamento cardíaco, o coração não consegue receber muito sangue sem aumentar as pressões. A pressão cai rapidamente pela passagem de sangue dos átrios para os ventrículos sem deixar nada. P á g i n a | 5 Diagnóstico Clínico! ECG o mandatórios. Pericardite: Supra de segmento ST difuso + infra de PR. Na derivação aVR acontece o contrário (porque é a derivação a direita e o coração está para a esquerda). o Na aguda, temos 4 estágios de evolução: I) Supradesível de ST côncavo e difuso, exceto em aVR e V1, onde tem infradesnível, onda T apiculada, com leve aumento de amplitude e infradesínvel de PR. II) Normalização do segmento ST e PR, além de achatamento da onda T. P á g i n a | 6 III) Inversão da onda T difusa, simulando isquemia miocárdica. IV) Retorno à normalidade da onda t. Pode também apresentar arritmias diversas. A baixa amplitude de QRS acontece pelo derrame pericárdico (< 5 quadradinhos de amplitude nas derivações dos membros e < 10 quadradinhos nas derivações precordiais). Alternância na morfologia do QRS está associado a derrame volumoso e sinais de tamponamento. Alternância elétrica em V2 (uns complexos de maior amplitude e uns de menor), pelo movimento cardíaco dentro do pericárdio. Raio x Pode ser normal na maioria das vezes. Cardiomegalia acontece se > 200 mL de fluído. Aumento da silhueta cardíaca Presença de calcificação do pericárdio (sugere pericardite constitiva) – casca de ovo. Ecocardiograma transtorácico é útil principalmente na suspeita de tamponamento. Padrão: coração em moringa – aumento da área cardíaca. P á g i n a | 7 Ecocardiograma Diagnóstico + acompanhamento da terapêutica + monitorização da pericardiocentese. Espessamentodo pericárdio e derrame pericárdico. o Derrame: quando é pequeno < 10 mm na parte posterior do VE, moderado entre 10 e 20 mm por todo o coração. > 20 mm é derrame importante. Oferece informação sobre a etiologia, característica do líquido (transudato ou exsudato), presença de fibrina (TB), cálcio, coágulos, massas o cistos. o Tamponamento: dilatação das cavas com pouca variação respiratória, colapso diastólico da parede livre do VD, AD, AR e raramente VE. o Pericardite constritiva: espessamento pericárdico, movimento naormal do septo interventricular, aumento moderado biatrial do fluxo restritivo, variação respiratória > 25% da velocidade do fluxo mitral. TC e RNM: Quadros mais graves, que evoluem mal, com suspeita de malignidade. TC: pericárdio uniformemente espassado, derrame pericárdico e realce pós contraste. Identifica também calcificações; RMN: Quantifica o grau de espessamento do pericárdio e o volume de derrame pericárdico, distingue de sinais sugestivos de injuria miopericárdica pelo realce tardio. O coração aparece flutuando no meio do líquido, variando sua localização pela movimentação. Exames laboratoriais: o Provas inflamatórias (PCR e VHS) – normalizam ao fi de 2 semanas, se permanecerem elevados, pensar em recorrência de pericardite. P á g i n a | 8 o Função renal o TSH o FAN (se mulher jovem) o hemocultura o Marcadores de necrose miocárdica (troponina I e CKMB) podem estar elevados pela miosite periférica das infecções virais. Se TnI aumentado, pensar em comprometimento miocárdico associado. o Peptídeo natriurético atrial tipo B (BNP) e fração N-terminal do BNP podem estar elevados, mas não são de uso rotineiro. Pericardiocentese e biopsia Terapêutico e diagnóstico. Usado na presença de tamponamento cardíaco, hemopericárdio pós trauma e pericardite bacteriana ou neoplásica. Nos derrames assintomáticos com > 20mm está indicada sua realização para possibilidade de evolução de forma súbita. O líquido deve ser enviado para análise de: citologia, cultura, pesquisa de células neoplásicas e pesquisa viral, dosagem de adenosina deaminase. CI absoluta: dissecção de aorta. Relativas: coagulopatia, anticoagulação, trombocinemia < 50000/mm³, derrame pequeno, posterior ou loculado. Biopsia: investigação de pacientes com pericardite difusa retrataria ao tratamento clínico sem diagnóstico definitivo. Análise celular: o Pericardite fibrinosa - graus variados de espessamento por edema, discreto infiltrado inflamatório e fibrina na superfície, com espessamento do colágeno e tecido de granulação nos casos mais crônicos. Por vezes há proliferação exuberante de células mesoteliais. o Pericardite fibrino-purulenta - infiltrado neutrofílico, por vezes formando abscessos, em meio a fibrina e restos celulares na superfície serosa. O encontro do agente etiológico é frequente. o Pericardite crônica inespecífica - infiltrado linfo-histiocitário associado a fibrose de grau variável. Viral. o Pericardite hemorrágica - encontrada em associação com pericardites agudas, é acompanhada de componente hemorrágico expressivo. As principais causas são: tuberculose, infiltração neoplásica e cirurgia cardíaca. o Pericardite granulomatosa - o principal agente causal é a tuberculose, micobactérias atípicas e fungos como histoplasma e cândida. Na tuberculose é comum necrose caseosa, e pode evoluir para pericardite constritiva. o Pericardite constritiva - é o resultado da cicatrização de uma pericardite prévia. Caracteriza-se por espessamento fibroso acentuado e aderências entre os folhetos visceral e parietal. Às vezes coexiste calcificação extensa ou em placas. o Pericardite pós-infarto do miocárdio e síndrome de Dressler - admite-se que a vizinhança com o miocárdio necrótico possa causar inflamação do pericárdio pós-infarto do miocárdio, que quando ocorre tardiamente é denominado de síndrome de Dressler. P á g i n a | 9 Critérios diagnósticos: Tratamento o Hospitalização para determinação da etiologia – observar sinais de tamponamento. o Pericardite aguda: o AINE (ibuprofeno ou AAS) por 2 semanas. Usa-se Aas 500 a 750 mg a cada 6 a 8 horas, por 7 a 10 dias, seguido por redução gradual de 500 mg por semana por até 3 semanas. Ibuprofeno 400 a 800 mg a cada 6 ou 8 horas por 14 dias. Indometacina 75 a 150 mg ao dia. o Corticoide: 2ª linha – aumenta recorrência – usados em pacientes que tem contraindicação para uso de AINE, pacientes com doenças de tecido conjuntivo, doenças autoimunes e pericardite urêmica. Usa-se aplicação intrapericárdica. 2 das 4 características: 1) Dor torácica típica – pleurítica, que pode irradiar para o Trapézio, melhora sentado e inclinando para frente. 2) Atrito pericárdico 3) Elevação difusa de ST ou depressão de PR. 4) Derrame pericárdico Critérios adicionais: 1) Elevação de provas inflamatórias – PCR, VHS e leucocitose. 2) Inflamação pericárdica em exame de imagem – TC ou RMN P á g i n a | 10 o Conchicina:3 meses (1º episódio) a 6 meses (recorrente). Diminui taxa de recorrência, e no alívio da dor. Dose é de 0,5 mg de 12 em 12 horas ou 0,5 mg a cada 24 horas. o Tamponamento cardíaco: punção de Marfan. Drenagem abaixo do apêndice xifoide, 45º virado para o lado esquerdo, idealmente guiado pelo US. Pode-se fazer infusão rápida de cristaloide para estabilização hemodinâmica do paciente e aminas/atropina se bradicardia. Pode ser realizada drenagem pericárdica com punção percutânea e colocação de cateter ou cirurgia aberta com ou sem pericardioctomia. • O tratamento definitivo requer toracotomia em centro cirúrgico, para reparo imediato da lesão cardíaca. o Pericardite constritiva: pericardiectomia. o Pericardite recorrente: uso de imunossupressores, como Azatioprina na dose inicial de 1 mg/kg/dia 1 vez ou 2 ao dia, aumentando para 2 ou 3 mgkg/dia gradualmente. Ou imunoglobulinas IV 400-500 mg/kg/dia por 5 dias ou 1 g/kgdi por 2 dias e repetir em 4 semanas. o Tratar afecções coadjuvantes, como TB, vírus, neoplasias... P á g i n a | 11
Compartilhar