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O EFEITO NOCIVO DOS MEDICAMENTOS Medicamentos: são produtos desenvolvidos, tendo em vista os efeitos terapêuticos, no entanto, muitas vezes não há o feito terapêutico, seja pela não adesão do paciente ao tratamento ou o indivíduo é refratário ao tratamento não respondendo a doses mesmo que sejam elevadas, ou ainda, recebendo uma dose terapêutica já apresenta um efeito indesejado. Evento adverso: qualquer ocorrência desfavorável que pode ocorrer durante o tratamento com um medicamento, mas que não possui, necessariamente, relação casual com esse tratamento. O conceito de evento adverso é amplo, abrangendo uma série de problemas relacionados ao uso de medicamentos. As janelas terapêuticas estão associadas ao máximo de eficácia e ao menor risco de efeito adverso ao medicamento. O termo “efeito colateral” não exclui ele de ser um efeito nocivo. A Talidomida foi um medicamento inicialmente desenvolvido para amenizar os enjoos causados pela gravidez, no entanto, ao longo dos anos foi percebido que o fármaco apresenta efeito teratogênico associado antiangiogênico, reduzindo a capacidade de formação de vasos, ou seja, agia no feto no momento de crescimento dos membros. Atualmente, a Talidomida ainda é utilizada em algumas doenças. Uma das coisas que se investiga é o seu uso no tratamento do câncer, devido ao seu efeito antiangiogênico, causando como efeito colateral sonolência, no entanto esse efeito em um tratamento como esse seria classificado como não deletério. Reação adversa ao medicamento (RAM): qualquer resposta prejudicial ou indesejável, não intencional, a um medicamento, que ocorre nas doses usualmente empregadas para profilaxia a, diagnostico ou terapia de doenças. No conceito de RAM pode-se observar a existência de uma relação causal entre o uso do medicamento e a ocorrência do problema. A RAM é considerada, assim, um tipo de evento adverso. CLASSIFICAÇÃO DAS RAM DE ACORDO COM O SEU MECANISMO As reações do tipo A seguem o principio de que quanto maiores as doses, maiores serão as respostas, sendo assim, dose-dependentes. Enquanto que, as do tipo B não seguem esse mesmo princípio. A maioria das reações adversas ao medicamento são do tipo A, representando cerca de 80%. Reações do tipo A ✔ Farmacologicamente previsíveis ✔ Fármacos de baixo índice terapêutico, mas nem essa termologia é a única que deve ser levada em consideração ✔ Em geral, desaparecem quando a concentração do fármaco é reduzida Causas ✔ Farmacêuticas: a formulação farmacêutica pode predispor a toxicidade. Ex.: salicilato com liberação muito rápida ao longo do TGI. Isso pode resultar em efeito adversos de irritação. Algumas vezes a própria formulação pode auxiliar na minimização dessas reações adversas. ✔ Farmacocinéticas: alterações farmacocinéticas podem resultar de anormalidades quantitativas nos processos de absorção, distribuição, metabolismo e eliminação, com em altas concentrações do fármaco no sítio de ação e consequente aumento no seu efeito biológico. ✔ Farmacodinâmicas: alterações farmacodinâmicas podem alterar a sensibilidade dos alvos dos fármacos. Isso pode ser explicado tomando como exemplo a Varfarina, a qual interfere em uma enzima relacionada ao metabolismo da vitamina K. Variabilidades genéticas fazem com que algumas pessoas sejam mais sensíveis e outras mais resistentes. Assim, esse alvo pode ser monitorado para o ajuste de dose da Varfarina. Índice terapêutico: é a razão entre a dose letal 50% e a dose efetiva 50%. É um parâmetro simplista já que leva em consideração apenas a dose letal, precisando se atentar a doses menores que já causam algum efeito indesejável. Um exemplo de RAM do tipo A é o surgimento de sangramento com o uso de anticoagulante, onde doses a cima da dose terapêutica provocam sangramento e doses a baixo não causa efeitos, podendo resultar em trombose. As doses de varfarina precisam ser bem ajustadas para cada paciente para evitar tromboses e sangramentos. As RAM do tipo A podem ser subdivididas em farmacológicas, patológicas e genotóxicas. 1. Reações farmacológicas: exacerbação do efeito farmacológico. Ex.: efeito de hipoglicemia relacionada ao uso de anti-hiperglicemiantes; hipotensão relacionada ao uso de anti-hipertensivos; depressão excessiva do SNC causada por benzodiazepínicos. 2. Reações patológicas: o efeito clássico é o do paracetamol, também denominado de acetaminofeno. Esse fármaco é metabolizado por diferentes vias, sendo uma via importante é a oxidação mediada pela isoforma o citocromo P450, formando o metabolito PHS (prostaglandina H sintase) não apenas no fígado, mas como também nos rins. O produto formado é capaz de se ligar a proteínas nos rins e fígado, sendo o responsável pela toxicidade do paracetamol. Um sistema desintoxicante muito eficiente é pelo uso de glutationa, promovendo a formação de um conjugado denominado de mercapiturato, o qual não apresenta mesma toxicidade que o anterior (PHS0, mas isso só ocorre em doses terapêuticas. Em situações em que há alterações importantes no metabolismo como, por exemplo, etilista, ou seja, associação de paracetamol e álcool pode resultar em manifestações hepáticas (hepatotoxicidade) em função de alterações no metabolismo. Ou ainda, isso pode ser observado quando há sobredose de paracetamol, o que pode implicar em nefro e hepatotoxicidade em função da depleção de glutationa, porque as doses são muito altas e, assim, os níveis de glutationa não são suficientes para metabolizar essa dose elevada, levando ao acumulo de metabólitos tóxicos. Metabolismo do acetaminofeno: o acetaminofeno é metabolizado via sistema P450 e n-acetilparabenzoquinoneina (NAPKI), resultando em um metabólito que provoca a depleção de glutationa. Esse metabolito pode promover alteração na homeostase do cálcio, por meio de arilação de proteínas. Além disso, pode se ligar em algumas proteínas mitocondriais. Os níveis de cálcio no interior das células são muito bem regulados, sendo o segundo mensageiro, formando uma diferença de cerca de 10 mil vezes entre o meio intracelular e o meio extracelular, existindo o gradiente de concentração muito grande. A concentração de cálcio no interior das células é regulada por proteínas que fazem a extrusão do íon ou que pegam ele do meio intracelular e jogam dentro do reticulo endoplasmático ou nas mitocôndrias. Ou seja, existem algumas proteínas que são fundamentais para regular o cálcio dentro da célula. A alteração da homeostasia do cálcio compromete também a homeostase celular (manutenção celular). Quando isso é induzido quimicamente pelo uso de paracetamol pode levar a necrose celular. Essa necrose é induzida pela alteração na homeostase do cálcio. A outra via que explica a intoxicação pelo uso de paracetamol se dá pela ligação de proteínas mitocondriais, que resultando em inibição da fosforilação oxidativa, a qual consiste na produção de ATP, que é fundamental à manutenção celular. Essa inibição gera comprometimento da manutenção celular, sendo nocivos as células pelo acumulo de ADP e seus produtos e depleção de ATP, causando alteração na integridade da membrana, implicandoem falência celular e, consequentemente, necrose celular (morte celular não programada e desordenada, expondo o conteúdo citoplasmático para fora da célula, além de recrutar mediadores inflamatórios que se propagam). 3. Reações genotóxicas (ex.: bussulfano): o bussulfano é um agente alquilante utilizado em pacientes que irão se submeter a transplante de medula óssea. Uma vez que o paciente marcou a data do transplante, inicia o tratamento com esse quimioterápico para zerar a sua imunidade, podendo receber o transplante sem responder contra ele, ou seja, precisa ter o sistema imunológico deprimido para não reconhecer aquilo como um corpo estranho e não reagir ao transplante. O DNA é alquilado pelo bussulfano, mas além desse mecanismo pode causar lesões no material genético e, até mesmo, após longos anos depois do uso do quimioterápico pode ter novos episodio de leucemia mieloide aguda ou de síndrome meielodisplática em decorrência do tratamento com bussulfano. Portanto, o tratamento com esse quimioterápico é colocado em questão o risco/benefício. O efeito carcinogênico induzido por bussulfano é tardio, levando alguns anos para se manifestar. O tratamento consiste em 4 dias e a cada dia a pessoa recebe 4 doses, sendo uma dose a cada 6 horas. Enfatizando que o tratamento com o bussulfano é de âmbito hospitalar. Existem dados atuais que demonstram que concentrações plasmáticas de 600 a 900 ng/mL correspondem ao máximo de eficácia em menor risco de eventos adversos induzidos pelo bussulfano. Além da síndrome meielodisplástica e da leucemia mieloide aguda, o uso de bussulfano também implica em doença veno-oclusiva hepática (VOD) e doença do enxerto contra o hospedeiro (GVHD). Dentre os efeitos adversos, a VOD é mais letal, porque surge logo após o tratamento, por isso, que as concentrações precisam ser bem ajustadas entre 600 e 900 ng/mL para aumentar o risco de sucesso e minimizar os efeitos adversos. Em concentrações a baixo de 600 ng/mL tem alto risco de rejeição do transplante. O estado de equilíbrio do bussulfano é atingido após a 5ª dose. Portanto, a amostra é coletada no segundo dia (5ª dose), assim, é analisado as concentrações de bussulfano plasma, de forma a avaliar se as concentrações no estado de equilíbrio estão entre 600 e 900 ng/mL. É calculado a área sobre a curva e o clearance, e com base nisso é calculado a dose de manutenção para o paciente, possibilitando saber quais as doses necessárias para manter as concentrações no estado de equilíbrio entre 600 e 900 ng/mL. As analises são realizadas no dia com fornecimento dos resultados no mesmo dia, a fim de que na 9ª dose já possa ser ajustado a dose do paciente. Reações do tipo B ● Reações alérgicas (hipersensibilidade): são reações adversas mediadas pelo sistema imunológico resultantes de sensibilização prévia ao toxicante ou estrutura similar, portanto, requer exposição prévia e, consequentemente, sensibilização. Como os medicamentos são estruturas pequenas em relação ao reconhecimento antígeno-anticorpo, em geral, para desenvolver reação alérgica a fármaco é preciso de um carreador denominado hapteno, o qual é uma molécula que se combina a uma proteína endógena para desencadear uma reação alérgica. As reações podem ser manifestadas como, dermatites, coceira, urticária ou choque anafilático; podendo ser reações bastante graves e ser fatal. Alguns autores dizem que a reação alérgica não é um efeito tóxico verdadeiro, porque a resposta não é dose dependente. ● Idiossincrasias: pode ser explicada a partir de algumas variações genéticas. A idiossincrasia é a reatividade anormal a uma substância química, determinada geneticamente. Ou ainda, pode resultar em uma sensibilidade acentuada a baixas doses, assim como, insensibilidade extrema a altas doses de medicamentos. Temos como exemplo, a resistência geneticamente determinada à anticoagulante warfarina devido a uma alteração na enzima vitmina K epóxido redutase (VKORK). O tratamento com succinilcolina também pode resultar em idiossincrasia. A succinilcolina é bloqueador neuromuscular que age na placa motora, sendo utilizado em determinadas cirurgias para causar paralisia desejável no centro cirúrgico. Mas, em geral, o efeito dessa substância é bastante rápido, porque a colinesterase plasmática hidrolisa rapidamente a succinilcolina. Porém, existe uma colinesterase atípica encontrada em algumas pessoas. Essa colinesterase atípica apresenta afinidade cerca de 100 vezes menor pela succinilcolina se comparada a enzima inalterada, deixando a pessoa por mais tempo sobre o efeito da substância. Efeitos tóxicos locais: reação que se desenvolve no local do primeiro contato entre o sistema biológico a um toxicante ● Ingestão de substâncias cáusticas ● Inalação de compostos irritantes Efeitos tóxicos sistêmicos: dependem da absorção e distribuição do toxicante Efeitos tóxicos reversíveis ou irreversíveis: dependem da capacidade de regeneração ou recuperação do tecido. Um efeito hepatotóxico pode ser reversível quando as doses não são muito elevadas, permitindo a regeneração do tecido do fígado. Existem mecanismos de reparo de proteínas, de DNA, dentre outros no nosso organismo, possibilitando a reparação da extensão de determinadas toxicidades. No entanto, efeitos neurotóxicos, normalmente, não são reversíveis, porque o tecido em questão não é muito diferencia, portanto, não se regenera com facilidade. Todas essas afirmativas não podem ser generalizadas, porque quando ocorre toxidade mediada por álcool com cirrose hepática já estabelecida, a toxicidade não pode ser mais reversível. Toxicidade imediata ou tardia ● Carcinógenos químicos: latência de 20 a 50 anos A carcinogênese é uma reação adversa ao medicamento tardia como, por exemplo, o bussulfano. Além disso, é um processo iniciado por lesão mutagênica em genes que regulam a proliferação celular. Para essa mutação ser passada a outras células é necessário que se mantenha durante a divisão celular. Depois da fase de iniciação, entra na fase de promoção, onde pode ocorrer um efeito epigenético, assim, a sequência genética é passada para células-filhas. E, por fim, pode ter a progressão, que é quando as células podem se multiplicar e gerar metástase. Portanto, o câncer é uma reação adversa que vai ser resultado de uma toxicidade tardia. O QUE É MONITORIZAÇÃO TERAPÊUTICA DE FÁRMACOS? É o ajuste racional da terapia farmacológica baseada na medida da concentração de fármaco no plasma, que pode ser avaliada por técnicas cromatográficas, dependentes da reação antígeno-anticorpo, dentre outras. O principal objetivo dessa monitorização é evitar os níveis tóxicos no plasma ou, ainda, evitar as concentrações subterapêuticas e constatar a adesão do paciente; além de ser possível identificar interações medicamentosas não previsíveis. Dose vs concentração plasmática É possível verificar graficamente a variabilidade nas concentrações plasmáticas da dose de 5mg de fenitoína. Portanto, a mesma dose (já corrigida com o peso) não implica em mesma resposta em pacientes diferentes. Essa variabilidade podeser observada em algumas vezes até mesmo em gêmeos univitelinos. Fundamento Espera-se que exista uma relação entre a dose e o efeito terapêutico. A correlação entre concentração plasmática e efeito é maior quando comparado a relação entre dose e efeito, já que a concentração no plasma nos mostra o que realmente está no sangue agindo, diminuindo a variabilidade farmacocinética. O fármaco no plasma está em equilíbrio com o sitio de ação, uma vez que, é a fonte com que o fármaco chega até o tecido de interesse. Fármacos a serem monitorados ● Eficácia não facilmente ou imediatamente mensurável O monitoramento não deve ser realizado para todos os medicamentos na clínica, porque em alguns casos não se faz necessário, lembrando que isso envolve o paciente, além de alto custo. Os anticonvulsivantes e antidepressivos não são facilmente mensuráveis e, por isso, devem ser monitorados. Em geral, é monitorado fármacos de baixo índice terapêutico como, digoxina e bussulfano. ● Intervalos de referência estabelecidos (janela terapêutica), além disso, devem estar bem estabelecidos para diversas indicações Lista de fármacos que podem ser monitorados Intervalo de referência – janela terapêutica ou intervalo terapêutico (gráfico): intervalo de concentrações plasmáticas associados a maior probabilidade de efeitos terapêuticos e menor risco de efeito adverso. Estar no intervalo terapêutico não é uma garantia de efetividade terapêutica e ausência de toxicidade, apenas reduz a probabilidade de toxicidade. O intervalo de referência deve estar bem estabelecido para as diversas indicações ou indicação especifica. Por exemplo, a gabapentina é um fármaco anticonvulsivante, mas também pode ser usada para dores neuropáticas, mas para essa finalidade não existe intervalo de referência. Portanto, fármacos com mais de uma indicação, tem que ter um intervalo de referência especifico. O intervalo não é absoluto, sendo em geral definido em populações pequenas, podendo ser preciso ajustes de acordo com estudos epidemiológicos. O estado de equilíbrio A monitorização deve ser realizada após 5 meias vidas, porque deve ser considerado o tempo necessário para atingir o estado de equilíbrio. é o intervalo entre a ultima dose e a próxima dose, ou seja, é a concentração mínima no estado de equilíbrio. Normalmente, o estado de equilíbrio é atingido após 4 a 6 meias-vidas. Para maior parte dos fármacos de administração oral, a coleta é realizada no vale, o qual é o intervalo entre a última dose e a próxima dose, ou seja, é a concentração mínima no estado de equilíbrio, sendo a concentração atingida imediatamente antes da próxima dose. Em casos de infusão intravenosa contínua, a coleta é ao acaso. Na infusão intermitente (administração intravenosa por infusão) tem que ser coletado no pico. A partir dos resultados de monitorização terapêutica pode ser sugerido a redução ou aumento de dose. Assim, é possível controlar dose e intervalo de dose. No entanto, não é possível controlar o clearance e a biodisponibilidade. Ao lado está representado a fórmula que demonstra o fator determinante para as concentrações médias no estado de equilíbrio. Portanto, a concentração no estado de equilíbrio é dependente da biodisponibilidade, clearance. **Css é a concentração do fármaco no plasma no estado de equilíbrio. INTERPRETAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO PLASMÁTICA ● Doenças: renal, hepática, cardíaca, diabetes, obesidade ● Hábitos: dieta, tabagismo, etilismo ● Estados fisiológicos: gravidez, idade ● Não-aderência ao tratamento ● Interações entre fármacos REGIME DE DOSAGEM ● Regime de dose múltiplas ● Concentração plasmática alvo: Css ● Antibióticos, anticonvulsivantes, hormônios, antidepressivos Quando falamos de cálculo de regime posológico ou determinação dos regimes de dosagem, estamos nos referindo a regimes de doses múltiplas. Dose múltipla x dose única Doses únicas não levam a acúmulos do fármaco, enquanto que na dose múltipla temos acumulo de dose no plasma, atingindo em determinado momento o estado de equilíbrio, havendo a concentração mínima e máxima no estado de equilíbrio, caracterizando o vale. Ainda, há a concentração média no estado de equilíbrio. Dose de manutenção/Regime de Dosagem Administração oral ose de manutençãoD = F C . Clss Administração intravenosa ose de manutenção C . ClD = ss Dose de Ataque (loading dose, DL): É a dose necessária para alcançar a concentração no estado de equilíbrio (Css) o mais rápido possível. A dose de ataque é expressa sempre em miligramas apenas, enquanto que a dose de manutenção é expressa em miligramas por tempo. Administração oral ose de manutenção . V dD = Css Administração intravenosa ose de manutençãoD = F C . V dss FARMACOGENÔMICA E A TERAPIA FARMACOLÓGICA INDIVIDUALIZADA O importante não é só descrever qual a isorforma, mas também qual a porcentagem da dosagem metabolizada por aquela enzima. Em alguns casos, a genética explica uma grande parte da variabilidade das respostas entre os indivíduos! A terminologia “farmacogenética” surgiu em 1959 e foi proposta por Vogel. A farmacogenética por definição é o estudo da variabilidade na resposta a fármacos em decorrência da hereditariedade. Essa variabilidade pode afetar a cinética através de processos de absorção, eliminação, distribuição, metabolismo e eliminação; e, farmacodinâmica, por meio da relação entre a concentração no plasma e o efeito terapêutico. Atualmente, é possível determinar o genoma completo de um indivíduo!! Em termos práticos, os dois termos, farmacogenética e farmacogenômica, são usados como sinônimos. Perspectiva histórica Em 510 a.C., Pitágoras observou e relatou que algumas pessoas ao consumirem feijão fava apresentavam uma doença denominada favismo (estresse oxidativo e anemia hemolítica). Após muitos anos isso passou a ser atribuído a genética. Em 1932, Fox e Snyder, desenvolveram a pesquisa “Habilidade de sentir o sabor amargo da feniltiocarbamida”, classificando as pessoas em capacidade ou não de sentir o sabor amargo. Isso é atribuído a uma variação genética bastante comum, associado a capacidade de sentir o sabor amargo. Variações no genótipo na sequencia do DNA, implicando em algumas variantes em termos de fenótipo, que é sentir ou não o sabor amargo da feniltiocarbamida. Na década de 50 começou a ser observado a existência de variações na resposta a medicamentos como, por exemplo, a primaquina, utilizada no tratamento de malária, onde algumas pessoas apresentavam hemólise aguda por deficiência de G6PD. Pra isoniazida algumas pessoas tinham neurite periférica em função de variações genéticas em n-acetil transferase, que implicam em dois fenótipos diferentes de acetilador rápido ou lento, sendo mais frequente em acetiladores lentos. Succinilcolina também é um exemplo clássico, em que algumas pessoas apresentam paralisia prolongada em função de uma variação genética em butirilcolinesterase (pseudocolinesterase). Polimorfismo de base única (SNP) As principais mutações que resultam em variações na farmacogenética são os polimorfismos de base únicaou SNP, onde uma única base nitrogenada presente no DNA sofre mutações, entrando no lugar uma outra base, ocorrendo alteração na fita correspondente. Ou seja, é a variação da sequência de DNA que ocorre geralmente dentro de uma população (por exemplo, 1%), em que um único nucleotídeo -A, T, C ou G no genoma difere entre os membros da espécie. Inserções/Deleções Nem todas as mutações gênicas são substituições de bases. Às vezes um nucleotídeo pode ser inserido ou excluído da sequência de bases do DNA. No processo de síntese protéica, cada trinca de bases corresponde a um determinado aminoácido, se uma ou duas bases são adicionadas ou excluídas, ocorre deslocamento do módulo de leitura, o que significa que toda a seqüência de códons e aminoácidos será alterada. A inserção ou deleção de uma única base pode comprometer a sequência toda na frente. Então, algumas deleções implicam na alteração de toda a sequência de aminoácidos que vem depois. Ainda, pode ter alterações que representam deleções de um gene inteiro ou pode ter gene que aparece mais de uma na sequência de DNA, implicando na alteração da sua atividade, gerando aumento da expressão de determinada proteína. O CONCEITO DE TERAPIA INDIVIDUALIZADA Farmacogenética/farmacogenômica é apenas um dos fatores que podem implicar em necessidade de ajuste de dose. Em algumas vezes, o ajuste de dose é mais importante com base na função renal do paciente do que por genética, enquanto para outros fármacos como, a Varfarina, torna-se importante a genética. REFARGEN – Rede Nacional de Farmacogenética ● Iniciativa de pesquisadores brasileiros ● Desenvolver projetos integrados de pesquisa farmacogenética/farmacogenômica em nossa população o Heterogeneidade o Extensa miscigenação o As implicações farmacogenéticas desta miscigenação certamente resultarão em descobertas que irão contribuir para terapêuticas individualizadas mais eficazes e menos tóxicas para a nossa população. Esse grupo avaliou um painel de genes relacionados ao metabolismo e ação de fármacos na população brasileira, porque antes só se tinha dados de frequência dos polimorfismos apenas para estudos europeus ou norte-americanos. Mas a frequência de polimorfismo na população brasileira varia de outras regiões. O grupo de pesquisa não caracterizou apenas o Brasil de um modo geral, mas sim fez distinção entre regiões, levando em consideração toda miscigenação da população. Portanto, se atentou em pegar o mesmo número de pessoas de acordo com sua classificação de raça pelo IBGE. Mutações em diferentes genes podem explicar algumas respostas diferentes para alguns fármacos. Varfarina –CYP2C9, VKORC A varfarina é usada para prevenção de trombose, no entanto, o recebimento de uma dose elevada aumenta o risco de hemorragia. Esse fármaco é administrado como uma mistura de dois enantiômeros (isômeros ópticos – imagem especular e não sobreponíveis). Como se trata de uma mistura, podem ser metabolizados por enzimas diferentes. A R e a S Varfarina são metabolizadas por enzimas diferentes, onde a S é metabolizada por CYP2C9, enquanto que a R é metabolizada por outras isoformas (CYP1A2; CYP3A4; CYP1C19). Ambas apresentam atividade em VKORC (vitamina k epóxido redutase). VKORC converte vitamina K oxidada em vitamina K reduzida. A vitamina K reduzida é importante para ativação de fatores de coagulação, sendo então o VKORC o alvo de varfarina. O isômero S atua inibindo VKORC. Assim, polimorfismos genéticos no gene que codifica a enzima e no gene que codifica CYP2C9 são importantes pra predizer respostas da Varfarina. Existe um polimorfismo de VKORC na posição 1639 do gene em que uma guanina é substituída por uma adenina, onde a pessoa que apresenta um genótipo GG tem uma expressão elevada da enzima e, assim sua sensibilidade frente a Varfarina é baixa; porém uma pessoa AA baixa expressão de VKORC e alta sensibilidade a varfarina. Por outro lado, existem dois polimorfismos em duas regiões diferentes que codifica a CYP2C9, permitindo a classificação dos indivíduos, sendo um na posição 430 e 1075. Assim, conforme o genótipo isso implica em metabolismo mais rápido ou mais lento da varfarina. Os estudos foram feitos de maneira a tentar predizer qual a dose de varfarina necessária para os indivíduos diferentes. CYP2D6: é um gene altamente polimorfo. Pra essa isoforma há quatro fenotipos já descritos, os quais são de metabolizadores lentos, metabolizadores intermediários, metabolizadores rapidos e metabolizadores ultrarápidos. Existem individuos com deleção completa de CYP2D6. Enquanto que, algumas pessoas apresentam duplicação do gene, onde a expressão da enzima é maior, resultando em maior atividade da enzima. Os diferentes genótipos implicarão em classificar os indivíduos em quatro diferentes fenótipos (rapido, ultrapido, lento e intermediário). Em termos de frequência, a maior parte da população é metabolizadora rápida ou intermediária e 5 a 10% são lentos. É possivel determinar os fenotipos do individuo dando a ele um fármaco marcador como, por exemplo, o metoprolol. É administrado uma dose por via oral e coletado a urina durante 8 horas. Ao final desse período é quantificado o metoprolol e o seu metabolito (α-hidroximetoprolol), assim, é feita a razão entre metoprolol e seu metabolito, a fim de classificar os indivíduos em metabolizadores rápidos e lentos. Quando essa razão é maior que 12,8 representa indivíduos metabolizadores lentos, porque apresenta mais o fármaco que o seu metabolito, portanto, quanto mais lento maior é a razão metabólica. O metabolizador lento precisa de uma dose superior ao rápido, porque apresenta baixa atividade enzimática para gerar metabólitos com efetividade terapêutica. INTOXICAÇÕES AGUDAS POR MEDICAMENTOS Normalmente, essas intoxicações são acidentais e acontece, principalmente, com crianças. Os idosos também são vítimas desse tipo de intoxicação quando eles apresentam algum comprometimento em decorrência da idade, que leva a confusão. Mas muitas vezes essas intoxicações são intencionais na tentativa de homicídio ou suicídio. INTOXICAÇÕES AGUDAS As principais classes de medicamentos associados a intoxicações são aquelas que atuam no SNC, antialérgicos, analgésicos e antigripais. A maioria dos medicamentos causadores das intoxicações são aqueles de venda livre! Análise toxicológica de urgência A anamnese é uma tentativa para entender o histórico da intoxicação, de modo a saber a causa da intoxicação (ex. cápsulas/comprimidos ao lado do paciente encontrado desacordado); além disso, a família pode dar algumas informações quanto ao uso de fármacos para tratamento de doença crônica pré-existente. No entanto, em alguns casos não há informação nenhuma a respeito da causa da intoxicação do paciente. A primeira coisa a ser realizada em um paciente em que suspeita intoxicação é a medida de suporte vital, onde o médico e a equipe de enfermagem irão avaliar os sinais apresentados pelo paciente, tais como, hipotensão, baixa saturação de oxigênio. Na sequência, tenta identificar o agente causal, por meio da coleta de amostras (sangue,urina e fluido gástrico). Pode ser realizado uma lavagem estomacal e o conteúdo obtido no procedimento pode ser encaminhado para análise. Uma vez tendo recebido a amostra, prossegue com uma triagem e dependendo dos sinais e sintomas pode auxiliar na identificação do toxicante. Após isso, é feito uma análise para confirmar qual é o toxicante. Quando estudamos as intoxicações é importante entender que a disposição cinética de fármacos em doses terapêuticas não é igual a disposição cinética de fármacos em intoxicação. Então, todos os parâmetros determinados em doses terapêutica, nem sempre serão válidos para um quadro de intoxicação. Pode ocorrer saturação de proteínas plasmáticas, devido às altas concentrações de fármaco no organismo. Mas também pode haver saturação por diversos outros processos que dependem da interação com macromoléculas como, por exemplo, processo de absorção. Em geral, em um quadro de intoxicação é comum observar um aumento de tmáx (mais prolongado e tardio); Cmáx é diminuído, porque os processos de absorção são dose dependente e, ainda, não é todas as capsulas ingeridas que serão dissolvidas, sendo parte eliminada nas fezes; biodisponibilidade pode estar aumentada, porque pode haver saturação dos processos de metabolismo, tanto dos enterócitos quanto dos hepatócitos. Em relação a distribuição, é comum de se observar a saturação de ligações a proteínas plasmáticas. Por exemplo, um fármaco que 99% ligado as proteínas plasmáticas em doses terapêuticas, o qual em quadros de intoxicação onde há saturação das proteínas resultará em aumento da fração livre. O volume de distribuição pode aumentar ou diminuir e, por isso, a meia vida pode aumentar ou diminuir. Quando nos referimos a biotransformação é comum ter redução do clearance, lembrando que em doses terapêuticas não alteração desse parâmetro conforme aumento de dose. No entanto, em situações de sobredose, esse clearance é reduzido. Além dessas alterações, o próprio fármaco responsável pela intoxicação pode resultar em efeitos que modifiquem a cinética, uma vez que, o próprio fármaco pode alterar a motilidade gastrointestinal. Hipotermia, equilíbrio ácido-base (pode resultar o pH fisiológico). É sempre importante comparar o observado durante a intoxicação do que seria a normal em doses terapêutica. Cinética de primeira ordem: faz referência para a maior parte dos casos. Portanto, os parâmetros volume de distribuição, clearance e meia vida são constantes em doses terapêuticas. A distribuição e a eliminação da maioria das substâncias ocorrem por processos de primeira-ordem. A área sob a curva concentração plasmática versus tempo é proporcional a dose; por exemplo, para um aumento de 2 vezes na dose, espera-se um aumento de 2 vezes na AUC. Entretanto, para alguns toxicantes os parâmetros Vd e clearance podem alterar em função da dose. Sob cinética de eliminação de primeira ordem, a constante da velocidade de eliminação, o volume aparente de distribuição, o clearance e a meia-vida não se alteram com o aumento ou diminuição da dose. A partir de uma certa dose, o clearance passa a diminuir, já que as enzimas hepáticas não conseguem mais metabolizar. SATURAÇÃO DA TOXICOCINÉTICA Quando a ligação a proteína plasmática ou os mecanismos de eliminação são saturados com aumento da dose, os parâmetros passam a ser dose-dependentes. O Vd pode aumentar, por exemplo, quando a ligação às proteínas plasmáticas é saturada, permitindo que mais toxicante livre se distribua para os tecidos extravasculares. Por outro lado, o Vd pode diminuir com o aumento da dose se a ligação a proteínas teciduais saturar. Então, a substância pode se redistribuir de volta no plasma. Quando a concentração do toxicante excede a capacidade de biotransformação das enzimas metabólicas, o clearance dessa substância tende a diminuir. Essas alterações podem alterar ou não a meia-vida, dependendo da magnitude e direção das alterações em ambos Vd e Cl. INTOXICAÇÃO POR PARACETAMOL Uma dose única de 10-15g de paracetamol já é observado quadros de intoxicação, enquanto que dose de 20-25g podem ser potencialmente fatais. No entanto, etilistas ou indivíduos que apresentam uma sobre carga hepática grande, podem apresentar hepatotoxicidade com doses menores. Um dos antídotos para tratar o indivíduo intoxicado com esse fármaco é a n-acetilcisteína. Ela pode ser usada porque a mesma é precursora de glutationa. A intoxicação por paracetamol gera necrose hepática em função da presença do metabolito (intermediário) que é a n-acetil-para-benzoquoneimina, sendo isso associado a depressão dos níveis hepáticos de glutationa. Em doses terapêuticas, não há glutationa suficiente para ser conjugada com n-acetil-para-benzoquoneimina e ser eliminado na forma de um conjugado sem toxidade. No entanto, em situações de intoxicação ocorre depleção de glutationa, levando a acúmulo do metabólito tóxico, capaz de se ligar a proteínas hepáticas, assim como pode ser formados nos rins, mesmo havendo pouca expressão de enzimas CYP; isso se deve porque tem expressão de prostaglandina sintase (GSH), podendo interagir com proteínas renais e desencadear necrose de células renais. Nomograma de Rumack & Matthew Esse nomograma pode fornecer o prognóstico da intoxicação, trazendo informações em que é relatado concentração do toxicante (paracetamol ou acetaminofeno) no plasma. Para tanto, é coletado uma amostra 8h após intoxicação, encontrando uma concentração de 50 µg/mL. No caso de uma concentração na faixa azul mais escuro é preciso dar o antídoto ao paciente. Portanto, o nomograma relaciona concentração no plasma com horas após a ingestão, dando ideia do prognóstico do paciente. Para os medicamentos ingeridos mais frequentemente, nomogramas podem auxiliar a prever a severidade da intoxicação e orientar a intervenção terapêutica baseado na medida da concentração plasmática e o tempo decorrido desde a exposição. Em 1975, Rumack e Mathews publicaram um nomograma para a intoxicação pelo acetaminofeno. O nomograma auxilia na prevenção do prognóstico clínico e também orienta o médico na decisão de administrar ou não a Nacetilcisteína, um antídoto para a intoxicação pelo acetaminofeno. A avaliação laboratorial do paciente intoxicado pelo acetaminofeno é essencial para prever se o dano hepático já aconteceu. INTOXICAÇÃO POR SALICILATOS O ácido acetilsalicílico (AAS) é bastante utilizado, principalmente em crianças, como analgésicos e antipiréticos. A intoxicação aguda por salicilatos é mais frequente em crianças por ingestão acidental; as intoxicações em adultos, ocorrem mais frequentemente por tentativas de suicídio. A dose fatal é estimada em 200 a 500 mg/kg. O AAS inibe COX-1 e COX-2, mas o seu efeito anticoagulante e no TGI/proteção da mucosa gástrica (irritação gástrica, úlceras e sangramento). Metabolismo do ácido salicílico: é importante saber avaliar o metabolismo e relaciona-lo com a intoxicação. Em amostra de urina não é encontrado o ácido acetilsalicílico, mas sim seus metabólitos, no entanto, os mesmos aparecem em proporções muitodiferentes. Os três principais produtos de biotransformação são o ácido salicilúrico (conjugado com glicina), salicilfenólico e acilglicurônico (conjugado com ácido glicurônico). A excreção é feita na urina como ácido salicílico livre (10%), ácido salicilúrico (75%), salicilfenólico (10%) e acilglicurônico (5%) e ácido gentísico (< 1%). A excreção dos salicilatos na urina depende da dose e do pH urinário, assim, é possível manipular o pH da urina, a fim de favorecer sua excreção. O pH pode ser alterado a partir da alcalinização, dando ao indivíduo carbonato de sódio (Na2CO3), resultando na forma ionizada de ácidos fracos, desfavorecendo sua reabsorção, permitindo então a excreção. O salicilato é hidrolisado a ácido salicílico por esterases hepáticas. O efeito adverso do AAS que surge com maior frequência é a irritação gástrica (vomito, dor, e dor de garganta em queimação). Este efeito está relacionado com a ação do AAS sobre a mucosa e inibição da síntese de prostaglandinas gástricas, que modulam a secreção gástrica e promovem a secreção de muco pelo intestino. Além disso, os riscos de sangramento são maiores devido a inibição de COX-1. Umas das formas de monitorar o paciente que faz uso de salicilato é por meio de monitorização de sangue nas fezes, sangue oculto nas fezes ou a própria alteração de coloração nas fezes. Quando a coloração das fezes é de marrom escuro a preto, a intoxicação provavelmente está ocorrendo no TGI superior, no entanto, se a cor for um vermelho mais vivo, a intoxicação está acometendo o TGI inferior (final). Endoscopia é também uma opção de monitoramento, podendo rastrear a presença de úlceras. Sinais da intoxicação Alteração no equilíbrio ácido-base no sentido de cair o pH sanguíneo. Quando esse pH é reduzido ocorre o desequilíbrio e uma hiperventilação seguido de acidose metabólica, devido ao acúmulo de ácido salicílico. Esse processo inicia uma alcalose respiratória (aumento de pH) por conta do quadro de hiperventilação; mas isso é seguido de uma acidose metabólica, devido ao acúmulo de ácido salicílico e ácido lático. Alterações na coagulação são frequentes, porque salicilato inibe COX-1. Além disso, pode haver alterações no TGI, gerando vômito, náusea, gastrite e sangramento, devido a redução da proteção gástrica. E, ainda, pode ter alterações no SNC como, zumbido, redução da acuidade auditiva, irritabilidade e dependendo do quadro pode haver convulsões. AAS é desacoplador de fosforilação oxidativa A fosforilação oxidativa é a produção de ATP a partir de oxigênio e acetil-coA (respiração mitocondrial). Na tentativa de suprimir esse efeito, o organismo faz hiperventilação, permitindo a entrada de mais oxigênio. Portanto, quando ocorre inibição de fosforilação oxidativa, seja por alta concentração de saliciliato ou qualquer outro toxicante, resulta em depressão de ATP, hipertemia, estimulação respiratória e circulatória, sudorese e coma. Além disso, quando há depressão de ATP, aumenta a glicólise anaeróbia e produção de ácido lático. Essa é uma das razões de acidose metabólica junto ao acúmulo de ácido salicílico no sangue. A intoxicação por salicilatos pode ser classificada em intoxicação leve, moderada ou grave. Mas isso será dependente das concentrações de salicilatos encontrados no sangue após a ingestão. Através da tabela ao lado é possível observar um prolongamento de Tmáx considerável, o que se deve à ausência de processo de dissolução e desagregação; além disso, pode haver saturação dos transportes relacionados a absorção. A ligação a proteínas plasmáticas reduz consideravelmente em concentrações maiores, devido a saturação. O volume de distribuição aumenta e o clearance renal aumenta nesse caso em especial, por causa, da quantidade de fármacos a serem filtrados (livres). A meia-vida é prolongada, por conta do aumento do volume de distribuição. TRATAMENTO DA INTOXICAÇÃO Remoção do medicamento não absorvido: essa medida é realizada quando se sabe que a intoxicação é recente, já que é grande a possibilidade de ter algum remanescente no TGI. Há contraindicações para algumas formas de remoção como, por exemplo, a indução de vômito (emese), devido a irritação que pode causar no TGI, lesionando ainda mais a região, por isso, esse processo é contraindicado em crianças e indivíduos com estado alterado de consciência. As medidas mais comuns dentro do ambiente hospitalar é a lavagem gástrica e o uso de adsorvente. A lavagem gástrica é realizada pela introdução de uma sonda que vai até o TGI (estômago), onde é adicionada uma solução; outra sonda é colocada para aspirar o fluido gástrico. Esse fluido pode ser usado para identificar o agente causal. O carvão ativado também é uma medida muito comum para tratar indivíduos intoxicados, consistindo em uso de carvão ativado, o qual adsorve o remanescente do toxicante que não foi absorvido e, em seguida, com os movimentos peristálticos é eliminado o carvão ativado com o toxicante adsorvido, reduzindo a quantidade de medicamento não absorvido no organismo. Controle da Diurese Uma outra forma de tratar o indivíduo intoxicado é por meio do controle da eliminação, estimulando a mesma. Isso pode ser realizado através da acidificação ou alcalinização da urina. Para alcalinizar é mais usado o carbonato de sódio, enquanto que, para acidificar é o ácido ascórbico. Para saber o que será feito é preciso ter conhecimento, primeiramente, se o toxicante é acido ou base ou neutro. Se for neutro, não adianta nem alcalinizar e nem acidificar. No entanto, substâncias com pKa baixo é feito alcalinização e substâncias com pKa mais elevado, acidifica a urina. Outro ponto importante, é conhecer o volume de distribuição para recomendar ou não a manipulação química da urina, uma vez que, para volumes de distribuição muito elevado é indiferente a alteração de pH da urina. Então fármacos ou toxicantes de Vd muito alto não adianta fazer a manipulação do fluido biológico. Aumento da velocidade de eliminação – DIÁLISE PERITONEAL A dialise peritoneal é um processo de difusão passiva de fármacos através de uma membrana para o fluido instilado na cavidade peritoneal. Algumas características devem ser consideradas para prescrição dessa forma de tratamento, tais como: ● Hidrossolubilidade ● Ligação às proteínas plasmáticas: toxicantes com alta ligação a proteínas plasmáticas não permeiam as membranas. Portanto, em situações de elevada ligação a proteínas plasmáticas, o procedimento não é indicado. ● Peso molecular ● Volume de distribuição(<250L) em valores absolutos, sendo indicado quando a baixos Vd Aumento da velocidade de eliminação – HEMODIÁLISE O sangue passa por um dialisador, onde há uma membrana semipermeável e o toxicante pode ser difundir por essa membrana. Remoção de substâncias tóxicas pela circulação paralela do sangue e do fluido de diálise separados por meio de uma membrana. Também não é válido fazer para fármacos muito ligados a proteínas plasmática, uma vez que, permeia a membrana apenas moléculas livres. Aumento da velocidade de eliminação – HEMOPERFUSÃO Passagem do sangue através de uma coluna de carvão ativado ou resinaque se liga ao agente tóxico. Vantagens frente a hemodiálise: fármacos lipossolúveis; fármacos altamente ligados a proteínas plasmáticas por não apresentar passagem por membrana Antídotos Paralelamente às medidas gerais e de suporte vital no tratamento das intoxicações, estão disponíveis antídotos específicos para um pequeno número desintoxicações, que antagonizam os seus efeitos de diversas formas: ● AN-acetilcisteína é um acelerador do metabolismo do paracetamol ● A naloxona é um agonista parcial de receptores opióides e funciona como antagonista na competição com agonistas opióides (como a metadona e codeína). PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO E SEUS EFEITOS I Drogas de abuso são definidas como substância que alguns indivíduos buscam para obter algum efeito, no entanto, não são permitidas. Por exemplo, solventes muitas vezes são inalados com o intuito de obter efeito eufórico. LEGISLAÇÃO A Portaria 344/98, traz uma serie de listas de substâncias que tem uso proscrito (proibido) no Brasil, assim como a lista F, onde há alguns entorpecentes e psicotrópicos, de modo que, na lista F1 se encontra a cocaína e a heroína. Já na lista E, estão as plantas que podem originar substâncias entorpecentes como a maconha (cannabis), coca, dentre outros. Basicamente, todas as drogas de abuso estão relacionadas com a farmacodependência, podendo induzir dependência, seja em menor ou maior grau. A farmacodependencia é a dependência de substâncias químicas, a qual é considerada como uma doença crônica e sem cura, com tratamento, mas sem cura. Isso está relacionado com uma região no cérebro, onde há um circuito de recompensa cerebral. O circuito cerebral foi inicialmente mapeado, há alguns anos atrás através de experimentos utilizando ratos em gaiolas, os quais tinham em seu cérebro um circuito elétrico com pequenos disparos elétricos em uma determinada região. O animal tinha no ambiente uma alavanca, sendo ensinado a pressionar a alavanca para se obter estimulo elétrico. Uma vez essa região do cérebro estimulada, o rato sentia prazer, o qual está ligado ao prazer sexual e o prazer de uso de drogas de abusivo. Com o passar do tempo, o animal apertava alavanca por conta própria, de modo a deixar de buscar alimento, ou seja, deixava de buscar outras coisas que era importante para sua sobrevivência (alimento e água). O circuito de recompensa cerebral envolve o córtex pré-frontal, núcleo accumbens e área tegumentar ventral. Essas três regiões estão interligadas. O principal neurotransmissor envolvido no estimulo dessa região é a dopamina. Portanto, todas as drogas de abuso atuam nessa região, estando relacionadas a liberação de dopamina nos neurônios que partem do córtex pré-frontal e área tegumentar ventral. O que existe em comum entre as diversas drogas de abuso é a indução da dependência. TOLERÂNCIA: é um fenômeno com a diversas substâncias de abuso. Esse fator é caracterizado pela redução na resposta a droga após administrações repetidas. Isso pode gerar no indivíduo necessidades de quantidade progressivamente maiores e efeito reduzido com o uso continuado da mesma quantidade da substância. No gráfico podemos observar que a tolerância desloca a curva para direita pois o indivíduo precisará de uma maior dose para induzir a resposta que ele vinha possuindo. SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA A síndrome de abstinência é um conjunto de sinais e sintomas, que irão aparecer com a interrupção da droga. A interrupção brusca do uso de fármaco ou droga pode gerar alterações físicas, emocionais e comportamentais. Os sintomas da síndrome de abstinência tendem a ser contrários aos efeitos originais produzidos pela substância. Para os opióide pode ter miose e redução da frequência cardíaca, sendo o sinal da síndrome de abstinência a midríase e a taquicardia. Esses efeitos podem levar ao óbito. Para o álcool isso é comum, porque o indivíduo está tão dependente, que cessando a exposição pode ir a óbito pelos sinais e sintomas da síndrome de abstinência. ESPECTRO DO USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS: A maioria das drogas de abuso são psicoativas. Para o padrão de uso de drogas abusivas, pode ser classificado em 4 tipos de uso: uso benéfico Uso benéfico: o uso da substância psicoativa promove um impacto positivo pra saúde e impacto social como, por exemplo, beber café e chá para aumentar a atenção ou uso moderado de vinho tinto, dentre outros. Uso casual: não faz bem, mas também não faz mal à saúde; uso recreacional ou casual que tem efeitos mínimos a saúde social. Ex. ingestão de álcool mais acentuado, porém realizado em casa, onde não precisará dirigir e nem causará mal nenhum a outra pessoa. Uso abusivo: uso que começa a ter consequências negativas para o indivíduo, amigos, família e sociedade como, por exemplo, a ingestão de álcool associado a acidentes automobilísticos ou até mesmo violência verbal com amigos e familiares Dependência: é quando o indivíduo se torna “refém” da substância. O uso se torna habitual e compulsivo apesar dos graves efeitos negativos a saúde e sociais; quando você não consegue mais viver sem a substância. Uso abusivo de fármacos e drogas Abuso de drogas é o padrão de uso de droga que leva ao prejuízo ou ao sofrimento clinicamente significativo, manifestado por 1 ou mais dos sintomas em 12 meses. Inclui sintomas como: ● Não cumprir obrigações no trabalho, escola ou em casa – ex. deixar de pagar aluguel para comprar a substância. ● Uso em situações de perigo físico ● Problemas legais relacionados ao uso de droga ● Uso continuo apesar de problemas sociais ou pessoais causados pelo uso da droga Dependência de fármacos e drogas Conjunto de sintomas que indicam que o indivíduo continua a usar a substancia apesar de problemas significativos associados ao seu uso, manifestado por 3 ou mais dos seguintes sintomas em um período de 12 meses. ✔ Tolerância ✔ Síndrome de abstinência ✔ Uso de doses cada vez maiores ou por tempo mais prolongado ✔ Gastar muito tempo em atividades necessárias para obtenção da droga ✔ Abandono de atividade recreacionais ou sociais ou ocupacionais ✔ Uso continuado apesar de problemas físicos ou psicológicos ✔ Tentativa repetidas e frustradas de deixar de usar a droga de abuso ÁLCOOL (droga licita) É um costume antigo utilizado para fermentados como vinho e cerveja e também para destilados como pinga, uísque e vodca. Quanto mais cedo o uso do álcool maior é o fator de risco, pois quanto mais jovem o indivíduo, mais em formação está seu SN e logo maior prejuízo. Outro fator de risco é ser do sexo masculino, porque o jovem desse sexo busca mais desafios, de maneira mais proeminente quando comparado as mulheres. Apesar de todos os fatores de risco envolvidos no uso abusivo de drogas, tem também fatores de proteção como, por exemplo ser de descendência asiática. O uso de álcool é fortemente incentivado pela sociedade levando a ser uma droga psicotrópica que pode gerar acidentes de trânsito, violência e acarretar na dependência seja em alcoolismo ou etilismo. Toxicocinética do etanol O álcool é bem absorvido após ingestão oral (20% no estômago, 80% no intestino), porém sua absorção é reduzida na presença de alimentos.Sua biodisponibilidade é 80% e sua cinética é de ordem zero, o que o difere de outros toxicantes. Portanto, ele passa por poros da mesma forma que a água, não necessitando de carreadores, devido ao seu tamanho e hidrofilia. A maior parte do álcool é biotransformada e eliminada na urina, sendo que também eliminamos o álcool no ar exalado e pelo suor. A biotransformação em grande parte é hepática, sendo a principal enzima conversora de álcool em acetaldeído é a álcool desidrogenase, a qual em termos quantitativos é a principal enzima responsável por essa conversão. Essa enzima é expressa em diferentes tecidos, mas em especial no fígado. Também há outras enzimas que são capazes de realizar essa conversão, tais como, catálase e CYP2E1. A CYP2E1 é uma enzima induzível e o uso crônico faz com que haja o aumento da sua expressão. O acetaldeído é o responsável pelos efeitos típicos da ressaca, estando associada ao rubor fácil e torácico, aumento de frequência cardíaca e pressão arterial, aumento de frequência respiratória, náusea e vômito, inquietação psicomotora, sensação de pânico e iminência de morte. Em seguida, o acetaldeído é transformado em ácido acético, através da enzima aldeído desidrogenase (ALDH). Essa enzima pode ser inibida pelo dissulfiram, sendo importante no tratamento dependentes do álcool, tanto porque inibe aldeído desidrogenase, assim, toda vez que o indivíduo ingerir álcool sentirá um sintoma de ressaca mais forte a ponto de não querer mais ingerir a bebida, deixando de associar o álcool com o efeito eufórico e de relaxamento e passando a associar a um sentimento ruim e de mal estar. O dissulfiram também inibe uma enzima responsável pelo aumento de dopamina. Lembrando que dopamina é um neurotransmissor relacionado a recompensa cerebral. O aumento de dopamina alivia um pouco do sintoma da busca do álcool por dependentes. Mecanismos de ação em sistemas neurotransmissores – porque álcool é depressor do SNC já que ele causa no efeito primário a euforia? O etanol é um agente depressor do sistema nervoso central. Isto é decorre de sua ação nos vários sistemas neurotransmissores cerebrais. ele é considerado depressor devido as interações realizadas com determinados receptores do SNC. ● O etanol interage em receptores GABA, potencializando a abertura de canais de cloro e tornando a células menos excitável ● O álcool aumenta a liberação de opióides endógenos, aumentando a liberação de dopamina no núcleo accumbens, o que está relacionado pelo efeito de recompensa e também por ser opioides endógenos ● O álcool interage com receptores NMDA, inibindo a ação do glutamato (neurotransmissor excitatório), tornando as células menos excitáveis ● O álcool inibe a abertura de canais de cálcio, tornando a célula menos excitável e inibindo a liberação de neurotransmissores Os opióides endógenos são uma grande família de neurotransmissores relacionados à regulação da ansiedade, humor e mediação das sensações de prazer. Embora não esteja totalmente esclarecido como se dá a interação do álcool com este sistema, pesquisas sugerem que o álcool aumenta os níveis de beta opióides e estes estimulam a liberação de dopamina na área tegumentar ventral e núcleo accumbens, dando a sensação de prazer quando os indivíduos ingerem bebida alcoólica. O glutamato é o maior neurotransmissor excitatório do cérebro. O principal receptor para o glutamato é o NMDA (N-metil-Daspartato). Os receptores NMDA formam um canal para passagem de cálcio, sódio e potássio. Os canais de cálcio estão em maior quantidade no cerebelo. A ação do álcool nesta região poderia explicar as alterações motoras como incoordenação da marcha, deficiência na atenção e na regulação do sono-vigília. Na síndrome de abstinência, todos esses mecanismos estarão opostos. Devido ao alto conhecimento sobre o efeito do álcool no organismo, é possível predizer os seus efeitos a partir dos níveis de álcool no sangue. Atualmente, se sabe que níveis de álcool no sangue que variam de 0,1 a 0,5 g/L estão relacionados ao comportamento próximo do normal ou leve desinibição; níveis que variam de 0,3 a 1,2 g/L causam euforia leve, sociabilidade, aumento da auto-confiança, diminuição da atenção, julgamento e controle; níveis entre 1,8 e 3,0 g/L provocam confusão mental, exacerbação de estados emocionais (medo, raiva, tristeza), incoordenação motora, fala arrastada, apatia, letargia; níveis de 2,5 a 4,0 g/L podem estar a associado a resposta a estímulos diminuída, incoordenação motora pronunciada, vômito, incontinência urinária, prejuízo na respiração e consciência, possível morte; de 3,5 a 5,0 g/L pode levar ao coma, completa inconsciência, reflexos ausentes, prejuízo na circulação e respiração, possível morte. Os efeitos provocados pelos níveis entre 0,3 a 1,2 g/L são devido a depressões de algumas regiões do cérebro. Quando ingerimos o álcool, ele passa a inibir algumas apreensões e as liberam. PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO E SEUS EFEITOS II TOXICIDADE CRONICA ETANOL Em indivíduos saudáveis que consomem álcool com moderação, a maioria das alterações patológicas são reversíveis. Todavia, quando ingerido em maiores quantidades ou em indivíduos com patologias previas, as lesões podem ser mais graves e irreversíveis. As alterações mais frequentes em indivíduos que fazem uso crônico de álcool são: ● Sistema hematológico: anemia megaloblástica, plaquetopenia. Isso ocorre em função da redução de ácido fólico, já que o paciente dependente não se alimenta corretamente para consumir a bebida. ● Sistema gastrointestinal: câncer no TGI; gastrites e ulceras (efeito irritante do álcool sobre a mucosa); esteatose hepática, hepatite alcoólica e cirrose. ● Sistema neurológico: neuropatia em luvas e botas em 5-15% dos etilistas; síndrome de Wernick-Korsakoff (decorrente da administração e glicose sem uso prévio de tiamina – comum em pronto-socorro, causando confusão mental, ataxia e nistagmo). ● Sistema cardiovascular: hipertensão arterial, hipercolesterolemia, maior frequência de infarto agudo do miocárdio. O metabolismo do álcool pela ADH e ALDH gera NADH, com aumento na razão NADH/NAD+. A alta concentração de NADH induz a síntese de ácidos graxos enquanto que as baixas concentrações do NAD+ reduzem a oxidação de ácidos graxos. consequentemente, o aumento de ácidos graxos nos hepatócitos resulta na formação de triglicerídeos, resultando esteatose hepática. A hepatite alcoólica é caracterizada pela inflamação dos hepatócitos. A cirrose, ultimo estágio da doença hepática é marcada por inflamação, fibrose e necrose tecidual. Esteatose hepática → Hepatite alcoólica (inflamação) → Cirrose (inflamação; fibrose; necrose) Síndrome fetal do álcool ● Diagnóstico: o consumo excessivo do álcool durante a gestação causa retardo no crescimento pré e pós-natal, más-formações craniofaciais (incluindo microcefalia), retardo mental. Neurotransmissor Etanol Adaptação SAA Efeitos GABA Estimulação do SNC, ansiedade, convulsões, agitação, hiperestimilação glutamatérgica. Glutamato Excitotoxicidade, alucinações, convulsões e confusão mental. Dopamina Busca ao álcool. Noradrenalina Taquicardia, hipertensão, náuseas, vômitos,midríase, tremores, hipertermia e febre. SINDROME DE ABSTINENCIA ALCOOLICA Trata-se de uma exacerbação das neuroadaptações que tinham na presença da droga. A síndrome de abstinência inicial pode apresentar os sinais desde algumas horas (4 – 8h), após a interrupção do álcool, até 3 dias. Dos indivíduos com SAA inicial 5% chegam na fase final (DT). Em seguida há a síndrome de abstinência intermediária, caracterizada por febre, sudorese, desorientação e alucinação. Desses, 30% evoluem para a fase final (DT). A fase final é chamada de Delirium Tremens (DT) ou síndrome de abstinência alcoólica tardia. Caracterizada por tremores, confusão profunda, alucinações, distúrbios visuais. Sendo a mortalidade de 1%. CANNABIS SATIVA Atualmente é a droga ilícita mais consumida no mundo, cerca de 3,9% da população de 15 e 64 anos já consumiram. Dos usuários analisados em estudo 40% foram classificados como dependentes. Apresenta estruturas canabinóides chamados de Δ9-tetraidrocanabinol, Canabinol e o Canabidiol. O canabidiol apresenta uma série de efeitos terapêuticos tendo diversas aplicações e funções. Já o Δ9-tetraidrocanabinol (Δ9-THC) é o principal canabinóide na maconha relacionado com os efeitos psicoativos. O canabinol é um metabólito do Δ9-tetraidrocanabinol, podendo ser encontrado na urina dos usuários da Cannabis sativa. Estudos apontaram que foi encontrado na planta mais de 480 canabinóides diferentes, apresentando uma mistura de compostos na planta. A maconha é o nome dado aqui no Brasil à planta chamada cientificamente de Cannabis sativa. Compreende todas as partes da planta Cannabis sativa, exceto as sementes e a parte lenhosa madura do caule. Pode ser encontrada em blocos contendo as inflorescências e folhas secas. Já a resina da Cannabis sativa (também chama de haxixe) é um sólido prensado feito das partes resinosas da planta. A maconha e o haxixe são normalmente misturado com tabaco e fumado, mas também podem ser ingeridas. O principal composto psicoativo da maconha e do haxixe é o ∆9 -tetraidrocanabinol (∆9 -THC). O canabinol (CBN) e canabidiol são outros canabinóides importantes. O canabinol é o principal produto de degradação do ∆9 -THC. O ∆9 -THC é termo e fotossensível, degradando a CBN na presença de calor, luz, ácidos e atmosfera de oxigênio. Assim os produtos da Cannabis tendem a perder a potência com o tempo ou conforme as condições de estocagem. As maiores concentrações de ∆9 -THC encontram-se nas inflorescências. Menores concentrações nas folhas. Preparação Composição Teor de Δ9-THC Modo de uso Maconha Planta inteira, com proporções variáveis de folhas, inflorescências, caules e frutos. 1 a 3% Fumada em cigarros. Em media, um cigarro contém de 0,5 a 1,0g da erva. Haxixe Exsudado seco, coletado das inflorescências das plantas. 10 a 20% Geralmente fumado em cachimbos. Óleo de haxixe Obtidos por extração com solventes orgânicos ou destilação. Raramente presente no comercio ilícito. 15 a 60% Adicionado a alimentos e bebidas ou ao material vegetal para aumentar sua potencia. O principal composto com efeito psicoativo é o Δ9-THC que pode ser metabolizado em 11-hidroxi-Δ9-THC senod uma reação de oxidação. Na sequência é novamente oxidado para formar um ácido carboxílico (11-Noe-Δ9-THC-ácido carboxílico ou THC-COOH) e por fim, esse ácido carboxílico pode ser conjugado com um glicuronídeo (11-Noe-Δ9-THC-ácido carboxílico β-glicuronídeo ou THC-COOHglu). Tanto o THC-COOH quanto o THC-COOHglu são os principais metabólitos que aparecem na urina. Δ9-THC – maconha: O processo neurofarmacológico do THC é ainda pouco conhecido. Altas densidades de receptores endocanabinóides são encontrados no córtex cerebral, hipocampo, cerebelo e gânglios basais o que corresponde aos efeitos clínicos do uso da maconha sobre a coordenação, memória e pensamento. Receptores Canabinóides (CB1 e CB2): Os compostos ativos da C. sativa (Δ9-THC, canabinol e canabidiol) interagem com receptores canabinóides do tipo CB1 e CB2. Esses receptores são receptores acoplados a proteína G e a ligação do D9-THC resulta em inibição da adenilato ciclase e na inibição de canais de cálcio e ativação de canais de potássio. O uso de canabis produz inicialmente uma sensação de euforia e percepção sensorial intensificada, distorção do tempo, som e cores seguida por uma sensação de relaxamento. ● Receptor CB1: cérebro, pulmões e rins. ● Receptor CB2 : células do sistema imunológico e hematopoéticas. Efeitos: euforia e percepção sensorial intensificada; distorção do tempo, som e cores; sensação de relaxamento. Os endocanabinóides (EC) não são armazenados em vesículas, sendo imediatamente liberados após a ativação pós-sináptica para atuarem na modulação dos neurônios pré-sinápticos, processo este denominado neurotransmissão retrógrada. Os EC atuam sob demanda: são acionados quando necessário e funcionam para reparar ou modular a função de outros mediadores. Os receptores canabinóides se encontram inseridos na membrana celular, acoplados às proteínas-G e à enzima adenilato ciclase (AC). O aumento do cálcio intracelular é fator desencadeante para que o precursor de endocanabinóide acoplado à membrana seja sintetizado, clivado e liberado. Após essa interação, há reações em vários componentes intercelulares, que incluem a inibição da AC, abertura dos canais de potássio, diminuindo a transmissão dos sinais e fechamento dos canais de cálcio voltagem-dependentes, levando a um decréscimo na liberação de neurotransmissores. Efeitos à curto prazo: euforia; relaxamento, diminuição da ansiedade e sedação; alteração da percepção sensorial, com intensificação das sensações e dos sentidos; perda da memória recente; déficit cognitivo; perda da discriminação de tempo e de espaço; coordenação motora diminuída. Efeitos à longo prazo: Sistema respiratório: uso ocasional ou moderado não está associado e efeitos adversos na função pulmonar como o tabaco. Levar em consideração que o habito de fumar maconha promove uma retenção de alcatrão grande, isso ocorre, pois o usuário traga um volume maior “segurando” por mais tempo, dessa forma o volume aspirado da maconha é maior do que a do tabaco. Sistema cardiovascular: ● Gera menos CO se comparado ao tabaco; mas em função da maior retenção da fumaça, a absorção de CO é maior, resultando em uma redução no transporte de oxigênio; ● ∆9 -THC provoca aumento da velocidade cardíaca; usuários desenvolvem tolerância a taquicardia; ● Uso de maconha pode aumentar em 4,8 vezes o risco de um infarto. Psicopatologias: aumento do risco de esquizofrenia ou sintomas psicóticos. Funções cognitivas: prejuízo em coordenação motora, ou funções executivas de planejar, organizar, resolver problemas, tomar decisões, lembrar-se, controlar emoções e comportamentos. Uso materno de Cannabis: existem poucos dados, porém existe a sugestão de que a mãe que faz uso da maconha induz à aumento de vulnerabilidade a dependência do feto. Dependência: receptores CB1 são os responsáveis pela resposta de recompensa; ativação da via mesocorticolímbica dopaminérgica; contribuição do sistema opióide na recompensa. COCAÍNA Erytroxylum novogranatense, variedade trujjilo Erytroxylum coca. A cocaína é um alcalóide naturalmente encontrado em certas variedades de plantas do gênero Erythroxylum. O cultivo da coca se distribui principalmente no Peru, Bolívia, Colômbia, Equador, Venezuela, Brasil e Argentina. ● Folhas de Erythroxylum coca (<2% de cocaína) A partir das folhas é feita a extração da pasta da coca das folhas de coca, utilizando alguns solventes – ocasionalmente é fumada. Na sequencia é feita a purificação da pasta de coca paraobtenção da cocaína base livre. Como ultima etapa ocorre a conversão de cocaína base a sal de cocaína (cloridrato). O Crack é obtido por aquecimento do cloridrato de cocaína ou pasta-base com substância básica. ● Na forma de sal (cloridrato) – alto ponto de fusão (197°C) via intravascular e intranasal. ● Na forma de crack – baixo ponto de fusão (96-98°C) fumada. Padrões de uso: Cloridrato de cocaína (COC.HCl) ou sulfato de cocaína – sob essa forma, não se presta a ser fumada, pois não se volatiliza (ponto de fusão 197ºC) e se decompõe com o aumento da temperatura. Autoadministrada por: aspiração nasal, via oral ou IV Cocaína base livre (COC-base) – apresenta baixo ponto de fusão (96-98ºC). Quando aquecida, permite que seus vapores sejam inalados (fumar). Conhecido como crack ou merla. Trata-se de um importante estimulante, interagindo com diversos sistemas de modo a resultar em uma super estimulação dopaminérgica, noradrenérgica e serotoninérgica. A cocaína inicialmente é usada como anestésico local, vasoconstritor e um poderoso psicoestimulante. Inibindo a recaptação de dopamina, serotonina e norepinefrina, aumentando a concentração de dopamina, serotonina e noreprinefina na sinapse. O resultado é a sensação de euforia, tagarelice e prazer intenso. Absorção 1. Via intravascular Cloridrato de cocaína F = 100% 2. Via intranasal Cloridrato de cocaína F = 20-60% tmax = 35-120 min 3. Via pulmonar Pasta de coca Cocaína base livre Crack F = 60% tmax = 1-2 min 4. Via oral Cloridrato de cocaína Folhas de coca F = 20-30% tmax = 45-90 min Distribuição %pp > 90% Vd = 1,96 l/kg Transferência placentária Biotransformação Hidrolise enzimática: éster metilecgonina Hidrolise espontânea: benzoilecgonina Oxidação: norcocaina T ½ β = 31-82 min Os principais produtos da biotransformação da cocaína são a benzoilecgonina e a Ester metilecgonina. Outro metabolito é o cocaetileno, que só é encontrado na urina do individuo que usa álcool e cocaína ao mesmo tempo, sendo formado a partir de uma reação de transesterificação hepática da cocaína. No caso da avaliação do cabelo, deverá ser monitorado a própria cocaína inalterada. O perfil de matabolitos para os diferentes fluidos podem variar. Na saliva a forma encontrada também será da própria cocaína inalterada. ANFETAMINAS Existem diversos tipos, os quais surgem a partir de um modelo padrão, alterando apenas os seus radicais. Possui diferentes usos. As anfetaminas são drogas estimulantes do SNC, deixando as pessoas mais “acesas”, “ligadas”, com “menos sono”, “elétricas”. A anfetamina e metanfetamina são agentes simpatomiméticos indiretos que liberam norepinefrina (noradrenalina) e inibem a atividade da monoamina oxidase. O uso de anfetaminas tem como efeitos a hipertensão, taquicardia e inibição da motilidade intestinal. Este último efeito é que levou ao uso médico da anfetamina no tratamento da obesidade. Padrões de uso: caminhoneiros (rebites), estudantes, anorexígenos, uso no esporte, festas rave. Aminas simpatomiméticas nos receptores alfa e beta-adrenérgicos, com potências variáveis. Tem alto potencial de abuso e farmacodependência (liberação de dopamina no núcleo accumbens). Há controvérsias sobre o desenvolvimentou ou não de neuroadaptação. Efeitos no SNC: insônia, inapetência; sensação de menor cansaço. Efeitos tóxicos: delírio persecutório; psicose anfetamínica. Outros efeitos: midríase, taquicardia. SOLVENTES OU INALANTES Exemplos: cola de sapateiro, esmalte, lança-perfume, acetona. Utilizados em busca do efeito alucinógeno. Apresenta inicialmente um efeito eufórico seguido de um efeito depressor, levando o usuário a inalar repetidas vezes. Os efeitos apresentados no SNC são de atrofia de algumas regiões do cérebro. Solventes: Tolueno, xileno, n-hexano, acetato de etila, clorofórmio. Usuário: jovens, baixa renda, moradores de rua. Efeitos no cérebro: Início dos efeitos: bastante rápido (segundos a minutos). Primeira fase: EXCITAÇÃO (desejada), euforia, tonturas e perturbações auditivas e visuais. Segunda fase: DEPRESSÃO, confusão, visão embaçada, dor de cabeça, palidez. Terceira fase: DEPRESSÃO APROFUNDA-SE com redução do estado de alerta, processos alucinatórios. Quarta fase: DEPRESSÃO TARDIA, inconsciência, queda da pressão, convulsões, coma e morte. ALUCINÓGENOS Possui uma variedade de compostos, apresentando diferenças químicas. 1. Dietilamida do ácido lisérgico (LSD). 2. Derivados anfetamínicos: MDMA (3,4-metilenodioximetanfetamina, ecstasy) e DOM (2,5-dimetóxi-4-metilanfetamina. 3. Fármacos utilizados como alucinógenos secundários: Cetamina e GHB (ácido gama hidroxibutírico). 4. Plantas alucinógenas: Ayuasca (Banisteriopsis caapi) e Mescalina – peyote. 5. Cogumelos alucinógenos: Psilocybe – psilocina e psilocibina. Os alucinógenos podem ser classificados de acordo com sua estrutura química em dois grupos, apresentando estrutura semelhante à serotonina ou noradrenalina. A psilocina e o LSD apresentam similaridades estruturais com a serotonina. Enquanto que a mescalina e o DOM são semelhantes estruturalmente com a noradrenalina. O mecanismo de ação dos efeitos alucinógenos dessas substâncias não está totalmente elucidado. É bem aceita a hipótese de que os efeitos centrais dos alucinógenos podem estar ligados às alterações da neurotransmissão serotoninérgica central. TOXICOLOGIA AMBIENTAL Toxicologia Ambiental Estudo dos efeitos adversos dos poluentes químicos ambientais em organismos vivos. Tem como objetivo dimensionar o risco para propor medidas preventivas e de controle. Os princípios básicos consistem na sobrevivência humana depender do bem-estar dos outros organismos e da disponibilidade de ar, água e alimentos de qualidade, além de que tanto os agentes tóxicos de fontes antropogênicas como os de origem natural podem causar danos aos microrganismos. Ecotoxicologia Ecologia: estudo das relações entre os seres vivos e o ambiente. Toxicologia: estudo dos efeitos adversos de substancias sobre o homem. René Truhaut, 1969: sugeriu o uso do termo ecotoxicologia para o Committee of the Internacional of Scientici Unions (ICSU). Ecotoxicologia é o estudo do impacto das substancias químicas na dinâmica de populações em um ecossistema (relacionamento que os organismos vivos e o ambiente mantém entre si, em harmonia). Poluente x Contaminante Poluente: substancia que causa efeito nocivo sobre o meio ambiente, ou seja, encontra-se em concentrações acima das de referencia e disponível para interagir com o ecossistema. Do contrário, trata-se de um contaminante. Uma dada substancia pode, nas mesmas condições de exposição ser toxica para um organismo e não toxica para outro. Para efeitos didáticos: poluente e contaminante serão utilizados como sinônimos. Transporte e distribuição de contaminantes O transporte dos contaminantes entre os diferentes compartimentos (água, ar, solo, sedimento, biota) está condicionado a processos físicos abióticos, como a movimentação das massas de ar e água e a fatores bióticos. A movimentação dos contaminantes na água, solo e ar, e por interface entre diferentes compartimentos é determinada por processos relacionados às propriedades química dos compartimentos ambientais e dos contaminantes. Principais contaminantes na água ● Fluoreto, tri-halometanos, nitrito e nitrato. O fluoreto é adicionado intencionalmente, porém em condições controladas para que não cause efeitos nocivos ao homem. Legislação: CONAMA 357/2005 – classificação de corpos de água e padrões (valores máximos) para o conjunto de usos definidos para a classe. Portaria MS n. 2.914 de 2011 – água potável. Bioacumulação: processo pelo qual substâncias (ou compostos químicos) são absorvidas pelos organismos. Biomagnificação: fenômeno que ocorre quando há acúmulo progressivo de substâncias de
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