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Roteiro dos Crimes previstos nos artigos 130

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Perigo de Contágio Venéreo- Art. 130 CP
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado:
 Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 2º - Somente se procede mediante representação.
O artigo 130 do Código Penal possui duas espécies de crime de perigo de contágio venéreo, diferenciadas pelo elemento subjetivo.
No caput, encontra-se a modalidade fundamental ou simples. Trata-se de infração de menor potencial ofensivo. O §1.º possui a figura derivada, ou crime qualificado, em face da pena mínima a ele cominada ingressada no rol dos crimes de médio potencial ofensivo, uma vez que poderá suspender condicionalmente o processo, desde que possua os requisitos do art. 89 da Lei 9.099/1995.
Objetividade Jurídica: 
Tutela-se por meio desse dispositivo legal a vida, incolumidade física e a saúde do indivíduo. Trata-se de um interesse de ordem pública, na medida em que interessa ao Estado zelar pela saúde e pela vida de cada integrante do corpo social.
Objeto Material:
Objeto material é a pessoa com quem o sujeito pratica relação sexual ou outro ato libidinoso, podendo ser homem ou mulher, e esteja contaminado pela doença venérea.
Núcleo do Tipo:
Verbo expor (colocar em perigo, arriscar, expor a vida de alguém) mediante a prática de relações sexuais ou qualquer outro ato libidinoso capaz de contagiá-lo com a doença venérea.
Modo de Execução: 
Trata-se de crime de forma vinculada, pois a lei exige o perigo de contágio se dá por via de relações sexuais, termo esse que não abrange só a conjunção carnal, como qualquer outro ato libidinoso. Exemplos: toques em partes íntimas, beijos lascivos etc. 
Moléstia Venérea: 
É toda doença que se contrai pelo contato sexual. Tais doenças são definidas pelo Decreto- lei 16.300, de 31/12/1923.
Vale ressaltar que, a redação do artigo 130 do Código Penal, deixa clara a necessidade do contato físico entre o agente e a vítima. Caso não tenha o contato, o crime será enquadrado ou no art. 131 ou 132 do Código Penal.
 Sujeito Ativo:	
Crime próprio, pois exige como condição que o autor, homem ou mulher, seja portador de doença sexualmente transmissível. 
Sujeito Passivo:
Qualquer pessoa, incluindo prostitutas e garotos de programas. O tipo penal fala apenas em “alguém”, ou seja, qualquer ser humano é alvo da tutela penal.
Elemento Subjetivo:
No caput, O agente “sabe que está contaminado” – dolo direto de perigo. O agente sabe que porta uma doença, mas não pratica os atos com intenção de transmitir efetivamente a moléstia e nem quer assumir o risco de transmiti-la. Ele quer isto sim, consciente e voluntariamente, expor a vítima a situação de perigo. Todavia, há correntes doutrinárias no sentindo da expressão “deve saber” refere-se à culpa. 
Primeira Corrente Doutrinária: A expressão “deve saber” indica culpa, o agente não tem consciência de que está contaminado, mas pelas circunstâncias (por exemplo, sintomas após ter dormido com uma prostituta) devia sabê-lo, pois podia presumir. (Magalhães Noronha) 
Segunda Corrente Doutrinária: A expressão “deve saber”, indica dolo eventual, pois a modalidade culposa deve vir sempre prevista e o princípio da reserva legal não pode ser desrespeitado. Também o núcleo empregado no tipo (“expor”) e a previsão do §1º reforçam essa orientação a majoritária doutrinária.
Vale-se ressaltar, todavia, que em qualquer das hipóteses previstas no caput o agente não pode agir com o fim de transmitir a doença, mas somente de expor a vítima a perigo de contágio, pois se trata de crime de perigo concreto. 
Na figura qualificada do §1º, “O agente sabe que está contaminado e tem a intenção de transmitir a moléstia”- crime de perigo com dolo de dano. O agente pretende mais do que a exposição ao perigo, o mesmo pretende o efetivo contágio, o que qualifica o crime, com a consequente majoração da pena. 
Consumação:
A consumação ocorre com a prática sexual ou de atos libidinosos capazes de transmitir a moléstia. Não é necessário o contágio, mas a exposição ao perigo de contágio. Todavia, sobrevindo à contaminação, podem ocorrer três situações distintas:
1)Se o dolo era de dano (§1º) e a contaminação é efetiva – responde nos termos do art. 130, §1º.
2) Se o dolo era de dano (§1º) e a contaminação efetiva 
além de resultar em lesão corporal ou morte – art. 129, 
§§ 1º e 2º. 
3)Se o dolo de perigo (caput) e há previsibilidade do 
contágio – art. 130, caput 
Sobrevindo a morte:
1) Se era intenção matar através da contaminação – responde por homicídio doloso.
2) Se a intenção não era matar, somente contaminar, mas a morte era previsível (§1º - dolo de dano) – lesão corporal seguida de morte (art. 129, §3º), crime preterdoloso. 
3) Se a contaminação se dá por ato culposo e sobrevêm morte – homicídio culposo.
Tentativa:
É cabível, tanto no caput como no §1, quando o agente, sabendo ou devendo saber que está contaminado por doença venérea, quer manter relação sexual ou praticar ato libidinoso com alguém, mas não consegue por circunstancias alheias à sua vontade.
Concurso de Crimes:
É possível haver concurso formal com crimes contra a dignidade sexual. Ocorre quando alguém comete um estupro sabendo ou devendo saber da contaminação por moléstia venérea. Deve responder pelos dois crimes.
Ação Penal:
Conforme o art. 130 §2, em razão da natureza do crime, com forte conotação moral, o código estabeleceu que este crime é de ação penal pública condicionada à representação do ofendido. Com isso, objetiva a lei dar a opção à vítima, que pode preferir evitar o strepitus judicii, em detrimento do interesse estatal na persecução penal.
Classificação Doutrinária:
Crime Próprio: Pois exige que o sujeito ativo seja portador de doença sexualmente transmitível.
Crime de Mão Própria: O crime somente pode ser praticado pelo agente portador da doença venérea.
Crime Simples: Tutela um único bem jurídico, ou seja, o bem tutelado é a incolumidade física da pessoa em sentido amplo, compreendendo sua vida e sua saúde.
Crime de perigo presumido: No caput, pois o crime se consuma, automaticamente, com a mera prática da prática da relação sexual ou do ato libidinoso, independentemente da contaminação da vítima.
Crime de perigo com dolo de dano ou crime formal com dolo de dano: no § 1, pois o crime é de perigo, porque dispensa a efetiva transmissão da doença. Dolo de dano, porque o sujeito tem a intenção de transmitir a efetiva moléstia de que está contaminado. Formal, porque o agente queria contaminar a vítima, mas o delito estará consumado com a simples prática da relação sexual ou do ato libidinoso.
Crime Comissivo: Pois o crime é incompatível com a omissão. Seu núcleo do tipo é o verbo “expor”, ou seja, exige uma ação do sujeito ativo.
De Forma Vinculada: Pois, somente podem ser cometidos através da relação sexual ou ato libidinoso. São os atos expressamente previstos no tipo penal.
Crime Formal: A intenção do agente é presumida de seu próprio ato, ou seja, se considera consumado independentemente do resultado naturalístico.
Unissubjetivo ou de concurso eventual: Normalmente o crime é praticado por apenas uma pessoa que possui a doença venérea, mas admite concurso.
Plurissubsistente: A conduta do art.130 CP, pode, em regra, ser fracionada em vários atos.
Instantâneo: Consuma-se com a prática sexual ou de atos libidinosos capazes de transmitir a moléstia, ou seja, consuma-se em um momento determinado, sem continuidade no tempo.
Em relação a AIDS, doença fatal e incurável, não é considerada moléstia venérea, uma vez que pode ser transmitida por formas diversas da relação sexual e dos atos libidinosos. Se um portador de HIV, consciente da letalidade da moléstia, efetua intencionalmente com terceira pessoa ato libidinoso que transmitir a doença, matando-a, responde por homicídio doloso consumado. E, se a vítima não falecer, a ele deve ser imputado o crimede homicídio tentado. Não há de falar no crime de perigo de Contágio Venéreo, uma vez que o dolo do agente dirige-se à morte da vítima. MASSON, Cleber.
Perigo de Contágio de Moléstia Grave- Art. 131 CP
Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Objetividade Jurídica:
O bem jurídico protegido é a incolumidade física da pessoa em sentido amplo, compreendendo sua vida e sua saúde.
Objeto Material:
É a pessoa submetida à conduta apta a produzir o contágio de moléstia grave.
Núcleo do Tipo:
O núcleo é “praticar”, ato capaz de expor a vítima a risco de contágio ou efetivamente contagiar. 
Meios Executórios:
Trata-se de crime de forma livre. O agente pode praticar o crime por meios diretos ou indiretos. Meios diretos são aqueles em que há contato pessoal do agente, a exemplo do aperto de mão, beijo, abraço etc. Indiretos é o uso de utensílios pessoais contaminados. 
Moléstia Grave: 
É qualquer enfermidade que acarreta séria perturbação da saúde. É irrelevante ser curável, mas precisa ser transmissível, contagiosa.
Sujeito Ativo:
Crime próprio, pois somente pessoa contaminada pode praticá-lo.
Sujeito Passivo:
Qualquer pessoa que não esteja infectada pela moléstia grave. Contrario sensu será crime impossível, pela impropriedade absoluta do objeto material, conforme art.17 CP.
Elemento Subjetivo:
Não basta a mera consciência e vontade do agente, molestado, de praticar ato capaz de produzir o contágio, pois o tipo penal exige, além dessa vontade genérica, uma finalidade especial escrita explicitamente no modelo legal, qual seja, “com o fim de transmitir a outrem a moléstia grave”. Ausente essa finalidade, não há o enquadramento legal da conduta ao tipo penal. Desse modo, no tipo penal em estudo, há o dolo direto de dano acrescido do fim especial de agir: “o fim de transmitir”. Não se admite, na espécie, o dolo eventual de dano, em face de sua incompatibilidade com o elemento subjetivo do tipo, que exige expressamente que o agente queira transmitir a moléstia. Como então enquadrar a conduta daquele que assume o risco de transmitir a moléstia grave a outrem? O dolo eventual poderá constituir tentativa de lesão corporal ou o crime consumado de perigo para a vida ou a saúde de outrem (art. 132, do CP) se ocorrer à transmissão efetiva da moléstia grave, o crime poderá ser de lesão corporal dolosa ou lesão corporal seguida de morte, de acordo com o resultado que produzir.
Consumação:
É crime formal, em que não se exige necessariamente que o agente consiga o efetivo contágio. Todavia, se efetivar-se a transmissão da moléstia grave, o agente responderá pelos delitos do art. 129, §§ 1º e 2º, lesão corporal grave ou gravíssima. Se a lesão for leve é absorvida pelo tipo. Se resultar morte pela contaminação da moléstia grave, o agente responderá se teve a intenção de matar, por homicídio tentado ou consumado, conforme ocorra ou não a morte. Se não houver esse ânimo, mas a vítima vier a falecer, ocorrerá lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3o, do CP), desde que esse evento seja previsível. Também responderá pela lesão corporal seguida de morte se atuar com dolo eventual com relação ao contágio. Se a contaminação decorreu de um ato culposo do qual adveio à morte da vítima: responderá o agente pelo delito de homicídio culposo.
Tentativa:
Se for um crime unissubsistente a tentativa será inadmissível, mas se 
sua prática for plurissubsistente, será admissível. 
Concurso de Crimes:
Se, em decorrência da contaminação pela moléstia grave é também provocada uma epidemia, o sujeito responde pelos crimes dos art. 131 e o art. 267 (crime de perigo coletivo ou comum, pondo em risco um número indeterminado de vítimas). 
Modalidade Culposa: 
Não há forma culposa do delito em estudo. Assim, se o agente de modo imprudente realiza ato capaz de transmitir moléstia grave, não responderá pelo delito em questão ante a falta de previsão legal. Nada impede, contudo, que responda pelo delito de lesões corporais culposas se houver o efetivo contágio.
Ação Penal: 
É Pública Incondicionada, pois independe de representação do ofendido ou de seu representante legal.
Suspensão Condicional do Processo:
Nos moldes da Lei n. 9.099/95, o delito de contágio de moléstia grave não constitui infração de menor potencial ofensivo. Em virtude de a pena mínima prevista ser igual a 1 ano (pena — reclusão, de 1 a 4 anos, e multa), incide, porém, a regra do art. 89 da referida lei, que possibilita a aplicação do instituto da suspensão condicional do processo aos crimes cuja pena mínima seja igual ou inferior a 1 ano.
Classificação Doutrinária:
Crime Formal: Pois se consuma no momento da prática do ato capaz de produzir o contágio, independentemente da efetiva transmissão.
Crime de Forma Livre: Pode ser praticado de qualquer modo pelo agente, pois não há, no tipo penal, qualquer vínculo com o método.
Crime Próprio: Exige que o sujeito ativo esteja contaminado para praticá-lo. Se o sujeito supondo equivocadamente que esteja contaminado, estará caracterizado como crime impossível (CP, art.17).
Crime Unissubjetivo ou de concurso eventual: Em regra, é praticado por apenas uma única pessoa, mas admite o concurso.
Crime Comissivo: Pois o núcleo do tipo é “praticar”, ou seja, exige uma ação. 
Crime Omissivo Impróprio ou Comissivo por Omissão: Em regra, o crime é comissivo, mas nada impede que o crime seja realizado por meio de uma omissão, quando o agente tinha o dever de agir, nos termos do art. 13 §2 do Código Penal.
Crime Instantâneo: Consuma-se em um determinado momento, sem continuidade no tempo.
Crime Unissubsistente: Em regra é unissubistente, pois é realizado por ato único.
Crime Plurissubsistente: Será plurissubsistente se praticado por vários atos. Será admitida a tentativa, caso seja plurissubsistente.
De Dano: Nada obstante a consumação ocorra com a simples exposição a perigo.
Perigo para a vida ou saúde de outrem- Art.132 CP.
 Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.
 Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais.
Objetividade Jurídica:
O tipo penal protege a vida e a saúde da pessoa humana.
Objeto Material:
É a pessoa que tem sua vida ou sua saúde exposta a perigo direto e iminente.
Núcleo do Tipo:
O núcleo do tipo é “Expor” (colocar em perigo) a vida de ou saúde de outrem a perigo direto (dirigida à pessoa certa, determinada) e iminente (risco real, palpável, não presumido) quase próximo ao dano.
Meios de Execução:
Trata-se de crime de forma livre, podendo a exposição a perigo ser realizada mediante uma conduta comissiva, por exemplo, agredir motorista de ônibus, colocando em perigo todos os passageiros que no seu interior se encontravam ou omissiva, por exemplo, familiares que não autorizam a urgente transfusão de sangue, por motivos religiosos, em favor de paciente anêmica.
É crime de perigo concreto, pois não basta a prática da conduta ilícita. É necessário ficar provado que em razão do comportamento do agente a vítima teve sua vida ou sua saúde submetida a risco de lesão.
O art. 132 do Código Penal reclama ainda seja perigo direto e iminente.
Perigo Direto: É o que alcança pessoa ou pessoas certas e determinadas.
Perigo Iminente: é o capaz de danificar imediatamente a vida ou saúde do ofendido.
Sujeito Ativo:
Trata-se de crime comum. Qualquer pessoa pode praticar o delito em estudo.
Sujeito Passivo:
Qualquer pessoa, desde que certa e determinada, independentemente de qualquer ligação com o autor.
Elemento Subjetivo:
É o dolo de perigo, consistente na consciência e vontade de expor a perigo. Pode ser direto, em que a vontade do agente se redirecionano sentido de criar a situação de perigo, ou eventual, em que, embora não queira diretamente essa situação, assume o risco do evento perigoso. Assim, praticam-no, com dolo eventual, avó e mãe de menor que, por motivos religiosos (Testemunhas de Jeová), não autorizam urgente transfusão de sangue prescrita em caso de anemia.
Se a intenção do agente era provocar um mal determinado (dolo de dano), o crime será de tentativa de lesão corporal ou de tentativa de homicídio, conforme o caso.
Não se admite a modalidade culposa nesse tipo penal.
Consumação:
Dá-se a consumação no instante em que ocorre a produção de perigo concreto para a vítima. Os crimes de perigo concreto são aqueles cuja caracterização virá pela efetiva comprovação de que a conduta do agente trouxe, realmente, a probabilidade do dano ao objeto jurídico protegido.
Tentativa:
É possível, mas somente na modalidade comissiva; jamais na omissiva.
Subsidiariedade Expressa:
Há apenas uma hipótese de subsidiariedade expressa, pois consta que o sujeito somente será imputado esse delito “se o fato não constitui crime mais grave”, tal como se dá na tentativa de homicídio.
Caso a vítima vem a morrer em razão da exposição descrita neste tipo penal, o crime será de homicídio culposo (art.121 § 3º). Em caso de lesão culposa, a figura será do próprio art.132, visto que a do art. 129 §6, ambas do Código Penal, é mais apenada.
Perigo para a vida ou saúde de outrem e disparo de Arma de Fogo:
Com a nova lei, o disparo de arma de fogo passou a ser tipificado no art. 15 do Estatuto do Desarmamento, alterando-se a ressalva final para que, no lugar de “desde que o fato não constitua crime mais grave”, passasse a constar “desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime”. O intuito, claramente, foi o de afastar a incidência da subsidiariedade e, com isso, permitir que o agente viesse a responder pelo delito que pretendeu praticar, ainda que menos grave. No caso em tela, como o autor da periclitação pretende expor a vida de outrem a perigo, usando os disparos como simples meio para essa realização, diante da nova redação deveria prevalecer a norma do art. 132 do CP. Entretanto, conforme já ressaltado (vide comentários ao crime de lesões corporais), tal solução violaria o princípio da proporcionalidade, de modo que entendemos estar mantida a mesma consequência da lei anterior, isto é, prevalece a infração mais grave, no caso, o disparo. Convém notar que, mesmo em face do novo Estatuto do Desarmamento, o art. 132 do Código Penal continua a subsistir para alcançar todas as outras formas de exposição de vítima determinada a risco direto e iminente de dano, abrangendo o uso de arma branca, de arremesso etc.
Lei 9.099/1995:
Em crime ingressa no rol das infrações penais de menor potencial ofensivo, em face do limite máximo da pena privativa de liberdade cominada pelo legislador. Admite transação penal, se presentes os requisitos legais, e segue o rito sumaríssimo previsto nos arts. 77 e seguintes da Lei 9.099/1995.
Causa de Aumento de Pena:
A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais (parágrafo único acrescentado pela Lei n. 9.777, de 29-12-1998). A finalidade primordial dessa majoração é coibir o transporte em condições irregulares dos chamados boias-frias, evitando-se com isso os acidentes que geralmente acontecem. O transporte a que a lei se refere é o veículo motorizado, sujeito às disposições do CTB (ônibus, caminhões etc.). Exige o tipo que as pessoas sejam transportadas para prestar serviços em estabelecimento de qualquer natureza, e,
o transporte pode ser realizado para empresas ou propriedades de qualquer natureza: sítios, fazendas, indústrias, fábricas, lojas, estabelecimentos comerciais e de recreação etc. A empresa pode ser civil ou comercial, pública ou privada. “A prestação de serviços alcança qualquer atividade: lavouras (cana-de-açúcar, soja, café, cacau etc.), indústrias, fábricas de carvão, madeireiras, borracha, desmatamento, construções, saneamento, conservação de estradas etc”.
Segundo a teoria restritiva adotada pelo Código Penal, é aquele que realiza a conduta principal descrita no tipo penal, ou seja, aquele que transporta pessoas em condições irregulares, melhor dizendo, é o motorista do veículo. Ocorre que, para os adeptos da teoria do domínio do fato, dentre eles, autor é aquele que detém o controle final do fato, dominando toda a realização delituosa. Não importa se o agente pratica ou não o verbo descrito no tipo legal. Assim, o mandante, embora não realize o núcleo da ação típica, deve ser considerado autor, uma vez que detém o controle final do fato até a sua consumação. Nesse diapasão, o autor do delito do art. 132, na sua forma majorada, é o responsável pelo estabelecimento ou propriedade, sendo o motorista coautor do delito. Note-se que o fiscal do transporte pode ser partícipe do delito em exame. Importa destacar que a majorante em estudo exige que o transporte seja realizado “em desacordo com as normas legais”. Tais normas são as constantes no Código de Trânsito Brasileiro e legislação complementar. Se o transporte for realizado de acordo com as normas legais, não há que se falar em fato típico. Finalmente, é de observar que não basta o tão só desrespeito às normas regulamentares para que a figura majorada se configure, pois esta exige a prova do perigo concreto para a vida ou a saúde das pessoas transportadas.
Ação Penal:
 Trata-se de Ação Penal Pública Incondicionada.
Estatuto do Idoso:
A Lei 10.741/2003, com o escopo de assegurar efetiva proteção às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, definiu em seu art. 99 uma figura especial de crime de perigo para a vida ou saúde, quando a vítima é pessoa idosa. Leva-se em conta, portanto, a faixa etária do ofendido.
Quando a vítima for pessoa idosa e a conduta encontrar correspondência no art.99 da Lei 10.741/2003, será excluído o art. 132 do Código Penal. Resolve-se o conflito aparente de normas com o princípio da especialidade.
Classificação Doutrinária:
Crime de Perigo Concreto: Pois se consuma com a efetiva comprovação, no caso concreto, da ocorrência da situação de perigo. 
Crime Comum: Pois qualquer pessoa pode praticar o delito em estudo. Não se exige qualidade especial do sujeito ativo nem do sujeito passivo.
Crime de Forma Livre: Pois não prevê uma forma específica de realização do núcleo do tipo.
Crime Simples: É tutelado apenas um único bem jurídico no tipo penal.
Crime Doloso: Pois o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.
Crime Instantâneo: Pois o delito se consuma em um determinado momento, sem continuidade no tempo.
Crime Unissubsistente: A conduta pode ser realizada apenas por um único ato.
Crime Plurissubsistente: A conduta pode também ser divindade em vários atos.
Crime Unissubjetivo ou de Concurso Eventual: Em regra, é praticado por apenas uma única pessoa, mas admite o concurso.
Crime Comissivo: Pois o núcleo do tipo é “expor”, ou seja, exige uma ação do sujeito ativo.
Crime Omissivo: Em regra, o crime é cometido na modalidade comissiva, ou seja, por uma ação, mas é aceito também na modalidade omissiva, quando o sujeito ativo deixa de agir. Exemplo: Empresário que não disponibiliza aos seus empregados os equipamentos de proteção individual, daí resultando perigo no exercício das funções laborais.
Crime Expressamente Subsidiário: pois na redação do art.132 CP, o crime é subsidiário em relação a outro quando descreve um grau menor de violação do bem jurídico. A análise, este caso, é feita em concreto, relação de minus e de plus, ou seja, de maior ou menor intensidade. Neste caso, havendo conflito aparente de normas, é levada em conta a análise do fato.
Art. 132 – Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:
Pena – detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.Bibliografias:
MASSON, Cleber. Direito Penal: parte especial-vol. 2/ Cleber Masson- 10. Ed. Ver., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.
CAPEZ, Fernando – Curso de Direito Penal, vol2- parte especial- 2012 – https://drive.google.com/viewerng/viewer?url=http://ler-agora.jegueajato.com/Fernando+Capez/Curso+de+Direito+Penal+-+Vol+2+(243)/Curso+de+Direito+Penal+-+Vol+2+-+Fernando+Capez?chave%3D1677cfea7cb1b4e721f78316a481fd9c&dsl=1&ext=.pdf (acesso em: 01/05/2020).
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm

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