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Lívia L. Lucas Carlomagno Psicologia positiva aplicada às organizações A Psicologia Positiva ajustou-se perfeitamente à gestão de pes- soas nas organizações. Mais do que em qualquer outra época, os gestores concordam que funcionários motivados e produtivos são cruciais quando se fala em inovação, desempenho, competitividade e produtividade. Por isso, quando os estudiosos das ciências organizacionais entraram em con- tato com o novo movimento da psicologia positiva, enxergaram possibili- dades a serem estudadas e desenvolvidas na prática diária das empresas. O sucesso do foco no positivo parece tão certo uma vez que utiliza e ma- 'ximiza os recursos positivos existentes nas pessoas mostra o caminho mais eficiente para o crescimento profissional (Fredrickson, 2009; Mãkikangas & Kinnunen, 2003). Assim, após o advento da Psicologia Positiva, muitos psicólogos organizacionais mergulharam nas pesquisas e na prática da agora chamada Psicologia Organizacional Positiva (Kark & Carmeli, 2009; Luthans, Avolio, Avey, & Norman, 2007; Peterson, Gerhardt, & Rode, 2006). Neste capítulo, serão apresentados os principais autores;linhas de pesquisa e intervenções práticas utilizadas pela Psicologia Positiva nas organizações. Assim como, o entendimento que os psicólogos positivos têm sobre as ações das empresas para atrair y manter os funcionários criativos, engajados e com alta performance. Enfim, como a Psicologia Positiva contribui para a gestão do capital humariô nas organizações. A fim de compréender como se deu o crescimento da Psicologia Organizacional Positiva ao longo das últimas décadas, serão apresentadas abordagens que ocupam um lugar de destaque no movimento: a Aborda- gem Baseada em Pontos Fortes, desenvolvida pela Gallup Organization (Buckingham & Clifton, 1999); o Flow, proposto por Csikszentmihalyi•. ." 210 Lívia L. Lucas Carlomagno ao estudar criatividade (Csikszentmihalyi, & Csikszentmihalyi, 1975); Inquérito Apreciativo, uma técnica criada da década de 80 para facilitar os processos de mudança organizacional (Cooperrider, 1986); e outra abordagens derivadas diretamente da Psicologia Positiva, como o Com- portamento Organizacional Positivo (Luthans, 2002), o Positive Organi- zational Scholarship (Cameron, Dutton, & Quinn, 2003) e o Positiv Psychology Coaching (Kauffman, & Scoular, 2004). Abordagem Baseada em Pontos Fortes Diferente das outras abordagens apresentadas neste capítulo, a abordagem baseada em forças, desenvolvida pela Gallup Organization um pouco mais conhecida no Brasil. AIgumas consultorias utilizam a sua metodologia não para pesquisa, mas para a prática de gestão de pessoas nas organizações. No entanto, em comparação com países como os Esta- dos Unidos, que já possuem um vasto campo de investigação sobre o tema, o Brasil ainda está atrasado. Embora conhecido principalmente por suas pesquisas, realiza- das em quase todos os países do mundo, 90%· dos negócios da Gallup Organization envolve consultoria de gestão e desenvolvimento organiza- cional. Donald Clifton, considerado (de forma bem humorada) pela Asso- ciação Americana de Psicologia (AP A) o pai da Psicologia Baseada em Forças e avô da Psicologia Positiva, foi presidente do conselho da Gallup Organization até 1999, liderando o desenvolvimento dos trabalhos sobre liderança, gestão e alto desempenho (Luthans, 2002). A partir da metade da década de 70 até o início dos anos 2000, a Gallup Organization realizou extensa pesquisa sobre excelência profissio- nal. Foram mais de dois milhões de entrevistas com aqueles que eram considerados os melhores em suas áreas profissionais (médicos, vendedo- res, advogados, atletas, corretores, contadores, entre outros). Os partici- pantes respondiam a perguntas abertas com o obj etivo de descreverem como agiam no seu dia-a-dia de trabalho. Á partir da análise destes da- dos, e buscando padrões que caracterizassem esses profissionais, os in- vestigadores identificaram 34 "temas" predominantes relacionadas ao talento e ao desempenho humano. Esses talentos seriam constituidos por padrões de pensamentos, sentimentos ou comportamentos recorrentes e autênticos, que poderiam ser aplicados de forma produtiva Além disso, postularam que cada tema de talento teria potencial para se tomar uma Psicologia Positiva: Teoria, Pesquisa e Intervenção 211 torça se os indivíduos adquirissem o~ conhecime~tos e as técnicas neces- árias ao seu desenvolvimento (Buckingham & Chfton, 2001). Segundo Buckingham (2007), existe~ q~atro aspecto~ que ca- racterizam um talento: sucesso, instinto, crescunento e necessIda~e. O ucesso seria o melhor indicador da aptidão do indivídu~ e~ determmada atividade, onde ele demonstra sua alta perf~rmance. ~ rnst~t? refere-s.e no impulso em realizar a atividade. O crescunento sena.a rápida capaci- dade de aprendizagem nesta ativida~e. Por ~un, a ne~e~sldade refere-se a realização que o indivíduo sente após conc1urr essa atividade. Os pesquisadores da Gallup Orga.nizc:tion ide~tificaram ainda que cada um dos participantes do estudo diferia enn:e SI em termos de características pessoais e conjunto de talentos, mas tinham algo em co- mum: investiam a maior parte do seu tempo em conhecer e desenvolver eus talentos, e focavam menos em "consertar" suas fraquezas. Em ~- ção disso, os pesquisadores lançaram uma no~a questão em todos ?s pai- es em que estavam inseridos, p~rguntan~o as pessoas o _que faria com que elas fossem mais bem sucedidas na VIda: ~onh~cer suas fraquezas e tentar superá-Ias ou conhecer suas forças e aprimorá-Ias, Surpreend:,nte- mente, aqueles que escolheram focar na~ su~s forças e d~senvolve-Ias foram minoria em todos os países onde f01 reahzada a pe~qU1sa.De ~osse desses resultados, os pesquisadores entenderam que havia a necessidade de colocar em prática a Psicologia Positiva. e educar as pessoas para a importância do foco nas forças (Hodges & Clifton, ~004). Assim, a Gallup Organization projet0':l uma a.val.iaç~ochamada StrengthsFinder, que visava a identificar os_crnco pnncipais temas de talento, medindo a previsibilidade dos padroes de co~portamen~o ~~s indivíduos (Buckingham & Clifton, 2001). Os temas ajudam os indiví- duos a formar uma linguagem de sucesso sob~e o que eles fazem bem e a norte ar um desenvolvimento pessoal e profissional, • A partir disso, programas específicos de desenvolvimento foram adaptados para atender as necessida~es específica~ ~e .cada um, como o caso de uma montadora japonesa SItuada na Cahforma. Segundo Con- nelly (2002), foi realizado um programa ~e de~~nvolvimento baseado em pontos fortes com o objetivo de construrr equipes de .tr~~alho eficazes. Foram desenvolvidas 521- equipes de trabalho, onde inicialmente cada funcionário completou o StrengthsFinder ~ara ide~ti~car seus temas de talento. Em seguida, os gestores dessas equipes P~lcIp~~m de um :urso de quatro dias, projetado para apresentá-Ios à teona e pratica da ~estao de si mesmos e de sua~ equipes de acordo com seus pontos fortes. Frnalmen- te foi realizada uma reunião com todas as e.qU1pespara que pudessem, 212 Lívia L. Lucas Carlomagno 213 pensar sobre suas próprias forças e as dos membros da equipe, a fim d maximizar o desempenho e melhorar o relacionamento entre os funcion rios. Os resultados atribuídos ao programa de desenvolvimento basead em pontos fortes foram o aumento da produtividade, por pessoa, de 6o/c em um ano. O resultado contrastou com os três anos anteriores, onde produtividade variava aproximadamente 1%. Outros resultados de intervenções baseadas em pontos fort mostraram também um impacto positivo em relação ao comprometiment dos funcíonáríos (Buckingham & Coffman, 1999), ao desempenho (Clif ton & Harter, 2003), à satisfação do cliente, à produtividade, ao lucr (BIac~ 2001), à rotatividade e até aos acidentes de trabalho (Harter, Schmidt, & Hayes, 2002). Um estudo reahzado com estudantes de admi- nistração de uma universidade americana que participaram de uma inter- venção baseada em pontos fortes, ao longo do primeiro trimestre, revelou queas pontuações em esperança aumentaram em 0,36 pontos do escor padrão num intervalo de três meses (Hodges, & Clifton, 2004). Da mes- ma forma, outro estudo com 212 estudantes universitários mostrou um ~umento de 0,23 pontos no escore padrão do teste de autoeficácia após a mtervenção (Rath, 2002). ' ' Donald Clifton, Martin Seligman, Christopher Peterson e tanto outros expoentes da Psicologia Positiva, foram os responsáveis pela cria- ção e ampliação deste movimento que tinha como objetivo principal o conhecimento completo do ser humano, abrangendo todas as suas forças e fraquezas, em detrimento de uma visão parcial e negativa vigente at então. A partir dos seus trabalhos, novas gerações de pesquisadores refi- naram essas ideias e as colocaram em prática, nos mais diversos campos de atuação. Flow Mihaly Csikszenttnihalyi, um dos fimdadores da Psicologia Po- sitiva, dedicou os últimos quarenta anos à investigação de temas relacio- nados à teoria do Flow e à Criatividade. Segundo o autor, pessoas criati- vas diferem entre si em uma variedade de aspectos, mas todos que apre- sentam experiências de Flow possuem uma característica comum: amam o que fazem. Pesquisas com engenheiros, cientistas, escritores, músicos, arquitetos, sociólogos e médicos mostram que eles fazem seu trabalho em primeiro lugar porque isso é divertido para eles. Este prazer em realizar Psicologia Positiva: Teoria, Pesquisa e Intervenção 11 terminada atividade é o primeiro requisit~ para se atingir um estado de Flow (Csikszentmihalyi & Csikszentmihalyi, 1975). . . O estado de Flow aplicado ao trabalho está associado a maiores ndices de engajamento e melhor. de~e.mpenho nas tarefas (perschel~ 10). Empresas que utilizam os prmcIpIOs do Flow em seus programa de gestão de pessoas, vêm tendo promissores resultados em desempenho, produtividade, satisfação e inovação. Bakker (2008) d~fme Fl0';V no tra- balho como um pico de experiência a curto-prazo .que_e~ara~tenzado por ubsorção, satisfação no que se está fazendo e motivação mtrínsec~ p~a.o Irabalho. Esses estados podem ser referidos como os elementos ~rmclpaIs Ia experiência de Flow. Absorção re~e~e-se ~ ~a con~entraçao total.e mersão na atividade. Satisfação na atividade indica um ~ulg~m~nto, POSl- Iivo sobre a qualidade da experiência no trabalho. Motivação ~tr.mseca refere-se à necessidade de realizar alguns trabalhos C01~ o objetivo de xperimentar o prazer e a satisfação inerente ao que se esta fazend~. . No entanto, como é possível saber quando uma pe~soa atmgll~ o Flow? Perguntando à ela. A forma mais utilizada para med~r o Flow e o Método de Amostragem da Experiência, ou ~SM (Ex~e~l~nce Sa,mple Method), desenvolvido na Universidade de Chica?o no 1ll1CIO.da decada de 70 (Csikszentmihalyi & Larson, 1987). A p~rr d~s pesq~sas com o referido método, descobriu-se que ocorrem mais ~anl:est~ç~es de Flow no trabalho do que no tempo livre. Esta constat~çao nao e tao surpre.e~- dente: o trabalho é muito mais parecido com um jogo do que. outras atIVI- dades que fazemos durante o dia. Ele geralmente tem obj~tIvos claros e regras de desempenho. Ele fornece feedba~k ~e como r~ahzar um tra~a- lho bem feito, em termos de vendas mensuraveis ou atraves de .uma a.vaha- ção feita por um supervisor. Além disso, o trabalho tende a incentivar a concentração e evitar distrações (Salanova, Bakker, & Llorens, 2006). Apesar dos 40 anos de estudos realizados neste período. sobr.e Flow, ainda há muito espaço para pesquisas 'nesta .área. Quanto ~~lS PSI- cólogos se interessarem pelo tema e qu~to mais e~presa~ utIhzare~ seus princípios nas práticas de gestão de ~essoa~,. maior sera o entendi- mento e a força deste construto na Psicologia POSItIva. Inquérito Apreciativo Assim como o Flow, o Inquérito Apreciativo é outra técnica precedente~~Psico~ogia Organizacional Positiva que vem mantendo sua 214 Lívia L. Lucas Carlomagno força ~ e~ciên~ia ~os programa~ de gestão da mudança nas organizações. Esta técnica f01 cnada por David Cooperrider, no início da década de 80 (Cooperrider & Whitney, 2005). Enquanto realizava um desenvolvimento de lideranças. em uma organização, Cooperrider percebeu como as pessoas ~ca~am motivadas ao falar s~bre suas experiências de sucesso, o que o msprr?u ~ explorar ~ste caminho para atingir mais rápido a mudança organizacional. Para ISSO,remodelou algumas técnicas tradicionais utili- zadas 'para fac~litar a mudança nas organizações direcionando-as para a n~rr~tI:,a daqU11?que era experienciado como "o seu melhor" pelos fun- cionanos (Marujo, Neto, Caetano, & Rivero, 2007). No q':le c,?nsiste ~ss.a técnica, afinal? Segundo Cooperrider (1986), a Investigação Apreciativa envolve a descoberta sistemática sobre o melhor nas pessoas, nas organizações e no ambiente em tomo delas. Trata-.se de mobilizar, através de perguntas positivas, as experiências bem sucedidas, os recursos e as potencialidades dos colaboradores de cada organização, visando a uma mudança efetiva. Este é um processo que utiliza a narrativa, a fim de envolver a todos na construção do futuro da organização (Cooperrider & Whitney, 2005). O método do Inquérito Apreciativo implica em um ciclo de qua- tro momentos sequenciais, chamado de Modelo 4D: Descoberta (Disco- ve~), Sonho (Dream), Delineamento (Design) e Destino (Destiny). A partrr de um "tema central" a ser trabalhado, são realizadas essas quatro etapas sequencialmente (Csikszentmihalyi, 1997). A fase de descoberta t:,m como ~bjetivo de.scobrir e revelar aquilo que é positivo na organiza- çao: ~u seja, ~s qualidades, as forças, as competências, as experiências positivas antenores, a fim de aumentar a autoconfiança dos envolvidos e capacitá-los positivamente. As ferramentas utilizadas nesta etapa são as perguntas positivas realizadas nas entrevistas com todos os funcionários. Para ilustrar melhor esta etapa pode-se citar o exemplo de uma empresa canadense que utilizou o método do Inquérito Apreciativo para fazer a suc~ssão de um. sócio-gerente (Cooperrider & Whitney, 2005). Foram reahzadas entrevistas de duas horas com cada um dos 400 funcionários da e~pre~a, abordando temas como inovação, igualdade e valorização da diversidade. Isso possibilitou que as pessoas começassem a se relacionar com a sua história dentro da empresa de maneira diferente, mais positiva. . A fase de sonho consiste em visualizar e imaginar o futuro que se ~eseJa alcançar em relação ao tema central. Em grupo, os funcionários decidem onde querem chegar com aquela mudança. Foi assim com.uma e~~res~ brasileira que no final da década de 90 fechou a fábrica por um dia mterro, trazendo os mais de 700 empregados para articular um sonho Psicologia positiva: Teoria, Pesquisa e Intervenção 215 'orporativo novo e ousado (Barros & Cooperrider, 2000). As histórias de ucesso relatadas nas entrevistas anteriores foram ~sadas ap~nas. como ferramentas para facilitar o processo. Seis meses mais tarde fOI registrado um crescimento de 300% no lucro da empresa. , Uma vez que o foco estratégico, elaborado na fase ,d? sonho, e articulado inicia-se a fase de planejamento dos passos neces~anos para se chegar ao'objetivo. Esta é a fase do delineamento, que consiste na elab~- ração de um plano de ação a se realizar por etapas. Uma empresa amen- cana distribuidora de produtos de consumo,. promoveu, por exemplo, uma conferência anual de planejamento estratégico, que envolve todos os fun- . " e alguns parceiros-chave. Foram apresentados estudos sobrecionanos d ,. outras empresas concorrentes, histórias de s~cesso a pro~na empresa e outros dados que ajudaram a definir o cenáno para o planeJame~to estra- tégico da mesma (Cooperrider & Whitney, 2005). N~ entanto, d:ret~~~n- te ligada a fase do delineamento, está a f~se do destino, on_desao ~c~a- das as atividades sugeridas no plano de açao. Nesta etapa, sao necessanas estruturas de rede para que as pessoas possam se fortalecer, conectar, cooperar e cocriar. . . . Apesar de o Inquérito Aprecia~ivo nã_oter se_ongmado da ps~co- logia positiva, ambos tem em comuma mtençao de nao en~arar a reah~a- de com base nos déficts ou patologias, mas focar no que da c~rto, naq':ltlo que é positivo nos seres humanos e nas org~nizações. P~r .ISSO,mU1~os , psicólogos positivos vem utilizando essa técnica na sua ~ratlc~ profI~s~o- 1 Luis Neto e Helena Marujo, dois expoentes da PSIcolOgia ~osltIva ~~'opeia, realizaram um programa de. intervenção, em ~ Instituto ..na região sul de portugal, composto por c~co Escolas Supenores de Gestao, Educação, Saúde, Ciências Empresanals e .Tecnologta, que ~~es er~ independentes (Marujo, Neto, Caetano, & Rivero, 2007). O ?bJetIvo ~nn- cipal era criar um projeto coletivo que unífícasse ~s ~tençoes ?as cinco escolas. Além disso, pretendia-se auxiliar na capa.ç~!açao d? Instl~to para que este viesse a se tomar uma inst~tuição ~e ensm? superior que co~pe- tisse com outras instituições em nível naCIOnal ~ ~temacIOnal. A mt~r- venção teve duração de um dia, onde foram capacitadas 4~ pessoas, m- 1 . d os líderes responsáveis pela gestão das.escolas refendas e os pre-c um o . , '1' Inouésidentes das associações de estudantes. Os pSI.CO~Ogosuti izaram o que- rito Apreciativo e duas fe:-ramentas desenvolvidas por eles. . O trabalho iniciou com a criação de quatro grupos, d~~postos em mesas redondas, onde cada grupo deveria esco~er um an;fitnao, que re- ceberia os novos membros durante as fases segumtes d? CIclo. Cada um~ das quatro mesas correspondia a uma das fases do CIclo 4D, onde f01
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