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HÉRNIAS − É uma das operações mais realizadas por cirurgiões. Hérnias são protrusões anormais de um órgão ou tecido devido um defeito na sua parede. Os lugares mais comuns de aparecer são no abdome e região inguinal. − Na parede abdominal, as hérnias ocorrem onde a aponeurose e a fáscia não são cobertos por musculo estriado, que são as áreas inguinais, femoral, umbilical, linha alça, porção inferior da linha semilunar e locais de incisões anteriores. − O colo/orifício de uma hérnia é localizado na camada musculoaponeuróticas mais interna. − O saco herniário é revestido por peritônio e faz protrusão no colo. Não existe relação entre a área do defeito da hérnia e o tamanho do saco herniário − A maioria das hérnias abdominais podem ser separadas em hérnias inguinais e ventrais. • HÉRNIAS INGUINAIS − Podem ser divididas quanto ao seu mecanismo de formação em indiretas e diretas: • HÉRNIA INGUINAL INDIRETA: ocorrem por causa de alterações congênitas decorrentes do não fechamento do conduto peritoneovaginal (processos vaginalis), uma espécie de túnel criado pela descida do testículo, o qual vai empurrando o peritônio à sua frente. Normalmente esse conduto é fechado totalmente, recebendo o nome de Ligamento de Cloquet. o Quando não há fechamento no conduto após o nascimento, ou ainda, o fechamento é parcial, permanece uma comunicação entre a cavidade abdominal e o canal inguinal, permitindo não só o aparecimento da hérnia inguinal indireta, mas também de outras condições como hidrocele do cordão e hidrocele comunicante. o No sexo feminino, o equivalente ao conduto peritoneovaginal é o divertículo de Nuck, uma espécie de túnel criado também pela “descida” do ovário durante a embriogênese. • HÉRNIA INGUINAL DIRETA: não são resultado de alterações congênitas e sim, adquiridas. Tem na sua origem um enfraquecimento da musculatura da parede posterior do canal inguinal. Esse tipo de hérnia ocorre no triangulo de Hesselbach, que é o segmento mais frágil da fáscia transversalis, principalmente por ser a região menos protegida pelo revestimento musculo-aponeurótico o Alguns fatores químicos e celulares estão relacionados ao desenvolvimento desse tipo de hérnia, como: diminuição de hidroxiprolina (componente do colágeno nas aponeuroses), proliferação anormal de fibroblastos, alterações estruturais das fibras colágenas da aponeurose do reto abdominal o Há fatores ambientais como tabagismo (que interfere na síntese do colágeno), idade avançada, desnutrição, doenças crônicas debilitantes, atividade física intensa. − As hérnias inguinais, direta e indireta e a hérnia femoral são conhecidas como hérnias da região da virilha − A figura a seguir mostra a anatomia dos locais envolvidos com as hérnias inguinais e nos ajuda a localizar o canal femoral, onde o saco herniário da hérnia femoral se anuncia: DIRETA INDIRETA Adquirida Congênita >40 anos <40 anos Surgimento abrupto Surgimento lento Pouco sintomática Sintomática Redução fácil Redução difícil Medial a A. epigástrica inferior (Hesselbach) Lateral a A. epigástrica inferior − HÉRNIA REDUTÍVEL: é aquela que é reduzida, ou seja, o saco herniário retorna à cavidade abdominal, espontaneamente ou através de manobra manual (manobra de Taxe). − HERNIA IRREDUTÍVEL OU ENCERRADA OU ENCARCERADA: é aquela que não é possível a redução do saco herniário − HÉRNIA ESTRANGULADA: é aquela cujo encarceramento leva ao comprometimento suprimento sanguíneo para o seu conteúdo, podendo ser uma complicação grave/fatal. Isso ocorre mais nas hérnias grandes que tem pequenos orifícios. Nessas situações, o pequeno colo da hérnia obstrui o fluxo sanguíneo arterial, a drenagem venosa ou ambos. Causa muita dor. − Pode ocorrer ADESÃO entre os conteúdos da hérnia e o peritônio do saco, gerando um ponto de acorrentamento que aprisiona o conteúdo da hérnia, podendo causar obstrução de intestino e estrangulamento. • Um tipo pouco comum de estrangulamento é a hérnia de Richter. Nessa hérnia, uma pequena porção da parede antimesentérica do intestino é aprisionada dentro da hérnia, e pode ocorrer estrangulamento sem a presença de obstrução intestinal. • O encarceramento e o estrangulamento podem levar à obstrução intestinal quando uma víscera de delgado faz parte do conteúdo do saco herniário − HÉRNIAS EXTERNAS: fazem protrusão através de todas as camadas da parede abdominal. − HÉRNIAS INTERNAS: são uma protrusão do intestino através de um defeito na cavidade peritoneal. − HÉRNIA INTERPARIETAL: ocorre quando o saco herniário é contido na camada de músculos e aponeuroses da parede abdominal INCIDÊNCIA − É um problema muito comum. 5% da pop. pode desenvolver hérnias abdominais. 75% de todas as hérnias ocorre na região inguinal, sendo 2/3 delas indireta e o restante são diretas. Hérnias femorais correspondem a 3% das inguinais. − Homens tem 25x mais chances de ter hérnia inguinal. A indireta é a mais comum independente do sexo. Mulheres tem mais hérnias femorais e umbilicais que homens. As hérnias femorais são raras em homens. Dez por cento das mulheres e 50% dos homens com uma hérnia femoral têm ou desenvolverão uma hérnia inguinal − A prevalência das hérnias, estrangulamento e hospitalização aumenta com a idade. 1-3% das hérnias inguinais sofrem estrangulamento. Hérnias femorais tem maior taxa de estrangulamento (15-20%) e por isso se recomenda repará-las no momento da descoberta − A maioria das hérnias comprimidas são hérnias inguinais indiretas DIAGNÓSTICO − O principal achado diagnóstico das hérnias inguinais é uma saliência na região inguinal. Pode haver dor e desconforto, mas geralmente hérnias de virilha não são muito dolorosas, a menos que tenham sido estranguladas ou encarceradas. Pode haver parestesia relacionadas a compressão ou irritação dos nervos inguinais pela hérnia. Pode haver abaulamento na região. O exame físico isolado diferencia a hérnia inguinal de outros tipos de massas DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Hérnia inguinal Hidrocele Varicocele Testículo ectópico Epididimite Torção testicular sebáceo Hidradenite das gandulas apócrinas inguinais Lipoma Aneurisma ou psudoaneurisma da art. femoral Lindafenopatia inguinal femoral Cisto Hérnia Hematoma Linfoma Neoplasia metastática EXAME FÍSICO − O paciente é examinado em pé e decúbito. O exame físico geralmente é o único recurso para o diagnóstico, sendo incomum usar outros tipos de exames, sendo eles usados apenas para casos mais raros ou para diagnóstico diferencial. − Inspeciona-se visualmente, faz palpação, simetria, abaulamentos, manobra de valsalva/tosse. − Para tentar saber se a hérnia é direta ou indireta, o examinador faz a MANOBRA DE LANDIVAR, em que o indicador é introduzido na porção mais inferior da bolsa escrotal para que o anel inguinal externo seja palpado. Pode-se invaginar o saco herniário para o interior do canal inguinal, até encontrarmos o orifício inguinal externo. Depois se realiza a manobra de valsalva. Com a outra mão, se palpa a região inguinal e: • Se encontrar uma protuberância movendo-se de lateral para medial, sugere-se hérnia indireta. • Se a protuberância progredir de profunda para superficial através do assoalho inguinal, sugere-se hérnia direta. • Protuberâncias identificadas abaixo do lig inguinal é compatível com hérnia femoral − O paciente move andar e se movimentar para tentar fazer a hérnia se tornar mais visível. Ultrassom também pode ajudar. − Durante o exame é importante buscar fatores desencadeantes, ou seja, fatores que levem ao aumento da pressão intra-abdominal e o desenvolvimento de hérnias. Os mais comuns são hipertrofia prostática, ascite, tosse crônica, constipação crônica, tumorações abdominais volumosas. Esses fatores podem ser eliminados ou minimizados no pré- operatório CLASSIFICAÇÃO − Tem vários tipos de classificação, um dos mais usados é o de Nyhus eenvolve hérnias inguinais e femorais TRATAMENTO − Geralmente é cirúrgico, mas se o paciente for assintomático, há possibilidade de esperar e não fazer a cirurgia imediatamente, fazendo junto o acompanhamento da hérnia para evitar complicações. Isso é bom, principalmente, para idosos. − Pacientes com encarceramento agudo, geralmente, tem dor aguda e intensa e abaulamento irredutível − Caso a hérnia inclua dobras intestinais, pode haver obstrução intestinal. Se não houver estrangulamento ou obstrução, pode-se tentar a redução manual incruenta do saco herniário (MANOBRA DE TAXE). Se houver dificuldade, pode-se usar analgesias venosa e posição de Trendelenburg para facilitar a redução. Se a hérnia for irredutível, deve-se fazer TTO cirúrgico com urgência, já que o risco de evolução para estrangulamento é alto − HÉRNIA ESTRANGULADA: é emergência cirúrgica pois pode ocasionar isquemia de vísceras abdominais e peritonite. A abordagem deve ser através da região inguinal, para realizar a enterectomia e reparar a hérnia inguinal • A abordagem pré-peritoneal também pode ser usada − LAPAROTOMIA EXPORATÓRIA pode ser usada no caso de redução acidental ou indevida do saco herniario estrangulado, como pode ocorrer durante indução anestésica (que relaxa os planos musculo-aponeuróticos da parede abdominal). Nesse caso a cirurgia é indicada, pois retorna à cavidade peritoneal vísceras com possível isquemia − Hérnias redutíveis: a maioria são operadas eletivamente. Há muitas técnicas − Nas CRIANÇAS: as hérnias são mais de 95% indiretas, não havendo defeito na parede posterior. Há alto índice de acometimento bilateral, alto risco de estrangulamento, principalmente durante o primeiro ano de vida. Todas as crianças devem fazer a cirurgia na época do diagnostico, principalmente os menores de 1 ano. • Geralmente apenas se faz a ligadura alta, já que o defeito é a patência do conduto peritoniovaginal. • Quando o anel inguinal interno é largo, usa-se a TÉCNICA DE MARCY, que é um simples estreitamento do anel. • Nas crianças, as hérnias indiretas ocorrer decorrentes do processos vaginalis MANOBRA DE LANDIVAR − Os cirurgiões recomendam a exploração contralateral em todas as crianças do sexo masculino com menos de 1 ano de idade e em todas as meninas independente da idade. Mas ainda há controvérsias. Por isso, alguns dizem que a exploração contralateral só deve ser feita em casos de: hérnias encarceradas, hérnias em prematuros, hérnias em crianças com derivação ventriculoperitoneal e hérnias na presença de doença pulmonar crônica. REPAROS ANTEIRORES − Em adultos, os reparos são realizados através da incisão transversa ou obliqua na região inguinal, em que são abertos os planos subcutâneos e do obliquo externo. O cordão espermático é isolado da parede posterior e separado do saco herniário • Nesse momento, caso o saco herniário seja medial aos vasos epigástricos inferiores, a hérnia é direta. Caso seja lateral, é indireta − Depois faz-se a redução do saco herniário direto ou abertura do saco com redução do seu conteúdo, ligadura alta (próximo do anel interno) e ressecção da hérnia. − A forma como vai haver o reforço da parede posterior é o que difere cada técnica. • TÉCNICA DE BASSINI: o reforço é realizado através da sutura do tendão conjunto e o arco músculo aponeurótico do transverso no ligamento inguinal. Apresenta o maior índice de recidiva. É realizada por sutura dos arcos musculoaponeuróticos do transverso abdominal e oblíquo interno ou tendão conjunto (quando presente) ao ligamento inguinal. Essa técnica, outrora popular, é a abordagem básica para reparos de hérnia não anatômica e foi o tipo mais popular de reparo antes do advento das abordagens cirúrgicas livres de tensão. • TÉCNICA DE SHOULDICE: tem o menor índice de recidivas, porém é uma das mais complexas. Utiliza da imbricação de quatro planos de estruturas músculo-aponeuróticas no reforço da parede posterior. Shouldice é uma das técnicas com menor índice de recidiva, porém uma das mais complexas de se realizar, é feita através de um reparo imbricado na multicamada da parede posterior do canal inguinal com uma técnica de sutura corrida contínua, após completar a dissecção, a parede posterior do canal inguinal é reconstruída por linhas de sutura contínua superpostas que vão das camadas mais profundas para as mais superficiais. o A linha de sutura inicial vai do arco aponeurótico do transverso do abdome ao trato iliopúbico, em seguida, os músculos oblíquo interno e transverso do abdome e aponeuroses são suturados ao ligamento inguinal. • O REPARO DE COOPER OU TÉCNICA DE MCVAY, tem sido tradicionalmente popular para a correção de hérnias inguinais diretas, hérnias indiretas grandes, hérnias recidivantes e hérnias femorais; são usadas suturas interrompidas com fios inabsorvíveis para aproximar a margem da aponeurose do transverso do abdome ao ligamento de Cooper. o Quando a face medial do canal femoral é atingida, coloca-se uma sutura de transição para incorporar o ligamento de Cooper e o trato iliopúbico, lateral a esse ponto de transição, a aponeurose do transverso do abdome é presa ao trato iliopúbico. o O reparo de McVay é particularmente utilizado para hérnias femorais estranguladas porque ele proporciona obliteração do espaço femoral sem o uso de malha. • TÉCNICA DE ZIMMERMAN: fazemos a sutura da fascia transversalis ao trato ileopectíneo, iniciando-se no nível do púbis e terminando na borda do anel inguinal interno, estreitando-o REPARO DE HÉRNIA INGUINAL LIVRE DE TENSÃO ANTERIOR − Hoje em dia usa-se reparos livres de tensão, que soa as telas sintéticas − O padrão é a TÉCNICA DE LICHTENSTEIN*, que a tela feita de polipropileno é suturada ao longo do ligamento inguinal inferiormente, no tendão conjunto e sob o obliquo interno. É feita abertura na tela passa passagem do cordão espermático. Tem menor índices de recidivas. − Os reparos livres de tensão têm uma menor taxa de recorrência do que os reparos teciduais, cerca de 50% das recidivas são encontradas dentro de três anos após o reparo primário, a recorrência continua a ocorrer após esse período de tempo após o tratamento, mas é incomum com reparos livres de tensão. REPARO PRÉ-PERITONEAL − Há reparos feitos a partir do espaço pré-peritoneal, indicado em casos de hérnias bilaterais e recidivas, pois através de uma única incisão pode-se alcançar toda a região inguinal − O reparo clássico desse grupo é a TÉCNICA DE STOPPA, em que através de uma incisão mediana infraumbilical, desloca- se o espaço pré-peritoneal até o tubérculo púbico. São reduzidos os sacos herniário e coloca-se uma tela gigante desde a cicatriz umbilical até o púbis, cobrindo a parte posterior das regiões inguinais e do hipogástrio. − TECNICA DE LICHTENSTEIN são de reparo de “plug and patch” que usa uma tela em forma de guarda chuva e o “SISTEMA PROLENE DE HÉRNIA” que usa 3 telas em forma de sanduiche. REPARO POR VIDEOLAPAROSCOPIA − Pode ser realizada por via extraperitoneal ou via transabdominal pré-peritoneal. O cirurgião vai trabalhar no espaço pré- peritoneal em ambas as técnicas. • Abordagem Extraperitoneal (Totally Extraperitoneal Approach - TEP) total: o espaço pré-peritoneal é alcançado diretamente através de uma incisão infraumbilical e a penetração de um endoscópio com balão. Ao ganhar espaço pré-peritoneal, é insuflado, permitindo um alargamento da região. • Abordagem Transabdominal (Transabdominal Preperitoneal Approach - TAPP), o espaço pré-peritoneal é acessado depois da penetração na cavidade do peritônio. • Ambas as técnicas usam tela. Precisa de anestesia geral e indução de pneumoperitônio. Essa abordagem é recomendada em casos de hérnias recidivadas, principalmente se o reparo anterior tiver sido aberto • O retorno as atividades normais é mais rápido e há menos dor no pós-operatório COMPLICAÇÕES − Não são frequentes e podem ser divididas em: • Complicações deferida operatória (hematoma, seroma, infecção) • Isquemia; ocorre por trombose do plexo venoso pampiniforme, levando a atrofia texticular, dolorosa ou não (orquite isquêmica). Essa condição deixa o testículo edemaciado e congestionado por 2-5 dias após cirurgia, podendo se estender por 6-12 semanas, evoluindo para atrofia do órgão. Isso pode ser evitado por meio de dissecção delicada de sacos herniarios indiretos e limitando essa dissecção ao anel inguinal extern, evitandose desalojar o testículo da bolsa escrotal. • Comprometimento de nervos; decorrente de lesão dos nervos da região inguinal (genitofemoral, ilioinguinal, ilio- hipogastro), sendo mais frequentes em herniografias abertas. Lesão do ramo genital do n. genito-femoral causa hiperestesia genital, com dor na face interna da coxa e bolsa escrotal/grandes lábios. Pode haver lesao do n. cutâneo femoral lateral e genitofemoral em videolaparoscopias o A dor geralmente some sozinha após a cirurgia, mas caso persista, pode indicar a lesão de nervo ou inclusão do nervo na sutura ou grampo. A dor crônica na virilha é a complicação mais comuns nos reparos abertos livres de tensão. • Recidivas, ocorrendo em 1-3% num período de 10 anos. Acontece geralmente nos primeiros 2 anos de cirurgia. As hérnias diretas recidivam mais. Reparos com próteses diminuem a recidiva. o Fatores que propiciam recidivas: hiperplasia prostática benigna com componente obstrutivo, esforço miccional, tosse crônica (asma, DPOC), obesidade. o O tratamento de recidivas inclui uso de tela (prótese), com uma técnica diferente da anterior, como laparoscopia. − É recomendado antibioticoprofilaxia na presença de risco cirúrgico ASA>3, história de infecção anterior, infecção crônica da pele. Infecções à distancia devem ser tratadas antes da cirurgia • Cefazolina: é o antimicrobiano administrado 30-60 min antes da incisão − A mortalidade de todos os tipos de reparo é baixa e há diferenças significativas relatadas entre as várias técnicas. Há uma maior mortalidade associada com o reparo das hérnias estranguladas. Por outro lado, o risco de morte está relacionado às comorbidades individuais e deve ser avaliado em cada paciente. O tipo de anestésico não afeta a taxa de recorrência. • HÉRNIAS FEMORAIS − Correspondem a 3% das hérnias na virilha. Mais encontradas em mulheres obesas acima dos 45 anos e geralmente estão do lado direito, por um efeito tamponante sigmoide do canal femoral esquerdo. Em 20% dos casos são bilaterais. − O saco herniário passa através do canal femoral (inelástico, localizado inferiormente ao lig inguinal). Essa rigidez do canal femoral é responsável pelo maior risco de encarceramento e estrangulamento − Os sintomas dessas hérnias são parecidos com os das hérnias inguinais. No exame físico, há abaulamento na região inguinal inferior ao lig inguinal − TÉCNICA DE McVay: é a técnica usada no TTO cirúrgico, em que é feito uma sutura no tendão conjunto no ligamento pectíneo, desde o tubérculo púbico até vasos femorais. Depois é feito sutura no lig inguinal até anel inguinal interno. Pode-se usar tela de Márlex com uma técnica modificada, sendo ela suturada nas estruturas descritas acima. Essa técnica reforça o anel femoral e a parede posterior e o anel interno, servindo para o reparo de hérnias inguinais diretas e indiretas • HÉRNIAS UMBILICAIS − É a persistência do anel umbilical sem fechamento de sua camada aponeurótica após o nascimento. Caracterizado por uma protusão anormal do peritônio contendo tecido gorduroso pré-peritoneal e omento. Raramente há alças intestinais. − Na infância é um defeito congênito verdadeiro, mais comum em negros, pois existe uma tendência ao fechamento espontâneo por volta dos 4-6 anos de idade em cerca de 80% dos pacientes. Se o anel herniário não se fechar, espera-se por volta dos 5 anos para fazer a cirurgia. Se o defeito for muito grande, pode se fazer antes. − No adulto, o aumento da pressão intrabdominal pode causar aparecimento da hérnia umbilical. Pode também ser uma hérnia congênita não diagnosticada − Pacientes com cirrose ou ascite podem ter estrangulamento ou ruptura do anel herniário, gerando peritonite secundaria e óbito. Nesses pacientes, geralmente o saco herniário contem vísceras abdominais − Caso haja vazamento de fluidos pela cicatriz umbilical, indica-se rompimento e o reparo deve ser feito imediatamente − Deve-se fazer intervenção cirúrgica se haver sintomas, grande anel herniário ou evolução para complicações − A técnica mais usada é a redução da hérnia com fechamento simples do anel herniário em sentido transverso. Nos casos de hérnias volumosas (>3cm) ou recidivas, usa-se tela de Márlex como reforço da aponeurose umbilical • HÉRNIAS EPIGÁSTRICAS − São definidas como a protusão de gordura pré-peritoneal ou do próprio peritônio através de defeito na linha alba, no espaço compreendido entre o apêndice xifoide e a cicatriz umbilical − Sintomas são ausentes na maioria. Pode haver dor surda, mal definida, em epigastro ou mesogástrio − O TTO é o fechamento simples do defeito na linha alba. Em até 20% dos casos pode haver outros defeitos aponeuróticos. • HÉRNIAS INCISIONAIS − São ocasionadas por deiscência da aponeurose. Os fatores de risco incluem infecção de sitio cirúrgico e obesidade. Outras condições que favorecem o aparecimento da hérnia são idade avançada, ascite, gravidez, DM, quimioteparia, uso de glicocorticoides, ... − TTO cirúrgico é trabalhoso e apresenta muitas recidivas. Defeitos muito grandes precisam de usar tela. A abordagem pode ser anterior ou por videolaparoscopia • HÉRNIAS INCOMUNS − HÉRNIA DE SPIEGEL: localizada entre a borda lateral do m. reto e a linha semilunar (De Spiegel), abaixo da linha arqueada de Douglas (linha arqueada); apresenta localização infraumbilical. Se caracteriza pela clinica mal definida e dificuldades diagnosticas, de difícil palpação do saco herniário e do defeito aponeurótico. Exames complementares são usados para identificação. • O TTO envolve aproximação dos tecidos adjacentes ao defeito, com sutura simples. Se o defeito for muito grande ou o tecido estiver debilitado, indica-se usar tela − HÉRNIAS LOMBARES: surgem através de defeito na fáscia fibromuscular da parede posterior do abdome. O saco herniário pode conter gordura pré-peritoneal ou vísceras e se insinua através de ampla aponeurose do m. transverso em duas aberturas: uma abaixo da 12° costela e outra acima da crista ilíaca. • As aberturas que descrevemos consistem em verdadeiros trigonos da região lombar. O trigono lombar superior (de grynfelt) é limitado pela borda superior da 12° costela, superiormente pelo m. denteado menor inferiormente, e pelo m. obliquo interno lateralmente. • O trigono lombar inferior (de Petit) é compreendido entre a borda da crista ilíaca, inferiormente, o musculo obliquo externo, lateralmente, e o musculo grande dorsal, medialmente • As hérnias lombares são raras e a de Grynfelt é a mais encontrada. Podem ser congênitas, mas é pouco frequente. Geralmente são bilaterais e mais comuns nas meninas, ou podem ser adquiridas e sem preferencia de sexo, sendo bilaterais a maioria • O reparo em defeitos pequenos é feito através da sutura simples do defeito aponeurotico com fios inabsorvíveis. Quando as hérnias são volumosas, utilizados reparos mais complexos, com emprego de retalhos musculares ou uso de tela de márlex − HÉRNIA OBTURADORA: é mais comum em mulheres e pessoas debilitadas. Ocorre devido a fraqueza da membrana obturadora, fenômeno que permite a passagem do saco herniário contendo estruturas abdominais pelo trajeto deixe vasculonervoso obturatório. Com isso pode ocorrer compressão do conteúdo do canal obturador, principalmente do nervo obturador. Essa compressão pode levar a dor no trajeto do nervo, representada por algia na face interna da coxa. É o sinal de Howship-Romberg • TIPOS ESPECIAIS DE HÉRNIA − HÉRNIA DE RICHTER: ocorre quando há pinçamento lateralapenas da borda antimesentérica da víscera abdominal, permitindo o estrangulamento desse segmento de alça, sem sinais de obstrução intestinal. Com isso pode ocorrer atraso no diagnostico do encarceramento. Sua ocorrência é mais frequente nos sítios das hérnias femorais. − HÉRNIA DE LITTRÉ: é caracterizada pela presenta do divertículo de Meckel no saco herniário. Esse tipo de hérnia pode evoluir com estrangulamento e necrose sem sinais de obstrução intestinal, o que torna difícil o diagnostico pré- operatório. Na maioria dos casos, o divertículo é surpreendido durante a dissecção do saco herniário • O divertículo de Meckel é a anomalia congênita mais comum no intestino e se localiza na borda antimesentérica do íleo a cerca de 60cm da válvula ileocecal − HÉRNIAS POR DESLIZAMENTO: são aquelas que um órgão compõe parte da parede do saco herniário. As vísceras mais comumente encontradas são o cólon e a bexiga. Embora possam ocorrer hérnias femorais, a maior parte das hérnias por deslizamento é variante da hérnia inguinal indireta. − A hérnia que possui componente indireto e direto é chamada de HÉRNIA EM PANTALONA Existem vários produtos de tela sintética, as características desejáveis de uma tela sintética incluem ser quimicamente inerte, resistente a estresse mecânico e que tenha boa complacência; que seja esterelizável, não carcinogênica, possuir baixa reação inflamatória, e seja hipoalergênica. A tela ideal ainda não está definida. Ao selecionar a tela apropriada, o cirurgião deve considerar a posição da tela, se ela estará em contato direto com as vísceras e a presença e/ou risco de infecção. A composição ou estrutura da tela pode ser classificada com base no peso do material, tamanho do poro, sua relação com a água (hidrofóbica ou hidrofílica), e se há uma barreira antiaderente presente etc. Quando da colocação de uma tela extraperitoneal sem o risco de erosão do intestino, uma tela macroporosa é apropriada. As telas de polipropileno e poliéster têm sido usadas com sucesso quando posicionadas extraperitonealmente. A tela de polipropileno é uma malha hidrofóbica macroporosa que possibilita o crescimento de fibroblastos por entre suas malhas tornando possível sua incorporação na fáscia circundante. Ela é semirrígida, um pouco flexível e porosa. A colocação de tela de polipropileno em uma posição intraperitoneal em contato direto com o intestino deve ser evitada uma vez que apresenta taxas inaceitáveis de formação de fístula enterocutânea. Recentemente, telas de polipropileno inertes foram introduzidas para solucionar complicações a longo prazo das antigas telas de polipropileno, a definição de tela inerte foi escolhida arbitrariamente para telas com menos de 50 g/m2, muitas delas têm um componente de material absorvível que proporciona estabilidade no manuseio inicial e normalmente são compostas por Vicryl ou Monocryl. Contudo, ainda é controverso se a utilização das telas inertes proporciona melhores resultados, em estudos foram verificados resultados mistos. A tela de poliéster é composta de tereftalato e é uma malha hidrofílica macroporosa. Essa tela tem várias texturas diferentes que podem produzir uma malha parecida com uma tela plana bidimensional e uma trama com tessitura multifilamentar tridimensional. A malha de poliéster desprotegida não deve ser colocada diretamente sobre as vísceras porque foram relatadas taxas inaceitáveis de obstrução intestinal e erosão. Algumas alternativas devem ser observadas quando da colocação de uma tela intraperitoneal. Pode-se optar pela utilização de uma tela que possui propriedades em ambas as faces que seja capaz de reduzir aderência e/ou uma tela tipo composto com um lado feito para promover a invaginação do tecido e o outro para resistir a formação de aderências. A tela com ambas as faces redutoras de aderência é composta de PTFE expandido (politetrafluoretileno). Essa prótese tem um lado visceral que é microporoso (3 μm) e outro voltado para parede abdominal que é macroporoso (17 a 22 μm) que estimula o crescimento tecidual na intimidade dos poros da tela. Esse produto difere de outras telas sintéticas porque é flexível e liso. A proliferação de fibroblastos ocorre através dos poros do PTFE, mas este é impermeável a fluido. Ao contrário do polipropileno, o PTFE não é incorporado ao tecido subjacente. Para promover a melhor integração tecidual, uma tela composta foi desenvolvida. Este produto combina característica de polipropileno e PTFE pela aposição de camadas das duas substâncias uma sobre a outra. A superfície do PTFE funciona como uma interface protetora do intestino, e o lado do polipropileno para ser incorporado no tecido subjacente. Esses materiais têm taxas variáveis de contração e, quando colocados em conjunto, podem resultar em deformação da tela e propiciar uma exposição visceral ao componente polipropileno. Recentemente, outras telas compostas foram desenvolvidas as quais combinam uma tela macroporosa com uma outra dotada de propriedades absorvíveis antiadesivas temporárias. Telas básicas construídas destes materiais incluem poliéster ou polipropileno leve ou pesado. Materiais Biológicos de Prótese O desenvolvimento mais recente nas próteses para reparo de hérnia ventral é a tela de tecido não sintético ou natural, existem numerosos enxertos biológicos para reconstrução da parede abdominal. Esses produtos podem ser classificados de acordo com a origem do material (p. ex., humanos, suínos, bovinos), segundo técnicas de processamento pós-coleta (p. ex., reticulado, ligado ao non-cross) e técnicas de esterilização (p. ex., radiação gama, esterilização pelo gás óxido de etileno). Estes são produtos compostos de colágeno acelular e teoricamente fornecem uma matriz para a neovascularização e deposição de colágeno essencial. Essas propriedades fornecem benefícios distintos em casos infectados e/ou contaminados, na qual a tela sintética está contraindicada. Técnicas ideais de colocação precisam ser definidas para estes produtos relativamente novos; no entanto, alguns princípios gerais podem ser aplicados. Estes produtos funcionam melhor quando usados como um reforço da fáscia, ao invés de como uma ponte ou interposição do reparo. Infelizmente, a durabilidade a longo prazo de telas biológicas ainda é desconhecida.
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