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Capítulo XV Gestão de Serviços de Nutrição Hospitalar Renata Furlan Viebig 1. O SERVIÇO DE NUTRIÇÃO HOSPITALAR (SNH): origem e atualidades A ideia de que a nutrição tem papel fundamental na prevenção e cura de enfermidades remete à antiguidade, sendo a famosa frase de Hipócrates (460-377 a.C) - “Que teu alimento seja teu remédio e teu remédio seja teu alimento.” - o relato mais conhecido sobre a importância do alimento para a saúde. Entretanto, acredita-se que a origem da assistência dietética a doentes teve início na Rússia, durante o Conflito de Criméia, em meados do século XIX, quando a enfermeira Florence Nightingale, que cuidava de soldados feridos, chamou a atenção sobre a importância de uma alimentação adequada na recuperação dos pacientes. Desde então, a Ciência da Dietética começou a ser explorada, inicialmente nos cursos de Enfermagem e posteriormente nos cursos específicos de Nutrição. Surgiram, então, no início do século XX, os primeiros serviços estruturados de Nutrição e Dietética voltados à produção de refeições aos pacientes internados em hospitais. As instituições hospitalares têm por objetivo a recuperação da saúde do paciente e são considerados estruturas complexas e dispendiosas, que provêm leitos, alimentação e cuidados de enfermagem constantes, circunscritos numa terapia médica. Dessa forma, inserido no hospital deve estar um setor que produza e distribua refeições adequadas aos doentes, visando seu mais pronto restabelecimento. No Brasil, relatos apontam que o primeiro Serviço de Nutrição e Dietética foi concebido juntamente com o surgimento do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em 1944. A partir desta fase, a evolução da Ciência da Nutrição e do conhecimento sobre a gestão dos serviços de nutrição dentro de unidades hospitalares foi notável. Atualmente, diferentes denominações podem ser utilizadas para designar este serviço, como Departamento, Setor, Divisão, Seção, Serviço, dentre outras, as quais se referem ao porte, à estrutura e tipo de atuação dentro do hospital. As nomenclaturas mais utilizadas para a Unidade de Alimentação e Nutrição Hospitalar são: Serviço de Nutrição e Dietética (SND) e, mais recentemente, Serviço de Nutrição Hospitalar (SNH). As SNDs ou SNHs dos dias atuais funcionam de maneira organizada, integrando o cuidado técnico ao paciente em nível ambulatorial ou em unidades de internação à administração de recursos humanos e materiais. Nestes serviços, além de nutricionistas especialistas em nutrição clínica, que deverão prestar assistência adequada ao paciente conforme sua enfermidade e estado nutricional, estão envolvidos nutricionistas com visão gestora, os quais atuam com suas equipes de funcionários em atividades como: previsão, aquisição, armazenamento e controle de gêneros; logística e controle de custos, levantamentos, inventários e relatórios; gestão de pessoas, racionalização do trabalho e controle de produtividade; controle higiênico-sanitário de todas as etapas da produção e distribuição de refeições a pacientes e colaboradores dos hospitais; segurança no trabalho e a garantia do cumprimento da legislação vigente. A gestão de um SNH é um processo complexo, que exige conhecimento técnico em Nutrição, mas também, a atualização em conceitos de administração e controle de qualidade. A eficiência em proporcionar dietas que visem o melhora do quadro clínico dos pacientes internados em um hospital, ou seja, em proporcionar o acesso à Terapia Nutricional a estes indivíduos, depende de um extenso planejamento, supervisão constante e controle de todas as etapas envolvidas na preparação e distribuição das refeições, exigindo que os profissionais, tanto da área clínica como da área de gestão, atuem de forma séria, consistente e alinhada para o alcance dos objetivos propostos por meio de procedimentos bem definidos, além da adoção de manuais técnicos e a realização de reuniões constantes de planejamento e avaliação do atendimento prestado. Nonino-Borges e colaboradores destacaram a complexidade do trabalho do SNH da instituição hospitalar, ao compatibilizar a oferta de refeições com as necessidades nutricionais e terapêuticas dos pacientes, além das responsabilidades econômico- administrativas e a programação e execução das refeições. Assim, a gestão das atividades relacionadas à produção das refeições de uma UAN hospitalar é essencial para a garantia de qualidade do atendimento ao paciente e/ou cliente. Entretanto, é importante que estas atividades deixem de ser consideradas como burocráticas e que, mesmo que tenham características extremamente diferentes das atividades desenvolvidas na área clínica, não distanciem o nutricionista gestor do principal objetivo de uma unidade de alimentação e nutrição hospitalar: a recuperação do estado nutricional e da condição de saúde dos pacientes. 2. PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO O primeiro passo fundamental para a implantação de um SNH é o conhecimento do modelo de gestão adotado pelo hospital, para que o planejamento estratégico possa estar alinhado com as premissas e ações adotadas pelos demais setores do hospital. É neste momento que são definidos os recursos disponíveis para a estruturação e funcionamento do serviço. A implantação de uma UAN hospitalar demanda cuidadoso planejamento da estrutura física e de todos os procedimentos necessários para seu funcionamento. É no planejamento que devem ser definidos a missão, os valores e os objetivos pretendidos pelo serviço, os quais deverão nortear sua estruturação e as decisões que serão tomadas a curto, médio e longo prazo. O planejamento de um SNH se inicia com o estabelecimento de um plano diretor, de anteprojetos, da definição da planta física, da elaboração do memorial descritivo e da construção da unidade. Em seguida, devem ser definidas as atividades que serão desenvolvidas e devem ser previstos os recursos físicos, materiais e humanos necessários para o alcance dos objetivos propostos. A composição da equipe de colaboradores do SNH deve ser definida e a hierarquia deve ser estabelecida. Todas as decisões que envolvem o planejamento estratégico do SNH devem ser apresentadas e discutidas constantemente com as instâncias gestoras superiores do hospital, garantindo maiores probabilidades de sucesso na implantação do serviço. Áreas e subáreas de um SNH As diretrizes gerais para a estruturação física devem seguir os mesmos padrões conceituais necessários para o planejamento de Unidades de Alimentação e Nutrição voltadas ao público sadio, conforme abordado no capítulo V deste livro. Da mesma forma ocorre com a previsão de equipamentos e utensílios. Entretanto, áreas específicas que objetivam o preparo e distribuição de refeições a pacientes devem ser contempladas em um SNH. Embora as áreas e subáreas possam ser diferentes entre si, as áreas básicas e subáreas que serão abordadas a seguir, devem existir em praticamente todos os serviços para garantir o melhor atendimento ao público-alvo. A regulamentação para projetos e construção de SNHs deve estar baseada na resolução da ANVISA/MS, RDC 50, de 21/02/2002, a qual dispõe sobre o “Regulamento Técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde”, e que foi atualizada pela RDC 307 de 14/11/2002. Cozinha Geral e Dietética Esta área se destina a todos os procedimentos que envolvem o preparo de refeições aos pacientes e aos colaboradores do hospital, sendo que na maior parte dos hospitais estas refeições são produzidas em um mesmo espaço físico. Em alguns hospitais, o espaço da cozinha se divide em Cozinha Geral, onde são preparadas as dietas para os colaboradores e pacientes sem enfermidades que demandem modificações na dieta e/ou que não apresentem riscos ao estado nutricional eCozinha Dietética, que produz dietas modificadas quanto à composição nutricional, de acordo com o perfil dos pacientes internados no hospital. Fazem parte desta área as subáreas destinadas ao recebimento e armazenamento de gêneros (perecíveis e não perecíveis) e materiais (louças, utensílios, descartáveis, material de limpeza), pré-preparo e preparo de alimentos, porcionamento de refeições, distribuição de dietas, higienização e guarda de utensílios e louças. Lactário O lactário é a área destinada à produção, envase, distribuição e higienização de fórmulas lácteas e complementares a lactentes. Portanto, só existirá em hospitais que contemplem os setores de obstetrícia e/ou pediatria. No lactário são produzidos mamadeiras, chás, sucos e, em alguns serviços, sopas destinadas às crianças internadas e aos filhos de funcionários (caso o hospital tenha uma creche). Nutrição Enteral (NE) Esta área deverá existir em hospitais que utilizam nutrição enteral em sistema aberto e deve contar com as subáreas de: recebimento de prescrição e dispensação de NE, preparo de dietas artesanais (a partir de alimentos in natura), limpeza e sanitização de embalagens e outros insumos, manipulação e envase. Especificamente para as áreas de produção, envase ou manipulação de dietas enterais, deve-se observar as prerrogativas da resolução da ANVISA/MS, RDC 663, de 06/07/2000. Quando houver lactário no hospital, este pode ser compartilhado com a área de NE, em condições específicas. Refeitórios São áreas destinadas para a distribuição de refeições para colaboradores do hospital, visitantes, acompanhantes e, eventualmente, pacientes. Atualmente, muitos SNHs administram, além de refeitórios, lanchonetes e restaurantes situados dentro do ambiente hospitalar. Copas de Apoio As copas são unidades situadas nas unidades de internação do hospital, representando uma extensão do SNH e podem ser utilizadas de maneiras diferentes, conforme o sistema de distribuição de refeições adotado pelo serviço. Em geral, a estrutura física de uma copa deve seguir as mesmas normas higiênico- sanitárias da UAN hospitalar e o controle periódico da adequação de equipamentos e de materiais de revestimento de piso, paredes e teto, além da avaliação da limpeza do ambiente e das instalações deve ser realizado pela equipe de nutricionistas. Geralmente, é estabelecido um programa de higienização do ambiente e de controle de materiais a ser seguido pelos colaboradores de limpeza e copeiros, e os nutricionistas aplicam um check- list para verificação do cumprimento das atividades com frequência semanal. É comum que esta atribuição de supervisão e controle das copas seja de responsabilidade dos nutricionistas clínicos, devido a proximidade física, uma vez que estes adentram as copas várias vezes em seu período de trabalho. Normalmente, as copas são compostas por uma pequena bancada com cuba para higienização de louças e alimentos, forno de microondas, geladeira ou frigobar, armários para louças e utensílios, além de uma pequena despensa para não perecíveis (biscoitos, geleias, sucos industrializados em embalagem individual). A existência ou não de materiais e equipamentos nas copas de apoio dependerá diretamente do sistema de distribuição de refeições adotado pelo SNH, bem como dos objetivos e padrão de atendimento ao paciente estabelecidos em plano diretor, juntamente com o setor administrativo do hospital. Dimensionamento de pessoal O dimensionamento de recursos humanos é um dos principais pontos a serem observados em um SNH e depende de vários fatores. Além do tipo de hospital (público, privado ou misto) e do número de leitos e de especialidades, aspectos a serem levados em consideração para estimar o número de colaboradores do SNH são: sua estrutura física, tipo de construção e disponibilidade de equipamentos. Em uma UAN hospitalar os colaboradores devem estar presentes em número suficiente para produzir e distribuir adequadamente as dietas aos pacientes e demais comensais, como acompanhantes e funcionários do hospital. Dessa forma, o tipo de cardápio que se pretende servir e o padrão do serviço que se quer atingir são determinantes para a contratação de pessoal. Dessa maneira, quanto mais a dieta, o cardápio e o serviço de gastronomia hospital forem considerados diferenciais do hospital perante os pacientes, maior o número de colaboradores a serem contratados. A jornada de trabalho também influencia a estimativa de colaboradores necessários para o funcionamento do SNH. A maioria dos serviços têm funcionado com um percentual de colaboradores diaristas e outro percentual trabalhando 12 por 36 horas de descanso. A jornada 12X36 não é prevista por lei, mas pode ser aplicada nos hospitais em função de Acordos ou Convenções Coletivas. Essa jornada é interessante para os trabalhadores, que muitas vezes podem trabalhar simultaneamente em dois empregos. Esse tipo de esquema de trabalho apresenta algumas desvantagens como o maior cansaço dos funcionários que acumulam dupla jornada e a possível falta de sequência do serviço - que é transmitido de profissional para profissional por meio de cadernos de plantão, o que, em casos de problemas com o serviço, funcionários e/ou pacientes, dificulta a apuração da ocorrência e a solução do caso. Devido à necessidade de prestação do serviço do SNH para a manutenção e o restabelecimento da saúde dos pacientes, os trabalhadores folguistas devem sempre fazer parte do quadro de funcionários, uma vez que os hospitais nunca deixam de funcionar. Assim, deve-se ter em mente uma escala de folgas para dimensionamento de pessoal, especialmente no caso de copeiros, e em esquema de trabalho de 12 por 36 horas. A seguir são apresentadas algumas equações empregadas para o dimensionamento de pessoal nos SNHs, de acordo com Gandra e colaboradores (1987), mas é importante ressaltar que estes indicadores não devem ser utilizados para estimar o número de colaboradores em jornadas 12X36 horas. a) IPF - indicador de pessoal fixo Sua estimativa indica o número de trabalhadores fixos do SNH e os 15 minutos que constam da equação representam o tempo médio para produzir e distribuir uma refeição. b) IPD - indicador de períodos de descanso Nesta equação os dias de descanso representam a somatória do tempo de férias e dos dias de folgas (1 dia de descanso semanal + dias correspondentes aos feriados do ano). O resutado obtido indica períodos. c) ISD - indicador de substitutos de descanso Esse indicador mostra o número de funcionários substitutos necessários para o funcionamento adequado do SNH. d) IPT- indicador de pessoal total 3. RESPONSABILIDADE TÉCNICA (RT) O SNH deve ser representado por um Nutricionista Responsável Técnico, o qual deve ter sua atuação pautada nas normativas do Conselho Federal de Nutricionistas (Resolução CFN nº 419/2008) e na Lei nº 8.234, de 17 de setembro de 1991, publicada no DOU em 18/09/1991. Este profissional deve ser experiente e demonstrar conhecimentos técnicos sólidos que o permitam realizar a gestão harmoniosa do SNH, visando o adequado gerenciamento dos recursos materiais, financeiros e humanos em prol do atendimento ao doente. Dentre as atividades a serem desenvolvidas e/ou supervisionadas pelo RT estão aquelas que envolvem a contabilidade e o planejamento e controle financeiro do SNH. É necessário que sejam realizados os cálculos e previsões de custo da unidade, bem como, que sejam produzidos habitualmente levantamentos estatísticos que permitam que sejam IPF= número total de refeições servidas X 15 minutos jornada de trabalho diária em minutos IPD = dias do ano - dias de descanso dias de descanso ISD = IPF/IPD IPT= IPF + ISD gerados relatórios, sempre atualizados, a respeito do funcionamento do SNH.O uso destes relatórios e inventários auxilia o RT no controle de materiais e equipamentos, tanto da cozinha geral e dietética, quanto das copas de apoio e demais setores do SNH, e permite um melhor dimensionamento dos investimentos financeiros necessários para o funcionamento ou para melhorar a atividade da unidade. 4. PRODUÇÃO DE REFEIÇÕES Para o restabelecimento de sua saúde, os indivíduos internados recebem no ambiente hospitalar inúmeros cuidados, incluindo adaptações em sua alimentação de acordo com os diferentes níveis de complexidade de intervenção, características individuais e tipo de enfermidade a ser tratada. A assistência ao paciente realizada por nutricionistas da área clínica gera uma demanda a ser atendida que compreende a oferta de dietas que correspondam às necessidades nutricionais específicas de cada indivíduo internado no hospital. Assim, a produção destas dietas representa a espinha dorsal de um SNH, proporcionando ao paciente a melhor alimentação possível, visando seu pronto restabelecimento. A produção de alimentos desse serviço deve ser coordenada e gerenciada por um nutricionista que atenda as atribuições descritas na Resolução CFN nº 380/2005, as quais abordam atividades de planejamento, supervisão e controle de todas as etapas envolvidas neste processo. Elaboração de cardápios para pacientes Em UANs hospitalares é importante que o planejamento de cardápios e dietas a serem produzidas sejam baseados em algumas particularidades do hospital e dos pacientes que serão atendidos. Os pontos principais a serem considerados são: tipo de hospital (público, privado, subsidiado), políticas do hospital (hotelaria, gastronomia, especificidades religiosas), disponibilidade financeira, características do público atendido (crianças, adultos, idosos), especialidades atendidas (clínicas e cirúrgicas), número de leitos e estatísticas de ocupação, média de tempo de permanência dos pacientes, número e horários das refeições oferecidas, política de compras, número de funcionários disponíveis do SNH, área física e equipamentos disponíveis, sistema de distribuições de refeições e disponibilidade local de alimentos. Assim, de acordo com as informações relativas ao público atendido e características do hospital, define-se o padrão de dietas que serão oferecidas e com que frequência os cardápios elaborados poderão ser repetidos, segundo o tempo de permanência e rotatividade de pacientes. Dietas hospitalares A dieta hospitalar deve oferecer o aporte de energia e de nutrientes ao paciente internado, tendo como objetivo preservar ou recuperar seu estado nutricional, pelo seu papel co-terapêutico em doenças crônicas e agudas. Por outro lado, a dieta hospitalar desempenha um papel relevância na experiência da internação, pois, segundo Garcia (2006), por suas características psicossociais e culturais, pode minimizar o sofrimento e o desconforto do paciente neste período no qual o indivíduo é forçosamente é retirado de suas atividades e papéis desempenhados na família, na comunidade e nas relações de trabalho e encontra-se ansioso dado o próprio adoecimento, e pela disciplina e procedimentos hospitalares, muitas vezes pouco compreendidos. Dentro de uma UAN hospitalar é importante que haja uma padronização dos tipos de dietas possíveis de serem oferecidas aos pacientes, com o objetivo de garantir a eficácia no atendimento. Os alimentos e refeições contidos nas dietas hospitalares padronizadas devem estar descritas no Manual de Dietas para nortear a atuação dos nutricionistas, técnicos em Nutrição e copeiros. Em geral, as dietas hospitalares são subdivididas em: • dietas de rotina: nessas dietas não há necessidade de modificações e/ou restrições em sua composição. Entretanto, modificações de consistência podem ser necessárias, as quais derivam da composição da dieta geral, como: dieta branda, dieta pastosa, dieta leve e dieta líquida; • dietas modificadas quanto à composição: estas dietas sofrem acréscimo ou redução de componentes como fibras alimentares e micronutrientes, respondendo às necessidades de cada enfermidade ou à condição de saúde do paciente (ex: hipossódica, laxativa, sem resíduos). Nestas dietas busca-se manter a proporção equilibrada de macronutrientes; • dietas especiais: são necessárias em enfermidades específicas e podem sofrer modificações tanto na composição de micronutrientes quanto de macronutrientes, como por exemplo, dietas hipoproteicas; • dietas para preparo de exames: em alguns hospitais, de acordo com as especialidades atendidas, são necessárias dietas específicas para a realização de exames diagnósticos, as quais são administradas temporariamente, como por exemplo, dieta líquida e sem resíduos para preparo de colonoscopia. As dietas infantis devem seguir as mesmas premissas que as dietas de rotina e modificadas para adultos, adaptadas ao paladar e às necessidades específicas da faixa etária. Sistemas de distribuição de refeições O fluxo que a refeição segue desde a cozinha até o leito do paciente é representado pelo sistema de distribuição adotado. O objetivo é que a refeição chegue ao paciente com a melhor qualidade possível. Dessa forma, a distância a ser percorrida pela refeição até o quarto do paciente deve ser considerada, bem como a necessidade de carros térmicos para transitar por corredores, elevadores e rampas. Três tipos diferentes de distribuição de refeições aos pacientes podem ser utilizados em um SNH, segundo a necessidade: • sistema centralizado: as refeições são preparadas integralmente na cozinha e porcionadas no mesmo local, normalmente com auxílio de uma esteira rolante e seguem em carros térmicos e/ou bandejas térmicas diretamente para o quarto dos pacientes. Neste sistema é possível que seja feita uma melhor supervisão da montagem de pratos, degustação das preparações, controle higiênico-sanitário e controle de sobras; • sistema descentralizado: as refeições são preparadas na cozinha e porcionadas nas copas de apoio situadas nas unidades de internação. Neste tipo de distribuição há uma maior probabilidade de ocorrência de erros e de desperdício uma vez que a supervisão é dificultada. Além disso, há maior risco de contaminação por maior manipulação das preparações e pode haver inadequações na apresentação dos pratos e bandejas aos pacientes; • sistema misto: neste sistema, o mais utilizado nos hospitais atualmente, as refeições são produzidas e porcionadas na cozinha, e alguns itens complementares são adicionados à bandeja do paciente nas copas de apoio das unidades de internação, como saladas, sucos, sobremesas, leite, café, chá, biscoitos e outros. Aceitação das dietas hospitalares Apesar de sua importância para o cuidado integral do paciente e da preocupação com o aspecto nutricional do sujeito hospitalizado, somente recentemente maior atenção tem sido atribuída à alimentação hospitalar e, em especial, à gastronomia hospitalar. Embora muitas pesquisas tenham sido realizadas nos últimos anos a respeito do impacto da hospitalização no estado nutricional do paciente e sobre a necessidade de um suporte nutricional efetivo, não foram produzidos muitos trabalhos que tratassem da questão da composição e apresentação das dietas hospitalares. A preocupação com indicadores do estado nutricional do indivíduo hospitalizado tem sido crescente nas últimas décadas, uma vez que a desnutrição intra-hospitalar continua sendo a causa mais frequente do aumento da morbimortalidade durante o período de internação, atingindo entre 30% e 50% das pessoas hospitalizadas de todas as idades. Garcia argumenta que, entre os fatores causais atribuídos à desnutrição hospitalar, a alimentação é considerada um fator circunstancial em razão das mudanças alimentares, troca de hábitos e de horários alimentares aos quais o paciente é submetido.Um inquérito realizado em 12 estados brasileiros (Ibanutri), com 4000 pacientes internados, mostrou que metade destes encontravam-se em desnutrição hospitalar ou em risco para desnutrição, e, dentre as causas da desnutrição hospitalar, a aceitação adequada da dieta era considerada um fator primordial. Sousa e Proença (2004) apontaram a ausência de preocupação com a culinária/gastronomia por parte dos hospitais, e dos SNHs, apesar de os profissionais de saúde a apreciarem no plano pessoal. Se os profissionais que cuidam dos pacientes gostam de desfrutar de uma boa comida, por que essa situação não se reverte para as instituições em que atuam e por que não se considera sua importância no cuidado ao paciente? Assim, aspectos relacionados às refeições hospitalares como o sabor, a cor, a forma, o aroma e a textura, além da temperatura na qual a refeição chega ao paciente e o horário de distribuição, devem ser minimamente considerados para avaliar a qualidade dos serviços do SNH e os impactos destes na recuperação do paciente. Uma das maneiras diretas de avaliar a aceitação dos pacientes às dietas servidas pelo SNH é a avaliação do Índice de resto, que relaciona o peso da refeição distribuída e o peso da refeição rejeitada, em percentual. Pesquisadores têm apontado que, quando os valores de resto estão acima de 20% em coletividades enfermas, pressupõe-se inadequação no planejamento e na execução dos cardápios. Outros estudos referem que o índice de resto elevado pode ser decorrente de falha no porcionamento, preparações incompatíveis com o padrão/hábito dos pacientes, má apresentação das preparações, preparação de dietas a pacientes em jejum ou que receberam alta, prescrição de dietas gerais a pacientes com problemas de dentição ou com níveis de consciência alterados e baixa assistência aos pacientes que não conseguem se alimentar direito. BRASIL. Lei Nº 8.234, de 17 de setembro de 991 (DOU 18/09/1991) Regulamenta a Profissão de Nutricionista e Determina outras Providências. Disponível em www.cfn.org.br BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC 50, de 21 de fevereiro de 2002. Dispõe sobre o Regulamento Técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde. Disponível em www.anvisa.gov.br BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC 307 de 14 de novembro de 2002. Altera a RDC 50 de 21 de fevereiro de 2002 que Dispõe sobre o Regulamento Técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde. Disponível em www.anvisa.gov.br BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC 63 de 6 de 6 de julho de 2000. Aprova o Regulamento Técnico para fixar requisitos mínimos Índice de Resto (IR) = Peso da Refeição rejeitada (PR) x 100 Peso da Refeição Distribuída (PRD) exigidos para a Terapia de Nutrição Enteral (DOU 07/07/2000). Disponível em www.anvisa.gov.br CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS - RESOLUÇÃO CFN N°419/2008 (DOU 24/03/2008, Seção I) Dispõe sobre critérios para assunção de responsabilidade técnica no exercício das atividades do nutricionista e dá outras providências. Disponível em www.cfn.org.br CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS - RESOLUÇÃO CFN Nº 380/2005 (dou 10/01/2006). Dispõe sobre a definição das áreas de atuação do nutricionista e suas atribuições, estabelece parâmetros numéricos de referência, por área de atuação e dá outras providências. Disponível em www.cfn.org.br GANDRA, Y.R. Avaliação de serviços de nutrição e alimentação. São Paulo: Sarvier; 1983. GARCIA, Rosa Wanda Diez. A dieta hospitalar na perspectiva dos sujeitos envolvidos em sua produção e em seu planejamento. Rev. Nutr., Campinas, v. 19, n. 2, abr. 2006. ISOSAKI, M.; NAKASATO, M. Gestão de Serviço de Nutrição Hospitalar. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. MESOMO, I.F.B. O serviço de nutrição: administração e organização. São Paulo: CEDAS, 1985. MESOMO, I.F.B. Os Serviços de Alimentação: Planejamento e Administração. 5ª ed. São Paulo: Manole, 2006. NONINO-BORGES, C. B. et al. Desperdício de alimentos intra-hospitalar. Rev. Nutr., v.19, n.3, p. 349-356, 2006. SOUSA, A.A. A Interação entre a Terapia Nutricional e a Produção de Refeições: Repensando a Função da Alimentação Hospitalar. Nutrição em Pauta, v. X, n. 53, p. 17- 21, 2002. SOUSA, A.A.; PROENÇA, RPC. Tecnologias de gestão dos cuidados nutricionais: recomendações para qualificação do atendimento nas unidades de alimentação e nutrição hospitalares. Rev Nutr; v. 17, n.4, 2004. Renata Furlan Viebig Nutricionista, Especialista em Nutrição Clínica e Dietoterapia, Mestre em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP), Doutora em Medicina Preventiva pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Docente dos Cursos de Graduação em Nutrição da Universidade Presbiteriana Mackenzie e Centro Universitário São Camilo.
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