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NEUROCIÊNCIA EDUCACIONAL AULA 3 Prof. Gustavo Silva 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, compreenderemos que a linguagem possui diferentes concepções e funções, pois existem várias teorias que a embasam – seja o empirismo ou a aquisição natural. Sabe-se que os tipos de linguagem possuem funções diferenciadas, como comunicação, diversão e afetividade, entre outras. Assim, esta aula tem objetivos que precisam ser cumpridos para que o processo de aprendizagem seja efetivo. São eles: • Compreender os fundamentos e objetivos das funções executivas no processo de aprendizagem humana; • Verificar como se dá o processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem; • Apresentar os fundamentos conceituais da linguagem no processo de ensino e aprendizagem; • Compreender como a neurociência pode contribuir para o desenvolvimento da leitura e escrita; • Compreender como a neurociência pode contribuir para a aquisição da aprendizagem dos números e da matemática. TEMA 1 – FUNDAMENTOS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS As funções executivas são as responsáveis pelo trabalho e pela execução das atividades cotidianas; podemos dizer que são ferramentas específicas de trabalho que controlam nossas emoções. Elas estão divididas em 3 grupos: autocontrole, memória de trabalho e flexibilidade, e a esse respeito, Rotta, Ohlweiler e Riesgo (2016, p. 393) definem as funções executivas da seguinte forma: As funções executivas (FE), de acordo com Fuster, conceitualmente são consideradas como “[...] um conjunto de funções responsáveis por iniciar e desenvolver uma atividade com objetivo final determinado”. Participam da sua consecução um espectro amplo de processos cognitivos, destacando-se o estado de alerta, a atenção sustentada e seletiva, o tempo de reação, a fluência e a flexibilidade do pensamento, condições estas que favorecerão a possibilidade de busca de soluções para novas propostas, atuando no planejamento e regulando o comportamento adaptativo com a finalidade de atingir o objetivo determinado. 3 Vamos conversar primeiramente sobre as memórias de trabalho. Elas são informações recentes que serão utilizadas para uma execução de tarefa. Nesse sentido, Dorneles e Corso (2012) definem memória de trabalho sendo: Embora existam vários modelos de memória de trabalho, o modelo proposto por Baddeley e Hitch (1974) tem sido o mais frequentemente usado para analisar o papel da memória de trabalho em tarefas de matemática. De acordo com tal modelo, trata-se de um sistema de memória de curto prazo – de capacidade limitada – que está envolvido, simultaneamente, com o processamento e o armazenamento temporário de informação. Nessa visão, Carvalho e Abreu (2012, p. 35), dão alguns exemplos da memória de trabalho: • Guardar um número de telefone até anotar para não ser esquecido ou até ser discado; • Lembrar de uma informação momentânea para usá-la em seguida, como “para chegar ao shopping dobre na primeira à direita e logo depois na primeira à esquerda; • Lembrar que colocou sal na comida; • Poder conectar a informação de um parágrafo com o outro; • Fazer uma problema aritmético e lembrar das etapas; • Seguir instruções com várias etapas sem lembretes (pegue o livro de matemática e o lápis, abra na página 18); • Nas brincadeiras lembrar das regras preestabelecidas e de que papel está fazendo na brincadeira. A segunda função executiva é o controle inibitório definida pelos autores como “capacidade de inibir um comportamento preponderante em detrimento de outro. Habilidade para filtrar as ações e pensamentos, controlar os impulsos e resistir às tentações, distrações e hábitos e parar e pensar antes de agir.” Carvalho e Abreu (2012, p.36) ainda complementam com exemplos, a saber: • Controlar as ações, de modo a conseguir ignorar as distrações e tentar focar a atenção no que está sendo solicitado; • Poder resistir à vontade de ficar conversando o tempo todo na aula, Conseguir “frear a língua” dizer algo gentil ao invés de falar uma grosseria; • Aprender a esperar sua vez de falar ou de jogar; • Aprender a controlar e regular as emoções, ao invés de gritar e bater; • Conseguir parar e pensar antes e não agir apenas de forma impulsiva e sem medir as consequências. E a última função executiva é a flexibilidade cognitiva. A respeito delas, os autores afirmam que se configura: 4 A habilidade de mudar e flexibilizar entre alternativas diferentes. Capacidade de o curso das ações e adaptá-las para atender as exigência do ambiente. Capacidade de encontrar erros e corrigi-los, rever como estamos agindo de acordo com as formas as informações novas, considerar algo a partir de uma nova perspectiva e “pensar fora da caixinha”. Exemplos: • Permite que sejam aplicadas regras diferentes em diferentes contextos; • Agirmos de forma flexível as convenções sociais. Não magoar os sentimentos de alguém e não dizer que seu desenho está feio; • As crianças podem ser ensinadas a usarem “vozes exteriores” e “vozes interiores” e as diferentes situações em que se podem utilizar elas; • Ser capaz de ser persistente, mas ao mesmo tempo promover a flexibilidade; • Se pego sempre o mesmo ônibus e hoje ele quebra, tenho que ser capaz de pensar em uma solução alternativa; • Se falta um ingrediente da receita, posso tentar substituir por outro semelhante; • Contribui para a resolução de conflitos; • Resolução de problemas aritméticos e uso de regras gramaticais. As funções executivas e a aprendizagem possuem uma relação intrínseca, pois, por exemplo, precisamos do controle inibitório para conseguir ter atenção e assimilação dos conteúdos, e assim por diante. Além de todo esse exposto teórico, faz-se necessária a constante estimulação das funções cognitivas com o intuito de melhoramento da plasticidade cerebral. TEMA 2 – DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM O entendimento da mente humana passa muito para além das questões fisiológicas e neuro-anatomo-fisiológicas. Partindo desse pressuposto, Cecato (2017) amplia a conceituação de mente para a significação de razão, pensamento, entendimento, inteligência, ampliando ainda para sentimentos, memórias, sendo abordada de diferentes formas por diferentes ciências. Cada ciência analisa o conceito e funcionamento da mente por um viés. Assim, a filosofia trabalha com uma perspectiva da razão, a psicologia com um viés humanístico e da alma, e a linguística e a psicolinguística com as formas sobre o modo como são adquiridos os conhecimentos da linguagem. Cecato (2017) afirma que os processos de aquisição da linguagem, sempre requerem uma explicação, tendo em vista que a aquisição e o uso não podem ser explicados exclusivamente por evidenciações fisiológicas. Nesse contexto surge a psicolinguística como apoio à explicação dos processos de aquisição da linguagem por parte dos processos mentais e comportamentais. 5 Godoy e Senna (2012) afirmam que a Psicolinguística é uma ciência que estuda os processos de como os seres humanos fazem para compreender, produzir, adquirir e perder a linguagem. Endossam que a psicolinguística não é meramente a fusão da psicologia com a linguística; essa ciência ultrapassa os limites de duas ciências-mãe, buscando novas significações e significantes. Os autores têm o objetivo de descrever e explicar o funcionamento da linguagem como fenômeno psíquico, levando em consideração a complexa interação de múltiplos fatores internos e externos, incluindo em sua perspectiva de investigação o indivíduo nas interações sociais, ou seja, os processos de aquisição perpassam por um olhar de estimulação, conhecimento e experiência, que é assimilado e acomodados pela mente. Ainda nessa visão das questões de experiência, Cecato (2017) afirma que o conhecimento do cérebro é necessário para o processo de entendimento daaquisição da linguagem. O cérebro possui dois hemisférios e o hemisfério do lado esquerdo é o responsável pelo controle da linguagem. A determinação do hemisfério que controla uma função específica pode ser denominada de lateralidade, questão vai se desenvolvendo de acordo com o passar do tempo e com a maturidade, ou seja, pelas experiências e estimulações. TEMA 3 – LINGUAGEM E APRENDIZAGEM A linguagem está diretamente ligada à aprendizagem. Para que a linguagem aconteça de forma plena, todas as estruturas cerebrais da criança precisam estar de acordo, bem como os estímulos dos pais, as motivações e os incentivos. Porém, nem sempre a linguagem acontece de forma normal nas crianças, o que acarretará problemas de aprendizagem. Para compreender os principais transtornos de linguagem que podem acometer um sujeito/aluno/paciente, alguns pontos devem ser analisados. Antes de qualquer diagnóstico de transtornos de linguagem é necessário procurar um profissional adequado para tal. Contudo, todo esse processo se inicia com anamnese, exames e avaliações. A seguir, vamos conhecer alguns dos transtornos: • Transtorno da fonação: Interferência na movimentação das cordas vocais, prejudicando os sons da fala, podendo ser congênitas; 6 • Transtorno da articulação da palavra: Desse transtorno resulta uma fala explosiva, com interrupções bruscas e sem precisão nos movimentos articulatórios, denominada costumeiramente de fala escandida; • Transtorno do ritmo: Entre os transtornos do ritmo ou da fluência da fala, os que mais se destacam são a gagueira e as alterações de velocidade de fala, como taquilalia e bradilalia; • Dislexia: A dislexia é um transtorno manifestado por dificuldade na aprendizagem da leitura, independentemente de instrução convencional, inteligência adequada e oportunidade sociocultural; • Afasias: Pode-se definir afasias sendo uma condição devido a uma lesão no cérebro, comumente no hemisfério esquerdo, tendo como causas principais acidentes vasculares cerebrais (AVC); é mais comum ocorrerem em pessoas idosas do que em jovens. Outras doenças também podem causas afasias, como os traumatismos cranianos (TCE), doenças degenerativas ou metabólicas. Vamos enfatizar a aquisição da leitura e da escrita e suas manifestações na vida de um sujeito disléxico. De acordo com Rotta, Ohlweiler e Riesgo (2016, p. 134) “dislexia é um transtorno manifestado por dificuldade na aprendizagem da leitura, independentemente de instrução convencional, inteligência adequada e oportunidade sociocultural”. Ainda na visão dos autores, podemos observar no sujeito com dislexia: • Leitura e escrita muitas vezes incompreensíveis; • Confusões de letras com diferente orientação espacial (p/q; b/d); • Confusões de letras com sons semelhantes (b/p; d/t; g/j); • Inversões de sílabas ou palavras (par/pra; lata/alta); • Substituições de palavras com estrutura semelhante (contribuiu/construiu); • Supressão ou adição de letras ou sílabas (caalo/cavalo; berla/bela); • Repetição de sílabas ou palavras (eu jogo jogo bola; bolo de chococolate); • Fragmentação incorreta (querojo garbola/ quero jogar bola); • Dificuldade para entender o texto lido. Os autores afirmam que na educação infantil, com crianças de 0 a 6 anos observa-se lentidão no desenvolvimento da aquisição da fala e, 7 consequentemente, na aprendizagem da escrita, além de dificuldades com processos envolvendo consciência fonológica e dificuldade de conhecer letras e evocação de palavras. A compreensão dos transtornos de desenvolvimento da linguagem, seja ela oral ou escrita, é necessária em neurociência educacional, tendo em vista que esses transtornos são de cunho neurobiológico e afetam um determinado lado dos hemisférios do cérebro que precisa ser estimulado para a melhoria do processo de aprendizagem desse sujeito. TEMA 4 – AQUISIÇÃO DA LEITURA E ESCRITA A LUZ DA NEUROCIÊNCIA A leitura e a escrita possuem diferentes funções – sociais, culturais e afetivas são apenas algumas delas. Contudo, todas elas voltam-se para um objetivo único: a comunicação. De acordo com Garcia (2019, p. 20), a aquisição da linguagem se embasa em duas teorias distintas e que se contrapõem: a primeira se denomina nativismo e “dá grande importância ao poder inventivo da criança (imaginação). Assim, muito do que ela diz será produto de uma atividade criadora, absolutamente espontânea”, enquanto a segunda, conhecida como empirismo, afirma que a linguagem desenvolvida pela criança se dá pela imitação. Contudo, Brenner (1987, p. 57) afirma que: Um exemplo, da importância da identificação pode ser extraído da aquisição de linguagem pelo bebê, o que, naturalmente, ocorre algum tempo mais tarde. A mera observação nos mostrará que a aquisição da linguagem motora pela criança depende, em grande medida, da tendência psicológica para imitar um objeto de seu ambiente, ou, em outras palavras, para identificar-se corneie. É absolutamente certo que a criança não pode aprender a falar até que seu sistema nervoso central tenha amadurecido suficientemente, e que a aquisição de linguagem como um todo está longe de ser um simples processo de imitação, pelo menos no início. Isto é, repete os sons que ouve dos adultos e aprende a dizê-los por imitação ao adulto, amiúde como parte de um jogo. É bem elucidativo, nesse sentido, observar que toda criança fala com o mesmo “acento” dos adultos e das crianças mais velhas de seu ambiente. Quando a audição da criança é normal, a entonação, a altura, a pronúncia e as expressões idiomáticas são exatamente copiadas. Sabe-se que no início do processo, até que o sistema nervoso da criança esteja pronto para o processamento dos sons bem como sua intepretação, sua aquisição é meramente imitativa. Nesse panorama, o autor afirma que as primeiras tentativas de fala da criança proporcionam uma grande descarga de 8 impulsos da mesma maneira que o fazem, de modo geral, outras atividades do ego imaturo. Nesse contexto, Brenner (1987, p. 69) expõe o seguinte: Pode ser difícil, ou até impossível, saber de modo correto e completo quais são exatamente as energias do impulso da criança pequena que se descarregam através da fala, mas podemos, sem dúvida, concordar quanto a várias dentre elas: podemos citar a expressão de uma emoção, a identificação com o adulto, ou com um irmão mais velho, e a obtenção de um jogo com o adulto para ganhar sua atenção. No entanto, concordaremos também em que, com o tempo, o uso da linguagem passa a ser amplamente independente de tal gratificação c fica à disposição para a comunicação do pensamento, mesmo sem tais gratificações diretas como as que a princípio se faziam presentes; o que originariamente era energia do impulso foi neutralizado e passou a ficar a serviço do ego. Ainda na visão do autor, a aquisição da linguagem bem como a fala, só existe em virtude dos impulsos que agem como força motriz de motivação nos estágios iniciais da vida da criança e, sem eles, a aquisição não existiria. Ao falar do processo de aquisição da linguagem, é difícil não se expressar sobre os processos metodológicos dessa aquisição, principalmente, inclinando- se para a questão pedagógica. Del Ré (2009) afirma que por serem interdisciplinares, os conceitos de aquisição da linguagem são difíceis de precisar uma metodologia única para tal, tendo em vista a dificuldade de um consenso de estabelecer uma única metodologia para o processo de pesquisa e ensino na aquisição de língua. Sabemos que a aquisição, a leitura e a escrita passam pelas áreas cerebrais responsáveis por tal. Nesse sentido, temos as fases da aquisição da leitura e da escrita, que passam por pré-silábica, silábica, silábica alfabética e alfabética. Na fase pré-silábica, no entendimento psicológico da criança, escrever ou desenhar possui a mesma significância, ou seja, nessa etapaa criança ainda não consegue fazer a correspondência da escrita com a fala; são elementos desconexos e como a criança ainda não assimilou o processo de alfabetização e não compreendeu o que são números e letras, não faz distinção e ainda faz realismo nominal, isto é, acredita que coisas grandes devem possuir nomes grandes e assim por diante. A segunda fase vai de encontro com a fase silábica. Nela, a criança consegue ter noções que a escrita possui uma correspondência na fala e costuma utilizar uma letra para cada palavra e assim por diante. A terceira etapa, configura-se como silábica alfabética, na qual a criança compreende que a escrita representa o som da fala; às vezes escreve sílabas completas, às vezes 9 não. A quarta etapa, é a fase alfabética, que compreende que a escrita e a fala enquanto instrumentos de linguagem possui um caráter social, o de afeto, comunicação; aqui inicia a preocupação com a ortografia, e faz a separação das palavras quando escreve frases. Nesse sentido, Rotta, Ohlweiler e Riesgo (2016) estabelecem formas de avaliação do processo de aquisição da leitura e da escrita, bem como estratégias de intervenção. O primeiro ponto vai de encontro com a avaliação da escrita e o último com a avaliação da leitura: • Ditado alfabético: Avaliar a frequência e os tipos de erros para correção e orientação; • Expressão de ideias por escrito: Verificar o desenvolvimento de ideias, a coesão e a coerência em textos escritos; • Texto expositivo para avaliação da leitura: Verificar a fluência e a velocidade, o nível de compreensão, o reconhecimento de palavras, a construção e a integração das ideias. Rotta, Ohlweiler e Riesgo (2016) afirmam que o processo de aquisição da linguagem perpassa por dois momentos. O primeiro se configura no processo de sensação, que é a capacidade de sentir o som; e o segundo na percepção, que é o reconhecimento do som sentido anteriormente. Além desses dois, temos o terceiro momento, que é a elaboração, insto é, a capacidade de reflexão do som e, por fim, a programação das respostas. Os autores definem as etapas com a faixa etária para o desenvolvimento da linguagem, conforme podemos observar no quadro a seguir. Quadro1 – Etapas do desenvolvimento da linguagem 0-3 meses Produção de sons (choro/consolo, gritos, barulhos); discriminação de sons familiares. 4-6 meses Discriminação dos sons da fala, compreensão de palavras, balbucio, produção de vogais e depois consoantes, expressões faciais. 7-9 meses Balbucio reduplicado (bababa) de forma interativa e produção gestual comunicativa; aponta para objetos. 10-12 meses Primeiras palavras reais + jargão (balbucio com fala); contato visual, expressões faciais, vocalizações e gestos (se faz entender por meio dessas formas de comunicação antes mesmo de falar). 12-18 meses Produção de 10 a 50 palavras e algumas frases de duas palavras; chama a atenção para receber uma resposta verbal do adulto. 10 2 anos Produz de 150ª 200 palavras e frases de 2 a 3 palavras; nomeia objetos quando inquirida. 3 anos Sentenças gramaticais (artigo, preposição, plurais); formula questões. 4 anos Clara sintaxe; a completa inteligibilidade é esperada aos 4 anos e 6 meses (meninas em média um pouco antes) para fonologia do português e do inglês Fonte: Rotta, Ohlweiler e Riesgo, 2016, p. 119. Partindo desse quadro e dos diálogos com os autores, é necessário compreender que para a criança adquirir a linguagem oral e escrita, ela perpassará por todos os estágios de desenvolvimento da linguagem normal, como exemplo o balbucio, as expressões faciais e até mesmo apontar objetos que lhe interessam. TEMA 5 – AQUISIÇÃO DOS NÚMEROS E MATEMÁTICA À LUZ DA NEUROCIÊNCIA A aquisição dos processos lógicos e matemáticos começa logo com o nascimento da criança. Precisamos compreender que questões como espacialidade e lateralidade, formas e objetos, também são conceitos matemáticos que o sujeito precisa aprender para que o percurso na vida escolar seja satisfatório. Contudo, a matemática, para alguns, não é uma matéria muito agradável, mas que mesmo assim precisa ser desenvolvida. Partindo deste princípio, veja abaixo o quadro que especifica o desenvolvimento da matemática logo na infância. 11 Quadro 2 – Desenvolvimento da trajetória na aquisição da matemática Fonte: Enciclopédia sobre o desenvolvimento na primeira infância. O processo de aquisição da matemática à luz da neurociência, requer compreender qual é a área cerebral responsável que, por sua vez, se denomina área de cálculos matemáticos e área de raciocínio analítico. Temos que compreender que o desenvolvimento do raciocínio lógico ocorre de forma natural, contudo existem casos em que a aprendizagem se torna custosa e incidem a prevalência de dificuldades e os transtornos de aprendizagem. Nesse sentido, Rotta, Ohlweiler e Riesgo (2016, p. 176) afirmam que o cálculo: Idade Progressão desenvolvimental Tarefas pedagógicas 1 ano Précontador Verbal Sem contagem em voz alta Cantarolador Verbal Cantarola os nomes dos números, às vezes de forma ininteligível. Associar o nome dos números com quantidades e como componentes da sequência de contagem. Experiência repetida com a sequência de contagem em diferentes contextos. 2 anos Declamador Verbal Conta em voz alta com palavras separadas, não necessariamente na ordem correta. Fornecer una experiência repetida e frequente com a sequência de contagem em diferentes conteztos. Contar e correr As crianças contam em voz alta junto com o computador (até 50) acrescentando carrinhos em uma pista de corrida, um de cada vez. 3 anos Declamador (10) Verbal Co nta até dez em voz alta, com alguna correspondência com objetos. Fornecer uma experiência repetida e frequente com a sequência de contagem em diferentes contextos. Contar e correr As crianças contam em voz alta junto com o computador (até 50) acrescentando carrinhos em uma pista de corrida, um de cada vez. 4 anos Combinador Mantém uma correspondência um a um entre as palavras de contagem e os objetos (uma palavra para cada objeto), pelo menos para pequenos grupos de objetos enfilerados. Contador de cozinha No computador, as crianças clicam em objetos, um de cada vez, enquanto que os números de um a dez estão sendo contados em voz alta. Por exemplo, elas clicam em pedaços de alimentos e uma bocada de cada é comida quando o pedaço é contado. 5 anos Contador e produtor (10+) Sabe contar e conta em voz alta até 10 objetos sem erro, e vai além (até cerca de 30). Tem uma compreensão explícita da cardinalidade (como os números indicam a quantidade). Mantém o controle dos objetos que foram e não foram contados, mesmo se dispostos de forma diferente. Contar torres (mais de 10) Para permitir que as crianças contem até 20 e mais, pedir para elas construírem torres com objetos como moedas. As crianças devem construir a torre mais alta possível, acrescentando moedas, porém sem endireitar aquelas que já estão na torre. O objetivo consiste em estimar e depois contar quantas moedas têm na torre mais alta. Loja Dino 2 As crianças colocam a quantidade pedida de dinossauros em uma caixa. 12 é uma função cerebral complexa; em uma operação aritmética simples, vários mecanismos cognitivos são envolvidos, como processamento verbal e/ou gráfico da informação, percepção, reconhecimento e produção de números, representação número/símbolo, discriminação visuoespacial, memória de curto e longo prazo, memória de trabalho, raciocínio sintáxico e atenção. Quando essas áreas possuem alterações, ocorrem os transtornos de aprendizagem específicos da matemática. Os autores afirmam que o mau rendimento da matemática pode ter dois fatores, os neurológicos e os não neurológicos. O não aprender a matemática, no queconcerne ao não neurológico, se dá por fatores escolares, sociais e pela ansiedade para matemática. Há ainda os distúrbios primários, que são a acalculia e a discalculia, e os distúrbios secundários, que são a deficiência mental, a epilepsia, o TDAH, a dislexia, o baixo peso etc. Na visão de Rotta, Ohlweiler e Riesgo (2016, p. 181), os mais frequentes transtornos de aprendizagem na matemática são: alexia e agrafia para números, em que ocorre comprometimento para ler e escrever quantidades devido ao comprometimento no hemisfério cerebral esquerdo; 2. Acalculia espacial, em que ocorre comprometimento na orientação espacial, impossibilitando a colocação dos números em posições adequadas para se executarem cálculos, com comprometimento do hemisfério direito; 3. Anaritmetia, que corresponde à acalculia primária e implica na inabilidade em conduzir operações aritméticas em consequência de comprometimento lesional em ambos os hemisférios. A discalculia do desenvolvimento é uma dificuldade em aprender matemática, com falhas para adquirir adequada proficiência nesse domínio cognitivo, a despeito de inteligência normal, oportunidade escolar, estabilidade emocional e necessária motivação. Cerca de 3 a 6% das crianças em idade escolar tem discalculia do desenvolvimento. NA PRÁTICA • Jogos de orientação espacial: Esse tipo de jogo deve trabalhar a noção espacial e de lateralidade. Você poderá trabalhar com brincadeiras que envolvam comandos. Por exemplo, desenhe no chão ,com fitas ou giz, quatro círculos, sendo dois na frente e dois atrás; dê os comandos para a criança (pule para o círculo da frente, pule para o círculo de traz, para o círculo da direita, da esquerda, e assim sucessivamente). O interessante é trabalhar com música, uma vez que esse tipo de atividade vai ativar as estruturas cognitivas da criança e a ajudará no processo da escrita, pois 13 sabemos que o correto de se escrever é da esquerda para a direita, e assim a criança já estará acostumada previamente com esses conceitos; • Jogos de orientação motora: Encha uma bexiga e peça à criança que a jogue para o ar e vá batendo somente com a mão direita e depois com a mão esquerda. Você pode aumentar o nível de dificuldade; primeiramente pode ser parado, depois andando e assim por diante. Essa atividade, além de trabalhar a questão motora da lateralidade, trabalha a construção da percepção visomotora, que também contribui para o processo de aquisição da leitura; • Vamos descobrir a letra? Com a ponta dos dedos, escreva uma letra ou um número nas costas da criança e em seguida peça que ela julgue qual letra ou número você escreveu. Essa técnica serve para fazer com que o aluno ative e evoque suas memórias, ou seja, aquilo que ele aprendeu; trabalha também com a assimilação e as questões motoras da forma correta de escrita das letras e dos números; • Andando sobre as letras: No chão, escreva em formato grande as letras e os números e peça que as crianças caminhem sobre eles. Isso fará com que elas consigam construir memórias afetivas e lúdicas com a forma de escrita das letras e dos números, facilitando na evocação da memória para posterior registro em seus cadernos; • Modelando letras: Com massa de modelar, peça aos alunos que modelem letras e números. Essa atividade busca trabalhar questões, motoras e espaciais, e auxilia no processo de aquisição da leitura escrita e da aprendizagem de matemática. FINALIZANDO Nesta aula, dialogamos sobre as principais funções executivas e que por sua vez realizam tarefas e atividades que se vinculam ao processo de evocação da memória. Além disso, trouxemos os conceitos de desenvolvimento da linguagem e dos processos linguísticos, e mostramos que possuem grande influência das teorias da psicolinguística. Discutimos também sobre os processos de aquisição da leitura, escrita e consciência fonológica nos percursos normal e patológico, no que concerne aos transtornos de aprendizagem da leitura e da escrita. 14 Por fim, falamos acerca da aquisição do raciocínio lógico e da matemática em seu percurso normal, e também a respeito dos distúrbios de aprendizagem específicos em matemática. 15 REFERÊNCIAS CECATO. C. Introdução aos fundamentos teóricos da linguística. Curitiba: InterSaberes, 2017. CORSO, L. V.; DORNELES, B. V. Qual o papel que a memória de trabalho exerce na aprendizagem da matemática? Bolema, Rio Claro, v. 26, n. 42b, p. 627-648, abr. 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103- 636X2012000200011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 11 mar. 2020. CARVALHO, C.; ABREU, N. Estimulando funções executivas em sala de aula: o programa heróis da mente. Disponível em: <file:///C:/Users/92007549/Downloads/951-2965-1-PB.pdf>. Acesso: 11 mar. 2020. ENCICLOPÉDIA SOBRE O DESENVOLVIMENTO NA PRIMEIRA INFÂNCIA. Operações com números. Disponível em: <http://www.enciclopedia- crianca.com/operacoes-com-numeros/segundo-especialistas/trajetorias-de- aprendizado-da-matematica-na-primeira>. Acesso em: 11 mar. 2020. DEL RÉ, A. Aquisição da linguagem: uma abordagem Psicolinguística. 2 ed. São Paulo: Editora Contexto, 2009. FONTANESI, S. R. O.; Schmidt, A. Intervenções em afasia: uma revisão integrativa. Rev. Cefac. jan-fev, 2016, 18(1): 252-262. GARCIA, A. da S. O desenvolvimento da linguagem. Disponível em: <http://www.filologia.org.br/pereira/textos/odesenvolvimento.htm>. Acesso em: 11 mar. 2020. GODOY, E.; SENNA, L. A. G. Psicolinguística e Letramento. Curitiba: InterSaberes, 2012. ROTA, N.; OHLWEILER, L.; RIESGO, R. Transtornos da aprendizagem: abordagem neurobiológica e multidisciplinar [recurso eletrônico]. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. file:///C:/Users/92007549/Downloads/951-2965-1-PB.pdf