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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ PRÁTICA COMO COMPONENTE CURRICULAR - PCC 2020 REVISITANDO A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO E PROJETANDO PERSPECTIVAS FUTURAS CURSO: FÍSICA LICENCIATURA DISCIPLINA: HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO PROFESSORA: ALUNO: Belo Horizonte - MG 2020 1. Objetivos Este relatório de Proposta de Prática como Componente Curricular, tem por objetivos identificar as características dos modelos educacionais no decurso da história, bem como suas contribuições para a formação dos sujeitos e das sociedades, reconhecer a importância do diálogo produtivo entre História e Pedagogia e enumerar as contribuições dos povos e dos fatos históricos na constituição dos modelos de formação do sujeito e na instituição do conhecimento. 2. Introdução Teórica Educação pode ser definida como a aplicação de métodos que assegurem a formação e o desenvolvimento físico, intelectual e moral de um ser humano de maneira que permita sua integração à sociedade. Acontece portanto em dois momentos distintos na vida do indivíduo: primeiro como educação familiar, segundo como educação erudita. Pode-se dizer que a humanidade de um indivíduo requer a identificação do outro como outro de si, isto é, de um ser social, criativo, capaz de interagir com seus pares e transformar a natureza. Essas transformações espelham-se na educação nos diferentes períodos; as mudanças ocorridas na nossa história refletem-se no modelo pedagógico. É preciso revisitar a história da educação para compreender o fazer pedagógico, uma vez que o homem é um ser histórico, que retoma seu passado para projetar o futuro. Analisar os diferentes momentos da história da humanidade é de fundamental importância para esta compreensão: O Período Antigo, A Idade Média, a era Moderna, destacando-se o Renascimento e o período Contemporâneo. Como algo inerentemente humano, a educação e as práticas educacionais se transformam seguindo as normas e os padrões característicos de cada período histórico, atendendo às demandas sociais e econômicas de cada sociedade. Este trabalho visa desenvolver uma visão panorâmica da História da Educação a partir do diálogo entre História e Pedagogia, compreendendo os aspectos que envolvem os processos históricos da humanidade reconhecendo pontos marcantes da educação brasileira no decorrer da história iluminando a prática docente atual bem como entender as relações entre educação e sociedade no passado e no presente para realizar as projeções para o futuro reconhecendo que História da Educação é primordial para compreender a formação dos modelos de sociedades e dos sujeitos. Como os momentos históricos tem influência direta em toda e qualquer tendência educacional, a observação de um recorte histórico vivido traz uma boa compreensão sobre as práticas pedagógicas da época em questão. 2 Período Antigo ● Sociedades tribais - a educação difusa É complexo determinar exatamente o início histórico dos processos educacionais. De certo, desde o início das civilizações houve a transmissão do conhecimento dos seres humanos mais velhos para os mais jovens. Nesta época, caracterizada pela existência de comunidades com estruturas sociais mais simples, o ensinar era um ato de sobrevivência e continuidade. Nestas comunidades tribais as crianças aprendem imitando os adultos nas atividades diárias, nas cerimônias e nos rituais. As crianças aprendem "para a vida e por meio da vida", sem a designação de indivíduos nem de espaços físicos especialmente destinados à tarefa de ensinar. O objetivo da imitação era ajustar a criança ao seu ambiente físico e social através da aquisição das experiências. Os chefes de família e os sacerdotes eram os principais indivíduos a transmitir os saberes através de suas práticas e da contação de histórias. As cerimônias de iniciação eram utilizadas para apresentar o indivíduo à comunidade que transmitirá a ele as informações necessárias para que ele se ajuste e se adeque. ● Antiguidade Oriental: A educação tradicionalista Nas sociedades orientais havia segmentos privilegiados com acesso ao saber e direitos políticos, diferentemente dos lavradores, comerciantes, artesãos e outros membros destas sociedades. O domínio da língua escrita é restrito e possui caráter sagrado. Tem início aí o dualismo escolar que oferece um ensino privilegiado para as classes dominantes e pouco ou nenhum acesso ao conhecimento para a grande maioria da população. Nas civilizações orientais não havia ainda propostas pedagógicas. A preocupações com a educação surge nos livros sagrados através de regras de conduta e de enquadramento das pessoas sistemas religiosos e morais. Antiguidade Grega - A Paidéia A Grécia Clássica é o berço da pedagogia. Pedagogo era a palavra grega que designava os escravos de famílias ricas que, entre suas tarefas cotidianas, tinham que conduzir pelas mãos e acompanhar as crianças dessas famílias até a escola. Com o tempo, o sentido do termo se ampliou para designar as técnicas educativas empregadas em qualquer processo de ensino-aprendizagem: a pedagogia. A educação grega focava na formação integral do indivíduo – corpo e espírito – muito embora a ênfase fosse maior para o preparo esportivo ou para o debate intelectual, dependendo da época ou lugar. Num primeiro momento a educação é ministrada pela própria família, conforme a tradição religiosa. Com o advento das pólis surgem as primeiras escolas. A transmissão da cultura grega se dava também através das inúmeras atividades sociais coletivas (festivais, banquetes e reuniões). A escola ainda era elitizada, atendendo apenas aos jovens de famílias tradicionais da antiga nobreza ou dos comerciantes ricos. O ensino da 3 escrita e dos cálculos ainda demorou a se difundir, uma vez que nas escolas a formação era mais esportiva que intelectual. Sócrates, Platão e Aristóteles são alguns dos principais pensadores que contribuíram para a construção da educação na Grécia antiga. Antiguidade Romana - Humanitas De modo geral, pode-se distinguir três fase na educação romana: a latina original, de natureza patriarcal; a influenciada pelo helenismo e criticada pelos defensores da tradição e a fusão entre a cultura romana e a helenística que incorpora elementos orientais mas nitidamente confere uma supremacia aos valores gregos. A educação na Roma antiga teve, sobretudo, caráter prático, familiar e civil, destinada a formar particularmente o civil romano, considerado superior aos indivíduos de outros povos pela consciência do direito como fundamento da própria “romanidade”. Os civis romanos eram, porém, formados antes de tudo em família, pelo papel central do pai, mas também da mãe que, por sua vez, era menos submissa e marginal em comparação com as mulheres gregas. A mulher em Roma era reconhecida como sujeito educativo, que controlava a educação dos filhos ao confiá-los a pedagogos e mestres. Já o papel do pai, cuja auctoritas é destinada a formar os futuros cidadãos, é colocado no centro da vida familiar, exercendo com dureza sua autoridade que abarca todos os aspectos da vida de seus descendentes (moral, estudose a vida social). Já para as mulheres a educação consistia na preparação para cumprir o papel de esposas e mães. Com o tempo, a mulher romana conquistou maior autonomia na sociedade. Enquanto os gregos se aprofundaram no estudo da lógica, da filosofia e das ciências naturais, os romanos priorizaram o estudo da retórica. Sêneca, Plutarco e Quintiliano foram alguns dos principais expoentes da educação romana. Idade Média - A formação do homem de fé Na idade média a igreja católica tomou para si o domínio da educação e restringiu o acesso ao conhecimento e à cultura para aqueles que fossem destinados ao clero ou a membros de famílias abastadas. Aos demais, a educação dada se limitava a ensinar que se deveria zelar, em primeiro lugar, da salvação da alma e para isso era necessário se submeter a autoridade da igreja. Pode-se dividir, de forma generalista, a idade média, no que diz respeito à educação, em duas correntes filosóficas principais: patrística, e escolástica. A Filosofia Patrística (século I ao VII), desenvolvida por Santo Agostinho, teve como objetivo consolidar o papel da igreja e propagar os ideais do cristianismo. Baseada nas Epístolas de São Paulo e o Evangelho de São João, a escola patrística advogou a favor da 4 igreja e propagou diversos conceitos cristãos como o pecado original, a criação do mundo por Deus, ressurreição e o juízo final. Já a Filosofia da Escolástica (séc. IX ao séc. XV), desenvolvida principalmente por São Tomás de Aquino, retomou muitos princípios filosóficos gregos, principalmente de Aristóteles. Nesse período, a grande preocupação da igreja era aliar a razão e a ciência aos ideais da igreja católica. Nesse contexto, surgiu a teologia, ciência que buscava explicar racionalmente a existência de Deus, da alma, do céu, do inferno e as relações entre homem, razão e fé. Idade Moderna - Humanismo e Reforma Nesse período de profundas transformações destacam-se as seguintes: consolidação da burguesia, revolução comercial do século XVI, consolidação dos Estados Nacionais e fortalecimento das monarquias absolutistas. Ainda nesse período, as grandes navegações motivaram a conquista e a dominação de novos territórios, como América Central e América do Sul. Esse contexto proporcionou o desenvolvimento de um pensamento que priorizava o aspecto racional e científico, pautado pelo antropocentrismo. O Renascimento resgatou aspectos da cultura greco-romana e, em todas as áreas uma nova imagem de mundo desponta: na pintura, arquitetura, escultura, na literatura, música, política e sociedade em geral. É nesse período que a educação se torna um fator importante para a propagação do pensamento moderno e da secularização do saber. A Reforma Protestante no século XVI teve papel crucial para o estabelecimento definitivo do capitalismo e contribuiu para a democratização do ensino, uma vez que demandava uma educação geral e mais abrangente para que todos, sem distinção e discriminação, puessem ler as Sagradas Escrituras, a fim de buscarem a Deus no texto sagrado. Descartes é outra figura histórica que vale ser mencionada devido a sua obra “Discurso do Método”, onde elenca o paradigma cartesiano e a estruturação de ciclos e pré-requisitos disciplinares. Com Renascimento foram retomadas antigas e importantes práticas pedagógicas e democráticas. A crítica ao modelo escolástico e a necessidade de retomada do modelo dialético educacional tornou-se cada vez mais evidente. Um dos primeiros nomes a criticar o modo instrutivo da Escolástica foi John Amos Comenius, autor de “Didactica Magna” (1638) que julgava ineficazes e excessivos os métodos de ensino medievais e pregava que havia de se desenvolver formas em que o professor lecionasse menos e o aluno aprendesse mais. A importância da obra foi tanta que muitos consideram Comenius como pai da didática moderna. Este, além de combater o sistema medieval, defendia a ideia do ensino de “tudo para todos” e estabeleceu-se como o primeiro teórico a respeitar os sentimentos e inteligência infantil. Sua obra consistia em realizar uma racionalização de todas as ações educativas, desde a teoria didática até os paradigmas do cotidiano docente. A prática educacional deveria agir como os processos naturais. Nas relações pedagógicas, seriam levadas em consideração 5 as possibilidades e os interesses do infante. O professor seria um profissional, não um missionário, e teria a devida remuneração para isso. A organização temporal e do currículo levaria em consideração os limites físicos e a necessidade, tanto dos docentes quanto dos discentes de ter outros afazeres. Com o Iluminismo, a educação já não depende da Igreja em nenhum aspecto e é de livre pensamento. Uma das mais importantes obras para a História da Educação elaborada neste período foi produzida por Jean-Jacques Rousseau e é conhecida como “Emílio ou da educação”. Rousseau afirma que educação deve levar o homem a agir por interesses naturais, e não por imposição de regras exteriores e artificiais, tornando-se assim, dono de si. A proposta pedagógica apresentada era inovadora e defendia que o aluno construísse seu próprio conhecimento a partir da interação, fazendo de Rousseau um dos precursores do Construtivismo. Outros grandes pensadores da pedagogia desse período são Pestalozzi, Herbat e Froebel. ● Brasil - Início da colonização e catequese A Igreja Católica reagiu à Reforma Protestante com a sua Contra Reforma que foi um movimento de reforma do alto clero e de implementação de estratégias para conter o avanço do protestantismo. Dentre as estratégias de reação da Igreja Católica, destacam-se a criação da “Companhia de Jesus” ou ordem dos Jesuítas, em 1540, e a convocação do “Concílio de Trento”, em 1545, ambos sob a administração do Papa Paulo III. A Companhia de Jesus foi fundada, em 1534, pelo militar espanhol Inácio de Loyola, que baseou toda a estrutura da companhia no modelo militar. Os jesuítas eram considerados “soldados de Jesus” e pretendiam combater as críticas protestantes através da catequização e da instituição de escolas religiosas. No Brasil, os Jesuítas monopolizaram a educação e implementaram o Ratio Studiorium, um conjunto de orientações metodológicas pedagógicas para o Ensino Jesuítico. O sistema jesuítico foi extinto pelo Marquês de Pombal que, influenciado pelos pensamentos iluministas, transfere a responsabilidade da educação para o estado. Até os dias de hoje, muitos dos conceitos implementados por Loyola, como a matriz curricular, seguem sendo utilizados. Idade Moderna - A pedagogia realista O século XVII marca o surgimento da pedagogia realista, que estabelece a transição entre a pedagogia renascentista e a pedagogia iluminista do século XVIII. A pedagogia realista tem Ratke, Comenius e Locke seus principais expoentes e busca substituir o conhecimento verbalista anterior pelo conhecimento das coisas. Para tanto, procura criar uma nova didática. Segue reafirmando com mais ênfase a individualidade do 6 educando e, na ordem social e moral, advoga o princípio da tolerância, dorespeito à personalidade e de fraternidade entre os homens. Fortemente influenciada pelo empirismo de Francis Bacon e pelo racionalismo de Descartes, recebeu também influência do movimento científico da época, liderado por Galileu e Kepler, sem mencionar a revolução causada pela teoria heliocêntrica elaborada por Nicolau Copérnico ainda no século XVI. ● O Brasil do Século XVII O extermínio da população nativa, os limites da submissão dos índios (que eram nômades e, ao crescer, deixavam de lado o que foi ensinado) e a consolidação da colonização portuguesa foi acompanhada da substituição das casas de bê-a-bá, instituídas pelo Padre Manoel da Nóbrega, pelos Colégios destinados aos brancos, que passaram a formar a Elite Colonial a serviço do poder e da autoridade. A catequese e a conversão passaram a ser vistas como um problema pelas autoridades portuguesas. Os interesses da Companhia de Jesus passaram a ser vistos como contrapostos aos interesses do Império Português, sobretudo no século XVIII. É o que explica a expulsão dos jesuítas da América Portuguesa, ordenada pelo Marquês de Pombal em 1759. No final do século XVII, com a expulsão dos jesuítas, foram criadas escolas de ensino secundário e primário, o que demandou a contratação de professores laicos e religiosos. Com fortes influências das ideias iluministas, o Marquês de Pombal buscou reformar o currículo das escolas e da faculdade de Coimbra, alinhando Portugal às mudanças promovidas pelas luzes e pelo saber científico. Período Contemporâneo As influências do século XIX, como a urbanização acelerada e o capitalismo industrial, criam um panorama de forte expectativa com relação à educação, devido à maior complexidade do trabalho, que exige mão de obra especializada. Acontece a universalização da escola secundária, clássica para a elite burguesa e técnica para a formação do trabalhador. As linhas filosóficas que orientam este período são o Idealismo, de Fitche, Schelling e Hegel, as idéias socialistas, e o desenvolvimento das ciências humanas. Surgem preocupações com a formação da consciência nacional e com a metodologia. Bem como, pedagógicas com fins sociais, salientando a formação da criança para a vida em sociedade. A Educação associa-se ao bem-estar social , ao progresso e à transformação. A psicologia passa a influenciar a educação infantil procurando uma metodologia adequada ao seu processo de aquisição do conhecimento. No período Imperial, o Brasil não se destaca com uma postura pedagógica pautada em uma identidade nacional, ou seja, não se institui uma proposta pedagógica eminentemente brasileira . 7 O que causa resultados extremamente insatisfatórios e díspares. Enquanto a elite tem sua educação gerenciada pelo Império, a do povo é desqualificada, sendo deixada a cargo das províncias. Século XX No século XX a educação passa a ter um caráter bem mais científico, o que tem consequências ambíguas. Se de um lado temos avanços tecnológicos revolucionários, de outro temos grandes tragédias como as duas grandes Guerras Mundiais. Esses avanços refletem-se nos processos educacionais transformando a escola, o papel do professor, a concepção de aluno e as relações de autoridade nas instituições de ensino. Nesse período tiveram destaque teóricos como Émile Durkheim (1858-1917 ), que desenvolve questões da sociologia, bem como sua relação com a educação; Jonh B. Watson (1878-1958) e Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), representantes do Behaviorismo (psicologia comportamentalista); Wilhelm Dilthey (1833 -1911), representante da crítica ao naturalismo; Wolfgang Köhler (1887 -1967) e Kurt Koffka (1886-1941 ), representantes da Gestalt; John Dewey (1859 -1952 ), representante da escola progressista. A Escola Nova é um movimento de grande importância, no século XX, tendo como características fundamentais a educação integral, ativa, prática, tendendo para uma prática individualizada, propondo ao estudante uma aprendizagem autônoma. Representantes desse movimento são: Maria Montessori (1870 -1952) e Ovide Decroly (187 1 -1932). Teorias progressistas: São inúmeros os teóricos que revolucionaram a educação nesse século. Jean Piaget (1896 -1980), que criou a epistemologia genética. Bem como sua seguidora argentina, radicada no México, Emília Ferreiro (1937) que realiza pesquisas sobre a construção da linguagem escrita. Lev Vygotsky (1896 -1934) é o teórico que trata do ensino como processo social e, ainda, Celestin Freinet (1896 -1966) que traz o trabalho e a cooperação como constitutivos do processo educativo. Henri Wallon (1879-1962) defendia uma educação integral. Pierre Bourdieu (1930-2002) desenvolveu uma teoria crítica a respeito da “pseudo” neutralidade da escola. No Brasil as maiores referências estão nos educadores Anísio Teixeira (1900-1971), Florestan Fernandes (1920 -1950) e Paulo Freire (1921 -1997). Para Freire e Horton (2003), por exemplo, a educação apenas é transformadora quando “as pessoas começam a agarrar sua história com as próprias mãos”. Para estes autores, como para a maioria dos teóricos da contemporaneidade, somente um projeto de educação realmente popular pode trazer transformações significativas para a sociedade. 8 ● Marcos da história da educação brasileira no século XX Se a educação antes do Período Ditatorial, com as ideias de universalização e democratização, nunca conseguiu consolidá-las, nesse período ela se distanciou mais desse ideal, sofrendo com a repressão, a privatização do ensino, a continuidade do acesso privilegiado a classe dominante, a oficialização do ensino profissionalizante e do tecnicismo pedagógico, que visava unicamente preparar mão de obra para atender às necessidades do mercado e a desmobilização do magistério com inúmeras e confusas legislações educacionais. O ensino técnico alienante oferecido para as classes populares visava exclusivamente as necessidades do mercado, o que diminuiria as manifestações políticas, contribuindo para que o ensino superior continuasse reservado às elites. Pela Lei nº 5.540/68, o governo promoveu a Reforma Universitária: ● Instituiu o vestibular classificatório para acabar com os ‘excedentes’; ● Deu à universidade um modelo empresarial; ● Organizou as universidades em unidades praticamente isoladas; ● Multiplicou as vagas em escolas superiores particulares. A Lei nº 5.692/71, aprovada sem participação popular, reformulou o ensino de 1º e 2º graus e promoveu mudanças como: 1º grau de 8 anos dedicados à educação geral e 2º grau (3 a 4 anos) obrigatoriamente profissionalizante. Até 1982, aumentou o número de matérias obrigatórias em todo o território nacional, desobrigando o ensino de disciplinas mais reflexivas. Em 5 de outubro de 1988 foi promulgada uma nova Constituição, que cuida da educação e do ensino de maneira especial com referência aos direitos, aos deveres, aos fins e aos princípios norteadores. Dentre as principais mudanças no âmbito educacional, Aranha (1996, p. 223) destaca: ● Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; ● Ensino Fundamental obrigatório e gratuito; ● Atendimento em creches e pré-escolas às crianças de zero a seisanos; ● Valorização dos profissionais de ensino, com planos de carreira para o magistério público. Com base na nova Constituição, foi criada a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Lei nº 9.394, promulgada em 20 de dezembro de 1996. A Carta Magna e a nova LDB dão suportes legais para que o direito a uma educação de qualidade seja efetivamente concreto, assegurando a formação integral do indivíduo e a sua inserção consciente, crítica e cidadã na sociedade. 9 Em 1996, o Governo Federal elaborou os Parâmetros Curriculares Nacionais, estabelecendo diretrizes para estruturação e reestruturação dos currículos escolares de todo o Brasil, em função da cidadania do aluno e de uma escola realmente de qualidade O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), criado em 1968, mantém vários programas que objetivam proporcionar mais autonomia às escolas, suprir as carências e oferecer aos alunos melhores condições de acesso e permanência na escola e de desenvolvimento de suas potencialidades. Estes são alguns deles: ● Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE); ● Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE); ● Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE); ● Programa Nacional do Livro Didático (PNLD); ● Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM); ● Programa Nacional do Livro Didático para a Alfabetização de Jovens e Adultos (PNLA); e ● Programa Nacional de Transporte Escolar (PNTE), entre outros. Em 2005 foi aprovada a Lei nº 11.096, que instituiu o Programa Universidade para Todos (ProUni), que concede bolsas de estudos em instituições de ensino superior particulares a estudantes de escolas públicas de baixa renda e/ou estudantes de escolas particulares na condição de bolsistas utilizando como referência a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). As bolsas podem ser parciais, com descontos de 25% ou 50%, e integrais. Também foi criado o Sistema de Seleção Unificada – Sisu, que visa substituir os exames tradicionais das universidades públicas; criado pelo Governo Federal, seleciona estudantes com base na nota do Enem, assim como o ProUni; dentro dele, as vagas estão divididas em ampla concorrência e as cotas para estudantes de escolas públicas e de baixa renda, entre outros aspectos. Em 2007, foi promulgada a lei do Fundeb, que se caracteriza como a maior fonte de recursos destinados para a educação; eles são distribuídos de acordo com o número de alunos matriculados nas redes estaduais e municipais estabelecido pelo Censo Escolar. Em março de 2007 houve o lançamento do Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, que, por meio de inúmeros programas, objetiva suprir as deficiências e carências da educação brasileira e superar um estágio de educação ainda limitado. Quanto ao marco histórico e pedagógico atual, destaca-se a BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Homologada em 2017 e construída com participação massiva dos educadores, encerra em sua proposta inovações pedagógicas que compreendem o ensino infantil até o ensino médio. Em suas postulações, o projeto elenca 10 competências que devem ser desenvolvidas ao longo da experiência escolar, de modo que essas construirão o aluno em perfil pleno e objetivado. A prioridade da BNCC não é provar que o estudante aprendeu, e sim, que ele saiba o que fazer com o que aprendeu. Este novo método, além de democrático, 10 une diversas técnicas de sucesso, de modo inovador e organizado, priorizando uma otimização sem precedentes na educação brasileira. Baseado nas experiências e fatos históricos dispostos aqui, compreende-se a construção da disciplina da História da Educação como termo de consulta e construções elucidativas, pois encontramos fonte inestimável de sistemas falhos bem como inspiração apreciativa, podendo assim, construir novos caminhos e novos horizontes no que tange à perspectiva pedagógica. 3. Procedimentos Metodológicos Esta prática utilizou como procedimento metodológico a leitura e análise de um livro didático de História do ensino médio. O livro adotado para o estudo foi História - Ensino Médio 2a edição, livro público disponibilizado online digitalmente na página da Secretaria de Educação do Estado do Paraná. Figura 1 - Capa e contra capa do livro didático de História adotado. A análise concentrou-se em observar os seguintes pontos: a) Características que evidenciam o modelo de formação dos sujeitos e das sociedades; b) Exemplos de fatos e situações que se destacam da história da educação no Brasil e no mundo. c) A existência de uma diálogo interétnico exposto implícita ou explicitamente nos textos do livro observado. 11 d) O livro expõe contribuições dos povos e dos fatos históricos na constituição dos modelos de formação do sujeito e na instituição do conhecimento? 4. Resultados Com relação ao item a) Características que evidenciam o modelo de formação dos sujeitos e das sociedades: O livro em questão apresenta em cada um de seus capítulos um enfoque na história do desenvolvimento das relações humanas de trabalho, culturais e de poder, evidenciando um modelo de formação que preza pela formação de sujeitos com aguçada criticidade e consciência social desenvolvida. Na página 376 o livro apresenta ainda o capítulo Relações culturais: Movimentos sociais, políticos e culturais na sociedade contemporânea: é proibido proibir? Onde promove uma discussão sobre os regimes autoritários vividos no Brasil e no mundo, a legitimidade de movimentos sociais por reforma agrária como é o MST no Brasil e por direitos civis, como os movimentos feministas e antirracistas. Isso denota um modelo de formação de sociedade democrática onde indivíduos podem expressar suas opiniões e lutar contra as desigualdades e injustiças impostas pelo sistema capitalista ou por outros interesses alheios. Com relação ao item b) Exemplos de fatos e situações que se destacam da história da educação no Brasil e no mundo: Na página 64 o livro apresenta uma discussão sobre os problemas da exploração do trabalho infantil e apresenta a Convenção Sobre os Direitos da Criança adotada em 1989 pela ONU, um marco na história da educação mundial por reconhecer a todas as pessoas, com menos de 18 anos de idade, os direitos humanos fundamentais como: a vida, a liberdade, a saúde, a assistência, a educação e a proteção. Na mesma página é apresentado o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA - compromisso formal assumido pelo Brasil para dar prioridade e solução às questões voltadas para a garantia dos direitos fundamentais da criança. O ECA é um marco na história da educação brasileira por garantir, entre os direitos fundamentais, o direito à educação. Com relação ao item c) A existência de uma diálogo interétnico exposto implícita ou explicitamente nos textos do livro observado. Na página 74 o livro discute a relação escravagista estabelecida pelos europeus sobre os povos africanos e as etnias do novo mundo. Apresentando dados sobre o genocídio indígena promovido pelos portugueses e sobre o tráfico de pessoas africanas para o trabalho escravo no Brasil. Já na página 88 o textoexplora a necessidade do combate à escravidão contemporânea, que infelizmente ainda existe em muitos lugares do mundo inclusive no Brasil. Toda essa discussão demonstra existir um diálogo interétnico explícito no livro didático em questão. 12 Com relação ao item d) O livro expõe contribuições dos povos e dos fatos históricos na constituição dos modelos de formação do sujeito e na instituição do conhecimento? Na página 116 o livro apresenta as cidades da Grécia e ressalta como ali começou o desenvolvimento da democracia bem como da filosofia. Adiante apresenta a cidade de Roma e denota como a cidade se desenvolveu para ser o maior centro urbano da época. Tanto a democracia e a filosofia desenvolvidas pelos gregos quanto o urbanismo dos romanos são fatos históricos na constituição dos modelos de formação dos sujeitos e na instituição do conhecimento em nossa sociedade. Conclusões O estudo da história da educação é importante para a compreensão das transformações tanto nas práticas de ensino quanto nos conteúdos ensinados em cada período da história da humanidade e assim poder projetar novos caminhos para a pedagogia na contemporaneidade. Agora que estamos às portas do que muitos chamam de quarta revolução industrial, muitas transformações afetarão nossa sociedade como a extinção de profissões, o surgimento de pandemias como a que enfrentamos no contexto da elaboração deste trabalho. Tudo isso apresentará desafios cada vez maiores para aqueles que se propuserem a contribuir com o desenvolvimento da sociedade através do ensino. 13 Referências Material didático fornecido pelo curso. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Brasil no Século XX: o desafio da educação. In: ______. História da Educação. 2ª ed. rev. e atual. São Paulo: Moderna, 1996. BONINI, Altair… [et al.]. História - Ensino Médio. Secretaria de Educação do Estado do Paraná. Disponível em <http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/livro_didatico/historia.pdf> acesso em 01/06/2020. BORTOLOTI, Karen Fernanda. História da educação. Rio de Janeiro: SESES, 2015. 232 p. Educação e História da Educação no Brasil. Disponível em: <https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/18/23/educao-e-histria-da-educao-no-brasil> acesso em 08 de junho de 2020. RIBEIRO, Max Elisandro dos Santos... [et al.]. História da educação [recurso eletrônico] – Porto Alegre: SAGAH, 2018. 14
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