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Advocacia Contenciosa Civil: Prevenção e Eficiência

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A ADVOCACIA CONTENCIOSA CIVEL NUMA ABORDAGEM PRÁTICA 
1) Apresentação do tema 
Em um país reconhecido pela cultura litigante, a advocacia contenciosa é mais difundida pela população. O contencioso tem o sentido de conflito, existente entre o autor e o réu, partes antagônicas, na qual se busca a solução através da Justiça.
Nesse sentido, a advocacia contenciosa proporciona o acesso à justiça de um conflito pré-existente, em que não existe outra forma de solucionar o problema. O grande problema do contencioso é o seu alto custo e a sua morosidade, com um Poder Judiciário exacerbado de processos é inevitável que demandas simples demorem anos.
A Advocacia consultiva tem como objetivo principal evitar demandas judiciais. A consultoria jurídica trabalha com a prevenção de riscos e a resolução de conflitos já existentes, fora da justiça.
A sociedade não pode ser tão dependente do Estado para resolver seus conflitos é preciso haver mecanismos próprios para solucionar as disputas, acabando com a ideia de que tudo precisa ser resolvido nos tribunais. O Brasil é um dos países líderes no ranking de ajuizamento de ações no mundo. São Paulo é, disparado, o tribunal com a maior quantidade de ações no Brasil. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) estima que quase 30% dos processos, em geral, passem por tribunais paulistas. E tratando-se do excesso de demanda há, também, a sobrecarga da magistratura nacional brasileira, mesmo considerando que o seu desempenho esteja acima dos padrões internacionais. Segundo relatório do Conselho Nacional de Justiça, o índice de produtividade dos juízes brasileiros é um dos maiores do mundo, acima até mesmo dos juízes europeus.
A justiça brasileira apresenta também o dobro da demanda em relação aos países europeus. Enquanto cada um de nossos juízes recebem em média 1.375 novos casos por ano, em Portugal os juízes recebem 379 casos novos ao ano, na Itália 667 casos e na Espanha 673 novos casos. Há ainda grande receio por parte do Poder Judiciário, que após as reformas da previdência, administrativa e tributária esses números se mostrem insustentáveis.
Neste cenário, influentes juristas propõe uma verdadeira mudança cultural, a fim de desestimular a sociedade e profissionais do direito à judicialização imediata dos conflitos. O advogado deverá ainda estimular e favorecer o comportamento cooperativo das partes no processo. Propõe aos escritórios de advocacia e departamentos jurídicos, o surgimento de um Contencioso Estratégico Preventivo, através de uma gestão eficiente da carteira de processos, com a finalidade de prevenir conflitos, gerenciar riscos e evitar surpresas. É certo que o cliente não quer saber sobre a técnica processual ele apenas quer rapidez, organização, sistema atualizado, frequência definida para análise de cada um desses processos, previsão e posicionamento correto.
O que se mostra fundamental para este Contencioso Estratégico Preventivo e Inteligente é o verdadeiro controle de informações, através de sistemas e políticas para gestão de processos, documentos, arquivos de histórico, mapeamento de casos inferiores e êxitos remotos, cuja manutenção do custo seja superior à quantia gasta com o próprio escritório. E ainda é importante que este gestor tenha conhecimento dos precedentes, controle interno do portfólio do contencioso e do histórico dos casos (uma vez que a perda do histórico influencia na derrota da causa).
É fundamental que haja também uma rotina de aproximação do advogado com a área do business, a criação de comitês para feedback ao cliente e abertura para um debate prático e escolha de tese para que determinado assunto relevante não seja levado e reconhecido nos tribunais como precedente, criando e disseminando novas políticas, evitando-se a frequência e a contaminação de velhos erros.
O gestor de um contencioso inteligente deve ter domínio das técnicas e saber escolher entre a arbitragem, a mediação e o contencioso judicial. Deve ser capaz de refletir sobre os custos e reais retornos de uma arbitragem, uma vez que esta pode ser tão litigante quanto um contencioso judicial, esses devem ser reservados aos casos de grande complexidade, alta monta e densidade probatória. Ele ainda precisa reconhecer e entender que mundialmente a mediação é o método mais barato e eficiente para solução de conflitos.
O Advogado deve ter ferramentas de pesquisa e controle de jurisprudência, precedentes e súmulas para referência na tomada de decisões empresariais, mapeando a jurisprudência pacífica dos Tribunais, analisando o risco e traçando a estratégia – sempre buscando desestimular a litigância quando se verifique a ausência de segurança jurídica, a ambiguidade normativa e latente divergência jurisprudencial.
O escritório moderno será aquele que entende o negócio do cliente e proteja as teses do setor, aquele que proponha uma linha diferencial de atuação, que tenha organização dos precedentes nos Tribunais para acompanhar as teses do cliente. É o escritório que apresente união e sinergia entre as áreas internas consultiva e contenciosa, que dê espaço aos negócios jurídicos processuais e a possibilidade de diálogo.
Este mesmo escritório deve ter profissionais abertos e com boas práticas de negociação e relacionamento, que apresente planos preventivos e organização de acordos, que tenha capacidade de prever os riscos e evitar surpresas, através do controle e estudo dos precedentes, leitura da tendência do Magistrado, da Comarca ou de determinado Tribunal e a possibilidade de aceleração das provisões, com impacto importante para a rotina das empresas.
Acredita-se ainda que o advogado do futuro deverá ser um verdadeiro arquiteto de soluções, assim como o ambiente jurídico como um todo deverá sempre se comprometer a tentar a solução amigável dos conflitos antes de enviar o problema ao Poder Judiciário, em um verdadeiro “Pacto da Mediação.
Por fim, há de se observar que este novo conceito de Contencioso e Advocacia ainda esbarra no sucateamento da infraestrutura do judiciário brasileiro que se arrasta há décadas e encontra inúmeras dificuldades, como falta de condições e material básico de trabalho. Necessário, portanto, aparelhar o Judiciário com ferramentas e tecnologia que o auxiliem na eficiência e na agilidade dos julgamentos, em todos os seus níveis. O trabalho virtual em tempos de pandemia pode estar ajudando significativamente nesta evolução.
Por essa razão é que o movimento de mediação e de desmaterialização da justiça e do Estado é extremamente importante para que a sociedade se organize e forme uma nova mentalidade. Nos Estados Unidos, mais de 4 mil empresas e 1,5 mil escritórios de advocacia já assinaram o “Pacto de Mediação”.
Contudo, nosso estudo nesse curso vai se concentrar a partir daqui a desenvolver técnicas e preparar o advogado para atuação no ramo mais tradicional da atuação ainda prevalecente no Brasil, ou seja, a contenciosa.
2) Técnica de elaboração e redação de peças iniciais/defesas (iremos examinar diversos institutos e técnicas processuais, analisando as opções à disposição do advogado em situações concretas hipotéticas e comuns na prática, bem como a desenvolver habilidades analíticas).
Em regra, a petição inicial com o advento do NCPC/15 deverá levar em consideração os mesmos requisitos elencados da petição inicial do CPC/73. Contudo, algumas mudanças foram acrescentadas, entre elas estão à prevista no art. 282, I do CPC/73, a qual teve nova redação dada pelo CPC/15 em seu art. 319, I com relação a sua competência.
Outra mudança importante foi em relação à qualificação das partes. O atual código em seu art. 282, II, expõe os requisitos da petição inicial. No entanto, o art. 319, II do NCPC inovou nesse sentido, passando há constar na petição inicial além dos requisitos já existentes, como também a existência de união estável e o endereço eletrônico. Mas a prática forense demonstra que nem sempre tem a possibilidade de recolher todas as informações relativas ao réu..
Já prevendo essa circunstância, o NCPC, disponibiliza ao advogadodo autor que solicite ao juiz essas informações, é o que se verifica no art. 319, § 1º, onde poderá o autor, na petição inicial, solicitar ao juiz diligências essenciais parar obter informações referentes ao réu. Tendo a falta de dados do réu a que se refere o inciso II do art. 319, não será caso de indeferimento, conforme leitura do § 2º do mesmo artigo, contanto que seja possível o réu ser citado, também se o juiz julgar que a obtenção de tais informações torne de difícil acesso, ou seja, excessivamente oneroso para o processo, conforme art. 319 § 3 º, não acarretará o indeferimento da petição inicial.
Outra modificação do atual art. 282 do CPC é que não existe o pedido de citação do réu, esse dispositivo legal foi excluído, e em seu lugar é previsto a opção do autor pela a realização de audiência de conciliação ou mediação. O NCPC privilegia a conciliação entre as partes como forma de solução amistosa para o litígio, estabelecendo que nas ações que cuide de direitos em que as partes podem dispor o juiz deverá realizar uma audiência de conciliação em um momento anterior da apresentação de defesa pelo réu, conforme art. 319, VII do NCPC. Sendo assim, se o autor e o réu manifestarem expressamente desinteresse em resolver o litígio por autocomposição, a audiência não acontecerá, conforme art. 334, § 4º, I, CPC/15. A manifestação do autor nesse sentido tem de ser realizada na petição inicial. Se o autor não observar esse requisito, a petição não deve ser indeferida, nem é preciso o juiz mandar emendá-la. O juiz deve considerar o silêncio do autor como indício da vontade de que ocorra a audiência de conciliação ou mediação. 
Assim como o réu (art. 334, § 5º), igualmente o autor tem de dizer expressamente quando não quer a audiência; o silêncio pode ser interpretado como não-oposição à realização do ato.
Outra significativa mudança diz respeito ao prazo, em relação à emenda da petição inicial. No atual CPC/73 em seu artigo 284 determina o prazo de 10 (dez) dias. Já no art. 321 do NCPC, o prazo foi ampliado, permitindo ao magistrado determinar a emenda da petição inicial no prazo de 15 (quinze) dias, além disso, outra questão relevante é que o juiz indicará com exatidão o que deve ser corrigido ou complementado.
Elaboração da petição inicial e seus cuidados especiais
- Requisitos da petição inicial e seu pedido.
Na sequência, serão analisados todos os requisitos da petição inicial.
1. Juízo de Destino: O primeiro requisito, que deve ser inserido no cabeçalho da petição inicial, é o juízo a que se destina. O CPC/2015 substitui as expressões “juiz ou tribunal” (utilizadas no CPC/73) por juízo, para esclarecer que faz referência geral e abstrata ao órgão judiciário para quem se destina a petição, definido a partir das regras de competência e observado o princípio do juiz natural. Logo, a indicação do juízo deve ser precedida da análise da competência para processar e julgar o pedido inicial, seja na primeira instância, seja em processo de competência originária de tribunal.
2. Qualificação das Partes: A qualificação das partes é imprescindível para identificar quem ocupa os polos ativo e passivo do processo (elemento subjetivo da demanda). Deve ser a mais completa possível e o art. 319, II, do CPC, exige como qualificação mínima a ser informada na petição inicial: os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu.
3. Causa de Pedir: A causa de pedir (causa petendi, em latim) compreende os fatos e os fundamentos jurídicos do pedido, ou melhor, os fatos aos quais o autor atribui efeitos jurídicos (elemento objetivo da demanda). Divide-se em remota (fatos) e próxima (fundamentos jurídicos). Na causa de pedir remota (fundamentos de fato), o autor narra os fatos que levaram à demanda, ou seja, a conduta (comissiva ou omissiva) do réu que gerou o conflito e o levou a buscar a tutela jurisdicional. É neste ponto que a petição inicial deve transpor o mundo dos fatos para o processo, descrevendo a situação conflituosa. A causa de pedir remota pode ser composta, quando contiver mais de um fato que embase a pretensão da parte autora. Na causa de pedir próxima (fundamentos de direito), o autor qualifica juridicamente os fatos, ou seja, especifica quais são os efeitos jurídicos produzidos pela causa de pedir remota.
4. Pedido: O pedido é o núcleo da petição inicial, contém a afirmação da existência da pretensão do autor, o que delimita a atuação jurisdicional e o contraditório, além de definir outras questões processuais, tais como a conexão, continência, litispendência e coisa julgada. É a parte da petição inicial em que são descritas as consequências jurídicas da causa de pedir. O pedido é um delimitador da atividade jurisdicional, porque define qual é o objeto litigioso e, consequentemente, qual será o mérito do processo. O pedido pode ser mediato (ligado ao direito material postulado) e imediato (a tutela jurisdicional requerida).
5. Valor da Causa: O valor da causa consiste no conteúdo econômico da controvérsia, que observa as regras dos arts. 291/293 do NCPC, que contêm os critérios para a sua atribuição. O valor a ser apurado é aquele existente no momento da propositura da petição inicial, não devendo ser alterado ainda que o conteúdo econômico do processo seja modificado por fato superveniente. A fixação do valor da causa tem diversas consequências processuais, como, por exemplo, a definição da competência (arts. 44 e 63 do CPC ou, ainda, de acordo com as leis dos Juizados Especiais – Leis nº 9.099/95, 10.259/2001 e 12.153/2009), o valor dos honorários de sucumbência (art. 85, §§ 2º e 3º, do CPC), o cabimento – ou não – da remessa necessária (art. 496, § 3º, do CPC), o valor das custas processuais e do preparo recursal (conforme as normas regimentais de cada Tribunal) e o valor de multas (arts. 77, § 2º, 81, 334, § 8º, 702, §§ 10 e 11, e 1.026, §§ 2º e 3º, todos do CPC).
6. Produção de Provas: A exigência da indicação dos meios de prova na petição inicial significa que a parte autora deve especificar as provas que a parte autora pretende utilizar para demonstrar a veracidade dos fatos alegados. As provas devem ser produzidas, em princípio, pela parte que tem o ônus de provar os fatos alegados no processo. Em regra, adota-se a teoria estática do ônus da prova, razão pela qual: (a) o autor tem o ônus de provar o fato constitutivo de seu direito; (b) e o réu tem o ônus de provar a existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito da parte autora (art. 373 do CPC). Assim, em regra, quem alega deve provar. Como exceção à regra, pode ser utilizada, na decisão de saneamento do processo (art. 357 do CPC), a teoria da distribuição dinâmica ou diversa do ônus da prova, que permite às partes ou ao juiz a modificação da regra da teoria estática, atribuindo o ônus para quem tiver maior facilidade na produção da prova, do próprio fato alegado ou do fato contrário (art. 373, § 1º, do CPC).
7. Audiência de Conciliação ou Mediação: A parte autora deve declarar sua opção pela realização – ou não – da audiência de conciliação ou mediação (art. 319, VII, CPC). Este requisito decorre do princípio da promoção da autocomposição, que abrange também os representantes das partes (art. 3º, § 3º, do CPC). Assim, o momento adequado para a parte autora manifestar sua vontade sobre a realização da audiência é a petição inicial. O uso da expressão “pela realização ou não” no inciso VII do art. 319 gera polêmica: o autor deve se manifestar pela concordância, sob pena de emenda (e eventual indeferimento), ou deve se manifestar apenas quando quiser expressar a sua discordância? Em suma, se o autor descumprir o requisito, existem duas soluções possíveis: (a) o juiz determina a emenda da petição inicial, sob pena de indeferimento; (b) ou considera o silêncio do autor como concordância com a realização da audiência.Na prática, prevalece a segunda alternativa, com a aplicação da instrumentalidade das formas. Tendo em vista que todos têm a obrigação de promover a autocomposição no processo, a omissão sobre o eventual desinteresse na realização da audiência leva a uma presunção de interesse. Assim, caso não se manifeste na petição inicial, reputa-se a concordância tácita do autor com a realização da audiência (sem a necessidade de emenda da inicial). É uma opção do autor afirmar que não tem interesse na audiência, logo, não precisa se manifestar caso tenha interesse.
8. Documentos Indispensáveis: Trata-se da prova documental (ou, ainda, a prova documentada) que deve ser apresentada com a petição inicial, sem a qual não é possível o início do processo e o futuro julgamento de mérito. Portanto, compreende documentos formalmente indispensáveis à apresentação da petição inicial (tais como a procuração, o CPF ou CNPJ da parte autora, o seu comprovante de domicílio, os atos constitutivos da pessoa jurídica autora etc.) e documentos materialmente relevantes para a demonstração dos fundamentos de fato da causa de pedir. Ainda, quando um ou alguns desses documentos indispensáveis ao protocolo da petição inicial estiverem em poder do réu, a parte autora deve requerer a determinação judicial para a sua apresentação.
- Indeferimento da petição inicial e improcedência liminar
O indeferimento da petição inicial obsta liminarmente (no início do processo) o prosseguimento do feito (ou de parte dele, em caso de cumulação de pedidos), extinguindo-o (art. 485, I, do CPC). Caso ocorra o reconhecimento de vício posteriormente a manifestação do réu, a extinção do processo decorrerá de outro fenômeno (art. 485, II a X, do CPC).
O art. 330, do CPC, enumera exaustivamente as hipóteses de indeferimento da petição inicial:
Art. 330. A petição inicial será indeferida quando:
I – for inepta;
II – a parte for manifestamente ilegítima;
III – o autor carecer de interesse processual;
IV – não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321 do CPC.
A primeira hipótese é exemplificada pela própria legislação (CPC):
§1º Considera-se inepta a petição inicial quando:
I – lhe faltar pedido ou causa de pedir;
II – o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido genérico;
III – da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão;
IV – contiver pedidos incompatíveis entre si.
A inépcia, como se percebe, é a insuficiência da petição, gerando uma peça incapaz de concatenar e expor logicamente a demanda. É tipicamente vislumbrada na falta de coerência (ex. Pedidos incompatíveis, a chamada “petição suicida”), a falta de informações essenciais ou de exposições fáticas genéricas.
A ilegitimidade manifesta da parte é outra hipótese de indeferimento. Neste caso o julgador verifica que, através da narrativa inicial, a composição do processo por uma das partes é indevida. A adjetivação “manifesta” aponta a visão de que tal percepção pelo Juiz há de ser isenta de dúvida:
Menciona o art. 330, II, do Novo CPC que a parte deve ser “manifestamente ilegítima”, levando a crer que a mera ilegitimidade não seria o suficiente para o indeferimento. 
A falta de interesse processual também possibilita o indeferimento da peça inicial. A doutrina tende a compor a noção de interesse processual por meio das noções de necessidade, adequação e/ou utilidade. Em termos gerais, há interesse processual sempre que a prestação jurisdicional é necessária à solução do problema (ou seja, não há alternativa), útil ao interessado (potencialmente trará uma benesse material ou imaterial ao autor).
O interesse processual está presente sempre que a parte tenha a necessidade de exercer o direito de ação (e, consequentemente, instaurar o processo) para alcançar o resultado que pretende, relativamente à sua pretensão e, além disso, sempre que aquilo que se pede no processo seja útil sob o aspecto prático (WAMBIER; TALAMINI, 2016, e-book).
Assim, se o indivíduo propõe demanda desnecessária e inútil aos seus interesses, a mesma estará fadada ao indeferimento liminar.
Caso a petição não atenda às prescrições dos arts. 106 e 321, do CPC, também é possível seu indeferimento. O art. 106 trata de formalidades de identificação advogado (endereço profissional, número de inscrição na OAB. O art. 321 diz respeito ao prazo concedido em Juízo para retificação de vícios. Caso a parte permaneça inerte, a petição será indeferida.
Art. 321 CPC. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado.
Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial.
Aspecto recursal e retratação
A decisão interlocutória que indefere parcialmente a petição inicial é recorrível, em primeiro grau, por agravo de instrumento (art. 354, parágrafo único, do CPC).
O recurso cabível contra o indeferimento integral por sentença é a apelação.
A improcedência liminar do pedido é decisão que julga improcedente o pedido autoral no limiar do processo, sem que seja sequer necessária a instauração do contraditório pela citação da parte contrária. É uma técnica que foge do tradicional desenvolvimento processual, abreviando o rito e apresentando uma decisão de mérito quando se fazem presentes elementos suficientes para a definição precoce do provimento jurisdicional.
Como se vê a seguir, são situações em que a jurisprudência é contrária ao pleito do autor ou há evidente óbice meritório (prescrição ou decadência), razão pela qual a movimentação integral da máquina jurisdicional violaria os princípios da economia e da celeridade.
O novo CPC ampliou a possibilidade de o magistrado proceder ao julgamento liminar do pedido, pela sua improcedência, aproximando-nos mais ainda do sistema do common law (direito comum, em tradução livre), adotado em países como os Estados Unidos, o Canadá, o Reino Unido e nas ex-colônias do Império Britânico, apenas para exemplificar, marcado pela valorização dos precedentes jurisprudenciais, como técnica de resolução de conflitos de interesses (MONTENEGRO FILHO, 2016, e-book).
Dispõe a legislação aplicável:
Art. 332 CPC. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar:
I – enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça;
II – acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
III – entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência;
IV – enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.
§1º O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição.
§2º Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença, nos termos do art. 241.
§3º Interposta a apelação, o juiz poderá retratar-se em 5 (cinco) dias.
§4º Se houver retratação, o juiz determinará o prosseguimento do processo, com a citação do réu, e, se não houver retratação, determinará a citação do réu para apresentar contrarrazões, no prazo de 15 (quinze) dias.
Observe-se que o disposto no art. 332, I, do CPC, não exige súmula vinculante. Uma súmula comum do STF ou do STJ, portanto, é capaz de justificar a aplicação da técnica estudada, abreviando o processo e evitando o prolongamento de uma demanda fadada ao fracasso, tendo em vista posição jurisprudencial contrária já firmada sobre a mesma.
Este foi, sem dúvida, um dos mais importantes elementos trazidos a disposição do magistrado na busca da celeridade processual, eliminando a utilização do sistema e o alongamento de processos evidentemente improcedentes.
- Liminares: tutelas de urgência e de evidência.As tutelas jurisdicionais provisórias, como o próprio nome diz, são tutelas jurisdicionais não definitivas, concedidas pelo Poder Judiciário em juízo de cognição sumária, que exigem, necessariamente, confirmação posterior, através de sentença, proferida mediante cognição exauriente.
As tutelas provisórias são o gênero, dos quais derivam duas espécies: (1) tutela provisória de urgência e (2) tutela provisória da evidência. Uma, exige urgência na concessão do Direito. A outra, evidência.
A tutela de urgência exige demonstração de probabilidade do direito e perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo (artigo 300). A tutela da evidência independe de tais requisitos, porque ela é uma tutela “não urgente” (artigo 311). Portanto, uma primeira forma de distingui-las é pensar sempre que uma delas, a de urgência, depende da premência do tempo; já a outra, a da evidência, não.
Começando pelas tutelas de urgência (que são espécie do gênero tutelas provisórias), é preciso dizer que elas ainda são divididas em mais duas (sub) espécies: (1) tutela provisória de urgência antecipada (ou satisfativa, como a doutrina vem denominando) e (2) tutela provisória de urgência cautelar.
Para facilitar, sugiro que façamos a seguinte distinção: as tutelas provisórias antecipadas, asseguram a efetividade do direito material; as cautelares, do direito processual.
Nas tutelas antecipadas, eu preciso demonstrar para o juiz que, além da urgência, o meu direito material estará em risco se eu não obtiver a concessão da medida. Já nas cautelares, eu preciso demonstrar, além da emergência, que a efetividade de um futuro processo estará em risco se eu não obtiver a medida de imediato.
Nas tutelas antecipadas, se eu obtiver a concessão da medida, eu não precisarei de mais nada, além de sua mera confirmação, porque, em si, a tutela antecipada já me satisfaz (e garante o meu direito material).
Um bom exemplo é o pedido de internação para a realização de cirurgia emergencial. Nesse caso, eu preciso que o meu cliente seja internado imediatamente. Uma vez obtida a tutela cautelar, o direito material estará satisfeito, pois o cliente, que já foi internado e operado, sairá do hospital sem desejar nada além do que já obteve — a não ser, a confirmação da tutela, que deverá ser transformada de provisória em definitiva, a fim de evitar que a seguradora de saúde cobre dele os custos da internação e da cirurgia.
Já na tutela cautelar, o risco está na efetividade do processo futuro. Um bom exemplo: sou credora de uma dívida e pretendo ajuizar ação de cobrança contra o devedor. Antes de procurar o advogado que cuidará da ação de cobrança, verifico que o devedor, inadimplente, está vendendo os únicos bens que possui e que garantiriam o pagamento da dívida que pretendo cobrar. Ora, antes mesmo de um juiz vir a reconhecer o meu direito de crédito, preciso tomar alguma medida que garanta a efetividade da sentença que será prolatada na ação de cobrança, porque de nada adiantará vencer a ação de cobrança e não receber nada, por ausência de bens que garantam o pagamento. Proponho, então, uma tutela provisória de urgência cautelar, a fim de tornar indisponível o patrimônio do devedor e, com isso, garantir o futuro pagamento da ação de cobrança que ainda será proposta. Neste caso, a indisponibilidade do patrimônio visa a garantir o processo judicial de cobrança que ainda será ajuizado.
Como se vê, as tutelas cautelares não garantem a si mesmas, estando sempre condicionadas a assegurar o resultado útil de outro processo.
No exemplo que apresentei, verificamos a relação de interdependência entre o pedido cautelar e o pedido principal. De um lado, a tutela cautelar, que torna indisponíveis os bens do devedor, não me vale de nada se for considerada isoladamente (ao contrário da internação e da cirurgia). Porém, de outro lado, tampouco me valerá uma sentença condenatória em ação de cobrança promovida contra um devedor que não tem patrimônio.
Ou seja, as tutelas provisórias antecipadas e cautelares se distinguem pela função que têm no mundo do direito, servindo a propósitos diferenciados: uma, ao direito material, que é satisfeito com a própria concessão da tutela provisória; e outra, ao direito processual.
Por sua vez, as tutelas da evidência não têm uma classificação formalizada em (sub) espécies. Porém, também é possível perceber que a sua concessão (disposta nos quatro incisos do artigo 311 do NCPC), ocorre segundo dois critérios básicos: (1) quando o direito (material) da parte que pleiteia a tutela é evidente, daí o nome e (2) quando uma das partes está manifestamente protelando o processo ou abusando do exercício do direito de defesa, caso em que a tutela da evidência está vinculada não necessariamente à evidência do direito material pleiteado, mas à evidência de que é preciso pôr um fim ao processo.
De algum modo, também aparece, nas tutelas da evidência, a serventia que se faz ora ao direito material, ora ao direito processual (tal como nas cautelares).
Pois bem. Nas tutelas da evidência, eu preciso demonstrar para o juiz que, independentemente da urgência, o meu direito é tão evidente, que o caminho do processo pode ser encurtado. Ou então preciso demonstrar que o meu ex adverso está protelando tanto o processo, que a sua maior punição será adiantá-lo, apressando os atos processuais que ele está tentando retardar. Afinal, a maior sanção para quem obstaculiza o caminho do processo é justamente pegar atalhos que levem mais rápido ao fim da estrada — isto é, à sentença.
Exemplos de tutela da evidência: o autor propõe uma ação para obter a restituição de uma taxa que, em sede de recurso repetitivo, foi reconhecida como devida. Por que o processo deve tramitar segundo os rigores de todos os procedimentos, se já se sabe, de antemão, que o direito material é devido? Antecipa-se a tutela, que é evidente, em razão da tese firmada em recurso repetitivo.
Em outro caso, o réu, litigante habitual do Judiciário, apresenta defesa-padrão fundamentada em jurisprudência ultrapassada e em leis declaradas inconstitucionais, além de não apresentar impugnação específica, contestando pedidos que sequer constam da petição inicial e requerendo a produção de diversas provas. Por que o juiz precisa observar todos os procedimentos processuais e marcar audiência de instrução e julgamento, se, obviamente, a intenção da defesa e dos pedidos de provas representam abuso do réu? Em caráter sancionatório e diante do evidente propósito protelatório, o juiz pode antecipar a tutela.
Por fim, quanto ao momento em que são requeridas, vale dizer que a tutela de urgência pode ser pleiteada em caráter antecedente ou incidente; e a da evidência, apenas incidentalmente. Ou seja, é possível pleitear a tutela de urgência em caráter preparatório ou no curso de um processo que já esteja em andamento.
No exemplo da internação para a realização de cirurgia, o advogado vai fazer a petição inicial com pressa e depois vai aditá-la, não para agregar novos pedidos, como fazemos hoje, mas para melhorar a sua argumentação, que foi elaborada em situação emergencial, e para juntar novos documentos, requerendo, ao final, a confirmação da medida.
No exemplo da cautelar para arresto de bens do devedor, o advogado vai elaborar a sua inicial de tutela de urgência, informando ao juiz o seu caráter assecuratório e, em 30 dias, protocolizará o pedido principal (no caso, o de cobrança).
Caso a urgência ocorra no curso de algum processo, o advogado vai peticionar informando ao juízo a emergência surgida e pleiteando, em caráter incidente, a tutela cautelar.
Na tutela da evidência não existe medida em caráter antecedente, pois, pela sua própria natureza, a pretensão está relacionada com a antecipação da sentença de forma que, desde o início do processo, a pretensão já foi elaborada com fins à obtenção de uma sentença de mérito e sem urgência.
É simples assim.
E se me permitem dizer, muito parecido, em essência, com a lógica dos sistemas processuais anteriores, seja o dos processos cautelares típicos e atípicos, sejao da tutela antecipada do artigo 273 do CPC de 1973.
Espero não ter sido superficial, uma vez que, na tentativa de simplificar, sempre corremos o risco de reduzir demais a complexidade.
Logicamente, haveria muito mais para complicar na análise de tão importantes institutos. Mas, propositalmente, decidi abdicar da tarefa de falar difícil e de ser complicada.
Nessa linha, termino dizendo que simplifiquei porque acredito que existam muito mais processualistas tentando complicar do que descomplicar. Então, a eles cedo este lugar, esperando, honestamente, que tenha sido possível compreender, ao menos, a intenção do legislador processual ao tratar das tutelas provisórias, que, a meu ver, serão muito úteis na vida real como instrumentos de efetivação de direitos.
- Elaboração da contestação e da reconvenção e seus cuidados especiais.
Resposta do réu:
No CPC/15 a incompetência, absoluta ou relativa, será alegada na contestação, conforme art. 340. No CPC/73 a incompetência relativa, tem que ser alegada em um instrumento distinto da contestação. 
Com o NCPC a contestação poderá ser protocolada no foro de domicilio do réu. Outra mudança é em relação à impugnação ao valor da causa, que não será mais em peça distinta, e sim na própria contestação, como preliminar de mérito, conforme o art. 377, III do NCPC. Outra mudança é o correspondente ao requerimento de revogação da justiça gratuita concedida ao autor, diferentemente do que acontece no CPC/73, tem de ser apresentada pelo réu na própria contestação, e não em peça avulsa, conforme NCPC. Art. 377, XIII.
A reconvenção e a contestação são apresentadas concomitantemente, em conformidade com o art. 299, CPC/73, em peças independentes. Uma primordial alternância está nessa observância, uma vez que, no NCPC, art. 343, disciplina que na contestação é lícito ao réu propor reconvenção para manifestar pretensão própria, conexa com ação principal ou com o fundamento da defesa, ou seja, a reconvenção será em regra proposta simultaneamente com a contestação em um só instrumento, porém o réu tem a oportunidade de deixar de oferecer a contestação e ainda assim propor reconvenção, conforme art. 343 § 6 º do NCPC. 
Ademais o termo inicial para contagem do prazo para oferecer contestação passou a ter como regra a audiência de conciliação ou de mediação, ou da última sessão de conciliação, quando qualquer parte não comparecer ou, comparecendo, não houver auto composição. (NCPC art. 335, I)
Requisitos da contestação.
A contestação é a resposta defensiva do réu, representando a forma processual pela qual o réu se insurge contra a pretensão do autor. O termo inicial do prazo de quinze dias da contestação é o tema do art. 335 do novo CPC
Nos termos do inciso I, segundo o autor, “o prazo tem início a partir da audiência de conciliação ou de mediação, ou da última sessão de conciliação, quando qualquer parte não comparecer ou, comparecendo, não houver autocomposição”.
Digno de nota também, como cita o procurador federal Dorgival Viana Júnior, que a lei nº 13.105 dispõe que se houver mais de um réu e estes tiverem procuradores de escritórios de advocacia distintos (requisito novo), o prazo será contado em dobro para processos físicos, ou seja, a regra não é aplicável a processos eletrônicos, uma vez que há disponibilidade dos autos indistintamente a todas as partes.
Oportuno acrescentar ainda que, no que tange a defesa, esta admite algumas possibilidades nominadas como “defesas de admissibilidade”. São, por definição, as matérias suscetíveis de impedir a apreciação do mérito processual.
Didier Júnior (2015, p. 640-649) as classifica em:
Inexistência ou nulidade de citação: trata-se de defesa dilatória, pois o máximo que o réu poderá conseguir com o acolhimento da sua alegação é a renovação do prazo para a apresentação da sua resposta.
Incompetência do juízo, o direito de o réu alegar incompetência no foro do seu domicílio: a incompetência, absoluta ou relativa, será alegada na contestação. Não há mais a diferença que existia ao tempo do CPC/1973, quando a incompetência relativa teria de ser alegada em um instrumento distinto da contestação. O art. 340 determina que, "havendo alegação de incompetência relativa ou absoluta, a contestação poderá ser protocolada no foro de dom icílio do réu, fato que será imediatamente comunicado ao juiz da causa, preferencialmente por meio eletrônico".
Incorreção do valor da causa: na contestação, o réu apresenta a sua impugnação ao valor atribuído à causa pelo autor.
Inépcia da petição inicial: os casos de inépcia da petição inicial devem ser apontados pelo réu, em sua defesa. Como a inépcia se relaciona ao pedido ou à causa de pedir, o silêncio do réu, na defesa, pode levar ao entendimento de que ele conseguiu defender-se do que foi pedido e, assim, não seria mais caso de rejeitar a petição inicial por esse defeito.
Perempção, litispendência e coisa julgada: trata-se [...] de requisitos processuais negativos, pois são fatos que não podem ter ocorrido para que o processo se instaure regularmente.
Conexão e continência: o inciso VIII do art. 337 do CPC determina que cabe ao réu, em sua defesa, alegar conexão. O dispositivo também se aplica à continência, que é espécie de conexão.
Incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização: são todos defeitos relacionados à capacidade processual (capacidade para estar em juízo).
Alegação de convenção de arbitragem: Na contestação, cabe ao réu o ônus de alegar a existência de convenção de arbitragem (art. 337, X, CPC). A existência de convenção de arbitragem (cláusula compromissória ou compromisso arbitral) é fato jurídico que o ó rgão jurisdicional não pode conhecer de ofício (art.337, §5º, CPC). A ausência de alegação de convenção de arbitragem pelo réu, na contestação, será considerada como aceitação da jurisdição estatal e consequente renúncia ao juízo arbitral.
Ausência de legitimidade ou de interesse processual: o inciso XII do art.337 do CPC permite que o réu alegue ilegitimidade ou falta de interesse processual.
Falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar: o inciso XII do art. 337 autoriza que o réu alegue, na contestação, a falta de caução ou de outra prestação que a lei exigir como preliminar. São exemplos de deste tipo de defesa: não pagamento de honorários advocatícios de processo extinto sem resolução do mérito, quando o autor intente a mesma ação (art. 486, §2º, CPC); e não pagamento das custas processuais (art. 290, CPC).
Indevida concessão do benefício da gratuidade concedido ao autor: diferentemente do que acontecia ao tempo do CPC/1973, o requerimento de revogação da justiça gratuita concedida ao autor tem de ser apresentado pelo réu na própria contestação, e não em peça avulsa - inciso XIII do art. 337.
Necessário salientar que existem defesas que têm de ser alegadas fora da contestação e que podem ser alegadas depois da contestação. Sobre tal tema o próprio Didier Júnior preleciona que “há, no entanto, defesas que a própria lei impõe sejam alegadas em peça distinta da contestação”, a exemplo da arguição de impedimento ou suspeição do juiz, membro do Ministério Público ou auxiliar da justiça (DIDIER JR., 2015, pág. 649).
Há também defesas que, segundo o jurista, podem ser alegadas após a apresentação da contestação, com base no art. 342 do CPC. São estas as que se refiram a direito ou a fato superveniente; as objeções (se se trata de matéria que o magistrado possa conhecer ex officio, não haverá preclusão decorrente da não dedução dela na peça principal de defesa); e as matérias que, por força de lei, podem ser deduzidas a qualquer tempo (art. 342, III, CPC).
Por fim faz-se necessário lembrar que os requisitos da contestação são semelhantes aos da petição inicial.
Os requisitos da contestação são semelhantes aos da petição inicial: nome e prenome das partes (qualificação não é necessária, se corretamente já feita na inicial); o endereçamento ao juízo da causa; documentos indispensáveis; requerimento de provas; dedução dos fatos e fundamentosjurídicos da defesa. A contestação deve vir em forma escrita, excepcionada as hipóteses da contestação nos Juizados Especiais Cíveis, que pode ser feita pela forma oral. (DIDIER JR, 2015, p. 655).
- A Reconvenção
A reconvenção tem natureza de ação, razão pela qual o caput do art. 343 do CPC utiliza o verbo propor: “Na contestação, é lícito ao réu propor reconvenção para manifestar pretensão própria, conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa”.
O prazo para o réu apresentar a reconvenção é o mesmo da contestação, ou seja, de 15 dias úteis (art. 335).
Ao contrário da contestação, que é um ato processual informal, a reconvenção contém 5 requisitos: (a) a observância dos requisitos formais da petição inicial (arts. 319/320 do CPC); (b) a apresentação na mesma petição da contestação, logo, também deve ser observado o mesmo prazo desta; (c) a existência de competência do juízo da petição inicial para processar e julgar a reconvenção; (d) a compatibilidade entre os procedimentos da petição inicial e da reconvenção; (e) e a existência de conexão com a petição inicial ou com a contestação.
Apesar de ser proposta na mesma petição da contestação (e de sua relação de dependência com os pedidos do autor), a reconvenção possui autonomia. Nesse sentido, o § 2º do art. 343 dispõe que “a desistência da ação ou a ocorrência de causa extintiva que impeça o exame de seu mérito não obsta ao prosseguimento do processo quanto à reconvenção”. Logo, a reconvenção é desvinculada do resultado da ação, portanto, a extinção sem resolução do mérito do pedido inicial faz com que a reconvenção prossiga, para ser julgada. Se a reconvenção fosse simples matéria de defesa, ou pedido contraposto, a extinção sem mérito do pedido inicial levaria à extinção da reconvenção sem resolução do mérito.
Por isso, a contestação e a reconvenção são independentes entre si, ou seja, o réu pode contestar sem reconvir e reconvir sem contestar.
O réu pode limitar a sua defesa à apresentação da reconvenção (art. 343, § 6º, do CPC), em virtude da autonomia que possui em relação à contestação. Assim, quando for conexa com a petição inicial, a reconvenção pode ser proposta independentemente de contestação. Quando for conexa com a contestação, evidentemente a reconvenção só pode ser apresentada com a própria contestação.
Ademais, a ausência de contestação leva à revelia do réu. A apresentação da reconvenção pode apenas mitigar ou afastar parcialmente os efeitos da revelia.
Admite-se a ampliação subjetiva do processo pela reconvenção, que pode: (a) ser proposta pelo réu contra o autor e um terceiro, (b) ou ser proposta pelo réu e um terceiro contra o autor; (c) ou ser proposta pelo réu e um terceiro contra o autor e outro terceiro (art. 343, §§ 3º e 4º, do CPC).
Apresentada a reconvenção pelo réu, o autor-reconvindo deve ser intimado (e não citado), por meio de seu advogado já constituído no processo, para apresentar resposta no prazo de 15 dias (art. 343, § 1º, do CPC).
Quando for o caso de oferecimento de réplica à contestação do réu, o autor pode apresentar na mesma peça a réplica e a resposta à reconvenção.
Portanto, o autor passa a ser o réu nessa nova demanda existente entre reconvinte e reconvindo e, da mesma forma que o réu, ao responder a petição inicial, também pode apresentar: (a) a contestação à reconvenção; (b) e a reconvenção da reconvenção.
Apesar da autonomia entre ambas, em regra a petição inicial e a reconvenção devem ser julgadas na mesma sentença.
Quando ocorrer o julgamento antecipado de uma delas, o pronunciamento judicial será uma decisão interlocutória, porque não encerrará totalmente a fase de conhecimento do processo. De acordo com o seu conteúdo, essa decisão pode ser recorrível por meio de agravo de instrumento (por exemplo, quando decidir o mérito do pedido – art. 1.015, II, do CPC), ou apenas por meio da apelação, após ser proferida a sentença (art. 1.009, § 1º).
Exposição de casos concretos para melhor visualização da teoria com a prática.
3) A diferença entre as diversas naturezas de processo na perspectiva do cliente e o papel do advogado na satisfação desta perspectiva 
SITUAÇÃO PRÁTICA EXPERIMENTAL
Depois de meses e meses de espera, finalmente, o recurso foi finalmente pautado para julgamento. A corrida de obstáculos havia terminado depois de meses, incluindo visitas a Desembargadores mais concorridas que ingressos para uma final de Libertadores, horas de “chá de cadeira” para pensar na vida e fazer “networking” com os colegas na antessala, distribuição de memoriais e pareceres que tinham boa chance de virar papel de rascunho antes mesmo de serem lidos.
O advogado chegou cedo ao Tribunal. Como o recurso não comportava sustentação oral e estava em lista, pediu preferência, destaque e se preparou para eventual intervenção. Após saudações longas e formais ao novo integrante do colegiado, algumas sustentações orais lidas da tribuna, debates intermináveis sobre o direito de voto do novo componente, nada de seu caso ser apregoado. 
Quando a sala de sessões já estava se esvaziando, o caso foi chamado. Ouviu-se apenas a voz do Presidente: “Agravo na Apelação um milhão cento e noventa e nove de 2001. A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso”.
Esse foi o caso? Como assim, a Turma por unanimidade negou provimento? Nenhuma discussão. Que sessão de julgamento foi essa? Ele queria ter tido ao menos cinco minutos para apontar uma questão de ordem da tribuna.
O caso é fictício, mas resume e espelha a experiência diária dos advogados nos tribunais, reflexo de rotinas criadas pelas cortes para julgar milhões de processos que lhe são submetidos — e que implicam grave ofensa à ampla defesa e às prerrogativas dos advogados.
I
Apesar de mais de 80% dos candidatos não obterem nota mínima nos exames da OAB, estudo repercutido por jornais do meio jurídico estima que o Brasil tem hoje mais de cem mil escritórios de advocacia e mais de um milhão e duzentos mil de advogados. O IBGE projeta a população do país em pouco menos de 210 milhões de habitantes; praticamente 0,5% da população brasileira será composta por advogados. Isso significa a existência de um advogado para cada 174 brasileiros. Levando-se em conta que 27% da população brasileira tem menos de 18 anos, sobram 76 pessoas para cada advogado. Ou seja, o mercado está completamente saturado em relação ao número de advogados no país.
E isso se traduz nesse cenário: 30% dos escritórios abertos nos últimos 10 anos já fecharam. Os motivos principais são a falta de clientes e a competitividade por preço.
Está claro que ser um bom profissional não é mais garantia de sucesso. O advogado precisa aprender sobre negócios e se posicionar como um empreendedor.
Dentro das regras da OAB, o advogado precisa aprender como captar clientes de forma ativa e precisa se posicionar como uma autoridade na profissão, gerando conteúdo qualificado, distribuído através de artigos e redes sociais.
Os escritórios de advocacia precisam ser vistos como empresas. E fazer gestão de pessoas, aprender sobre marketing digital, incorporar o espírito empreendedor e entender como ser mais produtivo é essencial.
A saturação do mercado, associada à prática do “copia e cola” de teses, permite que advogados mal qualificados prestem serviços em praticamente qualquer ramo do Direito, com conhecimento precário do que discutem.
Os advogados públicos ou privados, assim como as partes, ainda carregam a mentalidade de recorrer sempre, na esperança de reverter resultados desfavoráveis mesmo quando a jurisprudência é absolutamente contrária ao que defendem. Os próprios tribunais estimulam esse comportamento quando reformam entendimentos jurisprudenciais pacíficos. Um Judiciário engessado não convém a ninguém, mas tampouco é razoável a revisão de posicionamentos sólidos a cada julgamento. Isso cria insegurança jurídica.
O volume de ações judiciais e processos administrativos é assustador. A legislação impõe limitações técnicas, processuais, para diminuir o número de ações, recursos e duraçãodos feitos, como os requisitos para admissibilidade dos recursos especial e extraordinário. Com frequência esses filtros tornam-se ainda mais rigorosos em razão da maneira como são aplicados pelos tribunais — é a chamada jurisprudência defensiva.
Referidas limitações não representam empecilho à advocacia; são exigências de precisão técnica e empenho intelectual por parte dos advogados, que, por sua vez, têm a obrigação legal, intelectual e moral de não patrocinar causas temerárias, nem interpor recursos meramente procrastinatórios.
Todavia, com frequência cada vez maior magistrados e autoridades públicas criam ainda outras limitações. Invocando o invencível volume de processos e a escassez de tempo, recusam-se a receber os advogados em seus gabinetes e salas. Além de expressamente vedada pela legislação (Estatuto da OAB, artigo 7º, VIII) e pelo próprio Conselho Nacional da Justiça (CNJ – v.g., no Pedido de Providências nº 1465), essa postura ofende os advogados e o direito de ampla defesa assegurado pela Constituição Federal.
A alegação de que receber os advogados comprometeria a execução dos trabalhos não convence e não procede. É exatamente o contrário. Conforme a Constituição e o Estatuto da OAB, os advogados prestam serviço púbico e são indispensáveis à Justiça. Quando batem à porta dos magistrados e autoridades, procuram facilitar a compreensão dos fatos e do direito, chamar atenção para pontos relevantes, enfim, auxiliar na tomada de decisões.
Curioso, de resto, o fato de alguns julgadores e autoridades manterem agenda acessível a advogados e conseguirem atingir metas elevadas de produtividade, enquanto outros fecham suas agendas e continuam acumulando processos em seus escaninhos e prateleiras físicas ou eletrônicas.
Os advogados precisam ser ouvidos, sempre. Os que se valerem dessa prerrogativa para desvios de conduta devem receber as sanções cabíveis.
II
Diversos órgãos do Judiciário vêm impondo outra importante limitação ao pleno exercício da advocacia e à ampla defesa: as inúmeras decisões monocráticas que são referendadas por julgamentos colegiados de recursos em listas, em blocos, sem qualquer debate ou oportunidade de defesa, como ilustrado no caso fictício no início deste texto.
Amparados nas alterações legislativas que ampliaram os poderes dos relatores de processos nos órgãos colegiados, muitos magistrados julgam recursos (agravos de instrumento, apelações, recursos especiais, recursos extraordinários, reclamações) por decisão singular. A agilidade e o menor formalismo na solução da demanda poderiam ser louváveis. Entretanto, é preciso admitir que essas decisões sejam equivocadas, caso em que são então objeto de agravos internos, legais ou regimentais, que, conforme o regime aplicável, não permitem aos advogados a realização de sustentação oral nas sessões de julgamento, o que seria possível se o recurso original fosse a julgamento no órgão colegiado. A defesa da parte resta prejudicada.
Não param aí as limitações. Em vários desses colegiados, os agravos não são pautados; são levados em mesa, nos termos dos regimentos dos tribunais. Em outros, são colocados em listas de processos (ou blocos, planilhas), que por vezes são publicadas nas páginas dos tribunais na internet minutos antes das sessões de julgamento, ou nem isso. Em muitas ocasiões os advogados não ficam sabendo que seus recursos serão, ou foram, julgados. Isso impede a simples distribuição de memoriais. Pior ainda a situação dos advogados que não residem na cidade em que ocorrem os julgamentos – como chegar a tempo?
Ao fim e ao cabo, esse procedimento impede a advocacia plena e fere o princípio da colegialidade, um dos pilares da segurança jurídica esperada do Judiciário, que tem por obrigação rever as decisões inaugurais por um conjunto de juízes.
Há quem sustente que, não sendo permitidas as sustentações orais nos agravos internos, legais e regimentais, não haveria oportunidade para o advogado intervir e, assim, desnecessário acompanhar o julgamento. Absurdo. Além de ser direito dos advogados e das partes acompanhar o julgamento de seus processos, os patronos podem usar a tribuna para apontar questões de ordem ou de fato, nos termos da lei, exercendo seu papel constitucional de auxiliar indispensável da Justiça.
III
Na atuação contra a Fazenda Pública, os advogados sofrem com a fixação desarrazoada de honorários sucumbenciais.
Com efeito, ao longo dos últimos anos, a jurisprudência nacional caminhou no sentido de ampliar o poder dos magistrados de arbitrar os honorários devidos ao vencedor da disputa. Reduções exageradas são vistas diariamente, em desrespeito aos advogados, que não raras vezes atuam durante 10 ou 15 anos em ações de vulto econômico-financeiro, para ao final ver seus honorários de êxito fixados em valores claramente desproporcionais ao trabalho e tempo investidos.
Enquanto isso, a simples inscrição em dívida ativa de créditos da Fazenda Nacional, por exemplo, gera em benefício daquele ente sucumbência automática de 10%, dobrada para 20% se houver propositura de execução judicial.
Quando a defesa do executado nessas execuções obtém êxito e com isso desconstitui judicialmente o título executivo, o advogado não recebe os mesmos 20%; sequer os 10%, sendo comum e rotineiro o arbitramento de honorários irrisórios, geralmente em valores fixos que não excedem cinco ou mesmo dois mil reais.
O legislador, atento a essa aberração, ao editar o novo Código de Processo Civil criou tabela regressiva com percentuais mínimos e máximos para fixação dos honorários devidos pela Fazenda Pública, reduzindo significativamente o subjetivismo autorizado pelo Código Processual de 1973.
Espera-se que a aplicação do novo dispositivo legal pelo Judiciário respeite o espírito com que foi criado, o que poderá ter o efeito adicional, bem-vindo, de dissuadir as Fazendas Públicas do ajuizamento de execuções fiscais descabidas.
IV
O invencível volume de ações judiciais e processos administrativos é fato. Alterações legislativas, ampliação dos quadros de magistrados e servidores públicos, novos procedimentos e rotinas são algumas das medidas levadas a efeito, mas não indicam solução eficaz no curto prazo, nem mesmo a redução expressiva dessa massa. Todos que atuam em contencioso devem colaborar para o aprimoramento dessa importante atividade. Contudo, a existência de milhões de ações e processos não pode justificar nem permitir que os direitos das partes e seus advogados sejam violados, como infelizmente vem acontecendo. Cabe ao Judiciário e à Administração Pública respeitar os advogados e suas prerrogativas; aos advogados e à OAB trabalhar com técnica, ética e firmeza.
Dentro dessa noção, cabe ao advogado também entender seu papel no contexto processual atual.
Sobejantes os argumentos teóricos e históricos, sobressaem também argumentos de índole ético-jurídico-normativa relativos às diretrizes impostas ao agir da advocacia. A natureza contramajoritária de defesa, muitas vezes confirmada na história, confluiu para a criação de uma consciência ética comum à advocacia, de que fazem parte os imperativos de valentia indômita e defesa incondicional dos direitos franqueados pelo Estado democrático, dos direitos das minorias, dos oprimidos e dos desvalidos. Por toda parte onde haja pressupostos e garantias para seu exercício, a advocacia é regida por padrões éticos que sublinham esses valores, de um modo ou de outro, no âmbito de uma moral profissional ou de uma legislação voltada à classe. Em linhas gerais, essa ética republicana compele o advogado ou a advogada a dedicar-se à causa sem temer a antipatia que ela gera, a adversidade da situação ou a opinião pública. Oportuna é a célebre frase de Sobral Pinto: "a advocacia não é profissão para covardes".
Diplomas constitucionais, legais e infralegais se encarregam de fixar a advocacia em uma posição essencialmente contramajoritária, em função de portar a dimensão de ser indispensável à administração da Justiça. Nesse tom dispõe o direito constitucional brasileiro: "Art. 133.O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei". Tão indispensável é a advocacia para a ordem pública que a "Constituição Cidadã" de 1988 lhe dedicou uma seção especial (seção III – Da Advocacia) dentro do capítulo das "Funções Essenciais à Justiça" (Capítulo IV). Há uma série de outras referências à advocacia dispersas pelo texto constitucional.2 A essencialidade da advocacia para o direito de defesa está consagrada no art. 5º, sendo garantia fundamental do cidadão o direito inalienável de, ao ser submetido a prisão, falar diretamente com seu advogado, direito consectário da garantia de ampla defesa: "LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado".
Grande evidência do protagonismo concedido pela Constituição em prol da advocacia na promoção do Estado democrático de direito é a possibilidade de propor ações do controle concentrado de constitucionalidade (ação direta de inconstitucionalidade, ação direta de inconstitucionalidade por omissão, ação declaratória de constitucionalidade, arguição por descumprimento de preceito fundamental) concedida ao Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (art. 103, VII). Com isso, o órgão máximo de representação da advocacia é positivamente reconhecido como um agente central para a defesa da ordem constitucional e dos direitos fundamentais.
Tal "ideologia democrática jusgarantista" se espraiou pela legislação que regulamenta os princípios que dão conformidade ao "espírito constitucional" de um Estado democrático de direito. As leis e resoluções sublegais que regem a advocacia, logo, não ficaram imunes a essa influência; muito pelo contrário, detectamos a prevalência iterativa de uma visão contramajoritária no Estatuto da Advocacia e da OAB (EAOAB, lei 8.906/94) e no Código de Ética e Disciplina da OAB (CED, Resolução 02/15). Dentre os preceitos que indicam essa tendência, vale citar:
a) Indispensabilidade da advocacia para a administração da Justiça no Estado democrático de direito. Em cumprimento ao disposto no art. 133 da Constituição, o EAOAB preceitua: "Art. 2º: O advogado é indispensável à administração da justiça. § 1º No seu ministério privado, o advogado presta serviço público e exerce função social. § 2º No processo judicial, o advogado contribui, na postulação de decisão favorável ao seu constituinte, ao convencimento do julgador, e seus atos constituem múnus público. § 3º No exercício da profissão, o advogado é inviolável por seus atos e manifestações, nos limites desta lei".
Esse item reúne as características essenciais da advocacia: indispensabilidade, inviolabilidade, função social e independência. Um dos artigos inaugurais do Estatuto, ratifica os princípios constitucionais da indispensabilidade e da inviolabilidade da advocacia, incorporando elementos idênticos à redação constitucional. Coloca em evidência o encargo, a função pública da advocacia. O advogado realiza função social quando concretiza a aplicação do direito, obtém a prestação jurisdicional e participa da construção da justiça social. Cabe frisar que a indispensabilidade é uma garantia da parte, e não do profissional. Em virtude do princípio da igualdade, que se materializa no direito processual através do princípio da paridade de armas, é preciso que a parte tenha seus interesses representados por um profissional tecnicamente capacitado, munido de conhecimento jurídico e experiência forense. Tendo em vista essa perspectiva, "(...) a atividade judicial do advogado não visa, apenas ou primariamente, à satisfação de interesses privados, mas à realização da justiça, finalidade última de todo processo litigioso". 
Decorre desse princípio a subordinação funcional da advocacia à disciplina da classe, que jaz vinculada à observância de princípios éticos profissionais de "zelo, probidade, dedicação e espírito cívico". Acima do interesse privado está o serviço à Justiça, e o escopo de realização da Justiça é, por seu turno, um interesse social. A advocacia detém a capacidade postulatória desencadeadora da atuação jurisdicional (nemo iudex sine actore – reza o famoso brocardo romano), de tal sorte que funciona como intermediária entre a parte e o juiz e, no limite, entre o cidadão e o Estado, ao emprestar ao cliente o conhecimento necessário para defender-se e triunfar na demanda. Nesse sentido manifestou-se de modo lapidar o Ministro Celso de Mello: "O Poder Judiciário não pode permitir que se cale a voz do Advogado, cuja atuação, livre e independente, há de ser permanentemente assegurada pelos juízes e pelos Tribunais, sob pena de subversão das franquias democráticas e de aniquilação dos direitos do cidadão". 
b) Função político-institucional da Ordem dos Advogados do Brasil, em razão do múnus público exercido pela advocacia. Considerada sua indispensabilidade para a ordem jurídica, a corporação oficial de representação da advocacia – a OAB – é revestida de função político-institucional, na medida em que cuida de disciplinar e fiscalizar uma atividade incontestavelmente pública: a advocacia. 
Acerca dos fins da organização, disciplina o EAOAB: "Art. 44: A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), serviço público, dotada de personalidade jurídica e forma federativa, tem por finalidade: I - defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado democrático de direito, os direitos humanos, a justiça social, e pugnar pela boa aplicação das leis, pela rápida administração da justiça e pelo aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas; II - promover, com exclusividade, a representação, a defesa, a seleção e a disciplina dos advogados em toda a República Federativa do Brasil. § 1º A OAB não mantém com órgãos da Administração Pública qualquer vínculo funcional ou hierárquico".
Daí se depreende a finalidade pública e institucional da Ordem na esfera política. Concerne à OAB combater o desvirtuamento dos parâmetros do Estado democrático de direito, dos direitos humanos e da justiça social, de modo a contribuir para a melhoria das instituições. Por isso se prevê em seu favor total desvinculação da política partidária e da estrutura administrativa do Estado. A independência é a própria essência da OAB; é condição de possibilidade de seu trabalho em defesa da Constituição, pelo qual a Entidade pode mobilizar a própria advocacia e a sociedade civil na vigilância e na denúncia de violações dos princípios constitucionais, ajuizando, inclusive, ações constitucionais diretamente propostas ao STF, hipótese em que exercerá com mais vigor e amplitude sua função contramajoritária.
c) Independência absoluta da advocacia em suas atribuições de defensora do cidadão. Sendo a OAB independente e desvinculada de subordinação, com a mesma razão o são a advogada ou o advogado que atuam em determinada causa. Nem a típica hierarquia da relação de emprego nem o liame das relações de prestação de serviço são suficientes para proscrever essa independência. Conforme o EAOAB: "Art. 18. A relação de emprego, na qualidade de advogado, não retira a isenção técnica nem reduz a independência profissional inerentes à advocacia". De mesma inclinação é o CED: "Art. 4º: O advogado, ainda que vinculado ao cliente ou constituinte, mediante relação empregatícia ou por contrato de prestação permanente de serviços, ou como integrante de departamento jurídico, ou de órgão de assessoria jurídica, público ou privado, deve zelar pela sua liberdade e independência".
A orientação técnica da causa é de inteira competência do advogado ou da advogada a que ela foi confiada. Mesmo na condição de empregado, continua sujeito aos ditames éticos que regem a profissão, exigindo-se-lhe a recusa às ordens que contrariem os preceitos éticos estampados no EAOAB e no CED. Negligenciado o dever de independência, a prática da função contramajoritária que cabe à advocacia restará de todo impossível.
d) Previsão de prerrogativas profissionais que convergempara a promoção dos direitos de cidadania. O Estado democrático invoca uma série de direitos, exercitáveis na condição de prerrogativas profissionais, que são, em última análise, direitos de todos os cidadãos envolvidos na prestação da Justiça. Para assegurar a igualdade processual, o Estatuto adverte: "Art. 6º: Não há hierarquia nem subordinação entre advogados, magistrados e membros do Ministério Público, devendo todos tratar-se com consideração e respeito recíprocos. Parágrafo único. As autoridades, os servidores públicos e os serventuários da justiça devem dispensar ao advogado, no exercício da profissão, tratamento compatível com a dignidade da advocacia e condições adequadas a seu desempenho". Qualquer desatenção à paridade de armas pode comprometer enormemente os direitos constitucionais do cidadão.
O mesmo diploma legal prevê, ainda, uma série de prerrogativas profissionais relativas à natureza contramajoritária da advocacia, dentre as quais podemos sublinhar: "Art. 7º: São direitos do advogado: (...) X - usar da palavra, pela ordem, em qualquer juízo ou tribunal, mediante intervenção sumária, para esclarecer equívoco ou dúvida surgida em relação a fatos, documentos ou afirmações que influam no julgamento, bem como para replicar acusação ou censura que lhe forem feitas; XI - reclamar, verbalmente ou por escrito, perante qualquer juízo, tribunal ou autoridade, contra a inobservância de preceito de lei, regulamento ou regimento; XII - falar, sentado ou em pé, em juízo, tribunal ou órgão de deliberação coletiva da Administração Pública ou do Poder Legislativo; (...) § 2º O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação ou desacato puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos excessos que cometer".
As prerrogativas criam um muro de proteção da advocacia com relação à força potencialmente subjugadora do Poder Público. Por isso são um direito exclusivo e indispensável, um direito-dever plasmado no interesse social. A inviolabilidade de matriz constitucional, reforçada pela legislação, confere à advocacia imunidade profissional por manifestações, palavras e atos que possam ser ofensivos a autoridades públicas ou quaisquer pessoas. Nos dizeres percucientes de José Roberto Batochio, ex-Presidente do Conselho Federal da OAB: "... a natureza eminentemente conflitiva da atividade do advogado frequentemente o coloca diante de situações que o obrigam a expender argumentos à primeira vista ofensivos, ou eventualmente adotar conduta insurgente". A imunidade guarda coerência com o princípio da igualdade dos participantes na prestação jurisdicional; resguarda a liberdade de expressão, o sigilo profissional e os meios de trabalho. As prerrogativas que brotam da imunidade, nunca é demais ressaltar, não foram introduzidas em prol do interesse particular do cliente ou tampouco do seu patrono, antes a serviço do interesse público pressuposto pelo direito de defesa.
A liberdade de palavra da advocacia, por sua vez, é seu meio de atuação profissional por excelência. É por meio da palavra – escrita ou oral – que a advocacia contribui para o esclarecimento dos fatos e dos direitos e para a formação da convicção dos julgadores, sempre intervindo em prol dos interesses juridicamente legítimos das partes. Isso pode ser feito via sustentação oral, intervenções sumárias, reclamações contra inobservância de preceito de lei, e uso do direito de acesso à justiça e de peticionar nos autos. Isenta de liberdade para usar a palavra conforme sua consciência, a atuação contramajoritária da advocacia em defesa dos direitos torna-se impraticável.
e) Sistematização de um Código de Ética para a advocacia, o qual impõe deveres éticos de conduta à classe. O Estatuto prevê que o disciplinamento ético da advocacia será aprofundado por um Código de Ética e Disciplina a ser elaborado pela própria categoria: "Art. 33. O advogado obriga-se a cumprir rigorosamente os deveres consignados no Código de Ética e Disciplina. Parágrafo único. O Código de Ética e Disciplina regula os deveres do advogado para com a comunidade, o cliente, o outro profissional e, ainda, a publicidade, a recusa do patrocínio, o dever de assistência jurídica, o dever geral de urbanidade e os respectivos procedimentos disciplinares". Sem prejuízo dessa delegação, o EAOAB prescreve os cânones norteadores dessa empreitada, reforçando os imperativos de dignidade e independência: "Art. 31: O advogado deve proceder de forma que o torne merecedor de respeito e que contribua para o prestígio da classe e da advocacia. § 1º O advogado, no exercício da profissão, deve manter independência em qualquer circunstância. § 2º Nenhum receio de desagradar a magistrado ou a qualquer autoridade, nem de incorrer em impopularidade, deve deter o advogado no exercício da profissão".
Ética, cuja origem etimológica remonta ao grego ethos, significa, nessa pontual acepção, costume. Normas éticas são destarte diretrizes de conduta que obrigatoriamente deverão presidir a postura do profissional. Os deveres insculpidos no CED não são meramente normas de bom comportamento: conquanto tenham evidente conteúdo ético, perfazem-se como normas jurídicas dotadas de obrigatoriedade e cujo descumprimento acarreta sanções jurídicas disciplinares. Toda a vivência da advocacia está atravessada por rígidos padrões éticos, por "lugares-comuns objetivamente captados nas condutas qualificadas como corretas, adequadas ou exemplares". O Preâmbulo do CED antevê uma síntese dos mais elementares imperativos éticos da conduta da advocacia. É uma sinopse principiológica do próprio Código, de caráter propedêutico e pedagógico com relação ao texto vindouro e à conduta ética prescrita, e que exorta a classe ao seu cumprimento. Vale transcrevê-lo ipsis litteris:
O CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL, ao instituir o Código de Ética e Disciplina, norteou-se por princípios que formam a consciência profissional do advogado e representam imperativos de sua conduta, os quais se traduzem nos seguintes mandamentos: lutar sem receio pelo primado da Justiça; pugnar pelo cumprimento da Constituição e pelo respeito à Lei, fazendo com que o ordenamento jurídico seja interpretado com retidão, em perfeita sintonia com os fins sociais a que se dirige e as exigências do bem comum; ser fiel à verdade para poder servir à Justiça como um de seus elementos essenciais; proceder com lealdade e boa-fé em suas relações profissionais e em todos os atos do seu ofício; empenhar-se na defesa das causas confiadas ao seu patrocínio, dando ao constituinte o amparo do Direito, e proporcionando-lhe a realização prática de seus legítimos interesses; comportar-se, nesse mister, com independência e altivez, defendendo com o mesmo denodo humildes e poderosos; exercer a advocacia com o indispensável senso profissional, mas também com desprendimento, jamais permitindo que o anseio de ganho material sobreleve a finalidade social do seu trabalho; aprimorar-se no culto dos princípios éticos e no domínio da ciência jurídica, de modo a tornar-se merecedor da confiança do cliente e da sociedade como um todo, pelos atributos intelectuais e pela probidade pessoal; agir, em suma, com a dignidade e a correção dos profissionais que honram e engrandecem a sua classe.
f) Estabelecimento de deveres jurídicos que regulam a conduta da advocacia. Os deveres jurídicos prenunciados pelo Preâmbulo são detalhados ao longo do CED. Os seguintes dizem respeito diretamente à natureza contramajoritária da advocacia: "Art. 2º: O advogado, indispensável à administração da Justiça, é defensor do Estado Democrático de Direito, dos direitos humanos e garantias fundamentais, da cidadania, da moralidade, da Justiça e da paz social, cumprindo-lhe exercer o seu ministério em consonância com a sua elevada função pública e com os valores que lhe são inerentes. Parágrafo único. São deveres do advogado: I - preservar, em sua conduta, a honra, a nobrezae a dignidade da profissão, zelando pelo caráter de essencialidade e indispensabilidade da advocacia; II - atuar com destemor, independência, honestidade, decoro, veracidade, lealdade, dignidade e boa-fé; (...) V - contribuir para o aprimoramento das instituições, do Direito e das leis; (...) IX - pugnar pela solução dos problemas da cidadania e pela efetivação dos direitos individuais, coletivos e difusos; X - adotar conduta consentânea com o papel de elemento indispensável à administração da Justiça; (...)."
O CED estatui deveres que o profissional tem consigo mesmo, com seus colegas de profissão, sua corporação e a comunidade em geral. O principal dever pessoal do advogado ou da advogada é ter consciência de que sua profissão é muito mais do que um simples meio de subsistência, mas parte indispensável do sistema de Justiça, razão pela qual a Constituição atribui sobressaltada função pública à advocacia, bem como inviolável compromisso com a cidadania e com o ordenamento jurídico, acima de qualquer compromisso corporativo.
g) Dever da advocacia de lutar pela promoção da igualdade. Entre os mais elevados mandamentos da advocacia está seu dever de pugnar pelo princípio constitucional da igualdade, princípio que o CED fez questão de enfatizar: "Art. 3º: O advogado deve ter consciência de que o Direito é um meio de mitigar as desigualdades para o encontro de soluções justas e que a lei é um instrumento para garantir a igualdade de todos".
A promoção da igualdade é finalidade institucional de primeira grandeza atribuída à Ordem. Deixa-se aí subentender uma exata compreensão do Direito como "meio destinado a assegurar a isonomia jurídica e a igualdade social". Esse artigo convida a advocacia a integrar a labuta pela concretização do Preâmbulo da Constituição. Se a igualdade é um elemento comum a toda concepção de justiça, lutar pela Justiça – missão vital da advocacia – necessariamente passa pela luta por igualdade. Impende aos advogados a desafiadora tarefa de concorrer para o pleno alcance da justiça social, rumo à redução das desigualdades sociais e regionais, como decreta o art. 3º da Constituição. 
h) Estabelecimento de padrões éticos para a defesa criminal. A defesa criminal consiste, em certo aspecto, em situação excepcional dentro da advocacia. O Código de Ética com razão preceitua: "Art. 23: É direito e dever do advogado assumir a defesa criminal, sem considerar sua própria opinião sobre a culpa do acusado. Parágrafo único. Não há causa criminal indigna de defesa, cumprindo ao advogado agir, como defensor, no sentido de que a todos seja concedido tratamento condizente com a dignidade da pessoa humana, sob a égide das garantias constitucionais".
No que tange aos processos criminais, recomenda-se que o advogado não prejulgue o cliente nem projete juízos moralistas sobre o suposto crime cometido. Não se advoga pelo crime, e sim pela observância dos direitos e garantias fundamentais do infrator, o que também significa o respeito à efetividade da ordem jurídica. Quando atua em juízo criminal, a advocacia nem de longe é conivente com os erros que possam ter sido efetuados pelo acusado, pois age com o escopo de evitar o desmantelamento do sistema de direitos e garantias processuais, sem o qual não há fidelidade ao Estado democrático de direito. A questão foi posta com a maior acurácia concebível por Rui Barbosa, em celebrada e irretocável carta endereçada a Evaristo de Morais. A isto pouco se tem a acrescentar: Para aceitar a causa, não é preciso que o advogado creia na inocência do acusado. Basta que ele se proponha fazer com que este seja julgado segundo o devido processo legal e goze de todo o amparo a que a sua liberdade faça jus. E, mesmo sem a convicção de sua inocência, não estará impedido de postular-lhe a absolvição (...). A defesa não quer o panegírico da culpa, ou do culpado. Sua função consiste em ser, ao lado do acusado, inocente, ou criminoso, a voz dos seus direitos legais. Eis por que, seja quem for o acusado, e por mais horrenda que seja a acusação, o patrocínio do advogado, assim entendido e exercido assim, terá foros de meritório, e se recomendará como útil à sociedade.]
i) Destaque à função promotora dos direitos humanos outorgada à advocacia e à OAB. Logo no inciso I do supracitado art. 44, que trata das finalidades gerais da OAB, lê-se que compete à Entidade: "I - defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado democrático de direito, os direitos humanos, a justiça social, e pugnar pela boa aplicação das leis, pela rápida administração da justiça e pelo aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas". A advocacia encontra-se, pois, entre as instituições incumbidas de zelar pela primazia dos direitos humanos do Estado democrático de direito, sempre pronta a defender o cidadão diante do poder e da arbitrariedade.
Em resumo, a advocacia atua de forma contramajoritária na medida em que defende em juízo os direitos de seus constituintes contra as violações e acusações consumadas pelo Poder Público. Dessa perspectiva, pode-se dizer que o cidadão ou as minorias, contanto que representados em juízo, encontram na figura da advogada ou do advogado um suporte diante da irascível arbitrariedade que acomete a opinião pública e o julgamento popular. A histórica luta da advocacia pelos direitos incorporou-se em códigos que estabelecem, com o caráter cogente de obrigatoriedade jurídica, a eticidade das condutas que deverão ser preservadas e das que deverão ser proscritas pelos profissionais da classe. As normas fundamentais da profissão, no Brasil, encontram guarida na Constituição, no EAOAB (lei 8906/94) e no CED (Resolução 02/15). Dispersas por esses diplomas, podem ser realçadas as seguintes diretrizes que propugnam pela defesa da democracia, da Constituição e do Estado democrático de direito: a) indispensabilidade da advocacia para a administração da Justiça no Estado democrático de direito; b) função político-institucional da Ordem dos Advogados do Brasil, em razão do múnus público exercido pela advocacia; c) independência absoluta da advocacia em suas atribuições de defensora do cidadão; d) previsão de prerrogativas profissionais que convergem para a promoção dos direitos de cidadania; e) sistematização de um Código de Ética para a advocacia, o qual impõe deveres éticos de conduta à classe; f) estabelecimento de deveres jurídicos que regulam a conduta da advocacia; g) dever da advocacia de lutar pela promoção da igualdade; h) estabelecimento de padrões éticos para a defesa criminal; e i) destaque à função promotora dos direitos humanos outorgada à advocacia e à OAB. Todos esses princípios jurídicos de intenso conteúdo ético apontam para o elemento contramajoritário inerente à própria razão de existir da advocacia.
 
4) A movimentação do processo - dever do Estado mas ônus do advogado 
Crise do Judiciário: morosidade
Tempo do Processo
Verifica-se nos dias atuais, na sociedade contemporânea, que o tempo possui para o homem um valor muito significativo, dentre outros motivos, pela própria finitude de sua vida e, ainda, em razão da concepção muito difundida de que tempo pode representar dinheiro.
Por outro lado, é sabido por todos, que o Judiciário brasileiro vivencia ainda uma crise, em virtude de não conseguir oferecer aos jurisdicionados um processo em que seus conflitos sejam resolvidos em um tempo plausível.
Destacando as medidas que têm sido tomadas pelos representantes dos Poderes para enfrentar a mencionada crise, Ricardo Quass Duarte destacou que:
Em 15 de dezembro de 2004, representantes dos três Poderes da República reuniram-se em sessão solene, para firmar um “Pacto de Estado em favor de um Judiciário mais rápido e republicano”. Nesse Pacto, ressaltou-se que “a morosidade dos processos judiciais e a baixa eficácia de suas decisões retardam o desenvolvimento nacional, desestimulam investimentos, propiciam a inadimplência, geram impunidade e solapam a crença dos cidadãos no regime democrático. (DUARTE, 2009, p. 16).
Ainda neste contexto, observa-se com preocupação

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