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Princípios Recursais(2020_1)

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Princípios dos Recursos Cíveis
Prof. Gabriel Joner
Conceito (Nery Jr):
“Consiste em estabelecer a possibilidade de a sentença definitiva ser reapreciada por órgão de jurisdição, normalmente de hierarquia superior à daquele que a proferiu, o que se faz de ordinário pela interposição de recurso. Não é necessário que o segundo julgamento seja conferido a órgão diverso ou de categoria hierárquica superior à daquele que realizou o primeiro exame”
Tem como objetivo evitar abuso de poder por parte do juiz. Pressupõe a falibilidade do ser humano;
É uma garantia fundamental de boa justiça;
Relação segurança jurídica x justiça;
DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO
Não há expressa previsão da CF 88, se pressupõe através da regra de que os tribunais do país terão competência para julgar causas originariamente em grau de recurso. No âmbito penal, verificar o Pacto de São José da Costa Rica;
Também é possível dizer que é uma decorrência do “devido processo legal”;
É um direito limitado. A legislação poderá indicar hipóteses em que não são cabíveis recursos, ou limitá-lo a determinadas matérias (Ex: ações originárias no STF);
As partes apenas podem interpor os recursos expressamente previstos em lei, nas respectivas hipóteses de cabimento;
Ou seja, os recursos são numerus clausus;
Somente o Poder Legislativo da União poderá legislar sobre recursos (art. 22, I da CF) – competência para legislar em matéria processual;
Ou seja, não é cabível aos tribunais criarem recursos em seus regimentos internos. Inconstitucionalidade dos agravos regimentais;
Princípio da Taxatividade
Art. 994.  São cabíveis os seguintes recursos:
I - apelação;
II - agravo de instrumento;
III - agravo interno;
IV - embargos de declaração;
V - recurso ordinário;
VI - recurso especial;
VII - recurso extraordinário;
VIII - agravo em recurso especial ou extraordinário;
IX - embargos de divergência.
Obs: É possível que outras leis, além do CPC, também estabeleçam recursos: Ex: ECA, Mandado de Segurança.
Observações:
1 - O recurso adesivo não é considerado uma modalidade recursal, mas sim uma forma de interposição dos recursos em que é cabível (apelação, recurso especial e recurso extraordinário – art. 997, NCPC);
2 – O agravo retido foi extinto a partir do novo CPC. 
3 – O código anterior falava apenas em agravo, que se dividia em: de instrumento, retido, interno;
4 – O código atual preferiu especificar os diferentes tipos de agravo: instrumento, interno, agravo em recurso especial ou extraordinário;
5 – O recurso de embargos infringentes também foi extinto;
Sucedâneos recursais (não são recurso):
Pedido de reconsideração;
Ação rescisórias;
Reclamação;
Embargos de terceiro;
Mandado de Segurança.
Também denominado de “princípio da unirrecorribilidade”;
Significa que, “para cada ato judicial recorrível há um único recurso previsto pelo ordenamento, sendo vedada a interposição simultânea ou cumulada de mais outro visando a impugnação do mesmo ato judicial” (Nery);
Princípio da Singularidade
Ato judicial complexo: quando em um mesmo ato processual o juiz analisa matéria típica de interlocutória e de sentença. 
Ex: Art.1.013, §5º
§ 5o O capítulo da sentença que confirma, concede ou revoga a tutela provisória é impugnável na apelação.
A decisão será considerada um todo indivisível para fins de recorribilidade.
Critério finalístico: se a decisão tiver por finalidade colocar fim ao processo, será uma sentença, mesmo que analise matéria típica de interlocutória
Exceções à regra da unirrecorribilidade:
Possibilidade de interposição concomitante de recurso especial e recurso extraordinário :
Art. 1.029.  O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na Constituição Federal, serão interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do tribunal recorrido, em petições distintas que conterão:
Art. 1.031.  Na hipótese de interposição conjunta de recurso extraordinário e recurso especial, os autos serão remetidos ao Superior Tribunal de Justiça.
§ 1o Concluído o julgamento do recurso especial, os autos serão remetidos ao Supremo Tribunal Federal para apreciação do recurso extraordinário, se este não estiver prejudicado.
A princípio, a interposição de recurso inadequado leva a sua inadmissão, por violar o princípio da taxatividade e da unirrecorribilidade, além do requisito do cabimento;
Em algumas hipóteses, porém, há fundada dúvida sobre qual o recurso cabível, derivada da discussão judicial ou doutrinária a respeito do cabimento do recurso adequado; 
Princípio da Fungibilidade
Segundo Marinoni, Arenhart e Mitidiero, “A fungibilidade não se destina a legitimar o equívoco crasso, ou para chancelar o profissional inábil – serve para aproveitar o ato que, diante das circunstâncias do caso concreto, decorreu de dúvida séria, oriundo do estado da jurisprudência e da doutrina a respeito de determinado caso.”
Ou seja, a dúvida não pode ter origem na insegurança pessoal do profissional que deve interpor o recurso o mesmo na sua falta de preparo intelectual, mas sim no próprio sistema recursal.
No Código de 1939 havia expressa previsão deste princípio, o que não se repetiu no CPC de 1973 e no novo código. Mesmo que não previsto, tem-se admitida sua aplicação na sistemática atual.
Nestes casos, autoriza-se que o recurso incorretamente interposto seja tomado como o adequado, desde que preenchidas determinadas circunstâncias;
Requisitos:
Presença de dúvida séria (dúvida objetiva) a respeito do recurso cabível;
Inexistência de erro grosseiro.
A dúvida pode derivar:
Da lei processual que denomina as sentenças ou as decisões interlocutórias, induzindo a parte a errar;
Ex: Despacho saneador (é uma decisão interlocutória).
Discussão doutrinária ou jurisprudencial a respeito da natureza jurídica de certo ato processual;
Ex: decisão que acolhe parcialmente a exceção de pre-executividade. Hoje já pacificado que cabe agravo.
Do fato de ter sido proferido um ato judicial por outro, como por exemplo no fato de ser tratada como sentença uma decisão interlocutória;
Observância do prazo recursal:
A jurisprudência vinha exigindo que o recurso equivocado deveria observar o prazo do recurso correto, para aplicação do princípio da fungibilidade;
Discussão incabível no novo CPC, pois agora foi estabelecida a unificação dos prazos recursais:
Art. 1.003.  O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advogados, a sociedade de advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério Público são intimados da decisão.
§ 5o Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para responder-lhes é de 15 (quinze) dias.
Novidades no Novo CPC
O Novo CPC trouxe alguns casos expressos de aplicação do princípio da fungibilidade:
Embargos de Declaração opor Agravo Interno
Art. 1024
§ 3o O órgão julgador conhecerá dos embargos de declaração como agravo interno se entender ser este o recurso cabível, desde que determine previamente a intimação do recorrente para, no prazo de 5 (cinco) dias, complementar as razões recursais, de modo a ajustá-las às exigências do art. 1.021, § 1o.
Fungibilidade entre REsp e RE:
Art. 1.032.  Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça, entender que o recurso especial versa sobre questão constitucional, deverá conceder prazo de 15 (quinze) dias para que o recorrente demonstre a existência de repercussão geral e se manifeste sobre a questão constitucional.
Art. 1.033.  Se o Supremo Tribunal Federal considerar como reflexa a ofensa à Constituição afirmada no recurso extraordinário, por pressupor a revisão da interpretação de lei federal ou de tratado, remetê-lo-á ao Superior Tribunal de Justiça para julgamento como recurso especial.
É a formação do contraditório em sede recursal:
O recorrente deverá fundamentar seu pedido, apresentando suas razões;
Ao recorrido deverá ser oportunizado apresentar resposta, ou seja, suas contrarrazões.
Princípio da DialeticidadeA falta de fundamentação, na interposição do recurso, pode gerar sua inadmissão;
São as alegações do recorrente que demarcarão a extensão do contraditório perante o juízo “ad quem”;
Assim, a exposição dos motivos de fato e de direito que levaram o recorrente a interpor o recurso, bem como o pedido de nova decisão (anulando, reformando ou aprimorando a anterior), são requisitos obrigatórios.
Decisão que não conheceu o recurso, por falta de fundamentação, não tendo enfrentado os fundamentos da sentença
Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. FUNDAMENTAÇÃO DA SENTENÇA NÃO IMPUGNADA. RECURSO NÃO CONHECIDO. Inviável o conhecimento do recurso que "não tenha impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida", na forma do art. 932, inc. III do CPC. Desnecessidade de intimação da parte recorrente para sanar vício (parágrafo único, do art. 932, do CPC), porquanto tal disposição é restrita ao caso de inadmissibilidade do recurso, hipótese diversa da presente situação, ainda que inserta na parte inicial do referido dispositivo legal. RECURSO NÃO CONHECIDO. (Apelação Cível Nº 70074512351, Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Francesco Conti, Julgado em 27/07/2017)
A interposição de recurso deve decorrer da expressa manifestação de vontade da parte;
O juiz não poderá interpor de ofício, ainda que se trate de interesse de incapaz ou hipossuficiente;
A remessa obrigatória (reexame necessário) não configura recurso. O juiz determina a subida dos autos, de ofício, à instância superior
Princípio da Voluntariedade
Obs: Reexame Necessário não é recurso (falta a voluntariedade)
Art. 496.  Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença:
I - proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público;
II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal.
§ 1o Nos casos previstos neste artigo, não interposta a apelação no prazo legal, o juiz ordenará a remessa dos autos ao tribunal, e, se não o fizer, o presidente do respectivo tribunal avocá-los-á.
§ 2o Em qualquer dos casos referidos no § 1o, o tribunal julgará a remessa necessária.
§ 3o Não se aplica o disposto neste artigo quando a condenação ou o proveito econômico obtido na causa for de valor certo e líquido inferior a:
I - 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias e fundações de direito público;
II - 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o Distrito Federal, as respectivas autarquias e fundações de direito público e os Municípios que constituam capitais dos Estados;
III - 100 (cem) salários-mínimos para todos os demais Municípios e respectivas autarquias e fundações de direito público.
§ 4o Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em:
I - súmula de tribunal superior;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência;
IV - entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer ou súmula administrativa.
Tem por objetivo evitar que o tribunal destinatário do recurso possa decidir de modo a piorar a situação do recorrente;
Exceção: questões de ordem pública, que podem ser examinadas a qualquer tempo ou grau de jurisdição, inclusive de ofício;
A análise deve ser feita no plano prático. Se o tribunal simplesmente alterar a fundamentação do julgado, não haverá propriamente situação prejudicial à parte.
Princípio da Proibição da Reformatio in perjus
O CPC estabelece como e quando se pode interpor recursos. Passada a oportunidade, precluirá a impugnabilidade do ato judicial;
Uma vez exercido o direito de recorrer, consumou-se a oportunidade de fazê-lo;
Exceção: quando a decisão, já recorrida, for aclarada, integrada ou modificada (hipóteses de acolhimento dos embargos de declaração. Neste caso, a parte que já havia recorrido, poderá complementar o recurso interposto, nos limites do acréscimo sofrido pela decisão.
Princípio da Consumação
Como regra geral, os recursos deverão ser analisados por um colegiado (turmas, câmaras, grupos), integrados por três ou mais julgadores.
Exceções:
Art. 932.  Incumbe ao relator:
III - não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida;
IV - negar provimento a recurso que for contrário a:
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência;
V - depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento ao recurso se a decisão recorrida for contrária a:
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência;
Princípio da Colegialidade

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