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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL - UAB UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA – CEAD COORDENAÇÃO DO CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA Rua Olavo Bilac, 1108 (Praça Saraiva), Centro-Sul, CEP 64001-280, Teresina, Piauí, Brasil Fone (86) 3215-4101, Ramal 222 www.cead.ufpi.br Coordenadora da disciplina: Prof. Dra. Roneide dos Santos Sousa Disciplina: Trabalho de Conclusão de Curso I LUAN RIBEIRO DA SILVA FERREIRA ANTONIO EUSÉBIO RONEIDE DOS SANTOS TAREFA II –PROJETO DE PESQUISA (PARTE II) 1. HISTÓRIA DA MINERAÇÃO NO BRASIL 1.1. MINERAÇÃO E O CRESCIMENTO SÓCIO ECONÔMICO 1.2. OS CONFLITOS SÓCIOS AMBIENTAIS A PATIR DO PROJETO DE MINERAÇÃO 1.3. O AVANÇO DA MINERAÇÃO NO MUNICÍPIO DE GILBUÉS HISTÓRIA DA MINERAÇÃO DO BRASIL Enquanto na América Espanhola os conquistadores já encontraram ouro quando chegaram, no Brasil os minérios não foram encontrados imediatamente. Os primeiros registros, em torno de 1570, apontam a região de Paranaguá, Guaraqueçaba e Cananéia, na capitania de São Vicente, como as primeiras minas cartografadas no novo território português. Até a descoberta dos garimpos de Vila Rica em Minas Gerais, em torno de 1680, a produção de ouro, que nunca chegou a ser grande, foi totalmente concentrada na Capitania de São Vicente, no território que hoje é o Paraná. Muitas vilas e cidades devem sua fundação aos eventos de mineração dessa época. Com o início do ciclo do ouro em Minas Gerais, uma forte migração aconteceu, deslocando grandes contingentes da população e relegando a região do Paraná ao abandono. Apesar das graves consequências sociais e econômicas dessa mudança, é possível traçar a relevância da atividade mineradora para o Paraná durante o século XVII. A presença dos garimpeiros como catalisadores de povoamento e domínio territorial é ressaltada. Além disso, sua capacidade de prospecção de minérios abriu caminho para futuras minerações sistemáticas. A experiência de aprendizagem de quase um século fez do Paraná uma espécie de protótipo para que se desenvolvesse a tecnologia necessária a se aplicar em outras regiões. Nos primórdios da história do Brasil, quando tudo havia por se descobrir em uma terra totalmente desconhecida, o início do desbravamento, com as entradas e bandeiras, fez florescer a busca por minérios preciosos (Martins 1907; Martins & Brito 1992). Enquanto na América Espanhola os conquistadores já tinham encontrado ouro e prata quando chegaram (principalmente México e Peru), na América Portuguesa estranhava-se a total ausência desses metais. Em 1532, o rei D. João III decidiu empregar em seu território no Novo Mundo o sistema de divisão em Capitanias Hereditárias. Todo o litoral brasileiro foi repartido em 14 capitanias que foram doadas a figuras importantes da corte, que deveriam ser responsáveis pela colonização. Entre elas estava a Capitania de São Vicente, abrangendo 45 léguas de litoral, desde Bertioga até a Ilha do Mel (Bueno 1997). Essa terra pertencia a Martim Afonso de Souza e nela surgiram as primeiras notícias sobre extração de minerais na então Terra Brasilis, ao final do século XVI, e se referem à descoberta de ouro na região do atual estado do Paraná (Martins 1907). Esse período é, em geral, pouco discutido entre historiadores, pois o verdadeiro Ciclo do Ouro só aconteceria no Brasil em 1690, com a descoberta das “Minas Gerais”. Não se pode precisar o ano em que se iniciou o povoamento efetivo do litoral sul e do planalto correspondente, mas, em ambos, foi sem dúvida a lavra do ouro a origem de suas primeiras povoações: Paranaguá e Curitiba. Tais fatos ocorreram quase no fim do século XVI. Nessa época, não se tinha iniciado em parte alguma do Brasil o ciclo da mineração propriamente dito. Eschwege (1833) cita um documento da Câmara de São Paulo, que menciona a Serra de Jaraguá (atual estado de São Paulo) como sendo a primeira descoberta de ouro no Brasil. Para Martins (1907) “... todos viam ou supunham ver ouro, no século XVII... o que se sabe é que se explorou e se fundiu ferro (em Jaraguá).” Carneiro (1962) afirma que exploradores infiltrando-se ao sul de Cananéia chegaram a Paranaguá encontrando pedaços de ouro nas mãos de índios. Esse metal foi negociado e a amostra remetida imediatamente à corte em 1580. Diversos historiadores referem-se à extração de ouro em Paranaguá em datas anteriores a 1640. Outros como Negrão (1920) e Martins (1907) são da opinião de que se esse fato se deu, as explorações só poderiam ser realizadas por aventureiros errantes. Assim, para eles, 1640 (data em que Gabriel de Lara fundara a vila de Paranaguá) é o ano de início da extração. Mack (1968) acrescenta que, quando esse povoador chegou a Paranaguá, os portugueses já estavam radicados há 100 anos na Ilha de Cotinga. Os primeiros indícios, no entanto, geraram um fluxo de pessoas em busca de fortuna fácil, que Eschwege (1833) classificou como multidão aurisedenta. O Paraná na história da mineração no Brasil do... Boletim Paranaense de Geociências, n. 54, p. 41-49, 2004. Editora UFPR 43 região do Paraná. Esse ímpeto da busca de metais preciosos traz os primeiros desbravadores ao primeiro planalto paranaense, fazendo surgir a atual capital do estado, Curitiba. Paranaguá era, então, a vila mais meridional do Brasil e Curitiba a mais meridional e ocidental do sertão brasileiro (Martins 1907). Foi, provavelmente, em torno de 1570-1580 que os primeiros exploradores começaram a se deparar com o ouro aluvionar das regiões da Serra do Mar, próximas ao litoral sul de São Vicente . Nas palavras de Maack (1963): “... no ano de 1578 a povoação de Paranaguá já existia e nessa época as lavras de ouro de Paranaguá estavam em pleno funcionamento”. As datas não são precisas, pois conforme afirmação de Martins (1907)...”não é verídica a versão de cronistas de que antes de 1578 já se minerava ouro em Paranaguá. (...) essas terras, povoadas pelos Carijós, Figura 1: Mapa de localização do estado do Paraná, com as primeiras vilas formadas em função dos garimpos. Localization map of Paraná State, with the first villages setted resulting from old mines. ressentidos das pelejas com os portugueses, é de supor que só mais tarde pudessem ser habitadas.” Maack (1968) afirma que as planícies aluviais do Rio Cubatão (atual Nhundiaquara) já vinham sendo povoadas desde 1578 por garimpeiros que lavavam ouro nos aluviões. A atividade de busca de minérios representa, talvez, o mais importante papel na história do Brasil, se nem sempre econômico, contudo de extrema relevância social e cultural. A busca por ouro e prata se justificava à medida que eram proibidos outros tipos de mineração, a produção de sal e a metalurgia, crimes estes puníveis muitas vezes com a morte. As primeiras “faíscas” de ouro encontradas próximas a Paranaguá, Guaraqueçaba, Cananéia e Iguape estimularam o desbravamento do interior, chegando mesmo a proporcionar a criação de inúmeras vilas que até hoje existem e cujos nomes remontam às origens garimpeiras. É o LICCARDO, A. et al. O Paraná na história da mineração no Brasil do... 44 Boletim Paranaense de Geociências, n. 54, p. 41-49, 2004. Editora UFPR Figura 2: Detalhe do mapa geográfico da região de Paranaguá de 1653, confirmando a existência das minas de ouro já cartografadas nesse período (autor anônimo – Museu Ultramarino de Lisboa). Detail of the geographic map of Paranaguá region in 1653, confirming the existence of gold mines registered at that period (anonymous author – Museu Ultramarino de Lisboa). Figura 3: Mapa geográfico de 1666 indicando as regiões de Paranaguá e Cananéia, com as lavras em seus arredores (Albbernas, 1666 in Soares & Lana 1994). Geographic map of 1666 showing the Paranaguá and Cananéia regions and the mines around (Albbernas , 1666 in Soares & Lana 1994). LICCARDO). O Paranána história da mineração no Brasil do... Boletim Paranaense de Geociências, n. 54, p. 41-49, 2004. Editora UFPR 45 caso, dentre outros, das localidades de Bateias e Ouro Fino, cujos nomes expressam imediatamente a importância desse período nessa região. O Arquivo Histórico Ultramarino, MINERAÇÃO E O CRESCIMENTO SÓCIO ECONÔMICO Prieto (1968) analisando a conjuntura do continente sul-americano no século XVII defende o argumento de que sem os centros mineradores que produziam riqueza e atraiam grande número de povoadores, o assentamento nas novas áreas seria extremamente difícil. Certamente o subdesenvolvimento das áreas interiores dos países sul-americanos se explica por isso. A implantação de uma economia inicialmente de extrativismo vegetal e agricultura (cana-de-açúcar) no Brasil, diferenciou-o do resto dos países da América do Sul. O contraste entre Américas Portuguesa e Espanhola é interessante, pois nessa época a Espanha expandia seus domínios até os desertos do norte do México, pela escarpada e pela difícil região dos Andes em busca dos preciosos minérios. As cidades criadas pelo domínio espanhol em função dos bens minerais mostravam maior desenvolvimento e riqueza que as outras cidades da América, principalmente no lado português. Nesse período os espanhóis já exploravam a prata de Potosí (Bolívia), sendo essa a atividade mais importante da colônia espanhola. Por outro lado, os portugueses mantinham somente entrepostos comerciais simples no litoral, extrativismo vegetal, plantio de cana-de-açúcar, além da atividade de caça aos índios. Os bandeirantes tiveram o mérito de permitir o conhecimento do território, mas não tiveram nenhum assentamento ou centros permanentes para uma economia objetiva. Essa permanência só aconteceu com o processo de garimpagem e posteriormente agricultura e pecuária. Nos fins do século XVI a grande maioria dos primeiros colonizadores eram errantes, aventureiros ou judeus convertidos que fugiam da Inquisição (Prieto 1968). Apesar das consequências sociais (e hoje, também ambientais) nas regiões onde garimpeiros se concentraram, deve-se a essas pessoas, além da conquista de territórios e povoamento de terras distantes e inóspitas, a prospecção inicial de minérios produzidos ainda hoje. Historicamente os governantes se beneficiaram da atividade garimpeira, como ponta-de-lança em seus domínios territoriais e como células embrionárias de povoamentos, por isso a relevância de estudos históricos e geopolíticos nesse sentido. Exemplo mais recente foi o Garimpo de Serra Pelada, na região norte do Brasil, nos anos 1970/80. Mesmo com as grandes migrações ocorridas com a febre do ouro no século XVIII, o fato é que as sementes de povoamento já estavam plantadas no território paranaense e que isto só ocorreu em função da mineração. Mesmo nas novas descobertas dos territórios no Norte, havia a experiência adquirida nas minas de Paranaguá e outras. Antonil (1711) assim descreve a descoberta do ouro em Minas Gerais: ... e o primeiro descobridor dizem que foi um mulato, que havia estado nas minas de Paranaguá e Curitiba. Esse, indo pela selva com uns paulistas em busca de índios e chegando ao cerro Tripuí, desceu para apanhar água no riacho que hoje se chama Ouro Preto; metendo as cabaças no riacho, viu que ele arrastava granitos de cor diferente, que examinados revelaram ser ouro finíssimo. Para Linhares (1953) a ilusão das minas de ouro no Paraná teve duração efêmera, o que de certo modo determinou consequências mais estáveis à região muito posteriormente. O Paraná não chegou sequer a “produzir nenhum herói” no século XVII, segundo esse autor. Para Nash (in Linhares, 1953) o descobrimento de ouro no Brasil nessa época significou a maior de todas as calamidades, vendo nesse fato a razão principal do rumo diverso tomado pelo desenvolvimento de nosso país em relação aos Estados Unidos: Consequências sociais foram as mais nefastas, traduzidas em falta de solidariedade humana, no abandono da economia do açúcar, na desarticulação de toda uma estrutura formada aos poucos e já enraizada na vida brasileira de uma vasta região. Forçoso é reconhecer ainda que a mineração gerou atraso, dificuldades novas, antinomias inexplicáveis e tensões agudas, que muito custamos a superar para exigir esforços sempre renovados. Linhares (1953) conclui que o principal resultado colhido pela região com o fim desse ciclo foi um compromisso difícil de ser aprendido entre continuidade e descontinuidade. Sendo assim, foi “sem importância a mineração”. Juntamente com a caça do ouro iniciaram-se as primeiras vindas de gado bovino para a região, abrindo caminho para o ciclo dos tropeiros várias décadas depois. Como principal decorrência do ciclo do ouro no Paraná houve o povoamento inicial da região e a conquista definitiva desse território. Durante o ciclo surgira uma pequena agricultura abastecedora dos arraiais e vilas, de todo dedicados à mineração do ouro. Quando se esgotou esse metal, a ocupação do território permaneceu baseada numa agricultura de subsistência (Magalhães Filho in Ferreira 1954) OS CONFLITOS SÓCIOS AMBIENTAIS A PATIR DO PROJETO DE MINERAÇÃO Desde o final dos anos 1990, com a expansão da globalização e o aumento do consumo de metais, os conflitos territoriais relacionados à mega-mineração a céu aberto no continente latino-americano recrudesceram . A indústria mineral tem crescido a ritmo acelerado - tanto em volumes extraídos, quanto pela abertura de novas minas, que, em geral, são autorizadas apenas pelo poder central, excluindo-se os moradores locais. Na América Latina tem sido registrado grande aumento dos investimentos no setor mineral pelas companhias mineiras transnacionais, especialmente canadenses e norte-americanas. Entre 1990 e 1997, os investimentos no setor de mineração no Mundo cresceram 90%, enquanto na América Latina o incremento foi de 400% (BEBBINGTON, 2007 apud SCOTTO, 2011). Dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) mostram que as exportações de produtos de minas e pedreiras provenientes da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai saltaram de US$ 20 bilhões, em 2004, para mais US$ 46 bilhões em 2007 (SCOTTO, 2011) no Brasil, o subsolo é definido pela Constituição Federal de 1988 como realidade jurídica distinta da do solo para fins de aproveitamento mineral (pesquisa e lavra) e pertencente à União4 , a quem cabe a concessão do direito de pesquisa e exploração (BRASIL, 1988). Já o Código Mineral em vigor prevê aos proprietários e posseiros de terras onde está localizada a jazida o direito de indenização pelos prejuízos causados pela atividade e participação no resultado das lavras, mas não estabelece a possibilidade de os proprietários ou posseiros recusarem a atividade mineral (BRASIL, 1967). Somado a isso, em alguns projetos, empresas auferem grandes benefícios, enquanto as populações mais vulneráveis sofrem com os impactos negativos decorrentes do empreendimento econômico (ENRIQUÉZ; FERNANDES; ALAMINO, 2011). Diante desse cenário, tem crescido no país os movimentos de resistência à expansão da atividade mineral de grande escala. Conforme destacado anteriormente, os quase 500 anos de mineração no território brasileiro deixaram grandes passivos ambientais, envolvendo milhares de minas e garimpos. Há também diversos tipos de conflitos socioambientais no território, envolvendo populações tradicionais como índios, quilombolas e populações ribeirinhas; populações atingidas pela instalação de megaprojetos de mineração, populações afetadas pela contaminação decorrente da extração mineral, além de conflitos decorrentes da oposição de interesses e da visão divergente sobre o que é desenvolvimento, especialmente em áreas de grande riqueza natural e com potencial turístico e áreas de concentração populacional. Mais de uma centena desses casos foram levantadosao longo de quatro anos pela equipe de pesquisadores do Centro de Tecnologia Mineral do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (CETEM/MCTI) e resultaram num livro [http://www.cetem.gov.br/biblioteca/publicacoes/livros] e num banco de dados eletrônico denominado "Recursos Minerais e Territórios: impactos humanos, socioambientais e econômicos" [http://verbetes.cetem.gov.br/verbetes/Inicio. aspx] Entre os casos levantados estão os das minas abandonadas de ouro, muitas da época da Colônia, e que ainda hoje são fonte significativa de degradação 76 Mineração no Brasil e de contaminação. No Brasil, o minério de onde é extraído o ouro costuma ser rico em arsenopirita, o que significa que o ouro encontra-se associado ao arsênio, elemento altamente tóxico. Isso acontece, por exemplo, em Ouro Preto (Minas Gerais), onde as águas subterrâneas presentes em antigas minas de ouro registram presença de doses significativas desse elemento tóxico, e também em outros locais como Crixás (Goiás); no Morro do Ouro, em Paracatu (Minas Gerais); e na Fazenda Brasileiro (Bahia) (ARAUJO, OLIVIERI, FERNANDES, 2014) Afora as diferentes contaminações de caráter ambiental gerada pela atividade mineradora, como exemplificado, há ainda casos de conflitos socioambientais envolvendo a mineração e as populações. Conflitos em áreas indígenas : Um dos exemplos mais emblemáticos no Brasil é o da mineração em Terras Indígenas (TI). Apesar de vetada constitucionalmente, a mineração ilegal e os garimpos em TI têm gerado muitos conflitos, especialmente na região Amazônica (SOUTO MAIOR; TELLES DO VALE, 2013 apud RIBEIRO, 2014). O Instituto Socioambiental (ISA) evidencia a ocorrência de 52 conflitos em TIs, indicando que, apesar dos recentes esforços de monitoramento das terras indígenas por parte de organizações indígenas, em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai), e muitas vezes com a intervenção positiva do Exército e da Força Nacional, estas terras continuam extremamente vulneráveis (RIBEIRO, 2014). Atualmente, a população indígena brasileira soma 896 mil habitantes, distribuídos entre 305 etnias distintas, caracterizadas por diferentes línguas, costumes e culturas (IBGE, 2010). À época da Colônia, existiam no Brasil cerca de seis milhões de índios e os povos indígenas estiveram no centro de intensos conflitos, desencadeados por interesses extrativistas e agrícolas, que viam nas terras ocupadas por estes povos a possibilidade de extrair riquezas do solo. Como consequência, os índios foram sistematicamente expulsos de suas terras e exterminados (RIBEIRO, 2014). Conflitos em áreas quilombolas Outra população tradicional que tem sido alvo de sérias ameaças em decorrência da mineração são os quilombolas (descendentes de africanos escravizados que mantêm tradições culturais, de subsistência e religiosas ao longo dos séculos). No banco de dados há 17 casos envolvendo esse grupo tradicional e também pescadores. Entre eles, está o relato relacionado ao Projeto Trombetas, promovido pela empresa Mineração Rio Norte (MRN) para extração de bauxita, matéria-prima do alumínio, na região oeste paraense, especialmente em Oriximiná. Desde a instalação do projeto, em 1976, famílias quilombolas sofreram várias desterritorializações, além de serem impactadas negativamente pelos efeitos da mineração (OLIVIERI, ARAUJO, 2014d). Também na Amazônia, outro grupo de quilombolas enfrenta os efeitos da mineração, dessa vez de caulim. O país possui as mais ricas reservas do mundo, a maior parte delas nos estados do Pará e do Amapá. As comunidades quilombolas de Jambuaçu vivem um histórico de conflito com a Vale, os quais se intensificaram depois que a empresa iniciou a construção de um minero duto para transportar o caulim. O minero duto ligaria Paragominas ao complexo industrial de Vila do Conde, em Barcarena, passando por sete municípios paraenses (DOSSIÊ CPT GUAJARINA, 2006 apud TRINDADE, 2011 apud SCHPREJER, 2014). Em 2006, após a queda de uma das pontes da região, a Vale descumpriu o prazo de finalização das obras de infraestrutura prometidas, fato que deixou a população local mais revoltada. Na ocasião, líderes das Eliane R. Araújo | Francisco R. Chaves Fernandes 81 comunidades derrubaram uma torre de transmissão de energia da empresa, e outro grupo bloqueou a estrada de acesso ao canteiro de obras do minero duto, na comunidade de Santa Maria de Tracuateua (TRINDADE, 2011 apud SCHPREJER, 2014) O AVANÇO DA MINERAÇÃO NO MUNICÍPIO DE GILBUÉS A partir de 1946, data de registro da primeira pedra de diamante, instalou-se outra atividade de forte impacto econômico e ambiental. A garimpagem artesanal do diamante se estabeleceu na região desde os anos 50 e propiciou até a instalação do município de Monte Alegre do Piauí, e de alguns dos principais povoados do município de Gilbués, a exemplo de Boqueirão do Garimpo, Vai-Que-Tem e São Dimas, em Monte Alegre do Piauí. Apesar de ter sido responsável por uma certa dinamização da economia local, sobretudo entre os anos 50 e 70, a extração de diamantes na região foi feita de forma extremamente predatória e sem nenhuma forma de controle. Toda a lavra era retirada clandestinamente para o Rio de Janeiro e Goiânia sem qualquer cobrança de imposto. Esta atividade teve seu pico nos anos 50 e estendeu-se até início dos anos 70, quando houve diminuição da produção, com a estagnação econômica de alguns povoados e da área como um todo Apesar de constituir atividade relativamente recente, é possível identificar alguns fatos indicadores da dinamização da economia na região. A reabertura da Agência do Banco do Brasil em Gilbués, desativada com o declínio da atividade mineradora, o aumento no número de estabelecimentos comerciais, bem 122 como de pequenos hotéis, a chegada de migrantes, principalmente do Paraná e do Rio Grande do Sul, são indícios facilmente perceptíveis nas visitas à área. Contudo, mesmo com o surgimento de novas atividades econômicas nos últimos tempos, no caso, a mineração e a plantação de grãos nos cerrados, a atividade pecuarista continua a dominar na região, principalmente associada ao sistema de produção de alimentos baseados nas roças. Na verdade, a própria estrutura fundiária na região sempre favoreceu essa atividade caracterizada por uma criação extensiva ao ocupar vastos campos de pastagem natural, empregando pouca mão-de-obra. REFERÊNCIAS: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/1057. Mercator - Revista de Geografia da UFC, ano 02, número 04, 2003. (Albbernas , 1666 in Soares & Lana 1994). LICCARDO). http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/1057
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