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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS PROCESSO PENAL I WELMAN PAIXÃO SILVA OLIVEIRA RESENHA DO QUINTO CAPÍTULO DO LIVRO DE DIREITO ECONÔMICO DE ANDREI ZENKNER SCHMIDT: TEORIA DA PENA NO DELITO ECONÔMICO E DO SETIMO DO LIVRO DE DIREITO PENAL ECONÔMICO DE GABRERA et al. GOIÂNIA, GO 2020 ii PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS PROCESSO PENAL I RESENHA DO QUINTO CAPÍTULO DO LIVRO DE DIREITO ECONÔMICO DE ANDREI ZENKNER SCHMIDT: TEORIA DA PENA NO DELITO ECONÔMICO E DO SETIMO DO LIVRO DE DIREITO PENAL ECONÔMICO DE GABRERA et al. Resenha de livro doutrinário, de Direito Econômico apresentada à disciplina de Direito Penal III em atendimento a Atividade disciplinar Aluno: Welman Paixão S. Oliveira Professor: Prof. Dr. Marcelo Bareato – PUC GO GOIÂNIA, GO 2020 iii RESUMO O presente trabalho assume, modestamente, a proposta de uma resenha crítica da obra literária de Andrei Zenkner Schmidt, intitulada de “Direito Econômico – Parte Geral” e do sétimo capítulo do livro Direito Penal Econômico, que versa sobre o ilícito de lavagem de dinheiro. Os livros doutrinários abordam questão relevantes sobre o direito econômico, os quais iremos discorrer conforme a sequencia didática apresentada no livro, sendo eles: (i) estado e macroeconomia em tempos de globalização; (ii) delimitação conceitual e fundamento do direito penal econômico; (iii) teoria da lei penal econômica; (iv) teoria do delito econômico; e (v) teoria da pena no delito econômico. O primeiro capítulo que versa sobre o estado e macroeconomia em tempos de globalização, descreve de forma contemporânea os fundamentos e contextualiza o tema a atualizada. O segundo capítulo que trata da delimitação conceitual e fundamento do direito penal econômico. O terceiro capítulo versa a respeito da teoria da lei penal econômica, que fundamente a teoria com dados históricos e da atualidade. Ainda no quarto capítulo, é abordado a teoria do delito econômico. O autor reserva a teoria da pena no delito econômico para o último capítulo, não menos importante, e o faz de forma lógica e robusta. Por um lado, a partir da leitura crítica dessa obra de Andrei Z. Schmidt, é possível compreender o conceito material e restritivo de crime econômico com a capacidade de fundamentar e de entender os limites do poder punitivo do Estado. Por outro, mergulhando sobre a sociologia do risco como suporte político criminal dos delitos culposos e seu impacto no direito penal econômico abornado pela Professora Gabrera. Palavras-chave: Econômico, Direito Penal, Direito Econômico, Compliance iv SUMÁRIO 1. CONSIDERAÇÕES SOBRE OS AUTORES .............................................................. 5 2. TEORIA DA PENA NO DELITO ECONÔMICO ...................................................... 6 2.1. Pena, funcionalismo e Direito Penal Econômico: instrumentalização e moralização do homo oeconomicus ...................................................................................................... 6 2.1.2 Funcionalismo, prevenção especial e criminalidade econômica ............................. 7 2.2. Pena, neorretribucionismo e Direito Penal Econômico: a busca pela pena justa a partir da perspectiva anto-antropológica da responsabilidade e da isonomia do homo oeconomicus ..................................................................................................................... 7 2.2.1. A relação onto-antropológica do cuidado-de-perigo e o sentido retribucionista da pena ................................................................................................................................... 7 2.2.2. A missão crítica possível à perequetação interna e externa das penas nos delitos econômicos e partir do fundamento neorretribucionista .................................................. 8 2.2.3. A distinção entre retribuição e reparação como critério de delimitação do “non bis in idem” material .............................................................................................................. 8 2.2.4. Neorretribucionismo, “non bis in idem” processual e sobreposição de instrumentos ...................................................................................................................... 9 3. LAVAGEM DE DINHEIRO ...................................................................................... 11 (i) Colocação ou Placement ............................................................................................ 11 (ii) Ocultação, Dissimulação, Transformação ou Layering ............................................ 12 (iii) Integração ou Integration ......................................................................................... 12 4. A SOCIOLOGIA DOS RISCOS COMO SUPORTE POLÍTICO CRIMINAL DOS DELITOS CULPOSOS E SEU IMPACTO NO DIREITO PENAL ECONÔMICO POR GABRERA M.G. ............................................................................................................ 13 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 15 6. REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 16 5 1. CONSIDERAÇÕES SOBRE OS AUTORES Conforme informações coletadas do Lattes em 05/02/2020, o professor Dr. Andrei Zenkner Schmidt, possui graduação em Direito pela Universidade de Cruz Alta (1994), mestrado em Ciências Criminais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2000) e doutorado em Ciências Criminais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2014). Atualmente é conselheiro do Instituto Transdisciplinar de Estudos Criminais, professor titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, membro do conselho editorial - Revista Brasileira de Ciências Criminais e professor convidado - LFG. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Penal, atuando principalmente nos seguintes temas: execução penal, direito penal econômico, direito penal princípio legalidade democracia, disciplina e direito penal concurso aparente normas (LATTES 2020). Fábio André Guaragni, Conforme informações coletadas do Lattes em 05/02/2020, possui graduação em Direito pela Faculdade de Direito de Curitiba (1992), graduação em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Paraná (1991), Mestrado em Direito pela Universidade Federal do Paraná (1998) e Doutorado em Direito das Relações Sociais, com ênfase em Direito Penal, pela Universidade Federal do Paraná (2002). Realizou pesquisa Pós-Doutoral na Università degli Studi di Milano (2012). Atualmente é professor titular do Centro Universitário Curitiba - UNICURITIBA, professor da Escola da Magistratura do Paraná - EMAP e professor da Fundação Escola do Ministério Público do Paraná - FEMPAR. Procurador de Justiça no Estado do Paraná, tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Público, atuando principalmente nos seguintes temas: direito penal, processo penal, direito penal ambiental, sociologia do risco, direito penal econômico e criminal compliance. (LATTES 2020). Michelle Gironda Cabrera, é doutoranda em Direito Econômico e Desenvolvimento pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Bolsista Capes. Mestre em Direito Empresarial e Cidadania pelo Unicuritiba. Professora de Direito Processual Penal na Faculdade de Pinhais (LATTES 2020). 6 2. TEORIA DA PENA NO DELITO ECONÔMICO O autor aborda neste capítulo a teoria da pena no delito econômico, o qual faz em dois tópicos (i) Pena, funcionalismo e Direito Penal Econômico: instrumentalização e moralização do homo oeconomicus e (ii) Pena, neorretribucionismo e Direito Penal Econômico: a busca pela pena justa a partirda perspectiva anto-antropológica da responsabilidade e da isonomia do homo oeconomicus. 2.1. Pena, funcionalismo e Direito Penal Econômico: instrumentalização e moralização do homo oeconomicus 2.1.1 Funcionalismo, prevenção e criminalidade econômica SCHMIDT 2015, lembra que o direito penal econômico é apenas uma fração que faz parte da dimensão do direito sancionador em que se insere o direito penal. Ressalta, ainda, que enquanto entendermos delitos e pena como fenômenos distintos, convém indagar se a autonomização dogmática referida no capítulo anterior também afetaria o sentido da pena nos delitos econômicos. O autor, provoca o leitor a refletir sobre essa abordagem ao questionar “o fundamento do crime econômico repercute, em alguma medida, na sua sanção penal?” ou ainda quando indaga se “haveria um fundamento peculiar para sanção penal nos crimes econômicos, total ou parcialmente diverso do observado no direito penal nuclear?”, ainda nesse mesmo sentido, indaga: “a frequente condição econômica privilegiada do criminoso, em hipóteses tais, permite-nos reconhecer justificativas e limites distintos para as penas no direito penal econômico?” e “caso recordemos que diversos ordenamentos jurídicos proveem formas especiais de punição para os delitos econômicos, estaríamos autorizados a, diante disso, reconhecermos um sentido penológico singular?” Apoiando-se nos estudos de FIGUEIREDO DIAS 1985, o autor propõe que o fundamento, o sentido e aplicação das penas nos delitos econômicos, diferem, pois o nível da prevenção geral de integração será em vários casos mais elevados, as exigências de retribuição da culpa têm maior intensidade; as estratégias de socialização são atingidas com maior permeabilidade; a importância de pena de prisão, ainda que curta, se sobrepõe à multa; seriam maiores as expectativas de evitar o efeito dessocializador da privação de liberdade. 7 SCHMIDT, embora faça uma ressalva importante sobre as condições históricas que se contextualizavam os empresários em 1985, não ignora que a criminalização primária e secundária em práticas empresariais já não se opera quantitativa e qualitativamente da mesma forma hoje, como há trinta anos. 2.1.2 Funcionalismo, prevenção especial e criminalidade econômica Neste subitem, o autor inicia o tema confrontando entendimentos distintos de dois estudiosos, ROXIN e FIGUEIREDO, sob os aspectos do funcionalismo-dualista. Enquanto ROXIN, entende que a reintegração do delinquente à comunidade seja um fim apenas da execução penal, FIGUEIREDO DIAS, antevê o objetivo político criminal já no âmbito da medida da pena, funcionando como um “pêndulo” que se move nos limites requeridos pela prevenção geral positiva, devendo orientar a escolha da pena, a determinação da medida correta e os limites da sua execução. Ou seja, pela visão de FIGUEIREDO DIAS, o delinquente econômico seria mais facilmente (re)socializável ou neutralizável, tanto pela tentativa de preservação da imagem perante a sociedade, como pela necessidade de adequação aos preceitos sociais para retorno a mesma. Interessa ressaltar que, se o prestígio social e a condição privilegiada do sujeito ativo não integram o conceito material de crime econômico, muito menos poderão ser parâmetro para fundamento da pena cominada e imposta. 2.2. Pena, neorretribucionismo e Direito Penal Econômico: a busca pela pena justa a partir da perspectiva anto-antropológica da responsabilidade e da isonomia do homo oeconomicus 2.2.1. A relação onto-antropológica do cuidado-de-perigo e o sentido retribucionista da pena Neste subitem, extraímos os principais pontos abordados pelo autor, o qual observa, já de início, que o direito penal é a estrutura institucional que a sociedade moderna encontrou para distribuir as penas em resposta aos desvios, sendo que o poder punitivo aflora, queiramos ou não, como um importante instrumento de realização da sociedade, que visa resguardar os valores essenciais da sociedade contra as mazelas do crime, impondo, a este, as garras e o rigor da pena. Em uma visão antropocêntrica de analisar o fenômeno criminal, a culpa tem de servir de fundamento e de limite da pena. De forma que a missão do direito penal é a de proteger bens jurídicos no segmento da norma, reafirmando os perigos que uma 8 comunidade historicamente datada segue reconhecendo como crentes e dignos de proteção, no segmento da pena, reafirmando que toda violação do cuidado-de-perigo, quando obra pessoal de um homem responsável, tenha de sujeitar, nos limites, a uma sanção em igualdade de condições a toda a comunidade. A definição legal de condutas criminosas é o resultado das projeções que a política criminal realizou sobre a dinâmica das relações sociais, ou seja, o direito penal constrói-se, entre outras coisas, pela resposta legislativa à conflitualidade e à ruptura violadora. De modo que a seleção de bens jurídicos é a defesa institucional do patrimônio ético-social de uma comunidade, que conclama o Estado a proteger a conflitualidade. 2.2.2. A missão crítica possível à perequetação interna e externa das penas nos delitos econômicos e partir do fundamento neorretribucionista SCHMIDT menciona que a estabilização de conflitos, pretendida pela norma está a exigir que o mal da pena se imponha em retribuição justa à gravidade de ofensa que foi produzida pelo sujeito responsável, em igual de condições a todos os que vivem em comunidade. Pode parecer pouco, mas a delimitação proposta tem o mérito de reconhecer que o direito penal econômico sancionatório não almeja prevenir futuros delitos, tampouco levará em conta eventuais condições particulares do sujeito ativo. O autor da ênfase, à semelhança do que deveria ocorrer como homicídio e furto, não pode contar com limites de punição definidos em atenção à classe social normalmente ocupada pelo sujeito ativo. Pois o valor dos bens jurídicos vida, patrimônio, ordem tributária e ordem econômica encontra sua densidade axiológica a partir da objetividade jurídica do que de mais elementar é protegido pela integralidade do sistema normativo. Ressalta ainda que no Brasil – assim como em outro Estados Democráticos de Direito – o ponto de partida para o dimensionamento legítimo de toda e qualquer pena só pode situar-se na proteção conferida ao maior de todos os direitos protegidos institucionalmente: a vida humana. 2.2.3. A distinção entre retribuição e reparação como critério de delimitação do “non bis in idem” material A pena de detenção é a sanção materialmente penal, tento em vista que só o direito penal pode impô-la – sem embargo das exceções previstas constitucionalmente. Além disso, existe um amplo rol de outras consequências jurídicas de natureza material mista que vêm sendo gradualmente encartadas à legislação penal. Reflita-se, por 9 exemplo, em penas pecuniárias, penas alternativas à prisão e efeitos secundários da sentença penal condenatória. Esse movimento atual, “expansivo-penalizador” também se faz acompanhar, como não poderia ser diferente, do incremento das medidas cautelares reais com que o processo penal tem de arcar de modo a instrumentalizar as mais variadas consequências jurídicas. Schmidt ressalta que pouco importa que uma lei qualquer determine que a imposição de uma determinada sanção possa se dar sem prejuízo de outra formal ou materialmente diversas. O respeito à expressão constitucional do non bis in idem material é que determinará a legitimidade da carga de sancionamento. No entanto, o que sobressai 2.2.4. Neorretribucionismo, “non bis in idem” processual e sobreposição de instrumentos SCHMIDT, menciona que a pena justa se realiza com a distribuição da carga sancionatória que se faz adequada para a retribuição da violação do cuidado-de- perigo que se opera com o ilícito. Seja qual for a natureza jurídica assumida, tem por propósito exerceressa proteção jurídica na medida em que necessário para reafirmar o cuidado anteriormente inobservado. vimos há pouco que essa tutela é desempenhada por diversos segmentos do ordenamento jurídico, que deveriam interferir, cada qual a sua maneira, em diferentes graus de desvalor da ofensa ponto ao direito penal seria relegada a função de exercer a proteção somente naqueles casos em que, por ações política criminal, entendeu- se mais adequada a definição do ilícito típico com a combinação de uma pena criminal. Mas sabemos que as coisas nem sempre se colocam como essa coerência. Além dessa superlatividade da tutela, há situações em que não se saiba o instrumento jurídico que será o mais adequado para a proteção. Nesse contexto, as dificuldades que surgem do non bis in idem material fazem-se acompanhar de graves problemas relacionados a gestão processual coerente de diversos ilícitos, ou seja, ao non bis in idem processual. A submissão individual a um processo já é uma restrição ao direito de liberdade. A própria Constituição federal que garante que ninguém seja processado duas vezes em razão do mesmo fato, o que ressalta o apego constitucional a proteção contra a carga processual excessiva. Se isso cabe no mesmo segmento interno de cada ordenamento jurídico, então indubitavelmente poderá sê-lo em se tratando de dois ou mais processos pretenderem instrumentalizar proteção idêntica ao mesmo objeto de ilícito. 10 No entanto, o tratamento legal conferido a prevalência da jurisdição criminal silencia no que se refere ao relacionamento existente com o processo administrativo sancionador. A lei que regulamenta o processo no âmbito da administração pública federal, assim como as leis especiais que tratam do processo de apuração de ilícitos econômicos, monetários, no mercado de capitais, nada dispõem acerca dos parâmetros a serem observados para que a coerência da unidade do ordenamento jurídico seja observada em razão de ilícitos de configuração jurídico-formal distinta. Esse silêncio não pode reverberar a voz da jurisprudência brasileira no sentido de que as instâncias seriam independentes, a decisão do processo administrativo não guardaria qualquer relação de prejudicialidade com a decisão do processo penal, e vice- versa. contudo devemos observar que no Brasil o ilícito administrativo não seja processado perante o poder judiciário, ainda é imprescindível que a decisão criminal e administrativa estivesse livre para reconhecer que o fato seja ao mesmo tempo lícito é ilícito. Pois é correto pensar o que é a garantia de unidade do ordenamento jurídico não tolera qualquer tratamento assimétrico no objeto do ilícito. Cabe ressaltar que o princípio de non bis in idem, não se opõe a possibilidade de diversos processos de natureza distinta recaírem sobre o objeto de ilícito idêntico, mas sim a imposição de duplicidade de sanções materialmente idênticas. No entanto, o propósito só poderá ser alcançado frente a garantia de que o processo administrativo sancionador deva aguardar o encerramento do processo penal, que se submete a garantias fundamentais mais adequadas à proteção do direito de liberdade .Nesse contexto, não sendo viável a anulação da sanção extrapenal, os limites legais da sanção penal deverão ser relativizados em nome da constitucional contingência de ajuste material dá consequência jurídica à justa medida de retribuição exigida pelo ilícito. 11 3. LAVAGEM DE DINHEIRO A criminalização da lavagem de dinheiro se deu inicialmente na Itália e nos Estados Unidos da América (EUA), mas foi nos EUA que o delito ganhou volume (ARO 2013). Tanto na Itália, como nos EUA, a máfia teve papel fundamental na criminalização da lavagem de dinheiro. Na Itália, em 1978, após vários delitos realizados por mafiosos, envolvendo até sequestros de membros no governo, foi adicionado o artigo 648-bis no Código Penal Italiano, incriminando a substituição de dinheiro ou valores provenientes de roubo qualificado, extorsão qualificada ou extorsão mediante sequestro por valores ou dinheiro. Nos EUA, os motivos que conduziram à criminalização de lavagem de dinheiro datam do século XX, principalmente pela produção e comercialização ilegal na época da “Lei Seca” (ARO 2013). Com a revogação da Lei Seca, os mafiosos migraram para exploração do jogo e do tráfico de drogas e em virtude ao grande volume financeiro que anteriormente era lavados em postos de lavagens de automóveis, passa então, a ser branqueados em offshore na Suíça, impedindo o acesso pelas autoridades americanas (ARO 2013). Fabián Caparrós (2006) aponta a Organização das Nações Unidades (ONU) como líder na internacionalização da criminalização da lavagem de dinheiro em 1984, com aprovação das Resoluções 39/141 e 39/142 da Assembleia Geral das Nações Unidas, com a consequente adoção da Convenção das Nações Unidas contra o Trafico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas. No Brasil, o delito foi tipificado a partir da Lei 9.613 de 1998, com a finalidade de reforçar o compromisso nacional no combate ao crime organizado. Um dos pontos de inflexão na primeira versão da norma era a restrição das ações que configuravam o crime de lavagem de dinheiro. Foi somente com a modificação proposta pela lei 12.683 de 2012, que a interpretação tornou-se mais ampla e rigorosa. A legislação atual estabeleceu que a lavagem de dinheiro consiste em, basicamente, ocultar e dissimular a natureza e a movimentação de bens e valores provenientes de qualquer atividade de natureza ilícita (BRASIL 2012). A lavagem de dinheiro consiste em três etapas que culminam na reinserção formalizada do dinheiro ilícito no sistema econômico, são elas: (i) Colocação ou Placement 12 Uma das principais características dessa fase é a fragmentação do valor monetário em pequenas frações. Nessa fase, os bens ou valores ilegais são inseridos na economia, por meio da compra de bens, imóveis ou obras de arte, por exemplo. Assim, a movimentação financeira não precisa ser comunicada e passa despercebida aos órgãos fiscalizadores. (ii) Ocultação, Dissimulação, Transformação ou Layering O principal objetivo nessa fase é esconder a origem do dinheiro advindo de infrações penais, por meio de transferências bancárias ou pela utilização de contas fantasmas. Dessa forma, o rastreamento dos bens ou recursos financeiros ilegais acaba sendo dificultado. (iii) Integração ou Integration A última etapa os recursos ilícitos são formalmente reinseridos na economia. Essa integração pode ocorrer por meio de investimentos em negócios lícitos ou compra de ativos com documentos supostamente legais. 13 4. A SOCIOLOGIA DOS RISCOS COMO SUPORTE POLÍTICO CRIMINAL DOS DELITOS CULPOSOS E SEU IMPACTO NO DIREITO PENAL ECONÔMICO POR GABRERA M.G. Um dos importantes contributos da sociologia atual, conferindo jovens tarefas ao direito penal, deu-se com a chamada sociologia do risco, que trouxe à luz jurídica características da modernidade de se tratar dos riscos procedentes do manejo humano de tecnologias. Esse novo modelo de sociedade é área de estudo de diversos sociólogos, atribuindo-se a denominação de sociedade de risco (GABRERA 2013) A história do risco não é uma história que possa ser considerada nova. Todas as próprias civilizações e as coletividades estão comprometidas em uma interação permanente com o medo. Contudo, afirmar que toda civilização seja uma luta contra o medo, é, uma afirmação demasiado simplista, resultado de um pensamento minimista tomador do todo pela parte; eis que deve ser rebatido. Porém, é certo, que o silêncio prolongado sobre a história dos riscos esconde uma confusão mental que foi narrada pelo historiador francês DELUMEAU: “Por uma verdadeira hipocrisia, o discurso escrito e a língua falada – o primeiro influenciando a segunda – tiveram por muito tempoa tendência de camuflar as reações naturais que acompanham a tomada de consciência de um perigo por trás das falsas aparências de atitudes ruidosamente heroicas. A palavra medo está carregada de tanta vergonha, que a escondemos. Enterramos no mais profundo de nós o medo que nos domina as entranhas.” GABREA 2013, ressalta que existem alguns sinais, nas sociedades modernas, indicativos da ampliação da preocupação em torno de alguns riscos, particularmente quando se verifica que, destes riscos, originaram-se desastres e catástrofes e consequências. Cabe distinguir os conceitos de risco e perigo – diferença que, frise-se, não é ontológica, não radica em suas estruturas de ser. De um lado, os riscos são representativos de uma decisão humana, na medida em que seja a antecipação da tragédia a partir de uma tomada de decisão humana. Por outro, os perigos são qualquer possibilidade considerável de um prejuízo, ou, em última análise, são provenientes da natureza, e, assim, independem de decisão humana. 14 Nesse sentido, deve-se vislumbrar o risco apenas quando a própria decisão é um motivo indispensável da possível ocorrência de um prejuízo. Um fumante que aceitando o risco de desenvolver câncer, prossegue fumando, como exemplo. Ao passo que não incide risco, mas perigo, ao não fumante. (GABRERA 2013). 15 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O professor Dr. Andrei Z. Schmidt, joga luz sobre temas do direito econômico, permitindo a compreensão do conceito material e restritivo de crime econômico com a capacidade de fundamentar e de entender os limites do poder punitivo do Estado. O delito de lavagem de dinheiro foi tipificado a partir da Lei 9.613 de 1998, com a finalidade de reforçar o compromisso nacional no combate ao crime organizado. A legislação atual estabeleceu que a lavagem de dinheiro consiste em, basicamente, ocultar e dissimular a natureza e a movimentação de bens e valores provenientes de qualquer atividade de natureza ilícita. A professora Gabera, contextualiza o ilícito de lavagem de dinheiro, abordando o tema na linha do tempo de forma didática e ampla, e, de tudo quanto fora exposto, percebe-se que as complexidades sociais com que o direito penal vem se deparando, há pelo menos quatro décadas, são as responsáveis por torná-lo uma ciência também complexa, cujas soluções mais justas vêm sendo fornecidas pela união e intercomunicação entre dogmática e outras áreas epistemológicas, como a política- criminal. 16 6. REFERÊNCIAS 1. SCHMIDT, Andrei Zenkner. Direito penal econômico: parte geral. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2015. 2. FABIÁN CAPARRÓS, Eduardo. Antecedentes: iniciativas internacionales. Efectos del lavado de dinero. Bien jurídico tutelado. Fenomenologia del lavado de dinero. In: BLANCO CORDERO, Isidoro; FABIÁN CAPARRÓS, Eduardo; ZARAGOZA AGUADO, Ja- vier Alberto. Combate del lavado de activos desde el sistema judicial. 3. ed. Washington: CICAD/OEA, 2006. 3. ARO, Rogerio. Lavagem de dinheiro – origem histórica, conceito, nova legislação e fases. Unisul de Fato e de Direito: revista jurídica da Universidade do Sul de Santa Catarina, [S.l.], v. 3, n. 6, p. 167-177, jun. 2013. ISSN 2358-601X. Disponível em: <http://www.portaldeperiodicos.unisul.br/index.php/U_Fato_Direito/article/view/1467> . Acesso em: 26 maio 2020. doi:http://dx.doi.org/10.19177/ufd.v3e62013167-177. 4. DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente: 1300 – 1800: uma cidade sitiada. Tradução de Maria Lucia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 12. 5. CABRERA, Michelle Gironda. Direito penal econômico [versão eletrônica pdf]: administrativização do direito penal, criminal compliance e outros temas contemporâneos / coordenação Fábio André Guaragni, Marion Bach; organização Fernando Martins Maria Sobrinho. – Londrina, PR: Thoth, 2017.
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