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Estratégia de Negociação 4ª edição Rio de Janeiro UVA 2016 Márcio Santos Souza 4ª edição Rio de Janeiro UVA 2016 Estratégia de Negociação Copyright © UVA 2014 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. ISBN 978-85-65812-28-3 Autoria do Conteúdo Márcio Santos Souza Design Instrucional Eurico Sadao Kusaka Projeto Gráfico UVA Diagramação Raphaela Saules Revisão Tássia Braga Lydianna Lima Ficha Catalográfica elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da UVA. Biblioteca Maria Anunciação Almeida de Carvalho. S729e Souza, Márcio Santos. Estratégia de negociação [livro eletrônico] / Márcio Santos Souza. – 2. ed. – Rio de Janeiro : UVA, 2015. 602 KB. ISBN 978-85-65812-28-3 Disponível também impresso. 1. Negociação (Administração de empresas). II. Universidade Veiga de Almeida. III. Título. CDD – 658.4052 SUMÁRIO Apresentação................................................................................................................7 Sobre o autor.................................................................................................................8 Capítulo 1 - Negociação e administração de conflitos: aspectos conceituais........................................................9 Conceitos fundamentais de negociação.............................................12 Conflitos: tipos, causas e formas de intervir...................................19 Estratégias e táticas nas negociações.................................................26 Referências......................................................................................................35 Capítulo 2 - Negociação e administração de conflitos: as- pectos relacionais...........................................................37 Negociação no plano relacional..........................................................38 Características do bom negociador e características praticadas pelo negociador brasileiro......................................................................48 A diversidade nas negociações...............................................................63 Referências....................................................................................................68 Capítulo 3 - Negociação e administração de conflitos: aspectos substantivos....................................................69 Negociação no plano subjetivo...............................................................71 A fórmula de sucesso em uma negociação....................................82 Melhor alternativa em caso de não acordo – MACNA..................89 Referências....................................................................................................95 Capítulo 4 - O negociador em ação: aspectos práticos que favorecem as negociações e a administração de conflitos........................................................................97 Revisão conceitual e conexão com a prática.................................99 Planejamento e preparação da negociação e administração de conflitos...............................................................................................107 Execução e controle das condições e avaliação de negociações e administração de conflitos.....................................................................114 Referências....................................................................................................120 Considerações finais.....................................................121 7 APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO Este livro trata de Estratégia de negociação, que é um processo tão antigo quanto a própria humanidade, algo que todos nós praticamos diariamente e, às vezes, até mesmo de forma individual. Tomar uma decisão pessoal, ponderar as possíveis soluções, considerar quem será impactado por elas e decidir como e quando agir são etapas tão intuiti- vas que sequer nos damos conta de que esses são passos muito impor- tantes nesse processo. Se pedíssemos a você, por exemplo, para escrever um manual sobre como se abotoa uma camisa, provavelmente você terá dificuldade, exa- tamente por ser algo tão simples, óbvio e rotineiro. Quando consegui- mos transportar algo que é essencialmente prático e rotineiro para o campo teórico, chegamos à seara da ciência por trás de tudo, e, em negociação, há o envolvimento de áreas como psicologia, marketing, ne- gócios, finanças e várias outras áreas do conhecimento. Por outro lado, a imagem que a maioria de nós associa ao tema negociação é a de uma relação entre vendedor e cliente, mas ela se aplica também a várias ou- tras: namorados, casais, vizinhos, empresas e países. Sendo assim, neste livro você entenderá que, com o uso de técnicas estruturadas, suas negociações terão resultados muitíssimo melhores. Desejamos que você aproveite ao máximo essa experiência e que a lei- tura desta obra promova uma oportunidade de reflexão sobre os conte- údos abordados, contribuindo efetivamente para o seu enriquecimento cultural e acadêmico. ...................................................................................................................................................................................................................... 8 SOBRE O AUTOR Márcio Santos Souza é consultor de empresas nas áreas de estrutura- ção administrativa, processos e treinamento. Especialista em Gestão Empresarial e Pessoas pela Fundação Getúlio Vargas - FGV, com forma- ção em Gerenciamento de Projetos e atuação nos setores público e pri- vado no desenvolvimento e capacitação de equipes em todos os níveis hierárquicos nas áreas de vendas, marketing e liderança. Professor da Universidade Veiga de Almeida - UVA, no MBA de Gestão de Recursos Humanos, nas disciplinas Endomarketing e Finanças aplicadas a RH. Atualmente é gerente de projetos da CMBio Soluções em Tratamento de Água e fundador da Prisma, Treinamento e Desenvolvimento. 9Conceitos fundamentais de negociação ...................................................................................................................................................................................................................... CAPÍTULO 1 NEGOCIAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS: ASPECTOS CONCEITUAIS Um dos aspectos inerentes ao processo de negociação são os chamados conflitos, que fazem parte da estrutura social humana. Uma vez que temos experiências, cultura, forma- ção ética e pontos de vista únicos, que constituem a nossa estrutura individual, facilmente vamos nos deparar com si- tuações de conflitos, em que indivíduos ou grupos apresen- tam estruturas de formação diferentes. A imagem abaixo é utilizada em muitos testes de percepção, e você provavelmente a viu em algum lugar. Que idade você daria para a mulher da imagem abaixo? Negociação e administração de conflitos: aspectos conceituais10 ...................................................................................................................................................................................................................... Esse teste foi aplicado em centenas depessoas, e uma par- te daria no máximo 30 anos para ela; a outra, mais de 70 anos. Temos, então, uma imagem única, mas com leituras e interpretações diferentes. Isso gera situações de conflito, pois, diante de um fato único, nossa estrutura interna de percepção nos conduz a um caminho diferente do outro. Diante disso, como podemos gerenciar os conflitos e negociar racionalmente e com eficácia? Ao utilizarmos apenas a tentativa e erro (também chamada de “escola da vida”), nossas chances de sucesso tornam-se cada vez mais escassas. Negociar com racionalidade impli- ca tomar as melhores decisões para potencializar os inte- resses entre as partes. No passado, o método utilizado era o hard selling, no qual o negociador tinha como objetivo apenas seus próprios in- teresses, independentemente das consequências geradas para a outra parte. Logo, a grande meta era fechar o negó- cio da melhor forma para si próprio. Veja a figura abaixo: 11 ...................................................................................................................................................................................................................... Nesse contexto, havia como consequência uma fragilização das relações a médio prazo, uma vez que uma das partes poderia se sentir lesada ou enganada de alguma forma. Além de não contribuir para a criação ou manutenção de um relacionamento entre as partes, a imagem do negocia- dor pode ficar deteriorada e, com o advento das mídias sociais, ter uma repercussão negativa muito maior. Hoje, as relações devem apresentar o seguinte modelo: O foco atual deve ser a procura de um relacionamento per- manente, que potencialize outras negociações, seja com a mesma parte envolvida, seja com outra, para que o sucesso da negociação seja disseminado para os círculos pessoais da outra parte. Negociação e administração de conflitos: aspectos conceituais12 ...................................................................................................................................................................................................................... CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE NEGOCIAÇÃO Agora, você compreenderá como conceituar aspectos fun- damentais em negociação. Fundamentos Vamos imaginar que você seja um colecionador de cachim- bos raros e queira vender sua coleção, mas há três cenários diferentes: no primeiro, você considera como comprador seu melhor amigo e, por isso, quer apenas um preço jus- to pela coleção; no segundo cenário, você irá vender para uma loja especializada, onde não tem nenhum relaciona- mento com as pessoas, e no terceiro irá vender para seu irmão mais novo, que começou esse hobby recentemente. Agora responda: você negociaria da mesma forma nas três situações? Embora o fato seja o mesmo (negociação de um produto), os contextos são bem diferentes. Se você quer saber como proceder em cada caso, esta disciplina fará a diferença em sua vida. Existem dois cenários envolvidos acima: dinheiro e relacio- namento. Se a negociação for conduzida de maneira uni- forme, sem levar em consideração os contextos envolvi- dos, podemos esperar três resultados negativos possíveis: 13Conceitos fundamentais de negociação ...................................................................................................................................................................................................................... 1. Perder dinheiro. 2. Fragilizar relacionamentos. 3. Ambas as situações. Na primeira situação mostrada, você deseja obter um bom preço pela coleção, mas também quer manter seu amigo; você está interessado no aspecto financeiro do negócio, mas também em manter o relacionamento futuro. A segunda situação é diferente, pois você não tem nenhum contato próximo com o vendedor e, a princípio, não está interessado em criar vínculos. Logo, pode barganhar à von- tade, fazendo o uso de artimanhas e blefes, se assim de- sejar. Você não está interessado em relacionamento, o que importa é o ganho financeiro nesse negócio. Existe ainda o terceiro caso: como você está mais tranquilo e quer agradar seu querido irmão mais novo, você aceita o preço que ele pediu. Nesse caso, o relacionamento é mais importante, no momento, do que o ganho financeiro. Resumindo as três situações descritas: na primeira (nego- ciação com um amigo), desejamos vantagens financeiras, mas precisamos manter o relacionamento; na segunda (ne- gociação com um desconhecido), podemos negociar visan- do somente a vantagens financeiras; e na terceira (negocia- ção com seu irmão), o relacionamento é mais importante do que as vantagens financeiras. Logicamente, sua postura de negociador deve ser diferente em cada caso, e a forma de negociar deve ser radicalmente diferente para obtermos o melhor resultado. Negociação e administração de conflitos: aspectos conceituais14 ...................................................................................................................................................................................................................... A conclusão é: existem formas diferentes de negociar, que devem ser utilizadas em função do objetivo desejado na negociação. Utilizando esse conceito nas organizações, no primeiro caso você está interessado em fazer uma parceria com a outra empresa; no caso seguinte, você tem a estratégia do maior preço, desconsiderando o relacionamento; e no terceiro, você está disposto a perder algum dinheiro para construir um relacionamento que pode ser lucrativo no futuro. Seu estilo A primeira coisa a saber é quais são os estilos de negocia- ção que estão sendo apresentados pelas partes envolvidas. Duas pessoas extremamente competitivas terão resultados bem diversos em uma negociação, na qual uma das partes, por exemplo, tem como meta o relacionamento, ou de ou- tra negociação, na qual uma dessas partes quer indicações para novos contatos. Se há estilos diferentes envolvidos, as estratégias e táticas também precisam variar e se adequar a cada situação presente. Tais estilos estão relacionados com a forma como as pessoas lidam com o conflito. Basi- camente, existem cinco tipos de estilos diferentes: 1. Jogadores. 2. Solucionadores. 3. Práticos. 4. Permissivos. 5. Rejeitadores de pelejas. 15Conceitos fundamentais de negociação ...................................................................................................................................................................................................................... Vamos ilustrar esses estilos: Imagine-se junto com mais nove pessoas sentadas em uma sala de reuniões. Alguém entra na sala e diz: “Dou um prê- mio de R$ 1.000,00 para quem conseguir convencer a pes- soa do outro lado a colocar seu próprio celular em cima da mesa”. Qual seria sua estratégia? Uma reação é a inércia, pois pode ser alguma “pegadinha” ou você pode simplesmente achar que fará papel de bobo. Com isso, você se recusa a negociar; tal postura é de rejei- tador de pelejas, alguém que tem aversão a embates inter- pessoais e não gosta de jogos “ganha-perde”. Outra reação possível, e mais rápida, é você simplesmente colocar seu próprio celular na mesa e acabar com a nego- ciação, ou seja, você resolveu o conflito se preocupando apenas com o problema do outro. Nesse caso, você foi um negociador permissivo, pois está mais preocupado com os ganhos do oponente e não com os seus. Uma terceira solução é convencer a pessoa à sua frente a sacar seu celular e lhe oferecer metade do prêmio, ficando com R$ 500,00. A postura de “rachar a diferença” é típica dos práticos, pois preferem a saída mais cartesiana e co- erente. Se você, em vez de imaginar uma forma de dividir o prê- mio, pensar em como ambos podem ganhar, provavelmen- te você irá propor que cada um se levante e vá para trásda cadeira do outro. Essa é a ação assertiva do solucionador de problemas, que é o estilo mais difícil de ser implemen- tado, mas fundamental em negociações complexas. Negociação e administração de conflitos: aspectos conceituais16 ...................................................................................................................................................................................................................... Agora, se você gosta de ganhar e está disposto a correr riscos, gritará para o outro: “Venha logo para cá. Eu divido o prêmio com você”. Você se senta e espera que o outro se mexa. Ao contrário do transigente, você vai argumentar e até blefar um pouco, falando de sua perna machucada. Se a manobra funcionar, você tem o poder de decidir o quan- to irá dividir. Se seu estilo é o de jogador, você controla as negociações com exigências arriscadas, usando blefes, ameaças e até ultimatos. Alguém que prefere rejeitar pelejas tem tendência a evitar negociações ou abreviá-las, cedendo rapidamente. Por ou- tro lado, uma pessoa que adora o conflito tende a ser mui- to competitiva, buscando sempre vantagem. Pessoas que optam pelo resultado consensual para os conflitos surgem normalmente com formas criativas de fazer com que todos ganhem, mesmo em situações difíceis de negociação. É claro que ninguém é totalmente competitivo ou colabo- rador. Todos somos uma mistura de estilos, e o que varia é a intensidade com que cada comportamento ocorre. Vale ressaltar que os estilos podem mudar radicalmente confor- me a quantidade e o impacto dos riscos envolvidos. Nesse caso, as respostas aos riscos podem ser as seguintes: 1. Evitar: quando ações podem ser tomadas para im- pedir que o risco ocorra. 2. Aceitar: quando o risco é inevitável, sendo absor- vido por uma das partes. 3. Mitigar: quando há a possibilidade de amenizar- mos os impactos. 4. Transferir: quando alguma outra parte alheia à negociação é envolvida. 17Conceitos fundamentais de negociação ...................................................................................................................................................................................................................... Saber identificar seu próprio estilo, bem como o estilo do outro, pode ser fundamental para interferir nos rumos da negociação, aumentando as possibilidades de sucesso. Um erro crasso entre os negociadores é inferir que o estilo do outro é similar ao seu próprio; com isso, as interpretações em relação a todas as reações da outra parte podem estar totalmente equivocadas e podem simplesmente destruir uma negociação. Tomemos um exemplo de um negociador jogador que enfrenta uma pessoa permissiva em determinada negociação. A cada solicitação do negociador jogador haverá uma possibi- lidade de concordância por parte do permissivo, e, com isso, o primeiro irá imaginar que as margens de negociação são extre- mamente elevadas. Afinal, para ele, como aceitar uma exigência sem ter uma “gordura” muito elevada? Assim, o jogador tende- rá a pressionar cada vez mais até encontrar resistência da outra parte, o que significará que a referida “gordura” foi reduzida. Por outro lado, à medida que o tempo for passando, o negocia- dor permissivo sentirá frustração, por achar que sua boa vonta- de em ceder para fechar logo o negócio não está sendo levada em conta, pois o que ele recebe do outro lado são demandas cada vez mais exacerbadas. Negociar é uma dança. Um precisa do outro para ter suces- so, e a melhor maneira de tornar essa dança harmoniosa é respeitar os movimentos da outra parte. Se uma parte colabora, talvez seja hora de a outra colaborar um pouco. Se uma parte endurece a posição, é importante que seja firme, mesmo que para colaborar. Se alguém tem como proposta o consenso e sugere uma solução nesse sentido, é recomendado aceitar e aperfeiçoar a proposta. ...................................................................................................................................................................................................................... Negociação e administração de conflitos: aspectos conceituais18 ...................................................................................................................................................................................................................... Alguém que não apresenta todo o conjunto de predicados necessários a um bom negociador, mas que esteja cons- ciente disso e se dedique a treinar e aperfeiçoar seu estilo, estará em um estágio muito mais avançado do que aquele que não o faz. 19Conflitos: tipos, causas e formas de intervir ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ CONFLITOS: TIPOS, CAUSAS E FORMAS DE INTERVIR O conflito é uma experiência do cotidiano e ocorre quando as diferentes necessidades, vontades, objetivos e crenças dos indivíduos são postas em contato e confronto uns com os outros. Quando falamos sobre negociação, podemos imaginar uma solução de conflitos, e uma forte característica de sua ori- gem é a existência de grupos ou mesmo de partes antagô- nicas. Veja: [...] as organizações constituem-se em verdadeiras arenas para conflitos individuais ou coletivos, onde os partícipes querem recursos parcos, perspectivas de ascensão profissional, benesses e outras recom- pensas que possam ser proporcionadas pela em- presa. Os conflitos entre grupos são muito comuns, tanto dentro quanto fora das organizações. Segun- do Hampton (1991, p. 297), o conflito pode surgir da experiência de frustração de um ou mais lados, de sua incapacidade de chegar a uma ou mais metas. A seguir, a parte frustrada faz a leitura da situação conjecturando as consequências e se comportando à luz das mesmas. A outra parte envolvida reage a este comportamento, baseada em seu próprio con- junto de dogmas e valores, que são na maioria das vezes bem diferentes do oponente. Tem-se então os resultados do conflito que podem ser de natu- reza completamente diversa para cada um dos ne- gociadores, ou seja, um ciclo de frustrações ocorre em virtude da interpretação errônea dos interesses ou necessidades dos envolvidos, fazendo com que cada um interprete a situação a seu modo. (MARTI- NELLI; ALMEIDA, 1998, p. 47) 20 ...................................................................................................................................................................................................................... Negociação e administração de conflitos: aspectos conceituais Os conflitos existem desde o surgimento do ser humano. A partir do desenvolvimento cultural e tecnológico da raça humana, os conflitos mudaram de intensidade, quantida- de e tamanho. Para superarmos os conflitos, é necessário saber lidar com eles, o que implica saber gerenciá-los, pois, na verdade, devem ser considerados apenas como princí- pios que devem ser levados em consideração e aplicados de acordo com o bom senso. Afinal, cada caso é um caso. Veja, na figura abaixo, como os níveis de conflito mudam, conforme envolvemos tensão e poder: Para solucionarmos os conflitos, devemos identificar todos os stakeholders envolvidos. Eis alguns exemplos de stakeholders: • Fornecedores. • Poder público. Stakeholder Em uma organização, é, por definição, um determinado indivíduo ou grupo que pode interferir ou ser interferido pelas decisões dessa empresa (Freeman, 1984). Se ignorarmos esses grupos, ignoramos também o quanto podem influenciarna negociação, gerando, assim, fonte de conflitos. 21Conflitos: tipos, causas e formas de intervir ...................................................................................................................................................................................................................... • Clientes. • Acionistas. • Funcionários. • Comunidade. • Imprensa. Cada organização tem um grupo específico de partes in- teressadas, cabendo ao negociador identificá-las e traçar planos para minimizar as possibilidades de conflitos. Segundo Robbins, existem três abordagens que concei- tuam o conflito: Visão tradicional (1930-1940): o conflito precisa ser evi- tado, pois seria a indicação de que algo não está funcio- nando corretamente, uma disfunção resultante da falta de comunicação, abertura e confiança entre as pessoas e o fracasso dos executivos em atender às necessidades dos funcionários. Visão de relações humanas (1940-1970): o conflito deve ser aceito, pois ocorre naturalmente nos grupos e organi- zações, e não pode ser eliminado, porque pode até ser um benefício no desempenho do grupo. Visão interacionista: é a abordagem mais atual e propõe que o conflito pode ser uma força positiva e que é neces- sário para o desempenho eficaz do grupo. Essa abordagem encoraja os líderes a manter um nível de conflito mínimo suficiente para que o grupo continue viável, autocrítico e criativo. 22 ...................................................................................................................................................................................................................... Negociação e administração de conflitos: aspectos conceituais Existem quatro pontos fundamentais que definem um mé- todo direto de negociação que pode ser aplicado na maio- ria das situações de conflito. Cada ponto aborda um ele- mento central da negociação e opina sobre o que se deve fazer a respeito dele. São eles: 1. Pessoas: separe as pessoas do problema. 2. Interesses: concentre-se nos interesses, não nas posições. 3. Opções: desenvolva uma gama de possibilidades antes de decidir o que fazer. 4. Critérios: insista para que o resultado tenha por base algum padrão objetivo. Caso o conflito não seja gerenciado, podemos incorrer em uma ou mais das situações abaixo: 23Conflitos: tipos, causas e formas de intervir ...................................................................................................................................................................................................................... Conduta ética O problema da conduta ética é comum em todas as pro- fissões. Entretanto, algumas delas, como a dos médicos, engenheiros e compradores, assumem uma dimensão mais relevante. A abordagem mais aprofundada do assunto leva, invariavelmente, ao estudo do comportamento hu- mano em seu ambiente de trabalho (GLASI apud BOMERS; PETERSON, 1982, p. 119-140; ROBBINS, 1974, p. 93-97). Ética Maquiavel é o criador da célebre frase “Os fins justificam os meios”, e, ao aplicarmos literalmente essa expressão em uma negociação, podemos criar conflitos tão intensos quanto irreversíveis. O assunto deve ser resolvido estabelecendo regras de con- duta devidamente escritas, divulgadas, conhecidas e pra- ticadas por todos os envolvidos, procurando fixar limites claros entre o “legal” e o “moral”. Tais premissas precisam estar bastante claras, e, em muitos casos, as empresas as colocam por escrito em um “código de ética” para seus colaboradores. Se há um problema envolvendo a ética em um departamen- to de compras, por exemplo, como saber se uma decisão teve critério puramente técnico, priorizando os interesses da organização ou se houve alguma agressão à ética? Sem dúvida, o importante é que esse código valha tanto para uma área comercial como para uma área de compras, por exemplo, até porque, por uma questão de coerência, inde- pendentemente se o setor compra ou vende algo, a ética é a mesma. Niccolo Machiavelli Historiador, poeta e diplomata italiano, simplesmente conhecido como Maquiavel. 24 ...................................................................................................................................................................................................................... Negociação e administração de conflitos: aspectos conceituais Já que a área de compras foi citada, vale ressaltar que é bem comum fornecedores darem “presentes” ou agrados ao profissional dessa área. O diretor dessa organização deve permitir que isso ocorra? A melhor forma de lidar com o assunto é definir, o mais claramente possível, um código de conduta e estar aderente às práticas de com- pliance da organização. Consequências de conduta antiética em negociação Negociadores têm que resolver um problema de confiança, ou seja, precisam determinar as preferências, objetivos e metas da outra parte, mesmo sabendo que os outros po- dem ampliar suas preferências. Via de regra, não devemos nem aceitar como verdade absoluta tudo que a outra par- te diz nem desconfiar integralmente de tudo. Ambos os extremos devem ser evitados: tanto aceitar passivamente tudo aquilo que o outro lado diz, o que significaria depo- sitar crença total nas mãos do outro, quanto não aceitar nada do que o outro lado coloca, significando eliminar to- talmente a possibilidade de um acordo. Além disso, há uma questão a ser resolvida internamente pelos negociadores, que é definir até onde devem ser total- mente francos e transparentes em relação a seus objetivos, uma vez que fraude e disfarce são palavras comuns em ne- gociação, podendo assumir diferentes formas, tais como: • Adulteração de uma posição perante o oponente É a forma mais comum de fraude em uma negocia- ção. Mostra-se ao oponente uma posição que não O termo compliance vem do inglês to comply, que em tradução literal é “cumprir”, “satisfazer”, “executar”. Quando uma empresa está em compliance, significa que ela está em conformidade, ou seja, cumprindo as leis e regulamentos internos e externos. 25Conflitos: tipos, causas e formas de intervir ...................................................................................................................................................................................................................... condiz com a realidade, distorcendo-se fatos ou exa- gerando-se em certas posições. • Blefe Ocorre quando as intenções explicitadas não condi- zem com a verdade, havendo promessas e ameaças falsas. • Falsificação Trata-se da introdução de informações efetivamente erradas em uma negociação. Exemplo: informações financeiras falsificadas ou declarações falsas sobre a outra parte. • Exposição seletiva ou adulteração de elementos Ocorre quando o negociador omite fatos ou aspira- ções, selecionando apenas aquilo que é conveniente. Se tentarmos explicar por que algumas pessoas agem de forma antiética, a primeira conclusão é acreditar que as pessoas são imorais. Na verdade, essa análise é muito sim- plista, pois, dependendo do caso, as táticas acima podem ser determinantes para o sucesso da negociação. 26 ...................................................................................................................................................................................................................... Negociação e administração de conflitos: aspectos conceituais ESTRATÉGIAS E TÁTICAS NAS NEGOCIAÇÕES Preparação da estratégia A palavra “estratégia” vem do grego estratego, que era um cargo militar cuja função é semelhante ao general dos tem- pos modernos. O estratego tinha como função principal prever como seria a batalha, para, então, traçar planos a fim de neutralizar os exércitos inimigos. Em termos em- presariais, é uma visão ampla, articulada para chegar aos objetivos e é diferentede tática, que é a definição dos mé- todos usados. É preciso conhecer detalhadamente o que será negociado, bem como a postura de cada participante da negociação, para, então, selecionar as pessoas adequadas, com as me- lhores competências para o alcance dos objetivos. Com isso, além do óbvio fechamento do negócio, conseguimos também fomentar um relacionamento, facilitando a conci- liação das diferenças que normalmente existem. Quando esse terreno não é mapeado, as pessoas tendem a reagir ao que o outro faz ou a permitir que a emoção domine o ambiente em vez da lógica, desvirtuando os ne- gociadores dos objetivos centrais. Para que esse relacionamento seja construído, deve-se evi- tar alguns erros comuns: 27Estratégias e táticas nas negociações ...................................................................................................................................................................................................................... • Não considerar percepções diferentes. • Esperar por uma postura similar à nossa. A negociação contempla a alteração de um status quo vi- gente para o desejado, e, para que isso ocorra, os negocia- dores precisam influenciar um ao outro de forma que seu poder de resistência diminua. Poder é a habilidade de gerar mudanças ou evitar que elas ocorram, de acordo com a própria determinação, e, em re- lação a esse jogo, vamos a algumas táticas bem comuns: • Autoridade total (o que eu resolver será o resol- vido...). • Autoridade condicional ou limitada (meu limite de alçada é...). • Ignorar a própria autoridade (só posso decidir com o aval de...). • Exigência (se você melhorar tal aspecto...). • Confronto de opções, leilão (discutam entre vo- cês... eu aceitarei a melhor proposta...). • Conjugação de forças (aliar-se a alguém... mudar a equipe ou parte dos negociadores). • Pechincha/barganha (se você conceder... eu...). • Mudança de regras (o preço pode ser mudado...; as especificações serão...). 28 ...................................................................................................................................................................................................................... Negociação e administração de conflitos: aspectos conceituais Vamos reafirmar que a negociação é um processo permanente e não tem seu início quando as partes se encontram, nem termi- na quando as partes se afastam, pois as ações ocorridas durante o processo geram efeitos para os próximos eventos, seja com o mesmo oponente, seja com outros, e muitos parecem se esque- cer desse tópico importantíssimo. Embora a negociação seja um processo, não devemos en- carar as etapas como algo cartesiano, mas em alguns casos poderemos suprimir uma parte ou outra, pois, dependen- do do momento, o poder pode mudar de mãos. A prática da negociação determina uma indelével marca de superioridade do homem sobre as outras espécies, pois ele é o único com a capacidade de negociar. Todos os de- mais animais, mediante uma situação de conflito, utilizam a fuga ou a força, sendo essas reações coerentes com o ins- tinto animal. Não negociar é negar uma benção exclusiva do ser humano, que, por isso, é superior aos outros seres. Ciente da necessidade e pressão por resultados, é funda- mental para os negociadores estabelecer premissas, sendo os mais importantes a preparação pessoal e o planejamen- to. Observe alguns fatores para serem levados em conta, por exemplo, em um caso de negociação corporativa: Conhecimento de sua empresa • Histórico e organização. • Política de médio e longo prazos. • Faturamento, capital. • Situação atual. 29Estratégias e táticas nas negociações ...................................................................................................................................................................................................................... • Recursos humanos. • Principais clientes. • Reportagens publicadas na imprensa. • Eventos promovidos (internos, promocionais e comerciais). • Finanças, riscos e investimentos. Conhecimento sobre o cliente • Reportagens publicadas. • Ramo de atuação e interesses. • Principais executivos e diretores. • Mercados-alvo. • Diferenciais dos produtos e serviços. • Reputação. Conhecimento do produto • Os equipamentos e processos necessários à sua fabricação. • A tecnologia empregada. • Sistema e política de qualidade. • Número de funcionários envolvidos no back-office. • Controle de qualidade. • Aplicações e usos. • Armazenagem, estoques, logística de transporte. • Embalagens, rótulos e marcações. • Garantias. 30 ...................................................................................................................................................................................................................... Negociação e administração de conflitos: aspectos conceituais Cultura geral • Eleições. • Futebol. • Política nacional. • Política internacional. Conhecer as fontes de informação e se aprofundar em to- dos os dados disponíveis que possam dar embasamento de forma segura às estratégias e táticas auxiliam na criação de linhas de argumentação consistentes que permitem al- cançar um resultado mais coerente. Negociando em equipes Uma equipe ideal deve ter de três a cinco membros, respei- tando as necessidades de cada negociação, pois há situa- ções em que o oponente apresentará uma equipe. Imagine que em uma negociação de contratos, por exemplo, os se- guintes aspectos sejam abordados: • Comercial (preço, entrega, política de risco). • Técnica (especificações, programas, métodos de trabalho). • Legal (documentos, termos, condições, seguro). • Financeira (termos de pagamento, garantias). Assim, caso todos os detalhes da negociação sejam vistos no mesmo momento, faz-se necessário ter uma equipe, caso contrário, um novo momento deverá ser agendado. 31Estratégias e táticas nas negociações ...................................................................................................................................................................................................................... Em uma negociação, a boa estratégia requer o emprego de pessoas adequadas. O responsável tem que decidir as po- sições e responsabilidades que elas assumirão. Por exemplo, o responsável deve questionar: • Alguém tem mais habilidade para ver e ouvir em vez de falar? • Alguém da equipe teve algum contato mais próxi- mo com o oponente em outra circunstância? • Há alguém mais extrovertido? Se apelarmos para a tática “policial bom e policial mau”, o extrovertido faria o policial bom, concedendo e cedendo ao oponente. É importante definir todos esses papéis de maneira bem planejada, pois cada movimento do oponente deve ter uma resposta compatível. Mas e se um imprevisto ocorrer? O que fazer? Como proceder diante dos conflitos? Como se defrontar com as objeções? O sucesso de uma negociação está em três elementos fun- damentais: informações, tempo e poder. As táticas relati- vas à informação admitem a possibilidade de que seu in- terlocutor não conceba, não saiba ou não perceba as coisas do mesmo modo que você. 32 ...................................................................................................................................................................................................................... Negociação e administração de conflitos: aspectos conceituais Um problema de negociação de Theodore Roosevelt James Sebenius utiliza este famoso caso em seu livro Six habits of merely effective negotiators para ilustrar a interrelação en- tre erros, táticas e ética da negociação. “Em 1912, na reta final de uma acirrada campanha presidencial, Theodore Roosevelt programou sua última viagem de campa- nha. Em cada parada de seu percurso, Roosevelt tinha como objetivo angariar votos da multidão com a distribuição deum vistoso panfleto com um severo retrato presidencial na capa e um comovedor discurso no interior: Confissão de Fé. Quan- do os mais de 3 milhões de panfletos estavam impressos, um membro da campanha notou, na parte inferior da foto de cada folheto, uma pequena frase que dizia: Estúdio Moffett, Chicago. O Sr. Moffet tinha os direitos de cópia, e a mesma não poderia ser utilizada sem prévia autorização, pois, caso contrário, pode- ria custar para a campanha US$ 1 por cada reprodução, e não havia tempo para reimprimir o folheto. O que fazer? Se os impressos não fossem utilizados poderiam fracassar as perspectivas de que Roosevelt fosse eleito. Mas, se houvesse a distribuição, haveria um enorme escândalo que poderia com- prometer a eleição, e a campanha poderia ser obrigada a pagar uma quantia de dinheiro impossível de assumir. Os colaborado- res da campanha perceberam rapidamente que teriam que ne- gociar com Moffett e, fazendo uma pesquisa sobre seu passado, descobriram que o Sr. Moffet sempre gostou de exposição, tan- to que tentou ser ator, mas sem sucesso. Os colaboradores pediram ajuda para o gerente da campanha, George Perkins, um ex-sócio da J.P. Morgan. Perkins não per- deu tempo. Chamou seu taquígrafo e enviou a seguinte mensa- gem para o estúdio de Moffett: ‘Temos em mente a distribuição de milhares de panfletos com a foto do Sr. Roosevelt na capa e acreditamos que essa seria uma enorme oportunidade para sua agência de publicidade. Quanto o Sr. nos pagaria para usar a sua? Responda imediatamente’. Moffett respondeu: nunca fizemos isso antes, mas, consideran- do as circunstâncias, estaríamos satisfeitos em lhe oferecer US$ 250. Segundo contam, Perkins aceitou sem pechinchar.” Theodore Roosevelt Presidente dos Estados Unidos entre os anos 1901 e 1909. 33Estratégias e táticas nas negociações ...................................................................................................................................................................................................................... A enganosa estratégia de Perkins acende o sinal de alerta da ética e não é uma negociação modelo sobre como me- lhorar as relações de trabalho. Porém, esse caso faz surgir uma pergunta muito interessante: por que para os funcio- nários da campanha foi tão difícil a possibilidade de ne- gociar nesse caso? Sua incapacidade para ver aquilo que Perkins percebeu imediatamente era devido ao fato de se fazer parte do problema e não da solução: os erros cometi- dos, o alto risco de fracasso na eleição, um custo altíssimo, uma data final iminente e a falta de dinheiro para satisfa- zer as prováveis exigências do Sr. Moffett por algo que a campanha precisava vitalmente. Se tivessem evitado focar nos problemas de cada parte para pensar em como Moffett via seu problema, teriam percebido que Moffett nem sequer sabia que tinha um pro- blema. O Sr. Perkins foi brilhante, agindo como soluciona- dor e pensando em como a outra parte via o cenário, de forma que sua decisão fosse a que ele queria (disponível em: <http://www.hsm.com.br/revista/revista-95-avulsa>.). Caro leitor, aqui finalizamos nossa primeira etapa do es- tudo do tema “negociação”. Espero que você tenha percebido o quanto a arte de ne- gociar é fundamental para o seu sucesso e que você pode obter muito mais resultados se começar a ver a negocia- ção como uma ciência, que pode e deve ser aprimorada, mas que sem o componente principal — o negociador —, a mágica não ocorre. Lembre-se bem de olhar suas próximas negociações com outros olhos, pois, nos capítulos seguin- tes, veremos muitas estratégias e táticas para potenciali- zar seus resultados. 34 ...................................................................................................................................................................................................................... Negociação e administração de conflitos: aspectos conceituais Hoje é o mercado que determina os sucessos e fracassos da maioria das organizações. Por isso, para que haja uma maior adaptabilidade e previsibilidade dos cenários, pre- cisamos de muitos estudos. O negociador precisa estar alinhado a esse cenário, pois muito mais do que ter exce- lentes produtos e serviços, as melhores empresas são as que têm os melhores parceiros, e isso somente é possível por meio da negociação. 35 ...................................................................................................................................................................................................................... REFERÊNCIAS ACUFF, Frank L. Como negociar qualquer coisa com qual- quer pessoa em qualquer lugar do mundo. 2. ed. São Pau- lo: Senac, 2004. ANDRADE, Rui O. B., ALYRIO, Rovigati D; MACEDO, Mar- celo A. S. Princípios de negociação: ferramentas e gestão. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2007. ANDRÉ NETO, Antônio. Negociação e administração de conflitos. Rio de Janeiro: FGV, 2011. CHUA, Roy E. J. Ou o parceiro da China é o foco? HSN Ex- perience, São Paulo, 1º dez. 2012. Disponível em: <http:// experience.hsm.com.br/posts/ou-o-parceiro-da-china-e-o- -foco>. FISCHER, Roger; URY, William; PATTON, Bruce. Como che- gar ao sim: a negociação de acordo sem concessões. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1994. FREEMAN, R. E. Strategic management: a stakeholder approach. Boston: Pitman Publishing, 1984. MACHIAVELLI, Niccolo. O príncipe. Rio de Janeiro: Ber- trand, 1998. ...................................................................................................................................................................................................................... 36 ...................................................................................................................................................................................................................... Negociação e administração de conflitos: aspectos conceituais MARTINELLI, Dante P.; ALMEIDA, Ana Paula. Negociação: como transformar confronto em cooperação. São Paulo: Atlas, 1997. MARTINELLI, Dante P.; ALMEIDA, Ana Paula. Negociação e solução de conflitos. São Paulo: Atlas, 1998. MARTINELLI, Dante P.; ALMEIDA, Ana Paula. Solução de conflitos. São Paulo: Atlas, 1998. MARTINELLI, Dante P. Negociação empresarial: enfoque sistêmico e visão estratégica. São Paulo: Manol, 2002. PESSOA, Carlos. Negociação aplicada: como utilizar as tá- ticas e estratégias para transformar conflitos interpessoais em relacionamento cooperativos. São Paulo: Atlas, 2008. ROBBINS, Stephen. Comportamento organizacional. São Paulo: Pearson, 2010. SEBENIUS, James. Seis hábitos dos negociadores simples- mente eficazes. Harvard Business Review, abr. 2001. SHELL, G. Richard. Negociar é preciso. São Paulo: Negócio, 2002. 37Negociação no plano relacional ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ CAPÍTULO 2 NEGOCIAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS: ASPECTOS RELACIONAIS A negociação deve ser encarada como uma forma de re- solver conflitos entre pessoas em posições antagônicas em relação a determinado evento. Com isso, sentimentos posi- tivos e negativos sempre ocorrem, e a questão emocional tem grande peso na conduta dos negociadores. Quando a negociação é conduzida pela pura emoção, ela é chamada de primal; quando há a lógica e a razão, é chamada de cog- nitiva. Neste caso, também há emoções, porém elas estão sob controle, sendo essa uma enorme vantagem competi- tiva para o negociador, principalmente porque há diversas táticasde desestabilização que podem ser usadas em uma situação de negociação. Os animais fortes atacam, os fracos fogem. Só o ser hu- mano negocia. Portanto, negociar é um ato de superiori- dade! 38 ...................................................................................................................................................................................................................... Negociação e administração de conflitos: aspectos relacionais NEGOCIAÇÃO NO PLANO RELACIONAL Agora, vamos conhecer a negociação no plano relacional. Vantagem Competitiva É um conceito desenvolvido por Michael E. Porter. Em seu livro, Competitive Advantage, ele demonstra como uma empresa pode se diferenciar no mercado conforme a es- tratégia que escolher adotar. Essas estratégias podem se- guir três focos distintos: diferenciação, foco e liderança em custos. Esse grupo de atributos confere à empresa a capa- cidade de entregar um produto ou serviço com mais valor agregado na ótica dos clientes finais, permitindo que essa organização se diferencie dos concorrentes. Veja os exemplos: Ser um excelente advogado ou um advogado especialista em direito ambiental? Ser um consultor financeiro ou um consultor financeiro especialista em investimentos de alto risco? Observe que, em um contexto, o serviço é commodity; em outro, temos valor agregado. Michael Eugene Porter Professor da Harvard Business School, com interesse nas áreas de Administração e Economia. É autor de diversos livros sobre estratégias de competitividade. 39Negociação no plano relacional ...................................................................................................................................................................................................................... E no processo de negociação? Você diz que é um consultor financeiro ou um consultor financeiro especialista em indivíduos que têm mais de 1 milhão de dólares? Você diz que é um vendedor de computador ou um especialista em computadores para quem nunca teve um computador? Você é um corretor de imóveis ou um especialista em investimentos imobiliários? Essas questões são importantes, pois criam o chamado posicionamento, ou seja, uma associação imediata a uma postura ou comportamento, uma vez que o oponente tem claras em sua mente as seguintes respostas: • O que você faz de diferente em relação à con- corrência? • Por que você tem credibilidade? Para você, qual a melhor resposta? • “Eu tenho o menor preço.” • “Eu tenho o mais eficiente.” • “Eu tenho o mais exclusivo.” • “Eu tenho o maior número de opções.” Passar uma imagem positiva é essencial para criar empa- tia com o oponente! 40 ...................................................................................................................................................................................................................... Negociação e administração de conflitos: aspectos relacionais A importância da comunicação Proveniente do latim comunicare, a comunicação significa “ato ou efeito de troca de mensagens com uso de meio es- crito ou falado”. Esse ato é contínuo, pois até mesmo quan- do decidimos não nos comunicar já o estamos fazendo. A representação estruturada de um processo de comunica- ção nos ajuda a entender melhor como e onde o negocia- dor pode interferir. Em um lado encontra-se o emissor, que articula e planeja a mensagem, e, do outro, o receptor, que, além de receber, precisa compreender e assimilar a mensagem transmitida. No entanto, existe um contexto bem amplo que envolve essas partes e vai muito além da simples transmissão da informação, pois o grande foco está no receptor da men- sagem. É percebendo como ele age e reage que o emissor cria uma estratégia de forma que a mensagem chegue a ser absorvida com o menor nível de ruídos possível. 41Negociação no plano relacional ...................................................................................................................................................................................................................... Existem quatro formas básicas de expressão: • Ler. • Escrever. • Falar. • Ouvir. Toda nossa formação cognitiva é voltada para a expressão de ideias, pois desde muito cedo somos condicionados a ler, escrever e falar corretamente, mas nunca fomos treina- dos para a arte de ouvir, que é o principal atributo de um negociador. Vale ressaltar que ouvir e escutar são coisas diferentes. A primeira tem cunho fisiológico e se refere ao ato de as ondas sonoras penetrarem nos nossos ouvidos, enquanto a segunda tem caráter psicológico, pois envolve, além do próprio entendimento, a decodificação e a asso- ciação. Portanto, podemos afirmar: “a essência do ser humano é comunicar e receber comunicação.” Obstáculos da comunicação • Falta de conhecimento (insegurança). • Falta ou excesso de liberdade. • Ambiente impróprio (físico e social). • Falta de objetividade. • Canal inadequado. • Falta de feedback. 42 ...................................................................................................................................................................................................................... Negociação e administração de conflitos: aspectos relacionais • Falta de planejamento (prioridades estabelecidas de forma aleatória). • As pessoas não sabem ouvir. • Anseio por falar demasiadamente. • Vícios de linguagem e dicção. • Vocabulário não adequado ao receptor. • Deficiências de recursos (intelectuais e materiais). • Falta de carisma, simpatia e humildade. • Falta de comunicação em tempo hábil. • Inferência (suposição – hipótese – dedução) e boatos. O objetivo de uma negociação é identificar quais são os motivadores por trás de cada palavra, o que é chamado de “agenda oculta”. As pessoas se preocupam muito com saber o que as pessoas querem, mas poucos se preocupam com o que a outra parte gostaria de ter, ou seja, em saber as razões motivacionais que não são visíveis e nem sempre explícitas em um processo de negociação. As diversas reações que uma pessoa pode ter em um pro- cesso de negociação podem ser elucidadas pela teoria do iceberg, na qual vemos uma parte visível que mostra as necessidades tangíveis. 43Negociação no plano relacional ...................................................................................................................................................................................................................... Por mais racional que seja um negociador, uma vez ini- ciadas as negociações, ele se vê confrontado com as mais diversas reações (próprias e do outro) que podem pôr em risco o processo. Segundo Roger Fisher e Daniel Shapiro, autores de Como usar as emoções para negociar, existem cinco emoções- -chave (ou preocupações básicas) inerentes a qualquer in- divíduo em um processo de negociação, e eles mostram como trabalhá-las: • O apreço (é preciso valorizar o interlocutor). • A filiação (é preciso criar elo emocional). • A autonomia (deixá-lo sentir que controla a situ- ação). • O estatuto (reconhecer a validade de seu ponto de vista). • O papel (envolvê-lo no processo). 44 ...................................................................................................................................................................................................................... Negociação e administração de conflitos: aspectos relacionais Se o negociador puder gerenciar essas emoções a seu fa- vor, terá grandes chances de trazer os melhores resultados da negociação para seu lado. Nunca é demais reforçar que mais importante que o que é dito é a maneira de dizê-lo. É irrelevante ter a retórica afiada se o seu tom de voz não de- monstra segurança, credibilidade e entusiasmo. Veja algu- mas situações que devem ser evitadas pelosnegociadores: • Superlativos São os famosos “enroladores”, como, por exemplo: substancialmente prático, nitidamente fácil de utili- zar, efetivamente elaborado para você, entre outros. Muitos negociadores usam e abusam deles, pois su- põem gerar impacto, passando uma imagem de pom- pa. Cuidado! Negociadores, mesmo que inexperien- tes, ficam alertas a esse tipo de postura e fatalmente acabam pensando: “Acho que esse cara está queren- do me enrolar!”. Evite o superlativo, mas quando for necessário utilizá-lo, faça-o de forma que fique bem dentro de um contexto, pois sua real função é dar ênfase a algo de fato relevante. • Intimidades e gírias Uma comunicação se aproxima do sucesso quanto maior o nível de rapport entre as partes, e uma das maneiras de alcançar esse estágio é se aproximar de sua forma de falar, tanto na utilização das palavras, Rapport Termo da psicologia, muito utilizado em neurolinguística, que significa sintonia. Procure fazer este exercício: troque o que você iria dizer pela pa- lavra “muito” mais o adjetivo, por exemplo, em vez de usar a frase: “Você está comprando um produto interessantíssimo, eu garan- to”, diga: “Você está comprando um produto muito interessante, eu garanto.” Se couber, tudo bem. Do contrário, cuidado, você pode estar enrolando sem querer – o que é muito pior. 45Negociação no plano relacional ...................................................................................................................................................................................................................... que pode ser mais formal ou coloquial, quanto no ritmo e volume de voz. Por isso, só use palavras que demonstram intimidade ou gírias de maneira es- tratégica para se assemelhar a seu interlocutor. Na dúvida, use a formalidade, evitando expressões que demonstrem excesso de intimidade, tais como “par- ceiro”, “meu querido”, “cara”, entre outras. • Cacoetes de linguagem São termos a princípio sem relevância e que passam despercebidos quando falamos. Os mais comuns são: “tá”, “né”, “tipo assim”, “certo”, entre outros. Essas palavras, quando aplicadas de forma exacer- bada, podem desviar o foco da negociação, fazendo com que a outra parte preste atenção apenas nes- ses cacoetes. Uma das melhores maneiras de perce- ber se isso acontece ou não é gravar um discurso ou apresentação e depois ouvir atentamente. Preste atenção se tem alguma dessas palavras em seu dis- curso. Fique atento, limpe sua fala, livre-se delas! • Jargões Jargões são termos específicos de determinadas áre- as, funções, profissões ou organizações. Veja alguns exemplos: • Positivação: termo usado no mercado de distribui- ção e significa tornar os clientes inativos em ativos. • Glosa: termo usado em hospitais para designar a parte da fatura hospitalar que não é paga pelos planos de saúde. 46 ...................................................................................................................................................................................................................... Negociação e administração de conflitos: aspectos relacionais • “Escoriação”: termo usado em linhas de produção de pneus, que significa “sulcagem” (inserção de frisos). • Avulso: termo usado no mercado imobiliário do Rio de Janeiro, que significa imóvel usado. Observe que o negociador precisará saber se o oponente é do segmento de negócios em questão e há quanto tem- po. Caso termos excessivamente específicos ou técnicos sejam utilizados, sendo estes de desconhecimento da outra parte, isso poderá gerar constrangimento ou, na melhor das hipóteses, você será solicitado a “traduzir” determinadas passagens. Existem certos termos que precisam ser incorporados à estratégia do negociador, pois geram um estado de aceita- ção e segurança da outra parte. Veja os exemplos: Aconchegante – adorar – agradável – alegria – aprovação – aproveitar assistência – benefícios – bonito – capacidade – confiável – conforto – desconto – diferença – durabilidade – economizar – eficiência – exclusividade – experimentar – facilidade – felicidade – forte – futuro – ganhar – ganho – garantia – gostar – grandeza – lucros – mais – melhor – melhoria – moleza – mudança – novidade – novo – ocasião – opção – oportunidade – patrimônio – paz – perfeição – poder – positivo – prático – prazer – promoção – qualidade – relaxante – segurança – seguro – simples – simplicidade – solução – sucesso – único – valor – valorização – vantagem. 47Negociação no plano relacional ...................................................................................................................................................................................................................... Agora esses são os termos não recomendados: Acho – aumento – carnê – cheque – condicional (queria, fa- ria, teria etc.) – conta – contrato – custo – despesa – dificul- dade – gastar – gostaria – não – negativo – pagar – perder – por que não? – preço – prestação – risco – vencimento. Esses termos são associados a coisas desagradáveis. Ne- nhum de nós gosta de qualquer coisa que não seja boa, agradável e gostosa, e essas palavras que aí estão são exa- tamente o contrário de tudo isso. Um estado mental positivo é a base para o sucesso, en- quanto que um estado mental em debilidade e inapropria- do leva ao fracasso. Einstein disse certa vez que “quer você pense que pode, ou que não pode, você está certo”, assim, tenha muito cuidado com suas crenças. Albert Einstein Físico alemão que desenvolveu a teoria da relatividade geral, um dos pilares da física moderna. 48 ...................................................................................................................................................................................................................... Negociação e administração de conflitos: aspectos relacionais CARACTERÍSTICAS DO BOM NEGOCIADOR E CARACTERÍSTICAS PRATICADAS PELO NEGOCIADOR BRASILEIRO Neste tópico, vamos relacionar as características do bom negociador e as de suas práticas nas organizações. Se pudermos traçar um perfil ideal de negociador, este de- verá conter: • Visão: consiste na capacidade do negociador de formar uma imagem clara do cenário futuro dese- jado; isso implica uma definição clara dos objetivos de uma negociação: lucros, relacionamento ou indi- cações. • Imaginação: o sonho, quando combinado com o senso de responsabilidade, estimula a criatividade, que, em alguns casos, é a única alternativa para o negociador. • Poder de análise: é algo semelhante ao poder da objetividade, que significa ter a noção de objetivos, sem ser afetado pelo fator emocional; além disso, é saber distinguir o que é fato pontual e contexto, analisar o que é processo e resultado. • Iniciativa: ser o primeiro a pensar nas alternati- vas, no que o acordo pode ser melhorado, se esse é o momento ideal para conceder ou partir para o fechamento. 49Características do bom negociador e características praticadas pelo negociador brasileiro ...................................................................................................................................................................................................................... Existem vários outros atributos, que serão explorados mais adiante, mas, se abordarmos as características con- sideradas mais importantes pelos próprios negociadores brasileiros, levantadas por Carvalhal (2011) com mais de 4 mil pessoas em cursos de negociação, são destacadas 10 características essenciais, aqui apresentadas em ordem de prioridade: 1. Domínio do produto que está ofertando. 2. Capacidade de decisão sob pressão. 3. Planejamento. 4. Saber ouvir. 5. Controle emocional. 6. Poder de persuasão. 7. Ganhar a confiança da outra parte. 8. Comunicar-se de forma clara. 9. Ser íntegro. 10. Poderde decisão. O mais interessante dessa listagem é que o principal atributo de um negociador não é um ponto comportamental, mas sim téc- nico e, por esse motivo, muito mais simples de ser resolvido. O problema é que no Brasil ainda impera a cultura do “jeitinho”, que muitos imaginam poder cobrir quaisquer lacunas de conheci- mento técnico. Mas o que ocorre é o fato de a parte técnica ser cada vez mais acessível a todos, inclusive a seu oponente, fazen- do com que seja obrigação do negociador, no mínimo, ter o mes- mo grau de conhecimento. Em outra pesquisa feita em cursos de negociação, minis- trados pelo autor, entre 2011 e 2013 no Rio de Janeiro, 50 ...................................................................................................................................................................................................................... Negociação e administração de conflitos: aspectos relacionais com mais de 500 pessoas, foi possível constatar que erros são cometidos pelos negociadores brasileiros, lembrando que essa é uma característica cultural, uma vez que em ou- tros países tais posturas dificilmente ocorrem. Os pontos negativos são: • Prender-se a detalhes e esquece o todo. • Provocar ressentimentos explorando as fraque- zas da outra parte. • Evitar em vez de administrar o conflito. • Excesso de confiança que pode levá-lo a ignorar algumas etapas da negociação. • Utilizar o improviso em demasia, ignorando o planejamento. • Falta de comprometimento com prazos. • Preocupar-se apenas com o seu lado. • Não levar em conta as diferenças entre os nego- ciadores. • Trabalhar com uma margem estreita. • Não explorar convenientemente o fator tempo, tornando-se impaciente. • Assumir com frequência uma postura defensiva. • Falar mais do que escuta. • Não dar a importância devida aos resultados da negociação. 51Características do bom negociador e características praticadas pelo negociador brasileiro ...................................................................................................................................................................................................................... O primeiro passo é admitir que temos essas falhas e de- pois tomar medidas para evitá-las, pois o outro lado da negociação pode estar melhor preparado do que você. A seguir, vamos ver quais devem ser as táticas adotadas pelo bom negociador. Aspectos comportamentais a serem considerados na negociação Veja abaixo o que todo negociador deve considerar em seu planejamento: 1. Histórico das relações Resgatar como as negociações anteriores ocorreram trará informações muito úteis sobre a forma como a empresa se comporta, que pontos são mais impor- tantes e que fatores deverão ser explicitados e evita- dos. Quando o tema é marketing de relacionamento, existe uma segmentação de clientes muito utilizada no mercado: • Clientes de maior valor – CMV: compram com bastante frequência e com altos valores por compra. • Clientes de maior potencial – CMP: têm baixo volume de compras, muito por falta de estímulo e ações do negociador. • Clientes de valor estratégico – CVE: é o cliente formador de opinião e que abre portas para novas oportunidades em suas redes de relacionamento. • Below zero: são aqueles que querem basicamente duas coisas do negociador: desconto e prazo. 52 ...................................................................................................................................................................................................................... Negociação e administração de conflitos: aspectos relacionais Cada grupo demanda estratégias diferentes, inclusive, con- tar com negociadores diferentes. 2. Objetivos ideais e reais Qual seu objetivo e meta ideais e até onde ceder em caso de concessões; o que pode ser barganhado e se realmente há a expectativa de fechamento nesse encontro. Quanto mais puderem ser definidos esses extremos, mais fácil será a estratégia para negociar. 3. Presunção da necessidade Mesmo desenvolvendo a escuta ativa, o negociador precisa de uma espinha dorsal para negociar, e o mí- nimo que ele precisa é ter a certeza de que o que será oferecido está dentro das necessidades apre- sentadas pelo oponente. Nesse momento, caso haja a constatação de que o que será apresentado não é aderente a uma necessidade, a negociação pode até ser encerrada. Além de saber se o produto é o correto, é preciso sa- ber se o negociador é o mais adequado. Veja o qua- dro abaixo e perceba que é possível haver negocia- dores diferentes dependendo do que será discutido: • Comercial: preço, entrega, política de risco. • Técnica: especificações, programas, métodos de trabalho. • Legal: documentos, termos, condições, seguro. • Financeira: termos de pagamento, garantias. 53Características do bom negociador e características praticadas pelo negociador brasileiro ...................................................................................................................................................................................................................... No contexto acima, é possível haver quatro negocia- dores, um para cada área de conhecimento. Também é nesse momento que devemos começar a pensar nas necessidades, motivações, expectativas da outra pessoa; a negociação será sempre mais fá- cil se mostrarmos que o que vai ser proposto vai ao encontro do que a outra pessoa deseja. 4. Planejamento das concessões A negociação é um exercício de concessões, que devem ser previstas antes da negociação, e não du- rante o processo. Vale ressaltar as consequências e implicações de cada concessão e quais interessam mais ou menos à outra parte, pois o que é importan- te para uma parte pode ser totalmente irrelevante para a outra. Concessões mais importantes devem ser deixadas por último. 5. Conflitos potenciais Toda a negociação é repleta de impasses/conflitos. É preciso pensar em opções de solução para os possí- veis conflitos antes de a negociação começar, porque depois pode faltar tempo para isso. Uma alternativa é o uso do bom humor, algo que possa quebrar o gelo, mas cuidado: não tente ser engraçado se você realmente não for. 6. Expectativas positivas Chegou o momento do contato com o outro nego- ciador que, no processo de negociação, é chamado de abertura. 54 ...................................................................................................................................................................................................................... Negociação e administração de conflitos: aspectos relacionais Com frequência, os problemas que surgem em mui- tas negociações são consequências da falta de pre- paração de uma ou mais partes. Normalmente, ao se preparar, o negociador deve preocupar-se com alternativas, interesses, opções, legitimidade, com- promissos, comunicação e relacionamento. Como a comunicação interpessoal tem componentes de arte e ciência, estudá-la e praticá-la pode ser uma das for- mas de melhorar o talento do negociador. Isso inclui o es- tudo da linguagem corporal, que veremos mais à frente. No universo corporativo, recomenda-se também que a equipe negociadora esteja bem informada sobre vários as- pectos. Os mais importantes estão listados abaixo: Pesquisa técnica • Conhecimento de sua empresa: Histórico e organização. Política de médio e longo prazo. Faturamento, capital. Situação atual. Recursos humanos. Principais clientes. Reportagens publicadas na imprensa. Eventos promovidos (internos, promocionais e comerciais). Finanças, riscos e investimentos. 55Características do bom negociador e características praticadas pelo negociador brasileiro ......................................................................................................................................................................................................................• Conhecimento sobre o cliente: Reportagens publicadas sobre o prospect. Ramo de atuação e interesses. Principais executivos e diretores. Mercados-alvo. Diferenciais dos produtos e serviços. Reputação. • Conhecimento do produto: Os equipamentos e processos necessários à fa- bricação. A tecnologia empregada. Sistema e política de qualidade. Número de funcionários envolvidos no back-office. Controle de qualidade. Aplicações e usos. Armazenagem, estoques, logística de transporte. Embalagens, rótulos e marcações. Garantias. • Cultura geral: Eleições. Futebol. Política nacional. Política internacional. 56 ...................................................................................................................................................................................................................... Negociação e administração de conflitos: aspectos relacionais Na fase de abertura, o objetivo é criar um ambiente pacífi- co e leve, pois o primeiro contato tende a ditar o ritmo da negociação até o final. Uma das técnicas de reduzir as ten- sões é buscar alguma coisa no ambiente a ser negociado e fazer perguntas. Tais itens podem ser: fotos da família sobre a mesa, escudo de times de futebol ou hobbies que você possa identificar. Feito isso com sucesso, surge a pri- meira afinidade. Concordância para prosseguimento É importante definir o escopo do que será feito: • Em que local. • Durante quanto tempo. • Quais os pontos a serem discutidos. Agora tudo está pronto para a etapa seguinte. Neste momento, o objetivo principal é identificar os an- seios do oponente, estimulando com os chamados “argu- mentos poderosos”, e, para iniciar essa etapa, proceda da seguinte forma: • “Antes de falar a respeito de meu produto/servi- ço quero ouvir o que você acha a respeito de...”. • “Você se importa em falar mais a respeito de...” É possível que haja algum tipo de resistência, mas normal- mente as pessoas se sentem à vontade para falar. 57Características do bom negociador e características praticadas pelo negociador brasileiro ...................................................................................................................................................................................................................... Existe algo que os gestores adoram falar, que é de seu his- tórico profissional e como chegou à empresa atual, pois essa é uma história importantíssima para a pessoa que a viveu e, portanto, compartilhá-la lhe traz mais satisfação. O mesmo se refere a um empresário sobre o início de seu negócio. Como pensam os compradores? Este tópico aborda as armadilhas dos compradores. Trata- -se de uma série de comportamentos usados para inibir o vendedor e realizar uma boa compra. Vamos a elas: Não demonstrar simpatia ao negociador A maioria dos compradores é fortemente treinada e pres- sionada para apertar ao máximo os vendedores. É um jogo: de um lado, o vendedor querendo mostrar segurança e credibilidade; do outro, o comprador mostrando rigidez, firmeza e austeridade para intimidar o profissional de ven- das e tirar vantagens. Desestabilizar o vendedor é seu prin- cipal objetivo. Pedir, pedir e pedir É praxe de compradores profissionais fazerem uma série de pedidos de coisas que são, às vezes, impossíveis de re- alizar. Cuidado com as concessões: não caia no discurso de “me conceda uma condição diferenciada, que na próxima opor- tunidade lhe concedo uma bonificação”, ou pior: “tenho uma grande rede de relacionamentos e posso lhe colocar em contato com eles, caso me conceda um desconto e fe- chemos logo o negócio”. 58 ...................................................................................................................................................................................................................... Negociação e administração de conflitos: aspectos relacionais Jamais haverá um pedido melhor. Pouco provavelmen- te haverá “dezenas de indicações”. A tendência é sempre pressionar para baixo, com os mais variados discursos. Muitos compradores desempenham bem o papel de leiloei- ro. Cuidado, muito cuidado para não rifar e tirar o “valor” de seus produtos e serviços. Resista firme e não se deixe enganar. Nunca aceitar a primeira Por melhor que seja sua primeira proposta ao cliente, ele jamais aceitará (raros são os casos contrários). Trata-se de um fato cultural, é a maneira brasileira de ser. Inconscien- temente achamos que tudo que não é negociado passa a impressão de que não foi feito um bom negócio. Comece sempre com uma margem bacana, alta o suficiente para a percepção de desconto que você acabará conceden- do, mas dentro da média de mercado. Trocar e nunca conceder Um comprador bem preparado sempre trocará algo, dife- rentemente do que muitos vendedores fazem diariamente. Exemplo: se o pagamento é à vista, quer mais desconto. Se é para pagar parcelado, pede uma bonificação. Jamais dê um benefício adicional ou mesmo um desconto sem trocar por algo significativo. Uma negociação bem-su- cedida não é uma questão de ceder ou impor, mas de se buscar a melhor solução para todas as partes: para o ven- dedor, para a empresa do vendedor e para o cliente. 59Características do bom negociador e características praticadas pelo negociador brasileiro ...................................................................................................................................................................................................................... Enxergar o despreparado O comprador profissional tem faro para vendedores des- preparados, seja de forma técnica ou emocional. Técnica: é fundamental conhecer profundamente os pro- dutos e serviços de sua empresa, de maneira que consi- ga vender o “real” valor deles. O vendedor precisa ter em mente que, independentemente de seu ramo de atuação, se vender algo diferente de “lucro imediato” ou “resolução de problemas” estará fadado ao fracasso. Emocional: vendedor que já chega derrotado, aquele que tropeça mesmo sem nenhum obstáculo aparente. Aquele que precisa levar o pedido de qualquer maneira. Por mais que essa seja sua situação, não demonstre essa emoção. “Em uma negociação, tão importante quanto ser, é parecer ser.” Jamais demonstre o desespero. Fisionomia fechada Em geral, não se preocupe quando for recebido por uma carranca. O comprador de cara fechada não está chateado com você ou com sua empresa. Essa é uma armadilha mui- to utilizada para desestabilizar o vendedor. Compradores profissionais são orientados a não sorrir para intimidar mesmo. A dica especial é sorrir. Você é que vai desestabilizá-lo. Afinal, um sorriso sincero sempre é contagiante, mas nada de contar piadas (especialmente aquelas sem graça) com o intuito de quebrar o gelo. 60 ...................................................................................................................................................................................................................... Negociação e administração de conflitos: aspectos relacionais Elogios só para a concorrência Compradores profissionais e clientes em geral têm o hábi- to de falar muito bem da concorrência. Eles nunca falarão, ao menos em sua frente, o quanto apreciam os serviços e produtos que você comercializa. A parte legal da história é que, quando eles estiverem com o concorrente, você será o melhor. O oposto também é verdadeiro. Se eles falam mal da concor- rência para você, mesmo com ar de confidentes, podem fa- lar mal de você para a concorrência, mas aí é outra história. Desestabilizar o negociador Ameaças de romper a negociação e deixar o vendedor es- perar por horas são boas táticas dos compradores. Quando eles começam a dizer: “vamos deixar para depois, vou pensar, passe no mês que vem” e coisas do tipo, resis- ta firme e use
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