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Psicologia, do autor David Hothersall, das páginas 13 a 27

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capitulo 1 do livro História da Psicologia, do autor: David Hothersall, das páginas 13 a 27.
A Psicologia e os Antigos
As raízes da civilização ocidental remontam ao mundo da Grécia e da Roma Antiga. Especi-ficamente, duas grandes áreas da investigação humana – a filosofia e a ciência natural – ori-ginaram-se das obras dos antigos pensadores gregos e romanos. Dado que a psicologia surgiu como uma disciplina independente da filosofia e adotou gradualmente os métodos das ciências, é apropriado examinarmos as bases antigas dessas duas disciplinas afins. Dentre os primeiros relatos dos fenômenos que chamamos psicológicos, há uma série de “li
vros dos sonhos” assírios compostos em tábuas de argila no quinto e no sexto milênios antes de Cristo (Restak, 1988, p. 3). A Assíria foi um dos grandes impérios do mundo antigo, que no seu auge se estendeu do mar Mediterrâneo, a oeste, até o mar Cáspio, a leste, entre as atuais Armênia e Arábia. As tábuas de argila não foram projetadas para uma leitura fácil. As entradas cuneifor-mes na argila representavam sílabas, e não letras, e o mesmo signo freqüentemente representava dois ou mais sons diferentes. Mas as tábuas de argila tinham uma grande vantagem: elas se en-dureciam com o fogo, por isso sobreviveram quando ocorreu um incêndio em uma “biblioteca” (Casson, 2001). As tábuas de argila assírias descrevem sonhos relacionados à morte e à perda de dentes ou cabelo, e – o que é mais interessante, já que demonstram autoconhecimento – sonhos sobre a vergonha da descoberta da própria nudez em público. Mas o nosso conhecimento mais completo provém dos antigos mundos do Egito, da Grécia e de Roma. Neles, os médicos e filóso-fos antigos especularam a respeito da natureza e do locus da mente, da sensação e da percepção, da memória e da aprendizagem. De modo geral, os antigos nos forneceram muitas maneiras diferentes de encarar a natureza humana e de abordar os problemas da psicologia. Essas aborda-gens diferentes, ou orientações e paradigmas intelectuais, surgiram dos avanços que os antigos fizeram na matemática e na filosofia e de suas concepções da natureza do universo.
AVANÇOS NA MEDICINA: UMA ABORDAGEM BIOLÓGICA
Em várias épocas de sua história, a psicologia estabeleceu uma forte aliança com a medicina, a fisiologia e a neurologia. Acreditava-se que os processos e comportamentos psicológicos tinham uma base biológica. De fato, muito da “psicologia” desses períodos seria hoje considerado per-tencente ao campo da medicina. Por essa razão, iniciamos com uma breve consideração da antiga medicina grega. Os médicos gregos tinham teorias a respeito do locus da mente e do modo como a fisiologia pode afetar o temperamento.
14 Capítulo 1 
Os Primórdios da Medicina na Grécia
Até o período que antecedia o ano 500 a.C., a medicina grega estava nas mãos dos sacerdotes que residiam nos templos e que eram considerados detentores dos segredos de Asclépio ou Esculá-pio, o deus grego da medicina (Magner, 1992). Na Ilíada, Homero descreve Esculápio como o filho de Apólo, um guerreiro heróico e médico irrepreensível. Seus seguidores, os asclepíades, eram famosos por serem capazes de debelar a infertilidade, curar várias doenças e restaurar a saúde, especialmente nos casos de cegueira, surdez e várias formas de paralisia. Eles apregoavam que todos estavam curados, talvez porque escolhessem cuidadosamente seus pacientes. Suas técnicas eram segredos bem guardados. Um paciente que desejasse tratamento era socialmente isolado (“incubado”) no templo, sendo submetido a uma série de rituais. Os sacerdotes recontavam-lhe os poderes de Esculápio, liam histórias de casos registrados nas paredes dos templos e faziam poderosas sugestões de que a cura ocorreria. Eles utilizavam drogas para aliviar as dores e fazer parar os sangramentos. No final, o paciente pagava uma quantia substancial aos sacerdotes pelos serviços prestados.
Por volta de 500 a.C., um médico grego de nome Alcmaeon começou a dissecar corpos de animais para estudar seus esqueletos, músculos e cérebros. As primeiras descrições do corpo já existiam, mas as de Alcmaeon provavelmente foram as primeiras baseadas em observações obje-tivas. Ele ensinou seus métodos aos alunos de uma escola de medicina que havia fundado em sua cidade natal, Croton, esperando ir contra a influência dos sacerdotes e substituir a medicina dos templos por uma abordagem racional, não-mística e observadora. Esse enfoque era de natureza holística, pois Alcmaeon acreditava que a saúde e a doença eram produtos dos respectivos equi-líbrio e desequilíbrio dos sistemas corporais. Em sua visão, o calor excessivo do corpo causava a febre e o frio excessivo provocava os calafrios; a saúde, para ele, consistia no equilíbrio harmo-nioso dos estados corporais.
Hipócrates O sucessor de Alcmaeon, Hipócrates, foi a figura mais importante da medicina grega durante
esse período. Nascido por volta de 460 a.C., ele dizia ser ancestral de Asclépio por parte de pai e de Hércules por parte da mãe. Hipócrates recebeu sua educação básica em Cós, um dos grandes centros da medicina templária. Como Alcmaeon, ele acabou rejeitando o mistério e a superstição dos sacerdotes e fundou uma escola médica para ensinar uma abordagem objetiva e descom-prometida da medicina. Hipócrates era tão apaixonado que foi até mesmo acusado de pôr fogo à biblioteca de medicina de Cós para erradicar as tradições da medicina concorrentes (Magner, 1992, p. 66). Hipócrates ensinava a seus alunos que toda doença resulta de causas naturais e deve ser tratada com o uso de métodos naturais. Ele insistia em que o poder de cura da natureza per-mite ao corpo curar a si mesmo e livrar-se da doença. Conseqüentemente, Hipócrates acreditava que a primeira responsabilidade de um médico era não interferir nesse poder de cura; o médico, em primeiro lugar, não deveria causar dano. Assim como Alcmaeon, Hipócrates adotou uma abordagem holística para a medicina. Por acreditar que o corpo devia funcionar em estado de harmonia, ele sempre prescrevia descanso, exercício, boa dieta, música e o convívio com amigos para restaurar a harmonia natural do corpo. A ênfase de Hipócrates era mais no paciente do que na doença. Sua abordagem holística da saúde e da cura tem ardentes defensores em nossa época (Cousins, 1979, 1989).
Hipócrates, que era um agudo observador, conseguiu extrair algumas conclusões extrema-mente acuradas de suas observações. Ele concluiu corretamente que o lado direito do corpo era
A Psicologia e os Antigos 15
controlado pelo lado esquerdo do cérebro e que o lado esquerdo do corpo era controlado pelo lado direito do cérebro. Esse insight, que vai contra a intuição, resultou da observação feita por Hipócrates de que o dano a um lado da cabeça freqüentemente produz a paralisia no lado oposto do corpo. Mais provas da capacidade de observação de Hipócrates podem ser encontradas nas notas de seus casos e nos procedimentos clínicos que ele detalhou em uma obra intitulada The Art of Healing [A Arte da Cura]. Nesse tratado, ele apresentou claras descrições da melancolia, da mania, da depressão pós-parto, das fobias, da paranóia e da histeria. Mas Hipócrates estava enganado a respeito da histeria, já que restringiu essa doença às mulheres, pensando que ela se devia à instabilidade do útero. Essa concepção errônea da histeria como doença ligada ao sexo permaneceu até que Freud a desafiou no início do século XX. Em seu tratado The Nature of Man [A Natureza do Homem], Hipócrates apresentou uma teoria
dos humores. Empédocles havia descrito o universo composto de quatro elementos imutáveis, mas inter-relacionados: o ar, a terra, o fogo e a água. Segundo Hipócrates, esses elementos formariam os quatro humores básicos do corpo: a bílis negra e a amarela, o sangue e a fleuma. Um desequilíbrio ou um excesso de qualquer desses humores produziria a doença ou a moléstia. A fleuma se acu-mularia no nariz e na garganta quando uma pessoa estivesse resfriada; quando a pele se rompesse, o sangue seria liberado; a bílis seria excretada do corpo depoisde um ferimento grave. A teoria de Hipócrates dos humores influenciou o diagnóstico e o tratamento de doenças por muitos séculos. A sangria para retirar o excesso de sangue foi praticada até o século XIX. A faixa com listas verme-lhas e brancas nas barbearias, que se vê ainda hoje, era originalmente o sinal de um sangrador. Também se considerava que os humores básicos de Hipócrates afetavam o temperamento e a personalidade. Os indivíduos com muita bílis negra seriam mal-humorados, rabugentos e possivelmente melancólicos; os com muita bílis amarela seriam irascíveis, coléricos, facilmente irritadiços e talvez maníacos; os com muita fleuma seriam apáticos, tristes e preguiçosos; os com demasiado sangue seriam excessivamente alegres, felizes e otimistas. O poder de permanência dessa teoria é evidente no uso contemporâneo de palavras como bilioso, fleumático e sangüíneo. Como Hipócrates, também podemos indagar: “como está o humor do Sr. X hoje?” A obra mais importante de Hipócrates, De Morbu Sacro [Sobre a Doença Sagrada], descrevia a temível doença da epilepsia. Na época, os ataques epiléticos eram considerados resultados da intervenção divina direta. Os homens e mulheres que eram atingidos por forças poderosas e in-controláveis durante os ataques do grand mal sofriam porque os deuses haviam levado sua mente embora. A crença na recompensa divina apresentava um problema nefasto: como uma pessoa po-deria apaziguar um panteão de deuses e deusas, que, a qualquer momento, podiam intervir para abatê-la? Como as divindades gregas eram um grupo admiravelmente caprichoso, o problema era mesmo sério.
Essas atitudes fatalistas foram contestadas pela visão natural que Hipócrates tinha da epilep-sia. A frase de abertura de Morbu Sacro mostra sua clara intenção de romper com esse misticismo:
Ela [a epilepsia] não me parece ser mais divina, nem mais sagrada do que outras doenças, mas, como outras afecções, tem uma causa natural da qual se origina. Os homens crêem que ela é divina apenas porque não a entendem. Mas, se eles achassem que é divino tudo o que não podem compreender, então não haveria fim para as coisas divinas. (Hipócrates, apud Zilboorg e Henry, 1941, p. 43-44)
Hipócrates rejeitava as antigas visões da epilepsia, chamando aqueles que as mantinham de nada mais que “conjuradores, putrefatórios, embusteiros e charlatães”. Ele considerava a epilep-sia uma doença causada pela desarmonia do cérebro e previu que o exame do cérebro de um epi-lético revelaria a causa da doença dessa pessoa. Hipócrates era otimista quanto à epilepsia poder ser curada por meio de tratamentos naturais.
16 Capítulo 1
A teoria da sede que Hipócrates formulou ainda é considerada parcialmente correta pelos teó-ricos contemporâneos da motivação. Segundo essa teoria, à medida que inspiramos o ar com as membranas da mucosa da boca e da garganta, elas se tornam secas e crestadas. Essas membranas secas dão origem a certas sensações que interpretamos como o sentimento de estar com sede, por-tanto bebemos para aliviá-las. A teoria da boca seca acabou sendo amplamente aceita depois de ser reformulada no século XVIII por Albrecht von Haller (1747) e Pieter Jessen (1751). Mas foi apenas em 1855 que o grande fisiologista francês Claude Bernard apresentou provas que levaram os fi-siologistas a questionar a suficiência da teoria da boca seca de Hipócrates. Bernard descobriu que, ao implantar diversos tubos na garganta de cavalos, de modo que a água que eles bebiam nunca alcançasse seu estômago, eles continuariam a beber grandes quantidades de água muito depois de a mucosa de sua garganta ter sido banhada com o líquido. Embora Bernard tenha demonstrado que a teoria da boca seca de Hipócrates não fornecia uma explicação completa da nossa razão para beber, ela ainda encontra ressonância na experiência diária, e sua persistência é encontrada em afirmações como “preciso de uma bebida, minha garganta está seca” e “preciso extinguir a sede”. Hipócrates, “o pai da medicina”, tornou-se uma figura quase mítica, talvez até mesmo um composto das qualidades do médico ideal. Durante séculos, ele foi visto como uma autoridade em questões médicas, e hoje os estudantes que se formam em medicina pronunciam o juramento de Hipócrates. Mas Hipócrates também pode ser encarado como um antigo “pai da psicologia”. Ele descreveu causas naturais das condições fisiológicas, recomendou tratamentos holísticos, apresentou as primeiras descrições claras de muitos problemas comportamentais e formulou te-orias duradouras a respeito do temperamento e da motivação. Hipócrates também foi um crítico esclarecido acerca das leis que proibiam as mulheres de estudar medicina. Ele observou que as mulheres freqüentemente relutavam mais em discutir seus problemas de saúde com um homem e que apresentavam mais probabilidade de consultar-se com uma mulher. Nosso conhecimento de Hipócrates pode ser amplamente identificado na obra de um médico
grego, Galeno, que viveu cerca de 600 anos depois de Hipócrates. Como observa Daniel Robin-son (1981, p. 130), Galeno não apenas manteve vivo o sistema de Hipócrates para os historiadores subseqüentes, mas também manteve a idéia da importância crítica da observação viva para os cientistas que vieram posteriormente.
Galeno: Um Vínculo com o Passado
Galeno viveu de 130 a 200 d.C. Ele deixou um grande sistema de idéias a respeito de fisiologia derivadas tanto das obras de seus predecessores como de sua própria experiência e observações. Seu sistema influenciou o pensamento da biologia até o século XVI e o início da moderna era cien-tífica. Galeno foi treinado como médico e anatomista no Museu e Instituto de Alexandria. Essa grande instituição de aprendizagem e pesquisa, com sua biblioteca de 700 mil volumes, havia sido criada em 323 a.C., depois da morte de Alexandre, o Grande (356–323 a.C.) e da divisão de seu império. O pessoal do museu incluía os matemáticos Euclides (330–275 a.C.) e Arquimedes (287–212 a.C.), assim como muitos anatomistas habilidosos, cujo conhecimento do corpo humano derivava de suas dissecações sistemáticas de cadáveres humanos. Em 169 d.C., Galeno mudou-se para Roma e assumiu o compromisso de ser médico da corte do imperador romano Marco Aurélio Antônio. Desse modo, ele teve acesso à vasta coleção de textos da Biblioteca Imperial que eram enviados a Roma de todos os cantos do Império. Acreditando que todo conhecimento derivava da sabedoria antiga, Galeno fez bom uso daqueles textos. Porém, ele também estava comprometido com a observação e a experimentação pessoal, por isso suas obras reportam tanto a sabedoria de seus predecessores como suas próprias descobertas empíricas.
A Psicologia e os Antigos 17
Entre 165 e 175 d.C., Galeno escreveu um tratado de 17 volumes, De Usu Partium [Sobre a Uti-lidade das Partes], que descrevia a estrutura e as funções do corpo. Além de apoiar-se nos textos de anatomia, Galeno baseou-se em três linhas de evidência: aquilo que havia aprendido com os anatomistas antigos; a própria experiência clínica como cirurgião dos gladiadores de sua cidade natal, Pérgamo; e, finalmente, as dissecações de pequenos macacos, bodes, porcos, bois e possi-velmente alguns cadáveres humanos, embora estas devam ter sido feitas às escondidas porque a dissecação do corpo humano era ilegal na Roma Imperial. Apesar de não ser cristão, Galeno era um vigoroso oponente ao materialismo ateísta dos anti-gos atomistas e mecanicistas. Ele achava que a crença deles, de que toda matéria resulta de meros encontros casuais entre átomos hipotéticos, era totalmente inaceitável por ignorar o que parecia ser um fato fundamental revelado por seus estudos de anatomia: a evidência do projeto divino na estrutura do corpo. Galeno enfatizou que a complexidade, a harmonia e a beleza do corpo não podiam ser um acidente. Ele afirmava ter observado que nenhuma parte do corpo humano é supérflua. Galeno notou, por exemplo, que não é por acaso que temos duas mãos. Se tivéssemos apenas uma, seríamos incapazes de fazer muitas das coisas que conseguimos facilmenterealizar com duas; se tivéssemos três, uma seria supérflua. Se não tivéssemos um polegar, não poderíamos opô-lo ao indicador e, portanto, seríamos incapazes de realizar a manipulação sofisticada que nossas mãos nos permitem fazer. Como prova adicional do projeto divino, Galeno citou a impos-sibilidade de se conceber um substituto para qualquer parte do corpo que fizesse todas as funções normais dessa parte. Que substituto, por exemplo, poderia ser tão versátil como a mão humana? A noção de Galeno da improbabilidade da criação sem o projeto divino vem sendo elaborada a partir de então. No século XVIII, o arcebispo de Canterbury, John Tillotson, aplicou a idéia de Galeno à criação da poesia, da prosa, dos livros e dos retratos (Bennett, 1977). Quantas vezes, per-guntou Tillotson, uma pessoa precisaria pegar uma mala cheia de letras, sacudi-la vigorosamente e espalhar as letras no chão até criar um poema ou um trecho de prosa? Quantas vezes, até que as letras formassem um livro? Quantas vezes as cores teriam de ser borrifadas em uma tela antes de formar um retrato? Poemas, prosa, livros e retratos somente são formados quando a inteligên-cia humana é aplicada; assim também, argumentou Tillotson, a inteligência divina deve ter sido aplicada na criação de seres humanos e do mundo. Essas visões perpetuaram, através das eras, a noção de Galeno a respeito de nossa natureza espiritual. As descrições das funções do coração feitas por Galeno também refletem sua abordagem es-piritual do entendimento da humanidade, assim como o seu aprendizado em Alexandria. Os anatomistas do museu notaram que o hálito de uma pessoa é quente e que o calor, em geral, caracteriza o corpo vivo, ao passo que o frio caracteriza o corpo morto. Eles pensavam que esse calor era criado pelo fogo no coração; consideravam o hálito que se via em uma manhã fria como a fumaça proveniente do fogo. Para testar sua teoria, os anatomistas do museu sacrificaram escra-vos e abriram-lhes o peito em busca da chama biológica. Quando não a encontraram, concluíram que o peito não havia sido aberto com rapidez suficiente, tanto que o fogo tinha tido tempo para extinguir-se. Galeno acreditava que a chama biológica do coração destilava do sangue a subs-tância espiritual responsável pelo movimento e pela sensação: o espírito vital. Ele fracassou em reconhecer o papel do coração como uma bomba – reconhecimento esse que de fato foi adiado por uns 1.500 anos até que um inglês, William Harvey, propôs essa idéia (Capítulo 2). Galeno também descreveu um método de “reconhecimento e cura de todas as doenças da alma” em seu tratado On the Passions and Errors of the Soul [Sobre as Paixões e os Erros da Alma] (Hajal, 1983). Galeno acreditava que as doenças da alma surgiam das paixões, como a raiva, o medo, a tristeza, a inveja e a luxúria violenta. Essas paixões, segundo ele, eram governadas por uma força irracional dentro de nós que se recusava a obedecer à razão. Para libertar-se dessas 
18 Capítulo 1
paixôes , a pessoa tinha de lutar para obter entendimento e autoconhecimento. Mas essa tarefa é difícil porque o amor próprio nos cega para os nossos erros e faz que vejamos apenas os erros dos outros. Galeno afirmava que um bom e nobre mentor-terapeuta era essencial. Ele escreveu o seguinte:
Se [uma pessoa] deseja tornar-se boa e nobre, deve procurar alguém que a ajude desvendando todas as suas ações erradas... Porque não devemos deixar o diagnóstico dessas paixões a nós mes-mos, mas devemos confiá-lo aos outros... Essa pessoa madura que é capaz de ver esses vícios deve revelar com franqueza todos os nossos erros. Em seguida, quando nos falar de alguma falta, sejamos, em primeiro lugar, gratos a ela; depois, afastemo-nos e consideremos a questão por nós mesmos; tratemos de nos censurar e de tentar eliminar a doença, não apenas até o ponto em que ela deixar de ser aparente para os outros, mas tão completamente a ponto de removermos suas raízes de nossa alma. (Galeno, apud Hajal, 1983, p. 321-322)
Esse trecho representa hoje uma descrição de um relacionamento ideal entre terapeuta e pa-ciente ou conselheiro e cliente.
As obras de Galeno não foram suplantadas na Antigüidade e o galenismo dominou a medi-cina até a época do Renascimento. Até mesmo durante as grandes revoluções científicas nas dé-cadas que se seguiram ao Renascimento, a maior parte dos textos de medicina, especialmente de anatomia, começava com um reconhecimento de Galeno. O que é mais importante, foi por meio de Galeno que conhecemos a teoria da medicina e da ciência antigas. Suas contribuições foram celebradas em 1986, no Terceiro Simpósio Galênico Internacional na Università di Pavia.
O AVANÇO NA MATEMÁTICA: A BUSCA DA ORDEM
Os antigos egípcios eram infatigáveis medidores e contadores, mas sua abordagem era prática. Para taxar as terras de maneira justa, eles precisavam de medidas exatas dos aumentos e dimi-nuições da extensão de terra causadas pelas inundações periódicas do Nilo. A geometria e a medição da terra foram desenvolvidas para atender a essa necessidade. Além disso, os egípcios estavam preocupados com questões como a determinação dos eixos norte-sul e leste-oeste para o correto alinhamento dos templos e com as medidas e cálculos envolvidos na construção de estru-turas colossais como as pirâmides. Essas foram grandes realizações, mas os gregos é que usaram as técnicas de mensuração aperfeiçoadas por legiões de geômetras e agrimensores egípcios como a base da teoria da matemática. Para os gregos, os números eram algo mais do que uma ferramenta útil para resumir e des-crever as medidas. Com eles, pela primeira vez, a matemática tornou-se mais do que uma ferra-menta útil: tornou-se a linguagem da ciência e também moldou as visões de mundo dos homens e mulheres que foram educados na tradição ocidental (Grabiner, 1988, p. 220). A teoria da mate-mática também pôde ser usada para prever os acontecimentos futuros. Tales de Mileto represen-tou um papel importante nesse progresso. Em 585 a.C., usando a teoria matemática, ele previu um eclipse solar. Esse feito, que inspirou medo, angariou-lhe aclamação popular, mas também fixou na mente das pessoas a idéia ainda hoje popular dos cientistas abstraídos, com a cabeça nas nuvens, incapazes de ver o chão: dizem que Tales caiu em uma vala enquanto contemplava as estrelas. Uma senhora perguntou-lhe: “como você pode saber o que está acontecendo no céu, quando não vê o que está aos seus pés?” (Turnbull, 1956, p. 81). Um dos alunos de Tales era Pitágoras (584–495 a.C.), o matemático grego que nos legou o
Teorema de Pitágoras. Não é de surpreender que Pitágoras compreendesse o poder da previsão e procurasse estendê-lo ao mundo da psicologia. Ele conseguia descrever com elegância uma 
A Psicologia e os Antigos 19
relação matemática entre o mundo físico e a experiência psicológica da harmonia. Pitágoras de-monstrou que, quando uma única corda esticada de um instrumento musical, como uma harpa ou um alaúde, é puxada, ela produz uma nota fundamental; quando essa corda é dividida em duas partes, quatro partes ou quaisquer partes exatas e é tocada novamente, produz notas que são harmoniosas com a nota fundamental. Quando as divisões das cordas são feitas em outros pontos diferentes das divisões exatas, as notas não são harmoniosas com a nota fundamental. Pitágoras mostrou que as notas que agradam ao ouvido humano correspondem às divisões exa-tas das cordas dos instrumentos. Tendo definido a relação entre o comprimento da corda de um alaúde e a experiência da harmonia musical, Pitágoras conseguiu prever a qualidade da expe-riência musical para qualquer combinação de cordas. Sucessos como esse levaram-no a concluir que tudo é número, que os princípios da matemática são os princípios que estão por detrás de todas as coisas. A conclusão de Pitágoras teve um grande apelo. Suas aulas e demonstrações atraíram gran-des audiências entusiasmadas, inclusive muitas mulheres que ignoravam a proibição de assistir a reuniões públicas. Seus seguidores chegaram ao ponto de organizar-seem uma sociedade se-creta, a Ordem dos Pitagóricos, dedicada ao uso do seu conhecimento da matemática para enten-der o mundo e acabar exercendo uma influência nele. A tradição acadêmica que rodeava Pitágoras e os gregos antigos também resultou na ciência ocidental, influenciou a filosofia ocidental e, muito mais tarde, a psicologia, quando lutava para definir-se como ciência. Os psicólogos ainda tentam “medir” os processos psicológicos comple-xos como a motivação, a criatividade e a inteligência. Se pudessem ser encontradas relações pre-cisas entre esses fenômenos e os números, seria possível delinearmos leis psicológicas da mesma maneira que estabelecemos as leis físicas do universo? Seria possível prevermos o comporta-mento humano e os processos de pensamento com a mesma exatidão com que os antigos gregos prediziam os movimentos do céu? Os psicólogos ainda debatem essa possibilidade. ATOMISMO: A MENTE COMO MATÉRIA
Entre os séculos VII e V a.C., os gregos se preocuparam com as teorias do cosmos, ou a cosmo-logia. Essa área de pesquisa resultou no materialismo, ou na posição de que o universo pode ser entendido em termos das unidades básicas do mundo material. Foi dessa tradição intelectual que Demócrito (460–370 a.C.), o grande filósofo da Trácia, desenvolveu o atomismo.
Demócrito e uma Antiga Teoria da Percepção
Demócrito pensava que as minúsculas partículas atômicas em incessante movimento eram a base de toda a matéria. Ele via o mundo como uma massa desses átomos que se conduzia sem a neces-sidade de forças externas. A mente humana não foi excluída desse mundo físico. Ela também era uma coleção de átomos que podiam influenciar os acontecimentos do mundo externo e ser por eles influenciada. Conseqüentemente, Demócrito considerava os conteúdos da mente, tais como eram mostrados pelos seus arranjos de átomos, como o resultado da experiência. É importante notar que essa teoria diferia substancialmente das concepções posteriores da mente, como as de Descartes, que entendia ser a mente separada do corpo e governada por leis diferentes daquelas que governam o mundo físico. Demócrito acreditava que os objetos do mundo externo emitem feixes de átomos que se im-pingem na mente de quem os percebe para produzir percepções. O feixe atômico é uma repre-
20 Capítulo 1
sentação do objeto: um objeto retangular emite um feixe retangular; um objeto circular, um feixe circular; um objeto azedo, um feixe de átomos pequenos, angulares e finos. Os ícones no cérebro representam os objetos percebidos. Somente depois que os neurocientistas fizeram descobertas relativamente recentes a respeito da anatomia funcional do cérebro e do sistema nervoso central é que essa noção de representação icônica foi completamente abandonada.
Os Paradoxos de Zenão
Segundo M. Cary e T. J. Haarhoff (1959), o problema geral da relação entre a mente e a matéria tornou-se importante à medida que os gregos começaram a questionar a confiabilidade dos sis-temas sensoriais. Zenão de Eléia (495–435 a.C.) ofereceu o apoio mais forte para essa posição. Ele inventou sutis quebra-cabeças e paradoxos para demonstrar a inadequação dos sentidos, espe-cialmente na percepção do movimento. O mais famoso dos paradoxos de Zenão está centrado em uma corrida imaginária entre Aquiles e uma tartaruga. Zenão sempre deu à tartaruga uma ca-beça de vantagem; portanto, assim que Aquiles atingia o lugar em que a tartaruga havia iniciado, ela já se tinha movido para um novo ponto; assim que Aquiles atingia aquele ponto, a tartaruga se havia movido um pouco mais, e assim sucessivamente. Embora Aquiles fosse “o mais veloz de todos os homens”, ele jamais ganharia a corrida. Segundo Douglas Hofstadter (1979), Zenão esperava usar esse paradoxo para mostrar que o “movimento” é impossível, e que ele só parece possível na mente. O movimento é uma ilusão da percepção. Uma versão contemporânea de um dos paradoxos de Zenão afirma que você nunca sai da sala em que está (Rucker, 1983, p. 84). Para alcançar a porta, primeiramente você tem de cobrir a metade da distância que há entre você e a porta. Mas você ainda está na sala, portanto, para atingir a porta, você deve cobrir novamente a metade da distância remanescente, e assim sucessi-vamente... em uma série de movimentos de
1/2+ 1/4 + 1/8 + 1/16 + ........
a distância original. A solução óbvia é afirmar que a soma da série infinita é 1, assim você al-cança a porta. O paradoxo é que, se você sempre cobre a metade da distância até a porta, nunca a alcança.
Os paradoxos de Zenão desafiaram a noção, perpetuada pelo atomismo e pelo materialismo, de que os processos de pensamento humano e a alma podem ser entendidos em termos das leis do mundo físico. Como afirmaram Cary e Haarhoff (1959), os pensadores gregos, sob essas novas influências, decidiram que “o homem é a medida de todas as coisas” e que, portanto, “o estudo adequado da humanidade é o do homem”. Essa “tendência humanista” montou o palco para os avanços na filosofia.
AVANÇOS NA FILOSOFIA
Os três maiores filósofos que se originaram da tradição humanista foram Sócrates, seu discípulo Platão e Aristóteles. Esses grandes pensadores estabeleceram a epistemologia, o ramo da filosofia que investiga a origem, a natureza, os métodos e os limites do conhecimento humano. Eles tam-bém se preocuparam com várias questões filosóficas, inclusive a aprendizagem, a memória e a consciência.
A Psicologia e os Antigos 21 
 Sócrates (469–399 a.C.)
Sócrates foi retratado na história como um grande observador e cético. Para ele, a vida não-examinada não vale a pena ser vivida. Ele buscou o conhecimento em toda parte – nas ruas, no mercado, no ginásio e no campo – questionando intensivamente as pessoas. Ele perguntava: o que é a verdade? O que é a justiça? O que é a coragem? E examinava rigorosamente as respostas, apontando falhas lógicas e o raciocínio pobre ou inadequado. Sócrates questionou cada premissa, duvidou do óbvio e ridicularizou a hipocrisia e a pretensão. Ele esperava que sua abordagem ló-gica e rigorosa produzisse as verdadeiras respostas para essas questões e para outras semelhan-tes. Sua abordagem foi a do racionalista. Fundamental para a filosofia da educação de Sócrates era a sua crença de que a verdade não pode ser definida por uma autoridade absoluta, mas sim de que ela está escondida na mente de cada pessoa. O papel do professor é descobrir essa verdade dormente; o professor, portanto, pode ser comparado a uma parteira, que não toma parte na implantação do esperma que fertiliza o óvulo, mas é responsável por assistir o parto. Assim também, segundo Sócrates, o papel do pro-fessor não é implantar verdades na mente do aluno, mas sim dar assistência ao seu surgimento. Para facilitar a aprendizagem por meio da descoberta, Sócrates concebeu um método de ensino análogo aos seus diálogos de rua. O professor faz uma série de perguntas designadas a levar o aluno à verdade, ilustrando falhas no raciocínio do aluno. No método de Sócrates, ensinar é uma parceria entre aluno e professor, e não uma relação entre superior e subordinado. Sócrates rejei-tava honorários por sua instrução e vivia uma vida simples e moderada. Para demonstrar a força desse método, Sócrates levou um garoto sem instrução, que não tinha conhecimento de geometria, a descobrir por si o teorema de Pitágoras (Lamb, 1967, p. 303-311). Ele afirmava que não havia ensinado esse teorema ao escravo, mas que tinha facilitado que ele despontasse de um estado de dormência na mente do escravo. Um de seus contemporâneos, Antífon, tratava as pessoas que sofriam de tristeza e melancolia utilizando um diálogo socrático com perguntas e respostas. Antífon foi chamado o primeiro psicoterapeuta (Walker, 1991, p. 5). Como resultado da força de seus argumentos, Sócrates freqüentemente conseguia desacre-ditar as respostas dadas às suas perguntas relativas às definições de verdade, justiça e coragem. Não é de surpreender que ele tenha feito muitos inimigos. Afinal, acreditamos saber o que é a verdade, a justiça e a coragem. É embaraçoso e aborrecidoquando nos mostram que talvez não o saibamos. Seus conterrâneos acabaram se cansando do seu comportamento, de modo que, aos 70 anos, Sócrates foi acusado de sabotar a religião do Estado e de corromper a juventude. Julgado diante de 501 jurados foi considerado, por uma margem de 60 votos, culpado e condenado à morte. Sócrates aceitou o veredicto como legítimo, embora injusto, passou seus últimos minutos confortando os amigos e depois bebeu cicuta.
Platão (427–347 a.C.)
Platão era discípulo e sucessor de Sócrates. De fato, muito do que sabemos de Sócrates vem dos registros que Platão fez dos seus diálogos. Platão fundou uma academia em Atenas – uma socie-dade de eruditos e estudiosos que durou 916 anos. Seu objetivo, como o de Sócrates, não era dar aos alunos um conjunto de fatos, mas sim treiná-los para enxergar por baixo da superfície das coisas, buscar a eterna realidade subjacente a tudo. Porém, essa tarefa era difícil, já que, como Zenão e Sócrates, Platão reconhecia a pouca confiabilidade da informação sensorial. O conheci-mento não deriva das sensações, que às vezes são enganadoras, mas dos processos de raciocínio a respeito das sensações.
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Platão enfatizou a diferença entre as sensações que derivam dos sentidos e aquelas que deno-minamos “Formas”, as estruturas eternas que ordenam o mundo e que nos são reveladas por meio do pensamento racional. Platão considerava as Formas como supra-sensoriais, transcendentais, com uma existência independente das sensações que as constituem. As sensações se corrompem, degradam-se e morrem; elas são instáveis. As “Formas” de Platão são mais reais e permanentes. Para ilustrar essa distinção, Platão usou uma alegoria de estar em uma caverna, acorrentado de tal maneira que o que se vê dos objetos fora dela são as sombras projetadas na parede pelas cha-mas tremeluzentes do fogo. As sombras são análogas às sensações; as coisas reais fora da caverna são as “Formas”. O nosso mundo de sensações é, para Platão, um mundo de sombras oscilantes e tremeluzentes, a respeito das quais nunca podemos ter certeza.
Para Platão, a única maneira de aumentar a exatidão do nosso conhecimento do mundo é por meio da mensuração e do raciocínio dedutivo. Ele tinha consciência das contribuições de Pitágoras e, como este último, procurava descrever o mundo usando princípios matemáticos. Na entrada do seu salão de leitura na Academia, Platão mandou inscrever as palavras: “Que ninguém destituído de geometria entre por minhas portas”. Quando um de seus alunos pergun-tou “o que é que Deus faz?”, Platão respondeu: “Deus sempre faz geometria”. Platão dizia que a geometria era “o conhecimento daquilo que sempre existe” – o conhecimento das “Formas” criadas por Deus. Os geômetras humanos podiam medir a terra, mas, e quanto à psique humana? Ela também podia ser medida? Pitágoras havia demonstrado que alguns aspectos da experiência psicológica humana podiam ser medidos. Platão sugere outros. Ele reconheceu que as pessoas diferem no que diz respeito a suas capacidades, habilidades, talentos e aptidões, categorizando-as como indivíduos de ouro, prata, bronze ou ferro. A sociedade deve reconhecer essas diferenças individuais e aquilo que Platão considerava sua inevitável conseqüência: alguns devem gover-nar, outros devem servir. Na República, Platão descreveu uma sociedade utópica com um sistema de governo oligárquico no qual um pequeno número de pessoas dotadas de razão superior, os Guardiães, governavam sob a autoridade de um rei filósofo. Aqueles que tinham coragem supe-rior deveriam ser guerreiros; os que tinham um sentido superior da beleza e da harmonia seriam artistas e poetas; os que tinham pouco talento ou capacidade seriam servos e escravos. Platão acreditava que essas diferenças vinham dos deuses e que a sociedade devia selecionar e preser-var tais qualidades por meio de casamentos pré-arranjados e reprodução controlada. Sua posição era abertamente inatista por assumir a base da hereditariedade para as características humanas e a inteligência. Mas como essas qualidades seriam mensuradas? Platão acreditava que elas esta-vam localizadas em diferentes partes do corpo: a razão na cabeça, a coragem no peito e o apetite no abdômen. Tratava-se de uma frenologia corporal sem o exagero de frenologias posteriores (Capítulo 3). Ao propor a avaliação das diferenças individuais pela mensuração de diferentes partes do corpo e depois designar várias tarefas às pessoas com base em seus pontos fortes psico-lógicos, Platão antecipou a moderna área da psicometria.
Aristóteles (385–322 a.C.)
Aristóteles, o último dos três principais filósofos gregos, pode ser acuradamente descrito mais como um cientista natural do que seus dois predecessores. Quando jovem, ele viveu em Atenas e foi um aluno dedicado de Platão por uns 20 anos. Na meia-idade, foi forçado a deixar Atenas por causa de sua posição política e passou anos viajando e trabalhando por algum tempo como tutor do jovem que mais tarde se tornaria Alexandre, o Grande. Ele voltou a Atenas com 40 anos e fun-dou uma escola de filosofia e ciência no Liceu. Foi durante os anos que lá passou que ele escreveu a maior parte de suas importantes obras a respeito de biologia e de psicolologia.
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Aristóteles nos interessa porque foi um dos primeiros filósofos gregos a complementar a de-dução com uma abordagem indutiva e observadora do seu trabalho. Como mencionamos antes, Zenão apontou para a falta de confiabilidade das nossas percepções. O contemporâneo de Zenão, Tales, chamou a atenção de seu discípulo, Pitágoras, para a importância de se utilizar métodos dedutivos para descobrir a verdade. Sócrates também confiava nas provas lógicas para revelar a verdade que havia na mente de seus alunos. Finalmente, Platão dizia que nossas sensações são apenas representações imperfeitas da realidade e que não devemos confiar nelas. Em contraste com Platão, Aristóteles viu o valor da matemática, não como conhecimento fornecedor de For-mas eternas, mas sim como capaz de chegar a deduções lógicas a partir de definições claras e de premissas evidentes por si. Em sua Analítica Posterior, Aristóteles defendia a redução de todo discurso científico aos silogismos – explicações logicamente deduzidas a partir de primeiros prin-cípios. Sua famosa lei da alavanca não se baseou em experiências com pesos, mas derivou-se de postulados como “pesos iguais equilibram-se em distâncias iguais”. Mas Aristóteles também reconheceu a importância da observação atenta. Afinal, o mundo pode não funcionar tão logica-mente como Sócrates e Platão presumiam. Se não funcionar, suas conclusões, baseadas em méto-dos dedutivos, podem não ser inteiramente verdadeiras. Aristóteles chegou a algumas conclusões admiravelmente exatas, usando uma abordagem indutiva e observadora; porém, como veremos, seus métodos de inquisição também o levaram a algumas conclusões interessantes, mas falsas. A partir das observações dos próprios processos cognitivos e dos processos cognitivos das outras pessoas, Aristóteles desenvolveu princípios básicos da memória humana que vêm sendo reafirmados muitas vezes na história da psicologia e que ainda são fundamentais para muitas teorias contemporâneas. Em seu tratado De Memoria et Reminiscentia [Sobre a Memória e a Reminis-cência], Aristóteles esboçou a teoria de que a memória resulta de três processos de associação. Objetos, acontecimentos e pessoas estão ligados uns aos outros por meio de sua relativa diferença – do quanto contrastam uns com os outros. As coisas se associam se ocorrem juntas no tempo e no espaço. Esses três princípios básicos da associação – similaridade, contraste e contigüidade – foram complementados por duas outras influências importantes na força de determinada associação:
1. Freqüência. Aristóteles dizia que, quanto maior é a freqüência com que determinada experiên-cia se repete, melhor ela é lembrada. Em muitas teorias da aprendizagem do século XX, um princípio central é o da relação entre o número de vezes que um hábito é reforçadoe a força que ele tem.
2. Facilidade. Aristóteles também reconheceu que algumas associações se formam com mais fa-cilidade do que outras e que alguns acontecimentos são mais facilmente lembrados do que outros. Os estudos modernos da aprendizagem e da memória demonstraram claramente que certas associações formam-se mais facilmente e são mais facilmente lembradas do que outras.
As lembranças são especialmente importantes porque refletem nossas experiências do mundo. As experiências, por sua vez, são responsáveis pelos conteúdos da mente; sem experiência, nossa mente seria vazia. A mente, no nascimento, tem potencial para o pensamento, mas, para que esse potencial seja realizado, o mundo deve agir sobre ela. A mente, para Aristóteles, é fornecida pela experiência, assim como um quadro-negro é preenchido com letras. Aristóteles adotou a posição de empirista, postulando que todas as idéias que temos, incluindo aquelas que às vezes são con-sideradas inatas, são o resultado da experiência. Sua posição antecipou a de John Locke e a de outros filósofos empiristas (Capítulo 2) e, por meio deles, ele influenciou a psicologia behaviorista materialista de John Watson (Capítulo 12). A metáfora de Aristóteles a respeito da mente como uma tábula rasa no nascimento é a primeira das muitas metáforas da mente na história da psi-24 Capítulo 1
cologia. Outras incluem a mente como um relógio gigante, um fantasma, um painel gigante de telefonia e, mais recentemente, como uma máquina de processamento de informações ou compu-tador neural. Leary (1990) descreve estas e outras metáforas da mente e diz que elas foram espe-cialmente importantes para a psicologia ao contribuir para a construção de teorias, novas idéias e novos conceitos, pesquisas e até mesmo aplicações práticas. Aristóteles também desenvolveu uma análise sofisticada e influente da causação, sua teoria das causas. Para ilustrar suas concepções, Aristóteles descreveu o exame de uma estátua; siga-mos seu exemplo, considerando as diferentes causas do David de Michelangelo.
1. Ao examinar a estátua, descobrimos que ela foi esculpida a partir de um enorme bloco de impecável mármore branco de Carrara. É uma estátua de mármore. Essa é uma descrição que Aristóteles denominava uma causa material.
2. Também sabemos que a estátua não é apenas um bloco de mármore, mas que tem uma essên-cia ou forma. Essa é a causa formal.
3. Como a estátua chegou a assumir essa forma? Uma resposta pode ser por meio das batidas e dos golpes do martelo e do cinzel do escultor. Essa resposta descreve o que Aristóteles deno-minou causa eficiente.
4. Finalmente, ao descrever a estátua, nós a atribuímos ao escultor. É o David de Michelangelo. A estátua é o produto do gênio e do talento supremo de Michelangelo. É isso que Aristóteles denominava uma causa final.
O conceito de uma causa final representa o aspecto teleológico1 da análise de Aristóteles, que tem uma aparência de certeza. As atribuições de propósito são inaceitáveis em ciências como a fí-sica – as maçãs não têm um propósito ao cair das árvores, nem a água ao ferver sobre uma chama. Mas, na psicologia, as explicações teleológicas e propositadas – quando usadas com precaução e discrição, como, por exemplo, por Tolman em seu Behaviorismo Proposital (Capítulo 13) – de-monstraram ser úteis.
Aristóteles também tinha uma visão admirável da catarse psicológica. Em sua Arte Poética, ele
descreveu o teatro como algo que às vezes suscita emoções capazes de ter um efeito de purgação na audiência. No século XX, Sigmund Freud faria da catarse um conceito central de sua teoria psicanalítica. Hoje, a visão aristotélica de catarse é ouvida com freqüência quando se debatem os efeitos da violência da mídia na tendência do comportamento agressivo. Algumas autoridades, juntamente com executivos da mídia, argumentam que a exposição à violência no cinema e na televisão pode ser benéfica, já que permite aos espectadores a purgação de impulsos agressivos ou hostis – uma reação catártica. Do outro lado do debate, autoridades igualmente proeminen-tes argumentam que alguns indivíduos são levados por essas representações a comportar-se de maneira agressiva, que a violência filmada é uma escola preparatória para a violência na nossa sociedade e que as conseqüências disso atingem principalmente indivíduos imaturos ou emocio-nalmente instáveis.
Aristóteles encarava toda a vida como a formação de uma “escada da criação”, uma série contínua de gradações das formas de complexidade mais baixas para as mais altas. Ele esboçou três tipos de vida: a nutritiva (plantas), a sensível (animais) e a racional (humanos). Assim rela-cionado, o todo da natureza deveria ser estudado. Essa concepção de uma escala da natureza
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(scala naturae) tem tido uma grande influência no pensamento biológico ao longo dos séculos. Charles Darwin, por exemplo, na formulação de sua teoria da evolução, reconheceu a influência de Aristóteles. A concepção de Aristóteles de uma escala da natureza não foi inteiramente bené-fica para a psicologia, já que, às vezes, levou à crença de que todos os animais, incluindo os hu-manos, podem ser classificados em uma escala de dimensões unitárias, contínuas e graduadas. Lovejoy (1936) demonstrou que a noção de uma escala da natureza acabou levando a concepções mais teológicas do que científicas nas quais Deus estava no topo da escala e todas as outras cria-turas eram vistas como cópias cada vez mais imperfeitas de sua perfeição. Assim, os anjos eram um pouco imperfeitos, os humanos mais imperfeitos, os macacos ainda mais imperfeitos e assim sucessivamente “escala abaixo”. Uma das mais interessantes concepções errôneas de Aristóteles diz respeito ao locus da mente. Conforme mencionado anteriormente, Hipócrates achava que o cérebro era a sede da sensação, da percepção e do pensamento. Colin Blakemore observa que toda prova científica proeminente no momento influencia as “intuições” quanto à sede da consciência:
Hoje parece inconcebível que alguém possa duvidar de que a mente de uma pessoa esteja no cére-bro. Para mim, minha “ipseidade” está indubitavelmente situada no meio da cabeça. Mas eu tenho certeza de que sinto isso com tanta confiança porque aceito a prova, que hoje está em moda na ciência, de que as coisas são assim. (Blakemore, 1977, p. 9)
A “prova que hoje está em moda na ciência” levou Aristóteles (o que é compreensível) a uma conclusão radicalmente diferente: o coração vivo é a sede do pensamento. Por exemplo, Aristó-teles estudou o desenvolvimento do embrião da galinha e observou que o coração é um dos pri-meiros órgãos a se mover. Ele também observou que, ao passo que um ferimento na cabeça pode produzir um período de inconsciência, mas a pessoa freqüentemente se recupera, um ferimento no coração é invariavelmente fatal. A afirmação de Aristóteles de que o coração, e não o cérebro, é a parte mais importante do corpo também pode ter sido influenciada pelo seu conhecimento das antigas práticas funerárias egípcias. O espírito Ba de um antigo egípcio não estava na cabeça, mas nas entranhas e no peito. Para preservar o corpo em sua jornada até Osíris, partes do corpo como o fígado, o estômago, os pulmões e o coração eram extraídas e embalsamadas em caixões em miniatura. Porém, não havia um recipiente para o cérebro, que provavelmente era retirado pelo nariz com uma colher durante o embalsamamento e, em seguida, destruído.
As observações atentas e o conhecimento da história do Egito não foram as únicas influências que levaram Aristóteles a escolher o coração como o locus da mente. Ele também pode ter sido influenciado por um modelo que se encontrava disponível para ele em sua experiência diária: a Ágora, o local central dos encontros públicos nas cidades gregas. Na Ágora, os cidadãos da cidade se encontravam para discutir e debater os acontecimentos da época, a política, o esporte, a reli-gião e as fofocas locais. A partir dessas discussões, às vezes surgiam temas comuns. Para Aristó-teles, esses temas eram análogos aos pensamentosque emergiam do coração a partir da mistura de sensações, imagens e lembranças, ou o sensorium commune (sede dos sentidos). A função do cérebro, em contraste, era fazer o sangue esfriar. Esse exemplo é um dos muitos que encontra-remos, em toda a história da ciência e da psicologia, que demonstra como uma visão de mundo compartilhada, característica de determinado período histórico, influencia os modelos que filóso-fos e cientistas usam para ilustrar suas teorias. Algumas outras concepções errôneas interessantes que resultaram da metodologia indutiva
de Aristóteles referem-se às suas crenças relativas aos animais. Em seus livros Historia Animalium [História dos Animais] e De Partibus Animalium [Sobre as Partes dos Animais], Aristóteles tentou 26 Capítulo 1
classificar os animais com base em características como o número de pernas e a presença do sangue. Ele também descreveu a locomoção animal, assim como o comportamento parental e sexual. Aristóteles forneceu um relato acurado do comportamento das abelhas forrageiras, mas, como ele confiava na observação dos outros, concluiu que as abelhas não fabricam o mel, mas o coletam nas asas quando ele cai do céu. Ele também observou que os bicos das aves engaioladas eram freqüentemente mais longos, o que de fato são, mas concluiu que o crescimento é uma pu-nição por elas não terem sido hospitaleiras para com um hóspede em um mundo anterior. As teorias de Aristóteles a respeito do locus da mente e do comportamento animal são exem-plos de conclusões que resultaram da preferência pelos métodos indutivos que se teriam benefi-ciado da qualificação por meio de uma crítica racional. Mesmo assim, como vimos, várias contri-buições decorrentes da abordagem indutiva de Aristóteles ecoam nas teorias contemporâneas da memória, da catarse e da evolução. Robinson (1989) vai mais longe e argumenta que o interesse de Aristóteles em temas da psicologia, e especialmente sua maior obra, De Anima [Sobre a Alma], são provas fortes de que ele tinha uma psicologia formal e, por isso, é considerado um antigo pai da psicologia.
Filosofia Pós-aristotélica
Várias diferentes escolas filosóficas floresceram por curtos períodos na Grécia pós-aristotélica. As mais interessantes, do ponto de vista da psicologia, foram a escola Estóica e a Epicurista. As duas forneceram respostas completamente diferentes para perguntas do tipo “como podemos encon-trar a felicidade?” e “o que devemos fazer com nossa vida?”. Ambos os grupos de filósofos tive-ram o objetivo de desenvolver sistemas filosóficos abrangentes que se aplicassem aos fenômenos físicos, assim como à conduta e às preocupações políticas, sociais e morais. Os principais filósofos epicuristas foram o grego Epicuro (341–270 a.C.) e o poeta romano Lucrécio (99–55 a.C.), que afir-maram que todo o conhecimento tem origem nas sensações que estão retidas na memória. Uma visão muito semelhante seria proposta no século XVII por John Locke (Capítulo 2). Para os epicu-ristas, a vida humana é um breve episódio na história eterna das colisões atômicas. Sua visão da criação era estocástica ou estatística; eles afirmavam que considerar a Terra como o único mundo povoado é tão absurdo como concluir que, em todo um campo semeado de painço, apenas um grão crescerá. Para os epicuristas, o objetivo da vida era usufruir de todos os prazeres possíveis e, ao mesmo tempo, minimizar a dor e o sofrimento dos outros. Os grandes filósofos estóicos foram o grego Zenão de Cício (336–265 a.C.) e o dramaturgo romano Sêneca (4 a.C.–5 d.C.). Os estóicos acreditavam que um princípio racional (logos) dirigia o universo e que cada pessoa tinha o dever de seguir e promover a razão, tanto na conduta pessoal como nos negócios de Estado. As paixões e as emoções deviam ser dominadas. Os estóicos influenciaram Emmanuel Kant (Capítulo 2). Em uma descrição memorável, o filósofo e psicólogo norte-americano William James (Capítulo 9) chamou essas escolas filosóficas de “mente suave” e “mente dura”, respectivamente.
A IMPORTÂNCIA DOS ANTIGOS
Agora que fizemos uma breve revisão de algumas das questões concernentes aos antigos, deve ter ficado evidente que os psicólogos contemporâneos ainda estão lidando com essas questões. Como Demócrito, ainda refletimos sobre a natureza da mente, e, como Aristóteles, sobre sua loca-lização. Tentamos descrever o comportamento e o processamento de informações em termos de leis matemáticas, assim como Pitágoras tentou definir as leis matemáticas da percepção. Como
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Galeno, ruminamos a respeito da natureza da humanidade. As visões empirista e inatista dos con-teúdos da mente são recorrentes na história da psicologia. É de admirar que homens como Aris-tóteles, Platão e Galeno estivessem familiarizados com muitas das questões contemporâneas que os psicólogos atualmente consideram. Mas a importância dos antigos é mais profunda do que apenas essas semelhanças. Por que ainda levantamos as mesmas questões que os gregos e os romanos? É apenas por que ainda não chegamos a respostas satisfatórias? Não inteiramente. Ao contrário, é porque compartilhamos, com os antigos, uma visão de mundo semelhante, uma visão de mundo que eles definiram. As línguas européias que falamos derivam do grego e do latim. Nossos sistemas éticos surgiram da filosofia antiga. O método indutivo de Aristóteles e a abordagem dedutiva de Platão encontram-se subjacentes à ciência moderna. De fato, a importância de desenvolvermos as teorias científicas – para podermos ser capazes de prever e de controlar os acontecimentos do nosso mundo – foi primeiramente reconhecida pelos antigos.

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