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DOENÇAS AUTOIMUNES Prof. Fernando Ramon Zilinski Conteúdo do curso ▪ Parte I: - Visão geral do sistema imune - Tolerância imunológica e autoimunidade ▪ Parte II: - Principais doenças autoimunes - Pesquisa de anticorpos antinucleares (FAN) Visão geral do sistema imune ▪ Resposta Imune: reação aos componentes de microrganismos, macromoléculas, e pequenos agentes químicos. ▪ Doenças autoimunes: Moléculas próprias que geram uma resposta imune. Imunidade inata ▪ Primeira linha de defesa contra microrganismos ▪ Principais componentes: 1. Barreiras físicas e químicas (epitélio e agentes antimicrobianos) 2. Células fagocíticas (neutrófilos, macrófagos), células dendríticas, e células Natural Killer (NK) 3. Proteínas sanguíneas (sistema complemento e mediadores da inflamação) Imunidade adaptativa ▪ Desenvolve-se lentamente, adaptando-se à infecção ▪ Estimulada pela exposição a agentes infecciosos ▪ Especificidade e memória ▪ Componentes exclusivos: linfócitos e produtos secretados (anticorpos) ▪ Antígenos: Substâncias estranhas apresentadas aos linfócitos e anticorpos, que induzem resposta imune específica Imunidade adaptativa Tipos de resposta imune adaptativa ▪ Imunidade humoral - Principal mecanismo de defesa contra microrganismos extracelulares e toxinas - Mediada por moléculas no sangue e secreções mucosas (anticorpos) que são produzidas pelos linfócitos B - Anticorpos: reconhecem, neutralizam, e auxiliam na eliminação dos microrganismos por mecanismos efetores (opsonização, mediadores inflamatórios) Tipos de resposta imune adaptativa ▪ Imunidade celular - Principal defesa contra microrganismos intracelulares - Mediada por linfócitos T - Linfócitos T: responsável por recrutar leucócitos para destruição de microrganismo, auxiliam linfócitos B na produção de anticorpos Tipos de resposta imune adaptativa Tipos de resposta imune adaptativa ▪ Especificidade e diversidade: epítopos, clones de linfócitos ▪ Memória: Resposta secundária, células de memória ▪ Expansão clonal: ↑ células específicas ▪ Especialização: Resposta direcionada ▪ Contração e homeostasia ▪ Não reatividade ao próprio: ▪ - Tolerância Citocinas ▪ Proteínas secretadas que regulam e coordenam muitas atividades das células da imunidade inata e adaptativa ▪ Todas as células secretam e expressam receptores específicos de sinalização para várias citocinas Citocinas ▪ Função - Crescimento e diferenciação das células do sistema imune - Ativação das funções efetoras dos linfócitos e fagócitos ▪ Quimiocinas: migração celular Desenvolvimento dos linfócitos Etapas de ativação dos linfócitos Ativação Linfócitos T ▪ MHC: interagem com os receptor de células (TCR) ▪ Linfócitos T interagem somente com antígenos associados à célula ▪ Ativação: reconhecimento de antígenos (fornece especificidade) e coestimuladores (garantem a resposta, segundo sinal) Ativação Linfócitos T ▪ Linfócitos T CD4: - Proliferam e se diferenciam em células efetoras - IL-2 estimula expansão clonal ▪ Linfócitos T CD8: - Proliferam e se diferenciam em células citotóxicas Diferenciação linfócitos T CD4 Ativação linfócitos B ▪ Resposta T dependente: antígenos proteicos, necessita de LT CD4 ▪ Resposta T independente: antígenos não proteicos, não precisa de LT CD4 ▪ Diferenciação: plasmócitos e LB de memória ▪ BCR: IgM e IgD Ativação linfócitos B ▪ Anticorpos: - IgG: opsonização e IgG materno - IgG e IgM: ativam sistema complemento - IgA: neutralizam microrganismos no tecido mucoso - IgE: parasitas, sensibilização de mastócitos Tolerância imunológica ▪ Tolerância: Não responsividade a um antígeno ▪ Antígenos: Tolerógenos ou imunógenos ▪ Autotolerância: Capacidade de tolerar os autoantígenos ▪ Tipos de tolerância: Central e periférica ▪ Elementos presentes: Linfócitos T CD4, T CD8, Tregs, LB, citocinas, APCs Seleção negativa e positiva ▪ Recombinação de genes de TCR e BCR ocorre de forma aleatória ▪ Processos de seleção: - Eliminam linfócitos autorreativos Seleção negativa e positiva ▪ Seleção positiva: - Maturação de linfócitos T que reconhecem MHC próprio - Preservação dos linfócitos B que expressam BCR Seleção negativa e positiva ▪ Seleção negativa: - Processo que elimina ou altera linfócitos em desenvolvimento cujo TCR ou BCR liga-se fortemente a antígenos próprios Tolerância central- linfócitos T ▪ Fatores que determinam indução de seleção negativa: - Presença do autoantígeno no timo - Avidez do TCR com antígeno ▪ 95% dos timócitos sofrem apoptose Tolerância central- linfócitos T ▪ Antígenos presentes no timo: Proteínas circulantes, e associadas a células ▪ AIRE responsáveis pela expressão de proteínas que em geral estão presentes somente em tecidos periféricos Tolerância central- linfócitos T ▪ Mutações no gene AIRE pode levar a Síndrome poliglândular autoimune tipo 1 (APS1) ▪ APS-1 atinge diversos órgãos endócrinos Tolerância periférica- linfócitos T Tolerância periférica- linfócitos T ▪ Autoantígenos situados em locais privilegiados (Cérebro, testículos, olhos) ▪ Barreiras anatômicas capturam esses autoantígenos Tolerância periférica- linfócitos T ▪ Ausência de moléculas coestimulatórias impedem a ativação ▪ Ocorre por bloqueio de sinalização ou ativação de coestimuladores inibitórios Tolerância periférica- linfócitos T ▪ Via mitocondrial de apoptose Bim-dependente leva a estresse celular e a apoptose ▪ Via extrínseca é gerado a expressão de receptores de morte celular (FAS-FASL) pela ligação de proteínas BIM Tolerância periférica- linfócitos T ▪ Linfócitos Treg suprimem a ativação de linfócitos T autoreativos ▪ FOXP3 (fator de transcrição) é essencial para desenvolvimento e função das Tregs Tolerância periférica- linfócitos T ▪ Mutações no gene FOXP3 levam ao desenvolvimento da síndrome de IPEX ▪ IPEX (desregulação imunológica, poliendrocrinopatia e enteropatia ligada ao X) Tolerância central- linfócitos B ▪ Fatores que determinam indução de seleção negativa: - Afinidade do anticorpo para epítopo do antígeno - Valência de interação ▪ 20 a 50% dos LB passam por edição de receptores Tolerância periférica- linfócitos B ▪ Fatores que determinam indução de seleção negativa: - BAFF induz a anergia de LB autorreativos - Coestimuladores inibitórios regula a ativação de LB Disfunções do sistema imune Classificação das reações de hipersensibilidade segundo Gell e Coombs Tipo Nome alternativo Mediadores Doenças associadas I Hipersensibilidade imediata (2 a 30 min) IgE, mastócitos e basófilos Asma, rinossinusite, dermatite atópica, anafilaxia II Hipersensibilidade mediada por anticorpos (5 a 8 horas) IgG ou IgM, complemento, macrófagos, neutrófilos e eosinófilos Anemia hemolítica auto-imune Miastenia Grave Doença de Graves III Hipersensibilidade mediada por imunocomplexos (2 a 8 horas) IgG, complemento, fagócitos, neutrófilos e mastócitos Doença do soro Reação de Arthus LES IV Hipersensibilidade tardia (48 a 72 horas) Linfócitos T e macrófagos Artrite reumatoide Esclerose múltipla Psoríase Diabetes melito tipo I Classificação das reações de hipersensibilidade segundo Gell e Coombs Tipo Nome alternativo Mediadores Doenças associadas I Hipersensibilidade imediata (2 a 30 min) IgE, mastócitos e basófilos Asma, rinossinusite, dermatite atópica, anafilaxia II Hipersensibilidade mediadapor anticorpos (5 a 8 horas) IgG ou IgM, complemento, macrófagos, neutrófilos e eosinófilos Anemia hemolítica auto-imune Miastenia Grave Doença de Graves III Hipersensibilidade mediada por imunocomplexos (2 a 8 horas) IgG, complemento, fagócitos, neutrófilos e mastócitos Doença do soro Reação de Arthus LES IV Hipersensibilidade tardia (48 a 72 horas) Linfócitos T e macrófagos Artrite reumatoide Esclerose múltipla Psoríase Diabetes melito tipo I Classificação das reações de hipersensibilidade segundo Gell e Coombs Tipo Nome alternativo Mediadores Doenças associadas I Hipersensibilidade imediata (2 a 30 min) IgE, mastócitos e basófilos Asma, rinossinusite, dermatite atópica, anafilaxia II Hipersensibilidade mediada por anticorpos (5 a 8 horas) IgG ou IgM, complemento, macrófagos, neutrófilos e eosinófilos Anemia hemolítica auto-imune Miastenia Grave Doença de Graves III Hipersensibilidade mediada por imunocomplexos (2 a 8 horas) IgG, complemento, fagócitos, neutrófilos e mastócitos Doença do soro Reação de Arthus LES IV Hipersensibilidade tardia (48 a 72 horas) Linfócitos T e macrófagos Artrite reumatoide Esclerose múltipla Psoríase Diabetes melito tipo I Tipo Nome alternativo Mediadores Doenças associadas I Hipersensibilidade imediata (2 a 30 min) IgE, mastócitos e basófilos Asma, rinossinusite, dermatite atópica, anafilaxia II Hipersensibilidade mediada por anticorpos (5 a 8 horas) IgG ou IgM, complemento, macrófagos, neutrófilos e eosinófilos Anemia hemolítica auto-imune Miastenia Grave Doença de Graves III Hipersensibilidade mediada por imunocomplexos (2 a 8 horas) IgG, complemento, fagócitos, neutrófilos e mastócitos Doença do soro Reação de Arthus LES IV Hipersensibilidade tardia (48 a 72 horas) Linfócitos T e macrófagos Artrite reumatoide Esclerose múltipla Psoríase Diabetes melito tipo I Classificação das reações de hipersensibilidade segundo Gell e Coombs Autoimunidade ▪ É a causa mais importante de doenças em humanos ▪ Presente em 5 % da população da américa do Norte e Europa ocidental 75% ▪ Mulheres são mais acometidas ▪ Adultos jovens são mais atingidos, causando problemas socioeconômicos Doenças autoimunes ▪ Natureza crônica ▪ Antagonistas de citocinas Futuro promissor, antagonista de TNF-α tem mudado curso da artrite reumatoide Fatores relacionados a autoimunidade Fatores genéticos ▪ Histórico familiar, estudos de associação genômica, sequenciamento genético ▪ Transformação de susceptibilidade genética em autoimunidade – eventos aleatórios ▪ Probabilidade maior de desenvolvimento da doença em membros de uma mesma família ▪ Gêmeos monozigóticos mais susceptíveis do que dizigóticos Fatores genéticos- HLA ▪ Genes HLA são os mais associados a autoimunidade ▪ Pode contribuir para <50% das DAIs ▪ HLA B27 classe I associado a Espondilite anquilosante Fatores genéticos- Polimorfismos Não HLA associados ▪ Muitos desses polimorfismos estão presentes em genes que influenciam a regulação imune ▪ Polimorfismos podem proteger contra doenças autoimunes ou aumentar sua incidência Fatores genéticos- Polimorfismos Não HLA associados ▪ Polimorfismos no receptor de citocina de IL-23 é um dos melhores exemplos de polimorfismo genético que podem prevenir ou aumentar doenças autoimunes Fatores genéticos- Polimorfismos Não HLA associados ▪ IL-23 é uma citocina que aprimora a capacidade pró-inflamatória dos linfócitos TH17 ▪ Estão associados a espondilite anquilosante, doença de Crohn, doença de Behçet, psoríase e colite ulcerativa Fatores ambientais ▪ Em 70% das doenças autoimunes o principal fator desencadeante é ambiental ▪ Mais de 50% dos gêmeos monozigóticos apresentam discordâncias nas doenças autoimunes Fatores ambientais ▪ Agentes químicos e farmacêuticos são associados ao inicio de muitas doenças sistêmicas: - Toxinas como cloreto de mercúrio e cloreto de polivinilo podem precipitar nefrites imunes complexas, esclerose sistêmica, e autoanticorpos Fatores ambientais ▪ Fumar, exposição a poeira sílica, outras toxinas, podem contribuir para desenvolvimento de artrite reumatoide, LES, Doença de Graves, ou escleroderma Fatores ambientais ▪ Diferença de nível hormonal pode explicar a diferença na maior prevalência de doenças autoimunes em mulheres ▪ Tem influencia no desencadeamento de artrite reumatoide, Lúpus, e esclerose múltipla Fatores ambientais ▪ A severidade das doenças autoimunes diminuem durante a gravidez. ▪ Os níveis hormonais influenciam as resposta TH1 e TH2. Durante a gravidez os níveis hormonais melhoram a resposta TH2 e suprimem a TH1 Fatores ambientais ▪ Severidade está diminuída em artrites reumatoides e esclerose múltipla, pois essas doenças são principalmente mediadas por resposta TH1 ▪ Lúpus pode agravar as manifestações devido essa melhora da resposta TH2, já que a doença é mediada principalmente por autoanticorpos Fatores ambientais ▪ Dentre os fatores ambientais é talvez o mais presente, estando envolvido principalmente no desenvolvimento de processos inflamatórios ▪ As inflamações atraem os linfócitos autoreativos para o local de infecção, facilitando sua ativação Mecanismos das infecções ▪ É descrito na literatura que as infecções também podem prevenir o desenvolvimento de doenças autoimunes ▪ Redução de infecções aumenta incidência de diabetes tipo I e esclerose múltipla Mecanismos das infecções ▪ Ampla variedade de mecanismos contribuem para o desenvolvimento das doenças autoimunes. ▪ Mecanismos mais comuns: - Mimetismo molecular - Mudanças de proteínas e antígenos ocultos - Superantígenos - Bystander activation Mimetismo molecular ▪ Agentes infecciosos possuem elementos que são similares em sequências de aminoácidos e estrutura do antígeno próprio Mudanças de proteínas, antígenos ocultos ▪ Processo infeccioso danifica um tecido privilegiado, liberando antígenos ocultos, permitindo uma resposta autoimune ▪ Lesões teciduais por decorrência da infecção levam proteínas próprias a sofrerem transformações, sendo reconhecidas como não próprias Mecanismos das infecções ▪ Superantígenos são produzidos por bactérias, micoplasmas, ou vírus que infectam as células, ligam-se ao TCR independente da especificidade antigênica, ativando inúmeros LT, incluindo os autorreativos, gerando uma potente resposta imune Mecanismos das infecções ▪ Agentes infecciosos estimulam respostas imunes através de receptores da imunidade inata, geram citocinas inflamatórias e ativam LT e B autorreativos. ▪ Epítopo “spreading” é aumento da superfície de contato dos epítopos, melhorando capacidade de reconhecimento de antígenos Doenças autoimunes Principais doenças autoimunes ▪ Lúpus eritematoso sistêmico ▪ Síndrome de Sjögren ▪ Artrite reumatoide ▪ Esclerose múltipla ▪ Tireoidite Hashimoto Principais doenças autoimunes ▪ Diabetes melito tipo I ▪ Esclerose sistêmica ▪ Doença de Graves Lúpus eritematoso sistêmico (LES) ▪ Origem do nome - “Lúpus” vem do Latim e significa “lobo”, pois refere-se a erupção cutânea na face. - Eritematoso vem do grego e significa vermelho, referindo-se à coloração vermelha da erupção da pele Lúpus eritematoso sistêmico (LES) ▪ Doença inflamatória crônica, multissistêmica, de causa desconhecida e de natureza autoimune, caracterizada pelapresença de autoanticorpos ▪ Doença rara que atinge principalmente mulheres jovens entre 20 a 45 anos. Lúpus eritematoso sistêmico (LES) Patogenia- Lúpus ▪ Interação de fatores genéticos e ambientais levam perda de controle imunoregulador, causando perda de tolerância, desenvolvendo autoanticorpos, levando a formação de imunocomplexos, ativação do sistema complemento e outros processos inflamatórios, levando a danos aos tecidos e células Manifestações no LES ▪ Lesões de pele (80%) Manifestações no LES ▪ Lesões articulares (90%), atingem principalmente articulações das mãos, punhos, joelhos e pés ▪ Inflamação das membranas, com possíveis dores no peito ▪ Nefrite, alterações neuropsiquiátricas, alterações de células sanguíneas Diagnóstico no LES ▪ Diagnóstico é baseado em evidências clínicas, como a presença do eritema malar, lesão discoide, presença de anticorpos antinucleares, entre outros ▪ Exames laboratoriais confirmam o diagnóstico - VHS: aumentado - Hemograma: citopenias, leucopenia - creatinina, urina tipo I: verifica função renal - FAN: pesquisa de anticorpos antinucleares Diagnóstico no LES Critérios diagnósticos- Colégio Americano de reumatologia 1. Eritema malar Lesão eritematosa fixa em região malar, plana ou em relevo 2. Lesão discoide Lesão eritematosa, infiltrada, com escamas queratóticas aderidas e tampões foliculares, que evolui com cicatriz atrofia e discromia 3. Fotossensibilidade Exantema cutâneo como reação não usual à exposição à luz solar. 4. Úlceras orais/nasais Usualmente indolores, observadas pelo médico 5. Artrite Não erosiva, envolvendo duas ou mais articulações periféricas, caracterizadas por dor e edema ou derrame articular 6. Serosite Pleuris ou pericardite 7. Comprometimento renal Proteinúria persistente ou cilindrúria anormal 8. Alterações neurológicas Convulsões ou psicose (Na ausência de outras causas) 9. Alterações hematológicas Anemia hemolítica, linfopenia, leucopenia, plaquetopenia 10. Alterações imunes Anticorpo anti-DNA(fita dupla) ou anti-Sm 11. Anticorpos antinucleares Título anormal de Ac antinuclear por IMFI ▪ Necessário presença de 4 desses 11 critérios Síndrome de Sjögren (SjS) ▪ É uma das doenças autoimunes mais comuns, quase tão frequente quanto LES ▪ É estimado que 400 mil pessoas tenham SjS no Brasil, porém maioria ainda não foi diagnosticada ▪ Henrik Sjögren em 1933 publicou sua tese de doutorado descrevendo que os sintomas de ressecamento afetava não só as glândulas como diversos órgãos Síndrome de Sjögren (SjS) ▪ É uma doença autoimune sistêmica, afeta as glândulas exócrinas, predominantemente as salivares e lacrimais, incluem também o nariz, trato respiratório superior, orofaringe, e nas mulheres, a vagina Síndrome de Sjögren (SjS) ▪ Pode ocorrer em qualquer idade, porém sua prevalência é maior em mulheres de 40 a 50 anos ▪ Proporção de 9 mulheres para 1 homem Patogenia - Síndrome de Sjögren (SjS) ▪ Componentes virais e outros fatores podem levar a ativação de células epiteliais e células dendríticas, gerando aumento de secreção de citocinas e produção de autoanticorpos (anti-Ro e Anti-LA) Diagnóstico- Síndrome de Sjögren (SjS) Critérios diagnósticos- American European consensus Group (AECG) 1. Presença subjetiva de ressecamento ocular 2. Presença subjetiva de xerostomia 3. Teste de Schimer, detecta ressecamento ocular ou coloração da córnea 4. Pontuação do foco >2 em biópsia de glândula salivar 5. Cintilografia salivar mostrando fluxo salivar reduzido 6. Presença de autoanticorpos anti-Ro/SSA e anti-La/SSB ▪ Necessário presença de 4 desses critérios para diagnóstico ▪ Obrigatório a presença de patologia da glândula salivar ou presença dos autoanticorpos Diagnóstico- Síndrome de Sjögren (SjS) ▪ SjS Primária - Ocorre sem a presença de outra doença concomitante ▪ SjS secundária - Ocorre com a presença de outras doenças autoimunes, como artrite reumatoide, LES, esclerodermia Diagnóstico- Síndrome de Sjögren (SjS) ▪ Para determinar os sintomas de ressecamento é medido a disfunção glândular e quantificado o grau de envolvimento das glândulas afetadas: - Medida das taxas de fluxo de saliva - Cintilografia das glândulas salivares - Teste de Schimer - Análise da superfície da córnea por uso de corantes Diagnóstico- Síndrome de Sjögren (SjS) ▪ Principais complicações avaliadas por ultrassonografia e ressonância magnética ▪ Autoanticorpos são os principais marcadores sorológicos, podem estar presentes cerca de 20 anos antes do aparecimento dos sintomas ▪ Pesquisa de FAN e autoanticorpos específicos Artrite reumatoide (AR) ▪ Século XVIII - Augustin Landré-Beuvais descreve pela primeira vez a artrite reumatoide, denominando inicialmente como gota astênica primitiva ▪ 1859- Sir Alfred Baring Garrod utiliza pela primeira vez o termo artrite reumatoide (AR) ▪ Jean-Martin Charcout estabeleceu diagnóstico diferencial entre gota, febre reumática, AR, e osteoartrose Alfred Baring Garrod (1819-1907) Artrite reumatoide (AR) ▪ Doença autoimune, inflamatória, crônica, afeta primeiramente as articulações, além outras manifestações, como nódulos reumatoides, envolvimento pulmonar ou vasculites, e outras comorbidades sistêmicas Artrite reumatoide (AR) ▪ histórico familiar positivo aumenta de 3 a 5 vezes risco de desenvolvimento, além alta concordância entre gêmeos ▪ Fumar, baixo poder econômico, doença periodontal contribuem para desenvolvimento da AR Patogenia- Artrite reumatoide (AR) Patogenia- Artrite reumatoide (AR) ▪ Diversas citocinas encontradas no líquido sinovial atuam recrutando os leucócitos, levando a lesão tecidual e estimulando as células residentes na produção de enzima proteolíticas, destruindo cartilagens, ligamentos e tendões das articulações Patogenia- Artrite reumatoide (AR) ▪ RANK (Receptor ativador de fator nuclear KB) induz atividade aumentada dos osteoclastos nas articulações, auxiliando a destruição óssea Patogenia- Artrite reumatoide (AR) ▪ Ativação de LB autorreativos leva a produção de anticorpos de fator reumatoide que atuam formando imunocomplexos, e anticorpos anti-CCP (peptídeos citrulinados) que contribuem para inflamação e imunocomplexos Diagnóstico - Artrite reumatoide (AR) ▪ Não existem critérios diagnóstico ▪ Baseado na história clínica ▪ Fator reumatoide e anti-CCP são anticorpos presentes, sendo anti-CCP considerado um marcador de AR ▪ Outros exames: Radiografias das articulações, VHS, Proteína C reativa Esclerose múltipla (EM) ▪ Descrita pela primeira vez em 1868 por Jean Martin Charcot (imagem a esquerda) e Alfred Vulpian (imagem a direita) Esclerose múltipla (EM) ▪ Doença autoimune crônica, caracterizada pela destruição da bainha de mielina dos axônios em diversos graus, afetando assim o sistema nervoso central (SNC) ▪ Maioria das pessoas desenvolve de forma irreversível Esclerose múltipla (EM) ▪ Atinge principalmente adultos jovens (30 anos) ▪ Mulheres são duas vezes mais afetadas ▪ Estimasse que 2,5 milhões de pessoas no mundo tenham EM 35 mil pessoas35 mil pessoas Esclerose múltipla (EM) ▪ Encefalomielite autoimune é um modelo experimental da EM estudado em camundongos ▪ É injetado componentes da proteína básica da mielina, com mycobactéria nos camundongos, além de transferência de LT autorreativos Esclerose múltipla (EM) ▪ há evidências que os linfócitos TH1 e TH17 estão ativados e que atacam os autoantígenos de proteínas na mielina. ▪ Hipótese de liberação de antígeno ocultoapós ruptura do tecido Esclerose múltipla (EM) ▪ Pode ocorrer mimetismo molecular através de infecção viral, que ativam LT autorreativos, causando danos aos tecidos Esclerose múltipla (EM) ▪ Fatores genéticos podem contribuir para o desenvolvimento de EM ▪ Taxa de concordância de 25 a 30 % para gêmeos idênticos ▪ Taxa de 6% de concordância para gêmeos não idênticos Diagnóstico- Esclerose múltipla (EM) ▪ Baseado em evidências de ao menos duas lesões distintas (Placas ou cicatrizes) na substância branca do SNC ▪ É necessário ao menos dois episódios de distúrbios neurológicos em pacientes de 10 a 59 anos em diferentes momentos durante curso da doença ▪ Comprovação de inflamação crônica do SNC ▪ Recomendado ressonância magnética Diabetes melito tipo I (DM1) ▪ Doença autoimune, crônica, caracterizada por uma hiperglicemia devido deficiência na produção de insulina por destruição das células β do pâncreas Diabetes melito tipo I (DM1) ▪ Uma das Condições endócrinas e metabólicas mais comuns na infância ▪ Atinge principalmente crianças e adolescentes, com pico de incidência entre 12 e 14 anos, porém pode atingir adultos também Diabetes melito tipo I (DM1) ▪ Afeta mais homens do que mulheres ▪ Sintomas clássicos de hiperglicemia ocorrem de forma rápida, incluem poliúria, polidípsia, perda de peso, sintomas abdominais, cefaleia, e cetoacidose Diabetes melito tipo I (DM1) ▪ É insulinodependente (necessita de aplicações diárias de insulina) ▪ Diabetes melito tipo II apresenta resistência a insulina, geralmente não é insulinodependente, controlada por medicamentos, acomete geralmente adultos após 40 anos de idade Diabetes melito tipo I (DM1) Fatores genéticos- Diabetes melito tipo I (DM1) ▪ Identificado mais de 30 genes associados ▪ Genes HLA são os mais importantes ▪ HLA-DR3, DR4 estão presentes em mais de 90% dos caucasianos com DM1 ▪ Mutações no gene da insulina foi o primeiro gene não HLA identificado na DM1 Fatores ambientais- Diabetes melito tipo I (DM1) ▪ Infecções virais podem desencadear a DM1, levando a lesão celular, induzindo a inflamação e expressão de coestimuladores ▪ Eventos gestacionais, como infecções gestacionais, tempo em que foi iniciado primeira alimentação podem contribuir para desencadeamento da DM1 Fatores ambientais- Diabetes melito tipo I (DM1) ▪ Estudos mostram que Recém nascidos de mães com DM1 geralmente estão protegidos contra o desenvolvimento de autoanticorpos no primeiro ano de vida, podendo estar associados com melhora da tolerância central ou periférica Patogenia- Diabetes melito tipo I (DM1) ▪ Produção de autoanticorpos, LT CD4 medeiam inflamação, LT CD 8 atuam na lise das células das ilhotas Diagnóstico- Diabetes melito tipo I (DM1) ▪ Autoanticorpos podem estar presentes meses ou até anos antes do aparecimento dos primeiros sintomas, entretanto não são patogênicos ▪ Glicemia de jejum - Valores acima de 100mg/dL são indicativos de diabetes, necessário investigação de curva glicêmica - Valor acima de 126 mg/dL é necessário dois resultados - Valor acima de 200mg/dL é considerado diagnóstico Diagnóstico- Diabetes melito tipo I (DM1) ▪ Hemoglobina glicada indica se há hiperglicemia - Valor que indica diabetes: ≥ 6,5% ▪ Curva glicêmica mede a velocidade da absorção de glicose - Glicemia maior que 200 mg/dl duas horas após ingestão de 75g de glicose Tireoidites autoimunes ▪ São consideradas as doenças autoimunes órgão específicas mais prevalentes na população (2 a 5%) ▪ Prevalência de anticorpos anti-tireoidianos (AAT) pode ser ainda maior ▪ Tipos de tireoidites: - Tireoidite de Hashimoto (hipotireoidismo) - Doença de Graves ( Hipertireoidismo) Tireoidites autoimunes ▪ São consideradas as doenças autoimunes órgão específicas mais prevalentes na população (2 a 5%) ▪ Prevalência de anticorpos anti-tireoidianos (AAT) pode ser ainda maior ▪ Tipos de tireoidites: - Tireoidite de Hashimoto (hipotireoidismo) - Doença de Graves ( Hipertireoidismo) Tireoidite de Hashimoto (TH) ▪ Descrita pela primeira vez em 1912 por Hakaru Hashimoto Tireoidite de Hashimoto (TH) ▪ É caracterizada por infiltrados inflamatórios de imunócitos que substituem o parênquima e induzem ao crescimento da tireóide, eventualmente leva a fibrose e destruição dos tireócitos, prejudicando a produção de hormônios e levando ao hipotireoidismo Tireoidite de Hashimoto (TH) ▪ Pacientes com TH podem ou não desenvolver bócio ▪ Desenvolvem anticorpos contra tireóide, que agem contra antígeno peroxidase (TPO) e tireoglobulina (tg) Tireoidite de Hashimoto (TH) ▪ Prevalência maior em mulheres, tendo pico entre 45 a 55 anos de idade ▪ Maior incidência em população com fornecimento suficiente de iodo Doença de Graves (DG) ▪ Descrita pela primeira vez em 1825 por Caleb Parray (a esquerda), na Inglaterra ▪ Posteriormente descrita em 1835 por Robert James Graves, na Irlanda ( a direita) Doença de Graves (DG) ▪ Distúrbio autoimune e causa mais comum de hipertireoidismo ▪ Incidência de 21 pessoas a cada 100mil pessoas por ano ▪ Predominância maior em mulheres de 40 a 60 anos ▪ Autoanticorpos contra o receptor de TSH são os causadores da doença Doença de Graves (DG) ▪ É caracterizada por uma tríade de achados clínicos - Hipertireoidismo - Proptose - Dermopatia infiltrativa localizada Patogenia- Tireoidites autoimunes (TAI) Diagnóstico- Tireoidites autoimunes (TAI) ▪ Tireoidite de Hashimoto: - Definição clínica - TSH aumentado - T3 e T4 diminuídos - Presença de anticorpos anti-TPO e anti-Tg ( 10 a 15% podem não apresentar) Diagnóstico- Tireoidites autoimunes (TAI) ▪ Doença de Graves: - Definição clínica - TSH indetectável - T3 e T4 elevados - Presença de anticorpos anti-TSH, nível de iodo radioativo, ou ultrassom (confirmam diagnóstico) Esclerose sistêmica (ES) ▪ Hipócrates 400 a.C descreveu pela primeira vez a ES, como pessoas com pele endurecida ▪ Em 1836 Giovambattista Fantonetti cunhou o termo “escleroderma”, que deriva do grego “skleros” (dura) e “derma” (pele) Esclerose sistêmica (ES) ▪ Em 1945 Robert H. Goetz descreveu o escleroderma como uma doença com infiltrados em diversos órgãos, definindo o termo “esclerose sistêmica” Esclerose sistêmica (ES) ▪ Doença autoimune, com inflamação crônica, progressiva ao longo dos anos, acometendo não só a pele, como diversos órgãos Esclerose sistêmica (ES) ▪ Existem dois tipos de ES: - ES cutânea limitada: espessamento da pele envolve somente mãos e antebraços, pernas e pés, face - ES difusa: afeta mãos, antebraço, pernas ,pés, coxas, tronco, face Esclerose sistêmica (ES) ▪ Fenômeno de Raynaud está presente em 95% dos pacientes, podendo causar úlcera digitais dolorosas ▪ É uma situação clínica onde os dedos se tornam pálidos quando expostos ao frio devido a um vasoespasmo dos pequenos vasos sanguíneos nos dedos Patogenia- Esclerose sistêmica (ES) 1) Lesão vascular, aumento de citocinas, ativação endotelial 2) Diferentes células inflamatórias são recrutadas Diagnóstico- esclerose sistêmica (ES) ▪ É baseado em evidências clínicas, em geral sugerido pelo endurecimento da pele - Fenômeno de Raynoud - Calcinose, que é o depósito de cálcio na estrutura da pele, podendo tomar forma de nódulos firmes - Telangiectasias, que são as pequenas manchas vermelhas que aparecem na região das mãos, face, braços, e tronco Diagnóstico- esclerose sistêmica (ES) ▪ Diagnóstico Laboratorial:- Biópsia da pele pode ser solicitada para diferenciar de outras síndromes, como fasciite de eosinófilos - Pesquisa de anticorpos antinucleares (FAN) Diagnóstico- esclerose sistêmica (ES) - Autoanticorpos específicos: Anticentrômero (ACA) e antipoisemerase (SCL-70), anti-RNA polimerase III - ACA, estão presentes em 80 % dos pacientes, são associados a forma limitada da doença Diagnóstico- esclerose sistêmica (ES) - SCL-70 estão presentes em 40% dos pacientes com forma difusa - Anti-RNA polimerase II estão presentes em 10 a 15 %, podendo ser encontrados em 45 % dos pacientes com forma difusa Fator antinuclear (FAN) - Teste solicitado quando há suspeita de doenças autoimunes - FAN refere-se a um grupo de autoanticorpos que reagem contra células e tecidos do nosso organismo Fator antinuclear (FAN) - Em 1948 Malcolm Hargraves e Robert Morton, em conjunto com o técnico de laboratório Helen Richmond descreveram o fenômeno das células de lúpus em pacientes com LES associado a presença de autoanticorpos específicos para o complexo DNA/histona Fator antinuclear (FAN) - Na década de 1950 Albert Coons e Melvin Kaplan utilizaram anticorpos marcados com fluoresceína para identificar antígenos teciduais, determinando a aplicabilidade da Imunofluorescência indireta para pesquisa de anticorpos antinucleares (ANA) Fator antinuclear (FAN) ▪ Método de Imunofluorescência Indireta - Pesquisa de autoanticorpos - Utiliza-se um anti-Ac acoplado a um fluorocromo, sendo que se houver a ligação haverá emissão de fluorescência Fator antinuclear (FAN) ▪ Inicialmente utilizava-se substrato de células animais - Imprint - Cortes histológicos de rim ou fígado de roedores ▪ Atualmente é utilizado células tumorais da linhagem Hep-2 Fator antinuclear (FAN) ▪ vantagem das células Hep-2: - Antígenos humanos - Maior sensibilidade devido a grande relação núcleo/citoplasma, presença de vários nucléolos, citoplasma rico em fibrilas e organelas - Podem ser observadas em todas as fases da divisão celular Fator antinuclear (FAN) ▪ desvantagem das células Hep-2: - Menor especificidade - Pode estar presente em 10% dos indivíduos saudáveis Padrões de Hep-2- Fator antinuclear (FAN) ▪ Existem mais de 30 padrões fluorescência já descritos - Padrões nucleares - Padrões nucleolares - Padrões citoplasmáticos e relacionados ao aparelho mitótico - Padrões mistos Padrões- Fator antinuclear (FAN) ▪ Nuclear pontilhado fino denso - Inespecífico, pode estar presente em diversas doenças autoimunes e em indivíduos saudáveis Padrões Nucleares- Fator antinuclear (FAN) ▪ Nuclear pontilhado fino - Associado principalmente com LES e SjS Padrões Nucleares- Fator antinuclear (FAN) ▪ Nuclear pontilhado grosso - Associado principalmente com LES, ES, AR, e doença mista do tecido conjuntivo Padrões Nucleares- Fator antinuclear (FAN) ▪ Nuclear pontilhado centromérico - Associado principalmente com esclerose sistêmica Padrões Nucleares- Fator antinuclear (FAN) ▪ Nucleolar aglomerado - Associado principalmente com esclerose sistêmica Padrões Nucleares- Fator antinuclear (FAN) ▪ Citoplasmático pontilhado fino - Associado com polimiosite no adulto Padrões Nucleares- Fator antinuclear (FAN) ▪ Citoplasmático fibrilar linear - Associado principalmente com hepatite autoimune Resultados- Fator antinuclear (FAN) ▪ FAN reagente: - São realizadas diluições a partir de 1/40 - Indivíduos saudáveis podem dar positivo em diluições até 1/80 - São considerados valores a partir de 1/160 - Diluições geralmente são feitas de 1/40; 1/80; 1/160; 1/320; 1/640; 1;1280 Resultados- Fator antinuclear (FAN) ▪ FAN reagente: - Valores ≥ 1/320 são muito relevantes e indicam DAIs em mais de 97% dos casos ▪ Uma vez que FAN seja reagente e associado com um quadro clínico sugira uma doença autoimune é necessário realizar a pesquisa de autoanticorpos específicos ATÉ A PRÓXIMA!