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EXAME DE URINA

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<Exame de Urina> 
• O exame de urina simples pode ser também chamado de EAS (elementos e 
sedimentos anormais) ou exame de urina do tipo 1. 
• O EAS é dividido em três partes: características físicas da urina; elementos anormais; 
sedimentoscopia. 
Características físicas da urina 
COR: coloração normal da urina é amarela âmbar. 
• Ausência de cor: diluição (poliúria); a ausência de cor habitualmente não é doença, 
muitas vezes está associada a maior ingestão de líquidos. A capacidade de diluição 
urinÁria é de 16 litros, ou seja, uma pessoa normal, que não possui cardiopatia ou 
nefropatia, pode ingerir até 16 litros de líquido que não haverá intoxicação hídrica cuja 
principal manifestação clínica é o edema cerebral. Contudo, a urina de um indivíduo 
que tem poliúria por outros motivos (por exemplo, DM, diabetes insipidus) também é 
caracterizada por ausência de cor. Na DM ocorre poliúria pelo efeito osmótico da 
glicose, já a diabetes insipidus (DI) relaciona-se ao hormônio ADH (DI central → 
indivíduo não produz ADH; DI periférico ou nefrogênico → produz ADH mas esse não 
se liga aos receptores). Além disso, pacientes que fazem abuso de diuréticos também 
podem ter uma urina com ausência de cor, o que é comum em quadros de tratamentos 
de insuficiência cardíaca ou insuficiência renal. 
• Cor leitosa, turva: característica da piúria (presença de pus na urina, relacionado a 
infeção bacteriana no trato urinário, comum em pacientes sondados ou em pacientes 
que têm obstrução do trato urinário, esse último leva a retenção urinária que predispõe 
a ITU). Outras causas menos frequentes de urina de cor leitosa são lipidúria (acontece 
na síndrome nefrótica), presença de grande quantidade de fosfato amorfo (não 
necessariamente patológico, porque o rim é uma via de eliminação de fosfato) e 
presença de fungos (geralmente associado a processo obstrutivo ou a sonda vesical 
prolongada). 
• Cor laranja: pode estar associada ao excesso de bilirrubina na urina, comum em casos 
icterícia, que pode ser causada por hepatopatia ou coledocopatia, além do uso de 
drogas como a fenazopiridina – piridium (analgésico das vias urinárias). 
• Cor vermelha ou rosa: hemácias, hemoglobina (pode acontecer no paciente com 
anemia falciforme, hemólise intravascular → liberou Hg → foi filtrada pelo glomérulo), 
mioglobina (paciente com rabdomiólise → libera mioglobina do músculo → por ser 
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muito pequena é rapidamente absorvida pelo glomérulo → obstrui o néfron), porfirina, 
beterraba, fenolftaleína (laxante), rifampicina (tratamento tuberculose). 
observação: a urina de coloração vermelha não necessariamente está urinando sangue. 
Existe a pigmentúria, na qual o indivíduo comeu beterraba ou ingeriu laxante a base de 
fenolftaleína ou fez uso de rifampicina, que produzirá urina de coloração avermelhada. 
• Cor vermelha, marrom: hemácias, hemoglobinúria, mioglobina, bile (icterícia), 
fenotiazina, metildopa. 
• Cor azul, verde: em UTI pensar em ITU por pseudomonas, mas na maioria das vezes 
está relacionada a alguma pigmentúria (azul de metileno, riboflavina, amitriptilina, 
indometacina, metanamina). 
• De maneira geral, colúria não é doença e está associada a uma ingesta inadequada de 
líquido ou a alguma droga que o indivíduo utiliza ou a mudança do hábito alimentar. 
• Logo, mediante uma queixa de colúria, sempre perguntar se o paciente está tomando 
algum medicamento e se mudou o cardápio alimentar habitual. 
DENSIDADE: medida da capacidade de concentração da urina. 
• Normal: 1.005 (muito diluída) a 1.040 (muito concentrada). 
• Densidade urinária matinal isolada > 1.018 → capacidade de concentração renal 
preservada. 
• Osmolaridade urinária: 1.005 a 1.040 x 40. 
• Uma densidade isolada de urina não tem muita importância, é relevante fazer uma a 
avaliação de densidades seriadas (por exemplo, indivíduo que tem densidade sempre 
baixa, provavelmente perdeu a capacidade de concentrar a urina). Entretanto, uma 
densidade isolada matinal > 1018 fala a favor de uma capacidade de concentração de 
urina preservada, sinal de função tubular adequada. 
• Um densidade urinaria maior ou igual a 1020 tem uma importância clínica, pois mostra 
que o paciente possui capacidade de concentrar a urina. 
• Em ambiente de terapia intensiva é interessante saber a osmolaridade urinária para 
fazer diagnóstico diferencial de paciente com disnatremias. O cálculo da osmolaridade 
pode ser feito a partir da densidade urinária, pega os dois últimos algarismos da 
densidade e multiplica por 40, obtendo aproximadamente o valor da osmolaridade (por 
exemplo densidade urinária = 1020 → osmolaridade = 20 x 40 = 800). 
• Como já foi dito, a densidade reflete a capacidade de concentrar a urina. Todos 
produzem cerca de 180 litros de ultrafiltrado por dia. O sangue passa pelo glomérulo e 
sofre um processo de ultrafiltração. Esse ultrafiltrado, ao passar pelos túbulos renais é 
reabsorvido, o que concentra a urina. Logo, concentração é a capacidade dos túbulos 
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renais de retirar a água do ultrafiltrado. Com isso, é produzido 1 a 2 litros de urina por 
dia. 
• A poliúria é o principal sinal clínico de quem perdeu a capacidade de concentrar a urina 
e um dos primeiros sinais de insuficiência renal crônica. Em primeiro momento, pode-se 
pensar que a grande manifestação clínica inicial do paciente com IRC é oligúria, 
contudo, a manifestação mais precoce da IRC é a perda da capacidade de concentrar 
urina, o indivíduo se torna poliúrico. 
• À medida que o glomérulo vai esclerosando, vai diminuindo progressivamente o volume 
urinário até chegar à oligúria. O paciente que não urina, não pode ingerir líquido porque 
tudo que ele bebe fica acumulado no organismo. Esse acúmulo pode gerar insuficiência 
cardíaca ou doença no fígado. 
• A poliúria não incomoda durante o dia, mais durante a noite, pois o paciente reclama 
que não aguentar mais acordar para urinar 4 ou 5 vezes à noite. Entretanto, poliúria 
pode também ser um sintoma de diabetes mellitus descompensado ou diabetes 
insipidus central ou nefrogênico ou também um abuso do uso de diuréticos. 
observação: não se deve prescrever diuréticos de 12/12 horas e sim pela manhã, no 
máximo deve-se prescrever no início da tarde para que o paciente possa dormir 
tranquilamente. 
pH: avaliação da concentração de íons H+ na urina. O normal é 4,5 a 8,5, mas, 
habitualmente, o pH é ácido. O pH sanguíneo normal é 7,4, ou seja, tende mais a 
alcalinidade. Ao passo que a urina habitualmente é mais ácida, porque é uma via de 
eliminação de H+ não volátil e o pH gira geralmente em torno de 6,0 a 6,5, mais ácido que 
o pH sanguíneo. É importante entender que é produzido no corpo 2 tipos de ácido, o 
primeiro tipo é o ácido volátil que é o ácido carbônico, que é decomposto em gás 
carbônico e água, sendo o primeiro eliminado pela respiração e o segundo é reabsorvido. 
Toda vez que ingere proteínas há a formação de aminoácidos, ou seja, ácidos que não 
são eliminados pela respiração, mas que serão eliminados pela urina. Dessa forma, o rim 
é o principal regulador de ácidos não-voláteis e isso ocorre pela diminuição do pH da 
urina. Apesar de o pH ter ampla faixa de normalidade, ele, habitualmente, é ácido (menor 
que 6). 
• Medidas isoladas do pH urinário não têm importância clínica, o que tem importância é o 
pH persistentemente alcalino, que fala a favor de 2 possibilidades: uma infecção 
urinária por bactérias desdobradoras de ureia (Proteus, Klebsiella, Pseudomonas e 
Staphylococus) e acidose tubular renal (incapacidade do TCD de excretar H+ → H+ fica 
retido no sangue → como não tem H+ na urina, essa fica alcalina). Manifestação clínica 
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principal da acidose tubular renal no adulto é a nefrolitíase e na criança é a 
deficiência de crescimento. 
observação: a maioria das infecções urinárias são provocadas pela Escherichia coli 
(80% das cistites em mulheres). Contudo, eventualmente,as infecções podem ser 
causadas por bactérias do gênero Proteus, que tem como característica importante a 
produção de urease. Essa enzima, quando está presente na urina, transforma a ureia 
urinária em amônia, que aumenta o pH urinário. Habitualmente infecções causadas por 
Proteus geram pH entre 7,5 e 8 e esse pH favorece a formação de um cálculo chamado 
estruvita, que pode gerar insuficiência renal crônica. Não ter essas bactérias é uma das 
poucas possibilidades de prevenção de insuficiência renal crônica (IRC), pois, ao fazer 
esse diagnóstico, pode-se prevenir IRC. Entretanto, infelizmente, a maioria das infecções 
por Proteus são tratadas como E. coli e, após 5 ou 10 anos, a mulher aparece com 
cálculo de estruvita (coraliforme), que destrói o rim da paciente, levando-a para a 
hemodiálise. Esse cálculo compromete os 2 rins e pode levar a nefrectomia. 
• A acidose tubular renal é uma incapacidade do rim em excretar H+, se não excreta 
hidrogênio ele fica no sangue e gera acidose no sangue e alcalose na urina. 
• pH ácido: diarreia, desidratação, febre, acidose, medicamentos. 
Elementos anormais 
• Elementos anormais de sedimento (EAS) não devem existir. São pesquisados através 
de uma fitinha de imersão em que cada um dos quadradinhos representa um elemento 
anormal. 
• Ela é imersa na urina e os padrões de cores são comparados para indicar se os 
elementos estão presentes e se tem 1, 2, 3 ou 4 cruzes. 
PROTEÍNA: barreira de filtração glomerular (BFG) é impermeável a proteínas, logo 
quando há proteinúria significa que essa barreira está lesada. Em outras palavras, a 
proteinúria é um importante marcador de glomerulopatia (visto que a BFG está no 
glomérulo). A barreira de filtração glomerular é formada pelo endotélio, membrana basal 
glomerular e os podócitos. O normal do exame simples de urina no EAS é a ausência de 
proteína. A principal e quase que exclusiva proteína que se perde na urina é a albumina. 
Portanto, albuminúria é sinônimo de proteinúria. É comum paciente com proteinúria 
queixar-se de urina espumosa. Toda proteinúria deve ser quantificada e há duas maneiras 
de quantificá-la: 
• Proteinúria de 24 horas < 150mg (dificuldade de explicar ao paciente como realizar as 
coletas) — a fitinha do EAS não tem sensibilidade para encontrar proteinúria menor que 
150mg. 
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• Relação proteína/creatinina em amostra isolada de urina < 0,15. 
observação: como colher urina de 24h? Para colher, deve-se desprezar a primeira urina 
ao acordar, pois ela foi acumulada no dia anterior. A partir daí, deve-se colher todos os 
volumes urinários ao longo das 24 horas e acordar no outro dia no mesmo horário do dia 
anterior, para, em seguida, colher a primeira urina. 
• Proteinúria é um sinal tão importante de doença glomerular que surgiu o conceito de 
microalbuminúria, que corresponde a uma quantidade tão pequena de proteína na urina 
que não é capaz de sensibilizar a fita de imersão. 
• Microalbuminúria normal < 30 em 24 horas. 
• Albuminúria: entre 30 e 300mg 
• Macroalbuminúria > 300 mg (essa quantidade já é detectada no EAS através dos testes 
mais simples). 
• Todas as pessoas hígidas perdem proteína na urina, entretanto, essa perda ocorre em 
quantidades menores que 150mg/24horas. 
• Microalbuminúria é uma quantidade de albumina na urina que só é detectada por 
métodos mais sensíveis, por exemplo, radioimunoensaio. Ela é importante porque é a 
manifestação mais precoce da nefropatia diabética. Todo diabético tipo I com mais de 5 
anos de doença precisa ser submetido a pesquisa periódica de microalbuminúria e todo 
diabético do tipo II, independentemente do tempo de doença, deve ser pesquisado 
periodicamente quanto a microalbuminúria. Aproximadamente 80% dos diabéticos 
microalbuminúricos caminharão para macroalbuminúria (proteína que já aparece no 
EAS) e podem evoluir para doença renal crônica (DRC). Quando se encontra 
microalbuminúria em um paciente diabético diz-se que ele tem nefropatia incipiente 
(fase 1 da nefropatia) e quando se encontra macroalbuminúria ele tem nefropatia 
diabética declarada. 
• Nesse momento (microalbuminúria) é que deve se intensificar o tratamento do diabetes 
e iniciar IECA para tentar retardar a progressão da nefropatia diabética para IRC. 
Nefropatia diabética é a principal causa de IRC no mundo inteiro e no Brasil está 
disputando com HAS como maior causador de IRC. 
• Microalbuminúria ocorre quando há de 30 a 300mg de albumina na urina de 24 horas, 
sendo que mais de 300mg já há lesão da barreira de filtração glomerular. 
Microalbuminúria é um marcador extremamente importante. A partir de 300mg de 
microalbuminúria já é detectado no EAS. 
observação: quando se faz exame de microalbuminúria? Quando o diabético fez o 
exame de urina e a proteinúria deu negativa; porque se der positiva, o paciente já tem 
macroalbuminúria. 
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GLICOSE: glicosúria até que se prove o contrário é diabetes. Contudo, sabe-se que 
não se faz diagnóstico de diabetes com exame de urina. Existe a glicosúria renal que 
ocorre quando a pessoa que não consegue reabsorver toda a glicose que passa pelo 
túbulo contornado distal, mas isso é muito raro. 
CETONAS: sinal de DM descompensada, ou seja, sinal de insuficiência pancreática 
absoluta – não produz mais insulina. Enquanto o organismo estiver produzindo insulina, o 
indivíduo não faz cetonúria. Um dos critérios diagnósticos utilizados na cetoacidose 
diabética. Outra situação em que pode ser encontrada cetonúria é em coma alcoólico 
(paciente que fica em jejum prolongado por conta da bebida), porém é menos frequente. 
BILIRRUBINAS: sabe-se que a causa de icterícia é a grande quantidade de 
bilirrubina nos tecidos extracelulares, tanto na forma direta como na indireta e que a 
bilirrubina vem do HEME da hemoglobina. Há dois tipos de bilirrubinas, a conjugada ou 
direta e a não conjugada ou indireta. Quando o HEME se transforma em bilirrubina é a 
bilirrubina indireta, essa vai até o fígado, sofre conjugação e se torna bilirrubina direta. 
• Deve-se saber que as bilirrubinas diretas estão associadas as doenças hepatocelulares 
(por exemplo hepatite viral, doença hepática alcoólica) e a obstrução das vias biliares 
(tumor na cabeça do pâncreas, estenose biliar). 
• Ao passo que a bilirrubina indireta está associada a hemólise (quadro hemolítico por 
anemia falciforme → liberou muito HEME na circulação → bilirrubina indireta → 
icterícia). 
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• A bilirrubina indireta NÃO É HIDROSSOLÚVEL e a bilirrubina direta é 
HIDROSSOLÚVEL. Logo, se a bilirrubina indireta não é hidrossolúvel, ela não passa na 
urina, não é filtrada pelo glomérulo. Conclui-se que um paciente ictérico com bilirrubina 
na urina, essa é obrigatoriamente direta ou conjugada (hidrossolúvel), já um indivíduo 
que tem hiperbilirrubinemia por hemólise, apresentará bilirrubina negativa na urina 
porque a bilirrubina indireta não é hidrossolúvel. 
• Resumindo, se há bilirrubina na urina, ela é direta e está associada a doença 
hepatocelular ou a obstrução das vias biliares. 
• Depois que o organismo forma a bilirrubina conjugada no fígado, essa bilirrubina ficará 
armazenada na vesícula biliar, passa posteriormente para o colédoco e cai no duodeno. 
No duodeno, essa bilirrubina sofre uma metabolização pelas bactérias do intestino e se 
transforma em urobilinogênio. Esse urobilinogênio é reabsorvido pela via sistema porta 
e volta ao fígado. Quando chega ao fígado, pequena parte desse urobilinogênio passa 
para o sangue e será excretada na urina, pelos rins; após a exposição ao ar, na urina, o 
urobilinogênio é oxidado em urobilina. Esse ciclo de substância secretada no fígado via 
canalículo biliar, que chega ao intestino e é reabsorvida pelo sistema porta é chamado 
de circulação entero- hepática (CEH). Para que a CEH seja perfeita, as vias biliares 
devem estar permeáveis. 
• Paciente ictérico com bilirrubina e urobilinogênio na urina→ doença hepatocelular (não 
é obstrução das vias biliares porque há presença de urobilinogênio e isso quer dizer 
que o CEH foi concluído). 
• Paciente ictérico com bilirrubina na urina e ausência urobilinogênio na urina → sinal de 
obstrução de vias biliares. 
 observação: febre Amarela → paciente ictérico com predomínio de bilirrubina direta → 
bilirrubina na urina → como não tem obstrução das vias biliares aparecerá também 
urobilinogênio na urina. 
UROBILINOGÊNIO: resultante da redução da bilirrubina conjugada. 
HEMOGLOBINA: na hemoglobina, a fita de emersão detecta o heme, logo se detecta 
hemoglobina na urina, na verdade quer dizer que foi heme positivo e esse heme pode 
estar vindo de uma hemácia, da hemoglobina isoladamente ou pode estar vindo da 
mioglobina. Logo, se houver hemoglobina no exame de urina ele pode ter hematúria, 
hemoglobinúria ou mioglobinúria (rabdomiólise, ou seja, lesão muscular). Hemoglobina na 
urina não significa necessariamente hematúria. 
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NITRITO: evidência indireta de bacteriúria. Algumas bactérias transformam o nitrato 
(metabólito normalmente presente na urina) em nitrito. Contudo, é um exame com muito 
falso-positivo, pelo risco de contaminação bacteriana da amostra. Para ser avaliada 
bacteriúria, a urina deve ser colhida em ambiente muito asséptico. 
Sedimentoscopia 
• Coloca 5 a 10 mL de urina em um tubo e centrifuga, em seguida, despreza o 
sobrenadante e deposita parte do sedimento restante em lâmina e lamínula e examina 
ao microscópio. 
CÉLULAS: epiteliais, tubulares renais, leucócitos e hemácias. 
• Presença de células epiteliais geralmente é sinal de contaminação da urina. No 
homem, isso é raro de acontecer, contudo na mulher é frequente. Quando a mulher vai 
colher o exame de urina é necessária uma higienização da região vulvoperineal e no 
momento da coleta da urina deve separar os grandes lábios. Como na maioria das 
vezes a mulher não faz isso, a urina ao passar pelo introito vaginal carreia uma série de 
células epiteliais daquela região. Exame de urina com muitas células epiteliais é sinal 
de que a coleta não foi adequada. 
• Presença de células tubulares renais só é importante no contexto de insuficiência renal 
aguda (paciente com parada aguda da função renal e no exame de urina encontra 
células tubulares é um forte indício de necrose tubular aguda). 
• Presença de leucócitos na urina podem ser também chamados de piócitos (leucócitos 
degenerados na urina). Os piócitos possuem uma grande sensibilidade (90-96%) no 
diagnóstico de infecção urinária. Isso quase que vale a dizer que não existe infecção 
urinária sem piúria. 
observação: chega um paciente com sinais e sintomas que fazem pensar em ITU e ao 
fazer EAS não encontra piócitos, pode-se questionar o diagnóstico clínico, provavelmente 
não é ITU. Com isso, o VPN é muito alto; por outro lado, a especificidade é muito baixa 
(em torno de 50%), isso significa que na presença de piócitos na urina, há 50% de chance 
de ser ITU e 50% de possibilidade de ser qualquer outra causa. Contaminação: o que é 
mais frequente na mulher. Ela tem um fluxo vaginal provocado por Candida ou 
Gardnerella e quando vai urinar para colher a urina, a urina é contaminada pelo fluxo 
vaginal, leva os leucócitos que estavam nesse fluxo e, consequentemente, apresentará 
piúria no EAS. Doença inflamatória no trato urinário (não ITU): como por exemplo, uma 
glomerulonefrite (processo inflamatório do glomérulo) que dá piúria e que não é infecção 
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urinária, é uma doença relacionada a uma reação imunológica entre antígeno e anticorpo 
e que tem bactéria envolvida. Outra possibilidade: tumor nas vias urinárias. Inflamação 
fora do trato urinário: vaginite, apendicite (uma das manifestações é piúria no EAS, 
porque por contiguidade e aproximação o apêndice inflamado irrita a bexiga e o indivíduo 
pode desenvolver uma piúria). 
observação: piúria não é igual ITU. Na presença de sinais e sintomas típicos de 
infecção urinária (dor, queimação e ardência para urinar), a piúria é provavelmente uma 
infecção urinária. Se uma mulher não sente nada, encaminha ao ginecologista, porque 
piúria pode ser um sinal de infecção ginecológica. 
observação: leucócito é piócito degenerado, mas piúria e leucocitúria não são 
sinônimos. 
CILINDROS: o principal componente dos cilindros é a proteína de TammHorsfall, que é 
uma mucoproteína secretada pelas células tubulares renais. Essa mucoproteína pode se 
precipitar dentro dos túbulos renais e moldar o interior o túbulo, ou seja, ela forma o molde 
da luz tubular. 
• Cilindro hialino (normal/fisiológico): quando o molde tubular é formado exclusivamente 
pela proteína de Tamm-Horsfall. Não significa nenhuma doença, todo mundo pode ter 
cilindro hialino na urina. 
• Granuloso: quando o cilindro hialino está sendo formado moldando o interior da luz 
tubular, ele pode aprisionar no interior dele alguns elementos, como por exemplo, 
restos tubulares. Esse cilindro passa a ser chamado de cilindro granuloso e é 
característico da necrose tubular aguda. Pode também ser fisiológico, mas está mais 
associado a lesão tubular aguda. 
• Leucocitário: inflamação renal. Cilindro cheio de piócitos em seu interior, característico 
de pielonefrite ou glomerulonefrite. 
• Hemático: cilindro cheio de hemácias em seu interior, é patognomônico de 
glomerulonefrite. O achado de um cilindro hemático fecha o diagnóstico de 
glomerulonefrite, mesmo se o paciente for assintomático. 
• Epitelial: lesão tubular. 
• Céreos e largos: sinal de doença renal crônica – mostra que o epitélio tubular atrofiou, 
a luz tubular aumentou e o cilindro ficou muito largo. 
• Lípidicos: associado a síndrome nefrótica. 
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• Paciente com oligúria, creatinina alta e há dúvidas no diagnóstico, se tiver cilindro 
granuloso é necrose tubular aguda (IRA), se tiver cilindro largo é IRC. 
CRISTAIS 
• Oxalato de cálcio, Fosfato de cálcio, Urato → sem significado clínico porque a via de 
eliminação normal desses cristais é a via urinária. Contudo, em alguns casos ajuda na 
interpretação da composição dos cálculos renais, por exemplo, paciente chega com 
cólica renal e no exame de urina tem oxalato de cálcio, obviamente o cálculo é formado 
de oxalato de cálcio. 
• Cistina: raro, patognomônico de um distúrbio chamado cistinúria (alteração genética 
no metabolismo de 4 aminoácidos, entre eles a cistina). 
• Fosfato amoníaco magnesiano: na grande maioria das vezes as ITU são provocadas 
pela E. coli. Contudo, alguns pacientes desenvolvem infecção urinária por Proteus. O 
Proteus é produtor de uma enzima chamada urease, que transforma a ureia (presente 
normalmente na urina) em amônia. A consequência dessa transformação é o aumento 
do pH urinário, a urina fica alcalina, favorecendo a precipitação de fosfato, de amônia, 
de magnésio e de cálcio, formando um cálculo de fosfato amoníaco magnesiano ou 
cálculo coraliforme (aspecto de um coral marinho) ou cálculo de estruvita. Esse cálculo 
ocupa toda a via excretora do rim. O Proteus fica dentro do cálculo, logo não consegue 
eliminá-lo com antibiótico. A recidiva da infecção por Proteus é assintomática e 
aumenta ainda mais a chance de formar um cálculo coraliforme. 
observação: infecção urinária não pode ter pH alcalino, se for alcalino tem que fazer 
cultura para pesquisa de Proteus. Em caso de crescimento de Proteus positivo, tratar e 
acompanhar o paciente por pelo menos 1 ano. 
MICRORGANISMOS 
• Bactéria: um achado comum em EAS é flora bacteriana aumentada e isso não tem 
valor nenhum devido a falta de controle na coleta da urina (grandes chances de 
contaminação da amostra). 
• Fungos: se encontrar fungos na urina (Candida) é por contaminação de fluxo vaginal, a 
mulher tem uma candidíase vaginal e isso apareceu na urina. Raramente há infecção 
urinária por fungo em indivíduos sadios, isso acontece em doentes que tem bexiga 
neurogênica e em pacientesondado. 
• Trichomonas: contaminação de fluxo vaginal, a mulher tem uma tricomoníase e no 
momento da coleta a urina entrou em contato com esse fluxo vaginal e contaminou a 
amostra. Não existe infecção urinária por Trichomonas.
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