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<Exame de Urina> • O exame de urina simples pode ser também chamado de EAS (elementos e sedimentos anormais) ou exame de urina do tipo 1. • O EAS é dividido em três partes: características físicas da urina; elementos anormais; sedimentoscopia. Características físicas da urina COR: coloração normal da urina é amarela âmbar. • Ausência de cor: diluição (poliúria); a ausência de cor habitualmente não é doença, muitas vezes está associada a maior ingestão de líquidos. A capacidade de diluição urinÁria é de 16 litros, ou seja, uma pessoa normal, que não possui cardiopatia ou nefropatia, pode ingerir até 16 litros de líquido que não haverá intoxicação hídrica cuja principal manifestação clínica é o edema cerebral. Contudo, a urina de um indivíduo que tem poliúria por outros motivos (por exemplo, DM, diabetes insipidus) também é caracterizada por ausência de cor. Na DM ocorre poliúria pelo efeito osmótico da glicose, já a diabetes insipidus (DI) relaciona-se ao hormônio ADH (DI central → indivíduo não produz ADH; DI periférico ou nefrogênico → produz ADH mas esse não se liga aos receptores). Além disso, pacientes que fazem abuso de diuréticos também podem ter uma urina com ausência de cor, o que é comum em quadros de tratamentos de insuficiência cardíaca ou insuficiência renal. • Cor leitosa, turva: característica da piúria (presença de pus na urina, relacionado a infeção bacteriana no trato urinário, comum em pacientes sondados ou em pacientes que têm obstrução do trato urinário, esse último leva a retenção urinária que predispõe a ITU). Outras causas menos frequentes de urina de cor leitosa são lipidúria (acontece na síndrome nefrótica), presença de grande quantidade de fosfato amorfo (não necessariamente patológico, porque o rim é uma via de eliminação de fosfato) e presença de fungos (geralmente associado a processo obstrutivo ou a sonda vesical prolongada). • Cor laranja: pode estar associada ao excesso de bilirrubina na urina, comum em casos icterícia, que pode ser causada por hepatopatia ou coledocopatia, além do uso de drogas como a fenazopiridina – piridium (analgésico das vias urinárias). • Cor vermelha ou rosa: hemácias, hemoglobina (pode acontecer no paciente com anemia falciforme, hemólise intravascular → liberou Hg → foi filtrada pelo glomérulo), mioglobina (paciente com rabdomiólise → libera mioglobina do músculo → por ser Gabriela Reis Viol muito pequena é rapidamente absorvida pelo glomérulo → obstrui o néfron), porfirina, beterraba, fenolftaleína (laxante), rifampicina (tratamento tuberculose). observação: a urina de coloração vermelha não necessariamente está urinando sangue. Existe a pigmentúria, na qual o indivíduo comeu beterraba ou ingeriu laxante a base de fenolftaleína ou fez uso de rifampicina, que produzirá urina de coloração avermelhada. • Cor vermelha, marrom: hemácias, hemoglobinúria, mioglobina, bile (icterícia), fenotiazina, metildopa. • Cor azul, verde: em UTI pensar em ITU por pseudomonas, mas na maioria das vezes está relacionada a alguma pigmentúria (azul de metileno, riboflavina, amitriptilina, indometacina, metanamina). • De maneira geral, colúria não é doença e está associada a uma ingesta inadequada de líquido ou a alguma droga que o indivíduo utiliza ou a mudança do hábito alimentar. • Logo, mediante uma queixa de colúria, sempre perguntar se o paciente está tomando algum medicamento e se mudou o cardápio alimentar habitual. DENSIDADE: medida da capacidade de concentração da urina. • Normal: 1.005 (muito diluída) a 1.040 (muito concentrada). • Densidade urinária matinal isolada > 1.018 → capacidade de concentração renal preservada. • Osmolaridade urinária: 1.005 a 1.040 x 40. • Uma densidade isolada de urina não tem muita importância, é relevante fazer uma a avaliação de densidades seriadas (por exemplo, indivíduo que tem densidade sempre baixa, provavelmente perdeu a capacidade de concentrar a urina). Entretanto, uma densidade isolada matinal > 1018 fala a favor de uma capacidade de concentração de urina preservada, sinal de função tubular adequada. • Um densidade urinaria maior ou igual a 1020 tem uma importância clínica, pois mostra que o paciente possui capacidade de concentrar a urina. • Em ambiente de terapia intensiva é interessante saber a osmolaridade urinária para fazer diagnóstico diferencial de paciente com disnatremias. O cálculo da osmolaridade pode ser feito a partir da densidade urinária, pega os dois últimos algarismos da densidade e multiplica por 40, obtendo aproximadamente o valor da osmolaridade (por exemplo densidade urinária = 1020 → osmolaridade = 20 x 40 = 800). • Como já foi dito, a densidade reflete a capacidade de concentrar a urina. Todos produzem cerca de 180 litros de ultrafiltrado por dia. O sangue passa pelo glomérulo e sofre um processo de ultrafiltração. Esse ultrafiltrado, ao passar pelos túbulos renais é reabsorvido, o que concentra a urina. Logo, concentração é a capacidade dos túbulos Gabriela Reis Viol renais de retirar a água do ultrafiltrado. Com isso, é produzido 1 a 2 litros de urina por dia. • A poliúria é o principal sinal clínico de quem perdeu a capacidade de concentrar a urina e um dos primeiros sinais de insuficiência renal crônica. Em primeiro momento, pode-se pensar que a grande manifestação clínica inicial do paciente com IRC é oligúria, contudo, a manifestação mais precoce da IRC é a perda da capacidade de concentrar urina, o indivíduo se torna poliúrico. • À medida que o glomérulo vai esclerosando, vai diminuindo progressivamente o volume urinário até chegar à oligúria. O paciente que não urina, não pode ingerir líquido porque tudo que ele bebe fica acumulado no organismo. Esse acúmulo pode gerar insuficiência cardíaca ou doença no fígado. • A poliúria não incomoda durante o dia, mais durante a noite, pois o paciente reclama que não aguentar mais acordar para urinar 4 ou 5 vezes à noite. Entretanto, poliúria pode também ser um sintoma de diabetes mellitus descompensado ou diabetes insipidus central ou nefrogênico ou também um abuso do uso de diuréticos. observação: não se deve prescrever diuréticos de 12/12 horas e sim pela manhã, no máximo deve-se prescrever no início da tarde para que o paciente possa dormir tranquilamente. pH: avaliação da concentração de íons H+ na urina. O normal é 4,5 a 8,5, mas, habitualmente, o pH é ácido. O pH sanguíneo normal é 7,4, ou seja, tende mais a alcalinidade. Ao passo que a urina habitualmente é mais ácida, porque é uma via de eliminação de H+ não volátil e o pH gira geralmente em torno de 6,0 a 6,5, mais ácido que o pH sanguíneo. É importante entender que é produzido no corpo 2 tipos de ácido, o primeiro tipo é o ácido volátil que é o ácido carbônico, que é decomposto em gás carbônico e água, sendo o primeiro eliminado pela respiração e o segundo é reabsorvido. Toda vez que ingere proteínas há a formação de aminoácidos, ou seja, ácidos que não são eliminados pela respiração, mas que serão eliminados pela urina. Dessa forma, o rim é o principal regulador de ácidos não-voláteis e isso ocorre pela diminuição do pH da urina. Apesar de o pH ter ampla faixa de normalidade, ele, habitualmente, é ácido (menor que 6). • Medidas isoladas do pH urinário não têm importância clínica, o que tem importância é o pH persistentemente alcalino, que fala a favor de 2 possibilidades: uma infecção urinária por bactérias desdobradoras de ureia (Proteus, Klebsiella, Pseudomonas e Staphylococus) e acidose tubular renal (incapacidade do TCD de excretar H+ → H+ fica retido no sangue → como não tem H+ na urina, essa fica alcalina). Manifestação clínica Gabriela Reis Viol principal da acidose tubular renal no adulto é a nefrolitíase e na criança é a deficiência de crescimento. observação: a maioria das infecções urinárias são provocadas pela Escherichia coli (80% das cistites em mulheres). Contudo, eventualmente,as infecções podem ser causadas por bactérias do gênero Proteus, que tem como característica importante a produção de urease. Essa enzima, quando está presente na urina, transforma a ureia urinária em amônia, que aumenta o pH urinário. Habitualmente infecções causadas por Proteus geram pH entre 7,5 e 8 e esse pH favorece a formação de um cálculo chamado estruvita, que pode gerar insuficiência renal crônica. Não ter essas bactérias é uma das poucas possibilidades de prevenção de insuficiência renal crônica (IRC), pois, ao fazer esse diagnóstico, pode-se prevenir IRC. Entretanto, infelizmente, a maioria das infecções por Proteus são tratadas como E. coli e, após 5 ou 10 anos, a mulher aparece com cálculo de estruvita (coraliforme), que destrói o rim da paciente, levando-a para a hemodiálise. Esse cálculo compromete os 2 rins e pode levar a nefrectomia. • A acidose tubular renal é uma incapacidade do rim em excretar H+, se não excreta hidrogênio ele fica no sangue e gera acidose no sangue e alcalose na urina. • pH ácido: diarreia, desidratação, febre, acidose, medicamentos. Elementos anormais • Elementos anormais de sedimento (EAS) não devem existir. São pesquisados através de uma fitinha de imersão em que cada um dos quadradinhos representa um elemento anormal. • Ela é imersa na urina e os padrões de cores são comparados para indicar se os elementos estão presentes e se tem 1, 2, 3 ou 4 cruzes. PROTEÍNA: barreira de filtração glomerular (BFG) é impermeável a proteínas, logo quando há proteinúria significa que essa barreira está lesada. Em outras palavras, a proteinúria é um importante marcador de glomerulopatia (visto que a BFG está no glomérulo). A barreira de filtração glomerular é formada pelo endotélio, membrana basal glomerular e os podócitos. O normal do exame simples de urina no EAS é a ausência de proteína. A principal e quase que exclusiva proteína que se perde na urina é a albumina. Portanto, albuminúria é sinônimo de proteinúria. É comum paciente com proteinúria queixar-se de urina espumosa. Toda proteinúria deve ser quantificada e há duas maneiras de quantificá-la: • Proteinúria de 24 horas < 150mg (dificuldade de explicar ao paciente como realizar as coletas) — a fitinha do EAS não tem sensibilidade para encontrar proteinúria menor que 150mg. Gabriela Reis Viol • Relação proteína/creatinina em amostra isolada de urina < 0,15. observação: como colher urina de 24h? Para colher, deve-se desprezar a primeira urina ao acordar, pois ela foi acumulada no dia anterior. A partir daí, deve-se colher todos os volumes urinários ao longo das 24 horas e acordar no outro dia no mesmo horário do dia anterior, para, em seguida, colher a primeira urina. • Proteinúria é um sinal tão importante de doença glomerular que surgiu o conceito de microalbuminúria, que corresponde a uma quantidade tão pequena de proteína na urina que não é capaz de sensibilizar a fita de imersão. • Microalbuminúria normal < 30 em 24 horas. • Albuminúria: entre 30 e 300mg • Macroalbuminúria > 300 mg (essa quantidade já é detectada no EAS através dos testes mais simples). • Todas as pessoas hígidas perdem proteína na urina, entretanto, essa perda ocorre em quantidades menores que 150mg/24horas. • Microalbuminúria é uma quantidade de albumina na urina que só é detectada por métodos mais sensíveis, por exemplo, radioimunoensaio. Ela é importante porque é a manifestação mais precoce da nefropatia diabética. Todo diabético tipo I com mais de 5 anos de doença precisa ser submetido a pesquisa periódica de microalbuminúria e todo diabético do tipo II, independentemente do tempo de doença, deve ser pesquisado periodicamente quanto a microalbuminúria. Aproximadamente 80% dos diabéticos microalbuminúricos caminharão para macroalbuminúria (proteína que já aparece no EAS) e podem evoluir para doença renal crônica (DRC). Quando se encontra microalbuminúria em um paciente diabético diz-se que ele tem nefropatia incipiente (fase 1 da nefropatia) e quando se encontra macroalbuminúria ele tem nefropatia diabética declarada. • Nesse momento (microalbuminúria) é que deve se intensificar o tratamento do diabetes e iniciar IECA para tentar retardar a progressão da nefropatia diabética para IRC. Nefropatia diabética é a principal causa de IRC no mundo inteiro e no Brasil está disputando com HAS como maior causador de IRC. • Microalbuminúria ocorre quando há de 30 a 300mg de albumina na urina de 24 horas, sendo que mais de 300mg já há lesão da barreira de filtração glomerular. Microalbuminúria é um marcador extremamente importante. A partir de 300mg de microalbuminúria já é detectado no EAS. observação: quando se faz exame de microalbuminúria? Quando o diabético fez o exame de urina e a proteinúria deu negativa; porque se der positiva, o paciente já tem macroalbuminúria. Gabriela Reis Viol GLICOSE: glicosúria até que se prove o contrário é diabetes. Contudo, sabe-se que não se faz diagnóstico de diabetes com exame de urina. Existe a glicosúria renal que ocorre quando a pessoa que não consegue reabsorver toda a glicose que passa pelo túbulo contornado distal, mas isso é muito raro. CETONAS: sinal de DM descompensada, ou seja, sinal de insuficiência pancreática absoluta – não produz mais insulina. Enquanto o organismo estiver produzindo insulina, o indivíduo não faz cetonúria. Um dos critérios diagnósticos utilizados na cetoacidose diabética. Outra situação em que pode ser encontrada cetonúria é em coma alcoólico (paciente que fica em jejum prolongado por conta da bebida), porém é menos frequente. BILIRRUBINAS: sabe-se que a causa de icterícia é a grande quantidade de bilirrubina nos tecidos extracelulares, tanto na forma direta como na indireta e que a bilirrubina vem do HEME da hemoglobina. Há dois tipos de bilirrubinas, a conjugada ou direta e a não conjugada ou indireta. Quando o HEME se transforma em bilirrubina é a bilirrubina indireta, essa vai até o fígado, sofre conjugação e se torna bilirrubina direta. • Deve-se saber que as bilirrubinas diretas estão associadas as doenças hepatocelulares (por exemplo hepatite viral, doença hepática alcoólica) e a obstrução das vias biliares (tumor na cabeça do pâncreas, estenose biliar). • Ao passo que a bilirrubina indireta está associada a hemólise (quadro hemolítico por anemia falciforme → liberou muito HEME na circulação → bilirrubina indireta → icterícia). Gabriela Reis Viol • A bilirrubina indireta NÃO É HIDROSSOLÚVEL e a bilirrubina direta é HIDROSSOLÚVEL. Logo, se a bilirrubina indireta não é hidrossolúvel, ela não passa na urina, não é filtrada pelo glomérulo. Conclui-se que um paciente ictérico com bilirrubina na urina, essa é obrigatoriamente direta ou conjugada (hidrossolúvel), já um indivíduo que tem hiperbilirrubinemia por hemólise, apresentará bilirrubina negativa na urina porque a bilirrubina indireta não é hidrossolúvel. • Resumindo, se há bilirrubina na urina, ela é direta e está associada a doença hepatocelular ou a obstrução das vias biliares. • Depois que o organismo forma a bilirrubina conjugada no fígado, essa bilirrubina ficará armazenada na vesícula biliar, passa posteriormente para o colédoco e cai no duodeno. No duodeno, essa bilirrubina sofre uma metabolização pelas bactérias do intestino e se transforma em urobilinogênio. Esse urobilinogênio é reabsorvido pela via sistema porta e volta ao fígado. Quando chega ao fígado, pequena parte desse urobilinogênio passa para o sangue e será excretada na urina, pelos rins; após a exposição ao ar, na urina, o urobilinogênio é oxidado em urobilina. Esse ciclo de substância secretada no fígado via canalículo biliar, que chega ao intestino e é reabsorvida pelo sistema porta é chamado de circulação entero- hepática (CEH). Para que a CEH seja perfeita, as vias biliares devem estar permeáveis. • Paciente ictérico com bilirrubina e urobilinogênio na urina→ doença hepatocelular (não é obstrução das vias biliares porque há presença de urobilinogênio e isso quer dizer que o CEH foi concluído). • Paciente ictérico com bilirrubina na urina e ausência urobilinogênio na urina → sinal de obstrução de vias biliares. observação: febre Amarela → paciente ictérico com predomínio de bilirrubina direta → bilirrubina na urina → como não tem obstrução das vias biliares aparecerá também urobilinogênio na urina. UROBILINOGÊNIO: resultante da redução da bilirrubina conjugada. HEMOGLOBINA: na hemoglobina, a fita de emersão detecta o heme, logo se detecta hemoglobina na urina, na verdade quer dizer que foi heme positivo e esse heme pode estar vindo de uma hemácia, da hemoglobina isoladamente ou pode estar vindo da mioglobina. Logo, se houver hemoglobina no exame de urina ele pode ter hematúria, hemoglobinúria ou mioglobinúria (rabdomiólise, ou seja, lesão muscular). Hemoglobina na urina não significa necessariamente hematúria. Gabriela Reis Viol NITRITO: evidência indireta de bacteriúria. Algumas bactérias transformam o nitrato (metabólito normalmente presente na urina) em nitrito. Contudo, é um exame com muito falso-positivo, pelo risco de contaminação bacteriana da amostra. Para ser avaliada bacteriúria, a urina deve ser colhida em ambiente muito asséptico. Sedimentoscopia • Coloca 5 a 10 mL de urina em um tubo e centrifuga, em seguida, despreza o sobrenadante e deposita parte do sedimento restante em lâmina e lamínula e examina ao microscópio. CÉLULAS: epiteliais, tubulares renais, leucócitos e hemácias. • Presença de células epiteliais geralmente é sinal de contaminação da urina. No homem, isso é raro de acontecer, contudo na mulher é frequente. Quando a mulher vai colher o exame de urina é necessária uma higienização da região vulvoperineal e no momento da coleta da urina deve separar os grandes lábios. Como na maioria das vezes a mulher não faz isso, a urina ao passar pelo introito vaginal carreia uma série de células epiteliais daquela região. Exame de urina com muitas células epiteliais é sinal de que a coleta não foi adequada. • Presença de células tubulares renais só é importante no contexto de insuficiência renal aguda (paciente com parada aguda da função renal e no exame de urina encontra células tubulares é um forte indício de necrose tubular aguda). • Presença de leucócitos na urina podem ser também chamados de piócitos (leucócitos degenerados na urina). Os piócitos possuem uma grande sensibilidade (90-96%) no diagnóstico de infecção urinária. Isso quase que vale a dizer que não existe infecção urinária sem piúria. observação: chega um paciente com sinais e sintomas que fazem pensar em ITU e ao fazer EAS não encontra piócitos, pode-se questionar o diagnóstico clínico, provavelmente não é ITU. Com isso, o VPN é muito alto; por outro lado, a especificidade é muito baixa (em torno de 50%), isso significa que na presença de piócitos na urina, há 50% de chance de ser ITU e 50% de possibilidade de ser qualquer outra causa. Contaminação: o que é mais frequente na mulher. Ela tem um fluxo vaginal provocado por Candida ou Gardnerella e quando vai urinar para colher a urina, a urina é contaminada pelo fluxo vaginal, leva os leucócitos que estavam nesse fluxo e, consequentemente, apresentará piúria no EAS. Doença inflamatória no trato urinário (não ITU): como por exemplo, uma glomerulonefrite (processo inflamatório do glomérulo) que dá piúria e que não é infecção Gabriela Reis Viol urinária, é uma doença relacionada a uma reação imunológica entre antígeno e anticorpo e que tem bactéria envolvida. Outra possibilidade: tumor nas vias urinárias. Inflamação fora do trato urinário: vaginite, apendicite (uma das manifestações é piúria no EAS, porque por contiguidade e aproximação o apêndice inflamado irrita a bexiga e o indivíduo pode desenvolver uma piúria). observação: piúria não é igual ITU. Na presença de sinais e sintomas típicos de infecção urinária (dor, queimação e ardência para urinar), a piúria é provavelmente uma infecção urinária. Se uma mulher não sente nada, encaminha ao ginecologista, porque piúria pode ser um sinal de infecção ginecológica. observação: leucócito é piócito degenerado, mas piúria e leucocitúria não são sinônimos. CILINDROS: o principal componente dos cilindros é a proteína de TammHorsfall, que é uma mucoproteína secretada pelas células tubulares renais. Essa mucoproteína pode se precipitar dentro dos túbulos renais e moldar o interior o túbulo, ou seja, ela forma o molde da luz tubular. • Cilindro hialino (normal/fisiológico): quando o molde tubular é formado exclusivamente pela proteína de Tamm-Horsfall. Não significa nenhuma doença, todo mundo pode ter cilindro hialino na urina. • Granuloso: quando o cilindro hialino está sendo formado moldando o interior da luz tubular, ele pode aprisionar no interior dele alguns elementos, como por exemplo, restos tubulares. Esse cilindro passa a ser chamado de cilindro granuloso e é característico da necrose tubular aguda. Pode também ser fisiológico, mas está mais associado a lesão tubular aguda. • Leucocitário: inflamação renal. Cilindro cheio de piócitos em seu interior, característico de pielonefrite ou glomerulonefrite. • Hemático: cilindro cheio de hemácias em seu interior, é patognomônico de glomerulonefrite. O achado de um cilindro hemático fecha o diagnóstico de glomerulonefrite, mesmo se o paciente for assintomático. • Epitelial: lesão tubular. • Céreos e largos: sinal de doença renal crônica – mostra que o epitélio tubular atrofiou, a luz tubular aumentou e o cilindro ficou muito largo. • Lípidicos: associado a síndrome nefrótica. Gabriela Reis Viol • Paciente com oligúria, creatinina alta e há dúvidas no diagnóstico, se tiver cilindro granuloso é necrose tubular aguda (IRA), se tiver cilindro largo é IRC. CRISTAIS • Oxalato de cálcio, Fosfato de cálcio, Urato → sem significado clínico porque a via de eliminação normal desses cristais é a via urinária. Contudo, em alguns casos ajuda na interpretação da composição dos cálculos renais, por exemplo, paciente chega com cólica renal e no exame de urina tem oxalato de cálcio, obviamente o cálculo é formado de oxalato de cálcio. • Cistina: raro, patognomônico de um distúrbio chamado cistinúria (alteração genética no metabolismo de 4 aminoácidos, entre eles a cistina). • Fosfato amoníaco magnesiano: na grande maioria das vezes as ITU são provocadas pela E. coli. Contudo, alguns pacientes desenvolvem infecção urinária por Proteus. O Proteus é produtor de uma enzima chamada urease, que transforma a ureia (presente normalmente na urina) em amônia. A consequência dessa transformação é o aumento do pH urinário, a urina fica alcalina, favorecendo a precipitação de fosfato, de amônia, de magnésio e de cálcio, formando um cálculo de fosfato amoníaco magnesiano ou cálculo coraliforme (aspecto de um coral marinho) ou cálculo de estruvita. Esse cálculo ocupa toda a via excretora do rim. O Proteus fica dentro do cálculo, logo não consegue eliminá-lo com antibiótico. A recidiva da infecção por Proteus é assintomática e aumenta ainda mais a chance de formar um cálculo coraliforme. observação: infecção urinária não pode ter pH alcalino, se for alcalino tem que fazer cultura para pesquisa de Proteus. Em caso de crescimento de Proteus positivo, tratar e acompanhar o paciente por pelo menos 1 ano. MICRORGANISMOS • Bactéria: um achado comum em EAS é flora bacteriana aumentada e isso não tem valor nenhum devido a falta de controle na coleta da urina (grandes chances de contaminação da amostra). • Fungos: se encontrar fungos na urina (Candida) é por contaminação de fluxo vaginal, a mulher tem uma candidíase vaginal e isso apareceu na urina. Raramente há infecção urinária por fungo em indivíduos sadios, isso acontece em doentes que tem bexiga neurogênica e em pacientesondado. • Trichomonas: contaminação de fluxo vaginal, a mulher tem uma tricomoníase e no momento da coleta a urina entrou em contato com esse fluxo vaginal e contaminou a amostra. Não existe infecção urinária por Trichomonas. Gabriela Reis Viol
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